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Empreendedorismo digital para pessoas negras: como começar seu negócio online

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Foto: Reprodução/Internet

Por: Movimento Black Money

O empreendedorismo digital nunca esteve tão evidente quanto agora, em meio à pandemia do novo coronavírus. Empresas de todos os tamanhos e setores estão precisando se reinventar para driblar o isolamento social, sem colocar a saúde de colaboradores e clientes em risco, e a migração para o mundo online é a melhor saída encontrada.

Neste artigo, o Movimento Black Money fala sobre o empreendedorismo digital, a sua relação com a COVID-19 e ainda dá dicas para você levar o seu negócio para a internet com segurança e boas chances de sucesso. Confira!

Qual é a relação do empreendedorismo digital com a pandemia do COVID-19?

A COVID-19 se espalhou pelo mundo de forma muito rápida e agressiva. Um inimigo invisível e ainda desconhecido, que nos deixou apenas uma alternativa para combatê-lo: o isolamento social. Os impactos dessa solução para a economia mundial são inquestionáveis, principalmente para comunidade negra, mas é preciso observar as oportunidades que surgem diante de tantas dificuldades.

O empreendedorismo digital ganhou forças na luta contra a falência de muitas empresas e abriu novas portas para quem ainda não tinha coragem de se aventurar pelo universo online. Veja os pontos que mais se destacam nessa relação da crise com as oportunidades que ela gera.

Maior Aceitabilidade Do Mercado Para O Online

A orientação da Organização Mundial da Saúde é simples e clara: fique em casa. Logo, as pessoas estão sendo obrigadas a se adaptarem a uma nova forma de consumo, tanto de produtos quanto de serviços. Aqueles que ainda eram resistentes, ficaram sem alternativas e precisaram mudar seus hábitos para garantir sua sobrevivência.

Novas Oportunidades De Negócios

Toda crise gera oportunidades. O fato de lidar com portas sendo fechadas estimula a nossa criatividade em busca de soluções que ajudem a contornar a situação. Empresas de cosméticos passaram a produzir álcool em gel, costureiras passaram a produzir máscaras, restaurantes passaram a adotar o delivery, entre vários outros exemplos.

Perenidade Das Ações Digitais Pós-Pandemia

Um ponto muito importante a ser destacado é que grande parte das mudanças provocadas pelo novo coronavírus farão parte dos novos hábitos da sociedade. Pegando o recorte do empreendedorismo digital, o isolamento social deu o empurrãozinho que os empresários e clientes precisavam para aceitar o formato e incluí-lo em sua rotina. 

Será Que Meu Negócio Pode Ser Digital?

Antes da pandemia era mais difícil enxergar alguns tipos de negócio sendo realizados de forma online. Hoje, com tantos entraves para a socialização, ficou mais fácil perceber quão longe as empresas podem ir com a ajuda de ferramentas digitais.

Quem atua na produção e venda de produtos tem mais mais facilidade em realizar todas as transações online. Na parte de serviços, alguns são mais complicados de serem oferecidos sem um contato presencial, como os serviços de beleza. Contudo, é possível adaptá-los, oferecendo cursos e atendimento em domicílio, caso seja seguro.

Como Levar O Meu Negócio Para O Digital?

Seja qual for o tipo de negócio que você tenha, é possível empreender online e seguir faturando durante a crise. Confira alguns passos essenciais para que tudo saia bem.

Adapte O Seu Negócio Para O Novo Formato

A venda presencial é bem diferente da venda online. É preciso fornecer informações mais detalhadas dos produtos e serviços, além de contar com uma reputação impecável, que transmita segurança e confiança aos clientes. Todo o processo deve ser revisto, desde a produção e apresentação até o atendimento e entrega.

Escolha Uma Boa Plataforma De Vendas

O meio utilizado para a realização das vendas tem um impacto importante no sucesso de uma estratégia online. A plataforma deve ser segura e confiável, o que garante mais tranquilidade tanto para os clientes quanto para você, como vendedor.

Tenha Uma Boa Estratégia De Divulgação

Existe um ditado no mundo da propaganda que diz que “quem não é visto, não é lembrado”. Na internet acontece o mesmo. As pessoas precisam saber que o seu negócio existe, o que ele faz e como se tornar cliente. Você deve elaborar uma boa estratégia de divulgação, que inclua o uso de redes sociais e a veiculação de anúncios, por exemplo. 

Quais Os Cuidados Extras Que Precisam Ser Tomados Nesse Momento De Crise?

Em tempos de pandemia, os cuidados a serem tomados ganham um sentido um pouco diferenciado. Por um lado, deve haver a preocupação com as questões sanitárias, para evitar a proliferação do vírus. Por outro, a venda online é uma novidade para muitas empresas e clientes, o que requer um pouco mais de paciência e ações didáticas. 

