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Comédia ‘Barraco de Família’ estrelada por Cacau Protásio e Lellê ganha trailer

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Foto: Divulgação

A nova comédia da Santa Rita Filmes, “Barraco de Família”, estrelada por Cacau Protásio e Lellê, ganhou o seu primeiro teaser trailer. O filme é financiado e distribuído pela Synapse Distribution e Ledafilms e será lançado em breve nos cinemas.

Depois de ser cancelada por causa de um vídeo vazado, Kellen (Lellê), uma funkeira famosa arma o maior barraco ao tentar voltar às suas origens e precisará da ajuda da mãe Cleide (Cacau Protásio) para desenrolar sua carreira.

O filme reúne ainda talentos da música e da comédia, como Sandra de Sá e, pela primeira vez no cinema, o cantor Péricles e a atriz e cantora Jeniffer Nascimento, além dos humoristas Yuri Marçal, Nany People e Maurício de Barros. Também estreando em um longa-metragem, o jornalista e influenciador Hugo Gloss interpreta Rick, o vilão de “Barraco de Família”. Completam o elenco Robson Nunes, Eduardo Silva e Lena Roque.

A comédia é mais uma produção da dupla Maurício Eça (diretor) e Marcelo Braga (produtor), que, recentemente, realizaram os filmes “A Garota Invisível”, “A menina que matou os pais” e “O menino que matou meus pais” e “Hora de Brilhar”. Emílio Boechat e Lena Roque assinam o roteiro.

Assista ao trailer:

Como mulheres negras têm criado espaços para promover o coletivo

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Adriana Barbosa, Fernanda Ribeiro, Maitê Lourenço e Luana Génot.

Por Isadora Santos

A exemplo de nossos ancestrais, pessoas negras têm desenvolvido estratégias para sobreviver e prosperar, criando espaços e hackeando o sistema

“Pretos no topo”, “Favela venceu” e outras frases de efeito costumam circular pelas redes sociais, compartilhadas por pessoas negras orgulhosas de seus feitos e conquistas, que certamente devem ser comemoradas. Mas sabemos que se tratam de processos individuais e que, o ‘topo’, na verdade precisa ser um espaço muito maior que caiba o coletivo.

O caminho para conquistarmos espaços ainda é longo. Um levantamento realizado pela consultoria Gestão Kairós no início de 2022 mostrou que mulheres negras ocupam apenas 3% dos cargos de liderança nas empresas, no geral, as mulheres representam 25% dos profissionais nesses cargos, de acordo com a pesquisa.

Esperar que as instituições, tanto públicas, quanto privadas, promovam de maneira espontânea ações de inclusão e diversidade que aumentem o número de pessoas negras nesses espaços não nos levará longe. É por isso que vemos, desde sempre, pessoas negras articulando para construir suas próprias estratégias de desenvolvimento profissional e de negócios e promover toda a comunidade.

Como é o caso da Adriana Barbosa, CEO do PretaHub. Há 20 anos, Adriana criou a Feira Preta, dando espaço para que os pretos pudessem mostrar todo seu potencial de criação artística e de negócios. “Desde que comecei a Feira Preta, há mais de 20 anos, olhava os espaços e territórios e sentia a ausência da população preta. E a primeira atitude foi ocupar o espaço. Hackeamos os espaços, mas vejo a criação de outros pela população negra como estratégia importante para protagonizarmos as nossas histórias”, contou Adriana Barbosa em entrevista.

Para Fernanda Ribeiro, Presidente da Associação AfroBusiness, co-fundadora e CCO da Conta Black, uma fintech que busca contribuir para o fim da exclusão financeira e desbancarização da população pobre e negra, o fato de pessoas negras lutarem para criar espaços também significa que estamos ‘hackeando o sistema’ através de nossas próprias estratégias. “Eu acredito que tudo isso faz parte de um processo de “hackeamento do sistema” que está posto! Existe estranhamento, mas também existe transformação nesses ambientes e acredito que precisamos estar lá para trazer provocações. Mas entendo que essa “ocupação” precisa acontecer de forma estratégica e sem se desviar do propósito coletivo”, explica Ribeiro. 

Luana Génot, Fundadora e Diretora Executiva no Instituto Identidades do Brasil, o ID_BR, que se dedica a criar ações para a promoção da igualdade racial no Brasil, explica que “Mais do que ocupar um espaço, eu queria ter o poder da caneta. Eu acho que isso fez toda a diferença nas minhas tomadas de decisão de carreira. Não só por mim, mas pelas pessoas que eu entendi que tinham todo o potencial de liderança, mas que não exerciam seus plenos talentos por conta de um sistema opressor, racista, já pré-moldado”, explica.

“Hoje minha posição é a seguinte: eu acredito que é tão importante ocupar espaços já criados, quanto criar espaços. É uma coisa e outra. Até porque, para que a gente possa empreender é necessário que as condições nos sejam dadas”, complementa Génot.

Fundadora da BlackRocks, Maitê Lourenço percebeu na faculdade a importância de gerar oportunidades para pessoas negras na área de tecnologia e inovação. “Tornar isso minha missão profissional foi durante a faculdade e logo depois, quando entrei de cabeça na área de tecnologia/no ecossistema de startups com a BlackRocks, ali eu não vi que era somente importante e sim uma oportunidade de gerar negócios onde ninguém até então estava interessado em atuar (digo homens brancos com potencial de desenvolvimento de negócios que com todo pacto narcísico da branquitude não enxergam, até hoje, potencial onde nós enxergamos)”, explica. 

Nossas entrevistadas compartilham também a condição de serem mulheres negras em ambientes dominados por homens brancos, o que torna ainda mais desafiador o trabalho que realizam. Quando perguntamos a elas como é ser uma mulher preta e ter que criar espaços que reconheçam o talento e a excelência negra, o cansaço e a exaustão são quase um consenso entre elas. Afinal, criar espaços é necessário e estratégico para nós, mas isso não torna o trabalho fácil.

