Novo série de sucesso da Netflix, ‘Sandman’ está entre os assuntos mais comentados do mundo. A obra, que faz uma mistura sobre mito moderno e fantasia sombria, combina ficção contemporânea, drama histórico e lenda. A série gira em torno das pessoas e dos lugares afetados por Morpheus, o rei dos Sonhos, na tentativa de corrigir os erros cósmicos e humanos que cometeu em sua vasta existência.
Para além dos conflitos, do suspense e dos efeitos especiais, a presença talentosíssima de personagens negras dentro da obra vem chamando atenção da internet e dos espectadores. O rei dos Sonhos é um dos Endless, grupo de seres imortais que governam aspectos do universo mortal. No episódio 6 da primeira temporada, recebemos o primeiro contato com a Morte, irmã mais velha do Sonho, que é interpretada pela atriz britânica Kirby Howell-Baptiste.
Kirby Howell-Baptiste como Morte em ‘Sandman’. Foto: Netflix.
Conforme somos apresentados, a Morte, existia no início do mundo e existirá no final, transportando os falecidos para seu reino com um sorriso e palavras gentis. No contexto da série, ela está sempre disposta a ajudar o Sonho e tenta fazer com que ele entenda melhor as pessoas. A performance comovente de Kirby Howell-Baptiste em ‘Sandman’ vem chamando atenção pelos diálogos humanos, sensíveis e até mesmo filosóficos. Com um apelo empático e extrema compaixão, o episódio que apresenta a Morte e seus desdobramentos no mundo humano é o ponto alto de toda a temporada.
Mas não é só a performance de Howell-Baptiste que impressiona. O destaque contínuo para a paixão e o carinho de Lucienne também é contagiante. Interpretada pela atriz Vivienne Acheampong, ela é a principal bibliotecária do reino dos Sonhos e uma das servas mais fiéis do Sonho. Ela faz o possível para manter o reino em ordem, mesmo em meio aos perigos do abandono e de solidão. Lucienne é responsável por apresentar o tom lógico, razoável e concreto da série.
Vivienne Acheampong como Lucienne ‘Sandman’. Foto: Netflix.
Com o decorrer da obra também somos apresentados à Rose Walker, interpretada pela atriz Vanesu Samunyai. Apesar da aparição relativamente curta, Walker é uma órfã que só quer arrumar um bom emprego e encontrar o irmão que perdeu quando seus pais se separaram. Infelizmente, para o contexto de ‘Sandman’, ela também tem o poder de quebrar as barreiras entre o reino dos Sonhos e o mundo desperto, ação que causa uma grande desordem para o enredo da obra.
Vanesu Samunyai como Rose Walker em ‘Sandman’. Foto: Netflix.
Numa aposta tão grandiosa como ‘Sandman’, observar personagens negros como referências de destaque traz um olhar contemporâneo e representativo para a obra. Baseada na série de quadrinhos da DC de Neil Gaiman com o mesmo nome, é bom acompanhar novos nomes pretos ganhando destaque internacional numa plataforma tão grandiosa como a Netflix.
Destaque da TV Globo, Manoel Soares, atual apresentador do ‘Encontro’, revelou em recente entrevista para o podcast Podpah, que quase desistiu de sua carreira como comunicador de TV para se dedicar à carreira de vendedor de pão de queijo. “Eu trampava em uma TV do Rio Grande do Sul havia uns 15 anos. Cheguei na ‘nega’ e falei o seguinte: ‘Vamos fazer uma franquia de pão de queijo? Porque acho que o nosso futuro está no pão de queijo’”, disse Soares. “Eu tinha feito uma matéria na fila do presídio e vi que tinha muita mulher desempregada que ia lá visitar os irmãos na cadeia. Falei: ‘Vamos botá-las para vender, porque elas também tiram um dinheiro’. Mas precisava de uma grana inicial. A graninha ia ser o quê? A rescisão”.
Soares contou ao podcast que chegou a pedir demissão, mas o diretor da afiliada global se assustou com a súbita solicitação do repórter. “O cara falou: ‘Negão, você está viajando, você tem um futuro pela frente. Você é um comunicador, só está ansioso. Vai ter uns links e você vai fazer, vai ver que a visibilidade nacional também vai abrir outros horizontes para você’”, disse ele.
Manoel, entretanto, estava decidido a deixar a televisão e até planejou sabotar sua estreia em rede nacional no ‘Encontro’, durante a cobertura de uma festa tradicional no Rio Grande do Sul. “Falei: ‘Quando tiver o ao vivo, vou aprontar uma, esse cara vai me demitir, você vai ver o que vou fazer’”, declarou ele.
Acontece que o plano teve um efeito reverso. À época, Manoel cumprimentou Fátima Bernardes, ao vivo, com tanta informalidade, que conquistou a apresentadora. “Que irreverente, que legal! Eu quero que você venha trabalhar comigo!”, disse Fátima ao manter contato com o repórter. Desde então, trabalhando com um carisma único, Manoel passou a receber destaque dentro da TV Globo, e com o passar do tempo, assumiu o cargo de apresentador do ‘Encontro’.
