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Com sócios majoritariamente negros, construtora de luxo ganha destaque no nordeste

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Foto: Divulgação.

A DUE Incorporadora, empresa especializada em empreendimentos de praia com alto padrão, vem seguindo um projeto pouco comum no concorrido mercado da construção civil. Possuindo cinco sócios, três deles são negros, sendo representados pelo ator Rafael Zulu e os futebolistas Adailton Filho e Fernandinho. Com forte atuação no nordeste, a DUE já conta com mais de 22 mil unidades entregues e seguem entre as 15 maiores construtoras do país.

Um dos empreendimentos da DUE incorporadora. Foto: Divulgação.

Pautados em desenvolvimento sustentável, tecnologia e experiência, a DUE declara que faz parte de um grupo líder de mercado. Em entrevista ao MUNDO NEGRO, Rafael Zulu comentou sobre a experiência dentro do negócio e sobre seu interesse dentro da construção civil. “O mundo dos negócios é uma paixão antiga. Acredito também que a minha trajetória nesse meio reflete bem os meu inúmeros interesses porque já fui sócio de bares até festivais musicais“, diz Rafael. “A DUE vem muito atrelada a minha inquietude profissional, sabe? De procurar sempre o novo e fazer diferente. Além do mais, ter a possibilidade de levar para o nordeste brasileiro um projeto tão único, responsável e comprometido com o desenvolvimento local é muito gratificante. E, ainda por cima, poder fazer tudo isso com amigos tão competentes é a combinação perfeita”.

De acordo com Adailton Fillho, a DUE caminha para um futuro de grandes transformações no mercado e um impacto social positivo. “Hoje, não me vejo como um empresário, me considero um empreendedor social. Eu faço negócios no setor imobiliário com intuito de gerar riquezas para investir no setor social”, revela Adailton, que construiu também uma carreira sólida no mundo do futebol.

“Sou preto, nascido na periferia, vi, vivi e senti todo o tipo de preconceito existente. Durante os anos que joguei fora do país ouvi gritos da torcida rival me chamando de “macaco”. Então, procurei juntar todo esse sentimento do que vivi e tornar em algo positivo. Na nossa empresa, o DNA é 100% social”, enfatiza Filho. “Em 2011, eu fundei a Associação Superação com o intuito de transformar a vida de jovens por meio de apoio e levando oportunidades mostrando para eles que a vida pode ser muito mais. Dentro da DUE, temos como uma das nossas missões ser vistos de forma diferente das outras incorporadoras. Nós queremos agregar, de fato, e esse é o nosso diferencial. Estamos sempre dispostos a desenvolver a confiança e consciência na  juventude preta de que ela pode vir com a gente e chegar onde nós estamos“.

Rafael Zulu e Adailton Filho. Foto: Divulgação.

Sobre a inclusão em seus projetos, a DUE declara que seu quadro de colaboradores é formado por uma equipe diversa, prezando pela inclusão e renovação social. “Acreditamos que já estamos colocando aqui, no presente, o que desejamos para o futuro”, conta a empresa em entrevista ao MUNDO NEGRO. “Os nossos empreendimentos são planejados de forma a garantir o menor impacto ambiental e máximo impacto social positivo. Ao nosso ver, quando esses dois pilares caminham juntos podemos chegar a lugares incríveis. Entendemos que não é um caminho fácil, mas com pessoas motivadas e que acreditam no nosso projeto tudo fica menos complicado. Por isso prezamos tanto pela inclusão na formação da nossa equipe. Hoje, o nosso quadro de colaboradores é composto por grande maioria de pretos, mulheres pretas e pessoas LGBTQIA+. Temos um olhar muito atento ao que acontece à nossa volta e queremos fazer parte da mudança. Esse sentimento é refletido na DUE desde a sua fundação porque queremos ser um destino incrível de moradias para as pessoas e, ao mesmo tempo, um lugar de pertencimento, principalmente, para aqueles grupos historicamente invisibilizados“.

