À esquerda uma foto da escola, e à direita a criadora do projeto, Andreza Ferreira
A falta de representatividade no meio acadêmico é algo que infelizmente não se restringe a uma ou duas áreas. Quem estudou moda sabe que o curso é repleto de referências brancas, desde os professores, até na matéria em si. Aprender a pintar uma pele negra, desenhar corpos fora do padrão ou cabelos afro, nada disso surge muito naturalmente se você não for atrás. A menção a grandes nomes negros da moda também são um tanto quanto pontuais, e quando a gente não tem uma inspiração, tudo parece um pouco mais longe. Na história da arte e da moda, um peso muito grande da contribuição europeia em contrapartida de uma leve pincelada da tão rica cultura africana – só o Egito merecia um semestre inteiro.
Essas percepções acenderam uma luz na cabeça de Andreza Ferreira, que decidiu quebrar o ciclo do ensino de moda fundando a primeira escola com base em narrativas negras: E assim nasceu a Neit, onde logo no nome já vemos o seu D.N.A: Neit, é uma divindade do antigo Egito (Kemet) quem teceu o universo é assim é uma divindade da tecelagem. Neit era protetora de Osíris, de Rá, e sua forma era de uma abelha. Na África tradicional a abelha nasceu das lágrimas caídas de Rá.
Confira a entrevista que fizemos com a fundadora da escola, a estilista e consultora de moda Andreza Ferreira:
1-De onde veio o start para a ideia de uma criação da escola como a Neit?
Quando comecei a produzir peças para minha marca, Caiz Store, encontrei dificuldades de ter costureiras que atendessem minhas demandas, então pensei em ensinar jovens o oficio da costura para não se perder e manter o artesanal como um trabalho. Além disso, após um curso de moda de luxo em Paris, e uma visita a uma exposição de Malick Sidibé também comecei aprofundar minhas pesquisas sobre moda e cultura africana e da diáspora. Pensei: por que não compartilhar essas pesquisas em aulas?
Desde então, meu atelier então virou aulas de corte, costura e modelagem e na pandemia comecei as aulas online sobre a História da Moda no Brasil a partir de Narrativas Negras.
2- Você já ouviu críticas pela sua ideia de criar uma escola sobre para negros?
Até o momento, não. A NEIT é primeira e única até agora com essa perspectiva racial e para a moda europeia e ocidentalizada temos centenas de escolas,cursos, espaços. Tudo de fácil acesso e com muitos pesquisadores. Agora para a moda africana e diaspórica não temos ninguém.
Andreza Ferreira em aula com aluna
3- Quais foram/são as suas referências negras na moda durante o processo de formação?
Durante minha formação eu não tive muitas referências negras, tudo que encontrei foi de forma autônoma e fora das instituições de ensino. Mas dentro dessas pesquisas minha primeira referência negra foi André Leon Talley, editor de moda, e agora tenho tantos outros como Chris Seydou, Zelda Wynnes, Shade Thomas Fahm…
4- Como se da Narrativa Negra da escola? Pode apresentar os pontos em que ela se diferenciar de uma escola/curso de moda regular?
A partir do aprofundamento das pesquisas, encontrei muitos estilistas sem seus devidos reconhecimentos, como Dona Dete que criou as estampas deslumbrantes do Bloco Ilê Aiyê ou Anne Cole que foi vista como estilista do vestido de casamento de Jaqueline Kennedy pela própria noiva.
Todos os cursos são criados pensando em como expor a imagética preta dentro da moda desde a criação do tecido, maquiagem e corpos adornados até o pensamento do futuro em resgate da tecnologia ancestral das roupas para além do cobrir o corpo.
Para saber mais sobre os cursos e a escola, acesse aqui.
