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Ilê Aiyê, bloco afro mais antigo do Brasil, traz turnê comemorativa antirracista para SP

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Foto: Gustavo Mendes

“Ilê Aiyê: Que Bloco é Esse?” está programado para 18 de setembro, às 19h, no Cine Joia

Ilê Aiyê, bloco afro mais antigo do Brasil, desembarca em São Paulo para única apresentação comemorativa dos seus 47 anos de música e luta por igualdade racial no país. O show da Band’Aiyê está programado para o dia 18 de setembro, às 19h, no Cine Joia. O espetáculo faz parte da turnê “Ilê Aiyê: Que Bloco é Esse?”, que contemplou a circulação por seis cidades brasileiras. Os ingressos já estão disponíveis para venda, com preços populares de a partir de R$ 25, no site.

Quando a performance poderosa do Ilê Aiyê ganhar o palco do Cine Joia, o público vai poder conferir a força musical e a explosão estética de um bloco que revolucionou a luta antirracista na Bahia, no Brasil e no mundo.  No ritmo de surdos e repiques, nos passos da dança afro e no figurino vibrante nas cores vermelho, amarelo e branco, um espetáculo rítmico-musical e visual acontece, mostrando toda a potência da cultura afro-brasileira.

Também conhecido como O Mais Belo dos Belos, o Ilê Aiyê tem na África a sua grande fonte de inspiração. O show é uma mistura de clássicos, a exemplo de “Pérola Negra”, “Negrume da Noite” e “O Mais Belo dos Belos”, além de canções mais recentes. “Será um show festivo que faz alusão ao trabalho de 47 anos do bloco, tempo em que o Ilê vem difundindo amplamente a sua mensagem de resistência e valorização da cultura negra por onde passa”, comenta o produtor artístico Sandro Teles.

“A expectativa é grande e das melhores para essa turnê. A pandemia deixou as pessoas com muita saudade de ver o Ilê Aiyê, e os músicos e cantores estão celebrando o fato de poder voltar a trabalhar e se apresentar. Está sendo importante mostrar mais uma vez ao Brasil a força da música afro baiana. A última vez que fizemos uma turnê pelo país foi em 2001, que também teve o apoio da Petrobras. Colocar o pé na estrada de novo nos traz grande alegria”, comenta o presidente do Ilê Aiyê, Antônio Carlos Vovô.

Ilê Aiyê – Que Bloco é Esse?” é uma realização do Ilê Aiyê em parceria com a Caderno2 Produções e Multi Planejamento Cultural via Lei de Incentivo à Cultura da Secretaria Especial da Cultura, Ministério do Turismo, com patrocínio da Petrobras. O projeto foi selecionado pelo Petrobras Cultural através da chamada de música 2018. Durante a pandemia, o projeto promoveu Oficina de Percussão para Crianças e uma apresentação em Salvador, ambas transmitidas online, retomando no início deste ano as atividades presenciais.

SERVIÇO:

“Ilê Aiyê: Que Bloco é Esse?”

Local: Cine Joia (Praça Carlos Gomes, 82, Sé)

Quando:  domingo, 18 de setembro

Horário:  19h

Ingressos: A partir de R$ 25

Vendas: https://cinejoia.byinti.com/#/event/ileaiyequebloco

Dia do Sexo: o prazer sob o olhar de uma mulher negra

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Foto: arquivo pessoal

Jornalista Monique dos Anjos, criadora da página Contos Erógenos, fala sobre a diversidade de seus contos e destaca a importância de colocar diferentes corpos e perspectivas no centro de suas histórias

O Dia do Sexo é uma data comercialmente criada por uma marca de preservativos, mas que com o passar tem ganhado novos significados e gerado reflexões importantes sobre a sexualidade. Escritora, jornalista, consultora de comunicação antirracista e mãe de três filhos, Monique dos Anjos resolveu colocar a mulher negra no centro de seus contos eróticos, criando narrativas que mostram o despertar para o prazer sexual a partir das palavras, do respeito aos limites do corpo e do autoconhecimento.

Criadora da página Contos Erógenos, ela nos contou que a ideia de criar uma página de contos voltadas para mulheres surgiu da paixão pela escrita e da experiência no jornalismo em escrever histórias do universo feminino. “Escrever sempre foi minha paixão. Além de ser algo que faço profissionalmente a escrita também é uma forma de terapia para mim, o jeito que eu encontro para colocar os pensamentos e, principalmente, sentimentos em ordem. Somado a isso tem o fato de eu trabalhar produzindo conteúdo sobre o universo feminino desde os tempos da universidade. Comecei como repórter de revistas femininas em 2005 e migrei para a internet em 2008 onde segui pesquisando questões de gênero. O que faltava para formar a base dos meus contos eróticos para mulheres era uma melhor compreensão das questões raciais. Tanto que ao decidir escrever esses textos não fui atrás de informações sobre sexualidade, mas sim de ancestralidade, sobre a vida da mulher negra e como ela é vista na sociedade”, conta.