Foto: Divulgação / DUE Incorporadora.

Gilberto Gil: O novo imortal da Academia Brasileira de Letras

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Foto: Divulgação

O cantor Gilberto Gil ocupou a cadeira número 20 da Academia Brasileira de Letras, no Petit Trianon, Rio de Janeiro. Ele foi eleito com 21 dos 34 votos dos acadêmicos, em novembro de 2021.

“Poucas vezes na nossa história republicana o escritor, o artista, o produtor de cultura, foram tão hostilizados e depreciados como agora”, afirma Gil durante a posse.

A cerimônia de posse foi histórica. “Não só porque a ABL é a casa de Machado de Assis, escritor universal, afrodescendente como eu, mas também porque a ABL representa a instância maior, que legitima e consagra, de forma perene, a atividade de um escritor ou criador de cultura em nosso país”, ressaltou no discurso.

No Twitter, o Gil comparou a vestimenta usada para a posse da cadeira na ABL com a usada por ele na capa do segundo LP, em 1968.

Emocionado, o músico relembrou a história da sua família: “Sou filho de uma professora primária e um médico. A eles devo o meu amor às letras e à música. A imagem dos meus pais está comigo nessa noite e sua memória para mim é uma benção”.

E também citou a dor de perder o filho, Pedro Gil, que faleceu em 1990. “Não desanimo, porque é preciso resistir, sempre”. Na sequência, agradeceu o apoio e finalizou o discurso dando uma paleta da música ‘Luar’. “Se a noite inventa a escuridão, a luz inventa o luar, o olho da vida inventa a visão, doce clarão sobre o mar”, cantou timidamente. “Essa é nossa aposta na vida e na alegria”, ressaltou.

“Minha mensagem chega nas pessoas mas muita gente não sabe meu nome”, diz Doralyce, que acaba de lançar “Dádiva”

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Foto: Lilo Oliveira.

Com a carreira marcada por sucessos como Miss Beleza Universal e a versão feminista da música Mulheres, que tem a versão original conhecida na voz de Martinho da Vila, a cantora, compositora e empresária Doralyce, acaba de lançar seu novo álbum, Dádiva, o quinto de sua carreira. Passeando pelos temas políticos que fazem parte de sua trajetória, ela demarca pontos importantes sobre viver nos tempos atuais, com uma análise de conjuntura política, reflexão sobre liberdade afetiva e sexual das mulheres, responsabilidade afetiva e apontamento de caminhos a seguir enquanto sociedade.

Para Doralyce, conseguir lançar Dádiva é motivo de gratidão. “Eu me sinto grata ao Universo porque eu precisava sair dessa pandemia com saúde mental”, reflete a cantora, que deseja ser cada vez mais reconhecida por seu trabalho na música.

“Eu escrevi canções que têm uma representatividade muito grande para as mulheres. Todo 8 de março eu vejo as mulheres cantando minhas músicas na rua. Seja a versão feminista de “Mulheres”, seja “Miss Beleza Universal”. Depois, com as insatisfações com o governo, todas as mnifestações cantam “Vamo Derrubar o Governo”. Eu vivo uma dicotomia. Faz quatro anos que todo ano minha música toda no BBB, nos protestos e nas festas, e ao mesmo tempo, a maioria das pessoas não sabe quem eu sou”, pondera.

“A minha mensagem chega nas pessoas, mas por mais que a mensagem chegue, tem gente que não sabe nem o meu nome, não sabem quem é Doralyce. Tem gente que acha que eu me chamo Miss Beleza Universal. Vocês acham que a minha mãe ia me registrar com esse nome?”, brinca.

Boa parte das cançoes de visibilidade de Dora trazem a marca dos posicionamentos políticos da compositora, mas não é só sobre política que ela gosta de escrever e cantar. “Eu não falo só de política. Na verdade eu tenho muito mais músicas de amor, de sofrência, mas o discurso que me cabe, a roupa que me cabe é uma roupa emancipacionista”, explica.