“Eu resumiria em algumas palavras: desafiador, cansativo, motivador e gratificante. Tudo ao mesmo tempo, inclusive. Ser uma mulher preta em um país racista e machista, como o que vivemos, já é uma prova diária para qualquer sanidade. Ser uma mulher preta, jovem, retinta em um ecossistema que tem uma representação imagética que é exatamente o oposto (homens, brancos e mais velhos) já diz muita coisa”, analisa  Fernanda Ribeiro.

Adriana Barbosa destaca a necessidade de se reconhecer a humanidade de mulheres negras nesses processos. “Cansativo e desgastante demais. Imagine estar lutando há 20 anos, quero parar de brigar, quero simplesmente viver. Não dá para nós mulheres negras estarmos sempre no front, na resistência, sermos guerreiras. Somos humanas e vulneráveis também”, complementa.

Luana Génot ainda destaca a importância de superar o racismo mostrando que podemos fazer o que quisermos. “Ser uma mulher negra, de pele preta, e ter que criar espaços que reconheçam o talento e a excelência negra e indígena para mim é uma forma da gente conseguir espalhar que nós somos muito maiores que o racismo”.

O que esperar dos espaços futuros

Luana Génot destaca que é importante lembrar de quem veio antes:  “Eu espero que não seja mais uma grande questão ver uma mulher negra ou indígena sendo a próxima governadora do Estado, a próxima CEO. E eu vou avançar, andar e percorrer o máximo de estrada que eu puder fazer em vida para ver isso acontecer, até porque é uma passagem de bastão. Se eu estou fazendo isso é porque tantas pessoas fizeram muito antes de mim e estão fazendo agora comigo”, afirma a diretora executiva do ID_BR.

“Eu acredito em um futuro onde as pessoas pretas não serão empurradas ao endividamento, perdurando uma lógica cruel. Cabe parafrasear Martin Luther King, que dizia que “apesar das dificuldades de hoje e de amanhã, ainda tenho um sonho”. Sinceramente não acredito que a Conta Black vai resolver esse problema sozinha, nem temos essa pretensão, mas acredito muito no poder das pequenas ações impactando as grandes transformações”, conta Fernanda Ribeiro.

Maitê Lourenço reforça o que espera para o futuro: “Eu sempre brinco que sucesso pra mim é ver que a BlackRocks ou qualquer outro empreendimento que eu tenha, não faça mais sentido de existir. Que as discriminações tenha acabado e que possamos estar proporcionalmente em todos os espaços de poder, que as instituições se preocupem realmente com equidade e entendam que ceder espaços, patrocinar ações e restituir o que foi retirado de direito seja algo comum e já feito por todos, eu espero no futuro ter sucesso”, conclui.

As mulheres negras que viajam o mundo sozinhas

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Fotos: Reprodução/Instagram

Rebecca Aletheia, 36, mora em Santo André (SP), já conheceu 32 países e é a idealizadora do coletivo Bitonga Travel, feito por e para mulheres negras que viajam ao mundo, com o objetivo de compartilhar experiências de afroturismo em grupo e fomentar encontros.

“É um coletivo de mulheres negras, latino-americanas e caribenhas e também de mulheres negras africanas, de países que falam a língua portuguesa, que traz narrativas de mulheres negras viajantes desde 2018”, explica a enfermeira.

Atualmente, o coletivo conta com 202 mulheres que colaboram de forma voluntária com os conteúdos nas redes sociais, site e canal do Youtube. Apesar de ser voltado para mulheres negras, Rebecca diz que é um coletivo muito diverso. “Tem muita diferença na questão social, modelos de vida. São mulheres ao redor do Brasil e do mundo. E quando a gente fala de Brasil, de América Latina, a gente não está falando só de São Paulo, a gente está falando de mulheres peruanas, dominicanas, com filhos, mais velhas, LGBT’s”.

A Rebecca costuma compartilhar detalhes das suas viagens nas redes pessoais e no blog. “Como chegar, o que fazer em cada lugar, principalmente por destinos não muito frequentados e por ter um olhar muito voltado pro afroturismo, com um olhar mais crítico e racial dessas questões, que nos aflige, o racismo, a questão de gênero e de classe”.

O coletivo eventualmente realiza viagens de mulheres negras presencial ou virtual. “Eu tive a oportunidade de fazer um encontro na Bélgica, no Royal Museum, o maior museu africano fora da África [localizado no Canadá]. A gente já fez encontro na Bahia, no Rio de Janeiro, em São Paulo. Vai muito além de viagem, é a gente poder ocupar espaços que muitas vezes nos é negado”.

Neste Julho das Pretas, o coletivo já tem um novo encontro marcado em Sorocaba, interior de São Paulo. “É um encontro em referência ao Dia da Mulher Negra, Latino-Americana e Caribenha, no dia 27 de julho, no quilombo Cafundó, que preserva a língua banto, assim como tem uma grande produção de produtos orgânicos na cidade”, diz Rebecca.

Como dica imprescindível, Rebecca destaca a importância de não se limitar por ser uma mulher negra e economizar dinheiro. “Acredito que a gente é muito podada, isso é muito ruim, enquanto mulheres, negras, administram nossos lares. Faça o seu plano, está tudo bem se você demorar cinco, dez anos pra realizar o seu sonho, mas que você consiga colocar ele no papel, que você batalhe para isso acontecer.

E completa: “Se preciso for, abra mão de algumas coisas que são pequenos luxos, que às vezes a gente não quer se desfazer por querer estar com todo mundo. Então talvez reduzir um pouco as saídas ou um pouco os nossos consuminhos de bebida ou aplicativos de carro. Esse dinheiro vai fazer muito sentido. A gente sabe que pra viajar, mesmo com pouco dinheiro, vai precisar”.

