O Coletivo Quizumba existe desde 2008 e tem como objetivo pesquisar e criar produções artísticas com foco na cultura brasileira. O grupo trás para o espaço Itáu Cultural o espetáculo “Quizumba!” e uma oficina de música chamada “Musicalidade em Cena”.
A oficina trabalha canto, improviso de versos, toque de capoeira e ritmos africanos como: ijexá, congo, maculelê, entre outros.
Já o espetáculo tem dois personagens centrais: Pastinha e Fancisco. Pastinha em um garoto que sempre apanha dos “valentões” da rua. O mestre Benedito, vendo aquela situação, convida o garoto a aprender com ele a como se defender. Com esses ensinamentos o mestre lhe conta a história de Francisco, o Zumbi dos Palmares.
As duas atividades se complementam, uma vez que a trilha sonora de “Quizumba” é baseada nos aprendidos da oficina “Musicalidade em Cena”.
As atividades estão inseridas na programação do “Fim de Semana em Família” do Itaú Cultural, e acontecem nos dias 19 e 20 de agosto (sábado e domingo). Nesses dois dias a oficina começa às 14h, com capacidade máxima para 15 crianças, com um acompanhante cada uma.
O espetáculo “Quizumba!” também ocorre nos dias 19 e 20 de agosto, com início às 16h. Com plateia máxima de 70 pessoas. As atividades acontecem no Itaú Cultural – Avenida Paulista, 149, Estação Brigadeiro do Metrô, SP. Saiba como garantir seu ingresso no site da instituição.
Sol, piscina e mar. O frescor do verão tem tudo a ver com o brilho do gloss nos lábios. E não é por acaso, além de bonito, os batons líquidos garantem um look saudável e hidratado. Queridinho nas estações mais quentes do ano, do nude ao colorido, os gloss apareceu em várias bocas negras durante o desfile do último São Paulo Fashion Week Verão 2017.
Modelos do SPFW Verão 2017 usando gloss nude
Independente da estação, o brilho molhado na boca também é um forte aliado para quem busca um look mais marcante na maquiagem. Durante as premiações do Globo de Ouro de 2016 e 2017 e a atriz Viola Davis, (que levou a estatueta esse ano), encantou a todos no tapete vermelho com sua boca molhada com um gloss vermelho e nude, respectivamente.
A diva Viola Davis ama usar um gloss no tapete vermelho. Esse ano ela optou um nude por conta do forte tom amarelo do vestido
A cantora Beyonce em um dos seus vídeos mais performáticos, Hauted, teve seus belos lábios ressaltados pelo uso de um gloss vermelho, que deu mais volume aos seus lábios generosos.
Do vermelhão ao nude Beyonce arrasa usando gloss
Youtuber brasileria lança batons com efeito gloss
Depois do sucesso da linha de batons com nomes africanos, a Youtuber e agora empresaria Rosangela Silva, A Negra Rosa lançou sua linha de batons líquidos onde o nome das cores literalmente vão te dar agua na boca: Doce de leite e Uva.
A Youtuber e empresária Rosangela Silva, com os batons líquidos da sua marca Negra Rosa.
Eu achei linda a volta das bocas brilhantes e quis fugir um pouco da secura do mate e queria uma coisa que chamasse a atenção pelo brilho, por isso veio a ideia do batom liquido com efeito gloss”, explica a Youtuber, pioneira em beleza negra na plataforma de vídeos.
As modelos Camila e Beatriz com o batom liquido Uva, da Negra Rosa
“Eu não me fixo em uma textura, eu gosto de todos, e quero que minha marca tem batons para todos os gostos Os produtos apresentaram muita pigmentação e brilho”descreve a empresária.
Todos os batons da linha Negra Rosa tem registro na Anvisa e não foram testados em animais. Eles podem ser comprados pela loja virtual da Negra Rosa.
5 Motivos para amar gloss
O gloss tem feito emoliente que evita que seus lábios se ressequem.
Fácil de usar, o gloss não mancha os dentes como o batom.
Bateu aquela preguiça para de maquiar ou está com pressa. O gloss lhe confere um visual charmoso e com cara de quem se cuida.
Você pode misturar o gloss com seus batons e ter um resultado bem interessante
Os lábios carnudos ganham mais destaque com um batom liquido do que com o batom tradicional.
