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Xenia França lança música sobre apropriação cultural e a invisibilidade social negra

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Xenia França

“Não fecha a conta, a cota é pouca, o corte é fundo. E quem estanca a chaga, o choque do 3º mundo? De vez em quando um abre a boca, sem ser oriundo. Para tomar pra si o estandarte da beleza, a luta e o dom. Com um papo tão infundo…” – esses são alguns dos versos que compõem a música “Pra que me chamas?”, interpretada por Xenia França e composta por ela e Lucas Cirillo.

A faixa foi escolhida como single do primeiro álbum de Xenia, que já tem data de estreia para plataformas digitais: dia 29 de setembro de 2017. O projeto foi selecionado pelo edital Natura Musical 2016 com apoio da Lei Rouanet.

Navegando entre os ritmos cubanos e baianos, ambos influenciados pela cultura yorubá, “Pra que me chamas?”, traz elementos eletrônicos somados à força de instrumentos como o Batá, tambor sagrado da Santeira Cubana, além do Rum, Rumpi e Lé, todos utilizados no Candomblé.

Xenia trata, em seu single, da invisibilidade social negra no país, além de  expor como elementos culturais afro-brasileiros são explorados e, por muitas vezes, desrespeitados. No refrão ela diz: “Porque tu me chamas se não me conhece?”  Esta frase é uma tradução para “Pa que tu me llamas si tu no me conoces?” – muito usada em Cuba e que faz referência ao orixá Eleguá, equivalente ao Exú no candomblé brasileiro.

Ouça a música “Pra que me chamas?”:

https://youtu.be/e_4UQ0vhl5g

Com 11 anos, Kheris Rogers é mais jovem designer da semana de moda de NY

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Foto: Reprodução Instagram

Você já teve a impressão que as crianças de hoje sabem cada vez mais cedo  o que querem da vida? O número de empreendedores jovens cresce significativamente e Kheris Rogers, de apenas 11 anos é um desses talentos prodígio.

“A acabei de fazer história na #NYFW como a mais nova designer de moda de todos os tempos. Eu só tenho 11 anos e entrei na passarela para encorajar pessoas a amarem a sua pele”, celebra a grande-pequena Kheris em sua conta no Instagram.

Reprodução Instagram

“Outras crianças não queriam brincar comigo ou serem meus amigos por causa da minha pele muito escura”, explica Rogers em entrevista ao site americano Refinery29, “Passar por isso me inspirou a começar o Flixin’ in My Complexion”, por que negro tem tantos tons e todos são maravilhosos”.

Reprodução Instagram

Lupita Nyong’o e a Alicia Keys são algumas das celebridades negras que já aparecerem usando roupas da marca da talentosa estilista mirim.

 

 

Youtuber faz resenha da linha de make da Rihanna para pele negra, em português

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Foto: Reprodução Youtube

Os amantes de maquiagem enlouqueceram com a nova linha de maquiagem da Rihanna,  Fenty Beauty. E não foi apenas pelo nome da celebridade na assinatura da linha, mas sobretudo pela farta cartela de cores das bases que somam 40 tonalidades.

Durante o lançamento do produto a cantora reforçou sua dedicação em satisfazer todas as mulheres.

A Youtuber Aline Custódio, brasileira que mora nos Estados Unidos, foi uma das muitas negras que correram nas lojas para comprar a maquiagem, que esgotou em muitos lugares.

Em seu canal ela conta o que achou dos produtos, falando sobre fixação, preço e para qual tipo de pele o produto funciona melhor.

O produto ainda não está sendo vendido no Brasil, mas pode ser comprado pelo site da marca.

 

Lan house, barbearia, bistrô: Documentário, aborda afroempreendedorismo nas favelas

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Sessenta e oito bilhões de reais era o que as comunidades do Rio de Janeiro movimentavam em meados de 2015, de acordo com o instituto Data Favela. Desse tempo para muitas mudanças aconteceram no cenário econômico e político, mas dentro das comunidades o conceito de segurança e estabilidade estão longe de ser o alicerce da movimentação financeira . O documentário Grana Preta, que estreou ontem no RJ, mostra como quem empreende nesse espaço consegue manter o seu negócio .

