O conceito de comércio e serviços feitos de negros para negros, amplamente usado por afro-americanos, vem caminhando a passos lentos, mas já tem alguns cases de sucesso aqui no Brasil. A escola de idiomas Ebony English é um deles.
Fundada em 2008 e atualmente com três sócios, a escola surgiu junto com a discussão das cotas nas Universidades e a suposta falta de qualificação de estudantes negros que buscavam inserção no mercado de trabalho.
“ A gente não tinha esse diferencial no Brasil que era ensino do idioma, com cultura negra e a Ebony tem isso, de oferecer um inglês, com a nossa cara”, explica Rodrigo Faustino, sócio e responsável pelo posicionamento estratégico da escola. Inclusive o pioneirismo do projeto abriu muitas portas para empresa fora do Brasil. “Nós temos muito contato com a comunidade negra americana, canadense até de Trinidad e Tobago, que são países que falam inglês, mas também têm uma comunidade negra bem atuante”.
Intercâmbios
A escola começou a investir em intercâmbios, enviando seus alunos para o exterior, mas, sobretudo, para países não tradicionais, fugindo dos destinos mais populares, como EUA e Europa. “Nós mandamos alunos para Nigéria, Gana, Jamaica, África do Sul, Senegal, Namíbia, o que aumentou nosso contato com essas comunidades”. Para Faustino os intercâmbios tornaram a Ebony English algo maior do que uma escola de inglês. “Nos tornamos um centro de integração da diáspora oferecemos inglês não apenas para o mercado de trabalho, ou para a proficiência do mestrado, mas sobretudo, para o empreendedorismo “, finaliza Faustino.
Os negros são a maior parcela da população brasileira: de acordo com dados da PNAD (Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílios), pretos e pardos são quase 53% dos brasileiros. Apesar disso, ainda são muitos os desafios enfrentados pelos afrodescendentes no dia a dia: salários menores, menos oportunidades de estudo e trabalho, desconfiança policial, entre outros. Diante deste quadro controverso, o Sesc Rio de Janeiro aproveita o Mês da Consciência Negra para discutir questões contemporâneas do negro no Brasil e celebrar o legado afrodescendente na cultura nacional com a programação “ÍMÓ: o despertar da consciência”, que reúne artistas e estudiosos em debates e apresentações culturais ao longo do mês de novembro. Entre os destaques, a festa de abertura no dia 10/11 (terça-feira), no Teatro Sesc Ginástico, com Martinho da Vila e homenagens, em evento com entrada franca. E a celebração do Sesc continua com uma extensa programação cultural a preços populares até o dia 25/11, com shows da Orquestra Contemporânea de Olinda, Afrojazz, Abayomi Afrobeat e Rico Dalasan, peças de teatro com o Coletivo de Negras Autoras e a Cia Os Crespos, entre outros.
A abertura do projeto, dia 10/11 (terça-feira), Martinho da Vila se apresenta no Teatro Sesc Ginástico com repertório e formato exclusivos para o Sesc, mesclando músicas do álbum “Origens” (1973) e histórias de sua relação com a África e em especial Angola, país que completa 40 anos de independência no dia seguinte à apresentação. Martinho vai fazer o encerramento da noite que começa com uma performance surpresa envolvendo dança, música, literatura, teatro e arte audiovisual, em que os atores André Lemos, Graciana Valadares, Sol Miranda, Thiago Catarino, Reinaldo Junior e Sergio Ricardo Loureiro; o músico Fábio Simões Soares; e a Iluminação de Allan Imianowsky, dirigidos por Tatiana Tibúrcio, vão apresentar, por meio da arte, as relações entre tradição e contemporaneidade, as apropriações e desdobramentos das diversas heranças culturais formativas do Brasil, e o papel de destaque da cultura afro-brasileira. Nesta noite, diversas personalidades negras de destaque na área de serviços, da música, do teatro, das tradições da cultura popular, e dos saberes das religiões fundamentadas nas relações do conhecimento e da ancestralidade serão homenageadas.
