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Opinião: Onde estão as mulheres ou pessoas negras na sua empresa? 

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Foto: Reprodução

Por Kelly Baptista, Diretora Executiva da Fundação 1Bi. 

Você conhece quantas mulheres negras em posição de alta liderança ou em cargos de gerência? Recentemente, me peguei pensando de novo nessa questão ao me ver em um espaço majoritariamente masculino e branco, no qual as discussões eram sobre temas que diziam respeito a grupos minorizados. Como sempre, me senti solitária e desconfortável.

É confuso e estranho perceber que, mesmo com o avanço das pautas de Diversidade e Inclusão, inserção no mercado de trabalho e aceleração da carreira de grupos minorizados, a ausência de mulheres negras nos espaços de tomada de decisão ainda é comum.

Quando falamos sobre o aumento do número de mulheres nos cargos de alta liderança das corporações, normalmente isso não contempla as interseccionalidades e nos retemos, assim, a mulheres brancas, cisgêneros, urbanas e com algum poder aquisitivo. Muitas iniciativas que aceleram mulheres para cargos de C-level, sem levar em conta interseccionalidades, acabam corroborando para a manutenção do poder, sem recorte algum.

O que eu quero saber é onde estão as mulheres ou pessoas negras na sua empresa? E quando elas estão presentes, seguem recebendo menos quando comparadas a mulheres e homens brancos? 

Em nosso país, mulheres negras ocupam apenas 3% dos cargos de liderança. E recebem 57% a menos do que os homens brancos. 

O meu lembrete de hoje vai para os atuais líderes e times de recrutadores: para que o discurso de “mulheres no poder” ou “girl power” faça sentido é preciso destruirmos os vieses inconscientes, que nada mais são do que os preconceitos, estereótipos ou pensamentos tendenciosos sobre determinado grupo social. Permita que mulheres negras, travestis, periféricas e com deficiência tenham as oportunidades necessárias para apresentar o seu talento. 

Parafraseando a nossa “Mulher Rei”, Viola Davis: “a única coisa que separa mulheres que não são brancas de todas as outras são as oportunidades”. 

Referências para o texto:Censo Gestão Kairós – 2022; IBGE – 2019 e Portal Notícia Preta.

Sérgio Camargo e Fernando Holiday não se elegem deputados federais

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Foto: Reprodução.

Representantes dos conservadores, contrários à política de cotas e críticos ao movimento negro, Fernando Holiday e Sérgio Camargo não conseguiram se eleger deputados federais por São Paulo.

Nas redes sociais, Fernando Holiday comentou a derrota. “Agradeço a todos os eleitores que me deram a confiança de seu voto e parabenizo a todos os vitoriosos. O trabalho seguirá firme pelos próximos dois anos como vereador de SP”, disse ele nas redes sociais. O ex-MBL recebeu 38.118 votos e será suplente do Partido Novo.

Sérgio Camargo, ex-presidente da Fundação Cultural Palmares do governo Bolsonaro, concorreu a um cargo eletivo pela primeira vez neste pleito. No entanto, com apenas 13.085 votos também não conseguiu se eleger. Em suas redes sociais, ele não comentou a derrota. Os dois compõem uma ampla lista de candidaturas do espectro bolsonarista que não tiveram êxito na corrida para a Câmara dos Deputados.

Parte da internet celebrou a derrota de ambos nas eleições deste ano. Outros, apesar de celebrar, interpretaram o fato como uma demonstração de que, mesmo estando à direita exercendo cargos públicos, o racismo faz com que essas candidaturas não sejam valorizadas no âmbito o bastante para conseguirem mandatos. “O que eles tem em comum? São negros de direita, pois é. Na hora de escolher seus representantes a direita em 2022 esqueceu dos pretos”, disse um usário no Twitter.