A ideia de produzir o documentário surgiu depois de uma pesquisa qualitativa desenvolvida, com comerciantes do Complexo do Alemão. “O que mais nos chamou atenção foi perceber que grande parte dos comerciantes abriram seus negócios motivados pelo desejo de trabalhar perto de casa e pela possibilidade de organizar seu tempo, rotina”, destaca Thamyra Thâmara, jornalista e criadora docriadora do GatoMIDIA, espaço de aprendizado em mídia e tecnologia para jovens negros e de espaços populares.

O documentário tem o objetivo de debater os métodos e formatos dos negócios desenvolvidos nas favelas e por empreendedores negros.

“Sobre a crise, a crise na favela não é novidade, a favela sempre lidou com crise, com ausência do estado e de políticas públicas. Tá aí o conceito do nós por nós, as pessoas abrem negócios em suas próprias casas, no quintal, na laje ou na rua”, explica a jornalista.

“Saber produzir e criar em ambiente adversos é uma habilidade diferenciada que pode ser potencializada e replicada metodologicamente. A lan house que compartilha espaço com o tio do bar, a barbearia que vende roupa, a tia que vende quentinha por 3 conto, a feira de sábado, os brechós das igrejas , a padaria com pão a 20 centavos, o bistrô de cerveja artesanal, tudo isso apontam os novos rumos da economia colaborativa e dos negócios em tempos crise”, finaliza.

O documentário terá outras duas exibições.

23.09 – Bistrô Estação R&R
10.10 – Instituto Black Bom

Para mais informações sobre exibições e parcerias podem ser obtidas no e-mail: projetogatomidia@gmail.com 

Empreendedora negra homenageia países africanos através da gastronomia

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Chefs Luisa Makiese, Dida e Belinda

Como conhecer uma cultura? São vários os elementos que formam a identidade de um povo e, sem dúvidas, a gastronomia está entre os mais ricos e importantes. Pensando nisso o “Dida Bar e Restaurante” criou um evento chamado “Dida Afro”.

A ideia é que, a cada mês, o público seja apresentado a um país africano diferente, através de um prato típico. Mais que isso, chefes de cozinha, naturais do país escolhido, ficam responsáveis pelo menu do restaurante durante o evento.

Em setembro a República Democrática do Congo, país localizado na África Central, será o homenageado. Assim, a cozinha do restaurante ficará a cargo das chefs congolesas Belinda e Luisa Makiese. Belinda vive no Brasil há mais de 20 anos, já Luisa está aqui à apenas 3 meses.

Pondu – Prato típico do Congo

O prato principal do cardápio será o Pondu, que possui ingredientes semelhantes a quitutes do Norte brasileiro. Ele é feito com a folha da mandioca, cozida com azeite de dendê, berinjela, pepino, jiló, pimentão, entre outros, além de temperos.

A iguaria vem acompanhada de posta de peixe assado, arroz branco e fufu (funge), no valor de por R$ 49,00 (individual).  O cliente ainda recebe entradinhas com abobrinha recheada, mexilhões com páprica e cocadinha de sobremesa.

O “Dida Afro” acontece nos dias 16 e 17 de setembro, no Dida Bar e Restaurante – Rua Barão de Iguatemi, 408, Praça da Bandeira, Rio de Janeiro (RJ). Estabelecimento aberto à partis das 12h.

Brasileira ganha bolsa em programa do Obama com projeto que une turismo à comunidades quilombolas

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Thaís Rosa Pinheiro fundadora do Conectando Territórios Foto: Facebook)

“Atualmente o Brasil possui mais de 5 mil comunidades quilombolas reconhecidas, porém poucas comunidades são tituladas. Acredito que o turismo tem também o poder de educar e principalmente de aproximar de povos e culturas”. Essa afirmação é da turismóloga Thais Rosa Pinheiro, 35, que foi contemplada com uma bolsa internacional e integral do Young Leaders of the Américas Initiative (YLAI) Professional Fellows Program, programa criado pelo ex-presidente americano Barack Obama.

