Naomi Osaka acaba de se tornar a atleta mais bem paga na história, segundo a Forbes. Naomi, de apenas 22 anos, faturou US $ 37,4 milhões (mais de R$ 200 milhões) nos últimos 12 meses com prêmios.
Com esse número, Osaka estabeleceu um recorde de todos os tempos para o que uma atleta feminina ganhou em um único ano. Maria Sharapova anteriormente detinha o recorde quando faturou US $ 29,7 milhões em 2015.
A Forbes também relata que é a primeira vez desde 2016 que duas mulheres estão entre os atletas mais bem pagas. Em 2 de setembro de 2018, Osaka venceu Serena Williams em uma emocionante final feminina nos Estados Unidos. Em seu Instagram a atleta, chama carinhosamente Williams de “minha mãe”.
Naomi Osaka começou a jogar tênis aos 3 anos de idade. Ela cresceu nos Estados Unidos, mas tem cidadania japonesa e representa o Japão na quadra, a mãe é do Japão, o pai do Haiti. Ela foi a primeira jogadora japonesa a ganhar um título de Grand Slam e se tornou a primeira tenista asiática a ocupar a primeira posição no mundo.
O continente africano é repleto de cultura que, por vezes, desconhecemos. Pensando nisso, o sociólogo, cientista social, pesquisador e escritor Rhuann Fernandes escreveu o livro* “Casamento tradicional Bantu: o Lobolo no sul de Moçambique”, o primeiro livro com essa temática no Brasil. O jovem de 23 anos é original da cidade de São Gonçalo, situada na região metropolitana do Rio de Janeiro. De origem humilde, veio do bairro periférico Jardim Catarina e lá fundou a Organização Comunitária “Nós Por Nós”, voltado para a desigualdade social e educação. Rhuann se formou em Ciências Sociais pela UERJ com ênfase em sociologia e cursa o mestrado em Ciências Sociais da mesma universidade estadual.
Entrevistamos o sociólogo para entender melhor sobre a escolha de Moçambique como intercâmbio, seu TCC e o ritual do casamento Bantu, o lobolo e falarmos sobre o livro. Confira!
“Fui afetado pela riqueza de signos presentes nesta cerimônia”
MUNDO NEGRO: Ao escolher seu intercâmbio, por que fugiu do padrão europeu – estadunidense?
RHUANN FERNANDES: Bem, confesso que a escolha por Moçambique foi um ato político, uma vez que tive a oportunidade de optar por países europeus, uma tendência comum quando se resolve estudar fora. Entretanto, havia uma necessidade afetiva de confrontar as escolhas comuns pelas epistemologias do Norte, de um conhecimento produzido na Europa, nos EUA e no Canadá e reproduzido por autores do Sul. O fato de ser um estudante negro profundamente influenciado pela cultura africana e afro-brasileira também me orientou na decisão.
Como há alguns anos o movimento negro vem evidenciando: nós vivemos uma violência de natureza epistemológica profunda. Justamente por esse aspecto, resolvi escutar outras vozes. Afinal, há diferentes maneiras de produzir conhecimento que podem ser encontradas longe das universidades europeias, canadenses ou estadunidenses, o que chamo de mundo euroamericano.
MUNDO NEGRO: Por que Moçambique?
RHUANN FERNANDES: Tive a oportunidade de submeter candidatura para dois países africanos: Moçambique e Angola. Neles, havia instituições que a UERJ era parceira. Tive contato com muitas pessoas pretas que haviam realizado intercâmbio em Moçambique, (…) a conversa com elas foi preponderante para minha decisão. Além disso, economicamente Moçambique estava mais barato que Angola. Então, esses entre outros fatores contribuíram para minha decisão. É importante salientar: no dia 28 de agosto de 2018, embarquei para Maputo, em Moçambique, com o propósito de realizar um intercâmbio de graduação na Universidade Pedagógica (UP) por meio da Diretoria de Cooperação Internacional da UERJ (DCI), durante sete meses. Antes de sair do país, meu objetivo estava traçado: cursar disciplinas que pudessem expandir meu arcabouço teórico sobre uma pesquisa para monografia que estava realizando desde o terceiro período da graduação, intitulada “Contribuições da teoria pós-colonial para o campo sociológico”. Além disso, meus interesses estavam concentrados em áreas como filosofia africana e sociologia africana. Ou seja, não esperava ou não fui com intenções de investigar o casamento bantu. Por isso, costumo dizer que a minha pesquisa, sem arrogância, foi um sucesso. Essa é a magia das ciências sociais: deixar que uma cultura diferente da sua te afete e que isso, em alguma medida, te provoque reflexões profundas em paralelo com a bagagem intelectual e com sua trajetória.
