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Ludmilla faz história e mostra a força da música negra no Rock In Rio 2022

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Ludmilla. Foto: Rock In Rio.

Entregando um dos melhores shows do festival, Ludmilla transformou o Rock In Rio 2022 num enorme baile de funk. A cantora, que entregou um espetáculo com pouco mais de 1 hora de duração, passeou por todos os gêneros que a consagraram como a maior cantora negra da América Latina. 

As diversas referências às outras artistas que ajudaram a definir a força artística de Ludmilla se fizeram presentes em todo o espetáculo. Num dado momento, a dona do ‘Numanice’ apareceu sentada numa mesa ao lado de Tasha & Tracie, MC Soffia, Tati Quebra Barraco e Majur, referenciando artistas negras que vieram antes dela e também aquelas que estão transformando a cena da música contemporânea. O ato, com muita representatividade, pode ser visto como uma referência ao discurso de Beyoncé no Dear Class Of 2020, ocasião em que a cantora norte-americana citou o ato de criar uma ‘mesa’ para que outras mulheres negras pudessem se sentar com poder e glória, sendo respeitadas por seu trabalho na indústria.

Ludmilla para o ‘Rock In Rio 2022. Foto: Reprodução.

“Um dia me disseram que meu sonho era grande demais pra mim”, disse Ludmilla na abertura de seu show no Palco Sunset. “ Tentaram a todo custo fazer com que eu duvidasse da minha capacidade. Pra mim o caminho sempre foi mais difícil, mas no lugar de onde eu vim, desistir não é uma opção”. A artista apareceu em tons de verde e amarelo, promovendo uma ressignificação da bandeira nacional e lembrando seu orgulho em ser brasileira.

10 anos após estrear como MC Beyoncé, Ludmilla mostra ao país inteiro que se firmou como um dos maiores nomes da música brasileira. Uma artista capaz de navegar por diversos ritmos, mantendo suas raízes e homenageando aquelas que abriram caminhos para sua trajetória. O Palco Sunset ficou pequeno para o poder e força de Lud, que mais uma vez, mostrou a força da música preta brasileira.

Ana Paula Xongani fica 7 horas detida em aeroporto de Portugal com outros brasileiros negros

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Foto: Reprodução/Instagram

A apresentadora da Globoplay Ana Paula Xongani, relatou nas redes sociais nesta manhã (11) ter sido vítima de racismo e xenofobia ao desembarcar no aeroporto de Portugal. “Minha chegada foi traumática, fui encaminhada pra tal salinha da polícia federal onde lá estavam mais 6 negros, todos brasileiros”. Ela diz que ficou detida por 7 horas: “Fome, medo, angústia, ansiedade, estresse…”, relata os sentimentos.

Para Ana Paula, não houve motivo para a detenção. “Uma mulher, brasileira, preta e casada não coincide com a história que eles esperam. Eles não contavam que essa mesma pessoa podia ter pago sua própria viagem, possuía dinheiro, decidiu viajar sem marido e filha, estadia e principalmente liberdade pra viver uma viagem de férias!”, escreveu.

Para sair da sala e dar continuidade a viagem, ela diz que contou a ajuda de um atendente disposto a descobrir quem eu sou pra além da sua imaginação estereotipada sobre mim!”, assim descreve. 

Nos stories, a apresentadora falou que devido a demora para ser liberada, perdeu as malas e o próximo voo. A viagem era uma surpresa para se encontrar com a sobrinha N’weti Ferro. Apesar de estar visivelmente abalada nos primeiros vídeos, ela aparece mais animada. “Já estou acolhida, com a minha família”.


Festival Yalodê: Line-up exclusivo de mulheres negras reúne Mayra Andrade, Margareth Menezes, Fabiana Cozza e mais

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Foto: Divulgação.

Nos dias 17 e 18 de setembro, o Festival Yalodê será palco da estreia de Mayra Andrade em Brasília, e vai oferecer shows de outros grandes nomes da música preta brasileira

A primavera chega ao Distrito Federal ao som de vozes de artistas do Brasil e do mundo, na segunda edição do Festival Yalodê, um encontro internacional em que as mulheres negras são protagonistas com toda sua pluralidade. O Museu Nacional é o local do evento, totalmente gratuito, onde acontecem shows nos dias 17 e 18 de setembro. O Yalodê é uma celebração da potência musical que se mostra rica e variada nas expressões.

O mergulho nos universos sonoros inclui, ainda, Mayra Andrade, Fabiana Cozza e Indiana Nomma, nomes conhecidos no país e no exterior, talentos que emergem no DF, como as Margaridas, artistas consolidadas na cena da capital, como Cris Pereira e Teresa Lopes. Há também espaço para estrear em Brasília a capixaba Afronta MC, que está consolidando carreira no Brasil e o retorno de Bia Nogueira aos palcos da capital.