A atriz Viola Davis foi confirmada como vilã principal do novo filme de ‘Jogos Vorazes’. A vencedora do Oscar interpretará a Dra. Volumnia Gaul, personagem responsável por comandar e idealizar a 10º edição dos jogos, em ‘A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes’, longa prequel da saga. Informação foi confirmada nesta tarde de segunda-feira (15) pelo The Hollywood Reporter.
“Dra. Gaul é tão cruel quanto criativa e tão temível quanto formidável. O conhecimento de Snow como operador político se desenvolve em grande parte devido às suas experiências com ela como a figura mais dominante dos jogos”, disse Francis Lawrence, diretor do novo filme. “Desde o início, Viola tem sido o nosso sonho para a Dra. Gaul por causa da inteligência e emoção que ela traz para cada papel. Uma estrategista brilhante e excêntrica, Gaul é fundamental para moldar o jovem Coriolano Snow no homem que ele se tornará. Somos incrivelmente sortudos por ter uma atriz com o alcance e a presença extraordinários de Viola para desempenhar esse papel fundamental”.
Imagem inicial de ‘Jogos Vorazes – A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes’. Foto: Divulgação.
O filme, que antecede os acontecimentos da saga já conhecida pelo público, conta a história de Coriolanus Snow. “Anos antes de se tornar o tirânico presidente de Panem, Coriolanus Snow, de 18 anos, é a última esperança para sua linhagem decadente, uma família outrora orgulhosa que caiu em desgraça no Capitólio do pós-guerra”, diz a sinopse oficial do filme. Com o 10º anual dos Jogos Vorazes se aproximando rapidamente, o jovem Snow fica alarmado quando é designado para orientar Lucy Gray Baird, a garota tributo do empobrecido Distrito 12. Mas, depois que Lucy Gray comanda toda a atenção de Panem cantando desafiadoramente durante a cerimônia de colheita, Snow acha que pode virar as probabilidades a seu favor. Unindo seus instintos de carisma e conhecimento político recém-descoberto, a corrida de Snow e Lucy contra o tempo para sobreviver revelará quem é um pássaro canoro e quem é uma cobra“.
‘Jogos Vorazes – A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes’ chegará aos cinemas brasileiros em 16 de novembro de 2023.
Nataly Castro é a primeira mulher brasileira visitando todos os países do mundo em tempo recorde. Já conheceu 44 de 200 países e compartilha diariamente suas experiências e dicas nas redes sociais e incentiva mulheres negras a também viajarem.
Porém, no último sábado (13), Nataly relatou um caso de racismo sofrido em uma cafeteria na rodoviária de Budapeste, Hungria, quando estava a caminho da Romênia. “Entrei no local para tomar um café enquanto aguardava o ônibus para o próximo país, e em seguida, uma funcionária veio pedir para eu sair. Eu não sai e disse que estava comendo. Em seguida, o gerente enviou uma cliente e ela perguntou se eu falava inglês, eu disse sim. Ela disse que o gerente mandou ela avisar que eu tinha que sair. Eu perguntei porque, eles só falaram pra sair”, escreveu no Instagram.
“Não teve motivo e tinha outras mesas vagas. O motivo foi um só: discriminação. Pois tinha outras pessoas sentadas e somente eu tive que sair!”. E completa: “Essa é a situação que muitos de nós negros passamos diariamente!”.
https://www.instagram.com/p/ChLaLquj1UW/
A viajante também exemplifica como o ocorrido afeta as pessoas negras: “Atitudes assim nos matam diariamente, nos traumatizam e fazem a gente passar vergonha e humilhação. Enquanto não usarmos a nossa voz e nos unir, vai ser daí pra pior!”.
“O que mais temos que fazer ou provar para conquistar nosso espaço e frequentar lugares? O racismo não está aumentando, ele só está sendo filmado e divulgado”, diz.
Nataly publicou o vídeo e marcou a cafeteria nos stories, mas ela afirma que a página deletou, desativou os comentários. “Me mandaram mensagem pedindo desculpas. É sempre assim, no final é só pedir desculpa”, lamenta.
Em outro vídeo publicado ontem, Nataly agradeceu o apoio de todos e reforçou a importância de lutar contra o racismo e ocupar os espaços: “Eu sei que essa situação vai se repetir em outros lugares, já comecei essa viagem sabendo disso”.
https://www.instagram.com/p/ChQCJcxjMKr/
Nascida no bairro Carrão, na Zona Leste de São Paulo, Nataly, aos 27 anos, deixou o Brasil há 5 meses, com o desafio de se tornar a primeira mulher negra brasileira a visitar todos os países. Ela já passou pelo Paquistão, Grécia, Itália e Israel, entre outros.
Ela já relatou outra situação de racismo sofrida em junho deste ano, quando estava no Afeganistão. Ela foi parada pelo Talibã, grupo extremista islâmico. “O Tali me parou agora pedindo o meu passaporte no meio da avenida, vinte homens me cercaram e ficaram olhando, sabe?”, relatou em entrevista à TV Globo. Ela foi a primeira mulher a viajar para o Afeganistão sozinha após a entrada do novo governo.