MUNDO NEGRO: Desfrutando da experiência de Moçambique o que o motivou a escolher o ritual Lobolo? Como ouviu falar dele?
RHUANN FERNANDES: Bem, em Moçambique, tive muitos conflitos raciais com brancos brasileiros. Fiquei muito incomodado pela maneira a qual eles observavam os costumes tradicionais, eram muito etnocêntricos, demonstravam um ar de superioridade e pouco se relacionavam com os moçambicanos. Mas algumas dessas pessoas falavam negativamente do lobolo, interpretando-o a partir de teorias eurocêntricas, extremamente localizadas, sem considerar o contexto histórico, cultural e político do país, como por exemplo, o feminismo, como algumas das mulheres brancas que tive contato intitulavam-se. Dessas implicações e conflitos surgiu minha curiosidade, mas não o desejo de investigar o casamento entre as pessoas do Sul do país.
Uma semana após chegar à instituição, encontrei duas amigas brasileiras (negras) que estavam indo à secretaria de humanidades e pedi orientações. Por sorte, elas disseram que deveria pegar uma disciplina que havia descartado: Antropologia Cultural de Moçambique. A disciplina na qual não iria me inscrever foi a que mais me chamou atenção e a que me fez mudar o tema da monografia.
O tema das primeiras aulas versou sobre as relações de parentesco no Sul de Moçambique, caracterizado pela patrilinearidade. Na quarta aula, tive contato com o tema do casamento bantu no sul de Moçambique, conhecido como lobolo. Nesse momento, fui afetado pela riqueza de signos presentes nesta cerimônia. Pude compreender as razões pelas quais a antropologia desenvolvida no Sul de Moçambique e os principais debates teóricos giravam em torno desse casamento. O mais interessante foi o fato de o professor, durante quase dois meses, discutir as distintas interpretações desse fenômeno na história do país. À medida que frequentava a disciplina e debatia os textos, tornava-me cada vez mais próximo do tema. Então, decidi selecioná-lo para discussão em minha monografia, efetuando uma troca. Na realidade, correlacionei os dois temas e julguei que iria discutir o “lobolo pós-colonial”.
MUNDO NEGRO: Você teve contato direto com o ritual?
RHUANN FERNANDES: Sim, acredito que esta é a parte mais importante do meu trabalho. O meu trabalho de campo foi muito conflitante, sobretudo pelo fato das cerimônias que participei serem realizadas na língua changana (uma das línguas locais que resistiu ao avanço do colonialismo). Minha primeira oportunidade de trabalho de campo apareceu quase dois meses após minha chegada a Moçambique. Nessa primeira experiência, pude ver como os atores sociais no contexto urbano mobilizam aspectos da religião tradicional africana, do cristianismo e do islamismo em seus discursos para conversar com os mortos por intermédio do lobolo, inclusive com objetivo de evitar acontecimentos indesejáveis no futuro. Por outro lado, observei as negociações entre os noivos e as famílias que ocasionaram mudanças significativas em algumas etapas da cerimônia, o que me gerou impasses, mas, ao mesmo tempo, mostrou-me evidências de continuidades e descontinuidades do ritual que só foram compreendidas após o intenso contato e sucessivas conversas com o casal e seus familiares.
Depois do casamento, lembro-me que regressei à residência da universidade e lá encontrei com Abel Henriques, um companheiro moçambicano. Ele disse estar feliz por mim, mas que eu não conheceria o lobolo enquanto não frequentasse o “Moçambique Real”, pois apenas nesse contexto conseguiria observar a natureza do matrimônio tradicional. Para ele, eu deveria sair do meio urbano, pois a maioria dos pesquisadores ocidentais realizam suas pesquisas apenas em Maputo, capital do país. Entretanto, era difícil verificar investigações no interior ou zonas rurais, onde se concentrava a maior parte da população.
Articulei minhas dúvidas e apresentei para meu professor orientador Miambo. De imediato, fitou-me e exclamou: “É, você tem um interlocutor, ele disse que você precisa sentir esta experiência, então, tente vivê-la”. A bela ironia do destino trouxe, por meio de Abel, um convite para um lobolo de seus tios Candido Afonso Tune e Fátima Tune, em Madendere, no interior da província de Gaza.