Roupas, livros, guloseimas, acessórios e mais. Em lojas online, nesta lista indicamos produtos e marcas de empreendedores negros para você conhecer, apoiar e se apaixonar. De acordo com o Sebrae, no Brasil, aproximadamente 50% dos empreendedores se declaram como negros ou pardos. Já a plataforma Locomotiva declara que o país conta com mais de 14 milhões de afro empreendedores, gerando anualmente mais de R$ 359 bilhões em renda. Confira!
Sabores da Nega – Carla Caldas
A páscoa 2022 chegou e com ele, muitas delícias, como esse Ovo de corte pão de melado da Sabores da Nega. Funcionando em São Paulo, o estabelecimento está recebendo encomendas até o limite da produção.
O Vestido Afro Ankara Dashiki longo pode ser usado de até 6 formas diferentes, oferecendo opções de looks que mais combinam com a ocasião. A combinação de cores do Vestido Afro Ankara Dashiki destacam a beleza na peça e seu corte destaca toda a silhueta.
Quem já conhece as Camisetas afro street wear, sabe que elas esbanjam muito mais que charme. Os modelos trazem a cultura e a alegria do povo africano dentre cores vibrantes.
A Série Marcelina apresenta uma sequência de narrativas, para crianças pequenas, representando situações cotidianas com a menina Marcelina, entre elas, A primeira trança de Marcelina. Envolvidas com a preparação para uma festa na escola, as amigas de Marcelina interagem com o universo das tranças africanas da amiga negra Marcelina. Professora, pesquisadora e historiadora, Elaine Marcelina presenteia leitoras e leitores com essa história encantadora, em que a protagonista negra partilha as alegrias do seu dia a dia infantil.
Todos os produtos da Nativa são extraidos da natureza de forma limpa e consciente, elaborados com formulações próprias, isentos de petroquímica, corantes sintéticos, conservantes e gordura animal.
A realidade foi invadida por nazi(r)fascistas da segunda dimensão. Através dos celulares, eles contaminam os desavisados e continuam propagando sua mensagem de ódio. Entre diversas forças de resistência, uma tem anos de prática, preparados e afiados para a luta. Conheça o Império.
Coleção Literaturas Negras – Vol. 1 – (Amor)Talhamento – Os Fantasmas da Rua Sete
A coleção Literaturas Negras, Volume 1, reúne os livros (Amor)Talhamento de Juciane Reis e Os Fantasmas da Rua Sete de Danilo Celso, com as artes de Octa Lopes e Laís da Lama. A edição parte de um chamamento para publicação de novelas e romances afro-brasileiros pela Editora Kitembo e Festival Literaturas Negras. O livro tem como objetivo estimular a produção de novelas e romances por escritores negros e negras.
Colar de Continente Africano UBUNTU – Saúda Acessórios Afro
A pele negra traz muitas histórias, singularidades e tons. Trazemos sangue de Reis, Rainhas e Guerreiros. Cada indivíduo importa, e precisamos sempre caminhar juntos. Somos quem somos porque somos todos nós. O COLAR UBUNTU é pura representatividade e item obrigatório. Perfeito para um estilo cheio de ancestralidade.
O rapper MV Bill lança a autobiografia “A Vida Me Ensinou A Caminhar” nesta sexta-feira (15). O livro inédito reúne crônicas sobre a trajetória de um dos protagonistas da história do rap e dos movimentos sociais no Brasil.
O músico resgata a sua história, que se mistura com o cotidiano do país, honrando a sua essência de eterno “cria” da comunidade Cidade de Deus, no Rio de Janeiro.
Durante a coletiva realizada nesta quinta-feira (14), MV BILL falou sobre como foi escrever o primeiro livro sozinho. “Eu pude rever as coisas que eu fiz no passado, e o que eu faria hoje no presente. Por mais que tenham histórias que também me levem a glória, no final de cada capítulo, mas eu preferi escolher as histórias que eu não me dei tão bem sempre”.