Nascida no Rio de Janeiro ela Mestra em Memória Social (UNIRIO), Especialista em Análise Ambiental e Gestão do Território (ENCE) e  Especialista em Economia, Turismo e Gestão Cultural (UFRJ).

No programa do YLAI foram 4 mil inscritos e 250 jovens selecionados, representantes de 36 países, líderes de diversas iniciativas. Em comum,  projetos voltados para melhorar a qualidade de vida do planeta e dos seus residentes. Thais passará 5 semanas em cursos e estágios em empresas. Ela viaja no próximo dia 2 de outubro retornando no dia 9 de novembro.

Thais se inscreveu no programa apresentando seu projeto “Conectando Territórios” que busca aproximar pessoas à história, memória e a diversidade cultural brasileira a partir de vivências turísticas de base comunitária em comunidades tradicionais como quilombolas e comunidades urbanas.

A imagem pode conter: 5 pessoas, pessoas sorrindo, pessoas em pé, atividades ao ar livre e natureza
Foto: Facebook

“Eu levo visitantes para conhecer as comunidades, ofereço cursos de danças afrolatinas, workshops sobre história, cultura afro-brasileira e eventos que discutem sobre territórios e pessoas”, explica a turismóloga que ficou sabendo da Bolsa, pelo Facebook.

Para ela a aproximação dos turistas com a comunidade quilombola , por meio do Conectando Territórios, aumenta o conhecimento da sociedade sobre a importância da cultura africana e também indígena.

Nenhum texto alternativo automático disponível.
Foto: Facebook.

“Nosso trabalho se estende pela valorização da arte brasileira, conectada a herança africana, indígena e tradicional, fortalecendo o trabalho de artesãs mulheres. E de conexão com nossa história nos centros urbanos onde encontramos a cultura afro brasileira por exemplo. Acreditamos num mundo em que as diversidades são elos de aproximação, e o contato com moradores locais contribui para essa aproximação e quebra de barreiras”, conclui a turismóloga.

Para saber mais sobre afroturismo e o Conectando Territórios, acesse o site e a página do projeto no Facebook:

Site www.conectandoterritorios.com.br

https://www.facebook.com/ConectandoTerritorios/

Projeto literário traz um garoto negro como super-herói

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O “Herói” é um garoto de apenas 6 anos, membro de  uma família negra e super-poderosa. Ele também é negro e super-poderoso! Suas habilidades são a força e o poder de pular muito alto, além de sua esperteza e senso de justiça.

A história de Herói, e de todos os outros membros de sua família, foi desenvolvida pela “Afrodinamic”, uma editora independente que busca criar personagens e histórias que exaltem a representatividade e pluralidade existentes no mundo. Suas histórias também buscam a valorização ancestral, bem como o pensamento no futuro.

“Herói: O Menino Mais Poderoso Do Mundo” é o mais novo projeto da editora. Este será um livro infantil que, contando uma história atual, levará uma mensagem forte para crianças e adultos. Nessa trama, Herói tem que reaver um objeto de grande estima de uma garotinha das garras de um vilão que se recusa a reconhecer os direitos das outras pessoas.

Ao ajudar o projeto você ganha recompensar como essas

A Afrodinamic acredita que se reconhecer nas histórias é um fator primordial para o estabelecimento de identidade e valorização pessoal, tanto da criança, quanto do adulto. Além disso, ler para uma criança, estimula o desenvolvimento infantil e fortalece o vínculo familiar, por isso “Herói: O Menino Mais Poderoso Do Mundo” é tão importante!