Veja algumas recomendações básicas:

  • aumente o rigor da rotina de higiene;
  • registre e mostre para os clientes os cuidados que estão sendo tomados;
  • forneça informações detalhadas sobre o processo de compra;
  • ofereça um atendimento mais empático e personalizado.

O empreendedorismo digital é uma tendência do mercado desde a expansão da internet. Diante da pandemia do novo coronavírus, toda a sociedade está sendo obrigada a adotar os meios online de comunicação e consumo, o que abre portas para novos hábitos. Quanto antes a sua empresa ingressar nesse universo, mais chances terá de sair dessa crise ainda mais forte do que entrou.

7 dicas para fortalecer o empreendedorismo negro e ser antirracista

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Foto: Reprodução/Internet

Por: Movimento Black Money

O combate ao racismo está em forte evidência na mídia mundial. Atos como manifestações nas ruas e nas redes sociais ajudam o movimento antirracista, mas é preciso levar todo o aprendizado para o cotidiano da sociedade. Nesse sentido, fortalecer o empreendedorismo negro traz benefícios para a economia de toda a comunidade, de uma forma muito mais eficiente e duradoura.

Neste artigo, vamos falar sobre 7 atitudes antirracistas que você pode incorporar aos seus hábitos do dia a dia para contribuir com a população preta da sua região. Confira!

1. Conheça Os Empreendimentos Pretos Da Sua Região

A primeira dica que vamos dar é, também, um excelente ponto de partida para quem deseja ajudar a fortalecer o empreendedorismo negro no Brasil. Apesar de sermos a maioria da população, é bastante comum que as empresas pertencentes a pessoas pretas sejam pequenos negócios em regiões periféricas das cidades.

É importante ir em busca desses locais, conhecer os negócios que surgem dentro de favelas e bairros de classes sociais mais baixas. A quebra do preconceito começa quando você se dispõe a conhecer novas marcas, fora da sua bolha ou dos holofotes da grande mídia. São produtos e serviços de alta qualidade, mais próximos do que imagina. 

2. Dê Preferência Ao Pequeno Empreendedor

A luta diária da população preta no Brasil passa pelo empreendedorismo por necessidade. Quantos e quantos são os casos de mães de família que montam um pequeno negócio para sustentar seus filhos vendendo marmitas, doces, fazendo artesanato ou mesmo administrando uma pequena revenda.

A periferia está cheia de pessoas criativas e trabalhadoras, que precisam apenas de mais oportunidade para conquistar mais clientes. Quando você dá preferência ao pequeno empreendedor, você ajuda a fazer com que a roda financeira de toda a comunidade se mantenha girando.

3. Recomende Os Negócios E Profissionais Negros

O famoso QI — quem indica — não vale apenas para quem está em busca de emprego. Ele é uma arma poderosa no mundo dos negócio na conquista de novos clientes. Reflita por alguns segundos, qual foi a última vez que você conheceu algo novo que não tenha sido indicado por outra pessoa?

A indicação tem um poder especial por vir carregada do endosso de quem indica. Ou seja, se alguém sugere a você que vá a um determinado bar ou compre um determinado produto, é sinal de que ela experimentou e gosto. Portanto, sempre que descobrir algum negócio ou profissional preto que tenha gostado, indique a seus amigos e familiares.

4. Pesquise Por Projetos Antirracistas

Estamos em um momento da sociedade que, o simples fato de não tomar nenhuma atitude, é uma atitude em favor da parte opressora. O antirracismo precisa fazer parte da sua rotina e, para isso, é preciso começar de algum lugar.

Se você tem acesso à internet, seja pelo computador ou celular, busque por projetos que visam fortalecer o empreendedorismo negro no país. Conheça várias iniciativas, como o próprio Movimento Black Money, entenda como eles atuam e quais são as formas possíveis de fazer a sua contribuição. Cada apoio importa e pode causar uma enorme diferença nas vidas das famílias pretas.

5. Invista Em Pessoas Pretas

Se você já está no mercado, seja como dono de uma marca, seja como influenciador, invista em pessoas pretas. Entenda o investimento não apenas como dinheiro, mas como qualquer elemento que ajude uma pessoa preta a destacar o seu negócio e conseguir aumentar a sua base de clientes.

Vai convidar alguém para dar depoimentos ou falar sobre racismo em suas redes sociais? Pague por isso, como pagaria a qualquer profissional. Quer mostrar para o mundo que vidas pretas importam? Contrate-os, promova-os, invista em suas carreiras. Patrocine atletas e influenciadores pretos e pretas. Doe para projetos que atuem no fomento de negócios pretos. 