Atualmente a enfermeira está morando em Serra Leoa, onde deverá ficar por seis meses, junto a uma organização internacional em um projeto de abertura de uma maternidade.

“Esse é o décimo país africano que eu conheço, mas é o primeiro da África Ocidental, então pra mim é tudo novo. Eu costumo dizer que estou na região da “Iorubalândia”, região do iorubá que vai muito além da Nigéria. O lugar é muito bonito, as pessoas, a cultura e também toda essa riqueza do minério. Eu estou vivendo numa região um pouco afastada da capital, Kenema. Uma cidade que tem muito diamante, tem toda uma história, uma riqueza. Mas as pessoas vivem em um vilarejo, eu costumo dizer que eu vivo num quilombo”, detalha.

Ser uma mulher negra viajando o mundo costuma ter seus bônus e ônus. “Falo em nome do coletivo: é muito discrepante o apoio às produtoras de conteúdo de viagens mulheres pretas. É muito fácil você conviver em grupos com influenciadoras brancas recebendo milhões por produção de conteúdos e olhar para mulheres pretas do coletivo ou não, que não tem nenhum apoio e o apoio muitas vezes vem em forma de ‘a gente te dá visibilidade’. Mas no final do mês, a gente tem que pagar nossas contas, nosso aluguel e a gente também quer viajar, quer comer. É muito difícil esse reconhecimento”, desabafa Rebecca.

Para compartilhar mais das experiências e dicas para outras mulheres negras viajantes, Rebecca lançou o livro “EscreVIVER: carta de uma viajante negra ao redor do mundo“. “É um livro que a gente pode encontrar na Amazon, impresso e também na forma de vídeo áudio no YouTube. Sabemos que a população negra é a que menos lê, então trouxe ele em diversas formas para que a gente possa alcançar muitas outras pessoas, pra que a gente possa entender que viajar é preciso. Pra mim, ser uma mulher hoje negra viajando o mundo é um ato revolucionário. E eu me sinto em revolução”.

Viajando o mundo com a aposentadoria

Há cinco anos, a Josefa Feitosa Acioly, mais conhecida como , 62, se aposentou e fez uma mala para desbravar o mundo sozinha. Se desfez da casa, dos móveis e se despediu dos três filhos e de um neto para viver uma vida diferente do que a sociedade espera das mulheres na terceira idade.

Membro do coletivo Bitonga, atualmente ela está no Peru, se ambientando com o clima e a altitude do local. “A experiência não é muito boa pra quem está acostumada a climas como o nosso. Outra questão também é com a moeda. Sempre que me mudo de país preciso me organizar e ficar atenta. E agora principalmente com a nossa moeda tão desvalorizada”, explica.

As viagens podem ter destinos inesperados na rotina da Jô. “Eu não planejo nada. Eu sigo ao sabor do vento e das boas indicações que me chegam através de reportagens que leio e informações de pessoas que já estiveram em determinado local. Outra coisa que conta também é estar próximo do lugar onde já estou. Por exemplo: eu escolhi o rolê pela América Latina então vou seguindo o mapa Colômbia, Equador, Peru… Depois daqui eu ainda não sei. Os outros países eu já fui. Menos a Venezuela. Mas agora com a instabilidade tá difícil ir lá. Deixo pra outra vez”.

Até 2016, a aposentada trabalhava como assistente social no sistema prisional do Ceará e atuava em defesa das mulheres transexuais, sob constantes ameaças.

É com o dinheiro da aposentadoria que Jô custeia todas as viagens. “Eu me sinto ao mesmo tempo uma mulher forte, empoderada e privilegiada. Principalmente por ter vencido o medo de enfrentar preconceitos racial, xenofobia, machismo, idades e gêneros. Tenho orgulho de poder mostrar para outras mulheres como eu, que podemos ser e estar onde quisermos”.

Foram tantos países incríveis que ela conheceu, como a Índia, o Egito e o Vietnã, que a Jô tem a certeza de que existem mais lugares lindos para se ver como esses e quase não pensa em voltar para algum destino. Mas tem a certeza de um país que não pretende voltar, o Quênia.

“Fui confundida com imigrante ilegal e passei uma noite detida. Mesmo mostrando a cópia do passaporte não me liberaram. O episódio foi em Nairóbi e apagou todos os bons momentos que passei em Mombaça, que é uma cidade maravilhosa do país, onde cheguei a fazer voluntariado em um orfanato”, relata.

Jô também realiza palestras para falar das experiências vividas como mulher preta e de terceira idade viajante e participou inclusive do 3º Encontro Brasleiro de Mulheres Viajantes, realizado em São Paulo, em março deste ano.

Rompendo os padrões de avó que fica em casa para cuidar dos netos, Jô mantém uma relação a distância com a família. “Eles já se acostumaram. A tecnologia nos aproxima. Nossa relação é muito respeitosa. Mantenho contato diariamente com eles”.

“Transferiram a função das parteiras para os médicos, profissão historicamente masculina e elitista”, diz médica negra sobre violência obstétrica

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A ginecologista Cecília Pereira - Foto: Reprodução Instagram

Segundo o levantamento Nascer no Brasil da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), de 2012, aponta que 45% das mulheres atendidas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) sofrem violência obstétrica, enquanto da rede privada são 30% das pacientes. E de acordo com o Ministério da Saúde, 65,9% das vítimas são negras. 

Para a ginecologista Cecilia Oliveira Pereira, do grupo Ifé Medicina, “esses números oferecem apenas o fator da amostragem, mas entendendo a violência obstétrica como apropriação dos corpos e dos processos reprodutivos das mulheres por profissional de saúde, durante o período da gestação, do parto e do puerpério, e entendendo que, historicamente, a medicina é majoritariamente composta por profissionais brancos, há portanto estruturalmente, uma relação de iniquidade entre a figura que está no poder intelectual e técnico e a que está em situação de conformidade”.