E para que este projeto se torne realidade é necessária ajuda de todos e todas que puderem contribuir. Este se encontra no “Catarse”, site de financiamento coletivo, afim de arrecadar verba para que o livro seja publicado. A meta é de R$ 6.000 e você pode ajudar a partir de R$20.

Contribuindo financeiramente você ganha recompensas relacionadas ao personagem, entre elas o próprio livro “Herói: O Menino Mais Poderoso Do Mundo”, camiseta, marcador de livro, mascote e etc. Acesse o projeto completo no Catarse clicando AQUI e saiba mais.

O mundo precisa de mais representatividade, de mais tolerância, de igualdade… O mundo precisa de heróis, ajude a acontecer!

Linha de makes com 40 tons de base, consagra Rihanna como afroempreendedora

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Rihanna e sua mega linha de maquiagem Foto: Instagram

2017 é o ano da Rihanna. Ela foi considerada a ativista do ano pela Harvard, quebrou o record de Michel Jackson, chegando ao top 10 da Bilboard pela 30ª vez em sua carreira e muitos produtos da  sua nova linha de maquiagem, Fenty Beauty by Rihanna, esgotaram nas lojas e no site nos primeiros dias após o lançamento.

Com 40 tons de base, a linha Fenty Beauty atende todas as mulheres, da branquinha tipo Kristen Stewart até a mais pretinha tipo Lupita Nyong’o. A base é vendida por $34.00, preço quase similar ao das bases da famosa marca MAC, porém com maiores probabilidades de alcançar tons de pele que as empresas não consideram vendáveis.

“Foi muito difícil criar um produto que atendesse todos os tipos de tons de pele e ainda ficasse invisível. Eu já usei alguns pós translúcidos que no final me deixavam com marcas brancas no rosto”, explicou Rihanna durante a coletiva de imprensa para o lançamento da marca, que levou dois anos para ser concluída.

Mesmo com 4 dezenas de tons de base, diversas sombras, pincéis e blushes, a linha vem apenas com um gloss. A cantora-empreendedora explica que não foi fácil chegar ao tom exato, com a textura e até o aroma que ela aprovaria.

“O gloss vem nesse tom nude meio rosado, com um certo brilho, ele é marcante, mas de forma discreta”, define a interprete de Diamonds.

Como uma mulher negra amante de maquiagem e que se diverte para ficar bonita, Rihanna disse que sua linha foi criada em cima de coisas que ela ama. “Eu também queria fazer algo que garotas de todos os tons de pele se apaixonassem. Em cada produto, eu ficava preocupada se agradaria a menina mais clara ou a menina mais escura. São tantas tonalidades derivadas do azul, do verde, do amarelo. Eu queria que as consumidoras apreciassem o produto, não tendo aquela sensação de que aquilo é interessante, mas só fica bonito em outra pessoa”, descreve.

Foto: Instagram

A experiência de compra da maquiagem por ser muito frustrante, sobretudo para mulheres negras, mas RiRi foi genial em se preocupar com a diversidade dos amantes de maquiagem e ampliar o número de consumidoras.

Negra Rosa, case de sucesso no Brasil

A Youtuber e empresária Rosangela Jose da Silva, a Negra Rosa, começou sua aventura com sua própria linha de maquiagem, lançando batons matte para pele negra, com um tom chamado Kihah que é o nude perfeito para negras de pele mais escuras.

Foto: Instagram

Ela agora também tem uma linha de bases, com cinco tons,  que podem atender a várias tonalidades sendo usada sozinha ou combinada com outra base.

A Fenty Beauty By Rihanna pode ser obtida diretamente no site da loja que entrega no Brasil. A linha Negra Rosa também pode ser comprada pelo site, ou diretamente com as dezenas de revendedoras que a marca tem no no país.

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MC Soffia promove encontro de adolescentes negras. “Elas estão muito sumidas”

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MC Soffia quer mais amigas negras (Foto: Divulgação)

Qual foi a última vez que você viu uma adolescente negra na TV, em um campanha de publicidade, capa de revista, cantando no Youtube? Talvez a MC Soffia seja a única imagem que venha a sua cabeça e é justamente ela, sentindo falta das suas pares, quem decidiu fazer o primeiro encontro de adolescentes negras. O 1° Encontro Preteenha Rainha com Mc Soffia acontece no dia 30 de setembro, em São Paulo.