Confira mulheres negras e índigenas eleitas no Congresso

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Fotos: Reprodução/ Marcus Steinmeyer Beleza LGBeauTé/ Fedrico Zuvire/ Jornal Extra

Mulheres negras fazem história na Eleição 2022! Erika Hilton (PSOL), se tornou a primeira mulher trans eleita ao Congresso Nacional, com 255 mil votos.

Enquanto Sônia Guajajara (PSOL) se torna a primeira mulher índigena eleita para representar o estado paulista e Célia Xakriabá (PSOL), a primeira indígenas a representar Minas Gerais.

A ex-Ministra do Meio Ambiente Marina Silva (REDE), volta ao parlamento como deputada federal de São Paulo depois de 11 anos. Já Talíria Petrone (PSOL) é reeleita como a terceira deputada mais votada pelo Rio de Janeiro com quase 200 mil votos.

Nenhuma mulher negra foi eleita para o Senado. E Vera Lúcia (PSTU), a única mulher negra candidata para Presidência da República recebeu mais de 25 mil votos.

Nas últimas eleições, recursos de campanha foi menor entre homens negros e maior entre as mulheres brancas

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Foto: Freepik

Dados revelam a distribuição de recursos nas eleições municipais de 2016 e 2020, considerando raça e gênero. Dados revelam alteração inédita na ‘hierarquia tradicional’ de financiamento, que privilegia homens brancos

Nas últimas eleições, pela primeira vez, as mulheres brancas passaram a ser o grupo com maior média de recursos de campanha (saltando de R$2.588,58 para R$12.716,67). Elas chegaram a desbancar os homens brancos (com, em média, R$ 10.909,80 por candidato), grupo que historicamente têm acessado valores maiores de financiamento do que seu percentual de candidaturas.

As mulheres negras – grupo tradicionalmente mais prejudicado na distribuição de recursos eleitorais – atingiram um patamar de proporcionalidade em relação ao seu percentual de candidatas (média de R$ 10.909,80), enquanto os homens negros ficaram com uma quantidade de recursos inferior ao tamanho de seu grupo na disputa (média de R$ 8.516,65 por candidatura).

Os dados são do Núcleo de Justiça Racial e Direito (NJRD) da FGV e mostram que, entre as eleições municipais de 2016 e 2020, o volume de recursos destinados às candidaturas femininas aumentou mais do que o crescimento na quantidade de postulantes desse grupo. Isso fez com que a distribuição fosse alterada de forma inédita, levando em consideração a raça e o gênero dos candidatos.

O ponto fora da curva vem depois da imposição de cotas de financiamento para candidaturas femininas, em 2018, e negras, em 2020, pelo STF e pelo TSE, respectivamente. No caso do Supremo, foi estabelecido que, no mínimo, 30% do financiamento deve ficar com as mulheres, em cumprimento à lei 9.504/97, que estabelece cotas de candidatura por gênero. Já o TSE votou pela distribuição de recursos na exata proporção das candidaturas de mulheres (negras e brancas) e homens negros.

Os pesquisadores do NJRD chamam atenção ainda para o peso do Fundo Especial de Financiamento de Campanhas (FEFC), implementado nas eleições municipais de 2020, responsável por quase 70% do dinheiro colocado nas campanhas.

Fonte: Elaboração própria com base em dados do TSE (Divulgação)

Esse índice muda bastante, se são levados em conta capitais, municípios com mais de 200 mil habitantes e cidades com menos de 10 mil. Entre esses perfis estão municipalidades estratégicas para as legendas por sua importância política e econômica, as capitais; cidades médias que concentram 20% do eleitorado e são palanques de destaque em disputas estaduais e até nacionais; e municípios menos relevantes do ponto de vista eleitoral, por seu potencial limitado em termos numéricos, aqueles com menos de 10 mil habitantes.

Em 2016, as legendas de esquerda já apresentavam IP bem próximos à zona de proporcionalidade (homens negros, IP 0,915; mulheres brancas, IP 0,967; e mulheres negras, IP 0,918), com exceção dos homens brancos por pequena margem, com o índice em 1,109. Nos partidos desse flanco do espectro ideológico, em 2020, o IP de mulheres brancas se manteve na zona de proporcionalidade e o de mulheres negras saltou de 0,918 para 1,535. Entre 2016 e 2022, na esquerda, homens negros e brancos entraram na faixa de subfinanciamento.