De origens, idades, fases de carreira e vertentes musicais variadas – que incluem Hip Hop, MPB, samba, pop, samba reggae, pagodão, afro beat, jazz, ritmos eletrônicos, rap  – essas mulheres são artistas com diferentes experiências e trajetórias, múltiplos trabalhos artísticos que a capital federal poderá apreciar nos dois dias do Festival. 

Sobre essa riqueza e complexidade que chegam junto para abrir a primavera, a cantora Fabiana Cozza comenta o que as une e o que significa o Festival para ela. “Cantar ao lado de outras amigas e colegas cantoras, negras, defensoras do patrimônio que é a cultura negra brasileira é praticamente um manifesto. Manifesto onde reafirmamos a arte e o pensamento afrodiaspórico, nossas raízes e ancestres, ecoando nosso coro feito trovoada na luta contra a política da morte, da supremacia branca, da boçalidade, da misoginia. Não somos cinco ou seis. Cada uma de nós é uma garganta que abarca outras centenas de mulheres. Assim nos legaram. Assim aprendemos e por isso seguiremos.”

Como compor esse cenário de pluralidade, com as diferentes facetas artísticas das cantoras? A idealizadora do evento e curadora, Sara Loiola, explica o processo. “A programação musical do festival é sempre um desenho da paisagem sonora do nosso tempo. E aí tem de tudo,  inclusive encontros de gerações como é o caso da Nêssa e a Margareth Menezes, duas artistas potentes da Bahia que se encontram no palco pela primeira vez aqui no DF. O festival é celebração e potencializador das produções negras da diáspora.”

Já a cantora Cris Pereira, que também participou da primeira edição do evento, define o Yalodê como um Festival que já nasceu mãe e que reúne suas filhas para aprender e crescer juntas: “Yalodê já começa sendo festa, um encontro que celebra encontros, e que  tem uma especificidade muito rara e fina por ser desenhado por mulheres negras para mulheres negras. É uma alegria imensa mais uma vez fazer parte, pois acompanho desde o início. Eu poderia dizer que é como ver um filho crescer, mas o Yalodê já nasce mãe. Já nasce mãe de artistas negras, produtoras negras, jornalistas negras, então é como ver a mãe criando suas filhas.”

Do ventre escuro, fértil, rico e potente da diáspora, para o centro do Brasil, as cantoras, DJs, apresentadoras, produtoras, juntas em ação, farão o começo da primavera em Brasília, com talento multifacetado para compartilhar com o público e entre elas mesmas. O Festival Yalodê é um encontro musical imperdível para quem sabe apreciar a arte em suas surpreendentes variáveis.

Programação

Dia 17 Setembro I Sábado

19h – DJ Naju (DF) 

20h –  Cris Pereira (DF) 

20h30 – Bia Nogueira (MG)

21h40 – Indiana Nomma (Honduras/Brasil)

22h40 – Margaridas (DF)

23h40 – Mayra Andrade (Cabo Verde) 

1h30 – DJ Kashuu (DF)

Dia 18 Setembro I Domingo

19h – DJ Naju (DF)

20h – Afronta MC (ES)

21h – Nêssa feat. Margareth Menezes (BA/BA)

22h – Teresa Lopes feat Fabiana Cozza (DF/SP)

23h – DJ Janna (DF)

SERVIÇO:

Yalodê – Festival Internacional de Cantoras Negras

Dias: 17 e 18 de setembro de 2022

Horário: A partir das 19h

Local: Museu Nacional da República

Ingressos: https://www.sympla.com.br/festival-yalode__1709982

A regra é clara: Preto não é influencer!

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Foto: Divulgação.

Prazer! Eu sou o Preto Gourmet – um dos novos colaboradores do Mundo Negro. E como postulante a título de DFI (Digital Food Influencer) na cena gastronômica, o meu recorte é racial. Quero problematizar as pessoas pretas na Gastronomia – uma área marcada pelo eurocentrismo e pelo racismo estrutural. Neste texto de estreia, quero abordar o nosso lugar nas mídias sociais e o nosso apagamento na cena gastronômica como consumidores ou influenciadores digitais.

A criação do Preto Gourmet se deu pela experiência em um restaurante que é indicado pelo Guia Michelin no Rio de Janeiro. Fui representar uma amiga pelo seu blog no lançamento do novo menu do restaurante. Quando sentei à mesa com formadores de opinião e imprensa, me dei conta que eu era o único preto daquela mesa – e aquilo foi um soco no estômago.