” Eu notei que as adolescentes negras estão muito sumidas. Eu não tenho muitas amigas negras e eu queria me ver nelas e  que elas  se vissem em mim, porque a gente tem os mesmos assuntos para conversar, os mesmos cabelos, gostamos das mesmas coisas.”, explica Soffia, agora com 13 anos.

Soffia: “Eu quero me ver nelas e que elas se vejam em mim”. (Foto: Divulgação )

O encontrinho de adolescentes negras que tem por objetivo promover interação, conhecimento e diálogo, será no Aparelha Luzia, espaço que tem sido  sede de vários eventos importantes para comunidade negra paulista.

Na programação, além de um bate-papo com Mc Soffia, onde serão trocadas experiências sobre a vida  das adolescente negras, haverão ainda profissionais dando dicas de maquiagem básica, oficina de rimas com a Stella, Youtuber, integrante do grupo Estaremos Lá e discotecagem com DJ Sophia, uma jovem de 16 anos.

Somente as adolescentes poderão ficar presentes durante o evento. Haverá venda de alimentos a preços bem especiais no local. Adolescentes não negras também são bem-vindas desde que elas tenham entre 12 e 16 anos.

Informações completas na página do evento no Facebook: clique aqui.

Adriana Barbosa: “Precisamos parar de consumir de empresas que não estão preocupadas conosco”

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Adriana Barbosa: Fundadora da Feira Preta

Quando começamos a gostar de ser negros aqui no Brasil? A partir de qual momento, ser chamado de morena virou ofensa e decidimos abandonar o alisamento e abraçar a nossa beleza natural? Não há uma data precisa como resposta, mas não podemos ignorar dois fenômenos que contribuíram para o nascimento dessa nova nação negra brasileira: a revista Raça Brasil e a Feira Preta.

O impacto da Feira Preta começou na cidade de São Paulo, ocupando espaços tradicionais da cidade com corpos negros, empoderados, conscientes e não só isso, fez despertar o conceito do afro-empreendedorismo de forma mais latente.

Revelando nomes, conectando pessoas, criando oportunidade de negócios, Adriana Barbosa, a fundadora do projeto foi considerada neste ano de 2017, uma das afrodescendentes mais influentes do planeta, pelo MIPAD, premiação que faz parte das ações da ONU dentro da programação da Década Internacional dos Afrodescendentes. Lázaro Ramos e Taís Araújo, são os outros nomes que completam o trio brasileiro dos negros de grande prestígio internacional. A premiação acontecerá no dia 26 de Setembro, em Nova York. O ex-presidente Obama também estará presente, juntamente com outros premiados famosos como o jogador de basquete LeBron James e a atriz Lupita Nyong’o.

Conseguimos essa entrevista exclusiva com a Adriana antes do grande evento, para ouvir dela, quais o balanço que ela faz até agora do ano da “diversidade”.

Mundo Negro – Sabemos do impacto social e cultura da Feira Preta, mas o que é esse projeto em termos de números?

Adriana Barbosa: A marca Feira Preta tem se construído e fortalecido, há 15 anos, como um “lugar” de valorização da cultura negra, a partir das diferentes iniciativas que realiza; todas elas privilegiando, principalmente, a diversidade da produção negra: nas artes, no empreendedorismo, na tecnologia, na inovação. A Feira em si, evento anual que realizamos, já reuniu mais de 130 mil pessoas e colaborou com a movimentação de cerca de cerca de R$ 4,5 milhões em São Paulo, Brasília, São Luís e Rio de Janeiro entre empreendedores negras e negros.

