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É golpe: Precisamos parar de dar palco para gente que não nos respeita

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“Vocês viram isso?”, “vão publicar aquele vídeo?”, “vocês têm que falar sobre aquela pessoa”? Todos os dias eu recebo mensagens de leitores e seguidores quase exigindo que a gente, vulgo Mundo Negro, repercuta sobre alguém que usou seu espaço na Internet para falar algo racista ou preconceituoso.

Desde o caso do Youtuber Julio Cocielo, em 2018, o que vimos é gente racista ganhando mais seguidores e engajamento após as denúncias de racismo. Para quem não se lembra, Cocielo fez comentários racistas sobre jogador de futebol francês Mbappé e e além disso foram encontradas postagens antigas também de cunho racialmente ofensivo. Ele pediu desculpas e após a grande repercussão, o canal dele cresceu em mais de 100 mil seguidores.

Quem também ganhou seguidores depois de um caso de racismo foi o empresário Rodrigo Branco que ofendeu Maju Coutinho durante uma live.

Só com esses dois casos nós já entendemos que além da impunidade, visto que ninguém foi preso, cada vez que colocamos a foto dessas pessoas no nosso feed estamos contribuindo para sua popularidade. É como se estivéssemos fazendo uma curadoria gratuita para pessoas como eles. Racistas, pessoas que dizem que somos vitimistas e cheios de mi-mi-mi são as que se beneficiam da popularização dos seus pares e que aumentam os números de seguidores, como um tipo de sororidade perversa.

Toda vez que você compartilha o vídeo da moça da cachorrinho preto, você está mais ajudando a influenciadora branca, do que combatendo o racismo. Eu sou do time da Camilla de Lucas que está cansada de explicar o óbvio. O mesmo vale para apresentadora decadente de black power que começou a circular depois do caso de racismo envolvendo o cabelo do professor João no BBB21. Lamentável ver algumas páginas negras e influenciadores caindo nesse golpe.

A propósito, o Big Brother 2021 está aí para mostrar que nossas pautas dão um tremendo engajamento que se traduzem em números que enchem o bolso de muita gente.

Não é sobre ignorar pautas racistas de forma alguma. O ativismo online é de imensa importância, mas antes de publicar qualquer coisa temos que ter a consciência do que funciona contra ou a favor de nós. Se indignar com pessoas influentes e grandes instuições é uma coisa, agora investir tempo em gente que ninguém conhecia, ou gente que quer voltar aos holofotes midiáticos, creio não ser a melhor forma de administrar o tempo.

Uma postagem racista tem que ser denunciada para plataforma. A moça do cachorro preto inclusive, havia sido bloqueada.

Estratégias também são ferramentas para se combater o racismo. Vamos parar de fazer gente racista famosa.

E deixo abaixo uma reflexão importante do Afroinfancia ( @afroninfancia).

“Cristinas Cantam Teresa” ressalta a importância de valorizar artistas em vida

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Foto: Lucas Silvestre

Elen Cristina. Lilith Cristina. Thaís Cristina. Tem em comum, não apenas o segundo nome registrado ao nascer, mas também a sensibilidade, o sorriso e a coragem para encarar a vida. Essas características que também encontramos na grande artista, Teresa Cristina, que mostrou aos brasileiros o respiro que a música pode proporcionar em qualquer período da vida, são apresentadas em “Cristinas Cantam Teresa”, um espetáculo cênico musical. Contemplado pelo Edital Proac Expresso Lei Aldir Blanc Nº 39/2020 “Produção e Temporada de Espetáculo de música com apresentação online”, realização do Governo do Estado de São Paulo, através da Secretaria de Cultura e Economia Criativa, “Cristinas Cantam Teresa” é um espetáculo cênico musical, que acontece de forma online, de 13 a 18/04, sempre às 20h, com transmissões ao vivo no site https://www.youtube.com/ElenCristinaCanal.