Cadê os meus? Não tem preto(a) formador(a) de opinião no Rio de Janeiro? Não tem jornalista preto(a) especializado(a) em Gastronomia? – essas foram minhas reflexões iniciais comigo mesmo com sorrisos no rosto para ser educado no meio de gente que eu desconhecia. Entre sorrisos forçados e bem artísticos (fui bom nisso e a TV me perdeu), viralizavam questionamentos na minha mente. Embora eu já tivesse percebido que na universidade federal em que sou professor no bacharelado em Gastronomia sou o único professor efetivo preto, não tinha percebido quão visíveis eram os resquícios do racismo na mídia profissional gastronômica, nas assessorias de imprensa e agências de marketing.

Essa mesma amiga jornalista branca sempre confiou em mim e dizia: “a ideia do Preto Gourmet é ótima! Siga e não desanime!” Eu segui com a ajuda dela substituindo-a em visitas a restaurantes de cena carioca. Como ela é muito reconhecida entre empresários deste ramo e a imprensa especializada, toda vez que eu falava que estava representando o blog dela, os olhares mudavam e até sentia um tratamento diferenciado (positivamente).

Conhecendo influenciadores digitais em eventos realizados para restaurantes, bares e gastrobares, a questão racial mais uma vez apareceu: eu era o único preto do evento. Mais uma vez caiu a ficha: preto não é influenciador gastronômico. Quando vejo vídeos em parceria de influenciadores gastronômicos com restaurantes, minha percepção se concretiza: são sempre pessoas brancas. Sabe o porquê? Porque a cena gastronômica tem como cerne a distinção social por meio do status.

Como pesquisador e líder do grupo de pesquisa ‘Consumo, Gastronomia e Redes Sociais Virtuais’ – CNPq, o meu tema de interesse atualmente é a avaliação online de restaurantes nas plataformas digitais. No capítulo ‘O Termo Gourmet: sua construção histórica na Gastronomia e o uso nas avaliações online de restaurantes’ no livro ‘Gastronomia: Ensino, Pesquisa e Extensão’ discuto como esta palavra é usada como forma de distinção social entre apreciadores da gastronomia. Neste contexto da gastronomia como marcador da distinção social, nós pretos(as) não temos lugar como consumidores e influenciadores – pelo menos é assim que as agências de marketing, assessorias de imprensa e donos(as) de restaurantes nos vêem. São os brancos que são convidados para este papel.

Remetendo à famosa frase do país do futebol, “a regra é clara”: preto não é influenciador na cena gastronômica – digo isso com conhecimento de causa. Transitando por espaços da alta gastronomia carioca e tendo contato com empresários e grandes chefs da mídia, sabe quantas vezes fui convidado como influenciador para ter uma experiência num restaurante/bar/gastrobar por agência de marketing ou assessoria de imprensa? Apenas 3 vezes – sendo duas delas depois que o Prêmio Gastronomia Preta (spoiler do Mundo Negro) explodiu em todo o Brasil.

Leitor(a), é sobre isso: nossa invisibilidade na cena gastronômica como consumidores e formadores de opinião. O lugar do nosso povo é onde ele quiser, mas a cena gastronômica ainda nos invisibiliza de diferentes formas – e é esse apagamento na Gastronomia que discutirei com vocês nos próximos textos.

Axé!

Para indicar os profissionais negros da gastronomia que você quer ver sendo reconhecidos no Prêmio Gastronomia Preta, você pode preencher o formulário clicando aqui. Saiba mais sobre o prêmio acessando as redes sociais do @pretogourmet.

“Eu quero caminhar com o meu trabalho”, diz Letícia Fialho, que arrebatou mais de 2 milhões de plays com ‘Corpo e Canção’

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Foto: Bruno Soares.

“Chega feito lua cheia, incendeia de feitiço…” se você já ouviu Corpo e Canção, da cantora e compositora Letícia Fialho, com certeza leu essas primeiras linhas cantando. Se não conhece, se prepare porque vai ser amor à primeira vista. Dedicada ao universo das palavras, da música e da composição, a cantora carioca radicada em Brasília tem arrebatado uma legião de ouvintes nas principais plataformas de áudio Brasil afora.

O sucesso das canções de Letícia, que têm chegado a cada vez mais pessoas, ganha um contorno especial quando se observa que as músicas que ela grava são, na absoluta maioria, compostas por ela. A posição de poder contar as próprias histórias e reivindicar esse espaço de autoria tem uma importância enorme na vida da compositora, que não abre mão de ser reconhecida como tal. “Quando falamos em palavra e em tocar um instrumento, estamos falando de narrativa, e da propriedade sobre esta narrativa, ter voz, ter autoria. A gente está sempre sendo objeto e tendo nossa história sendo contada em terceira pessoa, as mulheres negras principalmente”, avalia.

Para ela, todas as guerras, conflitos e disputas existentes na história do mundo passam pela narrativa. “Compor é produzir narrativa, é pegar pra si um pouco da História e dizer: eu vou contar, vou dizer, eu vou sentir, vou falar o que eu poderia sentir, ou falar o que eu nem senti e nem vivi, mas eu imaginei, mas eu criei e tenho aqui uma onda estética e poética e vou criar mundos a partir da palavra”, complementa.