Recentemente, a Feira Preta  passou a fazer parte da Rede Internacional Afroinnova, uma rede de Inovação comunitária para a diáspora africana. A Rede é uma iniciativa da organização colombiana Manos Visibles, que tem o objetivo de  estabelecer pontes com outras redes afrodiaspóricas, a fim de compartilhar experiências, construir referências de modelos de desenvolvimento afins para a população da diáspora, com ações  efetivas para alcançar o desenvolvimento global e  integral dos afro-descendentes e das comunidades africanas. A Feira Preta é signatária do tema “mercados” e contribui com a experiência da Feira dos últimos 16 anos.

Você está há quase 20 anos empreendendo para negros. Quais são as maiores dificuldades para se empreender para negros no Brasil? Falo desde patrocínio passando por apoio do Estado e reconhecimento e a apoio da comunidade negra.

Estou há 16 anos atuando com esse tema e, hoje, os desafios enfrentados são outros, diferentes de quando iniciei estra trajetória, em 2002. Antes, o obstáculo com as empresas era entrar com a pauta do negro, a partir de uma perspectiva de negócio. Ouvi de várias corporações que não poderiam apoiar a Feira Preta porque o nome remetia a uma questão de conflito racial e eles não enxergavam o potencial pelo viés de segmento de mercado. Muitas pediram para eu alterar o nome para algo do tipo “Feira Étnica”, por exemplo.

Hoje, tem um novo contexto. As empresas querem investir nesta segmentação, a partir da perspectiva da DIVERSIDADE. No entanto, o foco é social e não mercado. Ainda hoje, a peregrinação para mobilizar recursos para a Feira Preta tem porta de entrada nas áreas de Sustentabilidade, Responsabilidade Social ou até Recursos Humanos e não o departamento de Marketing. E acho que é possível fazer o investimento social privado pela área do social, claro, mas observo melhores perspectivas pela área de marketing, trabalhar com marcas alinhadas à compreensão de que o social não está desvinculado da inserção em todos os aspectos do mercado, de rever e ressignificar o mercado. Mas isso ainda não é a realidade hoje. Os departamentos de marketing não olham investimento com esse olhar de diversidade, eles só olham com a representatividade limitada a colocar negras e negros, especialmente os de pele clara, nas campanhas publicitárias.

Do ponto de vista do estado, nos últimos anos não tivemos interferência nas atividades da Feira Preta. Até a edição do ano passado, a leitura foi que a Feira Preta é um evento comercial e não pode ter aporte de recurso público. No entanto, eventos como Fórmula 1, Carnaval e Parada LGBT tem recursos públicos e, em alguns dos casos, ocorre em espaço privado com investimento de recurso público. Em minhas conversas com o poder público, sempre faço essa comparação junto aos gestores e percebo avanço nestes diálogos também.

Foto: Reprodução Facebook

Mais de uma vez, cogitei abrir mão de realizar a Feira Preta em local privado, sem qualquer tipo de cobrança para o público (ingressos) e ofertei a realização em parceria com o poder público. Mas quando mostro o orçamento do evento, o retorno é que podem nos entregar a isenção do espaço. E o restante das coisas? Quem paga os cachês dos artistas, os custos de produção, comunicação, segurança, etc?

Então, trata-se de uma negociação complexa, mas que segue. Diálogos são realizados todos os anos.

O formato da Feira Preta nos últimos anos foi de desenhando também a partir do que foi possível garantir a sua realização. Mas é, de fato, muito difícil e complexo negociar uma locação de pavilhões de  R$ 100.000,00, por exemplo, com a mesma régua de qualquer outra feira.

Porque a Feira Preta é um negócio social de impacto econômico. Não é um negócio convencional, com “lucro dividido entre os sócios”. O foco da Feira Preta é gerar e circular renda que potencialize as atividades de empreendedores negras e negros dos diferentes segmentos.