Seguidas por bate-papo com as Cristinas, as apresentações trazem temas sensíveis e plurais de extrema importância para o movimento musical negro e feminino, que nasceu da seguinte reflexão: como podemos nos tornar referências de nós mesmas? Teresa Cristina, que é conhecida por seus fãs como TT, dedicou seus últimos álbuns a homenagear grandes nomes da música popular brasileira, e mostrou cotidianamente, durante as madrugadas quarentenísticas, a beleza do extraordinário e a emoção com um encontro por ela inesperado. A singela interpretação tem como proposta agigantar a existência de uma mulher preta de luta, que mostrou como é simples ter dimensões maiores que o normal, além de celebrar e homenagear esta artista em vida.

“Cristinas fez com que eu me reconectasse com São Paulo, minha cidade natal, me fez enxergar beleza onde não imaginei que houvesse, fez com que eu mergulhasse intensamente em Teresa, mulher forte que rege o primeiro trabalho de Cristinas”, contou Elen Cristina.

A importância em celebrar artistas em vida se dá pela tentativa em desconstruir a maneira habitual em nos acostumarmos a homenagear personalidades mortas, até porque, muitas delas só foram reconhecidas como gigantes depois da morte. “ A gente descobre a cada etapa do processo formas diferentes de encarar o fazer artístico, e vem daí a importância de ter como referência a artista Teresa Cristina”, disse a artista Thais Cristina. 

Com estética afrofuturista, “Barbarize-sobreVivências periféricas” enaltece a beleza preta da periferia de Recife

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Foto: Divulgação

Com estética afrofuturista, o projeto @barbarizeja idealizado por Bárbara Espíndola e Yuri Lumin lança o seu primeiro álbum visual ‘’ Barbarize- SobreVivências Periféricas, o álbum visual surge para mostrar o poder e beleza da periferia recifense. 

“A importância desse álbum para juventude negra, tem relação com a representatividade, o ideal de beleza e estética não está distante da gente, existe poesia em nossas vivências, temos muitas potências. A juventude negra precisa entender que ela tem lugar de poder’’, afirma Bárbara Espíndola

O álbum visual além de ter uma linda estética, passa mensagens importantes para os jovens negros brasileiros e mostra a potência das letras musicais da periferia.

“É importante destacarmos o empoderamento que nossas letras passam, através das redes sociais, a juventude hoje vem carregada de informações, muitas dessas informações fazem você se sentir menos. Nossa letra traz uma reflexão do que é ser preto na sociedade de hoje sendo um  jovem, diz Yuri Lumin

As influências musicais do álbum se encontram no Afrotrap, que surge através da imigração Africana para a Europa, funk brasileiro, rap e hip/hop.

Confira o Álbum:

O álbum está disponível em todas as plataformas digitais.

Dia do Jornalista: Nenhuma grande redação tem diretores negros no Brasil

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S’thembiso Msomi do 'Sunday Times', Catherine Kim da NBC e Dean Baquet do 'New York Times'. Foto: Instituto Reuters.

A Comunicação já foi, por muito tempo, conhecida como o “quarto poder”. Capaz de influenciar decisões na política, rumos dos países e dos poderosos. Hoje, o termo já está um pouco fora de moda, mas a importância do jornalismo e da comunicação é cada dia mais visível. Infelizmente, assim como em todas as outras esferas de poder e decisão do Brasil, os negros também estão fora dos assentos de comando das maiores redações do país.

Pesquisa realizada pelo Instituto Reuters e divulgada em março deste ano, demonstra que, dos 80 editores que dirigem veículos relevantes no Brasil, Alemanha, África do Sul, Reino Unido e os Estados Unidos, apenas 12 são não-brancos. Nenhum desses doze é do Brasil. Muito se comemora a presença de âncoras e jornalistas negras e negros nas televisões nos últimos anos. E, embora a representatividade por meio da imagem seja, de fato, muito importante, não são os âncoras e repórteres que controlam a narrativa e as decisões dos veículos.

Para o Instituto Reuters, é importante saber quem são os editores dos veículos porque “existem preocupações de que a mídia pode deixar passar histórias relevantes ou perspectivas relacionadas a assuntos como a questão racial, em parte porque os editores-chefe vivenciam e vêem estes contextos de forma bem diferente das pessoas e da comunidades mais diretamente afetadas por estes problemas”, e este é um fato.