Além da arte, a programação abre espaço também para discussões e reflexões. O “ÍMÓ Seminário”, com mesas e apresentações artísticas no Sesc Flamengo e no Sesc Tijuca, de 11 a 14 de novembro, inclui uma homenagem ao professor, jornalista, escritor e historiador Joel Rufino dos Santos performada por Milton Gonçalves e mesas com temas variados, como herança africana, intolerância religiosa, linguagens artísticas urbanas e cinema, tudo sob a perspectiva da representação e participação d negro. Entre os participantes, o cineasta Luciano Vidigal, a rapper paulista Preta Rara, e variados estudiosos e escritores, como Pablo Dias Fortes e Edlaine de Campos Gomes.
Em toda essa pluralidade de linguagens, o projeto “ÍMÓ – o despertar da consciência” reflete o pensamento institucional do Sesc sobre o tema Consciência Negra e joga luz às discussões que afligem parte significativa da sociedade, em especial no Estado do Rio de Janeiro, um dos estados que recebeu parte significativa de negros escravizados. Negros esses que ajudaram a moldar as cidades e suas economias e forjaram o caráter de nação que hoje tem na miscigenação seu principal valor.
Para saber mais sobre o projeto “ÍMÓ – o despertar da consciência” e a programação completa do Mês da Consciência Negra acesse www.sescrio.org.br.
Serviço:
Abertura ÍMÓ – O Despertar da Consciência
10/11/2015, às 19h
Teatro Sesc Ginástico
Av. Graça Aranha, 187 – Centro. Tel.: 2279-4027
Classificação indicativa: livre
Entrada franca
– Atrações
Ímó mo jubá (“meus respeitos”, em ioruba) – homenagem a personalidades negras
Martinho da Vila, na apresentação inédita “Sem Fronteiras”
ÍMÓ Seminário
A segunda edição do “ÍMÓ Seminário”, que será aberta em 11/11 (quarta-feira), tem como homenageado o professor, jornalista, escritor e historiador Joel Rufino dos Santos, morto em setembro deste ano. Seu legado – a consciência mais expandida a respeito da cultura e herança africana no Brasil, além de dezenas de livros, entre romances, memórias, biografias, artigos, ensaios, obras de história e de sociologia – é o ponto de partida para os debates que acontecem no Sesc Flamengo e no Sesc Tijuca, até o dia 14/11. A abertura será uma celebração a Joel Rufino, comandada pelo ator Milton Gonçalves, e um debate entre os professores Ninfa Parreiras e Pablo Dias Fortes, mediados pela escritora e professora Suzana Vargas. No dia 12/11 (quinta-feira), o tema em discussão é a intolerância religiosa. As professoras Edlaine de Campos Gomes e Giovana Xavier, mediadas pelo jornalista Miguel Conde, discorrem sobre os recentes casos de ódio e agressões de motivação religiosa, em especial contra os cultos de matriz africana, e a importância de se garantir a liberdade religiosa em um estado laico. A noite ainda terá uma apresentação musical com o cantor, compositor e violonista Claudio Jorge, integrante da ala dos compositores da Vila Isabel e do músico, pesquisador e também violonista Luis Filipe de Lima.
A programação de debates continua no Sesc Tijuca, nos dias 13 e 14 novembro (sexta-feira e sábado), com discussões sobre os diferentes fazeres artísticos de influência negra, sobre o negro e pelos negros. No dia 13/11 (sexta-feira), os paulistas Preta Rara e Rico Dalasan, e o carioca Vinícius Terra, todos rappers, que vão falar sobre as experiências com a música de contestação e a representação dos jovens na estética da cultura urbana atual. No dia 14/11 (sábado), o cinema é o objeto de discussão entre os diretores André Novais Oliveira e Luciano Vidigal, mediados pela jornalista Ana Claudia Souza. Em pauta, a representação do negro no cinema contemporâneo, no que diz respeito à verossimilhança da ficção com relação à realidade.
Serviço:
– Sesc Flamengo: Rua Marquês de Abrantes, 99, Flamengo.