Em um momento delicado como este, em que temos que lutar contra tantas coisas ao mesmo tempo, é fundamental compreender, respeitar e, acima de tudo, valorizar o trabalho que tem sido feito pela comunidade negra no Brasil. 

6. Forme Parcerias E Colaborações

As parcerias fazem um grande sucesso no universo empresarial, pois gera benefícios para ambas as partes. Se você não é negro, mas quer ajudar a fortalecer o afroempreendedorismo, escolha pessoas pretas para realizar as suas parcerias. Existem profissionais de todos os setores da economia disponíveis para esse tipo de ação.

As colaborações podem ser feitas tanto no virtual quanto no real. No virtual, os sorteios casados entre vários perfis ou mesmo as lives colaborativas são uma boa pedida. Já no mundo real, a sua empresa pode criar promoções com produtos e serviços do parceiro como premiação, por exemplo. Ideias e profissionais competentes para colocar isso em prática é o que não falta.

7. Utilize Seus Privilégios No Apoio À Comunidade Preta

Privilégio é uma palavra que tem sido utilizada por muitas pessoas como sendo algo negativo quando o assunto é o preconceito racial, beirando ao xingamento. Contudo, o privilégio é algo com o qual a pessoa já nasce, assim como nós, pretos e pretas, já nascemos com a cor da nossa pele definida. 

A grande diferença está no que se faz com isso. O primeiro passo é reconhecer os privilégios que tem e identificar como eles podem ser utilizados na luta antirracista. Ninguém tem culpa de nascer branco, em uma família de classe média-alta, com um teto seguro sobre si e tudo o que é necessário para atender suas necessidades básicas disponíveis a todo momento.

Em lugar de se sentir mal por ter nascido em uma situação boa, é importante usar isso em favor dos desfavorecidos, por meio de ações simples no dia a dia. A aplicação de todas as dicas oferecidas até aqui é um ótimo ponto de partida. Busque conhecer negócios feitos e mantidos por pessoas pretas, indique-os entre as pessoas não pretas que você conhece, movimente discussões antirracistas entre seus amigos e familiares, use sua rede de contatos em favor de um país menos segregado e racista.

Fortalecer o empreendedorismo negro demanda esforço diário e contínuo, mas não é nenhum bicho de sete cabeças. Pelo contrário, como você pôde ver, há muitas ações simples que se resumem a mudar velhos hábitos, que proporcionam um grande efeito positivo para o povo preto. Faça a sua parte e, juntos, construiremos um mundo melhor para as próximas gerações.

Sobre o Movimento Black Money:

O Movimento Black Money é um hub de inovação para inserção e autonomia da comunidade negra na era digital junto a transformação do ecossistema empreendedor negro,com foco em comunicação, educação e geração de negócios pretos. Tendo como diferencial o fomento do letramento identitário e do mindset de inovação ao ecossistema afroempreendedor, estimulamos o espírito inovador de empreendedores e jovens negros para a criação de diferenciais competitivos no mercado.

No livro ‘Preta Potência’ Adriana Barbosa conta como criou o ‘Feira Preta’, maior evento de cultura negra da América Latina

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Foto: Jef Delgado

Adriana Barbosa CEO da Pretahub sempre sonhou com um lugar que reunisse samba, black music e cultura afro e que atraísse pessoas interessadas em vender, comprar e consumir objetos, roupas, músicas e palestras produzidos por e para negros. A empreendedora é a criadora do maior evento de cultura e empreendedorismo negro da América Latina, a Feira Preta, e hoje é reconhecida no Brasil e no exterior como um dos nomes mais influentes na valorização da cultura e potência empreendedora da população negra.

No livro ‘Preta Potência’ Adriana conta como a resistência e a ancestralidade a ajudaram a criar o maior evento de cultura negra da América Latina, a obra é lançamento de fevereiro da editora HarperCollins. Em ‘Preta Potência’, a empreendedora reconhecida pelo MIPAD como uma das mulheres negras mais influentes do mundo conta os inúmeros desafios e aprendizados em quase 20 anos de realização da Feira, destacando a importância do empreendedorismo, da ancestralidade e da coletividade para o fortalecimento da cultura negra no país.

Mais do que um evento bem-sucedido, que já movimentou mais de 6 milhões de reais e atraiu mais de 200 mil pessoas em quase duas décadas de existência, o livro mostra como a Feira Preta tornou-se um importante polo de representatividade da pluralidade cultural e inventividade negra no país, responsável por trazer para o palco, artistas como Dona Ivone Lara, Paula Lima, Criolo, Mano Brown, Emicida e Ricon Sapiência, ou a criadora de conteúdo digital e apresentadora de TV Ana Paula Xongani, além de atuar como vitrine de mais de mil afroempreendedores do Brasil, da África e da América Latina.