No entanto, para ela, o contexto em que as populações negras, indígenas, LGBTQIAP+ vivem no Brasil não permitem que se ignore toto o contexto. “Eu queria estar fazendo outra coisa, mas só que a gente é assassinado todos os dias, perseguido no supermercado, a gente perdeu. O Estado declarou guerra contra a sociedade civil quando matou Marielle Franco em 2018. Aquilo ali foi o estado falando pra gente que não importa se você vai atravessar o racismo, o machismo, a lesbofobia, a vulnerabilidade, o tráfico de drogas. Mesmo que você atravesse tudo isso, você ainda vai levar cinco tiros na cabeça por defender os Direitos Humanos, se você tiver um projeto que pense em melhorar a vida das pessoas. Eu aho que essa ruptura, essa quebra de contrato social, acontece desde que a gente não tem perspectiva de futuro”, avalia.

O DISCO

Dádiva tem 13 faixas e começa com Terreno Fértil. que faz uma análise de conjuntura do cenário do Brasil de 2022. A última faixa do disco, “Batida Salve Todes” é um encaminhamento, uma proposta de ação a partir desta análise.

“Em Terreno Fértil eu falo tudo o que eu vejo que precisa mudar na sociedade, e encerro com Batida Salve Todes, que é uma música que faz alusão a uma brincadeira de infância, que uma hora uma pessoa bate e salva todo mundo, que é o nosso sonho. A gente sonhou, inspirados na história de Jesus, que um sacrifício humano salvaria toda a humanidade. Mas a gente tem sacrifícios humanos todos os dias e essa sociedade não mudou”.

“Batida Salve Todos é uma brincadeira, dizendo que eu sei que o mundo tá se acabando, mas eu já cheguei e bati na parede. Tá todo mundo salvo. E como a gente se salva? E eu digo: Apague a velha ordem do recinto. Apague essas ideias”.

Para Doralyce, em uma sociedade de leis injustas, cumprir a lei não é, necessariamente, fazer a coisa certa. Esta é a mensagem de Batida Salve Todes. “A gente vive uma legislação punitivsta, misógina, que não deixa a mulher ser dona de seu proprio útero, que cria mecanismos para o encarceramento da população preta, que cria mecanismo para exclusão e apagamento das populações indígenas. Vem cá, a gente vai cumprir a lei? Aí, nesta faixa, eu proponho a desobediência civil”.

Eu sou bandida e minha lei é um contatinho em cada cidade”

Caminhando para o lado mais voltado para as experiências afetivas e sexuais, “Leve e Gostoso” fala de ser transparente nas relações. “Nessa música eu falo sobre responsabilidade afetiva. As pessoas acham que é só p*taria. Mas não é. É sobre ‘nenhum acordo sai caro’. Se você se abre para a pessoa e fala sobre quem você é de verdade, a pessoa sabe com quem ela está se relacionando. O que é injusto, o que é cruel, é você mentir e enganar a pessoa, fazendo ela acreditar em uma coisa que não é verdade. É uma música onde eu chamo as pessoas a serem honestas”, avalia.

Além de cantora e compositora, Doralyce é empresária na Colmeia 22, um projeto que trabalha com artistas em situação de vulnerabilidade. “O trabalho com a Colmeia é feito com artistas que estão à margem desse mercado. Pessoas que a gente trabalha para introduzir no mercado e fazer com que esses artistas se revelem”, explica.

Este trabalho também foi desafiador para Dora durante a pandemia. “Além de acreditar em mim, eu tinha que acreditar nessa galera toda e dizer, ‘vamo, galera, vai dar certo'”, relembra. “Todo mundo ficou numa situação muito difícil durante a pandemia e dizer pra essas pessoas não desistirem quando eu estava pensando em desistir, eu não sei de onde eu tirei força”, relembra.