“D”, novo álbum de trabalho de Djavan, já está disponível nas plataformas digitais e traz 11 canções inéditas
“D”, o 25º álbum autoral de Djavan chegou no dia 11 de agosto nas plataformas digitais. O novo lançamento musical do cantor, que conta com 11 faixas totalmente inéditas, segue acompanhado da apresentação do clipe de “Iluminado”, em que Djavan divide a tela com os filhos e netos. Além de um trabalho realizado em família, o disco também conta com as participações especiais de Zeca Pagodinho e Milton Nascimento.
Coisa de disco de número redondo, 25, espécie de bodas de prata do artista com a sua voz e suas melodias e letras gravadas, “D” (Luanda Records/Sony Music) talvez proponha um jogo, seja um enigma: um estilo e um pensamento artístico a serem decifrados nas canções. O título-enigma nasceu das conversas entre Djavan e Giovanni Bianco, designer brasileiro de presença internacional (já trabalhou, por exemplo, com Madonna), diretor criativo e responsável pela capa e pela direção dos clipes do novo álbum.
Produzido e arranjado por Djavan – com desenhos de sopros (explorando a abertura de “vozes” e as muitas possibilidades de timbres dos instrumentos), utilização intensa da percussão e aproveitamento do estilo pessoal de cada músico da base, que atestam sua maturidade como arranjador – “D” é antes de tudo uma impressionante safra de canções, todas com a marca do autor. Ou seja, melodias sinuosas, harmonias ricas e surpreendentes, passeio por diversos gêneros e ritmos, e sem qualquer perda do acento pop, pelo contrário. Há hits instantâneos como a própria “Num mundo de paz”, uma melodia irresistível sobre base de funk tradicional, as baladas “Primeira estrada” ou “Quase fantasia”, a folk “Iluminado”. Como há, também, algumas canções das mais sofisticadas que Djavan fez na vida. Em canções novas, “D” parece conter todas as vertentes da criação de “D”javan. “D”aí, talvez, o enigma a ser decifrado.
“Sevilhando“, por exemplo, é uma canção de Djavan que já nasce clássica para seus fãs, e cheia de pistas para se decifrar esse enigma “D”: pelo neologismo do título, um verbo que não existe mas que deveria existir pelo que Sevilha representa em termos existenciais, paisagísticos, estéticos e criativos para o mundo; por seu diálogo com outra canção clássica de seu repertório, “Andaluz” do disco ” Coisa de acender” (1992), pelo que contém do estilo e das ideias de Djavan. Vejam que já musicalmente, “Sevilhando” parece um exercício de estilo, uma canção brasileira com base rítmica de funk, harmonia e arranjo de jazz, melodia espanhola (uma bela receita, como se fosse possível haver receita, das influências musicais de Djavan).
A letra é ainda mais pessoal, confessional até. Nela, Djavan define-se pessoal – “Mas Sevilha plantou/Na Alagoas nata/Um fiel servidor”, e musicalmente: “E uma música negra/Vai sevilhando/Tudo ali na lata”, a origem de sua música brasileira tanto na África como na Espanha. Arrisca-se a falar de grandes temas como o amor, necessariamente livre – “E só é inteiro/O que aclama/Toda forma de amor” – e da vida ela mesma – “Ao se falar de vida/Vê-se o quanto é tão sério/Nada mais é a vida/Que sede de um grande império” – ou de religião: “Deus é quem dá o caminho/Mas as pernas são as suas”. E tudo isso em versos curtos, que cabem na fluente canção popular, admitindo a simplicidade das canções (“Decida/Uma é saber como/A outra é nada saber”) e culminando com a opção pela natureza, por referências da natureza tão típicas de seu trabalho recente: “Queria sândalo/Mas também podia ser camomila/Ou mesmo lavanda/Ou vanila/Para enfrentar o viver”. Um clássico de Djavan, como se vê, todas as suas grandes influências – a canção brasileira, a música negra, e o flamenco – amalgamados numa canção pop e muitíssimo bem feita.
Falando de influências e de parte do tal enigma “D”, “Beleza destruída” é outra canção importantíssima neste trabalho. Talvez pouca gente saiba, mas não houve influência maior do que Milton Nascimento na fase inicial, virada dos anos 60 para os 70, quando a sensibilidade musical de Djavan estava se formando. Sobretudo na liberdade e inventividade harmônica, na atenção às melodias e, é claro, na maneira única de cantar. Ouvindo bem, tudo isso está em “Beleza destruída”, canção feita especialmente para este disco 25 e para reparar uma lacuna em sua carreira, nunca ter gravado nada com Milton Nascimento. Segundo single e clipe do álbum, lançados em 21 de julho, o duo com Bituca é das canções mais comoventes de Djavan: a misteriosa melodia, sobre a harmonia inventada no seu violão são base para uma letra urgente, política, ecológica – como tantas do repertório de Djavan e de Milton – e que denuncia a insistência na destruição da natureza, sem meias palavras: “Mas o homem/Cego por dinheiro/Só sabe dizer:/Dizimar, dizimar/Ver tanta beleza/Destruída/Encolhendo/A própria vida assim/É o fim!”. Como todas as canções do disco, “Beleza destruída” foi arranjada com todo cuidado por Djavan para que as vozes tão únicas dele e de Milton Nascimento – encontro que em si já é um acontecimento – se harmonizassem. Evidentemente emocionados, eles gravaram suas vozes juntos no estúdio.