Hoje com 32 anos, Letícia começou a compor aos 12 anos de idade. “Eu lembro que achei em casa ‘A Hora da Estrela’, de Clarice Lispector e ‘Uma Antologia Poética’, de Vinícius de Moraes. Nem fazia ideia de quem eram esses nomes e aí minha cabeça explodiu, porque despertei para o universo da poesia, descobri que era possível se expressar dessa forma”, relembra.

Carta de Fogo

Seu último álbum, Carta de Fogo, lançado em 2021, foi gravado durante o período mais duro da pandemia. Durante este trabalho, Letícia se desafiou a gravar todos os instrumentos do disco. Tanto pela impossibilidade de se reunir com outros musicistas, como também pelo desafio de ver onde isso poderia dar.

O trabalho, riquíssimo do ponto de vista da linguagem, permite uma viagem pelas diversas possibilidades do fogo e nos leva nessa jornada de poesia, som e imaginação com uma qualidade emocionante de ver e sentir.

Para os próximos passos, o que Letícia deseja é poder circular seu trabalho pelo Brasil e pelo mundo. “Eu não sei onde eu quero chegar, mas eu sei que eu quero caminhar com o meu trabalho”, avisa. “Nosso objetivo é levar a música, e levar a gente, poder trabalhar com essa expansão, ir para os lugares e poder todos os dias dizer que tem tal show em tal lugar”, planeja.

“Luxo sem conforto é apenas ostentação”, diz Karine Amancio, especialista em marcas de prestígio

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Foto: Fernando Torquatto

Atualmente, a jornalista Karine Amancio é a única mulher negra na área de Relações Públicas (RP) no mercado de luxo, no setor de moda, pelo mundo. “Eu cresci frequentando ambientes majoritariamente brancos, na escola ou para lazer, e por muitas vezes ambientes de luxo. Era algo que eu já conhecia bem, mas não tinha a vivência frequente de hoje em dia”, disse em entrevista ao MUNDO NEGRO.

Crescida em uma família de classe média no interior de São Paulo, Karine trabalha na empresa brasileira JHSF e atende clientes como o Shopping Cidade Jardim e Shops Jardins e nas áreas nobres de capital paulista, além de ser Editora de Acessórios na Revista Cidade Jardim. A profissional também é engajada na luta racial para inclusão da imagem de pessoas negras nesses ambientes. 

Na última edição da revista, foram publicadas duas capas com o Ex-BBB Paulo André e a top model piauiense Lais Ribeiro, além da jornalista Joyce Ribeiro em um editorial de moda. “Trabalhar a diversidade em todos os espaços é algo presente no meu dia a dia. Não apenas na revista, mas em todas as frentes de comunicação em que atuo. Tenho a felicidade de trabalhar em um time comprometido e empático pelas questões raciais. Então trazer o meu olhar e a minha vivência para este espaço é algo enriquecedor”, diz.

Para Karine, luxo é ter a tranquilidade de poder fazer escolhas para o bem-estar (Foto: Flavia Manssur)

Já na coluna “Mural de Desejos“, ela publica várias dicas de artigos de luxo. “Sempre elegemos uma tendência para abordar e consequentemente escolho peças que são de desejo para mim. Eu amo a pesquisa que faço durante a criação, pois cada vez me aprofundo mais em algum tema que vai além da peça em si para a história da moda”.

E o trabalho às vezes rende alguns mimos luxuosos. “Recentemente ganhei um sapato de uma marca que sou fã e já uso há alguns anos. Lindíssimo e realmente o meu estilo. Fiquei muito feliz e grata por ver que meu trabalho está sendo reconhecido”.

Para Karine, o conforto é indispensável na hora de pensar sobre luxo. “É ter a tranquilidade de poder fazer escolhas para o meu bem-estar. Acredito em conforto na sua abrangência como por exemplo poder escolher o que comer, onde morar e coisas assim”. E afirma: “Luxo combina com conforto, se não é apenas ostentação”.

No cotidiano, ela tem as suas preferências. “Adoro peças com caimento legal e materiais com cores vivas e muito brilho que refletem a minha personalidade vibrante e meu orixá Oxum”.

Karine Amancio iniciou a carreira na moda como modelo na adolescência (Foto: Arquivo pessoal)

Mulher negra de luxo e de referência

Karina diz que a comunicação e a moda sempre foram suas grandes paixões. “Eu fui modelo quando adolescente e fiz jornalismo na faculdade, então conseguir unir esses amores é uma grande realização. Desde pequena eu sonhava em trabalhar com moda. É algo que me faz vibrar e me emociona”, conta Karine.