Classificação indicativa: livre
Entrada franca
11/11 (quarta-feira), 19h: Homenagem a Joel Rufino dos Santos com Milton Gonçalves
Encontro com Ninfa Parreiras e Pablo Dias Fortes (mediação: Susana Vargas)
12/11 (quinta-feira), 19h: Intolerância religiosa no Brasil: conflitos e negociações
Encontro com Edlaine de Campos Gomes e Giovana Xavier (mediação: Miguel Conde)
Apresentação musical: Claudio Jorge (voz e violão de 6 cordas) e Luis Filipe de Lima (violão de 7 cordas)
– Sesc Tijuca (biblioteca): R. Barão de Mesquita, 539.
Classificação indicativa: livre
Entrada franca
13/11 (sexta-feira), 19h: Hip Hop: os Griôs urbanos
Debatedores: Preta Rara e Rico Dalasam (mediação: Vinicius Terra)
14/11 (sábado), 16h: O retrato do negro no cinema contemporâneo
Debatedores: Luciano Vidigal e André Novais Oliveira (mediação: Ana Claudia Souza)
Teatro Sesc Ginástico – apresentações artísticas
De 11 a 25/11, o Teatro Sesc Ginástico recebe diferentes linguagens artísticas com uma coisa em comum: a dualidade entre ancestralidade e contemporaneidade no fazer artístico afrodescendente no Brasil. Sempre às 19h, com ingressos entre R$ 3 (associados Sesc) e R$ 10. Música, literatura e teatro formam o panorama da produção de artistas negros e sobre os negros.
Abordando os reflexos da escravidão no Brasil e a luta contra o racismo a Cia Banquete Cultural apresenta o espetáculo “Áurea, a Lei da Velha Senhora” na Sede Cia Banquete Cultural, até io dia 13 de dezembro.
A trama, dirigida por Jean Mendonça se passa nos dias atuais, em um casarão abandonado, que em tempos passados abrigou uma família de posses e seus escravos. Curiosamente, nesse lugar a escravidão ainda não foi abolida e os negros vivem em condições precárias sob a dominação de sua Velha Senhora Áurea. Até que surge Senhorinha, uma jovem justiceira que descobre o casarão e resolve lutar pela liberdade dos negros e pela abolição da Lei da Velha Senhora.
“O espetáculo confronta o espectador com essa realidade que muitos preferem ignorar. O fim do preconceito racial passa não só pelo reconhecimento da existência do racismo, mas principalmente pela compreensão da contribuição do negro para a identidade cultural brasileira”, afirma Jean.
Complementando a encenação teatral, será exibido o curta-metragem “Negrinho” da Cia Banquete Cultural, que mostra a vida de um menino negro de cinco anos em uma pequena casa numa comunidade quilombola com sua mãe e sua bisavó no interior brasileiro. Negrinho é um filósofo contemporâneo, que questiona a diferença de cor e desbrava um mundo ainda regido pelo preconceito, mesmo que velado.
Serviço
Áurea, a Lei da Velha Senhora Temporada completa: Até o dia 13 de dezembro, quinta a sábado, às 19h e domingo às 18h Local: Cia Banquete Cultural (Rua da Lapa, 243, Lapa, Rio de Janeiro/RJ – perto do metrô da Glória) Duração: 120 minutos Classificação etária: 18 anos Lotação máxima: 80 lugares Entrada: R$20 (inteira) e R$10 (meia) Reservas e informações:contato@banquetecultural.com ou (21)96918-8999
Programação paralela gratuita aos domingos às 15h na sede da Cia Banquete Cultural (rua da Lapa 243 Lapa Rio de Janeiro/RJ – próximo ao metrô da Glória):
15/11 – Aula prática de Capoeira Angola com André Sampaio
22/11 – Aula prática de Afro contemporâneo com Evandro Passos
29/11 – Debate sobre o curta “Negrinho” com Thaís Inácio
06/12 – Aula prática de Afro contemporâneo com Evandro Passos
13/12 – Debate sobre identidade afro-brasileira com Evandro Passos e Jean Mendonça
O termo inclusão parece fazer mais sentido, quando falamos de inserção de minorias em espaços ocupados pela maioria, o que parece no mínimo problemático, na perspectiva da população negra, que apesar de ser a maioria no Brasil, compõe a menor parte do quadro de funcionários das grandes empresas. Como diz Hélio Santos, em algumas organizações, nem a mulher do cafezinho é negra.