Seguindo seu método muito pessoal de compor, Djavan fez quase todas as músicas de “D” no Rio de Janeiro, a partir de junho de 2021 e no decorrer do segundo semestre do ano passado. Gravou-as todas com músicos de várias fases de sua carreira, cada canção “pedindo” o músico mais apropriado para ela. Em “Num mundo de paz”, por exemplo, na cozinha rítmica mistura a bateria técnica, perfeita, de Felipe Alves, da banda do disco anterior, “Vesúvio”, com o baixo mais criativo e suingado de Marcelo Mariano, que acompanhou Djavan há mais de 20 anos. Dessa mesma época, Djavan convocou o argentino-brasileiro Torcuato Mariano na guitarra, que faz a introdução e os solos. Além do fiel escudeiro Paulo Calasans no teclado – e assistente de Djavan na produção musical. Outros antigos companheiros de banda compõem o naipe de sopros presente em várias faixas, Marcelo Martins no saxofone, Jessé Sadoc no trompete e flugelhorn, que recebem o novato do grupo Rafael Rocha, no trombone. Tal rodízio de músicos se dá em cada canção, e não uma banda fixa, o baterista pode às vezes ser o “antigo” Carlos Bala ao lado do baixista Arthur de Palla, da banda de “Vesúvio”. Esse rodízio, não deixa de fazer parte do enigma “D”, o segredo de seu som.
Com as músicas prontas, arranjadas e gravadas, Djavan foi em janeiro de 22 para sua casa de praia na Alagoas natal, onde nos dois meses seguintes todas as letras foram escritas, talvez daí venha a característica tão solar do álbum. Todas, na verdade à exceção de duas: o samba “Êh, Êh!” e “Iluminado”, duas faixas que têm origens e características diferentes das outras dez do álbum, mas que contêm igualmente grande parte do enigma de “D”.
Feito em parceria com Zeca Pagodinho, “Êh, Êh!” foi lançado por Alcione, uma estilista do samba, em 2014. Também estilista e ele próprio um inventor do samba ao seu modo, Djavan sentiu vontade de mostrar também a sua maneira de fazer essa música. O violão de samba do autor de “Flor-de-lis” e “Fato consumado” e o jeito próprio de Djavan de fazer samba são precisamente a contribuição de “Êh, Êh!” ao enigma “D”. É a faixa feita para quem gosta de curtir o violão de Djavan.
Já “Iluminado“, a mais nova das canções de “D” e que lhe serve de terceiro single, foi composta na praia, diante do mar de Alagoas. E a sua prole, filhos e netos, todos reunidos. A melodia nasceu em Djavan a partir de uma batida de ukulele que sua filha Sofia fazia na praia. Em pouco tempo a canção estava pronta, música e letra, simples, praiana, solar – “Tudo é possível/Como um dia de sol/É jogar o anzol/Esperar/Pra ver o que vem”. Djavan acha que é a canção mais popular do disco e lhe proporcionou um velho sonho: gravar com todos os filhos e netos músicos, dos mais velhos e já profissionais Flavia Virginia, João e Max Viana, aos filhos mais novos Sofia e Inácio (“que toca um violão igual a mim”, surpreende-se o pai) e os netos Thomas Boljover e Lui Viana. A família tão musical e fazendo uma canção solar e cheia de esperança no futuro também faz parte do enigma “D”.
O tal enigma de “D” está todo nas canções. Seria muito interessante entrar na cabeça de um fã de Djavan, ou de qualquer pessoa que ame a música brasileira, ouvindo o disco e se perguntando qual é a melhor canção do álbum. Se a supercomplexa e jazzística canção “Ao menos um porto“, cheia de nuances harmônicas e melódicas, seu levíssimo arranjo de sopros cheio de “vozes” abertas, o arranjo vocal feito e todo cantado por Djavan, e a letra de um amor desesperado. E o lindo título. Ou a valsa-jazz “Nada mais sou“, em compasso 6/8, tão típica de Djavan. Ou ainda a balada pop que abre o álbum, “Primeira estrada“, com todas as sutilezas harmônicas possíveis brotando do violão de Djavan, e imagens poéticas inusitadas (“Campos que florirão/Num sertão de vinho”, inspirado nas vinícolas do São Francisco) e comoventes (“Se alguém sabe de amor/Por favor, me fale/Se era amor, por que acabou?/ Quem amou não sabe”).
Talvez a melhor seja a pop e djavânica, com todas as quebradas rítmicas e poéticas tão típicas suas, “Cabeça vazia“, um perfeito exercício de estilo. Ou, ainda no quesito exercício de estilo, seja o delicioso bolero “Você pode ser atriz“. Afinal, faz parte do enigma “D” esse exercício constante de reinventar os gêneros básicos da musicalidade brasileira e latina, o bolero como um dos símbolos máximos desse exercício.