“O ponto de virada, porém, foi um comentário racista e sexista que ouvi de um homem branco durante um curso que eu ministrava justamente sobre racismo. Ele falou sobre como podia elogiar mulheres perto da esposa contanto que essas mulheres fossem negras, foi algo difícil de digerir e só depois que eu tive um melhor entendimento do contexto é que me libertei do sentimento de constrangimento. Eu entendi que essa manifestação racista era algo bem comum na nossa sociedade que vê a mulher negra como propriedade. Estão sempre tentando ditar como devemos viver nossa sexualidade. Se por um lado somos tidas como hiperssexuais, num claro resquício dos tempos coloniais onde, não esqueçamos, éramos forçadas a satisfazer os colonizadores, por outro também vivemos a margem das relações afetivas. Tanto que somos o grupo que mais vive em celibato. Foi aí que veio a decisão: eu tenho o direito de viver e expressar minha sexualidade da forma que eu desejo, sem passar pelo julgamento ou determinação de outras pessoas e acredito que esse é um direito de todas nós”, continua a escritora.

Foto: arquivo pessoal

Para além da expressão da própria sexualidade, Monique revela que as histórias que escreve em seus contos também ilustram desejos conhecidos de outras pessoas: “Eu costumo falar que eu escrevo os contos de uma forma muito natural e espontânea. Me perguntam quanto tempo eu levo para produzir e é um processo rápido porque o simples fato de eu ver uma troca de olhares na rua, de eu entrar num lugar, em uma adega e uma pessoa se aproximar e já imagino ‘Nossa, dali sairia um roteiro inteiro’. Então tudo e muito me inspira, e ao mesmo tempo eu consigo escrever enquanto tem Galinha Pintadinha tocando ali ao fundo. Aí você pergunta quanto disso traz da minha própria sexualidade. Eu acho que não dá para a gente determinar onde começa a minha história, as minhas intenções e onde vai a história das personagens. Até porque eu devo ter quase 30 contos publicados com muitos detalhes, com situações que às vezes envolvem trio, às vezes são duplas, às vezes ele e ela, ela e ela, ela ele e ele, ela ela e ele. Ou seja, tem uma série de combinações que na verdade são resultados de muito do que eu conheço. De coisas que eu já li, de texto da Audre Lorde, de texto de outras mulheres brasileiras, inclusive, que estão produzindo conteúdo erótico, de filmes. Já assisti a um filme que me inspirou e falei ‘nossa, vou criar uma outra cena, uma outra situação com esses personagens’. Então, é aí que está a representação da minha sexualidade, porque tudo passa de certa forma por coisas que me interessam. Eu não escreveria nada que para mim soa violento ou que passaria dos limites do que eu considero saudável. Mas ao mesmo tempo eu já brinquei com meu marido de mandar para ele um texto, meu primeiro leitor, eu falo: ‘O que você achou?’ E digo: ‘Não se atreva a reproduzir nada disso, tá? Isso tá no conto’. Até porque eu acho que seria muito injusto eu usar como mecanismo de expressar o que eu tenho como desejo inconsciente, escrever, publicar e para quê então isso chegasse a de fato acontecer. Então não são desejos reprimidos, mas eu acho que é a ilustração de desejos conhecidos e que também passam pelas entrevistas todas que eu já fiz com muitas mulheres sobre sexo. Então eu tenho bastante repertório, bastante conteúdo, desde conversa de bar com amigas que, imagina, agora vão descobrir que elas também são temas desses contos, até coisas que eu fiz profissionalmente”.

Quando questionada sobre como diferenciar o papel da mulher negra que fala sobre sexualidade do lugar de subserviência que a sociedade costuma nos colocar, a escritora explica que a palavra-chave é protagonismo: “Eu vou citar dois nomes que são a Grada Kilomba e Audre Lorde. A Audre Lorde porque fala muito de erotização como forma de poder. E ela reivindica que o erótico seja dissociado do pornográfico, porque para ela erótica é uma força vital que por conta de uma sociedade que é patriarcal e que é conservadora acabou sendo associada com o que era a pornografia ou que era indevido, quando na verdade é uma força de energia produtiva, criativa, que todo mundo deveria estimular. Então eu vejo nesse ângulo e principalmente falando da Grada Kilomba, que é uma pesquisadora que fala sobre silenciamento da mulher negra e como o conhecimento da mulher negra é desacreditado. Então as pessoas não se interessam pelo que a mulher negra tá falando ou desqualificam. Então eu estou aqui para justamente falar que o ponto de vista da mulher negra precisa, pode e deve ser passado por uma mulher negra. Então a diferença está no protagonismo, está no fato de que eu sou sujeito e sou autora, determinando como é que isso vai ser dito, de que forma isso vai ser expressado. Então eu diria que a palavra chave é protagonismo e é o fato de isso vir de mim, uma mulher negra”.