Entre esses momentos que o músico não se deu tão bem, tem o capítulo “O dia em que quase morri”, onde ele fala sobre a situação. “Por uma bobeira, por um descuido poderia não estar aqui hoje. Como a gente vive num país onde matar pessoas pretas, não cria grande comoção, eu literalmente poderia ter virado estatística num gesto errado. Só de lembrar da situação dá um pouco de arrepio”, relata.
Foto: Marcos Hermes
Descobrindo o rap
O primeiro capítulo “Quando conheci o rap”, o músico já deixa o leitor curioso com sua história de vida, ao falar sobre como os rappers dos EUA se tornaram uma grande referência de vida, como os do grupo Public Enemy, N.W.A. e o Will Smith, na época conhecido como “Fresh Prince”, dupla com DJ Jazzy Jeff.
Foram essas referências que levou MV BILL a formar seu primeiro grupo de rap, em 1990, o Geração Futuro, junto com quatro amigos da Cidade de Deus.
“Naquela época quando a gente começou, a gente não tinha tanta informação do que acontecia no Brasil. Tanto que a gente achava, na nossa cabeça, que éramos os únicos que faziam rap no Rio de Janeiro, mas tinham vários núcleos em outros lugares que acabavam não se comunicando”, relembra.
Como a informação do rap nacional não chegava, MV BILL consumia revistas internacionais para aprender a cultura hip hop. “Tinha algumas bancas de jornais com revistas importadas que vendiam no Rio de Janeiro. Um dos nossos amigos que tinha acesso e tinha mais dinheiro, ele trazia e virava o nosso Google ali no meio da praça. Só que ninguém falava inglês, então a gente olhava mais as fotografias. E foram justamente nessas revistas que eu vi pela primeira vez gente preta estampando uma capa, com aquela vestimenta chamativa, só que não era uma pessoa indo presa, era um artista”, fala o rapper.
O livro “A Vida Me Ensinou A Caminhar” chega nas livrarias nesta sexta-feira (15) e já está a venda online no site da Editora Age, por R$68.
Lizzo está de volta! A cantora acaba de lançar sua nova música “About Damn Time”. Registro é o primeiro single da artista desde “Rumors” (com Cardi B), disponibilizada em 2021. No novo clipe, dirigido por Christian Breslauer, Lizzo foge de um grupo de apoio de stress em meio a uma série de movimentos dançantes e enérgicos. “Você tem se sentido estressado? Você também tem se sentido sexy? Bem, eu tenho o remédio para você”, escreveu a cantora sobre “About Damn Time”.
Lizzo também anunciou o lançamento de seu novo álbum de estúdio, intitulado de ‘SPECIAL’, projeto será lançado no dia 15 de Julho. Disco sucederá o aclamado ‘Cuz I Love You’, lançado em 2019 e responsável por alavancar a carreira da artista ao nível global.
A TV Globo anunciou nesta última quarta-feira (13) que o repórter e jornalista Manoel Soares será o novo apresentador do ‘Encontro’, ao lado de Patrícia Poeta. Os profissionais substituirão Fátima Bernardes no consagrado programa da emissora. Através do Instagram, Manoel celebrou a novidade e comentou sobre a alegria em torno da atual fase em sua carreira. “Muito feliz com esse momento. Mas, vai ser lindo estar ao lado de Patrícia Poeta todas as manhãs recebendo informações e alegria para esse Brasil lindo. Obrigado pelo carinho gente”, destacou o apresentador.
“Essas mudanças vão trazer frescor para uma programação de sucesso, que é líder de audiência pois já faz parte das manhãs de milhões de brasileiros. A essência se mantém e se renova junto com quem nos assiste. A ideia com essa super manhã repaginada, com novos âncoras, é contribuir cada vez mais com oinício do dia do público, entendendo o que faz diferença pra ele”, declarou em comunicado o diretor da TV Globo, Amauri Soares.