A prefeitura de São Paulo tem se movimentado no sentido de valorizar a diversidade internamente por meio Lei de Cotas (15.939/13), que destina 20% das vagas em concursos públicos para a população negra. Outro passo importante é portal São Paulo Diverso, desenvolvido em parceria entre Prefeitura, Microsoft e Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e que oferece informações e ferramentas virtuais para aproximar trabalhadores afrodescendentes e empresas que possuem programas afirmativos.
Fórum São Paulo Diverso
“Uma cidade que tem quase 50% de sua população afrodescendente, tinha que fazer um gesto como este. Temos uma grande oportunidade de fazer a diferença”. Essa fala faz parte do discurso do prefeito de São Paulo Fernando Haddad, durante a abertura do 2º Fórum São Paulo Diverso, que aconteceu no dia 5 de novembro, no Auditório Elis Regina (Anhembi).
Também estiveram presentes o Secretário Nacional de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, Ronaldo Barros, da Assessora Principal na Divisão de Gênero e Diversidade do BID, Judith Morrison e do Presidente do Instituto Ethos, Jorge Abrahão. “É uma ação que está sendo referência na América Latina e no mundo, porque é a uma parceria público-privada pela inclusão e combate às desigualdades. Hoje, vamos trocar informações e ver como podemos avançar ainda mais”, disse o anfitrião e Secretário Municipal de Promoção da Igualdade Racial, Maurício Pestana.
O 2º. Fórum São Paulo Diverso foi composto por seis painéis que abordaram questões referentes ao desenvolvimento econômico inclusivo, com foco em soluções para melhorar o acesso da população afrodescendente às oportunidades já existentes no mercado de trabalho e dos negócios; e no incentivo à criação de políticas inclusivas no ambiente corporativo. Temas como legislação, educação, tecnologia e empreendedorismo estiveram em pauta.
Estiveram presentes líderes de grandes empresas, entre eles o Presidente da Bayer no Brasil, Theo Van Der Loo; o Vice-presidente da Microsoft Brasil, Rodney Willians e a Diretora de Cidadania Corporativa da IBM, Alcely Barroso, Paulo Pianez, Diretor de Sustentabilidade do Carrefour, Judith Morrison do BID e o Presidente do Instituto Ethos.
Aplicativo para empregar jovens negros
Um concurso realizando pela Microsoft e Faculdade Anhanguera (Vila Mariana) premiou equipes de estudantes que desenvolveram projetos e modelos de aplicativos para aumentar o número de jovens negros no mercado de trabalho, em uma maratona de 30 horas. Eles receberam o prêmio Prêmio Hackathon da Igualdade Racial, placas, medalhas além do convite para visitar a Microsoft.
Por Durval Arantes – Autor do livro “O último Negro”
Antônio Gonçalves Teixeira de Sousa, Cabo Frio (28 de Março de 1812 — Rio de Janeiro, 1 de dezembro de 1861), foi um escritor, romancista, poeta e dramaturgo afro-brasileiro. Ele é o autor de um dos primeiros romances literários do Brasil, a obra entitulada “O filho do pescador”.
Era filho do comerciante português, Manuel Gonçalves, e de uma mulher afro-brasileira, Ana Teixeira de Jesus. Em razão da situação precária da família abandonou os estudos e passou a trabalhar em uma carpintaria. Em sua cidade natal, tinha como mestre o cirurgião, professor e poeta Inácio Cardoso da Silva. Mudou-se para o Rio de Janeiro em 1825. Acometido pela tuberculose, retorna a Cabo Frio em 1830 e escreve a sua primeira tragédia, “Cornélia”, que seria publicada apenas em 1840.
Por volta dos vinte anos de idade retomou os estudos em passou a aperfeiçoar o seu dom da escrita. Em 1832 muda-se mais uma vez para o Rio de Janeiro, onde passa a trabalhar na tipografia de Francisco de Paula Brito, um dos pioneiros do ofício de edição de livros no Brasil.