Foto: arquivo pessoal

Mas afinal, mulheres negras querem falar sobre sexo?

“Mulheres negras não só querem falar sobre sexualidade, sobre bem-estar sexual, como elas precisam, elas merecem. Eu me peguei em algum momento da pandemia, porque foi no meio da pandemia ou logo antes que eu comecei a escrever os contos de fato e publicar, pensando ‘Poxa, será que eu não tô sendo leviana? As pessoas passando situação de extrema pobreza e insegurança alimentar e eu aqui falando sobre sexualidade, sobre sentir prazer’, mas aí eu pensei  ‘agora até isso vai ser privado, vai ser tirado de nós o direito de sentir prazer?’ A gente já vive em um mundo que zela pela produtividade, pelo ganho, pela posse, pelo bem, pelo que você adquire, e com tantas limitações, aquilo que é inerente a nós, que é o sentir e sentir prazer vai ser cerceado? Não! Tem que ser explorado mesmo. Mulheres, especialmente as mulheres negras, precisam entrar em contato com a sexualidade porque é algo que é parte de nós e que ninguém mais vai fazer por nós. Parece meio óbvio, mas é porque na lista de afazeres que a gente tem, dupla jornada, trabalhos invisíveis e todos esses cargos que a mulher negra assume, pensar em prazer fica parecendo a última coisa que a gente quer colocar na lista. Mas a questão é isso, deveria ser uma prioridade, assim como é a manutenção da nossa saúde mental e a nossa saúde física, emocional, ou seja, cuidar da saúde sexual. Porque não deixa de ser uma forma de você se descobrir e de você se descolonizar, ou seja, de você olhar para o seu corpo, não da forma que te ensinaram, mas da forma como ele realmente é, da forma como você percebe”, acrescenta.

Monique dos Anjos defende a diversidade das mulheres em seus contos e sugere caminhos para que possamos buscar novas formas de erotismo, que fujam dos métodos heteronormativos e falocêntricos e que contribuam com uma vida sexual consciente: “Ainda que o streaming e ainda que a produção de audiovisual tenham aí suas pitadas novas de diversidade, a grande verdade é que a gente não se vê representado em contextos sexuais saudáveis. Isso vale tanto para a produção de contos eróticos quanto para a produção de filmes pornográficos, para histórias românticas. A gente não está. Então é óbvio que a gente não se imagina e não se coloca nessas situações. E é por isso que eu acho que mulheres precisam sim, não só falar sobre sexo, mas pesquisar, se informar e escrever. A gente vai levar anos para conseguir sobrepor a quantidade de produções que são racistas, heteronormativas, machistas, falocêntricas que a gente tem na internet hoje. Então, a gente precisa também fazer essas buscas quando a gente quer pensar em bem-estar sexual. Tem produções novas de mulheres. Escreve lá, ‘conto erótico para mulheres’, ‘escrito por mulheres’, ‘conto erótico feminista’, tem vários nomes, mas a única diferença entre tudo que já existe e o que a gente está fazendo hoje, o que eu estou fazendo hoje é colocar como centro da história, a perspectiva e o desejo de uma mulher, especialmente uma mulher negra. Os meus contos não falam só sobre mulheres negras, também tem mulheres que não são as novinhas, têm mulheres mães, têm mulheres mãe solo, mulheres casadas, gordas. Então é tudo de diversidade? Não, acho que é tudo que retrata o mundo. Tudo que eu vejo na sociedade e muito do que eu me identifico também”, finaliza.

 

‘Salvador Capital Afro’: Organizadores dizem que negros são maioria nos espaços estratégicos do projeto

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Salvador Capital Afro. Foto: Matheus Leite.

Conforme anunciado pelo Mundo Negro, no último mês de agosto, foi lançado em Salvador o projeto ‘Salvador Capital Afro’. Desenvolvido pela prefeitura local, o programa foi descrito como um movimento que pretende posicionar a cidade como um grande destaque do turismo afro no mundo. 