Ao realizar essa viagem, deparei-me com uma situação contrária à que esperava. Não se tratava de um lobolo, mas sim do cumprimento de duas etapas “pendentes” após dez anos de sua realização: um casamento civil e um casamento canônico numa igreja cristã. Por outro lado, fui paciente e aguardei meu encontro com essas circunstâncias que o campo ofereceu. Foi nesse contexto que pude conhecer com mais profundidade, a partir dos meus interlocutores, a espiritualidade e a função dos vanyamusoro (curandeiros) no lobolo; tomar conhecimento de outros rituais de povos bantu, bem como a relação de sincretismo que perpassou a história de Moçambique antes mesmo da colonização. Além de ser incitado pelo discurso de meus interlocutores com relação à dicotomia rural versus urbano.
Desta maneira, refleti sobre os vínculos espirituais no contexto rural e as situações urbanas por intermédio da rede de contatos na qual fui inserido, bem como as distintas percepções de líderes religiosos sobre o lobolo. Notei também a importância que davam a concretizar, antes de tudo, o lobolo para, posteriormente, englobar outras formas de casamento em respeito aos ancestrais.
Ritual lobolo
MUNDO NEGRO: Como o ritual é realizado?
RHUANN FERNANDES: Bem, em resumo, trata-se de um casamento costumeiro e recorrente, em que a prática fundamental consiste em dar bens à família da noiva para realizar uma união reconhecida entre os parentes do noivo e os da noiva, num processo que pode demorar anos. Procura-se, por intermédio do lobolo, uma harmonia social: a comunicação entre os vivos e os seus antepassados, na qual é estabelecida uma garantia material do vínculo espiritual.
Apesar das modificações atribuídas ao lobolo durante a sua prática, há algumas fases básicas tradicionais para sua realização, em síntese: a primeira etapa está associada à intenção do noivo estabelecer um vínculo com a mulher desejada, para tal, parentes e amigos próximos aparecem na casa da mulher num encontro denominado hikombela-mati (pedir água). Neste caso, seus representantes levam alguns presentes específicos e abrem o diálogo para futura cerimônia de lobolo, identificando a mulher designada pelo noivo. Este encontro estabelece o primeiro laço com a mulher e familiares dela por parte do noivo e de sua família, e os presentes servem como mão de entrada. Nesta ocasião, os familiares da noiva aproveitam para entregar a lista de exigências (carta de lobolo) para realização da cerimônia. Após alguns meses ou anos, dependendo da capacidade do noivo para adquirir os presentes, o lobolo é realizado.
Em geral, bem antes da cerimônia de lobolo ocorre o kuphalha, um culto realizado para os antepassados, para sua invocação e, posteriormente, o diálogo com os mesmos para que o lobolo ocorra bem. Durante o lobolo, de acordo com os pedidos, os parentes do noivo atribuem presentes à família da noiva e as negociações entre eles se iniciam. Todos os itens são verificados, além de situações lúdicas que são criadas. O noivo fica ausente neste momento. E a noiva, apesar de não estar presente nas negociações iniciais, por outro lado, é chamada para avaliar os presentes e ouvir o pedido de casamento. Após o lobolo, o noivo se torna mukon’wana (genro) e, por fim, há o último processo: xigiyane, em que os pertences da noiva são levados por seus familiares para sua casa nova.
Cerimonia de casamento lobolo
MUNDO NEGRO: Qual o grande diferencial do ritual Lobolo para os casamentos que costumamos assistir?
RHUANN FERNANDES: Esta é uma ótima pergunta. Bem, como descrito acima, a questão principal do lobolo é a espiritualidade e os laços de parentesco, caracterizado pela patrilinearidade. Então, diria que a diferença central é a característica espiritual. O lobolo representa hoje modos de solidariedade que contestam o puro liberalismo capitalista. Para além de cerimônia nupcial com distribuição de dinheiro e presentes, o lobolo aparece aqui como uma potente afirmação de outros modos de viver a economia. É uma continuidade de uma tradição que prova que toda troca econômica é um ato moral.