Pode ser duas abordagens inusitadas do amor: a canção pop “Quase fantasia“, um amor platônico – “Poderei conquistar a lua/Se eu tocar nessa boca tua” – mas vivido como se fosse real e vital, “Fui na trama dos teus passos/Sucumbir/Quase como se fosse um doente/E você o elixir”; e, como se fosse o seu oposto, o blues “Ridículo“, um amor real, só que na verdade um tremendo erro, tema tão típico do gênero. As diversas abordagens do amor, aliás, também fazem parte do enigma “D”.
Na verdade, o 25º álbum de Djavan traz esse título ao mesmo tempo simples e enigmático porque talvez “D” represente aqui a continuidade da obra de um artista, o desenvolvimento dos muitos caminhos musicais propostos por Djavan, e sua busca constante por novidades, desde que começou a ouvir música, menino ainda, em Maceió. Um enigma decifrado canção a canção, disco a disco. Agora, no momento em que o ouvimos pela primeira vez. E a ser ouvido e decifrado para sempre.
Ator, diretor e roteirista, Junior Vieira fará parte do elenco de “Madame Durocher” depois de protagonizar filme do diretor português Leonel Vieira, exibido no Festival de cinema de Gramado
No último final de semana, o ator Junior Vieira estreou o longa “The Last Animal”, em que atua como protagonista, no Festival de Gramado. O ator, diretor e roteirista também está preparando um novo trabalho, que deve estrear em 2023 nas telonas brasileiras. Ao lado de um grande elenco, Vieira vai participar do longa “Madame Durocher” que contará a história da primeira mulher reconhecida oficialmente como parteira no Brasil. E é através de trabalhos de grande relevância e repercussão nacional que ele vem construindo seu legado.
Natural do Maranhão, Vieira se divide entre os trabalhos que realiza no Rio de Janeiro e em São Paulo. O artista, que já acumula 20 anos de carreira, contou ao Mundo Negro sobre como chegou o convite do diretor português Leonel Vieira para protagonizar o filme The Last Animal. “Felipe Bretas é um diretor e produtor carioca, que se tornou um grande amigo e foi um dos co-produtores do ‘Quero Ser Feliz’, obra que dirigi. Já tinha feito um filme dele e uma série da Amazon que ele também dirigiu. Ele achava que eu era bem potente e acima da média como ator. Por conta disso, disse que ia tentar me colocar em um longa que ele estava co-produzindo. Um dia, ele me levou pra conversar com o Leonel Vieira (diretor e dono do projeto), que ficou bem surpreso positivamente com o conteúdo do ‘Quero Ser Feliz’ e até onde ele chegou. Eu já estava no filme, mas o Bretas disse que eu poderia conseguir fazer um dos papéis principais, a questão é que o diretor queria porque queria o Raphael Logam, mas Logam estava disputando o Emmy de melhor ator e o personagem do longa tinha uma linha narrativa parecida com o Evandro do dendê (personagem de Logam em Impuros) e ele estava muito em dúvidas se faria ou não. E eu estava em um momento de crise existencial, triste com alguns acontecimentos. Precisava de um bom personagem para continuar a acreditar. Como sou muito amigo do Raphael, liguei pra ele e expliquei a situação. Ele foi super generoso e disse que saía com prazer se fosse para eu fazer. No mesmo dia, Leonel me chamou para trocar ideia pessoalmente, porque ele só me via como um bom moço e não sabia se eu segurava a segunda parte mais dramática de virada do personagem. Contei um pouco da minha vida e ele disse: ‘Parabéns, você é o Didi!’”, contou o ator.
Junior Vieira nos contou como vê a chegada de um convite para ser protagonista de um longa internacional, considerando o pouco reconhecimento que atores negros recebem nacionalmente. “É importante, ainda mais que falo inglês no filme e contracenei com atores que fizeram ‘Ultimato Bourne’, ‘Velozes e Furiosos’, ‘A Balada do Pistoleiro’ e ‘Exterminador do Futuro’. Mas sinto que o ator preto, quando ligado a obras internacionais e até nacionais, ainda está ligado ao olhar marginalizado, inserido na periferia ou em lugares subalternos. Existe uma necessidade gigante da presença de autores e diretores pretos para que isso aconteça de maneira mais natural e sem estereotipar alguns perfis. Temos visto o protagonismo preto em ascensão e precisamos e queremos mais. Uma questão é a representatividade outra a quantidade. Obviamente minha participação abre portas, mas ainda precisamos escancara-las, mostrar que somos plurais, diversos e podemos interpretar qualquer tipo de personagem. Não sou um personagem de uma realidade apenas, sou ator e sou muitos!”, afirma.