A ação, contudo, foi questionada por membros do Coletivo pelo Afroturismo, um grupo com cerca de 6 profissionais negros, que trabalham há anos com o tema. “A nossa principal reivindicação é que a prefeitura coloque profissionais que estão ligados ao Afroturismo, pessoas negras que já trabalham isso há muito tempo para comandar, para liberar esse projeto”, disse Hubbler Clemente, Hoteleiro, Linkedin Creator e membro do Coletivo, em entrevista ao Mundo Negro. “Afinal de contas, nós já temos mapeados o que precisa fazer, essas demandas, o que precisa melhorar, já estamos inseridos dentro do movimento para fazer ele acontecer (…) Não queremos fazer parte do produto, queremos comandar essa ação, estar no comando desse investimento, afinal de contas somos pessoas especializadas no tema. Se não tem nenhum de nós do Afroturismo, queremos saber quem serão as pessoas no comando desse projeto. Se não tem nenhum de nós lá, do Afroturismo, queremos saber quem estará no comando desse projeto”.

O Mundo Negro entrou em contato com a Prefeitura de Salvador e buscou respostas sobre os questionamentos levantados pelo Coletivo Afroturismo. Em nota, os organizadores do projeto declararam que todos os contratos de implementação do Plano Afro solicitam um mínimo de 60% de profissionais negros na composição das equipes estratégicas. “Desde a fase de construção do Plano Afro, o poder público determinou uma metodologia participativa, onde fossem ouvidos os atores negros que compõem a cadeia de valor do Turismo: baianas, capoeiristas, artistas, trançadeiras, turbanteiras, guias, operadores e agências de turismo”, informou a prefeitura. “Os participantes foram reunidos em oficinas, seminários, grupo focal com especialistas, entrevistas coletivas e individuais de formadores de opinião do segmento”.

Museu Afro em Salvador. Foto: Fábio Marconi.

Ainda em nota, a prefeitura declarou que o chamamento desses atores e coletivos foi realizado pela Secretaria Municipal de Cultura e Turismo e Secretaria da Reparação, em conjunto com o consórcio vencedor que executou o trabalho. Segundo a organização, foram mais de 600 participantes da comunidade negra de Salvador nessa construção, com todos os produtos validados por esses atores. “Podemos citar alguns nomes de lideranças locais participantes do processo: Nadinho do Congo, Rita Santos, Presidente da ABAM (Associação Nacional das Baianas de Acarajé e Mingau), Nilzete dos Santos da Afrotours, Júlio Marques (Gestor e consultor especializado em sustentabilidade de empreendimentos criativos), Pai Hamilton (liderança do terreiro Haunkpame Savalu Vodun Zo), Tonho Matéria (artista e mestre capoeirista), Edson Costa (Fundador da Rede Emunde), Evilásio Bouzas (Presidente do Conselho Municipal de Comunidades Negras). A versão preliminar do Plano foi submetida, ainda, a um grupo focal de 10 especialistas composto por nomes como: Paulo Rogério (Vale do Dendê), Paulo Cambuí (morador e liderança do Curuzu), Gabriela Cruz (idealizadora do Afro Fashion Day)”, completou a nota.

O Mundo Negro também entrou em contato com Danielle Salles, proprietária da empresa Tem Dendê Gourmet, que fabrica quitutes da culinária baiana. Danielle participou de três ações do AfroBiz Salvador, iniciativa da prefeitura que buscava incentivar o afroturismo e o afroempreendedorismo local, apresentando seus produtos e serviços. 

“O AfroBiz Salvador, e agora, o Salvador Capital Afro, colocam a gente, empreendedor local, em um lugar de visibilidade. Nos ensinam como atender, como vender, como negociar, como nos posicionar”, continuou a profissional. “Quando eu participei da rodada de negócios do Afrobiz, eu solicitei a lista dos compradores e fui atrás deles. Fiz contato com muitas pessoas e hoje já estou colhendo os frutos. Uma das ações lá foi para exportação, e, agora, já estou em negociação para exportar uma tonelada dos meus quitutes. Posso dizer que os ensinamentos foram muitos.”

“A nossa cidade é riquíssima no turismo africano. Mas, infelizmente, muitas vezes isso não aparece, não é divulgado. Temos a chance de mudar esta realidade. Claro que precisa ter muitas conversas, envolver mais pessoas, para que o propósito do projeto seja alcançado como um todo”, disse Nadinho do Congo. “Acredito que se todos estiverem envolvidos, podemos gerar crescimento para a cidade, mais educação, geração de renda e emprego. Sempre digo que a Cultura de Salvador é valiosa, e Cultura é negócio. Por isso, a nossa Cultura não pode ter fronteiras”.