Em minhas experiências, percebi que o lobolo pode ser compreendido como um rito que une conjugalmente um homem e uma mulher e que os conecta a uma comunidade de vivos e uma construção histórica feita pelos antepassados que é respeitada no ato da cerimônia. A instituição dos laços e conexões entre os vivos e os mortos faz com que a prática continue sendo efetuada. No sul de Moçambique, esse rito consagra diretamente o matrimônio, sendo substancialmente mais importante que casamentos de outra ordem. A transcendentalidade do lobolo sobre o amor é algo assumido, evidenciando a relação com o mundo dos antepassados do noivo e da noiva, em um contato direto entre vivos e mortos. A harmonia social entre noivos e famílias ocorre por meio da ligação com os espíritos antepassados e com o cumprimento de suas exigências. Se tudo ocorre de acordo esses vínculos e exigências, haverá bênçãos e garantia de prosperidade à nova família que se formou.
Ou seja, o lobolo transcende o amor, uma vez que é feito para os antepassados.
Não há uma ideia de amor romântico, tal como no modelo monogâmico que nós tanto cultuamos. Em contato com a espiritualidade, diria que presenciei a noção de um casamento integrado entre os espíritos e os vivos, passado e presente, a vida é observada de trás para frente. Assim, o casamento não significa pensar apenas no futuro, não é uma busca incessante por ele. Não é algo que vai apenas organizar e gerar estabilidade.
É, inicialmente, pensado a partir do passado, representa a pulsação de vidas que vieram antes e os antepassados estarão com o casal interminavelmente, se isso for respeitado. O papel do lobolo é basicamente conversar com os antepassados para identificar os perigos da vida e, ao mesmo tempo, encontrar respostas para promover o bem-estar social do casal.
MUNDO NEGRO: É viável adaptar o ritual para o Brasil?
RHUANN FERNANDES: Esta pergunta que você me fez é muito importante, pois penso que muitos ainda não estão preparados para discutir outras formas de relacionamento e conjugalidade. Sendo assim, temos que nos perguntar: a monogamia, o sonho de casamento com vestido branco entrando numa igreja cristã, é natural ou socialmente construído? Quando aprendi ser monogâmico? (…) Quer dizer, quero ressaltar que nossos sentimentos são construções culturais com reflexos sociais e políticos, não são naturais ou espontâneos. Com isso, precisamos desconstruir alguns hábitos, precisamos nos reeducar e conhecer outras formas (…) Com este movimento, acredito que seja possível sim praticar o lobolo e outras formas de casamento ainda não conhecida por nós. Acredito que as ciências sociais têm um papel fundamental nisso.
Parte da cerimonia tradicional bantu: lobolo
MUNDO NEGRO: Em que momento a escolha do TCC se tornou um livro?
RHUANN FERNANDES: Foi um processo mais rápido que esperava. Assim que defendi a monografia com êxito e ganhei duas premiações com a pesquisa, conversei com a editora e fechamos o contrato. Não vou mentir que tinha um objetivo de publicar a monografia como livro e, por isso, me dediquei tanto. Antes de chegar ao Brasil, já havia notado que não tinha nenhum livro sobre o tema no Brasil e, a partir daí, fiz minhas projeções e sustentei minha ambição. Pelo visto funcionou, né? (risos).
MUNDO NEGRO: Qual experiência teremos ao ler o livro?
RHUANN FERNANDES: Olha, o que mais me agrada nesta obra é que não se trata de um debate puramente acadêmico, mas de histórias de dois casamentos incríveis, que descrevo com muita preciosidade, para fazer o leitor se sentir lá, na cerimônia de lobolo. Então, posso dizer que a experiência que o leitor terá é sentir o Sul de Moçambique na pele, perpassando pela história política do país, as principais contribuições civilizatórias dos povos bantu daquela região e conhecerá outras formas de matrimônio possíveis para o nosso contexto. Enfim, parafraseando a querida Pauline Chiziane, diria que contei uma história para levar as mentes no voo da imaginação e trazê-las de volta ao mundo da reflexão.
MUNDO NEGRO: Um conselho para outros jovens negros, é…?
RHUANN FERNANDES: Para o povo negro desejo unidade política para transformação da calamidade, da situação de holocausto racial que vivemos há mais de 500 anos. Para os mais jovens, que perdem o direito de viver tão cedo, meu conselho é que escutem os mais velhos, principalmente os nossos pais, para progredirmos, para termos base e não deixarmos de tentar… jamais.