Como saldo do trabalho como cantora, compositora e artista, fica as transformações feitas nas vidas de outras mulheres. “Sair na rua e ver as pessoas vestida de “Miss Beleza Universal”, ver a galera de faixa, ver mulher gorda botando piercing no umbigo, e ver mulheres separando de relacionamentos abusivos porque ouviram a versão feminista de ‘Mulheres’ e sabem que não precisam passar por isso. Tudo isso é muito revolucionário”, conclui.

Lázaro Ramos explica a presença de Dona Diva em ‘Medida Provisória’: “Um símbolo de potência”

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Foto : Mariana Viana.

Integrante no elenco do filme ‘Medida Provisória’, a professora aposentada Dona Diva Guimarães foi escolhida pelo próprio diretor do filme, Lázaro Ramos, para participar da obra. “Qual o primeiro rosto que quero que apareça nesse filme? Aí fui pra um lado bem pessoal e pensei em Dona Diva. Acho que o rosto que pensei como símbolo de esperança, potência e símbolo de uma história dos nossos antepassados foi ela”, disse Lázaro, em entrevista à Silvia Nascimento, editora-chefe do MUNDO NEGRO.

Para o diretor, ‘Medida Provisória’ é um alerta sobre coisas que a gente não quer que aconteça. Ele espera sensibilizar as pessoas com entretenimento, já que a obra possui “momentos de humor e momentos de emoção que vão para além da compreensão racional política”. A presença de Dona Diva enriquece o longa, trazendo reflexões importantes sobre a construção da identidade negra no Brasil. “Ela não aceitou [participar do filme] de primeira, me falou ‘meu filho eu não sou atriz, eu não vou fazem bem’. Aí como já tenho intimidade falei: ‘Dona Diva isso não é um convite, eu estou apenas te informando que a senhora vai fazer’. Então ela respondeu: ‘Meu filho está difícil de viajar’, e respondi: ‘A senhora vem com acompanhante, te dou comida na boca se quiser”, enfatizou Lázaro com alegria, ao relembrar a história.

Foto: Mariana Viana.

‘Medida Provisória’ estreia dia 14 de abril de 2022. O filme tem como protagonistas Taís Araujo, Alfred Enoch e Seu Jorge e conta ainda com um grande elenco de 77 atores, entre eles Adriana Esteves, Renata Sorrah, Mariana Xavier, Emicida, Flávio Bauraqui e Paulo Chun. O enredo se passa num futuro distópico em que o governo brasileiro decreta uma medida que obriga os cidadãos negros a voltarem à África como forma de reparar os tempos de escravidão – a partir desse conflito e da história de amor vivida pelos personagens de Taís e Alfred, o filme debate questões sociais e mistura humor, drama e thriller.

Lei Maria da Penha para mulheres trans: “Nós só queremos viver”

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Foto: Roger Monteiro e Divulgação

A Lei Maria da Penha agora é aplicável a mulheres transgênero, por decisão da 6ª Turma do STJ (Superior Tribunal de Justiça), na última terça-feira (5).

O Ministério Público Federal defendeu que a mulher transexual tem direito a medidas protetivas com base na Lei Maria da Penha, independentemente de ter sido submetida a cirurgia de transgenitalização.

Por unanimidade, os ministros foram favoráveis a um recurso apresentado em favor de uma mulher transgênero que alega ter sido agredida pelo pai.

Ela diz que sofreu agressões que deixaram marcas visíveis, constatadas por autoridade policial. Segundo depoimento, o pai chegou em casa alterado e, quando tentou sair da residência, ela foi imobilizada e jogada na parede e empurrada. Ela ainda foi ameaçada com um pedaço de madeira, mas conseguiu fugir.

O ministro Rogério Schietti citou que o Brasil responde, sozinho, corresponde a 38,2% dos homicídios contra pessoas trans no mundo. Dados divulgados em janeiro pela ANTRA (Associação Nacional de Travestis e Transexuais) revelam que no ano passado foram 140 assassinatos no país.

