Como mãe negra, se você já teve qualquer contato com alguma das obras da Carolina Maria de Jesus, provavelmente você se identificou com ela em algum momento.

Mãe de três filhos, Carolina publicou o livro Quarto de Despejo, em 1960, mas ele ainda atravessa tanto a nossa realidade, que parece ter sido sido escrito por alguma mãe negra e favelada atualmente. O racismo, a falta de moradia digna, a fome, a pobreza, a saúde precária, muitas dessas notícias ainda atuais e continuamos lutando pelos direitos básicos para nós e nossos filhos. 

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Quando fui à exposição da Carolina Maria de Jesus no IMS (Instituto Moreira Salles), na Avenida Paulista (SP), uma frase específica me chamou a atenção: ‘Pobre não tem direito de criar filhos’.

Enquanto achávamos que a nossa principal luta seria o direito a matricular nossos filhos nas creches, o país teve um “boom” de famílias inteiras com crianças, que vão morar nas ruas, passam fome ou sofrem algum grau de insegurança alimentar, desde o início pandemia da covid-19.

Segundo o Movimento Nacional da População de Rua (MNPR), cerca de meio milhão de brasileiros podem estar morando nas ruas hoje, principalmente, por não terem dinheiro para pagar moradia. O coletivo pontua que mulheres e crianças tem sido uma parcela bem expressiva.

Em 2018, o Brasil voltou ao Mapa da Fome e em 2020, de acordo com a pesquisa da Rede Penssan, 55,2% dos brasileiros vivem com a insegurança alimentar.

No ano passado, em diversos noticiários do país, foi possível ver pessoas fazendo filas para ganhar ossos, até que os açougues passaram a vender esses ossos, que chegam a custar R$4 o quilo, nas periferias de São Paulo, que continuam sendo uma realidade atual.

Nada diferente da realidade do Dia das Mães da Carolina, escrito na década de 50. “Ontem eu ganhei metade de uma cabeça de porco no Frigorífico. Comemos a carne e guardei os ossos. E hoje puis os ossos para ferver. E com o caldo fiz as batatas. Os meus filhos estão sempre com fome. Quando eles passam muita fome eles não são exigentes no paladar”.

Carolina também diz: “Quando uma criança passa fome, é problema de todo mundo”, mas parece que ninguém se importa. 

Dia 8 de maio é Dia das Mães, mas nem todas as mães estão felizes, assim como Carolina também não estava quando escreveu Quarto de Despejo: ‘Parece que até a Natureza quer homenagear as mães que atualmente se sentem infeliz por não poder realisar os desejos dos seus filhos’.

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