Adriana destaca que, desde a primeira edição do evento, conta com uma rede de apoio e ação crescentes, capaz de transformar seu sonho em um ideal compartilhado por mulheres e homens negros.

“No ano em que a Feira Preta completa 20 anos, este livro traz uma série de memórias de uma trajetória escrita por muitas pretas potências, que começa lá atrás, ainda na época da escravidão, e das inúmeras lutas travadas diariamente para a realização de um sonho. Traz um olhar histórico sobre o movimento negro no Brasil”, observa.

“E, como não podia deixar de ser, apresenta uma perspectiva coletiva e comunitária, partindo da rede do matriarcado das mulheres negras da minha família e de muitas histórias de mulheres negras empreendedoras que conheci por este Brasilzão. Usei a capacidade intelectual que minhas antepassadas haviam transmitido a mim como uma herança: a habilidade de transformar escassez em abundância”, completa.

Na obra, Adriana vai além dos bastidores da Feira Preta e de sua própria trajetória profissional e conta sobre outras iniciativas implementadas por homens e mulheres negros em São Paulo – do Quilombo de Saracura, na região de Bela Vista, para onde muitos fugiram durante a escravidão, desde o século XIX, dando origem a um polo de resistência na capital paulistana, ao Aristocrata Clube, criado por pelo menos 50 famílias negras na década de 1950, considerado o clube negro mais luxuoso do país.

Independente da iniciativa, o que a autora destaca, em Preta Potência, é aquilombamento e a força do coletivo na luta por representatividade na cultura negra e, sobretudo, a importância de poder contar e fazer a salvaguarda dessas memórias.

A obra conta com colaboração da educadora e doutora em linguística aplicada Ana Lúcia Silva Souza, da jornalista, escritora e documentarista Semayat Oliveira, e da jornalista e mestra em comunicação e cultura Chris Gomes.

Sobre a autora:

Adriana Barbosa é fundadora da Feira Preta, maior evento de cultura e empreendedorismo da América Latina, e CEO da PretaHub. Em 2017 foi homenageada junto a Lázaro Ramos e Taís Araújo como os 51 negros com menos de 40 anos mais influentes do mundo, segundo o Mipad, premiação mundial, reconhecida pela ONU. Em 2019 venceu, com a aceleradora PretaHub, a categoria Troféu Grão do Prêmio Empreendedor Social, promovido pela Folha de S. Paulo, e também foi premiada na categoria Empreendedorismo e Negócios do Prêmio CLAUDIA 2019. Recentemente foi reconhecida como a primeira mulher negra entre os Inovadores Sociais do Mundo no Ano, pelo Fórum Econômico Mundial, e premiada pelo Prêmio Sim à Igualdade Social, por sua trajetória empreendedora.Adriana tem 43 anos, é paulistana, formada em Gestão de Eventos, pela Universidade Anhembi Morumbi, e pós-graduada em Gestão Cultural na USP.

Informações do livro:

Formato: 13,5×20,8cm

Páginas: 224

ISBN: 9786555111057 (brochura); 9786555111033 (e-book)

Preço: R$39,90

Uma geração de pretas e pretos universitários que tanto ensina como aprende

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(Foto: Marcello Casal jr/Agência Brasil)

Por: Rodolfo Teixeira Alves

Uma geração de intelectuais vem sendo formada após a implementação das políticas de ação afirmativa nas universidades. A partir de 2012, o ingresso e permanência de jovens negras e negros nesses espaços, boa parte oriunda das favelas e periferias urbanas, mudou consideravelmente o cenário acadêmico. Não só acadêmico, aliás. Hoje, algumas empresas abrem oportunidades voltadas para esses profissionais recém formados. Programas de treinamento de empresas como Magazine Luiza, Folha de São Paulo e jornal Nexo, destinados a pessoas negras, são alguns exemplos. Essas medidas visam diversificar os quadros de liderança dessas empresas, conforme anunciam. Não creio que isso seja apenas uma tendência empresarial ou abertura espontânea dessas empresas. Isso talvez seja reflexo de tensões e reivindicações internas.

O tensionamento interno é efeito direto da presença dessas pessoas nesses espaços. E se fazer presente é, entre outras, nossa forma de atuar politicamente, como intelectuais negras e negros. Recordo de um post de uma estudante da Faculdade Nacional de Direito (UFRJ) dizendo que só por ela circular pelos corredores da faculdade, como uma mulher negra, já era em si um ato político. E nas universidade nos fizemos presente, também, formando coletivos negros, grupos de estudos e cursos para ingresso na pós-graduação. Fora dela, atuamos e construímos pré-vestibulares comunitários e outras organizações locais. 