A deputada estadual de São Paulo Erica Malunguinho (PSOL), comemora a jurisprudência, mas lamenta a demora da medida. “Nós estamos reivindicando isso há muito tempo, uma vez que a violência que recaí sobre os nossos corpos, diz respeito a uma violência baseada na condição de mulher transgênero”.

Em 2020, as mulheres trans haviam conquistado o direito de abrir o boletim de ocorrência fora da delegacia comum. “A gente conseguiu aqui pelo estado de São Paulo que as mulheres trans conseguissem ser atendidas nas delegacias da mulher, usando exatamente esses argumentos”.

Apesar da vitória, Malunguinho reconhece que a lei não é o suficiente para impedir a violência. “Não é o que a gente vê em relação as próprias mulheres que são cisgênero. A gente tem uma lei Maria da Penha que existe há 16 anos e que o índice do feminicídio crescente no Brasil”.

A vereadora de São Paulo Erika Hilton (PSOL) e presidente da CPI da Violência Contra Trans e Travestis, vibra com a extensão da lei, mas relembra a dificuldade de aprovar o PL da Semana Maria da Penha nas escolas.

“Quando as crianças conhecem a lei, independente da lei, ali ela cumpre o papel importante porque ela cumpre o papel de conscientizar, ela ela cumpre um papel de contar uma história, de mostrar uma realidade que faz com que as crianças possam beneficiar talvez isso dentro de casa. Mas a lei isolada, eu acho que ela tem pouco impacto”, explica.

Mesmo parecendo um projeto simples, Hilton tem batalhado contra os vereadores da Câmara Municipal. “Os vereadores são completamente contrários. A gente tem enfrentado uma resistência muito grande desde o momento que ele foi aprovado no ano passado pela comissão.”

Erica Malunguinho diz o que motiva a luta diária: “Nós só queremos viver. Nós só queremos não ser mortas por ser quem somos. Só querer ter direito ao trabalho, a escolarização, a vida e a humanidade”. 

Will Smith e reações desproporcionais

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Um tapa. Foi o que bastou para que Will Smith fosse considerado culpado. O grande crime? Reagir a uma piada infeliz e inoportuna sobre a alopecia de sua esposa.

A internet foi tomada de discussões sobre limites do humor, encabeçada por figuras conhecidas justamente por ofender grupos minoritários com suas “piadas”, rolaram até projeções de traumas de feministas brancas alegando que ele poderia vir a ser agressivo com sua esposa no futuro, tudo isso por um único ato isolado.

Como resultado Netflix e Sony Pictures engavetaram dois dos projetos de seus projetos: “Fast and Loose”, uma grande aposta da Netflix, e o quarto filme da franquia “Bad Boys” onde além de estrela Will é produtor.

Smith se desculpou publicamente e se demitiu da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas; de acordo com o tabloide britânico The Sun, dias após o incidente ele foi internado numa clínica de reabilitação para se recuperar do estresse por seu trabalho no filme “King Richards”. Ah, o ator também foi banido por dez anos de frequentar o Oscar, mesma cerimônia que premiou James Toback (acusado de assediar mais de 300 mulheres) e Roman Polanski, condenado por estupro. Entre diversos outros nomes…

O caso de Will é só mais um que evidencia o quanto pessoas negras são sempre punidas desproporcionalmente por seus erros e deslizes, enquanto pessoas brancas tem como benefício o passe da dúvida, do perdão e da possibilidade de redenção.

Smith, que é um dos atores negros mais bem-sucedidos da história, agora tem sua trajetória manchada não por um “erro”, mas pela opinião pública que apenas esperou o mínimo desvio para categorizá-lo como raivoso e agressivo.

Após tapa em Chris Rock, Will Smith é banido do Oscar por 10 anos

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Foto: : Neilson Barnard / Getty Images.

O Conselho de Governadores da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas anunciou nesta sexta-feira (8) que o ator Will Smith está banido de todos os eventos da Academia, incluindo o Oscar, pelos próximos 10 anos. Fato acontece em resposta ao tapa que Smith deu em Chris Rock na 94ª cerimônia da premiação de cinema.