A médica também alerta sobre os cuidados com o bebê, especialmente, quando a mãe vive em vulnerabilidade social. “É importante que os cuidados com o bebê não sejam de sua responsabilidade exclusiva. É necessário o apoio de toda a família, bem como de toda a sociedade e do Estado” e completa: “estratégias essenciais visam o fortalecimento de vínculo de confiança entre gestantes e os profissionais, especialmente garantindo pré-natal a essas pacientes, tentar oferecer recursos necessários à família de origem é uma maneira de promover a manutenção da criança do seio familiar quando possível, cuidado à saúde mental e fortalecimento a autonomia, estímulo ao alojamento conjunto, que é um direito e que favorece o estabelecimento efetivo do aleitamento materno”.

Dra. Cecília também explica que a maioria dos obstetras serem homens brancos impacta na falta de um parto humanizado. “Devido a institucionalização do parto, houve uma mudança no perfil ao atendimento a paciente, transferindo a função das parteiras para para os médicos, profissão historicamente masculina e elitista. Durante esse processo, a construção da relação médico paciente se baseava não só na necessidade pelo serviço de quem detinha o conhecimento, mas no privilégio estrutural que a profissão proporcionava”.

“O atendimento respeitoso à mulher percorre, portanto, a forma que a mulher é tratada em inúmeros aspectos pela sociedade, e especialmente, se tratando de mulheres pretas, de como essa sociedade trata a base da pirâmide sócio-racial”, finaliza.

Nesta semana, o público tem acompanhado o caso do anestesista Giovanni Quintella Bezerra que foi flagrado estuprando uma mulher enquanto ela estava sedada para realizar uma cesárea no Hospital Heloneida Studart, em São João de Meriti (RJ).

https://www.instagram.com/p/Cf6tQ-8DWp1/

Depois da repercussão das imagens, uma mulher negra também abriu um boletim de ocorrência por suspeitar também ter sido vítima de violência sexual. Na ocasião, ela ainda perdeu o filho que sequer conseguiu pegar nos braços devido a anestesia em excesso. A polícia civil informou que está investigando 30 possíveis casos de estupro de pacientes deste médico.

Além do crime de abuso sexual, também pode ser considerado uma violência obstétrica negar o direito a acompanhante, garantido por lei durante todo o processo do parto e pós parto, agressão física e verbal, discriminação racial e negação de atendimento, por exemplo.

Em caso violência obstétrica, a vítima pode realizar a denúncia: “no próprio hospital através de ouvidoria e auxílio do serviço social hospitalar, além de órgãos públicos como a Defensoria Pública, Disque Saúde (136) ou Disque violência contra a Mulher (180), ainda é possível acionar o Conselho Regional de Medicina e, para apurar a existência de algum crime, como lesão corporal ou homicídio, por exemplo, a vítima deve procurar a polícia ou o Ministério Público. Em caso de ser beneficiária de plano de saúde a denúncia pode ser feita na ouvidoria da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS)”.

“O movimento de mulheres negras vai crescer e se juntar ao de mulheres indígenas”, prevê Jaqueline Fernandes, do Festival Latinidades

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Foto: Arquivo Pessoal.

Em 2022 o encontro de mulheres negras que criou o Dia da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha completa 30 anos. Durante este período, muitas iniciativas de mulheres negras têm se multiplicado para popularizar a data no Brasil e, principalmente, viabilizar e articular conquistas políticas para as mulhers negras do Brasil e da América Latina.

Há 15 anos, o Festival Latinidades se constituiu como um grande marco que tem levado a data ao conhecimento de mais e mais pessoas no Brasil e fortalecido as articulações com a América Latina por meio de convidadas que, ano a ano, trazem visões e ideias sobre o que tem sido feito e o que ainda pode ser feito por e para as mulheres negras da região.

Às vésperas da realização da 15ª edição do Festival, o MUNDO NEGRO conversou com Jaqueline Fernandes, idealizadora do Festival e CEO do Instituto Afrolatinas. Para ela,ainda falta muito para que a data seja, de fato, popular no Brasil. Para o futuro, ela enxerga um crescimento do movimento de mulheres negras e mais aproximação com a luta das mulheres indígenas. “Acredito que esse movimento de mulheres negras nos próximos anos vai crescer grandemente e que ele vai se juntar com movimentos de mulheres indígenas, que a gente vai poder falar daquilo que Lélia Gonzalez já ensinava pra gente, que é a nossa “Améfrica Ladina”, considerando as nossas especificidades, considerando tudo aquilo que pessoas negras e indígenas puderam construir juntas, acredito que isso se dê de forma cada vez mais unida”, vislumbra.

Confira a íntegra da entrevista:

Como se deu o processo de “popularização” da data do Dia da Mulher Negra Latinoamericana e Caribenha no Brasil?

Em primeiro lugar, eu acho que é importante dizer que essa data ainda não é popular no Brasil, a gente tem uma dimensão da popularização da data a partir da agenda dos movimentos sociais, dos movimentos negros, especialmente da agenda dos movimentos de mulheres negras. As mulheres negras têm articulado com muita potência as pautas e os ativismos de forma que parece que essa pauta é bem mais popular do que de fato ela é. 

A gente tem presenciado na prática um crescimento dessa data, mas eu vejo que ela tem um caminho muito longo pra realmente a gente poder falar em popularização, ou seja, uma data que consiga reverberar da mesma forma que o orgulho LGBT ou que a própria consciência negra.

Na prática, quando a gente procura as marcas, quando a gente procura as pessoas e a população em geral ainda não tem conhecimento, tanto da data quanto dos motivos pelos quais ela foi articulada, a história que está por trás da criação desta data. Então, antes de tudo acho que é bem importante dizer que eu não dou essa data por popularizada no Brasil, eu acho que isso é um processo e que existe um caminho longo ainda para que essa data alcance o nível de reconhecimento e visibilidade que ela merece.