O sociólogo Rhuann Fernandes, autor do livro “Casamento tradicional Bantu: o lobolo no sul de Moçambique”
*Para informações acerca da venda do livro: @rhuannfernandes
Na terça-feira (26), as notícias da morte de Floyd, acompanhadas pelo terrível vídeo que detalha seu assassinato, provocaram indignação nas mídias sociais, que se estenderam por toda cidade do norte dos EUA. Várias personalidades negras demonstraram revolta com o caso e como disse Naomi Campbell: estamos cansados de “ficar triste por nosso povo morrer desnecessariamente”.
Em seu Instagram, a apresentadora Oprah Winfrey demonstrou o quanto um caso como o de George Floyd abala o psicológico do povo preto: “Não consegui tirar a imagem do joelho no pescoço dele da minha cabeça. Está lá todas as manhãs quando eu me levanto e quando cumpro os deveres comuns do dia. Enquanto servia café, amarrava meus sapatos e respirava, eu penso: ele não consegue fazer isso”.
Nesta sexta-feira (29), foi divulgado um novo vídeo do caso. Por outro ângulo, o exibe que não foi apenas um, mas três policiais a dominarem o americano pouco antes de ele morrer por asfixia. “E agora o vídeo do outro ângulo de dois outros oficiais o prendendo. Meu coração afunda ainda mais”.
“Sua família e amigos dizem que ele era um gigante gentil. Sua morte agora nos mostrou que ele tinha uma alma gigante. Se a grandeza de uma alma é determinada por sua esfera de influência, George Floyd é uma alma poderosa.
#GeorgeFloyd: Nós falamos seu nome. Mas desta vez não deixaremos seu nome ser apenas uma hashtag. Seu espírito é elevado pelos gritos de todos nós que clamamos por justiça em seu nome!”. Finalizou Oprah.
Um herói. O ator vencedor do Oscar, Denzel Washington estava dirigindo em Los Angeles no dia 21 de maio, quando viu um homem negro aparentemente sem-teto andando no meio do trânsito. O ator parou seu carro e levou o homem até a calçada para evitar um atropelamento.
O incidente, registrado em vídeo, mostra Washington, que está usando uma máscara facial, ajudando o homem, que vestia um capuz azul claro. No vídeo completo, Washington é visto conversando com o homem e colocando a mão em seu ombro de maneira segura.
De acordo com USA Today, uma testemunha ao ver a situação chamou a polícia.
Denzel ficou ao lado do homem durante a abordagem policial, se posicionando entre eles.
O homem acabou sendo detido e levado à delegacia, mas de forma segura e não violenta sob os olhares do herói Denzel.
Segundo vários relatos, o ex-policial responsável pela morte de George Floyd em Minneapolis foi preso pelo Bureau of Criminal Aprehension de Minnesota. Os pedidos pela prisão de Derek Chauvin e todos os envolvidos levaram a dias de agitação civil na cidade. Chauvin foi acusado de homicídio e homicídio culposo. A investigação está em andamento e pode levar a cobranças adicionais.
O procurador do condado de Hennepin, Michael Freeman, disse durante uma entrevista coletiva que os três policiais adicionais envolvidos no caso não foram presos, mas ele “antecipa acusações”. Freeman também acrescentou que o escritório do promotor estava focado em tirar o agressor “mais perigoso” das ruas primeiro.
Na terça-feira (26), as notícias da morte de Floyd, acompanhadas pelo terrível vídeo que detalha seu assassinato, provocaram indignação nas mídias sociais. Essa raiva então se espalhou pelas ruas de Minneapolis, levando a protestos e tumultos. Muitos ficaram furiosos porque ninguém foi preso em conexão com a morte de George Floyd, enquanto outros foram motivados pelos assassinatos de Ahmaud Arbery, Breonna Taylor e outros que deixaram grande parte da América Negra sofrendo de duas pandemias, o racismo e o covid-19.
A população negra vem sendo vítima das piores violências e negação de direitos em todas as partes. Destaco o mais essencial de todos, o direito de viver. É chegada a hora de responder à seguinte questão: quantas mortes de mais jovens negros serão toleradas na democracia?
A imagem do policial branco sufocando o homem negro, George Floyd, em Minnesota, é estarrecedor e revoltante. George, desarmado, foi algemado e estrangulado pelo policial que, usando o joelho, o sufocou até a perda dos sentidos. Levado ao hospital, George não resistiu.