De acordo com a Globo, em junho, Fátima Bernardes vai se despedir do ‘Encontro’, após 10 anos à frente do programa, para assumir a apresentação da décima primeira temporada do ‘The Voice Brasil’.
A série The First Lady, que abordará os bastidores da presidência dos EUA pelo olhar das primeiras-damas, traz a atriz ViolaDavis para interpretar a Michelle Obama. Betty Ford e Eleanor Roosevelt também serão retratadas na série.
A estreia no Brasil será no dia 18 de abril, um dia após a transmissão original na TV norte-americana, pela Paramount+. E o público foi já foi a loucura só com as fotos divulgadas, pela semelhança em que ficou a Viola Davis com a ex-primeira dama.
Dentre as primeiras-damas, talvez a Michelle Obama seja a que se tornou com a imagem mais independente do marido, sendo até hoje uma das mulheres mais influentes do mundo.
O podcast Mano a Mano, apresentado pelo rapper Mano Brown, lançou um novo episódio com os humoristas Yuri Marçale Felipe Kot, nesta quinta-feira (14).
Durante a entrevista, eles conversaram sobre a ausência de pessoas negras na plateia dos stand ups e a mudança no jeito de fazer humor.
“Eu não lembro de público preto antes de mim na comédia”, diz Yuri. “O alvo das piadas geralmente é o único negro na plateia”, complementa o Mano. “Falar do cara que tem o pint* grande”, ressalta Kot.
O medo da exposição afasta as pessoas negras dos shows. “Tem uma mina que falou assim ‘pô, Yuri, eu não vou em stand up porque eu sou preta, eu sou gorda, eu tenho um black rosa. Eu fui duas vezes no show e todas as vezes eu era o alvo'”, relembra.
Para Yuri, esse tipo de humor ultrapassado é para quem tem preguiça de pensar. “É fácil você chegar e ver uma mulher gorda e preta na plateia e todo mundo vai rir”, critica.
Além de pensar no público atual, Kot relembra como também foi alvo fácil de piadas no tempo da escola e começou a se defender com humor.
“Eu sabia que tinha que ser muito mais engraçado que eles! Eu era muito raquítico, 11cm abaixo da média do que eu deveria ser, era muito pequeno, magro, negro da periferia, era um balde cheio para gracinha e piada” relembra Kot.
Cria do Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro, a humorista e influenciadora digital Thamirys Borsan acredita estar vivendo o melhor momento de sua carreira até o momento. Aos 28 anos de idade, ela concilia o trabalho como criadora de conteúdo nas redes sociais, com o universo da publicidade e, agora, de atuação para plataformas de streaming.
Nesta quarta-feira (13), a atriz anunciou que viverá a personagem Rubria, em uma nova série de comédia da Netflix. Esse mundo de agenda lotada e trabalhos na publicidade e no humor fazia parte de sonhos que a atriz de 28 anos nutria para o futuro, mas que encontraram solo fértil na sua realidade atual.
Em entrevista exclusiva para o Mundo Negro, Thamirys falou sobre seus sonhos profissionais, sobre o poder de transformação de realidades que está contido na comédia e sobre os custos de defender pautas ligadas às questões raciais. Confira!
Como você define o momento atual da sua carreira?
Eu tô realizando sonhos. Quando eu entrei para a internet, era isso que eu queria. Ser vista, mostrar minha capacidade intelectual, meu carisma, mostrar que eu tinha capacidade como as pessoas brancas, de estar ocupando esses espaços. Sempre fui atriz, sou formada em teatro, nunca tive visibilidde ou um sobrenome que me colocasse em situações favoráveis. Então, eu falei, bom, eu preciso entrar nesse meio e ser vista de alguma forma. E foi nesse intuito que eu entrei para a internet, mas eu acabei descobrindo um mundo que eu nunca imaginei estar. O mundo da influência digital, e eu tô gostando também.