A jornalista trabalhou na Semana de Moda de Paris, em março deste ano, com algumas marcas internacionais que ela trabalha no Brasil. “Tive a oportunidade de conhecer Olivier Rousteing diretor criativo da Balmain, único negro a frente de uma Maison de luxo. Foi uma realização poder trabalhar com ele, que é um ícone mundial e uma referência”.

Outra grande referência profissional para o início da carreira de Karine foi a jornalista Glória Maria. “Uma mulher negra, jornalista, que fala diversas línguas, sempre conseguia as melhores entrevistas, viajou o mundo todo, tem reconhecimento internacional e é muito respeitada por seu trabalho”.

Hoje, Karine também é uma referência como profissional e sendo a única RP negra no mercado de luxo na área de moda e uma das poucas somando a outros nichos do mercado. “Sabemos o quanto não ter referências é impactante negativamente em nossas vidas. Ser a sua própria referência é um caminho que muitas de nós temos que construir”.

Apesar da falta de representatividade nesta área, a jornalista deixa conselhos importantes para as mulheres negras que também pretendem atuar nesta área. “Sejam curiosas sobre o mercado e as pessoas que estão nele. Estudem bastante e tenham um plano de como fazer para chegarem em seus objetivos. Networking na área de comunicação, em geral, é imprescindível. Então sejam interessantes e estejam interessadas em aprender sempre e estarem conectadas com pessoas que vocês admiram. Hoje a internet nos possibilita alcançar essas pessoas então usem essa ferramenta a seu favor”.


Setembro Amarelo e desistir negro

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Foto: Drazen Zigic

Por Shenia Karlsson

Em setembro de 1994 uma família americana – como milhares de famílias pelo mundo afora, perdeu seu filho para o suicídio. Assim nasceu o Setembro Amarelo, um movimento de conscientização sobre o sofrimento psíquico e suas drásticas consequências. O suicídio sempre foi um tabu, na verdade o sofrimento é um tabu, não fomos socializados para partilhar nossas dores, a dor sempre foi vista como algo que temos de evitar. Essa realidade agrava-se com o machismo e o racismo a partir das narrativas construídas acerca do que é ser homem e, sobretudo, o que é ser homem negro. Quem não se recorda da afirmação de Fanon “o negro não é um homem, é um negro” e desta forma serão vistos. 

Sabemos que dor é de quem a sente, não deve ser ignorada e muito menos comparada, enquanto psicóloga tenho a responsabilidade de assegurar que todas sejam acolhidas com o respeito merecido.  Entretanto, existem dores que socialmente são desconsideradas, corpos vistos como um repositório comum das dores, especialmente corpos negros historicamente animalizados.  É bem verdade que corpos negros não geram comoção, a exemplo disso o Setembro Amarelo, movimento iniciado a partir da morte de um jovem branco. Há um genocídio negro em curso promovido por uma necropolítica, uma guerra declarada contra nossos corpos, mas é preciso ressaltar que o racismo mata de morte matada mas também de inanição afetiva. A pergunta é, como não desistir da própria existência num contexto produtor de todos os tipos de morte negra? E para os que ainda têm dúvidas, vamos aos índices.

Índices do adoecimento de jovens negros

O Ministério da Saúde através da Política Nacional de Saúde Integral da População Negra divulgou em 2018 índices expressivos e demonstrou o aumento exponencial de suicídio entre jovens e adolescentes negros. As causas seriam “o racismo estrutural, as desigualdades étnico raciais e o racismo institucional como determinantes sociais das condições de saúde”. O suicídio é um fenômeno de alta complexidade, implica em diversos fatores e pode reunir componentes tais como depressão, consumo de drogas e álcool, castigos físicos, violência doméstica e familiar, violência psicológica, assédio, racismo, homofobia, negligência, abandono, bullying, ciberbullying, abuso sexual infantil, desemprego, ausência de projeto de futuro dentre tantos outros fatores. E ainda em 2019, o Ministério da Saúde divulgou em suas pesquisas uma alarmante informação, entre os jovens, são os pretos que possuem 45% mais chance de apresentar transtorno depressivo e sabemos que esta é uma porta perigosa. Tais dados indicam uma realidade cruel, adoecemos desde a tenra idade sem que as políticas públicas de saúde implementem ações significativas para a mudança desse cenário e, a depender do governo vigente, a situação só têm piorado.

A dimensão psicológica do racismo

O racismo é composto por algumas dimensões, no entanto, a dimensão psicológica é a mais poderosa visto que dá sustento a todas as outras. O racismo não sobreviveria sem o sequestramento de mentes, sem o assaltamento do ser. Em sociedades estruturalmente racistas, nossos processos de construção de subjetividade são tão distorcidos que o adoecimento psíquico torna-se quase inevitável e Neusa Santos já nos apontava para essa consequência em sua obra Tornar-se Negro. 