Essa barbárie não é de um cenário de guerra e não é um episódio do apartheid na África do Sul. É mais um caso de genocídio da população negra em curso, em pleno século XXI, na dita “maior democracia do mundo”, Estados Unidos
É preciso acrescentar que este não é um caso isolado. Lembremos de Eric Garner, em 2014, no estado de New York, que também foi sufocado até a morte por um policial branco. Assim como George, ele também sussurrava, “I can´t breathe” (Não consigo respirar).
Na República Democrática do Brasil não é diferente. A constituição, as garantias legais, os códigos e protocolos policiais estão à disposição de poucos. O jovem negro continua sendo o alvo preferencial da ação e omissão do Estado. Até as “balas perdidas” alcançam preferencialmente os corpos negros. Na semana passada, no contexto de superação das adversidades causadas pela pandemia de COVID-19, fomos paralelamente golpeados com a morte de João Pedro, jovem negro de 14 anos, vítima da ação policial do estado do Rio de Janeiro. Ainda lamentamos a perda do menino Joel, um jovem negro também de 14 anos, capoeirista, vítima da ação policial do estado da Bahia em 2010.
A população negra no Brasil e nos Estados Unidos choram pelos seus e continuam lutando por justiça, direito de viver e garantia de uma vida segura. A resistência segue na cidade de Minneapolis, assim como seguimos lutamos de todas as partes. Black lives matter; I can´t breathe; Hands Up! Don´t shoot!; This is why we cant standy al; Black Berner Coalition; Ya me canse; Reaja ou será mort@; Juventude negra viva e orgulhosa; Cadê o Amarildo?; Quem mandou matar Marielle?; Potencias negras; Memória tem cor; Coalizao negra; dentre outras expressões singulares, coletivas, organizadas ou não. Seguimos firme na missão de nos mantermos vivos!
Protagonizada por um casal negro, a comédia romântica Cook-Off estreia na Netflix no dia 1º de junho. Esta é a primeira vez que a plataforma de streaming adquire os direitos de um longa-metragem feito no Zimbábue. Dirigido pelo Thomas Brickhill e produzido pelo zimbabuense Joe Njagu, a trama foi rodada em 2017.
As filmagens foram cercadas por imprevistos. Por vezes os atores precisavam interromper o trabalho devido ao gás lacrimogêneo da polícia, usado para interromper os protestos contra o governo na capital do Zimbábue, nos dias agitados do regime de 37 anos de Robert Mugabe. Os cortes de energia do governo também foram fatores que atrapalharam bastante.
Para economizar dinheiro, vários membros da equipe dividiram uma casa, que acabou virando também parte do cenário do filme.
“Por que estou sendo preso?”. Esse foi o questionamento do correspondente da CNN Omar Jimenez que foi detido, ao vivo, enquanto fazia a cobertura dos protestos em Minnesota (EUA), por volta das 6h dessa sexta-feita.
Há 3 dias a cidade tem chamado a atenção do mundo por conta dos manifestos que pedem o julgamento dos policiais envolvidos no assassinato de George Floyd, morto brutalmente durante uma abordagem policial, na última segunda-feira, (25/05). Outros membros da equipe de reportagem também foram presos.
“Um repórter da CNN e sua equipe de produção foram presos nesta manhã em Mineápolis por fazerem seu trabalho, apesar de se identificarem – o que é uma clara violação dos direitos da Primeira Emenda. As autoridades de Minnesota, incluindo o governador, devem libertar os três funcionários da CNN imediatamente”, disse a emissora, em comunicado.
Em sua defesa, a policia afirmou que havia pedido a equipe de reportagem desocupasse o local e Omar, não teriam acatado a ordem.
Ao vivo no entanto, é possível ver que Jimenez apresenta a identificação da CNN, se dispõe e mudar de lugar, mas é agarrado por policiais e algemado em seguida.
“Não fez nenhum sentido para mim”, disse o advogado Charles Ramsey, um analista da lei americana, sobre a prisão da equipe da CNN em Minneapolis que se identificou claramente como imprensa.
Omar e equipe foram liberados cerca de uma hora depois. O governador de Minnesota, Tim Walz, disse ao presidente da CNN Mundial, Jeff Zucker, que se desculpa profundamente pelo que aconteceu .