Dessa parceria, nasce a edição do romance “O Filho do Pescador”, em 1843, volume tido nos meios literários brasileiros como a primeira obra do gênero escrita por um autor nascido no Brasil.
Outros trabalhos de Teixeira e Sousa incluem: os livros de poesia “Cantos Líricos I”, em 1841 e “Cantos Líricos II”, em 1842, “Os Três Dias de um Noivado”, em 1844, e “A Independência do Brasil”, em 1847.
Foi também professor público primário, ao mesmo tempo em que consolidava a parceria editorial com Paula Brito.
Publicou também o romance “A Providência”, e a tragédia “O Cavaleiro Teutônico” e “A Freira de Marienburg”, em 1854. Em 1856 publica um outro romance, “As Fatalidades de Dois”.
“A Menina Roubada” foi o seu último trabalho literário.
Fragilizado pela tuberculose, Antônio Gonçalves Teixeira de Sousa vem a falecer em 1861, na cidade do Rio de Janeiro, aos 49 anos.
Morgan Freeman falou, naquela entrevista editada (de 2009) que a questão do racismo era simplesmente pararmos de nos tratar por bancos ou negros e sim por quem somos, pessoas, cada uma com sua identidade. O vídeo – editado tendenciosamente – é amplamente usado para desqualificar a mobilização pela consciência negra… NO BRASIL! Sim, eles se valem de um bem sucedido ator da indústria cinematográfica de Hollywood pra deslegitimar nossa luta por aqui em Terra Brasilis.
https://www.youtube.com/watch?v=Cp4WVtdUrH8
Por Fernando Sagatiba*
Como funciona? Bem, primeiro, há essa visão decorada de que o negro é paranóico e vê racismo em tudo. Não, não é. É que quem usa essa desculpa não vive o racismo pelo ponto de vista do negro. Muito fácil é pra quem não convive com tentativas de inferiorização por causa da cor da pele, cabelos, narizes, lábios, religião, música, enfim, tudo relacionado à identidade e herança negra no Brasil. Assim, tenta dar crédito a esse racismo velado usando a “sensatez” de um ator famoso e negro. O que seria mais valioso pra desmerecer a luta por respeito igualitário ao negro do que um negro dizer que isso tudo seria uma tremenda besteira, não é verdade?
Então, de onde veio essa história?
A entrevista fala sobre o Mês da História Negra, dos EUA. Vou te explicar a diferença rapidamente. O tal mês, que é fevereiro por lá, é designado para homenagear figuras importantes na luta contra a escravidão e o racismo, o que justifica, e muito, a aversão de Freeman à institucionalização do referido mês. Como ele mesmo fala, a história do negro nos EUA é a própria história do país. História é algo que se constrói de forma coletiva, realidades sobrepostas, logo, mais do que certo não querer um mês só pra se falar em negros e o resto do ano da cultura ‘geral’. Isso é segregar. Mas, veja bem, no Brasil, a coisa muda um pouco.
Aqui, onde técnico de futebol é chamado de professor e professor é chamado de vândalo, existe o dia da Consciência Negra (20 de novembro, como sabem), ou seja, não é um momento de recostar a participação do negro na história numa determinada data, é um passo ainda anterior. Pelo menos, eu vejo assim. Quem me dera ter pelo menos um, UM mês pra que se reconhecesse a participação – enorme e abrangente – do negro na construção desse país (um mês só pra começar). Mas não, o negro no Brasil não é reconhecido como um participante, mas como um hóspede. Veja nos livros, onde estão as inúmeras revoltas quilombolas, os abolicionistas do alto escalão da sociedade… O negro – entre outros grupos – foi empurrado para o canto e a história contada de forma meramente pontual e cronológica. Sem explicar a maldade do europeu escravizador nem a resistência do oprimido africano/brasileiro.