Estão começando a surgir oportunidades para mim que são sonhos, mas ainda me sinto muito ligada a esse afeto que eu construí com as pessoas que me seguem. Eu passei por um momento difícil no ano passado, quando perdi a minha mãe, e eu dei uma estagnada na produção de conteúdo. Mas aí, começaram a surgir trabalhos que não dependiam do meu criativo, que eu só precisa estar, precisava mostrar o meu talento com atuação, com comunicação. E eu me joguei, agradecendo aos céus que esses trabalhos surgiram, porque eu não sei como eu estaria agora, se não fossem essas oportunidades.
Esto vivendo as coisas que eu sempre sonhei e que eu sempre quis estar, mas com muita culpa ainda, porque deixei de fazer as coisas que eu estava fazendo antes, mas estou me descobrindo e tentando achar esse meio termo.
Eu quero fazer shows de humor. Ir pro teatro, ter conexão com as pessoas. Estou estudando e me preparando para isso ser da melhor forma. Eu quero viver da comédia, seja ela na internet, na TV, nos streams, apresentando, ou seja nos stand-ups, nos palcos. Quero estar na comédia de todas as formas. Uma pessoa me perguntou se eu conhecia uma mulher negra comediante, de meia idade. Foi um parto para pensar, mas a gente sabe que tem, mas com visibilidade são pouquíssimas. Depois de um tempão pensando, eu falei: eu vou ser uma, tá? Então, tô nessa construção, de ser uma comediante de meia idade preta.
Estamos saindo de um grande burburinho com o Will Smith e Chris Rock no Oscar e isso levantou uma questão em torno dos limites do humor. O que você pensa sobre essa relação entre humor e temas considerados sensíveis?
Eu abomino esse tipo de humor, até porque eu sou uma mulher preta, gorda, de periferia, totalmente fora do padrão e que sou alvo de várias piadas de shows por aí, e eu não vou fazer de mim piada para alguém. Então, eu abomino esse tipo de humor e não acho graça, na real. Acho que isso já foi, ficou no passado e a gente tem que aceitar isso e avisar aos comediantes que ainda estão nessa: “E aí, galera! Que tal dar uma repaginada nesse humor?”. A minha ideia é essa, mostrr que é possível ser engraçado sem ficar zoando o outro, a quinta série precisa passar.
Você se posicionou em relação a situações que envolveram o Nego do Borel e o racismo em relação a ele. Tem custos para você se poscionar diante de temas polêmicos?
Tem vários. Olha, o caso do Nego do Borel foi um dos mais punks, eu já esperava, mas sem esperar tanto. Meu público é pequeno, e é um público muito engajado, Mas a proporção que esse vídeo furou a bolha, foi bizarra. Eu fiz o vídeo pouca semanas antes de ele entrar pra Fazenda e meu vídeo foi envelhecendo como vinagre. Não por conta dele, mas por conta do que as pessoas transformaram e o negócio foi ganhando uma proporção ensurdecedora. Eu me posiciono porque eu preciso, senão eu não aguento.
O Nego do Borel foi um marco pra mim. Não era um vídeo de defesa dele, mas acabou sendo levado para esse lugar. E quando eu vi que tava indo pra esse lugar, eu tirei o vídeo do ar. Mas eu pretendo retornar com esse vídeo, porque ele é um símbolo da construção do relacionamento interracial, e do que isso pode causar na vida de homens pretos, principalmente. É sobre isso que eu falo no vídeo: a pessoa pode te amar agora, estar tudo muito bonito, mas se vocês se separarem e ela te odiar, você pode morrer, você pode ser preso, pode acabar a sua carreira, você pode ser linchado por coisas que você provou que não aconteceram e mesmo assim, as mídias não dão voz para essas coisas.