Se é um grande avanço termos as notícias trazidas a partir do olhar e da imagem de repórteres de pele negra no Brasil, quão perto estamos de valorizar os veículos de imprensa criados e alimentados por pessoas negras – desde seu alto comando? Temos visto, a cada dia, o surgimento de oportunidades de formação, cursos, bolsas para jornalistas negras e negros dentro de veículos como a Folha de São Paulo, Nexo Jornal, The Intercept e outros, sob a bandeira da ‘diversidade’. Mas será que não passou da hora de as narrativas e vivências pretas deixarem de ser um recorte e se tornarem a narrativa?

Não podemos perder de vista que estamos em um país formado por uma maioria de pessoas negras que têm seus direitos minorizados e relativizados diariamente há séculos. A presença competente, importante e necessária de profissionais negras e negros nos veículos de comunicação não pode esconder um fato: enquanto povo, ainda controlamos muito pouco as narrativas que influenciam o poder deste país, que viu suas eleições majoritárias em 2018 sendo vencidas pela Comunicação. Uma comunicação baseada em racismo, mentiras, desinformação e que contou com todos os grandes veículos de Imprensa e seus patrocinadores como apoiadores.

A ausência de editores-chefes negros no Brasil não é um acaso, não é falta de qualificação profissional, não vem da inexistência de quadros qualificados. É causa, fruto e consequência do projeto de Comunicação que nos quer fora, mas tenta lucrar em cima da estética, empoderamento e narrativas negras, porque nós movimentamos a economia. Mas decidir e influenciar o poder? Aí já é demais.

Ser uma jornalista negra e dona do meu próprio veículo em um país racista é algo além da resistência

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Silvia Nascimento, jornalista e fundadora do Mundo Negro - Crédito da imagem: Arquivo pessoal

Quem consome conteúdo sempre pode usar um filtro sobre aquilo que quer consumir e se privar de temas que despertam coisas negativas. Jornalistas não tem essa escolha. E quando o jornalista é negro, mesmo quando não trabalhemos com questões raciais diretamente, somos diariamente expostos à conteúdos perversos que representam em muitos dos casos, nossos piores pesadelos, como por exemplo, a prisão de pessoas inocentes e mortes violentas, sobretudo pela mão do Estado.

O Mundo Negro nasceu com o boom da Internet nos anos 2000, sendo a primeira plataforma digital de comunicação para negros da América Latina, e por mais que minha linha editorial tenha mudado para um conteúdo propositalmente mais positivo ao longo desses 20 anos, isso não em blinda de estar exposta a conteúdos sobre racismo e violência.

Optar por assuntos que não sejam somente sobre racismo, genocídio, violência e dados estatísticos que mostram que somos a base da pirâmide em praticamente em todos os indexadores sociais me custou a ser taxada de superficial, de fazer um jornalismo menor. Palavras vindas da minha própria comunidade. É como se falar sobre negritude sem falar das dores, não fosse algo legítimo. E não culpo os meus por essa perspectiva. Nós ainda não aprendemos a descansar ou relaxar. Momentos bons nos remetem a culpa, afinal, não é bom ser negro no Brasil. Porém o que nos faz uma nação preta resistente é o fato de contarmos um com os outros e por conta disso outros espectros da negritude precisam ser celebrados.

No quesito branquitude a coisa é mais complexa. “Imagine se fosse Mundo Branco?”, é uma questão que já nem respondo mais. Como veículos pretos (jornalísticos) ainda são muito poucos, não somos nem lidos como veículos de comunicação e sim como coletivo político ou cultural. As pessoas me chamam de Oprah pelo o que ela representa como comunicadora, mas ela é também uma empresária de comunicação, usando sua formação jornalística para produzir programas e filmes. Eu empreendo em jornalismo, sou gestora de comunicação, tenho uma equipe que recebe seu salário em dia, pago todos os impostos insanos que sou obrigada a pagar, tenho empresa estabelecida, eu estudo, fecho negócios, sou a patroa sim.

Não há como eu desassociar meu ofício da minha negritude. Estar há duas décadas resistindo mental e financeiramente está muito relacionado a minha gratidão aos meus ancestrais. Comunicar pelos que não puderam fazer isso, unir minha comunidade descendendo de seres humanos que foram separados da própria família, mostrar nossas potências em um país que nos tratou como animais por quatro séculos. Esse é o propósito de quem trabalha em veículos afrocentrados ( ou pelo menos deveria).