Por trás das câmeras
Na frente e por trás das câmeras, Junior Vieira também está entre os roteiristas de um novo longa dirigido por Fernando Meirelles, diretor do premiado Cidade de Deus. Mesmo sem revelar muitos detalhes sobre o filme, Vieira comentou a alegria de trabalhar com o diretor. “Fernando Meirelles é um dos meus ídolos. Cidade de Deus é o meu filme favorito. Sei todas as falas (risos). O cara disputou o Oscar, cara! Quando você o elogia, ele diz que é superestimado, ele é mó maneiro. Então, Rene Belmonte, tinha sido convidado para escrever essa história. E somos amigos e conversamos muito sobre tudo. Quando chegou essa demanda, ele sabia a propriedade e vivência que tenho desse território, e ele não tem nenhuma. Tanto que nunca tinha nem subido um morro. Eu levei ele no morro do São João para ele entender um pouco da cultura, topografia e questões práticas da vivência em um morro. E ao invés de me chamar apenas para consultoria, me chamou para escrever junto e dividir os créditos. Fernando ficou feliz em me conhecer, não só como roteirista, mas também como diretor e ator e em breve estaremos juntos em outro projeto. Posso falar bem pouco do filme ainda, mas é um filme de ação que se passa em duas favelas cariocas e que se passa em um período de 24 horas”.
No mês de setembro, Vieira começa a rodar um filme sobre a primeira mulher parteira no Brasil. Onde interpretará um personagem de destaque na trama. “Nesse filme, serei ator e com um papel de destaque com o personagem Abayomi (nascido para trazer alegria), reforçando minha parceria com os diretores Andradina Azevedo e Dida Andrade. Estamos indo para o terceiro projeto seguido em 1 ano, reforçando a confiança de ambos. Mas ajudei muito na escalação do elenco e em questões de narrativa e potencialização de personagens negros no roteiro. Com muito carinho e troca com João Segall, que assina o roteiro e produção do longa. A história de Durocher é importante para que a sociedade conheça e reconheça questões humanitárias e urgentes, pois as parteiras são as responsáveis pela saúde reprodutiva das mulheres. Embora seja a única alternativa em diversos lugares do nosso Brasil, o parto normal e domiciliar auxiliado por parteiras ainda é cercado de mitos e desinformação, infelizmente. O papel do filme é tentar de alguma forma mostrar a realidade, importância da resistência e potência dessas mulheres”, conta.
Junior Vieira está trabalhando em projetos conhecidos do grande público, como o longa que contará a história da dupla Claudinho e Bochecha. Ele também trabalhou na direção do projeto Negritudes 2022, no Globoplay, além da série Impuros e também da novela ‘Nos Tempos do Imperador’. “Posso dizer que sou privilegiado, por estar à frente de tantas obras importantes. Mas são 20 anos de estrada também, que consolidam o profissional que sou. Eduardo Albergaria e Leo Edde, os frentes da Urca Filmes e da cinebiografia sobre Claudinho e Buchecha, entenderam a importância de ter um diretor negro á frente, com o Eduardo. Pela vivência, pelo lugar de fala e por se tratar de um elenco majoritariamente negro, com uma história que se passa na favela e daí surgiu o convite para direção, além da colaboração que dei ao roteiro há alguns anos. Hoje entendem que nossas histórias precisam ter o nosso olhar para que a gente se identifique e queira compartilhar algo que se assemelha a nós. O Negritudes 22 foi coordenado, dirigido e apresentado por pessoas negras, fico feliz de fazer parte disso. E isso surtiu um efeito positivo notório para os espectadores, para os participantes e para o interno Globo”.
Sobre como vê a participação de artistas negros nos grandes trabalhos, Vieira diz que estamos ganhando espaço, mas vê que ainda é preciso aumentar a participação em cargos de liderança. “Acredito que sim, estamos ganhando mais espaço! Representatividade é importante demais, porém precisamos também do quantitativo! Somos 57% da população. E ver apenas 1 ou 2 negros no meio de 10, 20 não negros é nossa triste realidade. Ainda não temos os donos de produtora negros, autores de novelas (não digo roteiristas, mas os autores principais) negros, produtores de elenco, só lembro de 2 no meio de 30 produtores de elenco. Diretores de grandes produtos. Enquanto essa pirâmide hegemônica continuar dessa forma, a gente vai ter que remar essa maré cada vez com braços mais fortes para que consigamos de fato falar sobre igualdade, enquanto isso vamos promovendo ela. E estou remando firme!”, finaliza.
Ator e cantor encabeça o elenco da série Anderson Spider Silva e será protagonista de um longa-metragem
O Paramount+ acaba de confirmar a contratação de Seu Jorge para atuar em dois novos projetos do serviço de streaming: a série Anderson Spider Silva e um longa-metragem. Ambos os projetos são produções originais Paramount+, produzidas pelo VIS, divisão de estúdios da Paramount.
Anderson Spider Silva é uma série biográfica de ficção sobre a vida do lutador de MMA, que é o grande campeão da história desse esporte. “O Anderson Silva é um grande vencedor. É uma honra representar um personagem tão importante na história da vida dele. Ver a biografia da vida desse atleta sendo contada é a maior alegria porque são essas histórias brasileiras que inspiram as pessoas“, comenta Seu Jorge.
Seu Jorge dará vida a Benedito, tio do atleta. “Estou muito honrado em participar desse projeto. Sou muito amigo do Anderson, adoro ele e toda família. E, para mim, está sendo muito mais que um presente poder ajudar a contar essa história“, finaliza.