Como você teve contato com as informações sobre essa movimentação de mulheres negras e decidiu criar o Festival?

O meu primeiro contato com a existência de um dia da Mulher Afro-Latina-Americana e Caribenha foi no início de 2007, quando eu fazia parte do Fórum de Mulheres Negras do Distrito Federal. Chegou até mim a informação de que mulheres negras se reuniram na República Dominicana e que esse encontro originou a criação da rede de mulheres Afro latino americanas e Afro caribenhas e também do dia 25 de julho. Como produtora cultural eu fiquei encantada com a ideia de um evento propor um marco tão significativo quanto a criação do dia da mulher negra. 

Eu sempre ouvi as pessoas dizendo que evento é “vento”, de uma forma pejorativa, como se fosse algo que não deixasse nada, que não deixasse legado. As pessoas dizem “por que envolver tantos recursos e gastos para algo que é tão passageiro como um evento?”. Eu acho que evento é “vento” sim porque ele espalha, porque ele comunica, porque ele tira as coisas do lugar e transforma. Nessa perspectiva eu fiquei muito provocada pelo fato de ser justamente num evento a elaboração de uma data como essa. 

Em 2007, era uma pauta ainda quase que completamente desconhecida para a maior parte das pessoas, claro que eu diga a maior parte porque existia uma rede que inclusive participou da construção desse evento em 1992. A gente teve uma Delegação do Brasil, tiveram mulheres de organizações importantes como Geledés, Instituto Odara, Crioula, que fizeram parte disso, então essas organizações já vinham pautando a data. Assim, eu fiquei com muito desejo de criar algo em torno do 25 de julho para reverberar as denúncias relacionadas a situação da mulher negra na América Latina mas, também ao mesmo tempo celebrar as potências e as nossas capacidades artísticas, intelectuais e os nossos fazeres.

Quando o Latinidades chega, ele chega ao mesmo tempo querendo popularizar esta data e querendo também marcar o Distrito Federal com uma rota de eventos de cultura negra e mostrar que aqui a gente tem uma população negra de 58% majoritária que é invisibilizada dentro e fora da capital.

Qual você entende que é o grande desafio enfrentado pelas Mulheres Negras na atualidade?

Os desafios que as mulheres enfrentam na atualidade, infelizmente de forma estrutural, não mudaram, são os mesmos. Infelizmente continuamos na base da pirâmide, continuamos em grande maioria nos subempregos, na baixa remuneração, na jornada tripla  e com os nossos saberes não reconhecidos. A contribuição da mulher negra para a sociedade ela não é reconhecida em nenhum nível, é uma uma grande luta, e ao mesmo tempo as mulheres negras como maioria da população, como arrimos de família, como responsáveis por várias famílias, elas tem a solução para os problemas emergenciais da sociedade, só que a combinação perversa entre o racismo e o machismo estrutural fazem com que as nossas soluções não sejam consideradas em nenhum nível.

O desafio que está posto é a superação de fato das desigualdades estruturais baseadas em gênero e raça e que se refletem em todo tipo de violência, em todo tipo de gente, falta de acesso à direitos e políticas públicas e a condições básicas de dignidade de existência e sobrevivência. Acredito que os desafios não mudaram, porque são estruturais, e eles só vão mudar quando a gente realmente conseguir mexer na estrutura. É um desafio enorme sobreviver ao racismo, ser atingida diariamente enquanto ao mesmo tempo a gente constrói essas soluções para a sociedade, porque de uma forma ou de outra, mesmo não estando nos espaços de poder, nós estamos na base provocando impacto. Às vezes sendo as únicas responsáveis por provar esses impactos sociais econômicos na base, e ao mesmo tempo sendo alvos.

Passamos por um longo processo que envolveu a maior entrada de pessoas negras nas universidades, disputas para maior presença de pessoas pretas na mídia, nas propagandas e a discussão da temática racial nos grandes meios. No entanto, essa visibilidade não necessariamente garantiu a diminuição do racismo na sociedade. Como você enxerga essa dicotomia?

Na verdade eu não diria dicotomia, eu acredito que as ações afirmativas nas universidades, nos meios de comunicação, no mercado de trabalho, em todos os espaços em que nós conseguimos implementá-las, elas são ações reparatórias que fazem parte de um conjunto de políticas afirmativas, elas não são a única solução viável para que a gente consiga de fato resolver esse prejuízo histórico que foi colocado em cima das pessoas negras, brasileiras, sobretudo das mulheres negras. Então de fato quando a gente fala que o racismo e o machismo são sistêmicos e quando a gente fala dessa interseccionalidade, o que estamos dizendo é que tudo isso está presente em todas as esferas da sociedade de uma forma extremamente profunda e arraigada. Então, 10 anos de políticas afirmativas é só o começo do que pode ser feito para esse prejuízo histórico que começou a ser modelado desde o dia “um” do Brasil. 

Assim, a implementação de 10 anos de algumas políticas afirmativas e os avanços que a gente teve, não dicotomiza exatamente com o fato de hoje o racismo ser ainda tão presente na sociedade, é algo que a gente deve cuidar porque é cultural, porque é cotidiano. Precisamos de fato ampliar essas ações afirmativas e que elas sejam um conjunto de ações. As cotas foram uma delas importantíssimas, que precisam continuar porque 10 anos não dão conta de mais de 500 desse sistema escravocrata que ainda vem sendo perpetuado no Brasil.

O que você enxerga para os próximos 30 anos das mulheres negras latinoamericanas e caribenhas no que diz respeito a novas conquistas e avanços?