Tudo bem ela mentir falando que o dinheiro dele era de tráfico, tudo bem ela associar a imagem de um homem preto mais uma vez com um traficante, que você tem um fuzil em casa. Mas quando ele prova que o dinheiro dele era proveniente do trabalho dele, quem repercutiu? Quando uma mulher que viveu com ele, diz que o dinheiro dele veio do tráfico, as pessoas vão acreditar, porque como é que um homem preto que veio do Borel pode ganhar dinheiro com os hits de sucesso dele, não é mesmo?
Ele continua sendo problemático em várias situações, mas traficante ele não é, e isso precisa ser dito. É um homem preto que conseguiu dinheiro com muita honra.
Olhando para as suas realizações atuais e para o seu futuro, qual é o legado que você pretende deixar?
Cara, eu sou da comédia porque eu acho que a comédia é um jeito leve de aprender e de levar a vida, sabe? Eu acho que a comédia é uma professora mesmo, e ao mesmo tempo, sabe aquela professora que te explica da melhor forma? Tem professores que fazem música pra ajudar a grudar a matéria na cabeça, e essa professora pra mim é a comédia. E ela me salva direto. É esse legado que eu quero levar, tenho isso desde que nasci e quero que isso fique. Que a gente ria e aprenda. Quando a gente tá conversando com um amigo e quer impor o próprio pensamento, a pessoa para de te ouvir na hora.
Tipo Bolsominions versus Lulistas, ninguém se ouve. Com a comédia, você começa a fazer piada, a pessoa ri e fala: “Pô, eu era assim” e pensa, já era, já me transformei. E é esse legado que eu quero, o poder de transformação. Com o riso, é muito mais fácil, mais eficaz do que com tiro, com soco, com agressão. Eu, mulher preta que vim da favela, que tenho que lidar com tiro com agressão o tempo todo, ainda assim, nasci com isso, de ensinar e aprender com riso, é tão significativo. As pessoas pretas ainda somos a maioria por causa disso, Porque a gente ressignifica as paradas, e temos uma vontade de viver que eu acho que se fosse com eles, já estavam dizimados há muito tempo.
A Netflix anunciou, nesta quarta-feira (13), que vai produzir um documentário inédito sobre o grupo de rap Racionais MCs, um dos mais conhecidos do Brasil, dirigido por Juliana Vicente.
O filme terá entrevistas e cenas exclusivas, gravadas em mais de 30 anos de carreira e vai mostrar o legado que o grupo deixou. Mano Brown, Edi Rock, Kl Jay e Ice Blue também trarão suas narrativas pessoais.
Também foram divulgadas imagens de Maldivas, que conta com a participação da Sheron Menezes (Rayssa), como uma das protagonistas desta dramédia. A nova série conta a história da personagem Liz, interpretada por Bruna Marquezine, que se infiltra em um condomínio de luxo para desvendar o mistério sobre morte da mãe.
Pra finalizar as novidades, a nova comédia romântica Casamento a Distância, teve a primeira imagem do casal protagonista revelada com Dandara Mariana e Dan Ferreira, nos papéis de Eva e Alex, que terão que fazer o impossível para conseguir realizar o casamento, já que o noivo se envolve em várias confusões nas vésperar da cerimônia e não sabe se conseguirá chegar a tempo.
Taís Araújo e Alfred Enoch são Capitu e Antonio em Medida Provisória - Foto: Mariana Vianna
Em mais uma manhã abafada no Rio de Janeiro, a médica Capitu (Taís Araújo) se despede do seu parceiro, o advogado Antonio (Alfred Enoch) e do primo dele, o jornalista André (Seu Jorge) e sai do apartamento que os três dividem, para mais um dia de trabalho. Usando um sapato confortável para enfrentar uma maratona de cirurgias, ela entra no seu carrão rumo ao hospital e nem desconfia que em poucas horas a vida dela e de todos os negros brasileiros teria uma guinada dramática, truculenta e imprevisível.
Em poucos dias, André e Antonio são os únicos negros que se tem notícia em todo o Brasil e vivem, ou melhor, sobrevivem dentro de um apartamento sem comida, luz, água e Internet e têm na opinião pública internacional a esperança de saírem vivos dessa situação.