Foi em 2007 a primeira vez que a revista Veja deu destaque cotas raciais em universidades públicas, usando o caso dos irmão gêmeos onde um conseguiu uma vaga como cotista e o outro não, para defender a tese complicadíssima de que raça não existe. Essa corrente “somos todos humanos” de pensamento, vem sempre à tona no Brasil, quando um grupo tradicionalmente oprimido reivindica algum direto. Se cientificamente a raça é única, socialmente sabemos que é bem diferente.
Voltando ao semanário mais lido do Brasil, a capa dessa semana fez qualquer um que conhece o histórico da revista da editora Abril arregalar os olhos. Se em edições passadas sobre ações afirmativas os destaques eram fotos como essa abaixo , onde ações afirmativas eram vistas como separatistas e não inclusivas, a edição de 16 de agosto prova com várias pesquisas e análise de desempenho de 300 diplomados, que as cotas favorecem não só a comunidade negra.
Imagem de: http://veja.abril.com.br/blog/ricardo-setti/tag/cotas/
A premissa da reportagem é que os mitos que ferveram durante a implementação das cotas na UERJ em 2002, foram somente isso, mitos. O texto assinado por Luisa Bustamente , Maria Clara Vieira e Rita Loiola revela uma pesquisa feita pelo Insper que mostrou que a nota dos aprovados sem cotas eram, em média apenas 5% maior, do que os não cotistas , isso inclui cursos de medicina em faculdades públicas. Todos os números da matéria mostram desvantagens quase irrisórias. No que diz respeito a desistência dos cursos, os cotistas são a maioria a concluir o curso.
Vale comprar, ler e guardar a revista que comprova algumas informações que a revista Istoé já trouxe em 2013, mas com dados mais consolidados e muitos personagens que só comprovam o que a maioria de nós negros já sabíamos. A cota pode não ser a melhor solução, porém sem ações afirmativas talvez os 430 mil negros que estudam em universidades públicas, não poderiam nem sonhar com a vida acadêmica. Ganha a comunidade negra, mas sobretudo o pais.
“Ida” é uma peça de teatro que retrata a trajetória de uma mulher, negra, arquiteta, de nome, não coincidentemente, Ida. Ao apresentar um projeto arquitetônico contemporâneo e ousado a personagem principal começa a refletir sobre o racismo estrutural e o lugar social destinado as mulheres negras atualmente.
A peça, realizada pelo “Coletivo Negro”, foi idealizada pela atriz Aysha Nascimento e pela bailarina Verônica Santos, as duas também atuam no espetáculo. A direção é de Flávio Rodrigues.
A dramaturgia de “Ida” divide espaço com narrativas musicais e corporais. Além das atrizes em cena também há Gisah Silva (percussão) e Ana Goes (guitarra e saxofone) no palco. Assim, a história também se compõe pela música e dança.
O espetáculo faz parte da programação do “Terça tem Teatro”, do espaço “Itaú Cultural”. A apresentação de “Ida” acontece dia 15 de agosto, às 20h, na Sala Itaú Cultural – Av. Paulista, 149, Estação Brigadeiro do Metrô, São Paulo (SP). A entrada e gratuita, porém é necessária a retirada de ingresso 1 hora antes do evento. Saiba mais no site do Itaú Cultural.
Incitar a discussão sobre a invisibilidade de corpos de negros, criminalização, violência e presença destes corpos marginalizados dentro do nosso país, essa é a proposta do solo “BANG!”, protagonizado pela pesquisadora, artista e performer Val Souza.
“Eu tenho como processo artístico pensar a experiência da minha presença negra nesse mundo branco. Como resultado dessas relações, venho elaborando produções em teatro, dança, educação, curadoria e comunicação. Minha poética está em criar constrangimento, afetações, e mostrar o racismo estrutural desse país. Eu não sou ingênua, ao propor isso eu também estou disposta a agenciar e receber afetações e constrangimentos”, conta Val.
Em “BANG!” a artista realiza a performance de forma a reagir corporalmente a intervenções sonoras e, assim, apresentar-se enquanto mulher negra refletindo, artisticamente, as mazelas racistas e machistas do Brasil.
Logo após a performance haverá um debate sobre o processo criativo e a estética da mulher negra, que contará com a participação de Val Souza e da escritora Cidinha da Silva. O evento acontece dia 25 de agosto, a partir das 18h, na “Katuka Africanidades” – Rua Chile s/n° – Centro, Salvador (BA). Entrada gratuita.
Saiba mais sobre o espetáculo e confirme sua presença através doevento criado no Facebook.