Eu tenho citado muito Vilma Reis, quando ela fala que “o movimento de mulheres negras é um movimento social mais bem-sucedido no Brasil”, no sentido de que ele “empurra a esquerda mais para a esquerda”, e ele pauta tudo aquilo que é importante olhar, incidir e transformar na sociedade. Acredito que esse movimento de mulheres negras nos próximos anos vai crescer grandemente e que ele vai se juntar com movimentos de mulheres indígenas, que a gente vai poder falar daquilo que Lélia Gonzalez já ensinava pra gente, que é a nossa “Améfrica Ladina”, considerando as nossas especificidades, considerando tudo aquilo que pessoas negras e indígenas puderam construir juntas, acredito que isso se dê de forma cada vez mais unida. A potência das mulheres negras, dos movimentos de mulheres negras na América Latina vai se tornar algo impossível de não considerar cada vez mais e vai vir junto com alianças fortíssimas com as parentas indígen

Djassi Africa analisa startups e negócios digitais de afro-empreendedores em Portugal

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Foto: Divulgação

Durante seis semanas, Djassi Africa, uma organização que investe em inovação digital, em parceria com outras entidades do ecossistema de inovação em Portugal, recolheu dados para um estudo detalhado que servirá de ponto de referência para caracterizar os empreendedores africanos e afrodescendentes do país.

O questionário AFROPRENEURS.PT pretende mapear e analisar os dados referentes à diversidade no ecossistema de startups e negócios digitais em Portugal, identificar quais são os desafios enfrentados pelos afro-empreendedores, estudar o impacto dos seus negócios, e disponibilizar estratégias e ferramentas para estimular a integração destes negócios de afro-empreendedores no ecossistema de inovação.

O foco do questionário é: corrigir a falta de dados relevantes em Portugal sobre afro-empreendedores e os seus negócios; estabelecer o ponto de partida para o desenvolvimento de estratégias, programas e incentivos de apoio aos afro-empreendedores; conhecer as áreas de atuação e impacto das startups e negócios digitais de afro-empreendedores; aumentar a visibilidade de afro-empreendedores no ecossistema de inovação; incluir afro-empreendedores em redes de apoio e investimento; e reduzir as barreiras de entrada no ecossistema a potenciais afro-empreendedores com ideias e projetos inovadores.

Com mais de 2.159 startups registradas, Portugal está 13% acima da média europeia no número de startups per capita, estando em número 12, tanto no Top 100 dos ecossistemas emergentes, como na lista dos países mais inovadores da União Europeia. Tanto em termos geográficos como culturais, Portugal é um dos países europeus mais próximos de África, formando, com seis nações africanas, o Brasil e Timor-Leste, o mundo lusófono.

Nos últimos cinquenta anos, Lisboa tornou-se a cidade onde estas culturas se encontram. Todos os anos, elevados números de estudantes oriundos do continente africano terminam os seus estudos em Portugal. Mesmo assim, numa avaliação inicial da Djassi Africa, os números indicam que existem menos de 1% de afro-empreendedores no ecossistema de startups em Portugal, e a informação referente ao grupo é muito limitada, ou praticamente inexistente.

A verdade é que existem limitações no acesso às redes e ao capital necessário para o crescimento dos negócios destes empreendedores. Segundo a Google, “os black founders desempenham um papel fundamental na economia europeia, resolvendo desafios com agilidade, resiliência e tecnologias inovadoras. Mas sabemos que estes não têm as mesmas oportunidades e apoio que outros grupos, apesar do fato de 77% das tech startups lideradas por black founders gerarem receitas elevadas, e criarem uma média de 5,4 empregos cada uma”.

Em 2021, o Fundo da Google para startups lideradas por afro-empreendedores (Google Black Founders Fund) investiu R$ 2 milhões em 30 startups na Europa. Em 2022, está sendo investido o dobro do montante de R$ 4 milhões em 40 startups lideradas por afroempreendedores. Desde 2021, as startups passaram a angariar R$ 81 milhões em financiamento de follow-up, contrataram mais de 100 funcionários, e aumentaram as receitas em mais de 81%.

Estudos e publicações têm demonstrado repetidamente que as empresas fundadas por equipes com diversidade superam a performance das equipes homogêneas. Segundo a Forbes, “as empresas de founder ‘s de origens diversas lucram 30% mais em múltiplo capital investido (MOIC) quando são adquiridas ou tornadas públicas”.

Está aberto o questionário sobre os afro-empreendedores em Portugal. Startups e negócios digitais liderados por afro-empreendedores, bem como indivíduos com ideias de negócio inovadoras são encorajados a participar. A pesquisa irá decorrer durante um período de seis semanas.

“O grande desafio é conseguir representar e honrar a população negra da melhor forma possível” diz a apresentadora Valéria Almeida

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Foto: Mariana Pekin.

Apresentando o “Bem Estar” há dois anos e celebrando 16 anos de profissão, ela mantém o brilho nos olhos ao conhecer a história de seus entrevistados.

Se estrear uma nova função não costuma ser algo simples, tampouco se isto acontece em meio à maior pandemia já vivida no século. E foi neste contexto que a apresentadora Valéria Almeida deu seus primeiros closes diante das câmeras do “Bem Estar”, na TV Globo, tendo a importante função de comunicar à população uma gama de assuntos relacionados à saúde e qualidade de vida quando todos aguardavam possíveis soluções para a Covid-19. Celebrando dois anos como uma das apresentadoras à frente do quadro, atualmente integrante do matinal “Encontro”, a profissional nascida em Santos tem se destacado ao humanizar as notícias e a afinar a troca com seus entrevistados.

“Minha estreia na função aconteceu em setembro de 2020, ou seja, no auge da pandemia. Isso deixou a tarefa ainda mais complexa e delicada, porque era o momento de explicar pra população o que estava acontecendo de um jeito que fosse compreensível, sem causar alarde, e que estimulasse as pessoas a se protegerem e protegerem os seus. Então, eu vivi dois desafios: o de estrear como apresentadora, porque toda a minha experiência na TV tinha sido como repórter, e acessar as pessoas que estavam em casa de um jeito claro e empático, para provocar um impacto positivo na saúde coletiva”, relembra a santista de 39 anos.