Diversos fatores tornam negros mais vulneráveis e suscetíveis ao adoecimento psicológico, a exemplo disso o trauma racial vivido individualmente e/ou coletivamente, as contingências de uma vida precarizada em muitos níveis e a falta de acesso à saúde, especialmente aos serviços de cuidado e atenção primária. A desigualdade nos afeta em níveis profundos a ponto de distorcer nossa visão de mundo sobre nós mesmos, o resultado é uma perspectiva negativa sobre os negros. O auto ódio, a ausência de senso de pertencimento, a desesperança, a falta de projeto de futuro e a exclusão faz da vida do jovem negro muitas vezes  uma experiência insuportável. 

Socialmente, desde muito cedo, observamos que jovens negros aprendem a ocupar as periferias das experiências como se fossem lugares comuns devido ao conjunto de estigmas colado como uma roupa justa, com isso, suas potências são apagadas, a inexistência e a invisibilidade passa a ser a única forma de estar. A cor da pele enquanto signo carrega uma memória histórica-social com muitas representações: corpo negado, corpo perigo, corpo a ser destruído. Essas são as mentiras eficientes sobre nós e de tanto serem ditas, acreditamos. 

O Desistir Negro

O suicídio de negros não é um fenômeno novo, inclusive, foi objeto de análise de pesquisadores da UNICAMP. O estudo tinha por objetivo entender as motivações dos atos suicidas por parte dos escravos entre os anos de 1870 a 1888.  Já na época, “os homens negros predominaram as estatísticas e as formas mais comuns eram o enforcamento, afogamento e uso de arma branca”. Todos nós já ouvimos histórias de atos desesperados de nossos ancestrais, a violência do período colonial deixou marcas transgeracionais. Hoje as formas de sofrimento sofisticaram-se, mas a dor continua a ser a mesma. 

As principais causas que levam jovens e adolescentes negros a cometerem suicídios, de acordo com o Ministério da Saúde através da Política Nacional de Saúde Integral da População Negra  são “o não lugar, a ausência de sentimento de pertença, sentimento de inferioridade, rejeição, negligência, maus tratos, abuso, violência, inadequação, inadaptação, sentimento de incapacidade, solidão, isolamento social, não aceitação da identidade racial, sexual, de gênero e classe social.

Para os psicanalistas, a base dos eventos psíquicos é o conflito, posto isto, o sujeito pode se ver numa encruzilhada. Passa a ter uma percepção de mundo difusa e negativa ao ponto de cogitar não estar, e o objetivo é aplacar a dor que é característica nesses casos. As ideias suicidas passam a ser construídas até o momento da passagem ao ato. É fundamental levar muito a sério a verbalização do desejo de não estar, é um momento em que a dor está bem elevada, é um sinal vermelho.

Produção de vida em meio a Necropolítica

O racismo produz marcas profundas, muitas vezes irreversíveis. O combate ao suicídio de jovens negros é uma pauta tão importante quanto a luta contra o genocídio de jovens negros e devemos nos atentar para isso. É uma questão de saúde pública, urgente e cara para a comunidade negra. Somente uma mobilização social organizada pode reverter esse cenário, sendo assim, não só remédios institucionais devem ser pensados e aplicados, mas a conscientização social para tal problema. Cada um de nós temos a responsabilidade de agir, pequenas ações, incentivos, uma escuta atenta e sincera, um conselho, um abraço, um afago pois o melhor caminho é o afeto. 

É comum no relato dos jovens, quando esses revelam que não são ouvidos, a falta de acolhimento, de um lugar seguro para falar suas angústias, de seus sonhos, de seus desejos. O sujeito é aquele que deseja, o desejante existe para si e para o mundo. Jovens precisam aprender a projetar-se no futuro e temos de oferecer condições para isso. Combater a ausência na escola, incentivar a educação, o esporte, as artes em geral podem revelar potências inimagináveis. Produzir possibilidade é produzir vida. A comunidade negra é resiliente, potente e não podemos nos permitir morrer de inanição afetiva. Sejamos um aporte, um norte, nós por nós. 

Fontes:

https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/obitos_suicidio_adolescentes_negros_2012_2016.pdf

https://www.ufmg.br/saudemental/saude-mental/suicidio/
https://www.sbpsp.org.br/blog/suicidio-e-psicanalise/
https://exame.com/bussola/jovens-negros-tem-45-mais-riscos-de-desenvolver-depressao/
https://www.medicalnewstoday.com/articles/black-depression#causes
https://agencia.fiocruz.br/suic%C3%ADdio-de-escravos-%C3%A9-tema-de-artigo-de-hist%C3%B3ria-ci%C3%AAncias-sa%C3%BAde-%C3%82%E2%80%93-manguinhos

Documentos revelam que o FBI rastreava Aretha Franklin e classificava a cantora como ‘uma ameaça’

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Foto: Reprodução.