Foto: Doug Peters/PA Wire

Em comunicado oficial, a Academia declarou:

“A 94ª edição do Oscar deveria ser uma celebração dos muitos indivíduos em nossa comunidade que fizeram um trabalho incrível no ano passado; no entanto, esses momentos foram ofuscados pelo comportamento inaceitável e prejudicial que vimos o Sr. Smith exibir no palco. Durante nossa transmissão, não abordamos adequadamente a situação na sala. Por isso, lamentamos. Esta foi uma oportunidade para darmos um exemplo para nossos convidados, espectadores e nossa família da Academia em todo o mundo, e ficamos aquém – despreparados para o inédito.

Hoje, o Conselho de Governadores concordou com uma reunião para discutir a melhor forma de responder às ações de Will Smith no Oscar, além de aceitar sua renúncia. O Conselho decidiu, por um período de 10 anos a partir de 8 de abril de 2022, que o Sr. Smith não poderá participar de nenhum evento ou programa da Academia, pessoalmente ou virtualmente, incluindo, entre outros, o Oscar.

Queremos expressar nossa profunda gratidão ao Sr. Rock por manter a compostura em circunstâncias extraordinárias. Também queremos agradecer aos nossos anfitriões, indicados, apresentadores e vencedores por sua postura e graça durante nossa transmissão. Esta ação que estamos tomando hoje em resposta ao comportamento de Will Smith é um passo em direção a um objetivo maior de proteger a segurança de nossos artistas e convidados e restaurar a confiança na Academia. Também esperamos que isso possa iniciar um tempo de cura e restauração para todos os envolvidos e impactados”.

Will Smith e a “Síndrome da Primeira Pedrada”

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Foto: Reprodução Globo Play

O incidente envolvendo as celebridades afroamericanas Will Smith e Chris Rock durante a cerimônia da entrega do Oscar, entre tantas outras considerações, também serve para revelar boa parte da natureza humana no campo das avaliações de comportamento social, questões éticas e morais e afins.

Há quem diga que Will Smith teve um ímpeto sobretudo “previsível” ao “defender a honra” de sua esposa, a atriz Jada Pinkett Smith, alvo de uma piada algo questionável, oferecida pelo astro do stand-up afro-americano, à respeito de sua aparência física.

Há quem diga que a agressão contra o comediante foi desproporcional e até mesmo criminosa, já que piadas escrachadas fazem parte do repertório de qualquer profissional do riso, principalmente no segmento de show business dos Estados Unidos. 

O gesto intempestivo explodiu em opiniões das mais diversas nas redes sociais, com um forte viés de comentários e postagens em defesa de Chris Rock.  Os dias seguintes foram de uma avalanche de pessoas anônimas e formadoras de opinião condenando de forma veemente a ação protagonizado pelo multimidiático ator de 53 anos.

Ao que tudo indica, a carreira de Will Smith entrará em um declínio considerável, levando-se em consideração as circunstâncias que o levaram a concretizar o seu gesto, a repercussão global de sua decisão e as consequências inevitáveis da cultura do cancelamento que passou a monitorar ideias, palavras e atitudes de pessoas de alta visibilidade no mundo virtual e no mundo concreto.

Pouco valerá, para os “julgamentos de janela” de plantão, qualquer análise que se faça dos elementos diretos e indiretos que motivaram o ator a ultrapassar os limites do razoável para extravazar algum fator emocional reprimido e espantar uma plateia de milhões de pessoas quase que simultaneamente em todo o planeta, no dia 27/03/2022.

Chris Rock, por sua vez, em algum momento, se manifestará publicamente sobre o triste episódio. Os comentários pós agressão apontam que ele tem uma boa parte da opinião pública a seu favor.  Pelo menos essa é a leitura que se observa nos maiores canais de imprensa dentro dos Estados Unidos e em muitos outros países.