Em resumo, o acesso ao capital ainda é o maior desafio hoje. E sei que isso não é exclusividade da Feira Preta e se estende aos empreendedores negros de forma geral, em todo e qualquer segmento. Além de sermos a maioria da população brasileira, de acordo com o Sebrae somos também a maioria empreendedora. No entanto, não temos acesso a investimentos, linhas de micro-crédito, entre outras linhas de acesso de dinheiro.

Somos uma potência em inventividade e criatividade. Empreender foi a forma encontrada para dar conta de nossas vidas, uma vez que sempre estivemos na margem da sociedade. E fazemos isso sem recursos financeiros razoáveis. Se o capital chegasse nas mãos pretas, o Brasil seria uma potência de fato.

Esse ano fala-se muito na questão da diversidade na publicidade. Você acha que a comunidade negra se beneficiou com aumento da presença de negros nas campanhas? Você acha que as empresas “sensíveis” à causa tem uma preocupação sincera com o crescimento da comunidade negra?

Acredito que lutamos muito por esse momento da visibilidade, de “representatividade”. Não nos víamos antes e agora, em certa medida, nos vemos. Tá longe do ideal. Tá longe da proporcionalidade necessária. Mas, nos vemos.

Obviamente – e muito tardiamente – entenderam que somos também consumidores e expressam o interesse em nosso dinheiro dialogando conosco a partir não apenas da publicidade, mas também no desenvolvimento de produtos. Finalmente, estabeleceram um “diálogo”. Dentro da esfera do capital, claro, mas estabeleceram.

O fato é: Sim! As empresas estão interessadas no nosso crescimento quantitativo porque isso representa mais consumo, mais lucro, etc. Mas ainda não entenderam o elo entre isso e as nossas vulnerabilidades sociais. E a prova mais evidente disso é a questão do Investimento Social Privado, as doações, patrocínios a eventos. O quanto destes investimentos estão sendo feitos em iniciativas realizadas por pessoas negras e, principalmente, que tenham foco no fortalecimento destes indivíduos, desta identidade?

Exemplos disso são as empresas de produtos para cabelo. Elas têm linhas direcionadas, comunicação direcionada, utilizam a imagem das nossas mulheres, nossas fórmulas caseiras e saberes ancestrais, mas não investem em muitos dos projetos liderados por mulheres negras. No último ano, fui a muitas empresas que lançaram campanhas com o foco bem direcionado em produtos para a pele negra ou para cabelo crespo. No entanto, o que mais ouvi foram opções de “patrocínio com produtos”. Como vou pagar os fornecedores da Feira Preta com frasco de xampu ou com sacolinhas de brindes?

Então, enquanto consumidora, fico de olho nesse movimento. Mas, como empreendedora também. E por vezes penso que esse cenário de escassez de investimento nos nossos eventos, na nossa criação, na nossa atividade quando dermos um basta e pararmos de consumir das empresas que não estão comprometidas de fato conosco, com a transformação desta estrutura.

Quando as empresas falam de Diversidade, penso que elas PRECISAM entendê-la de forma transversal:

Recursos Humanos: precisamos incluir jovens aprendizes e Trainees negros? Sim, claro. Mas, não apenas. Precisamos ter negras e negros em cargos de liderança, de tomada de decisão, com o poder da caneta.

Investimento Social Privado: é preciso ter investimento em projetos que tem o recorte de raça bem definido.

Comunicação e Publicidade: apenas com mudanças internas, a empresa vai se comunicar e conectar de fato com a população negra, de forma profunda.

Cadeia de Valor: inclusão de afro-empreendedores entre os fornecedores de produtos e serviços diversos.

 A Feira Preta é o evento de maior prestígio da comunidade negra. Ela é rentável? Se não, você credita ao racismo a dificuldade de levantar recursos para um evento afro-centrado? O que te motiva a continuar mesmo em tempos de tantas dificuldades?