Racializar esses espaços demarca diferenças, cria fronteiras simbólicas, questiona discursos, aponta ausências e faz lembrar do que se quer esquecer. E isso é positivo porque diversifica, oferece novos referenciais sociais, culturais e filosóficos. Traz para os trabalhos e discussões outras sensibilidades, experiências, vivências, propondo construir conhecimentos que valorizam o testemunho. O que está em jogo não é incorporação, mas diversificação. Na medida que se estabelece essa relação baseada na diferença, percebemos que todo discurso é localizado, e portanto ideológico.

Em um importante ensaio, o sociólogo jamaicano Stuart Hall argumenta como políticas voltadas para promover a diferença cultural fazem emergir outras sensibilidades e criam espaços de contestação do que existe como hegemônico. Disso surgem novas alternativas e se propõe outras tradições como referência. Esse movimento é potente porque possibilita reescrever a história a contrapelo, mostra como um conjunto de medidas institucionais, políticas e ideológicas, deixaram do lado de fora inúmeros personagens, ideias e teorias sobre o mundo. Ressalta, dessa forma, como o esquecimento, a negação, o querer calar são ferramentas políticas do racismo.

Em seu livro Memórias da Plantação, Grada Kilomba fala como a boca é um órgão importante por simbolizar a fala e a enunciação. “No âmbito do racismo, a boca se torna o órgão da opressão por excelência, representando o que as/os brancas/os querem – e precisam – controlar e, consequentemente o órgão que, historicamente, tem sido severamente censurado”, diz a autora. Kilomba analisa o quadro que retrata a escravizada Anastácia amordaçada, como castigo, por motivos que supõe ter sido sua resistência à investida sexual de um “senhor” branco ou para impedir a sua fala de ativismo político. Em 2019, o artista Yhuri Cruz produziu a importante obra Monumento à Voz de Anastácia, propondo uma viagem no tempo para retirar a mordaça de sua imagem e fazer Anastácia livre.

Essa viagem no tempo, atualmente, transcende a própria história colonial e escravista do Brasil. O retorno às tradições africanas, como o Kemet, por exemplo, tem construído caminhos alternativos para a alimentação, saúde e cuidados com o corpo. São filosofias que orientam a vida por outros princípios, mudam a forma que nos relacionamos com o mundo.

A memória é um campo de disputa. Creio que na medida que nos fazemos presente no espaço acadêmico, empresarial, artístico, ou onde quer que seja, nossos corpos fazem política. Existir, por si só, já é um ato político. Mas não para por aí. Estar presente é, também, construir espaços de contestação e meios de vociferar as vozes deixadas do lado de fora, que uma série de políticas institucionais racistas quiseram fazer esquecer. Não há apagamento porque, afinal, essas vozes continuam a ressoar.

Em todos os campos do conhecimento, trazer o pensamento de artistas e intelectuais negras e negros e indígenas, fazendo conhecer via política de resgate, torna nosso imaginário teórico e filosófico mais diversificado e representativo. Nas universidades após políticas de ação afirmativa, os coletivos negros que surgiram e se nomeiram em referencia a essas personagens históricas, muitas delas esquecidas, resgatam e as fazem presente. Pesquisadores e pesquisadoras que se dedicam à trajetória de vida dessas personagens, agem no mesmo sentido. Projetos como os podcasts História Preta, Vidas Negras, Kilombas, Ogunhê, Negra Voz, entre outros, também são exemplos.

Sem dúvida essas políticas de ação afirmativa trouxeram importantes mudanças sociais, econômicas, culturais e políticas que transcendem o espaço acadêmico. E isso mostra que o ingresso não é um fim, e sim o começo de um longo processo de luta pela permanência e construção de representatividade nesses espaços. E isso também vem se refletindo no meio empresarial, como esses programas de treinamento demonstram. E quanto mais cedo essas instituições e corporações entenderem que não entramos apenas para aprender, melhor será para o seu desenvolvimento. Uma vez presentes, tensionando, estamos ensinando.

Evanston, Illinois, se torna a primeira cidade dos EUA a pagar indenizações aos residentes negros

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Foto: Reprodução/Internet

Na última segunda-feira, Evanston, Illinois se tornou primeira cidade dos EUA a pagar indenizações a para os moradores negros em forma de reparação histórica pelos anos de escravidão, discriminação racial e os efeitos persistentes da escravidão.

O Conselho da cidade do subúrbio de Chicago votou 8-1 para distribuir $ 400.000 (R$2.259.760,00 ) para famílias negras elegíveis. Cada família qualificada receberia $ 25.000 para reparos domésticos ou adiantamentos de propriedade.