Imagem retirada do clipe "Fogo em Mim" - Rico Dalasam
O quê JAY-Z e Rico Dalasam têm em comum? São dois homens negros, artistas, músicos, que bebem na fonte do rap… Mais que isso, os dois lançaram, recentemente, vídeos que, ainda que muito diferentes, conversam entre si. Comecemos aqui no Brasil, com Rico.
“Fogo em Mim”, a nova música de trabalho de Dalasam ganhou um vídeo oficial; e que vídeo! Quem já conhece os trabalhos anteriores de Rico sabe do que estou falando! Figurinos inspiradores, inusitados, música com refrão chiclete e, ao mesmo tempo surpreendente.
Imagem retirada do clipe “Fogo em Mim” – Rico Dalasam
Me lembro da primeira vez que ouvi “esse verão que nunca acaba, libera em nós algo em comum, desejo a você que nunca nos falte fogo no c****”, fiquei perplexa! Queria ouvir de novo e de novo. O vídeo trás um clima de festa, de curtição, liberdade, muito característica dessa letra do próprio Rico. E o artista deixa explicito, em um diálogo que abre o clipe, que suas letras ele mesmo escreve.
JAY-Z lançou há pouco tempo o álbum “4:44” (sobre o qual escrevi um texto) e tem lançado vídeos para cada faixa, o mais recente foi para a música “Moonlight”. Na letra o rapper faz referencia ao cinema, ao filme “Lala Land”, ao fato de nós estarmos presos sempre a uma mesma dinâmica de filmes, aos mesmos personagens brancos e estereótipos negros.
Ele também faz referência ao erro histórico no Oscar 2017, onde a principal categoria da noite, melhor filme, foi, em um primeiro momento, para “Lala Land”, porém, alguns minutos depois, descobriu-se que “Moonligth” era o verdadeiro vencedor.
Imagem retirada do vídeo “Moonlight” – JAY-Z
No meu modo de ver esse erro foi muito simbólico! “Lala Land” é o típico filme branco, com protagonistas de olhos claros, pele clara, jovens, cabelos lisos. A típica receita de Holywood, que há décadas vem nos dizendo que só os brancos são bonitos, chamosos, sonhadores capazes… Já “Moonligth” é uma história preta, periférica, de um homem negro, gay. Ainda sim o filme é delicado, poético, doce. No fim, pra todo mundo, “Lala Land” já tinha levado o Oscar antes mesmo de a cerimônia começar. Não levou!
Pra representar tudo isso, o vídeo oficial faz referência mínima ao Oscar. Na verdade o clipe remonta a série clássica “Friends”, porém com todos os personagens negros. E não é nem mesmo uma “inspiração”, é, de fato, uma cópia! O mesmo cenário, o mesmo nome dos personagens, a mesma abertura!
E o que esses dois clipes podem ter em comum? REPRESENTATIVIDADE! Essa palavra que parece já estar tão gasta, mas que, na verdade, só está começando a ser colocada em prática. Há muito o quê caminhar!
Nesses dois exemplos a representatividade negra ganha sentido pleno, uma vez que não há apenas uma pessoa negra porque “tem que ter, pra ninguém reclamar”. Além disso, as pessoas ali não estão lá com o proposito único “vamos tratar de racismo”; nós somos mais que isso!
No clipe de Rico há várias pessoas negras, de diferentes tons de pele, diferentes formas, estilos, cabelos, roupas… Elas estão se divertindo e compondo o clipe com seus estilos. A presença daquelas pessoas não é “exótica”, não é “incômoda”, nem “forçada”; é natural! Porque nós EXISTIMOS!
Imagem retirada do vídeo “Fogo em Mim” – Rico Dalasam
No caso do vídeo de “Moonlight” há todos esses elementos, com uma pitada maior de critica. A maior parte do clipe é destinada a ser uma cena de uma série, como se aquele “Friends” negro realmente existisse. Assistindo a gente se pega pensando: “E não é que é bom!?”. É como se JAY dissesse: “Tá vendo que a gente também pode fazer?”. Considerando que a série original contava apenas com atores brancos em seu elenco principal, essa critica ganha ainda mais relevância.
Imagem retirada do vídeo “Moonlight” – JAY-Z
Dalasam e JAY-Z estão, no fim, passando a mesma mensagem: temos o direito de estar em todos os lugares, em todas as profissões, em todos os “rolês”, com naturalidade, sem precisar pedir licença pela nossas vidas, porque nós EXISTIMOS!