A Feira Preta nesse formato hoje, não é rentável. Realizar um evento para mais de 10 mil pessoas custa caro, mais de meio milhão por ano. O  afro-empreendedor e o público que frequenta o evento tem pago essa conta. Mas, sem investimento social privado ou patrocínio  é muito complicado manter. Porque tanto o afro-empreendedor, quanto o público chegaram no limite de investimento. Se custar muito caro, encarece ao empreendedor que vai subir o preço do seu produto e vai repassar ao público, que vai, portanto, precisar pagar para entrar e pagar pelos produtos que desejar comprar na Feira. Então, é um circulo vicioso,  mas que não fecha.

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Foto: Facebook

Como eu disse anteriormente, a Feira Preta é um negócio de impacto social e econômico. Está de olho em um segmento que é maioria no Brasil, mas é minoria em acesso, logo o modelo de negócio, leva em consideração esse ponto de partida. Jamais a atuação parte do mesmo lugar de um Festival do Japão ou de uma Feira do Automóvel. A nossa lógica é outra. A gente parte de outro lugar.

Eu vejo o modelo da Feira em um formato que seja de governança compartilhada, em que a inciativa privada, o estado, o público, o empreendedor (de arte, cultura, moda, gastronomia, etc) e a organização têm que aportar um pouco para que o modelo continue existindo. É como se fosse uma engrenagem que precisa de todas as peças. Se faltar alguma, a máquina para de funcionar. Que foi o que aconteceu no passado, quando dois patrocinadores deixaram de aportar o que estava previsto, ocasionando uma dívida superior a R$200.000,00. Essa dívida faz com que esse ano, o formato seja outro para dar conta do contexto político e econômico. Neste ano, realizaremos um calendário especial olhando para o mês de novembro e a cidade de São Paulo como um polo de efervecência da cultura negra contemporânea, construindo uma programação pautada em três pilares: Territórios, Conteúdos e Comunicação.

Como você recebeu a notícia de ser uma das negras mais influentes do mundo? E qual o impacto disso na sua vida pessoal e profissional? Se conseguir falar com o Obama, o que você dirá a ele?

Quase caí para trás quando recebi essa noticia, rs. Fiquei muito impactada e bastante emotiva com a campanha de mobilização de recursos, que foi idealizada e está sendo conduzida por amigas, sem falar nas diversas mensagens de carinho, apoio e reconhecimento que tenho recebido, seja de pessoas conhecidas ou não. O reconhecimento, apesar de estar como pessoa física, eu o entendo sob a perspectiva coletiva. É um prêmio para toda essa rede que tem se conectado com a Feira Preta. Os artistas, empreendedores, público, equipe de colaboradores, fornecedores, as empresas e instituições que já acreditaram e investiram. Enfim, uma porção de pontos que se conectaram e transformaram a Feira Preta no maior evento de cultura negra da América Latina, uma referência de fato.

Eu espero gerar um impacto positivo, principalmente em relação à mobilização de recursos e parcerias. Espero que as empresas daqui possam reconhecer o valor e a potência da Feira Preta.

Além disso, é uma injeção de ânimo, já que minha vida pessoal foi muito impactada depois de tudo o que aconteceu no último ano. Poucas pessoas sabem, mas passei os últimos dois anos trabalhando em sistema de CLT, especialmente para ter mais estabilidade e segurança financeira para criar minha filha. Então, eu decidi sair do emprego formal para me dedicar à Feira Preta. Quando o patrocinador desiste de investir, muda tudo. E isso me fez e faz refletir muito os limites do ativismo, os limites dos negócios, a relação disso tudo.

A Feira Preta é a minha vida, mas hoje, não é possível viver dela e daquilo que acredito, que amo. Hoje, preciso ter um outro trabalho para dar conta da minha vida pessoal. E, obviamente, isso também impacta na realização da Feira, que deixa de ter a minha dedicação total.

Consciente de que existem limites, o prêmio me ajuda a seguir em frente, a acreditar. A acreditar principalmente que meu desejo e luta pela igualdade, pelo equilíbrio, pela democracia racial REAL não estão passando despercebidos. Aí, como canta a sambista Beth Carvalho,  “levanto, sacudo a poeira e dou a volta por cima”.

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