Foto: Amanda Tropicana.

Ainda em nota, a prefeitura de Salvador  informou que as contratações do ‘Salvador Capital Afro’ foram realizadas através de processos licitatórios de seleção baseada em qualidade e custo, seguindo as políticas do agente financiador (BID), que incluem ampla divulgação nacional e internacional, e executadas conforme a legislação nacional. “Especificamente sobre o Salvador Capital Afro, dentre as 74 pessoas que compõem a equipe com funções de liderança no projeto, temos 61 profissionais negros assumindo posições estratégicas como Líder executiva, Líder de comunicação, Especialista em assuntos étnico-afro, Coordenador de Eventos, Assessoras de Imprensa, Diretor Criativo, Diretor de Arte. Toda contratação pública segue o ritual das licitações”, disse o órgão público. “É importante que se explique isso para que esse tipo de queixa não tire a legitimidade de todo um coletivo que participou do processo e ajudou a construir as ações”.

As independências: as histórias do Brasil e o povo negro

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Arte de Maria Felipa

Debora Simões

​ “Existe uma história do negro sem o Brasil. O que não existe é uma história do Brasil sem o negro”, está frase pertence ao fotografo e ativista Januário Garcia, que faleceu em 2021. Ela foi retratada no podcast “projeto Querino”, na voz do jornalista Tiago Rogero. O primeiro episódio do podcast apresentado por Tiago é o fio condutor deste artigo, assim como os versos do samba enredo da escola de samba carioca Mangueira, campeã do carnaval de 2019.
​No bicentenário do sete de setembro, da independência do Brasil, do marco da criação de um país, velho conhecido nosso, o Brasil, voltamos nosso olhar para ela. Aprendemos na aula de história que a independência do Brasil teria sido um processo pacífico, que se deu sem guerras ou conflitos. Movimento protagonizado pelo príncipe regente Pedro (conhecido depois por Dom Pedro I), que com bravura teria anunciado as margens do rio Ipiranga, “Independência ou morte”. Mas o que pouco se fala é que houve independência e morte. Do norte ao sul do país, forças contra a emancipação e a favor lutaram por suas ideias. Sangue do povo negro, dos povos indígenas foram derramados em diversas batalhas, a agitação política começou nos fins de 1821 e só cessou mesmo em 1823, como indicou o historiador Hélio Franchini Neto em sua tese de doutorado.
A imagem que construímos enquanto sociedade independente não se assemelha a essa bravura do povo brasileiro. Conhecemos esse processo, mas como um ato heróico do príncipe. A cena foi eternizada pelo artista Pedro Américo, encomendada pelo filho de Pedro I, Pedro II, em 1888. Na pintura o protagonista no meio ergue a espada montado em um cavalo. O que o quadro não mostra são alguns fatos. Muito provavelmente, era uma mula e não um cavalo. A independência já havia sido programada, por Leopoldina, esposa do príncipe, que por causa da viagem do esposo havia ficado na função de regente, governando a nação. No Dia do Fico o príncipe estava voltando para a corte, Rio de Janeiro, de uma campanha política em Minas Gerais. Por causa da viagem possivelmente aquele glamour de monarquia europeia foi inventado.
Como todo processo histórico, precisamos analisar com cautela. Não temos dúvida de que o sete de setembro é um marco na separação entre Portugal e Brasil. Outra coisa é que não começou em 1822, podemos voltar ao menos a 1808, com a chegada da família real portuguesa ao Brasil, fugida de Napoleão Bonaparte e escoltada pela marinha inglesa nessa viagem transcontinental. O ponto central do projeto do Brasil, o pacto da elite política e econômica para a nação que nascia foi a manutenção da escravidão, conforme destacou a historiadora Ynaê Lopes dos Santos em entrevista para o podcast “projeto Querino”, do qual ela também é consultora de pesquisa. O projeto comum da elite dona de terra foi a independência e a manutenção do sistema escravista, contrariando, inclusive, as pressões inglesas.
Por mais que a história oficial tente encobrir e apagar, a independência teve heróis e heroínas negros, brancos e povos indígenas que foram às ruas e lutaram por suas ideias. Uma das guerras mais importantes aconteceu na Bahia, onde as tropas portuguesas não aceitaram a emancipação do Brasil.
A exemplo, da marisqueira quitandeira e capoeirista Maria Felipa. Mulher negra que, na ilha de Itaparica, na Bahia, teria liderado um grupo de mulheres que enganaram uma tropa de portugueses. Elas teriam armado uma emboscada e dado uma surra de cansanção (uma planta que causa queimadura) e após isso elas teriam incendiado os navios portugueses. O pouco que sabemos sobre Maria Felipa ainda é incerto, mas a existência é forte e é símbolo de resistência negra feminina em toda Bahia. Lembrada no desfile cívico do 2 de julho, marco da independência do Brasil na Bahia.
Aos poucos, revendo, reescrevendo, recontando, a gente vai descobrindo que na história desse país: “desde 1500 tem mais invasão do que descobrimento, tem sangue retinto pisado, atrás do herói emoldurado. Mulheres, tamoios, mulatos, eu quero um país que não está no retrato”, contamos em verde, amarelo e rosa.