O chamamento “Literatura Desenhada” é uma ação realizada pelo Clube Negrita, clube literário que incentiva a leitura de obras de escritoras e escritores negros, com o apoio do PROAC SP. Com o objetivo de contemplar 5 artistas visuais, cada um de uma das cinco regiões do país, receberá inscrições até o dia 11 de julho de 2020.
A ação visa movimentar, através da literatura, o trabalho de artistas e escritores durante este período de isolamento social e faz parte das atividades que acontecerão durante o ano de 2020 do Clube com o apoio do PROAC, programa que incentiva a produção artística e cultural no Estado de São Paulo. “Criar um chamamento como o Literatura Desenhada, que convida ilustradores negros e negras para trabalhos artísticos relacionando com a literatura, faz com que eles possam se aproximar da literatura, que é também uma linguagem artística.” diz, Bruna Tamires, idealizadora do Clube Negra.
Para participar do Literatura Desenhada, é necessário produzir uma ilustração com base nos 10 temas oferecidos pelo Clube Negrita, que tem relação com temáticas sobre negritude e ao universo da literatura. Além disso, as produções devem conter alguma referência ao Clube Negrita e seguir as orientações técnicas descritas no formulário de inscrição.
Os cinco desenhos mais instigantes e criativos serão selecionados, receberão R$ 200,00 como premiação e serão publicados na página do Clube Negrita junto com a biografia e foto da pessoa artista.
Para saber mais detalhes sobre o chamamento e para se inscrever é só entrar neste link: Inscrição.clubedanegritaaté o dia 11 de julho.
Em abril do ano passado (2019), os funcionários do Museu Afro Brasil denunciavam o risco de fechamento do museu que já vinha sendo sucateado pelo governo de São Paulo desde 2015, tendo passado por diversas dificuldades como reduções no quadro de funcionários, terceirizações e cortes salariais.
Um ano depois, como consequência de um decreto do governo de São Paulo, de 22 abril, que cortou 14% (68 milhões) do dinheiro repassado às organizações sociais que gerenciam a cultura no estado, na esteira da crise decorrente da pandemia de covid-19 o museu demitiu de uma só vez 23 dos seus 80 funcionários. Atitude que foi denunciada e repudiada por meio de uma carta aberta elaborada pelos agora ex funcionários do museu e divulgada.
O Museu Afro Brasil, localizado no Parque Ibirapuera, São Paulo, existe desde 2004 com um acervo especialmente voltado para as manifestações artísticas dos negros no país, mas que também retrata a cultura negra desde a África, passando pela escravidão e pelas expressões culturais e artísticas do povo negro no Brasil, sendo um dos poucos museus no país voltados para o tema, além de um importante alicerce para afirmar a luta do movimento negro que é cotidianamente atacado pela mesma direita que quer fechar o museu o destruir a história da luta dos negros no Brasil.
Após a carta aberta divulgada pelos trabalhadores do museu, a campanha de arrecadação de fundos para ajudar nos impactos causados pela demissão repentina e em meio a quarentena, ganhou suporte internacional. “Pedimos sinceramente a sua colaboração e solidariedade”.
MEIOS PARA APOIAR:
“Estamos realizando uma campanha de arrecadação de fundos com a finalidade de reduzir os impactos da vulnerabilidade causada pela situação de desemprego em que já se encontram. Pedimos encarecidamente a sua colaboração e solidariedade.
Leia a carta aberta divulgada pelos funcionários demitidos:
CARTA ABERTA À SOCIEDADE
Fundado em 2004, o Museu Afro Brasil se constituiu como uma das mais importantes instituições de arte, história e memória afro-brasileira. A inauguração do museu, assim como outras iniciativas, a exemplo da Lei 10.639/2003, são conquistas históricas das ações do Movimento Negro que, ao longo de todo o século XX, pautou a necessidade de salvaguardar a memória afro-brasileira como elemento central de compreensão da nossa sociedade.
Esta carta aberta tem como objetivo denunciar as 23 demissões ocorridas na instituição, dentro de um quadro já reduzido de aproximadamente 80 funcionários, e conclamar lideranças do Movimento Negro, entidades e trabalhadores da Cultura e toda a Sociedade na defesa desse patrimônio, diante de cortes constantes no orçamento da Cultura no Estado de São Paulo e, sobretudo, da irresponsabilidade da atual gestão do Museu Afro Brasil na condução da crise instaurada pela pandemia do COVID-19, bem como de outras crises que se apresentaram ao longo da história institucional do museu.