À direita, embora tenham aumentado significativamente o financiamento de candidaturas de mulheres negras, que saíram de um IP de 0,665, em 2016, para 1,123, em 2020, os partidos preferiram beneficiar mulheres brancas, que, assim, deixaram o patamar de proporcionalidade (IP 0,966) para o de sobrefinanciamento (IP de 1,410).

Esses partidos apresentam a particularidade de – diferente dos de centro e de esquerda – terem mantido os homens brancos na zona de proporcionalidade, penalizando os homens negros, os quais passaram de um IP de 0,880, em 2016, para 0,778, em 2020.

Mestre Môa do Katendê, assassinado há quatro anos, ganha disco e filme em sua homenagem 

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Foto: Reprodução

Mestre de capoeira, agitador cultural, compositor e percussionista, co-fundador dos Afoxés Badauê na Bahia e Amigos do Katendê em São Paulo, Romualdo Rosário da Costa, também conhecido como Mestre Moa do Katendê tem sua trajetória contada (e cantada!) em dois projetos: o disco Raiz Afro Mãe (Mandril Áudio), com lançamento no dia 7 de outubro, e Môa, Raiz Afro Mãe (Kana Filmes), documentário musical de 101 minutos que terá lançamento para convidados no dia 18 de outubro, no cinema Petra Belas Artes.

Antes de sua morte, deu início a um registro de seu trabalho, que agora segue em forma de homenagem. Ele foi assassinado brutalmente um dia após o primeiro turno das eleições presidenciais de 2018 – poucos meses depois dos projetos começarem – por intolerância política no bairro em que cresceu, em Salvador. Môa se posicionou contra o candidato Jair Bolsonaro para a presidência, e o bolsonarista Paulo Sérgio Ferreira, saiu do bar de onde estava e voltou para atacá-lo com doze facadas.

O nome do mestre ganhou destaque na imprensa internacional e em manifestações nas ruas de todo o Brasil, difundindo sua imagem como um símbolo de resistência cultural.

Capa de Álbum ‘Raiz Afro Mãe’ (Foto: Divulgação)

O disco Raiz Afro Mãe é composto de 14 canções que contam com a participação dos artistas: BaianaSystem, BNegão, Emicida, Criolo, Chico César, Edgar, Fabiana Cozza, GOG, Jasse Mahi (filha de Môa), Kimani, Lazzo Matumbi, Letieres Leite, Luedji Luna, Márcia Short, Mateus Aleluia Filho e Rincon Sapiência.

Já foram lançados os singles “Festa de Magia”, com Luedji Luna e “Embaixada Africana”, com Criolo. O próximo single a ser lançado será “Véia Coló”, que conta com a participação de Edgar e BNegão. O álbum completo Raiz Afro Mãe será lançado em 7 de outubro, quatro anos após o assassinato de Môa.

Môa, Raiz Afro Mãe:

Rodado em Salvador, São Paulo e Rio de Janeiro, o filme acompanha a história de Môa da década de 1970 até sua morte, entrelaçada com as manifestações culturais do carnaval baiano (o surgimento dos blocos afro e afoxés), seu trabalho como arte-educador e capoeirista, e seu legado na cultura afro-brasileira e mundial, mostrando toda a relevância de um artista que contribuiu para a preservação e disseminação da cultura afro-brasileira e fez história em Salvador, levando 8 mil pessoas para as ruas com o afoxé Badauê, promovendo a reafricanização do carnaval baiano e influenciando uma geração de artistas como Caetano Veloso, Gilberto Gil, Moraes Moreira e outros grandes da MPB.