Pela primeira vez, Reino Unido terá ministros negros como representantes das Finanças e Relações Exteriores

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Foto: Divulgação.

A nova primeira-ministra britânica Liz Truss selecionou nesta terça-feira (6) um gabinete onde, pela primeira vez, nenhum homem branco ocupará um dos quatro cargos ministeriais mais importantes do país. Truss nomeu Kwasi Kwarteng como o novo ministro das Finanças, enquanto James Cleverly foi nomeado como ministro das Relações Exteriores. É a primeira vez que tais ministérios recebem profissionais negros como representantes.

Kwasi Kwarteng, primeiro chanceler negro do Reino Unido. Foto: Hollie Adams.

Deputado desde 2010, Kwarteng é um ativista radical do livre mercado e ex-porta-voz empresarial do governo. Nascido no nordeste de Londres e de pais ganenses, ele será o primeiro chanceler negro em toda história do Reino Unido. Já James Cleverly, de 53 anos, possui mãe negra de Serra Leoa e pai branco da Grã-Bretanha. No passado, ele chegou a falar sobre como sofreu bullying por ser uma criança negra de pele clara e teceu críticas ao partido conservador do Reino Unido, declarando que era preciso fazer mudanças para atrair votos da comunidade negra.

James Cleverly, Ministro das Relações Exteriores. Foto: Divulgação.

Outro destaque fica com Suella Braverman, que representará o Ministério do Interior. O posto será ocupado, pela segunda vez, por uma mulher de minoria étnica. Conhecida por suas posições ultraconservadoras, Braverman possui pais de origem indiana.

Suella Braverman, nova Ministra do Interior. Foto: The Times / AFP.

A crescente diversidade entre os representantes do partido conservador se deve em parte a uma pressão interna nos últimos anos. Até algumas décadas atrás, os governos britânicos eram compostos principalmente por homens brancos, o fato mudou apenas em 2002, quando Paul Boateng foi nomeado primeiro ministro de gabinete do Tesouro.

Apesar das novas posições negras, especialistas dizem que as pautas relacionadas às políticas de identidade não devem ganhar maior destaque no governo conservador, a exemplo do novo chanceler. “Kwarteng quer ser julgado pelo conteúdo de seu caráter, habilidades e experiência, e não por sua raça”, disse um funcionário do governo que trabalhou com o político. “Ele não gosta das coisas da política que estejam relacionadas à identidade.”

*Com informações de Reuters.

Pessoas pretas também magoam pessoas pretas

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Texto: Pra Preto Ler

Com a ampliação das redes e o acesso a informações, bem como a pressão feita pelo movimento negro, temos nos mobilizado coletivo e individualmente para o reconhecimento da potência da nossa comunidade.

Mas é preciso refletirmos sobre como algumas premissas elaboradas de forma superficial tem nos impossibilitado de romper ciclos violentos unicamente por serem protagonizados por pessoas negras. Assim, constrói-se um falso ideal de contradição entre aquilo que acreditamos e o que fazemos ao apontar um sujeito negro como sendo violento, tóxico e/ou descuidado.

A construção de senso de comunidade deve nos conectar a uma noção de integração, pertencimento, verdade e justiça que nos permita manejar os conflitos e trabalhar as diversidades. Também é fato que a negação de direitos básicos tem nos impedido de trabalhar as complexidades do nosso povo. Assim, a crença de ausência de conflitos é característica de relações saudáveis nos impede de ampliar e reconstruir a nossa comunidade.

A equívoca ideia de que não podem haver conflitos entre nós promete nos aproximar, mas só causa distanciamento, superficialidade e desumanização. Dentro desse “pacto”, no qual não podemos responsabilizar outras pessoas negras, seguimos usando ferramentas brancas que trazem, por exemplo, a culpa e o perdão como ferramentas solucionadoras.