A atriz Jada Pinkett Smith, o pivô de toda a polêmica naquela noite de gala, talvez seja a pessoa menos considerada nesta controvérsia, já que à ela e sobre ela foram feitos os comentários pretensamente engraçados e ditos por Chris Rock na transmissão mais assistida do mundo naquele momento.

As consequências aos envolvidos neste incidente ainda são uma incógnita.  

Veremos algum impacto na forma como comediantes se comportarão como mestres de cerimônias, em eventos midiáticos futuros?  Será que o próprio Chris Rock fará uma reavaliação sobre o que seja ou não razoável de se expor sobre alguma condição específica de qualquer pessoa?  E o Will Smith?  Vai conseguir resgatar o respeito e a reputação de que ele desfrutava, antes de seu gesto impulsivo?  Perguntas…

Mas o tempo é um senhor remédio.  E esta talvez seja uma hora pouco adequada para não sermos sensíveis com Chris Rock, não sabermos o que Jada Pinkett Smith tem a declarar e, muito menos, jogarmos pedras moralistas e igualmente agressivas sobre o já debilitado Will Smith.

Que atire a primeira pedra quem não tiver ou nunca teve aquele seu momento “Maluco no Pedaço” na vida.

“King Richard: criando campeãs” é uma lição de como a saúde mental é a chave para o sucesso de um atleta

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Foto: Divulgação.

*José Rezende

 O filme “King Richard: Criando Campeãs”, produzido pelo diretor afro-americano Reinaldo Marcus Green, retrata a extraordinária história da família Williams em busca do sucesso no mundo esportivo do tênis e joga luz em temas como racismo, a priorização da educação e a importância da saúde mental. Além de evidenciar a trajetória das tenistas campeãs Vênus e Serena Williams, a superprodução debate temas tão reais e contemporâneos, que a ficção, por vezes, fica quase documental. 

Já é conhecido que o tênis é um esporte que possui uma técnica elevada e refinada, exigindo uma grande carga de horas praticadas e uma alta disciplina por parte do atleta. Isso torna a história da família Williams ainda mais rara: uma família afro-americana, com baixo poder aquisitivo, que consegue proporcionar técnica e preparo para, não só uma, mas duas filhas atingirem prestígio e reconhecimento dentro de um esporte predominante branco e elitista.

O que transformou a história dos Williams em filme foi a determinação e resiliência do clã em busca de um sonho. O sucesso foi uma consequência do comprometimento de todos os membros e, principalmente, da base sólida e segura que eles tinham como estrutura familiar. Porém a trajetória não foi nada fácil, tanto Serena como Vênus tiveram que vencer as dificuldades do esporte para aperfeiçoarem a técnica e se tornarem as melhores do mundo. Treinar a mente foi fundamental para que se mantivessem aptas e preparadas para as competições.

É comum vermos a sobrecarga mental como um dos fatores que podem ocasionar casos de ansiedade, estresse e depressão em esportistas. Com isso, ter uma dependência do resultado positivo no esporte, faz com que jovens atletas não se mantenham na carreira por questões envolvendo a sua saúde mental.

Nas Olímpiadas de Tóquio em 2020, o tema foi destacado quando a tenista japonesa, Naomi Osaka, decidiu deixar duas competições importantes para a modalidade do tênis: Roland Garros e Wimbledon. O motivo foi o seu bem-estar mental que foi afetado por conflitos com a imprensa e crises de depressão que ocorreriam desde 2018. Outro caso emblemático aconteceu com a ginasta olímpica Simone Biles que desistiu de participar da final de duas categorias para priorizar o cuidado com a sua saúde mental.

Falar sobre o autocuidado com a saúde mental não é mais uma grande novidade entre os atletas de alto rendimento. A saúde mental e o preparo físico se equilibram e caminham juntos rumo a um bom rendimento e uma boa performance. A falta desse cuidado e equilíbrio podem gerar consequências desde a formação destes atletas até o decorrer de toda a sua carreira. 