Ao todo, foram mais de 300 pessoas envolvidas no projeto, entre equipe, participações e contribuições. Conta com depoimentos do próprio mestre e de familiares, amigos e parceiros do artista, como a filha Jasse Mahi, Gilberto Gil, BaianaSystem, Chico Assis, Luedji Luna, Chico César e Fabiana Cozza, além de um rico acervo de imagens, formado somente por fotógrafos negros de Salvador. Na trilha sonora, músicas inéditas do disco Raiz Afro Mãe.

Veja o trailer:

Opinião|Corpo negro nas eleições: mantenha sua saúde mental

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Foto: Freepik.

Por Shenia Karlsson

Nesse cenário de polarização, o Brasil tornou-se uma arena perfeita para o direcionamento de violências aos corpos que sociedades racistas geralmente escolhem como objetos para as suas projeções: os corpos negros. Vale muito ficarmos atentos, nas ruas, nas redes sociais, nos espaços públicos.

A política tornou-se realmente uma pauta central na vida do brasileiro, embora para nós, corpos negros, seja recente a participação tanto em espaços de poder quanto nas decisões, visto que sempre fomos vistos como números, massa de manipulação. É um showzinho ali, umas cestinhas básicas aqui e, assim, temos sido excluídos e acumulado todos os ônus num país que nunca priorizou política pública para nós.

Contudo, as coisas estão mudando, meus caros leitores, as nossas participações têm aumentado mesmo que timidamente, e mesmo assim têm causado muito incômodo. Com a ascensão da extrema direita e consequentemente da violência política contra nós, devemos tomar medidas importantes a fim de nos preservar. Se quisermos um dia ver mudanças significativas para o nosso povo, devemos ser estratégicos.
Esse artigo é sobre como implementar medidas para garantir nossa saúde mental durante esse fim de semana de eleições. Bora deixar baixo essa parada? Então vamos lá.

1- Evite discussões desnecessárias nas redes sociais

O cyberbullying é uma modalidade de violência de ampla disseminação, os discursos de ódio e os assédios nas redes sociais causam sofrimento psíquico como crises de ansiedades, angústia, sentimento de impotência, tristeza e até pode levar ao suicídio em muitos casos. A polarização política mobiliza muitas emoções negativas, ativa a raiva e o descontrole. E qual o resultado? Acabamos por nos ver em situações que poderiam ser evitadas, por ofender quem nem ao menos conhecemos e a tecer julgamentos superficiais. Se por ventura sentir que a interação está tomando caminhos tortuosos, dê meia volta e vá na sua paz, não vale a pena pois é muito estresse.

2- Aquele irmão/irmã negra que vota no 22? Deixe estar!

Existe uma diversidade imensa em nossa comunidade, estamos todos em processos diferentes de evolução. Não somos uma massa uniforme, o direito a cidadania é respeitar também a escolha do outro sem sentir-se ofendido e traído em nossa negritude. Negros de direita estão compactuados com os pactos da branquitude, sendo mais um dos sintomas do racismo estrutural desse país. Cada um com seu corre, certo?! O melhor é aquilombar com os seus, aqueles irmãos/irmãs fechamento, saca?! Curta sua vibe com os nossos, em todos os sentidos. Preserve-se!

3- Depois do voto, liberte!

Quando você for lá e apertar o….ahhhh, tu sabe qual número né?! EXQUÉEEECE!!!!! Larga desse controle porque só vai gerar ansiedade. Caso queira acompanhar o placar, faça com leveza, na comunhão, no relax. Somos quase 220 milhões de cabeças nesse país, a única coisa que podemos fazer é esperar pelo melhor e torcer para que tenhamos aprendido a lição.
PRIORIZE CADIDATOS/AS/ES NEGRES, por favor!