Kenia Maria é uma jovem militante das antigas. Com 41 anos e sabendo como usar a Internet para promover suas ideias e trabalho, ela diz com orgulho que sua militância vem antes das hashtags e do feminismo capa de revista. A luta dela era corpo a corpo, no dia a dia da comunidade. Para atriz e empresária, amar homens negros sempre foi natural por conta da sua educação.
Linda da cabeça aos pés, Kenia se sente uma rainha, por viver um amor “nobre” ao lado Érico Brás há 5 anos. Ela celebra o amor, porque Brás a entende como mulher negra, a textura do seu cabelo, o corpo generoso, as dores em comum.
Nessa entrevista exclusiva para o site Mundo Negro, ela fala sobre seu relacionamento com marido, boleiros negros que amam loiras, seu trabalhos com a família e claro, seu novo posto como Defensora Dos Direitos das Mulheres Negras na ONU Mulheres Brasil. Brás também fala conosco sobre sua musa.
Mundo Negro: Na música Ponta de Lança, Rico Sapiência fala dos pretos e pretas que estão se amando. Você tem notado um aumento no número de casais negros? Quando a gente ama nossa negritude, o natural é procurar alguém como a gente?
Kenia Maria:A arte é um grande instrumento de transformação, de conscientização e manipulação. Todos os sistemas autoritários que pretendiam submeter uma etnia a outra, usaram a arte para manipular isso, como no nazismo. No Brasil “Casa Grande e Senzala” (Gilberto Freire/1933) fala muito bem de como deveria ser a relação afetiva de negros e brancos. Na arte sempre foi fortalecida a ideia de não ficarmos juntos. Desde a época da escravidão, desde de África nos separaram, por línguas, tribos, para gente não se reconhecer, não se gostar, porque nos gostando seríamos muito fortes. Uma família negra que aparece num comercial de TV, no cinema, nos muros de São Paulo ou qualquer lugar de manifestação artística, tem um poder incrível de transformação. Um amigo meu estava dizendo que na favela preto casa com preta, mas a gente sabe que saindo de lá as coisas mudam, porque isso foi ensinado. Temos que mostrar que a gente se ama, é uma luta, e isso não deixa se ser político, casamento entre negros é um ato político. As pessoas costumam estranhar quando eu estou com Érico. Acham que sou irmã dele, babá, assessora, bom assessoria eu sou , ( risos ), acham tudo, mas quando digo sou mulher é um espanto.
Reprodução/Ellen Soares/Gshow
Mundo Negro: Érico, o que te fez perceber que a Kenia era A mulher para você? A cor foi só um detalhe ou a negritude estava “dentro do pacote”?
Érico Brás: A gente se conheceu no centro do Rio de Janeiro e a princípio a beleza dela me chamou a atenção. Ela flutuava com leveza ao atravessar a rua do Ouvidor com a Buenos Aires. A cor dela já era uma prerrogativa para atrair o meu olhar. De onde venho mulher negra tem um diferencial. Mas Kenia trazia um frescor apaixonante no olhar que me rendeu de imediato. Com o passar do tempo percebi que as suas qualidades iam além da atração física. Ela é inteligente, amorosa e viva.
Vocês podem ver nas nossas redes sociais – Facebook e Instagram – que o amor é ingrediente do nosso dia a dia. Descobrir que ela era minha melhor e única companheira quando nos declaramos para outro: EU TE AMO. Foi fatal. Esse amor ele é vivo nas nossas empreitadas, momentos de lazer e com a família. Ele é o motor da nossa relação. O nosso amor nos cura das feridas da vida.
Reprodução/Ellen Soares/Gshow
Mundo Negro: Kenia quando sua mão negra se encontra na mão negra do Brás, como você sente a sua ancestralidade. Vocês juntos parecem rei e rainha, vocês se sentem desse jeito, se tratam desse jeito?