O primeiro contato profissional com o matinal, contudo, começou em 2016, quando Valéria migrou do “Profissão Repórter” – onde fez sua estreia na TV e passou cinco anos e meio contando histórias focadas, principalmente, em questões sociais e em Direitos Humanos – para o programa cujos temas são relacionados à saúde.  Se de um lado havia o peso da responsabilidade, do outro brilhava o prazer de terem confiado a ela essa missão.

“Acho que a minha forma de falar com as pessoas, com empatia e leveza, contribui para que o público acesse as informações, que muitas vezes são dados científicos e complexos, que traduzo para que qualquer pessoa entenda e se cuide. Sempre tento fazer com que a comunicação seja clara tanto para quem é pós-doutorado, quanto para quem não teve acesso à educação e não foi alfabetizado. Todo mundo precisa saber como se cuidar e de que forma levar uma vida com qualidade!”, ressalta.

E Valéria fala disso com propriedade. Criada por avós que não tiveram acesso à educação, a jornalista sabe o valor de proporcionar acesso a informações de qualidade a todos. “Certa vez, me escreveram dizendo que gostavam de me assistir porque parecia que eu estava interessada nas pessoas. Eu achei essa mensagem muito importante e considero o melhor feedback que eu poderia receber como comunicadora, porque o que a pessoa enxergou e interpretou ali é o que de fato eu faço: olho pras pessoas com interesse, porque considero um privilégio ter a confiança de alguém que está me contando sua história, que está me permitindo compartilhar um pouco da sua vida com as outras pessoas”, salienta Valéria, que tem 16 anos de profissão.

Atuante ainda como palestrante, mestre de cerimônias e mediadora em eventos corporativos, a jornalista se especializou em gestão de produção e negócios audiovisuais e em direitos humanos, responsabilidade social e cidadania global. Produtora de conteúdo do especial “Falas Femininas”, da TV Globo, em 2021 Valéria assinou o roteiro e a produção de “A vida depois do tombo”, série documental sobre Karol Conká no GloboPlay. No mesmo ano, pôs seu nome no roteiro e apresentou o especial “Falas Negras”. Em paralelo, mantém ativa uma produtora de conteúdos audiovisuais, a Kanimambo Filmes, para tocar seus projetos autorais.

E o caminho até aqui foi longo. Mulher negra que nasceu e cresceu na periferia de Santos, Valéria ouviu desde cedo de sua avó que, se quisesse ser livre de verdade, deveria estudar e não abandonar o estudo por nada. “Meus avós não tinham condições de arcar com os custos da minha faculdade. Para acessar e me manter no Ensino Superior, fiz faxina, comi em albergue, aceitei bilhetes de transportes públicos doados por professores. É muito valioso ter conseguido chegar no lugar que cheguei e ter conquistado um espaço como apresentadora, jornalista e repórter numa das maiores empresas de comunicação do mundo. Estar hoje neste lugar de destaque é de um valor imenso!”, orgulha-se a apresentadora, que já trabalhou como assessora de imprensa e fotógrafa da revista Carta Capital.

Consciente da importância da sua representatividade para milhares de pessoas, Valéria segue firme na missão. “O grande desafio é conseguir representar e honrar a população negra da melhor forma possível e aproveitar o espaço para dar visibilidade a temas que muitas vezes não seriam vistos ou priorizados. Então, não importa o tema que eu venha a abordar, faço questão de usar tudo que tenho de bagagem pessoal na minha fala e na minha postura, para que eu tenha uma comunicação coerente com o que sou e com o que acredito, porque isso é um diferencial que não se conquista na universidade”, encerra.

“Estou cansado, só preciso de uma pausa”, diz Jay-Z ao negar rumores de aposentadoria

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Foto: AFP.

Jay-Z não irá se aposentar. Pelo menos foi isso que o astro de 52 anos revelou numa recente entrevista para o talk show apresentado por Kevin Hart. Segundo Jay, embora “não esteja ativamente” fazendo música, ele “nunca” dirá que está aposentado. O último álbum lançado pelo cultuado rapper foi lançado em junho de 2017. De lá para cá, ele apareceu em algumas parcerias pontuais, mas nada mais que isso.

“Eu tentei isso [aposentadoria]. Eu sou terrível nisso. Eu só preciso de uma pausa. Mas eu realmente pensei que estava realmente esgotado na época”, explicou o rapper ao citar sua pausa após 2017. “Eu estava lançando um álbum todo ano – 1997, 1998 – e então entre isso, trilhas sonoras, álbum de outras pessoas, ROC-A-FELLA, turnês consecutivas. Estou cansado”.

Jay Z no programa “Hart to Heart”, de Kevin Hart. Foto: Reprodução.

Questionado sobre a possibilidade de um novo álbum ainda neste ano, Jay-Z revelou que sequer começou a produzir ou pensar num disco. “Eu não estou fazendo música, ou fazendo um álbum, ou tendo planos de fazer um álbum, mas eu nunca quero dizer que estou aposentado. Não sei o que vem a seguir“, destacou ele. “É um presente, e quem sou eu para desligar isso? Estou aberto a qualquer coisa. E pode ter uma forma diferente, uma interpretação diferente. Talvez não seja um álbum. Talvez seja. Eu não faço ideia. Vou deixar em aberto”.

Ainda em entrevista a Kevin Hart, o rapper destacou que não costuma cobrar valores financeiros para realizar parcerias musicais. A prática é bastante comum dentro da indústria. “Sempre foi sobre o relacionamento que construo com as pessoas, sobre talento”, disse o astro do rap. “Eu nunca cobro por isso, sempre tento ser direto”.