4- MUITO CUIDADO NOS ESPAÇOS E TRANSPORTES PÚBLICOS

Essa dica tem mesmo de ser com letras garrafais, porque em nosso caso, além de nos preocuparmos com a nossa saúde mental, temos que nos atentar para a preservação de nossas vidas. Quem não lembra do saudoso capoeirista Moa do Katendê morto à facadas após uma discussão sobre política? Sabemos que não vale o risco, então, adotemos medidas de precaução:
-Evite camisas vermelhas, não sejamos alvo, quem tem esse privilégio são os brancos, a esquerda ainda é branca em nosso país;
-Vá acompanhado ou em grupo, sozinhos nos tornamos um alvo mais fácil;
-Vote e evite ficar por aí dando mole, procure certificar-se que está em espaço de segurança;
-Evite embate com a polícia, sabemos que somos as vítimas perfeitas, especialmente os homens negros;

  • Pegue leve com as bebidas, não fiquemos vulneráveis;
    -E por último e não mais importante, mantenha-se vivo! Corpo e mente, ambos pulsantes.

E lembrem-se, “Eles combinaram de nos matar, mas nós combinamos de não morrer” como diz a nossa estimada Conceição Evaristo. Vamos ter paciência, moderação, estratégia e gozar do que temos de mais valioso, nossa vivacidade. Boa eleição a TODES!

Conheça FLO, novo fenômeno do R&B mundial que se inspira no grupo Destiny’s Child

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É raro observar o surgimento de grupos femininos e ascensão dentro da música contemporânea. Quando se trata de um grupo feminino com mulheres negras, as possibilidades são menores ainda. Passando pelas The Marvelettes e The Supremes nos anos 60, ou ainda TLC e Destiny’s Child nos anos 90, a música negra associada a essas artistas sempre proporcionou grandes sucessos. Agora, sob a nova era do mundo dos streamings, surge FLO, um fenômeno diretamente do Reino Unido.

Formado pelas jovens Jorja Douglas, Stella Quaresma e Renée Downer, o grupo ganhou destaque após publicar músicas e regravações no TikTok. Mas foi com o lançamento de “Cardboard Box” que FLO explodiu e conquistou fãs como SZA e Missy Elliot. Juntas, as artistas prometem trazer uma nova roupagem ao R&B, conduzindo letras inteligentes, instintivas e de harmonia pessoal.

“Eu esperava que a música fosse bem… mas ela literalmente se tornou viral”, diz Downer sobre o sucesso de ‘Cardboard Box’, lançada no início deste ano. “Tivemos muitas pessoas na indústria que admiramos, nos repostando e nos twittando. É realmente inesperado e parece uma loucura.”

“Você se torna uma máquina”, diz Jorja Douglas ao falar sobre o sucesso repentino em entrevista à TIME. “Todo mundo quer um pedaço de você. E é muito bom ser querida e apreciada, mas você tem que lembrar que ainda é humano. Vale como qualquer trabalho, mas é algo que você realmente percebe neste. Quando você vê tudo o que precisa ser alcançado e a pouca quantidade de tempo que você tem – isso aumenta a pressão e o estresse.”

O grande destaque de FLO está em suas composições, que abordam elementos da geração atual de forma intuitiva. As melodias são detalhadamente pensadas, com arranjos cativantes e visuais de tirarem o fôlego. Elas defendem uma transformação feminina no mundo do R&B. “Tudo parece muito simples e autêntico”, brinca Jorja. “Nós somos autênticas! Nós não entramos e pensamos, oh, tem que ser isso – é automático. Nós apenas fazemos o que queremos fazer.”

Ganhando destaque, milhões de seguidores e um rápido crescimento nas plataformas de streaming, o grupo agora produz os detalhes de seu primeiro álbum. O fenômeno FLO promete crescer ainda mais. Estamos testemunhando o surgimento de novos nomes negros que, com certeza, conquistarão as paradas mundiais.

Entrevista: Negros periféricos Léo Péricles e Vera Lúcia querem comandar o Brasil

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No próximo domingo, dia 2 de outubro, acontece o primeiro turno das eleições presidenciais no Brasil. Durante os debates eleitorais com os candidatos à presidência do país transmitidos pela televisão, um dos principais questionamentos feitos por pessoas negras era “onde estão os candidatos negros?”