Ser jornalista negra e escolher falar sobre negritude fundando o meu próprio negócio é uma das coisas que mais me orgulho. Só ganhei um prêmio físico, da Empregueafro, durante todos esses anos, mas as recompensas ancestrais são bem maiores. Não é qualquer veículo que se mantém crescente e relevante durante tantos anos.

Vida longa ao Mundo Negro e aos jornalistas negros que escolheram a nossa comunidade como pauta.

“É importante dar voz a artistas que sejam um verdadeiro reflexo da sociedade em que vivemos”, Gabe

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Gabe canta desde os 16 anos e tem já alguma experiência na música. Foi back-vocal de Virgul e de Anselmo Ralph e, mais recentemente, participou no programa The Voice Portugal, na RTP. Esta semana, o cantor de 24 anos deu o primeiro passo da sua carreira a solo com o lançamento do seu primeiro single “Insomnia”.

Escrito pelo cantor e produzido pela DJ Von Di, “Insomnia” é um R&B envolvente e cantado em inglês. Segundo Gabe, “ainda que “insomnia” seja o estado em que estamos durante a noite, sem conseguir dormir, a música fala sobre o contrário. É uma música que celebra a vida”.

“Fala sobre não andarmos ansiosos com o amanhã e ver o que há de bom na vida”, acrescenta.

Apesar de estar em constante busca da sua indentidade na música, é no R&B que Gabe se sente melhor. Cresceu a ouvir Gospel e Bossa Nova mas tem como referências, além do seu irmão Enoque, artistas internacionais como Beyoncé, SZA, The Weekend e Frank Ocean, que inspiram a sua música. 

“Cresci com música gospel em casa, vim de um lar cristão e todos os dias a nossa casa era inundada com música cheia de harmonias, alma e mensagem. Penso que ao crescer, o meu gosto musical foi-se construindo”, revelou em conversa com a BANTUMEN

Parte de uma família de origem brasileira, de Belo Horizonte, Gabe afirma que “é importante haver diversidade no mundo artístico tal como no mundo à nossa volta”. Considera-se um artista contemporâneo que canta o que sente com muita honestidade e vulnerabilidade. Não tem medo de sair da sua zona de conforto e acredita que deve-se “cada vez mais, dar voz a artistas que sejam um verdadeiro reflexo da sociedade em que vivem”. 

Gabe ainda não tem planos de lançamento de um primeiro álbum. No entanto, conta lançar uma nova música ainda este ano. Para já, o seu objectivo é continuar a criar música sem limites e passar a sua mensagem a quem quiser ouvi-la.

Além de estar disponível para audição em todas as plataformas de streaming, no YouTube a música “Insomnia” foi publicada com um visualiser.

Relembramos que a BANTUMEN disponibiliza todo o tipo de conteúdos multimídia, através de várias plataformas online. Você pode ouvir os seus podcasts através do SoundcloudItunes ou Spotify e as entrevistas vídeo estão disponíveis através do canal do YouTube.

Meu cabelo é minha COROA. Respeite-o.

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Camilla Prado. Jonas Souza Santos

Não é de hoje essa pauta. Não é de hoje essa dor. Não é de hoje esses comentários maldosos que ferem nossa alma, nossa autoestima, nosso sentir e nosso ser. Isso começa lá na barriga da nossa mãe com os comentários: “tomara que venha com cabelo bom”; “será que vai ter cabelo “pixaim”?…

Crescemos, vamos pra escola e adivinha.. mais piadas, um racismo recreativo, associando a:
– Marcas como sem Assolan, Bombril
– Músicas: Nega do cabelo duro que não gosta de pentear, Pavão misterioso
– Apelidos: Beakman (programa O Mundo de Beakman), Beiçolina, entre outros

Na adolescência, rejeição atrás de rejeição. Você só é cupido dos seus amigos.
Aquelas listas das paquerinhas da sala, os “crush” tudo… nunca entramos. Motivo: cabelo “zuado”, “ruim”, “armado”.

A vida passa e chegamos na fase adulta, muitas sessões de terapia. Mas essa gaveta da infância continua fechada, não queremos voltar nela. Até que comentários desnecessários, maldosos, preconceituosos, racistas e cruéis nos resgatam a memória.