Assim, destacamos os seguintes pontos:
1. O Governo do Estado de São Paulo, por meio de Decreto publicado em 22 de abril de 2020, anunciou um corte de 14% (68 milhões) no repasse às Organizações Sociais que fazem a gestão de equipamentos de Cultura, em decorrência da crise causada pela pandemia do COVID-19 (Folha de São Paulo). Esse corte representa a redução de 50% do orçamento das OSs nos meses de maio, junho e julho e, até o momento, impactou 94% dos funcionários de museus, teatros e outros projetos culturais de São Paulo, que tiveram contrato suspenso, redução de salário ou foram demitidos (CBN);
2. Diante desse corte, em conformidade com as Medidas Provisórias recentemente publicadas pelo Governo Federal, as Organizações Sociais têm realizado um esforço para evitar as demissões, preferindo a suspensão de contratos e/ou redução de jornadas de trabalho, a fim de adequar seus orçamentos ao corte anunciado (Veja São Paulo). Essa também foi uma recomendação feita pela própria Secretaria de Cultura e Economia Criativa, que sempre reforçou o esforço que deveria ser feito pelas OSs para evitar demissões nesse período;
3. A Associação Museu Afro Brasil, OS que faz a gestão do Museu Afro Brasil, indo na contramão de outras OSs, demitiu um grande número de funcionários – 23 pessoas até o momento. Salientamos que foram feitas demissões em outros museus, mas em nenhum deles esse contingente foi tão alto como no caso do Museu Afro Brasil (ABRAOSC). Essas demissões foram realizadas sem ser feita nenhuma proposta aos trabalhadores acerca da suspensão de contrato ou redução de salário e carga horária;
4. A medida adotada pela Direção do Museu Afro Brasil revela a irresponsabilidade dessa gestão na condução de uma crise dessa proporção, colocando uma grande quantidade de trabalhadores em uma situação de vulnerabilidade material em meio a uma profunda crise sanitária e econômica, sem antes apresentar o esforço de reduzir danos através de outros meios previstos na legislação atual (Jornal Contábil);
5. Não é de agora que a Direção do Museu Afro Brasil, se mostra irresponsável na gestão do Museu. Essa direção já protagonizou sucessivas situações de crises institucionais, que revelam uma postura altamente personalista na condução de um bem público. Esse conjunto de situações, além de ser notória para funcionários que já trabalharam na instituição, estão amplamente noticiadas na imprensa. Ver, por exemplo: “Museu Afro Brasil vive crise na direção” e “Programa Roda Viva Emanoel Araújo 18/12/2017”, entre outros. Reconhecemos o papel fundamental desempenhado pelo diretor Emanoel Araujo, ao longo de sua trajetória, no sentido de criar e manter uma instituição como o Museu Afro Brasil, o que foi e é feito através do árduo trabalho de funcionários engajados nesse projeto. No entanto, não podemos nos silenciar diante dos excessos protagonizados pela gestão da instituição, que trata o bem público como um bem privado;
6. Essas demissões representam não somente uma investida contra os trabalhadores, como também fragiliza a produção e disseminação do conhecimento que o acervo do Museu Afro Brasil salvaguarda, uma vez que os trabalhadores demitidos desenvolviam, com reconhecido desempenho, atividades de pesquisa, estratégias de difusão, comunicação e ações educativas.
7. É reconhecido, no contexto museal, que a preservação de um acervo como o do Museu Afro Brasil se relaciona diretamente com o trabalho desenvolvido pelo núcleo de educação e pelos funcionários que atuam diretamente com o público. Foram justamente estes funcionários, em sua maioria negros, os mais impactados pela atual decisão de demissão, tornando ainda mais frágil o cumprimento da missão do museu, que consiste na valorização e difusão da memória afro-brasileira.
Considerando os pontos acima, convocamos lideranças do Movimento Negro, artistas, entidades de Cultura e toda a Sociedade a manifestarem solidariedade aos trabalhadores demitidos e a exigir responsabilidade na gestão do Museu Afro Brasil. A crise decorrente da pandemia do COVID-19 impacta e impactará a todos nós. Mas não podemos aceitar que ela seja ainda mais aprofundada pela falta de responsabilidade das instâncias que fazem a gestão de instituições que são do interesse de toda a Sociedade.
A Cultura e o Museu Afro Brasil precisam ser defendidos por aqueles que são seus principais agentes: toda a Sociedade!