Novos arquivos do FBI chegaram ao conhecimento do público nesta última semana. Os documentos revelaram que as ações da cantora Aretha Franklin foram fortemente rastreadas pelo serviço de inteligência norte-americano durante os anos de 1960 e 1970. O FBI observava com atenção a luta de Aretha em prol dos direitos civis e sua presença dentro do movimento negro.

As informações foram obtidas pela jornalista Jen Dize e publicados no boletim informativo da Substack Courage News. Segundo registros, o órgão policial mostrou “suspeitas repetidas e repugnantes” de Franklin. A organização classificava a cantora como uma pessoa que pregava o “ódio aos Estados Unidos” e com ideais “pró-comunistas”.

Aretha Franklin. Foto: The New York Times.

Em outro documento de 1968, descrito como um “resumo da situação racial em Atlanta, Geórgia”, o FBI destacava que os shows de Aretha eram “uma faísca emocional que poderia desencadear distúrbios raciais”, além de “apoiar o conceito de poder negro militante”. Durante o auge de sua carreira Franklin chegou a ser descrita pela mídia como “a voz do Movimento dos Direitos Civis” e “a voz da América Negra”, dadas suas opiniões contundentes sobre as questões raciais e sociais.

Aretha chegou a dizer que ‘Respect’, um de seus maiores sucessos, era um hino para o movimento negro. “Essa música refletia a necessidade de uma nação, a necessidade dos homens e das mulheres comuns na rua, o empresário, a mãe, o bombeiro, o professor – todos queriam respeito”, escreveu a artista no seu livro de memórias, lançado em 2020. “Foi também um dos gritos de guerra do movimento pelos direitos civis. A canção assumiu um significado monumental“.

Aos 76 anos, Aretha Franklin morreu em 2018. Ela foi diagnosticada com câncer de pâncreas em estágio avançado.

“Sou uma artista de alma”, diz Aline Borges, que emocionou público como Zuleica

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Foto: Marcio Farias.

No ar em Pantanal, a atriz carioca celebra o ótimo momento profissional enquanto se prepara para voltar ao teatro e estrear novos trabalhos no streaming.

Esta semana, a atuação de Aline Borges na novela Pantanal foi elevada a um novo patamar. Vivendo as dores de ter perdido o filho Roberto, que foi assassinado nas águas do pantanal, a atriz deu um show de atuação que emocionou o Brasil. Aos 27 anos de carreira, a atriz está sentindo na pele o calor do sucesso de estar numa novela das 21h de grande repercussão.

https://twitter.com/tvglobo/status/1568055429367795713

“Não imaginava tanta repercussão. A gente sempre aposta no trabalho, mas nunca sabemos como vai ser. E está sendo muito especial. Parece piegas falar que este trabalho é um grande encontro, uma bênção, mas é isso, mesmo. Eu acredito que, para um trabalho ter sucesso, ele precisa ter bastidores incríveis – e aqui todos os envolvidos estão muito entregues, é um trabalho feito com muito amor e paixão. E isso passa para quem acompanha a novela, as pessoas assistem apaixonadas, envolvidas. A novela tem causado uma grande comoção no nosso povo e isso é muito bonito”, festeja.

Além da novela, Aline está estreando na série “Arcanjo Renegado” (Globoplay) e aguarda para breve o retorno aos palcos com o espetáculo “Contos Negreiros do Brasil” e o começo das gravações da série “B.O.” (Netflix), onde dará vazão a sua verve de comédia. Enquanto se prepara para a despedida da personagem que tem lhe proporcionado grande alcance de público, a atriz agradece pelo vulto que a trama tomou e a projeção que deu a seu talento.

E a fase está tão favorável que Aline, paralelo a todo burburinho da novela, estreia numa série que é sucesso desde a estreia. “Eu entro na segunda temporada de ‘Arcanjo Renegado’ ao lado de pessoas pretas muito potentes, como Zezé Motta, Cris Vianna e Rodrigo França”, comemora a atriz, que na série do Globoplay dá vida à Joana Toro, uma mulher sagaz e forte que é a secretária da governadora Manuela Berenguer (Rita Guedes).

“Joana está na seara política, então precisa de sagacidade para se manter ali. É uma personagem que me ensina muito também por ter esse olhar mais perspicaz para sobreviver num ambiente onde, pelo poder, um quer atropelar o outro e cabeças rolam o tempo todo. E, deste modo, ela vai crescendo dentro do seu cargo, conseguindo ocupar seu espaço de poder e derrubando quem quer derruba-la. Ela tem sangue nos olhos”, adianta a atriz que, na série “B.O.”, fará uma delegada muito competente, mas que tem fixação pelos holofotes e se sente uma celebridade.