Os candidatos Vera Lúcia, do PSTU, e Léo Péricles, do Unidade Popular foram totalmente ignorados pela mídia televisiva, mas estiveram presentes em entrevistas especiais realizadas pela diretora de conteúdo do Mundo Negro, Silvia Nascimento. A jornalista conversou com os candidatos sobre suas experiências políticas, ouviu suas propostas e o que pensam para o futuro do Brasil.

Disponível no Youtube e no Spotify, no podcast “ Falas Diversas”, as entrevistas com os candidatos mostram que existem pessoas pensando um Brasil a partir de outras narrativas, que priorizam o trabalhador e que veem as questões de raça e gênero como algo indispensável para a construção de uma nova sociedade.

Durante a entrevista com Léo Péricles, realizada em março de 2022, o candidato reforçou a necessidade de lutar contra o apagamento histórico das realizações dos negros no Brasil. “Se eu não souber como foi meu passado, vai haver essa impressão de que sempre foi e sempre será assim”, disse o candidato.

Já Vera Lúcia lembrou que as mulheres negras são as mais afetadas pelos problemas que atingem a classe trabalhadora. “Todos os problemas que afligem a classe trabalhadora brasileira recaem, principalmente, sobre as nossas vidas, das mulheres negras, da juventude negra, dos homens negros, dos filhos das mulheres negras”, enfatizou.

Você também pode ouvir as entrevistas no podcast Falas Diversas, disponível no Spotify.

Consumo, potência e a miopia da falta de diversidade

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Foto: Freepik/ASphotofamily

Texto: Alexon Fernandes

Na semana que termina, vimos uma marca de calçados ser duramente criticada por utilizar uma modelo branca para o lançamento de uma coleção que trazia elementos da cultura africana como conceito. A ação foi considerada por muitos como equivocada, e por outras pessoas ela foi considerada uma jogada de marketing – afinal, o que importava era o hype.

O Brasil tem a maior população negra fora da África e, em números absolutos, é o segundo maior país com população negra, só perdendo para a Nigéria. Então, é impossível não ligar o episódio à relação entre consumo e racismo. A insistência das marcas em não dialogar com o mercado consumidor negro é escancarada. Consumidores negros são a maioria no país, em especial as mulheres. Em 2019, por exemplo, segundo uma pesquisa do Instituto Locomotiva, elas foram responsáveis pela movimentação de mais de R$ 700 bilhões. Além disso, as mulheres negras são responsáveis pela decisão de compra das suas famílias e, em muitos casos, das famílias das residências em que elas trabalham. Elas têm interesse em produtos de valor agregado, viagens, veículos automotivos e serviços de lazer. Ou seja, são uma potência de consumo e foram excluídas do resultado da campanha publicitária da marca de calçados.

O que aconteceu também serve de reflexão sobre a importância da diversidade em todas as áreas da empresa e na sua cadeia de fornecedores. Quanto mais diversas são as equipes, mais preparadas elas estão para dialogar com a sociedade. Por exemplo, uma equipe de comunicação diversa – principalmente em posições-chaves – evitaria situações como a ocorrida.  Investimento em diversidade não é somente uma questão de percentual e metas, é também entender que a diversidade é um valor essencial na relação da empresa com o mercado em que ela atua.

Por último, ficam duas perguntas: Quanto vale o “hype”? E, quanto vale investir em diversidade de forma integral? Já vimos marcas chamarem a atenção para si de forma chocante, sem preterir um determinado grupo da sociedade e serem muito bem sucedidas. 

Clínica só com médicas negras completa um ano e emociona pacientes diariamente: “Estar aqui é um sonho”

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Entrar em uma clínica e encontrar médicas negras pode ser muito emocionante. É o que acontece com os pacientes do Grupo Ifé Medicina, como explica a Dra. Júlia Rocha em entrevista ao MUNDO NEGRO, ao lembrar de uma consulta com mãe e filha, e a adolescente se apresentava com alopecia.