Então, aqui, nós temos um dia de meditação, ação e reação sobre como inserir cada vez mais o negro na sociedade, como trazer para uma situação de igualdade contra esse sistema reacionário e as classes que o defendem como a uma norma da divina natureza, que teria determinado o lugar do negro. Lá, é um mês que simboliza a história, aqui é uma data que simboliza uma luta. Quem sabe, através da consciência negra, consigamos o reconhecimento de nossa contribuição histórica. Mas, notem, antes de se lembrar da história, é preciso ter consciência dela, percebe?
Assumir a identidade negra é apenas uma questão de conscientização, como simboliza o dia 20 de novembro, mas que precisa ser feita ao ano todo e em todas as camadas da sociedade (veja meus textos internetEs afora), não é uma tentativa de tomar o poder da classe dominante, mas de condições igualitárias de êxito social. É como o feminismo, por causa do nome, acaba sofrendo o preconceito, já que o regime dominante – machismo – se sente ameaçado, mas é apenas por respeito. No fim das contas, uma das maiores dificuldades é justamente esses difamadores que se alimentam da confusão da maioria que não se preocupa em se informar, ou não quer, por imaginar o que vai encontrar.
Enfim, o racismo é como uma fratura exposta, não adianta só encobrir e esperar que suma e seja esquecido, também não adianta reagir às colocações de Morgan Freeman, pois, ele não falou do Brasil, como muitos compartilham no Facebook, por exemplo, não é sobre a situação do negro brasileiro que ele comentou na entrevista. Lá, a abordagem é histórica, já há esse reconhecimento, o que ele não gosta é que se separe isso da história geral, e está certíssimo. Já aqui, o racismo é silencioso, cínico, naturalizado, então precisamos sim de um dia da Consciência Negra, assim como é válido o dia internacional da mulher, paradas de orgulho LGBT e outras datas afirmativas.
Não podemos é deixar que tudo se torne apenas uma festa, uma comemoração, pois não temos muito o que comemorar. Seria como dar uma festa pelo fim da escravidão… mas onde? Na senzala? Na favela? Precisamos é repensar esses conceitos de levar tudo na farra, pois, isso não é ser feliz, é ser conformado. Como diria Frejat ‘rir de tudo é desespero’. Veja o que se tornou o 1º de Maio, um feriado aguardado, mas que já se tornou festividade. Vamos combater essa visão reacionária de que o 20 de novembro é uma tentativa negra de tomar o poder do branco, pois, nunca estivemos perto de ser a classe opressora. Apenas exigimos a tal igualdade que a Constituição Federal nos garante e que nunca nos foi concedida, então lutamos por isso. Zumbi nos representa e não Isabel (a heroína, que assinou a lei divina).
Aliás, Isabel assinou um papel (rima involuntária) que oficializou algo que já vinha sendo pressionado a acontecer por abolicionistas em altas classes da sociedade, negros revoltos e quilombolas com apoio de parte da população e, claro, a Inglaterra. Assim, o 13 de maio só foi uma troca de regime econômico e sistema governamental, não deu ao negro nada. Precisamos pensar de forma ativa, mais Valeu, Zumbi do que Liberdade, Liberdade, pois a luta tem maior representatividade pela exigência por respeito e nossos direitos sociais do que por uma comemoração ‘pra Inglês ver’ que só agrada à elite, mas nos deixa ‘no nosso lugar’ até… Até quando? Vamos chegando, minha gente, a casa é nossa também.
* Fernando Sagatiba é jornalista, músico, colunista do site Mundo Negro e ainda comanda o blog Divagar é preciso
O respeitado compositor e cantor Mombaça, escreveu e interpretou com diversas celebridades, entre eles Zezé Mota, Gilberto Girl e Camila Pitanga a canção “Vem vencer”, que fala sobre a igualdade racial visando combater o racismo no futebol durante a Copa do Mundo no Brasil, em 2014.
Por Silvia Nascimento
Tamanho engajamento de artistas de relevância nacional e internacional como Elza Sores e Chico Buarque, não só interpretando a canção, mas participando do clipe, motivou Mombaça a ir além criando o “Movimento Cultural Artístico Vem Vencer Contra o Racismo”.