O longa-metragem, ainda em desenvolvimento, terá como tema o Natal, numa história repleta de emoção e diversão, com roteiros originados dentro da sala de Narrativas Negras, liderada por Marton Olympio
O ator Paulo Vieira escolheu encarnar a personagem Elsa, do filme Frozen para enfrentar a atriz Leticia Colin no quadro Batalha do Lip Sync, no Domingão com Huck do último domingo (14). Na disputa de dublagens, a atriz escolheu interpretar Britney Spears, e o humorista levou a melhor com uma performance de Livre Estou que tirou o fôlego do público.
No entanto, na hora de receber a premiação por sua performance, o cinturão não coube no ator. “Me serve, antes? Não quer me ajudar a vestir? Pra gente ter esse constrangimento? Não serviu”, afirmou o humorista quando viu o cinturão. Driblando o constrangimento, Paulo Vieira fez piada com o momento.
“Vou ter que usar no braço. É no braço que usa, smartwatch”, brincou ele. “Acabou de ganhar uma pescoceira do Lyp Sinc”, contornou Luciano Huck. No Twitter, o descuido da Globo em não criar um cinto com tamanho acessível a todos os corpos não passou batido e os internautas apontaram gordofobia.
“Você vê a gordofobia e suas pequenas agressões quando no primeiro ep de batalha de lipsinc no @domingao o cinto do ganhador não serve nele(Paulo Vieira) uma pessoa gorda! Custava por um extersor ou algo do tipo. O cara disse que vai por no braço, como se sentir incluída assim?”, disse uma usuária do Twitter.
Você vê a gordofobia e suas pequenas agressões quando no primeiro ep de batalha de lipsinc no @domingao o cinto do ganhador não serve nele(Paulo Vieira) uma pessoa gorda! Custava por um extersor ou algo do tipo. O cara disse que vai por no braço, como se sentir incluída assim?
Uma mulher de 55 anos que não quis ser identificada foi vítima de racismo dentro de um shopping na cidade de Santos, no litoral de São Paulo, e está em choque com o ocorrido. Quem fez a denúncia foi a filha, Laila dos Santos, de 35 anos, que estava com a mãe no momento do crime.
Segundo relato, uma mulher de 34 anos apontou o dedo e disse em voz alta que “preto tem que morrer”. Laila chamou a Polícia Militar e a racista foi presa em flagrante.
“Essa menina entrou na loja, cutucou a minha mãe e apontou o dedo na cara da minha mãe e falou que ‘preto tem que morrer’. Ela falou em alto tom, e uma funcionária da loja e outras pessoas ouviram”, contou Laila ao G1.
O caso ocorreu dentro da loja Riachuelo, no Shopping Praiamar, e teria sido testemunhado por dezenas de clientes que faziam compras pelo local. O caso repercutiu após ter sido compartilhado nas redes sociais.
Uma mulher sofreu racismo em uma loja do Praiamar Shopping, em Santos (SP), na última sexta-feira (12). A agressora apontou para a vítima e disse que 'preto tem que morrer'. pic.twitter.com/easyvoohRT
“Essa menina entrou na loja, cutucou a minha mãe e apontou o dedo na cara da minha mãe e falou que ‘preto tem que morrer’. Ela falou em alto tom, e uma funcionária da loja e outras pessoas ouviram”, contou Laila.
De acordo com a filha da vítima, a mulher tentou reverter a situação dizendo que precisava ir embora e chamou a mãe dela. A senhora teria afirmado que a filha estava fora de si, pois tem problemas mentais e possui um laudo psiquiátrico.
Laila ainda contou que foi desencorajada por seguranças da loja e por algumas testemunhas a fazer a denúncia. “Todo mundo falava que isso não ia dar em nada. Mas, eu afirmei que iria até o final e ia registrar um boletim de ocorrência. Estão ofendendo e matando pessoas utilizando como pretexto laudos para fazer o que querem, e isso tem que ser impedido”. Laila diz que, por conta das falas racistas, a mãe dela “está em estado de choque até agora”.
Luciano Ramos, diretor adjunto da ONG Promundo (Foto: Divulgação)
Luciano Ramos, morador do Rio de Janeiro, é pai de uma menina de 2 anos, diretor adjunto da ONG Promundo, consultor em Masculinidades e Paternidades e autor do livro infantil “Quinzinho“. Em 2021, Luciano coordenou o Primeiro Relatório Sobre as Paternidades Negras no Brasil pela ONG, que obteve um resultado alarmante: “95% dos pais negros têm dificuldade de falar sobre racismo com os filhos”.
Em entrevista ao MUNDO NEGRO, Luciano falou sobre esse resultado. “Está muito ligado a forma como nós fomos educados, socializados. O racismo sempre existiu, mas ele sempre foi um tabu. Ao mesmo tempo em que ele existe e a gente sofre isso no cotidiano, enquanto homens e mulheres pessoas negras, ele fica ali numa penumbra, como se não existisse. Isso faz com que pouco se aborda nos espaços de políticas públicas, na escola, nos espaços oficiais e dentro de casa. O que a gente não aprende a falar, a gente também não fala. O que a gente não aprofunda tanto o entendimento, a gente também fica sem ferramentas pra poder falar sobre, é um grande problema dentro da sociedade brasileira”.