Segundo o NBC o projeto será financiado através de doações e receitas de um imposto de 3% sobre a venda de maconha para usos medicinais. A cidade se comprometeu a distribuir US $ 10 milhões pelos próximos 10 anos.

Para ter direito a indenização, os moradores devem ter vivido ou serem descendentes diretos de uma pessoa negra que viveu em Evanston entre 1919 e 1969 e que sofreu discriminação na moradia por causa de leis, políticas ou práticas municipais. (Durante esse período, pessoas negras não podiam ter seus próprios negócios)

“Isso é reservado para uma comunidade ferida que por acaso é negra, que foi ferida pela cidade de Evanston por causa de políticas habitacionais anti-negras”, disse Simmons.

O programa que fornece indenizações aos negros pode servir como espelho para outras centenas de comunidades e organizações em todo o país. Segundo Kamm Howard, co-presidente da Coalizão Nacional de Negros para Reparações na América, cidades que não possuem recursos para pagar a indenização podem indenizar a comunidade de outras formas como: atualização de currículos escolares, melhoramento das condições de desenvolvimento de negócios, oportunidades de habitação e pedidos de desculpa pelo racismo presente nas políticas do passado.

A vereadora Robin Rue Simmons, mulher, negra e líder da iniciativa na cidade de Evanston, enxerga as reparações como um primeiro grande passo. “Isto é sobre a nossa humanidade”, afirma, acrescentando: “Já não era sem tempo, e esse tempo é agora.”

Programas parecidos já estavam em andamento há alguns anos, mas ganharam força com as ondas de protestos que marcaram o ano de 2020 após o assassinato de George Floyd.

O presidente Joe Biden prestou o apoio à criação da comissão federal para estudar as reparações dos negros, uma proposta que está definhada há décadas no Congresso.

Informações: NBC

‘Virada SP Online’: Marcelo D2 e Luciana Mello são uma das atrações do evento deste sábado

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Luciana Mello - Foto /divulgação: Rafael Ianni

Marcelo D2 e a cantora Luciana Mello são algumas das atrações do evento ‘Virada SP Online’, que também apresentará ao público a diversidade cultural da cidade por meio de diversas apresentações das mais diferentes linguagens artística. 

Por causa do isolamento social, que é de extrema importância para o país, esta edição da #ViradaSPOnline contará com lives de grandes nomes do cenário nacional e regional. Além de Marcelo D2 e da cantora Luciana Mello, o grupo de hip hop Ruas de Fogo também está na programação. O GEM-Grupo Experimental de Música apresentará uma live especial transmitida diretamente do Teatro Sérgio Cardoso. A trupe agrega em seu trabalho música, lutheria e artes visuais. Utiliza inúmeros tipos de materiais como instrumentos e cenografia, que através da reciclagem de materiais, produzem instalações sonoras.

Presidente Prudente foi selecionada a partir de chamada pública realizada por intermédio do programa #JuntosPelaCultura 2020, adaptado para o formato virtual. Diversas atrações locais estão na programação: O grupo Fina Estampa com o show “Clara Nunes & Ivone Lara: O Reencontro”. No duplo tributo, o Grupo Fina Estampa apresenta os principais sucessos das duas célebres figuras do samba, como “Acreditar” e “Conto de Areia”. Ainda entre as atrações de artistas prudentinos, o grupo Kinoglass com o show homônimo, explorar novos caminhos nos ramos da música pesada, atingindo uma sonoridade auto denominada como Thrash Metal Psicodélico.

A atividade circense da região será representada pelo Circo Teatro Rosa dos Ventos com ‘Hoje tem espetáculo’, comclássicos de palhaço, números, entradas e piadas que são vistas no circo há pelo menos uns 200 anos. Além do Mestre Pradella Capoeira e da Batalha do Vale.

“A cada orientação do Plano São Paulo, nos adaptamos e reformulamos nossas atividades sem nunca parar nossa grata missão – o acesso amplo e democrático da cultura a todas às pessoas, onde estiver; e a contribuição para os artistas regionais tenham o seu trabalho difundido”, afirma Danielle Nigromonte, diretora geral da Amigos da Arte.

A transmissão acontece neste sábado, dia 27 de março, a partir das 12h, pela plataforma #CulturaEmCasa (http://www.culturaemcasa.com.br).

Antes de fechar restaurante fundado pela mãe, empresária faz ação especial para pessoas carentes

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O tradicional restaurante Atrium, que construiu uma história de sucesso ao longo de 18 anos na região da Avenida Paulista, está fechando as portas. Sua operação acontece até o próximo sábado, dia 27 de março, com cardápio dos seus pratos clássicos, vendidos no delivery através de pedidos online.