Medida Provisória estreia dia 14 de abril e é primeiro longa dirigido por Lázaro Ramos, com uma trama tensa, baseada no texto genial da peça “Namíbia não” de Aldri Anunciação (que também está no filme).
Algumas cenas nessa história lembram um pouco o drama das mulheres na série “O conto da Aia”, semelhança citada por Lázaro Ramos, no programa Roda Viva. Porém, nesse roteiro nacional, afrodescendentes de todos os tons e idades, são caçados, literalmente, pelas autoridades para serem enviados de forma compulsória para África. Ao contrário do romance da autora canadense Margaret Atwood, o enredo, nesse caso, naturalmente nos remete à História do Brasil e o trajeto inverso e ainda mais violento dos Africanos para outros continentes.
O AMOR COMO ESTRAGÉGIA DE ARTE E DE LUTA
Um ingrediente fundamental para a sanidade de Antonio, André e da Capitu, que está distante do seu companheiro, é o amor. “Essa é uma grande lacuna na dramaturgia brasileira que é você ter várias representações da população negra, inclusive no romance porque a gente tem isso nas nossas vidas e essa dramaturgia não foi contada por nós”, explica Taís Araújo.
Taís Araújo e Alfred Enoch como Capito e Antonio:Foto: Divulgação
Alfred Enoch detalha que esse amor também estava no set e foi fundamental para amortecer o impacto emocional de viver personagens tão intensos. “O Lázaro ajudou muito nisso criando um clima agradável, onde todo mundo se dava bem. Ele escolheu pessoas legais que ele sabia que iriam trabalhar com amor, com afeto e com paixão e dessa forma, apesar das cenas tensas, se tornou um processo prazeroso”.
Elfred Enoch e Seu Jorge – Foto: Mariana Vianna
A presença do amor não faz de Medida Provisória um filme romântico, como expectador a sensação é próxima de um filme de terror, seja pelas angústias claustrofóbicas dos residentes do “afro bunker”, uma espécie de quilombo urbano, seja pelos ares sádicos de Adriana Esteves e Renata Sorrah que parecem se alimentar dos sofrimentos das pessoas de “melanina acentuada”. “Mesmo que ali na tela tivesse esse assunto, de violência o jeito da gente trabalhar era no amor e no afeto. Esse respeito e afeto nos leva hoje a ter o filme brasileiro com mais negros na frente e atrás das câmeras da história. Esse respeito e esse afeto fazem com que a gente tenha um filme onde a mulher negra tenha um papel protagônico que tem em muitos poucos filmes. Com uma profissão e classe social que não se encontra no cinema”, comenta Lazinho.
Emicida dentro do Afrobunker – Foto: Mariana Vianna
Ainda sobre o amor, Seu Jorge celebra e agradece por André, seu primeiro personagem com um perfil mais leve. “Eu nunca tive a oportunidade de fazer personagens divertidos. Os meus personagens nunca são divertidos. São gente que sangra, sofre, chora e sofre muito. Não é muito diferente com o André, mas ele tem uma leveza. Estamos falando de um jornalista, que é primo de um advogado e de uma médica. Esse lugar a gente não vê muito, de pessoas negras em lugar de poder”, argumentou o cantor.
Seu Jorge, como o jornalista André – Foto: Mariana Vianna
Medida Provisória é provavelmente uma experiência angustiante para o espectador não branco e talvez até para o branco, mas o conforto vem quando o melhor do lado humano se faz presente. “Esse filme, apesar de falar de violência urbana, as armas que aparecem são com um propósito muito específico, uma mensagem muito específica. Não é à toa o Emicida troca uma arma por um livro. Nos queremos ir além da dor e mostrar nossas potências e o caminho que a gente sonha”, finaliza o diretor Lázaro Ramos.