“Nós fomos um país escravagista, mas fomos o último país a abolir a escravidão, ou seja, nós fomos fundados a partir do racismo, organizados a partir do racismo e pouco se fala sobre racismo. E aí a gente tem um problema dentro disso, que é: os pais não trazem isso pra dentro de casa, não dialogam sobre isso com seus filhos e a gente tem que criar ferramentas para que esses debates cheguem dentro de casa para que eles ocupem os espaços familiares, instrumentalizar os pais para que consigam falar sobre isso, para que tenham ferramentas para dialogar sobre isso com os seus filhos”, explica o diretor adjunto do Promundo.
Luciano também reflete nas principais dificuldades de ser um pai negro atualmente. “Na pós-pandemia está muito relacionado a falta de emprego, a própria miséria, a fome porque a gente sabe que essas mazelas caíram sobre famílias negras no Brasil”. Segundo pesquisa da Rede Penssan divulgada em 2020, 55,2% dos brasileiros vivem com insegurança alimentar.
Por outro lado, o Primeiro Relatório Sobre as Paternidades Negras no Brasil aponta como os pais conseguem ser participativos. “Quando pais negros conseguem ascender socialmente, academicamente, financeiramente, eles têm muito mais instrumentos pra paternar”, diz Luciano.
Ele explica: “Isso ficou evidente quando mais de 270 homens negros responderam a pesquisa e a maioria são homens com o terceiro grau completo, ensino superior. Alguns com pós-graduação, outros com mestrado. E eles falam que isso criou muita possibilidade para que eles pudessem paternar com mais tranquilidade porque eles não estão preocupados se terão dinheiro no mês seguinte porque eles já estão empregados. Existe muita estabilidade para esses homens conseguirem paternar. Então esses elementos externos também são e serão muito importantes para o desenvolvimento de uma paternidade participativa”.
O livro ‘Quinzinho’ é o segundo mais vendido da editora Caqui (Foto: Reprodução/Instagram)
Em 2019, Luciano estava em um projeto do Promundo para dar aulas sobre Masculinidades e Paternidades Negras. Foi quando se deu conta que encontrou pouquíssimos livros infantis sobre o tema. E quando se tornou pai, em 2020, Luciano diz que teve essa preocupação em como dialogar com a filha sobre paternidades negras. Foi a partir disso, que ele escreveu o livro infantil “Quinzinho”, o segundo mais vendido da editora Caqui.
O livro conta a história do menino Quinzinho e sua família, que trazem a reflexão da importância do orgulho de ser preto e preta, o empoderamento das crianças pretas para enfrentar o racismo e a relação da criança com o seu pai mostra, que apresenta uma dimensão de uma masculinidade alternativa e afetuosa.
Segundo Luciano, o livro teve um retorno positivo dos pequenos leitores: “Muitos meninos negros dizendo o quanto se percebiam no personagem e alguns até diziam: ‘o pai do Quinzinho parece com o meu pai’. Era muito bonito ouvir isso”.
Luciano e filha de 2 anos e 6 mesess (Foto: Arquivo pessoal)
O homem negro e a ausência paterna
“Eu não tive presença paterna. Assim que eu nasci com a minha irmã gêmea, a Luciana, meu pai foi embora. Eu passei por todos os estágios relacionados à questão da ausência paterna. Desde o fato de buscar referências que pudessem ocupar este lugar da paternidade em pessoas externas, até negar a importância da figura paterna na vida do indivíduo em desenvolvimento. Até o momento em que eu consegui vivenciar esse luto da ausência da paternidade e trabalhar isso. Mas foram muitos anos trabalhando isso, inclusive até decidi que eu queria ter de fato um filho porque o não ter uma referência também nos leva a refletir muito como é exercitar um modelo de algo que você não conhece na prática”, relata Luciano.
O consultor de Masculinidades e Paternidades tem aprendido na prática o que é ser pai com a filha de dois anos e meio. “Quando você exerce paternidade participativa, tem todos os elementos de cuidado, de estar juntos, de acompanhar e de promover o processo de desenvolvimento. Isso demanda também disposição em fazer e entender que toda vez que eu faço isso, eu também estou abrindo porta para outros entenderem que é possível e que deverão fazer porque paternidade e maternidade devem caminhar juntos, no mesmo grau de importância”, afirma.
Para Luciano, a forma de pensar e agir a paternidade ainda tem resquícios da escravidão e por isso, afeta nas relações e nas memóras, ou a falta delas. “Somente em 2020, 80 mil crianças não tiveram no registro de nascimento o nome do pai e a maioria dessas crianças são negras. A ausência da paternidade negra ela não é um elemento isolado ou que se dá apenas por um ato voluntário, isso está ligado também a história, ao fato de que homens negros não foram sequestrados pro Brasil para paternar. Eles foram sequestrados para serem forças brutas de trabalho, para serem animalizados. E isso fala muito, historicamente em nós”.
E continua com a reflexão: “Que memória de paternidade nós temos? O que existe agora é uma tomada de consciência de que esse lugar da paternidade também é do homem negro, que isso também é um direito do homem negro, que são fatos extremamente distintos, da leitura que em geral é feita no Brasil e nos países do ocidente”.