“Ela usava tranças e extensões capilares de forma ininterrupta. Estava triste e preocupada porque a filha não conseguia se relacionar bem com seu cabelo crespo e já estava apresentando alopecia de tração em função dos Hairstyles utilizados e dos hábitos de alisamento. Ela temia que a filha evoluísse com um quadro severo como o dela. Foi uma consulta extremamente longa, de muito choro, transparência e choque de realidade”, diz a dermatologista.

Após quase um ano, o resultado: “a mãe me mandou uma foto da filha, que havia conseguido parar com os hábitos de alisamento, cortado os fios e estava amando sua nova relação com os cabelos. Isso realmente me emocionou”, conta a Dra Júlia.

Há um ano, diversos pacientes tem a oportunidade de serem atendidos no Grupo Ifé Medicina, criado por cinco mulheres negras no Rio de Janeiro. “Nosso encontro se deu pela junção do desejo em exercer uma medicina que conciliasse valores pessoais com a necessidade de buscarmos um novo consultório”, explica a Dra. Cecília Pereira ginecologista e mastologista, que se uniu às médicas Abdulay cirurgiã plástica, Aline Tito cardiologista, Julia Rocha dermatologista e Liana Tito oftalmologista.

“Algumas de nós, de fato, estavam precisando de uma nova sala, e fazer dessa busca não apenas um ato emergencial, mas uma virada de chave em nossas carreiras, onde finalmente poderíamos trazer a nossa verdade unindo outras pessoas com o mesmo propósito. Nos fez resgatar o desejo de termos uma clínica com um atendimento mais próximo, calmo e acolhedor”, relata a ginecologista.

Da esquerda para direita, as médicas: Julia Rocha, Aline Tito, Liana Tito, Cecília Pereira e Abdulay (Foto: Divulgação)

A Dra. Aline Tito, explica por exemplo, que a população negra é a que mais sofre com a pressão arterial elevada, mas a medicina branca ainda é tolerante à falta de cuidados com os pacientes por serem considerados mais ‘resistentes’. “O resultado dessa tolerância nós vemos nas emergências, com pessoas subtratadas evoluindo com infartos, AVC, insuficiência cardíaca e renal. Doenças que quando não são fatais tornam a pessoa inválida para prover sua subsistência. E quando esse indivíduo é trabalhador autônomo ele vê sua renda reduzida a um auxílio do Estado”.

“Estar aqui é um sonho”, a ouviu Liana durante uma consulta. “Nos abraçamos e choramos”, relatou. Todos os dias, elas ficam comovidas. “É emocionante também quando os filhos trazem seus pais e eles, de gerações anteriores, se emocionam e nos emocionam ao falarem que nunca haviam recebido um atendimento como na nossa clínica. Isso nos dá a certeza da caminhada”, relatou a Dra. Liana.

Mas não é só pelo atendimento humanizado e representativo de mulheres médicas que o Ifé se tornou uma referência. “A maioria dos nossos pacientes são negros. Observamos também que a escolha pelo nosso atendimento ocorreu em associação aos princípios do black money. Essa circulação de dinheiro é algo em que acreditamos muito. O fortalecimento da nossa população é atravessada por este formato de economia”, explica a oftalmologista.

Foto: Reprodução/Instagram

Depois de um ano com a clínica funcionando, a Dra. Liana ainda fala sobre como elas ainda sentem a euforia de terem a própria clínica. “Essa união e parceria nos fortaleceu, e cada paciente que vem ao nosso consultório é mais uma amizade que fazemos. São tantas histórias compartilhadas, sorrisos trocados, dores ressignificadas nesses meses, que faz toda nossa trajetória até aqui valer à pena”.

Sem spoilers, mas a oftalmologista garantiu que em breve terá novidades no Grupo Ifé Medicina: “Para o próximo ano, muitos projetos, só podemos pedir caminhos abertos!”.

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