Kenia Maria: Nossa relação começou com uma atração. Eu fui criada por uma família negra, feminista e militante e onde há poucos relacionamentos inter-raciais. Então aprendi a admirar homens negros. Meu primeiro casamento também foi com homem negro e sempre namorei homens negros. Como todas as mulheres do nosso país, eu tive dificuldades por ser uma menina de subúrbio, comunidade. Mas sempre tive essa preferência. E o Érico por ser uma pessoa criada no bairro preto Curuzu, na Bahia, num grupo de teatro onde a politica é a regra, onde não se pode se pensar ator, sem se ver negro. Aí nos encontramos, fizemos uma parceria que depois virou casamento e que é um ato político. Temos consciência disso quando a gente aparece junto em revistas, as pessoas ficam impactadas. Muita gente estranha nossa relação porque meu trabalho sempre foi de militância em uma época que ela não era capa de revistas importantes, como Vogue e Marie Clarie, então as pessoas não me conheciam. Eu me sinto uma rainha sim, porque a relação com um homem negro consciente é muito diferente. Um homem negro que gosta de uma mulher negra, que entende do cabelo, da textura, não tem medo de botar a mão nesse cabelo e entende que o corpo da mulher negra, nunca vai ser igual ao de uma mulher branca. Eu sou uma mulher com quadril, sou uma mulher grande. Não sou melhor nem pior, mas sou diferente, sou uma mulher negra. Quando a gente encontra alguém que entende e aceita a gente dessa forma é nobre, eu me sinto uma rainha.
Foto: Divulgação
À frente da Defensoria Dos Direitos das Mulheres Negras na ONU, suas reflexões sobre nós (mulheres negras) se intensificaram. A solidão da mulher negra, na sua visão é uma realidade?
Eu sou de uma família de militantes. Minha mãe nos anos 70 já ostentava um black power com o meu pai, que era amigo do Toni Tornado. Na minha família tem Mestre Celso que é fundador do Engenho da Rainha, um importante movimento de capoeira. Nos anos 90 na época de Xuxa, paquitas e “angélicas”, minha mãe me colocou para fazer dança afro e recorri aos grupos afro da Bahia, o Orumilá que me levou à dança e a militância. Morar fora me fez despertar mais a esse lado político em mim, eu fui mãe fora do país na Venezuela, onde racismo não era crime na época e minha filha Gabriela sofreu muito. Quando volto para o Brasil eu e minha filha criamos o “Tá Bom Pra Você?” quando ela tinha 13 anos, hoje ela tem 18. Hoje sinto o Brasil vivendo um novo momento do Movimento Negro, a informação e tecnologia deixou a coisa mais democrática, mas a internet ainda não é , senão teríamos Youtubers negras ganhando dinheiro com publicidade e com milhares de seguidores como acontecem com as brancas. A questão da ONU chegar é por conta dessa militância. De coisas que abri mão de fazer, por cause das minhas raízes. Até meu nome é uma homenagem que minha mãe fez a um país africano. Eu estou reforçando um coro e sempre volto a olhar para as minhas irmãs, Sueli Carneiro, Vilma Reis, Djamila Ribeiro, Lélias Gonzales e tantas outras, para ver o que estou falando. Só vai funcionar se for coletivo. O aumento da violência contra a mulher negra aumentou 54% depois da lei da Maria da Penha e contra mulher branca caiu 10% . Não podemos pensar essas questões, sem um recorte de raça.
Mundo Negro: Como você explica essa preferência de negros bem sucedidos por mulheres brancas?
Kenia Maria: Eu fui casada dos 20 até 33 anos com um homem negro, da mesma comunidade que eu e quando mudamos para Venezuela, ele era jogador de um time da primeira divisão, ele percebeu que tinha algo estranho e esse algo estranho era eu. Eu era única mulher negra em um meio repleto de mulheres parecidas com Barbies. As que não era, iam rapidamente clarear o cabelo e colocar silicone. Eu sempre era confundida como babá dos meus filhos, ou enfermeira do time. E eu consegui perceber nele, o momento que ele teve essa confusão, e os colegas o questionavam. O mais estranho era que quando eu voltava para o Brasil de férias, depois da separação, esses jogadores mandavam presentes, dinheiro para entregar as suas ex-mulheres que ficavam no Brasil e quando me encontrava com elas, a surpresa, eram todas negras.Todas. Você via a substituição é automática. Como disse antes, isso é ensinado e estimulado na família, que clarear é mostrar que é bem-sucedido. Meu marido mesmo disse que o pai dele falava muito sobre “mulher de presença”, que é a mulher de fenótipo ariano. A negra é a que não tem presença para estar em certos lugares, vai dar escândalo. O machismo também está ligado a isso, a boa casa, o bom carro e a boa mulher, que é a branca.