Comandado pela empreendedora Cris Guterres, o Atrium é resultado do sonho de uma família negra que foi capaz de construir um legado para a história do afroempreendedorismo. Foram 18 anos de existência e resistência de uma empresa sólida e reconhecida não só pelo sabor de sua comida, mas pelo exemplo de luta de Eleni Guterres, mãe de Cris e que ousou ao montar seu restaurante numa das regiões mais ricas do país.

Cris e sua mãe Dona Eleni Guterres – Foto Arquivo pessoal

“Eu pensei muito antes de fechar a casa, mas uma das coisas mais valiosas que aprendi com os meus pais é que todo negócio, assim como as pessoas, chega ao fim e quando este fim chega ele precisa ser celebrado e os compromissos com as pessoas que ajudaram na construção precisam ser honrados, um empreendedor precisa saber a hora certa de parar”, contou Cris Guterres

O encerramento de suas atividades se deu diante as impossibilidades impostas pelo momento de pandemia de coronavirus e da ausência de políticas por parte dos Governos Federal, Estadual e Municipal para que fomentassem a resistência dos comércios em todo o Brasil.

Mesmo com o fechamento, o afeto é dos pilares do restaurante, que neste momento tão difícil, continua promovendo a campanha “Atrium do bem”,  que alimenta pessoas em situação de rua na região da Av. paulista. A campanha acontece até a próxima terça-feira (30), quando o estabelecimento fecha integralmente. Vai funcionar assim: todo o valor arrecadado será distribuído sendo que
40% para a produção de marmitas que distribuídas na região da Avenida Paulista e 60% para pagamento das verbas de rescisão dos contratos da equipe do Atrium Restaurante.

“Ao longo dos nossos 18 anos nós impactamos muitas vidas, entregamos muitos abraços através de uma comida saborosa. Fizemos pessoas lembrarem do sabor acolhedor da comida de suas mães, avós e tias sempre que vinham aqui. Fizemos amigos e alimentamos muitas pessoas que tinham fome, inclusive quem não podia pagar. Foram mais de 40 mil refeições distribuídas para pessoas em situação de extrema necessidade e neste final eu quis honrar esta história e colocar nossa cozinha disponível para cozinhar pra quem tem fome nesta pandemia. Nossos últimos cardápios alimentarão a população em situação de rua na região da avenida paulista”, completou Cris Guterres.

As refeições podem ser acompanhadas pelo instagram do restaurante, assim como os dados para a doação.

Dr Drauzio Varella realizará live sobre covid-19 para comunidade negra

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Foto: Reprodução/Dráuzio Varella/Vitor Del Rey

Pensando nos dados que confirmam que pessoas negras e periféricas são as maiores vítimas fatais de Covid-19 no Brasil e representam o menor número de pessoas vacinadas, o Instituto Guetto receberá o Dr Drauzio Varella em uma conversa sobre a realidade da pandemia nas comunidades, saúde pública e orientações para o enfrentamento ao vírus.

A live será realizada na próxima segunda-feira (29) às 18hrs. E a conversa será transmitida pelas redes sociais da ONG que atua com comunidades negras de todo Brasil

O objetivo da live é entender como a doença age nos corpos negrose debater sobre a urgência de políticas publicas e a proteção individual da comunidade negra. Entendendo a importância desse diálogo, o Instituto Guetto convida o Dr. Drauzio Varella  a uma conversa de modo a apresentar caminhos para o embate e trazer orientações para a proteção da comunidade negra perante a  pandemia.

Os dados são alarmantes: segundo a ONG Instituo Polis os homens negros são as maiores vítimas acometidas pelo covid (250 óbitos a cada 100 mil habitantes) seguido pelo número de mulheres negras (140 mortes a cada 100mil habitantes). 

E ainda existe uma tendência de aumento, já que os números da pandemia seguem em alta.

” Esse cenário demanda extrema atenção e se faz necessário uma intervenção imediata em diversos viés de nossa sociedade. A pandemia escancara a profunda vulnerabilidade da população negra, uma população que é negligenciada desde do acesso ao saneamento à empatia de seus empregadores. Essa live se faz necessária.  Autocuidado é sobre resistir!”, aponta Vitor Del Rey,  CEO e fundador da ONG carioca.

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Kim Janey toma posse, tornando-se a primeira mulher e a primeira prefeita negra de Boston

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Kim Janey toma posse ao lado da neta, que segura a bíblia para seu juramento

Kim Janey, que quando criança tinha pedras atiradas em seu ônibus escolar durante a era de desagregação de Boston, marcou seu nome na histórica como a primeira mulher e primeira pessoa negra a servir como prefeito da cidade com um cerimonial de juramento nesta quarta-feira (24).