A fome tem cor

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Foto: João Roberto Riper.

Por Kelly Baptista

Não à toa, a insegurança alimentar voltou a ser pauta nos noticiários do país. Apenas quatro em cada dez famílias brasileiras têm acesso pleno à alimentação e 33,1 milhão de brasileiros passam fome, de acordo com o 2º Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil, publicado em junho de 2022.

“Insegurança alimentar” é um termo utilizado quando uma pessoa não tem acesso regular e permanente de alimentos em quantidade e qualidade suficientes para sua sobrevivência.

Os dados do último Inquérito, elaborado pela rede Penssan, com apoio da Oxfam Brasil e outras organizações, mostram que a situação piorou muito em comparação à publicação anterior, de 2021. Causas como aprofundamento da crise econômica, segundo ano da pandemia de covid-19 e a continuidade do desmonte de políticas públicas, que promoviam a redução das desigualdades sociais da população, são apontadas como razões cruciais para o aumento da fome.

Ainda que a insegurança alimentar tenha avançado em todo o país, as desigualdades regionais seguem acentuadas, com as regiões Norte e Nordeste como as mais afetadas pela fome. No Brasil, temos 15,5% dos domicílios com pessoas passando fome, no Norte esse índice sobe para 25,7%, e, no Nordeste, 21%.

Dentro deste recorte regional, observamos também o de gênero, raça e grau de escolaridade: seis em cada dez domicílios cujos responsáveis se identificam como pretos ou pardos vivem algum grau de insegurança alimentar. Já nos domicílios em que os responsáveis se autodeclararam brancos, mais de 50% têm segurança alimentar garantida.

Em 1960, no livro autobiográfico “Quarto de Despejo: Diário de uma favelada”, Carolina Maria de Jesus já denunciava que a fome estava presente no Brasil e como o acesso à alimentação, um direito básico de todo cidadão, era negado à ela e seus três filhos. Neste cenário, a escritora ressaltou que “o maior espetáculo do pobre da atualidade é comer”. Pois bem, estamos em 2022 e a história se repete.

Gregory Robinson, o engenheiro negro responsável pelo sucesso do Telescópio Espacial James Webb

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Gregory Robinson. Foto: Shuran Huang para o The New York Times.

O engenheiro responsável pelo sucesso de um dos projetos científicos mais ambiciosos da história é um homem negro. Aos 62 anos, Gregory Robinson se tornou o rosto principal do Projeto Espacial James Webb. Nesta última semana, muito se falou sobre o fascínio e a grandiosidade das imagens inéditas divulgadas pela NASA. Os registros, descritos como históricos para a ciência, revelaram novas possibilidades de pesquisa sobre a origem do espaço.

O Telescópio James Webb é capaz de registrar fenômenos que ocorrem a mais de 13 bilhões de anos-luz. Em termos de análise, ele pode observar as primeiras estrelas e galáxias que se formaram no universo, marcando, segundo a NASA, o alvorecer de uma nova era na astronomia.

O Telescópio Espacial James Webb produziu a imagem infravermelha mais profunda e nítida do universo distante até hoje. Foto: NASA, 2022.

Gregory Robinson foi escolhido para assumir o projeto espacial em 2018. À época, as peças do telescópio Webb e seus instrumentos estavam completos, mas precisavam ser montados e testados. A pesquisa, financiada pelo governo americano e com o apoio de centenas de pesquisadores pelo mundo, vinha sofrendo uma enorme pressão, afinal de contas, o projeto teve início em 2002 e por conta de diversos problemas, demorou décadas até conseguir sair do papel.

Ainda no início, o projeto tinha uma previsão de orçamento de até US$ 3,5 bilhões para um lançamento em 2010. Porém, quando quando o momento chegou, a data de lançamento mudou para 2014 e os custos estimados aumentaram para US$ 5,1 bilhões. Com perspectivas irreais, o projeto seguiu em atrasos até 2018, quando foi orçado em US$ 8 bilhões. Em março daquele ano, Gregory assumiu a liderança do Webb com o objetivo de, finalmente, colocar o telescópio no espaço.

Dentro da NASA, Gregory é uma raridade: um homem negro entre os gerentes de alto nível da agência. “Certamente as pessoas me veem nesse papel como uma inspiração”, disse ele ao The New York Times. “É sobre reconhecer que elas também podem estar lá”. De acordo com o profissional, muitos engenheiros negros trabalham dentro da NASA nos dias atuais, mas o número deveria ser maior. “Certamente não existem tantos quanto deveria haver e a maioria não ocupa posições de alto nível. Temos muitas coisas para tentar melhorar”, destaca ele.

Gregory Robinson. Foto: Shuran Huang para o The New York Times.

Gregory começou a trabalhar na NASA em 1989 e, ao longo dos anos, precisou estudar profundamente o processo em torno das vibrações espaciais e os contínuos testes de manutenção das máquinas no espaço. Quando Robinson assumiu o cargo de diretor do programa, a eficiência do cronograma de Webb – uma medida que analisa o ritmo de trabalho comparado ao que havia sido planejado – era de apenas 55%, um número relativamente baixo para os padrões de engenharia. Em poucos meses, após a liderança de Gregory, a eficiência do projeto chegou a 95%, com melhores comunicações e melhores resultados.

Registro espacial da formação de estrelas NGC 3324, conhecida como Nebulosa Carina. Foto: NASA.

Quando o James Webb finalmente foi lançado, em dezembro de 2021, tudo ocorreu sem problemas, marcando a era de sucesso do projeto espacial. Hoje, acompanhamos novas descobertas e novas imagens, que marcam uma evolução impressionante para a ciência contemporânea. “Um momento histórico para a ciência e a tecnologia, para astronomia, exploração espacial e para toda a humanidade”, destacou com entusiasmo, ao citar o projeto Webb, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden.

*Com informações do The New York Times.

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