Mundo Negro: Vocês dividem o palco juntos e um canal no Youtube juntos. Ser casado com que tem o mesmo ofício tem mais vantagens ou desvantagens?
Eu sempre costumo dizer que a mulher negra anda com duas malas. Enquanto os homens carregam a do racismo a gente carrega a do machismo e do racismo. Eu sempre serei mais cobrada, eu sou muito elogiada porque eu agencio a carreira dele, por ele estar a 5 anos em uma grande empresa. Ele me paga para isso, porque eu não sou uma ótima mulher recatada e do lar, eu faço um trabalho há mais de 20 anos, antes atletas agora artistas, então não gosto desse título. O “Tá Bom Pra Você?” é uma criação de duas mulheres negras. Como o Érico era ator, muitos não acreditaram que a ideia e o roteiro eram meus. Então tem essa desvantagem, essa armadilha. Até meu discurso como militância, tem gente que pensa que eu aprendi com o Érico. Minha família tem milhares de pessoas do axé, minha mãe é feminista e de repente parece que tudo o que sei veio dele, parece até que ele me pariu (risos).
Ele é um grande companheiro, mas eu venho de uma militância muito antes de hashtag, era corpo a corpo, e é doloroso ser definida como mulher de alguém. Nós precisamos estar alertas para gente não perder nosso mérito, criação e autorias, pelo simples fato de ter um macho, mesmo que ele seja negro.
Primeira webserie negra brasileira e peça com marido
O “Tá Bom Pra Você?” fez 4 anos esse ano e é uma ideia da Gabriela que era de fazer uma webserie de uma família negra que mora na zona sul e os conflitos que se dá quando o negro sai do lugar que o negro denominou para ele. Criamos roteiros a partir da nossa vivencia e descobri que somos a primeira web-série negra brasileira, protagonizada por negros e devo isso a Gabriela, as ideias e questionamentos dela. E agora a gente sai da Internet e vai direto para o palco. Dessa vez, vou eu e Érico porque Matheus, meu filho que é um dos atores do projeto está fazendo medicina e Gabriela está se dedicando a arte dela e se lançando como cantora no próximo semestre.
Double Black: peça do casal que estreou Salvador (Foto: Divulgação)
Tivemos a ideia de criar o Double Black que é um Stand Up, um musical e também a nossa história, uma comédia romântica e como diz o Érico, é “uma mistura de Brasil com Egito” (risos). Falamos de forma divertida sobre como nos conhecemos e outros assuntos que falamos no canal. O espetáculo foi lançado em Salvador no Teatro Jorge Amado, no dia 2 e 4 de junho e estamos agora fechando uma agenda que depende muito do Érico, meu companheiro de palco. Em breve estaremos nos palcos do Brasil, quiçá do mundo.
Em clima de arraiá, a “Feira Crespa” terá sua primeira edição realizada no galpão da MALHA. Como em todas as edições, o evento trará o melhor da moda, culinária, arte e cultura afro-brasileira. A programação conta com aulão de zumba, desfile de moda, desfile de pais e filhos – em homenagem ao dia dos pais; além da tradicional feira de produtos.
Entre as marcas já confirmadas estão: Negra Rosa, Crioula Criativa, Az Marias, Odoyarte, Universo das Festas, Clovispinga, Confeitaria Doce Sonho e Sisalewa e VizeAfro. A feira acontece nos dias 18 e 19 de agosto.
Negra Rosa – Marca de maquiagens criada para a pele negra, estará na Feira Crespa
No dia 18, sexta-feira, a entrada é colaborativa, no valor sugerido de 5 reais; começando às 12h, com término às 18h. Já no dia 19, sábado, o valor de 5 reais funciona como entrada fixa e a feira começa às 10h e vai até às 18h. O galpão da MALHA fica na rua General Bruce, nº 274, Rio de Janeiro.
A realização da “Feira Crespa” é da “Rainha Crespa”, que tem como objetivo a produção de eventos culturais que exaltem a negritude, a mulher negra e que criem diálogos sobre as questões raciais no Brasil. Para saber mais acesse o evento no Facebook e confirme sua presença.
Um garoto negro, de periferia, é acusado de ter roubado a bolsa de uma mulher branca, de classe média. Não há evidências de que foi ele, mas a vítima o acusa, de forma convicta. Também de forma convicta, Roberto Carlos, o protagonista, afirma não ser ladrão. E então, quem está falando a verdade?