 “King Richard” mostra o quão árdua pode ser a vida de um atleta de alto rendimento, considerada uma das profissões mais exigentes do mundo. A necessidade de disciplina, determinação e principalmente controle emocional é determinante para que seja alcançado o resultado desejado. Um autoconhecimento físico e mental é o divisor de águas no desempenho de um esportista. Permitindo ao atleta diferenciar excitação de ansiedade, podendo se relacionar com os estímulos de forma motivacional ao invés de um fator inibitório.  Tendo isso em vista, esse controle e domínio emocional com um acompanhamento adequado e plural se faz fundamental durante toda a trajetória. 

Apesar de todas as dificuldades enfrentadas por Richard e Brandi Williams, desde questões racias a financeiras, eles aparentam fazer um bom trabalho no desenvolvimento de Vênus e Serena. Incentivando as filhas a encontrar diversão e podendo viver a infância como crianças, nunca deixando de estimular o lado esportivo e competitivo das irmãs. O filme mostra que a família, o estudo formal e o comprometimento as formaram como são.

*José Rezende é Psicólogo Clínico e Esportivo (adulto e infantil) e Analista de Projetos da Condurú Consultoria.

A arte negra e a cultura afro-brasileira são alicerces da nossa sociedade

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Maxwell Alexandre. Foto: Divulgação.

por Reinaldo Calazans

Quando falamos em arte, a primeira coisa que vem a cabeça é a arte erudita que os museus do no país sempre mostraram, dando sempre evidencia aos artistas brancos. O apagamento de artistas negros e negras foi algo muito presente no Brasil.
Mas falar de arte e cultura e não contar a historia do nosso povo é algo tão errado. As contribuições do povo africano foram fundamentais para a construção das características e da personalidade da sociedade brasileira.

Na musicalidade o afoxé, congada, samba e a capoeira foram elementos essenciais e que perpetuaram e tem reflexo até os dias atuais. Nas pinturas os artistas sempre enfatizam a notoriedade da figura humana, o que demonstra uma preocupação com os valores étnicos.

Samuel de Saboia. Foto: Reprodução.

Já tivemos Arthur Timótheo da Costa (1882 – 1922), Estêvão Silva (1844- 1891), Wilson Tibério (1920-2005), temos Emanoel Araújo (1940) Rosana Paulino (1967) e Lidia Lisboa (1970). Nos dias atuais grandes artistas negros estão em processo de ascensão, o que nos orgulha demais e que perpetuam nossa arte e cultura.

Samuel de Saboia é artista plástico, um jovem pernambucano, autodidata e muito talentoso. Já teve o seu trabalho exposto em grandes cidades como São Paulo e Nova York, na Galeria Kogan Amaro (São Paulo, 2019) e “Beautiful Wounds”, na Ghost Gallery (Nova York, 2018). Sem dúvida um nome quente do mercado das artes e no mundo.

Lidia Lisboa nasceu no Paraná, é artista visual e de performance, trabalha muito bem com gravura, escultura contemporânea e cerâmica. Estudou no Museu Lasar Segall é uma mulher múltipla e inquieta. Seu trabalho é tão reconhecido no mundo da arte que já lhe rendeu alguns prêmios como Prêmio Maimeri 75 anos (1998) e II Prêmio Nacional de Expressões Culturais Afro-brasileiras (2012).

Lidia Lisboa. Foto: Dvulgação.

Maxwell Alexandre, pinta corpos pretos sobre o papel pardo, a “cor” parda foi usada durante muito tempo para velar a negritude no nosso país, o que contribuiu para essa desigualdade social e o racismo que vivemos até os dias de hoje. O jovem artista Maxwell Alexandre vive e trabalha na favela da Rocinha. E já carrega em seu currículo prêmio São Sebastião de Cultura. Também se Graduou em design pela universidade católica, a PUC-Rio, no ano de 2016.

Sim, somos os donos da nossa arte, é ela que nos fortalece. A nossa arte é fundamental para ajudar no combate ao racismo e a igualdade social. Somos múltiplos.

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