Democrata, Janey substitui o colega Marty Walsh, que renunciou na segunda-feira para se tornar secretário do trabalho do presidente Joe Biden. Ela foi a presidente da Câmara Municipal e servirá como prefeita em exercício até uma eleição para prefeito no outono.

“Hoje é um novo dia. Estou diante de vocês como a primeira mulher e a primeira prefeita negra de Boston, a cidade que amo ”, disse Janey durante o evento na Prefeitura. “Venho até hoje com uma experiência de vida diferente da dos homens que vieram antes de mim.”

(Foto por Jessica Rinaldi/The Boston Globe via Getty Images)

Janey, 55, prometeu trazer urgência ao trabalho. Ela disse que seu governo será aberto para aqueles que se sentem desconectados da estrutura de poder da cidade. Além disse, falou em ajudar a cidade a sair da pandemia e criar uma economia mais justa estarão entre os principais objetivos de seu governo, de acordo com Janey, que se comprometeu a aumentar o acesso a testes e vacinas nos bairros mais atingidos pelo COVID-19.

A deputada americana Ayanna Pressley, que presidiu a cerimônia, foi a primeira mulher negra a servir no Conselho Municipal e a ser eleita para o Congresso por Massachusetts.

Pressley descreveu Janey como “uma orgulhosa filha da quarta geração de Roxbury,” o coração da comunidade negra da cidade.

Antes de se tornar prefeita em 2021, Janey fez história em 2017 quando foi eleita para o Conselho Municipal de Boston como a primeira mulher a representar o Distrito 7, que inclui Roxbury e partes do South End, Dorchester e Fenway. Em 2020, ela foi eleita por seus pares como Presidente do Conselho da Cidade de Boston. 

A posse de Janey foi amplamente vista como um novo capítulo na história política de Boston.

No dia do orgulho LGBTQIA+ Linn da Quebrada e Bia Ferreira conversam sobre identificação, acolhimento e transformação através da arte

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Foto: Reprodução/Instagram

Com apresentação de Sarah Oliveira, as convidadas Lin da Quebrada e Bia Ferreira celebram suas histórias e suas comunidades no novo episódio do podcast de Natura Musical

No quinto episódio do podcast ‘Nos Encontramos Na Música’, Sarah Oliveira conversa com duas artistas que utilizam a arte para promover uma mudança efetiva na sociedade, formando elos, comunidades, criando identificação e trazendo visibilidade para as pessoas negras e a população LGBTQIA+.

O quinto episódio tem como nome “O Poder da Comunidade Plural“, e quem falará sobre esses assuntos serão Bia Ferreira, cantora, instrumentista e compositora, artista que tem um trabalho guiado pela luta anti-racista e, através da música, mostra que a informação é a maior tecnologia de sobrevivência para pessoas pretas e LGBTQIA+, e Linn da Quebrada, cantora, atriz, roteirista, apresentadora e filosofa, que carrega em sua arte o ativismo social pelos direitos civis da população LGBTQIA+ e negra. Na conversa, as artistas debatem com a comunicadora Sarah Oliveira a importância das redes de afeto, da reflexão, da empatia e do senso de pertencimento para tornar a comunidade um espaço de real evolução.

“A música me fez perceber que eu não estou sozinha. A minha rede afeto se forma, principalmente, com as pessoas que eu fui me conectando através da arte. Eu passei a entender que, entre essas pessoas que trabalham comigo, eu posso construir uma rede afetiva, efetiva, material e econômica”, explica Linn da Quebrada.

Para Bia Ferreira, a arte, além de construir comunidade, também salva vidas: “O papel da música na minha vida é a emancipação. A realização do ativismo que eu acredito. Se hoje eu posso me alimentar, é por conta da música. Se eu durmo tranquila, é por conta da forma como eu apresento a minha arte. A música é representatividade e salva vidas”. A cantora ainda salienta que a construção de um futuro possível, mais igualitário e plural, passa pela arte que está sendo feita atualmente no Brasil. “Eu me enxergo como um ser social, que pensa e propõe a transformação através de arte. A informação é o que liberta as pessoas. É a informação, o conhecimento e a história que vai fazer com que a gente não repita os mesmos erros que nos trouxeram até aqui”, conclui.

Sobre o podcast:

Liderado e produzido pela Virtue, agência criada a partir da Vice e responsável pela comunicação de @NaturaMusical, a série foi gravada de forma remota devido ao isolamento social provocado pelo novo Coronavírus. O programa recebe, nas cinco conversas que compõem a temporada, artistas e personalidades negras fundamentais para a construção e o legado da música e da cultura brasileira, como Gilberto Gil, Emicida, Rico Dalasam, Juçara Marçal, Elza Soares,, entre outros.

O 5º episódio já está disponível em todas as plataformas de reprodução de podcasts

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