Ivan Lins, Elza Soares, Quitéria Chagas, Martinho da VIla, o secretário municipal de cultura Marcelo Calero, a jornalista Luciana Barreto, a jogadora de volei Fofão, Nei Lopes, a diva beninense Angelique Kidjo e muitos outros nomes decidiram aderir ao movimento, que também conta com o apoio das Secretarias Municipal e Estadual de Cultura do Rio de Janeiro, FUNARTE e líderes religiosos como Frei David também estão presente neste desafio.
O grupo, liderado por Mobamça organiza o Sarau Preto Especial há quase dois anos no Rio de Janeira e se organiza para realizar a “1ª Jornada Mundial Contra o Racismo Vem Vencer”. De acordo com o compositor esse novo e ambicioso projeto “Surgiu da necessidade de dar maior visibilidade à produção intelectual e artística dos afro-brasileiros de maneira simples, elegante e orgânica.”
A Jornada consiste em corrida, caminhada e passeio ciclístico, além de palestras, seminários, oficinas, feira e moda-afro, shows e entrega do” Troféu Vem vencer de arte e cultura negra” . O plano é que o projeto se inicie em 2015 até o final dos jogos olímpicos 2016, na cidade do Rio de Janeiro, em locais e horários a serem definidos.
Todas as pessoas engajadas no projeto participam de forma colaborativa. Muitos abriram suas casas, seus estúdios e até mesmo o campo de futebol, como Chico Buarque, ou seu escritório, como o medalhista olímpico Robson Caetano, que cede o seu espaço de trabalho para as reuniões do projeto.
Mais informações podem ser obtidas no site do projeto http://www.jornadamundialvemvencer.com/
Depois de ficar em exibição no Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM-BA), em Salvador, por 3 meses, com sucesso de público, “As Aventuras de Pierre Verger” ficará em São Paulo de 1 de outubro a 30 de dezembro no Museu Afro Brasil em parceria com a fundação Pierre Verger.
Por Marília Gonçalves – Redatora do site Mundo Negro
Foto: Fundação Pierre Verger
A mostra que reúne cerca de 270 imagens registradas pelo francês Pierre Verger em suas viagens pelo mundo, foi idealizada para que as obras do etnólogo e babalaô também sejam apreciadas pelo público infato-juvenil. E, além de destacar o cruzamento da fotografia com vídeos, tecidos artesanais e artes sequenciais (quadrinhos), marca a finalização do projeto Memórias de Pierre Verger e explora o paralelo entre a obra do artista e As Aventuras de Tintim, histórias em quadrinhos editadas entre 1929 e 1983.
“As Aventuras de Pierre Verger” está dividida em nove módulos: Paris, Viagens, Polinésia, Saara, China, Peru, África, Projeto e Educativo. São mais de 200 imagens expostas ao longo do circuito e outras 50 que integram os vídeos que compõem a exposição do acervo da Fundação Pierre Verger, uma das mais completas realizadas pela instituição criada pelo próprio fotógrafo que registrava expressões culturais e o cotidiano de diversos povos.
SERVIÇO: EXPOSIÇÃO “As aventuras de Pierre Verger”
Abertura: 01/10/15 às 19h
Encerramento : 30/12/15
Museu Afro Brasil Av. Pedro Álvares Cabral, s/n
Parque Ibirapuera – Portão 10
São Paulo / SP – 04094 050
Fone: 55 11 3320-8900 www.museuafrobrasil.org.br
A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) homenageou na noite da última terça-feira (3) Luiz Gonzaga de Pinto Gama, reconhecendo-o como advogado. “Há 133 anos, faleceu Luiz Gama e, após esse período, temos a oportunidade de reescrever a história. Ao apóstolo negro da Abolição, pelos seus relevantes serviços prestados junto aos tribunais na libertação dos escravos, a OAB Nacional e a OAB de São Paulo concedem [a Luiz Gama] o título de advogado”, disse o presidente da OAB, Marcus Vinicius Furtado Coelho, em cerimônia na Universidade Presbiteriana Mackenzie, em São Paulo.