Com 14 novelas no currículo, além de trabalhos no teatro, cinema e streaming, Aline relembra com carinho alguns personagens. “Na série ‘A lei e o crime’ (Record) eu fazia a Lacraia, e até hoje, mais de 10 anos depois, me reconhecem por conta desta personagem, que foi um divisor de águas na minha vida. No streaming, destaco a participação na série ‘Bom dia, Verônica’ (Netflix) e, no cinema, ‘Alemão 2’ (José Eduardo Belmonte / 2022). O remake de ‘Éramos Seis’, onde fiz uma psicanalista inspirada em Virgínia Bicudo, também me rendeu elogios e me puxou para outros trabalhos”, pondera.

E, passadas essas quase três décadas vivendo como atriz, Aline reconhece os desafios e alegrias de sua profissão. “Após tanto tempo, estou tendo a oportunidade de um papel que me proporciona mais reconhecimento. Sou parada nas ruas, as pessoas se aproximam com mais intimidade, é uma sensação de resposta muito valiosa. Me sinto presenteada. E isso só chega porque eu semeei este caminho sem desanimar. Venho de uma família onde não existe um histórico artístico, precisei buscar a resistência no meu DNA pra não sucumbir e insisti. Botei fé no meu potencial porque sou artista de alma. Eu amo fazer o que faço e vou morrer fazendo o meu trabalho, vivendo da minha arte”, finaliza.

Com o ex-goleiro Aranha e Glória Maria, Jornal Nacional exibirá especial sobre o crime de racismo no Brasil

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Foto: Globo/ João Cotta.

O Jornal Nacional, da TV Globo, exibe na próxima terça-feira (13) a série especial ‘Brasil em Constituição’. A reportagem abordará o racismo como tema central e a forma como esse crime, que é inafiançável e imprescritível, está sendo compreendido pela sociedade brasileira. A reportagem traz em seu conteúdo pessoas que já sofreram na pele com o preconceito, como o ex-goleiro Aranha, a jornalista Glória Maria e o jornalista e professor da Unesp Juarez Xavier

O atleta Aranha, que foi vítima de um dos mais emblemáticos episódios de racismo do futebol brasileiro, é um dos personagens centrais da reportagem. “Desde pequeno percebia que as pessoas mudavam de calçada quando cruzavam comigo na rua. Temos que nos comportar de uma maneira diferente quando vamos à uma loja, não esquecer documento. A pessoa negra vai se moldando desde criança para fugir do perigo que é”, diz Mário Aranha, que, depois de deixar os gramados, se tornou escritor e é autor de “Brasil Tumbeiro”, livro infanto-juvenil que aborda a luta antirracista.  

Ex-jogador Aranha na série ‘Brasil em Constituição’. Foto: Globo/ João Cotta.

No mesmo episódio, a jornalista Glória Maria relata que foi a primeira pessoa no Brasil a usar a Lei Afonso Arinos, que punia o racismo como contravenção e não como crime. No início da década de 80, a apresentadora do ‘Globo Repórter’ apresentou denúncia contra o gerente de um hotel na Zona Sul do Rio de Janeiro, que impediu a sua entrada.  

Foi um momento de muita dor, porque o racismo dói na alma. Quem não é preto, nunca vai entender isso. E eu sabia que aquilo não podia acontecer. Eu não poderia ser discriminada, humilhada, por causa da cor da minha pele. Na época que denunciei com base na Lei Afonso Arinos, esse gerente do hotel foi embora do Brasil, não passou um dia na prisão. Agora, a gente tem como punir”, diz Glória. “Se esse artigo não estivesse na Constituição, não sei o que seria de nós pretos. Acho que estaríamos vivendo como no tempo da escravidão”, complementa.  

A série mostra ainda o caso do professor Juarez Xavier, que foi agredido e xingado de “macaco” quando saía de um mercado em pleno dia 20 de novembro de 2019 – Dia da Consciência Negra. “Nós queremos que seja tipificado como tentativa de homicídio e como racismo para que, de fato, o espírito dos constitucionalistas de 88 seja assegurado com essa compreensão”, ressalta Xavier.

“Eu não tenho sequer uma sombra de dúvida de que o ‘Jornal Nacional’ vai exibir o mais importante produto da história do telejornalismo brasileiro. O conteúdo é oportuno, necessário, esclarecedor. E a realização é de um apuro técnico do mais alto nível”, destaca William Bonner, apresentador do ‘Jornal Nacional’. “A série é um mergulho na trajetória de construção da democracia brasileira, através da Carta Cidadã, de 1988. Mostra as passagens mais marcantes da Constituição e como ela contém os nossos anseios, deveres e desafios como nação”, complementa Renata Vasconcellos, que também apresenta o telejornal.  

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