Esse é o enredo do curta-metragem “Preto no Branco”, roteirizado e dirigido por Valter Rege. “O objetivo principal, é se colocar no lugar dos personagens, senti-los; sem julga-los. Obviamente abordo o preconceito racial. Meus filmes sempre terão essa pegada social , por isso deixo claro que independentemente do garoto ser culpado ou não, o tratamento que ele recebe não é como o que seria dado a uma pessoa branca”, explica o diretor.
Imagem do curta “Preto no Branco”
O curta, que recebeu apoio do Ministério da Cultura, contemplado no edital “Curta Afirmativo” de 2014, já tem data de estreia. Será no dia 22 de agosto, às 19h, no Cine Olido (Galeria Olido – Av. São João, 463, São Paulo) – entrada gratuita.
Valter promete uma história que prende a atenção do espectador: “O público pode esperar uma imersão no mundo obscuro , frio e claustrofóbico de uma delegacia. O roteiro prenderá o espectador do início ao fim , com a dúvida até o último segundo: O quê acontecerá com esse garoto?”
Imagem do curta “Preto no Branco”
Além da estreia de “Preto no Branco” o evento também contará com um bate papo junto à equipe responsável pelo curta. Para saber mais acesse o evento da estreia no Facebook e confirme sua presença. Assista ao trailer do curta:
https://youtu.be/v8ONcc9nF8c
Valter Rege, diretor do curta, também conhecido como “Valtinho”, além de cineasta é criador de conteúdo para a internet. Como o seu canal “Energia Positiva”, Valter publica seus curtas independentes, suas visões sobre a sétima arte e entrevistas com atores, editores, criadores… Tudo isso com sua visão de homem, negro, gay, periférico e cineasta. Conheça:
O mito do pai negro tem sido perpetuado por anos. Vários estudos e pesquisas diziam incansavelmente que pais negros eram absurdamente os mais distantes na vida dos seus filhos.
No entanto, enquanto esses números não podem ser ignorados, eles contribuem para invisibilizar o grande número de pais negros que são presentes e participativos na vida das suas crianças.
O Centro de Controle e Prevenção de Doenças, nos Estados Unidos recentemente publicou novos dados sobre o papel do afro-americanos enquanto pais e trabalho foi postado no site americano Defender Network.
O estudo derruba vários estereótipos sobre paternidade negra, mostrando que pais negros estão mãos envolvidos na rotina dos seus filhos do que os pais de outros grupos raciais.
O estudo elenca algumas mentiras ditas sobre paternidade negra;
-Pais negros não estão envolvidos com a vida dos seus filhos.
O Centro de Pesquisa Pew (também nos EUA) também achou evidências similares que apontam que pais negros não se diferenciam de pais brancos de forma muito significativa. Apensar dos pais negros serem os que mais vivem em casa separadas dos filhos, a pesquisa mostrou que 67% dos pais negros (que moram fora), veem seus filhos pelo menos uma vez ao mês, comparado aos 59% dos pais brancos e 32% dos pais negros.
Homens negros não valorizam a paternidade
Condições econômicas dos pais negros que não vivem com seus filhos e, portanto, não podem vê-los com frequência ou prover bens de consumo e educação, fez com que se criasse uma imagem de que o pai negro não valoriza a paternidade. Um número igual de pais brancos e negros concordam, de acordo com pesquisa do Pew, que é importante que um pai de suporte emocional, disciplina e guie seus filhos moralmente. Porém pais negros dão mais valor ao suporte financeiro aos seis filhos.
“Mesmo que os pais negros sejam os que menos casam com a mãe dos seus filhos, eles costumam continuar envolvidos em criar essas crianças”, diz Dr Roberta L. Coles, socióloga e professora na Universidade Marquette na matéria do site. Ela tem estudado sobre paternidade negra há uma década.
A ausência de pais negros não justifica todos os problemas
Muitos dizem que a comunidade negra seria mais estruturada se os pais fossem mais presentes. Enquanto esse fato não pode ser negado, o autor, Mychal Denzel Smith defende que a responsabilidade da paternidade só é extrema em um mundo oprimido em termos institucionais.
“Para crianças negras, a presença dos pais não influir nas leis racistas de combate as drogas, na perseguição policial e quem esse escolhe matar, doenças causadas por envenenamento da água na escola. Focando na suposta ausência de pais negros, nós fingimos que a pressão não é real e responsabilizamos os homens negros, pelo estado crítico da sociedade americana”, finaliza Denzel.