O baiano Luiz Gama nasceu em 1830, filho de um português com Luiza Mahin, negra livre que participou de insurreições de escravos. Gama foi para o Rio de Janeiro aos 10 anos após ser vendido pelo pai para pagar uma dívida. Sete anos depois, ele conseguiu a libertação e se transformou em um dos maiores líderes abolicionistas. Em 1869, ao lado de Rui Barbosa, fundou o jornal Radical Paulistano.
Em 1850, Gama tentou frequentar o curso da Faculdade de Direito do Largo do São Francisco, hoje da Universidade de São Paulo (USP), mas foi impedido por ser negro. Ele frequentou as aulas como ouvinte e o conhecimento adquirido permitiu que ele atuasse na defesa jurídica de negros escravos.
Seu tataraneto, Benemar França, 68 anos, recebeu a homenagem em nome de Luiz Gama. “Trata-se de uma reparação histórica e do reconhecimento da sua atuação jurídica para a qual foi proibido de se graduar. Trata-se de uma justíssima homenagem a quem tanto lutou pela liberdade, igualdade e respeito”, disse o presidente da OAB.
O professor da Faculdade de Direito da Universidade Presbiteriana Mackenzie e presidente do Instituto Luiz Gama, Silvio Luiz de Almeida, disse que a homenagem é inédita “para alguém que recebe o título de advogado pós-morte não sendo formado em direito”.
“Luiz Gama não é apenas importante para a história da comunidade negra brasileira, é, também, para que entendamos dois movimentos fundamentais para a formação social brasileira e entender para onde caminha o país. Ele está ligado tanto ao movimento abolicionista, ou seja, a luta contra a escravidão, como à formação da República”, explicou o professor. “Neste momento, resgatar a figura de Luiz Gama, é resgatar também a esperança na construção de um país melhor, de um mundo mais justo e também da luta antirracista”, acrescentou.
Para seu tataraneto, a homenagem “é um resgate ao trabalho que Luiz Gama fez na sua luta para libertar escravos”. Ele disse que seu tataravô estudou por conta própria em bibliotecas. Apesar de ser rejeitado pela Faculdade de Direito, segundo Benemar, Luiz Gama “conseguiu ser rábula, ou seja, tinha um documento que o liberava para trabalhar como advogado, só que sem diploma”. Nessa condição, ele libertou mais de 500 escravos, afirmou.
“Alimento de pássaro engaiolado”, essa é uma das definições que o cantor, ator, poeta, vlogger e modelo Jairo Matos usa para definir um dos seus mais sensíveis projetos. “O Alpiste de Gente”, um canal que fala de afetividade, opressão, normas e padrões estabelecidos, mas de forma poética.
Por Silvia Nascimento
Enquanto o “Diário Preto”, primeiro canal de Matos, um dos vocalistas da Banda Aláfia, era mais combativo e agressivo, o novo projeto usa o jogo das palavras para levar a reflexão de temas pertinentes à sociedade atual. “ A poesia é eficaz e abre caminhos da mente e no coração das pessoas”, defende Matos.
O projeto começou este ano, com postagens no Facebook e tem mais de 40 poesias postadas, que também podem ser vista no canal do Youtube. “Falamos do empoderamento de mulheres negras, do cabelo, da questão homo-afetiva, do sorriso, da ausência do sorriso, mas sempre dentro de uma lógica provida de sentimento e de um amor, que eu mesmo busco, que está pautado no amor universal, não em lados”.
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No Centro Cultura São Paulo, foram feitos alguns encontros com leituras das poesias, evento que dura em média uma hora. “Eu coloco uma cadeira, leio as poesias e levo as pessoas a participarem, se abraçarem, gritar, chorar e se reconectar a uma sensibilidade que nos é tirada, não importa a sua cor.”
Foto: Mariana Ser
A mudança de postura de Jairo Matos, que antes antes mais combativa e como ele mesmo diz, inspirada em discursos de Malcom X que em alguns momentos defendia a luta armada, foi para melhor. Ele sabe que ainda milita, mas de forma diferente e que o faz sentir melhor consigo mesmo. “Eu adoro o rumo que o Alpiste está tomando, não falamos da questão do preto somente, não temos cor, mas temos voz”, finaliza o poeta.