Observar o território antes de abrir as feridas do nosso povo, vigiar o uso das palavras, questionar velhas elaborações são marcas do compromisso histórico e político que assumimos ao iniciar o nosso processo coletivo e individual de tornar-se sujeito e reconstruir o senso de comunidade. A lógica da violência branca não cabe à nossa comunidade, especialmente a dicotomia de vítima e algoz, mas também este lugar de suposta proteção, no qual desresponsabilizamos os indivíduos em nome de um pacto que nos desconsidera enquanto sujeitos.

Instituto Pretos Novos lança circuito de Oficinas de História e Cultura Afro-brasileira

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Foto: divulgação

O IPN anunciou uma parceria com a L’Oréal Brasil que tem como objetivo preservar histórias africanas e afro-brasileiras

O Instituto Pretos Novos anunciou na manhã desta terça-feira (6), no Rio de Janeiro, o lançamento do circuito de Oficinas de História e Cultura Afro-brasileira. A iniciativa será realizada em parceria com a L’Oréal Brasil. Ao todo serão ofertados 45 cursos que tem como objetivo fortalecer e promover narrativas afrodescendentes e ajudar no combate ao racismo estrutural.

Os cursos serão ministrados por historiadores, sociólogos, jornalistas, entre outros nomes de grandes instituições de ensino, focados em multiplicar o conhecimento histórico e arqueológico da Zona Portuária do Rio, onde está localizado e Instituto Pretos Novos, assim como tratar as temáticas mais latentes da sociedade brasileira como o racismo estrutural.

Foto: divulgação

O evento de anúncio da parceria contou com a presença das atrizes Taís Araújo e Zezé Motta, além de influenciadores e jornalistas que foram conduzidos por uma caminhada para conhecer a história do Cais do Valongo, um dos principais portos onde desembarcaram cerca de um milhão de escravizados trazidos para o Rio de Janeiro, o local é considerado o maior sítio de memória da Diáspora Africana fora da África, além de ser tombado pelo Patrimônio Histórico. É um lugar de memória da dor e sofrimento que guarda um valor histórico para a diáspora africana.

Ao enviado especial do Mundo Negro, Maycon Cabral, a atriz Taís Araújo falou sobre o que sentiu ao visitar o local pela primeira vez. “Você vai concretizando tudo o que aconteceu com a população negra e acontece até hoje nesse país. E acabar ali no Instituto dos Pretos Novos é muito significativo, porque é a concretude da violência, dos maus tratos, dos desmandos, de como a população negra desde que chegou aqui sequestrada, foi tratada sem dignidade, sem humanidade e a gente fica muito abalado, mas ao mesmo tempo reforça o compromisso”, declarou a atriz depois da visita.

Confira a entrevista com a atriz Taís Araújo no vídeo:

Os cursos promovidos pelo IPN acontecem de forma online e gratuita. O projeto tem a duração de 12 meses e o link para inscrição já está disponível no Sympla. Cada aula tem 2 horas de duração. Além disso, as aulas contam com tradutores de libras. 

LeBron James e Drake são processados em R$ 52 milhões por uso indevido de direitos autorais

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LeBron James e Drake. Foto: Harry How / AFP / Richard Shotwell.

Os astros LeBron James e Drake estão sendo processados por roubarem ideias de um filme esportivo. De acordo com o New York Post, uma ação foi movida na Suprema Corte do estado de Nova York sobre os direitos autorais do longa ‘Black Ice’, que possui os dois astros como produtores, e que foi lançado em 2014 como uma adaptação cinematográfica do livro ‘Black Ice: The Lost History of the Colored Hockey League of the Maritimes’.

Billy Hunter, ex-diretor executivo da Associação Nacional de Jogadores de Basquete, entrou com o processo esta semana, solicitando US$ 10 milhões, cerca de R$ 52 milhões na cotação atual. “Embora os réus LeBron James e Drake sejam internacionalmente conhecidos e renomados em seus respectivos campos de basquete e música, isso não lhes dá o direito de roubar a propriedade intelectual de outra pessoa”, disse Hunter no processo.

Billy Hunter. Foto: Mary Altaffer/Associated Pres.

O processo alega que Hunter pagou a um dos autores do livro, George Fosty, US$ 250.000 pelos “direitos mundiais exclusivos” para qualquer adaptação audiovisual da obra. A equipe de LebRon James também teria, supostamente, oferecido à Fosty US$ 100.000 para adquirir os direitos “já adquiridos” com o objetivo de lançar um documentário.

Os representantes de George Fosty alegaram que a obra visual esportiva lançada por LeBron James e Drake não infligia a “licença mundial exclusiva” porque tratava-se de uma obra documental. “Um documentário ainda configura, acima de tudo, um filme e adaptação audiovisual. Assim, qualquer afirmação divergente é má fé”, alega Hunter na descrição da causa.

Até o momento, nenhum dos representantes de Drake ou LeBron responderam à acusação.

‘Gosto de ver um brilho no meu couro cabeludo’, afirma Willow Smith

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Foto: Thom Kerr / Glamour UK

Capa de setembro da revista Glamour do Reino Unido, cantora falou sobre a relação com seu cabelo sendo uma mulher negra

Aos 21 anos, Willow Smith é a capa de setembro da revista Glamour do Reino Unido, a cantora fez um ensaio fotográfico para a edição e falou sobre temas como saúde mental, feminismo, discriminação e destacou a escolha pelo uso dos cabelos raspados.

Foto: Thom Kerr

Logo no início da entrevista para a jornalista Christine Ochefu, a filha de Will Smith e Jada Pinkett Smith comenta sobre como gosta de ver seu couro cabeludo: “Eu gosto de ver um brilho no meu couro cabeludo, um reflexo de luz”, conta. Ela ainda diz: “Raspar minha cabeça é talvez a coisa mais radical que fiz em nome da beleza”.

Willow conta que depois de sua estreia na música com o clipe de Whip My Hair, ficou frustrada com o excesso de trabalho durante a primeira turnê como cantora, o que a influenciou a adotar o penteado que se tornou sua marca registrada atualmente.

“Como mulher negra, havia muitas camadas no meu relacionamento com meu cabelo e minha pele enquanto crescia; foi definitivamente uma curva de aprendizado”, explicou.

“Eu tive que admirar outras lindas mulheres negras. Basta olhar para alguém que é como eu, vivendo sua verdade e não deixar que o que a sociedade diz os derrube. Acho que essa foi a [influência] mais importante para mim quando criança”, contou a cantora durante a entrevista. Ela também reforçou que entre essas mulheres que ela admira e que foram sua referência é a própria mãe, Jada Pinkett Smith, a quem sempre recorre quando quer conhecer músicas novas “Minha mãe me mostrou tudo. Eu ainda vou até ela agora como, ‘Você tem alguma coisa nova para eu ouvir?’”, conta ela.

Foto: Thom Kerr

Willow Smith comentou sobre a discriminação sofrida por pessoas negras na cena alternativa e como esses artistas são rotulados em comparação com artistas brancos. “Quando eu queria fazer um álbum de rock, havia muitos executivos que diziam, ‘Hmm…’, ela diz franzindo a testa. “Se eu fosse branco, estaria tudo bem; mas porque eu sou negra é, ‘Bem… talvez não vamos’ – e tornando isso mais difícil do que precisa ser”, confessa Smith.

Sobre seu lugar no mundo, Willow Smith responde que “Meu único objetivo é incorporar puro amor e aceitação”, diz ela. “E inspirar outras pessoas a encontrar esse lugar dentro de si mesmas e fazer o mesmo.”

PA expõe ataques racistas sofridos por ele e o filho na internet

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Foto: André Horta/Brazil News

O atleta e ex-BBB compartilhou prints doas ataques e ameaças direcionadas a ele e ao filho, de 1 ano, que recebeu nas redes sociais

Na noite da última sexta-feira (05), o atleta e ex-BBB Paulo André divulgou em seu Twitter os ataques racistas que ele e o filho de um ano, Paulo André Camilo Júnior, o Peazinho, vem recebendo na internet. PA começou o assunto falando “Preto vencendo incomoda!!! quem não é da cor fala que é maluquice”.

https://twitter.com/iampauloandre/status/1566990220704227329

Paulo André também compartilhou a seguinte mensagem:

https://twitter.com/iampauloandre/status/1567007488788004867

Em seguida, o atleta mostrou prints de mensagens racistas que recebe nas redes sociais, em que pessoas o chamam de macaco e enviam emojis de banana pelo direct de PA:

https://twitter.com/iampauloandre/status/1567008499409764352

Uma onda de ataques contra o atleta teria começado depois que um vídeo que mostra PA tirando fotos com fãs viralizou na internet. Um rapaz chamado Raphael Ditto, lutador de Jiu Jitsu, não teria gostado do modo como PA tratou sua namorada no Rock in Rio. No vídeo, depois da foto com a moça, o atleta aparece cumprimentando e conversando com outro fã.

Nas redes sociais, Raphael Ditto teria ameaçado o atleta de agressão: “Estamos formando o bonde para cair na mão com o PA, pancadaria generalizada, bagulho feio, vamo geral cair na mão com ele aí. Para ele fugir vai ter que correr muito”. Ao fundo, a namorada do rapaz diz: “Gostei que apareci no Multishow”.

https://twitter.com/magiccrf/status/1566990936781078528
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