Vou compartilhar um pouco da minha história com vocês:

Bom, me chamo Camilla Prado, sou Comunicóloga e atravessei alguns caminhos pra assumir esse cabelo black que vocês estão vendo.

Camilla Prado

Lembro como se fosse hoje, no ensino fundamental, eu estava com o meu cabelo preso e a diversão dos coleguinhas era alguém chegar despercebido e soltar o meu cabelo e ele se armar todo pra cima. Fui crescendo, minha mãe, cansada de me buscar e eu chorando, não sabia como cuidar do meu cabelo, porque o o dela e da minha irmã não eram crespos. As prateleiras do mercado quase não ofertava essa diversidade de produtos. Ela então, alisou meu cabelo. Não a julgo, fez o que achou que seria menos sofrido. A frente do meu cabelo caiu, porque a amônia tinha disso, outro trauma. Foram anos de cabelos alisados, sem conhecer a textura do meu crespo.
Um dia, com quase 30 anos, decidi deixar o meu cabelo crescer, fui sentindo as ondulações na raiz, a curvatura se formando em 3cm, 5cm. Era o meu cabelo, aquele que eu não conhecia.


O processo de transição foi acompanhado por baby liss e turbantes. E adivinha? Mais frases preconceituosas com meus turbantes. Trabalhava em agência de publicidade em SP, pensamos que nesses ambientes mais “cool” as pessoas são menos preconceituosas (doce engano!). Quando colocava meu turbante, as frases trazendo comentários bizarros sobre as religiões de matriz africana eram muitas. E o que mais poderia acontecer? Um comentário completamente racista de uma chefe direta, que questionava “Por que pretos alisam o cabelo? Por que não aceitam o seu cabelo como é?.. Defendo.. “..Mas você não é preta, você é morena!”. Esses comentários abriram uma gaveta da minha infância, passei dias chorando sem conseguir me olhar no espelho, odiando o meu processo de transição e questionando por que tinha nascido com um cabelo crespo. Me reneguei. Reneguei minha ancestralidade. Reneguei minha árvore. Me afastei do trabalho, tirei férias. Fui pro berço da minha ancestralidade me curar, Salvador. Não só fui me curar como me mudei pra lá, consciente que eu estava me resgatando dentro da minha ancestralidade e do meu axé.

Foi ali, observando as pessoas subindo e descendo as ladeiras do Pelourinho e indo ver os ensaios do Bloco Afro Ilê Aiyê, no Curuzu, que me reconheci orgulhosamente como mulher negra e linda (pasme! eu sou linda e demorei pra aceitar isso). Olhava todas aquelas mulheres e homens lindos no Curuzu e pensava o quão deuses eles eram e são. E somos. Todos os cabelos muito exuberantes e marcantes, era mega, black power, trança, turbante e penteado. Cada um contando uma história.


Resolvi escrever esse texto, compartilhando um pouco da minha história, pra lembrá-los que somos potência, somos fortalezas, somos lindos com nossos cabelos, nossas bocas, nossos narizes e nossas peles. Somos história e estamos aqui para continuar trilhando o caminho que nossos ancestrais prepararam e não deixar nada e ninguém nos machucar mais. 

Coloque sua coroa no alto e reine!

Salvador, Fundunço 2020. Camilla Prado.

Cris Guterres apresenta novo programa da TV Cultura produzido por mulheres pretas

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Estreia na sexta-feira (9), na TV Cultura, o programa Estação Livre, apresentado pela jornalista e empreendedora Cris Guterres, considerada pela revista Forbes uma das criadoras de conteúdo mais inovadoras de 2020. Feita por uma maioria de mulheres pretas, a atração tem a missão de valorizar a cultura negra, a rica diversidade do Brasil e trazer a sociedade para repensar e ajudar a reconstruir um país mais justo para todos.

Num momento como esse vivido pelo Brasil, em que os extremos ser acirram e acabam se sobrepondo ao bom senso, a TV Cultura – como uma emissora pública – tem a obrigação de propor programas como o Estação Livre: um espaço de conteúdo onde a diversidade, a inclusão e as ações da sociedade civil se encontram e se fazem representar por quem realmente importa, o povo brasileiro”, afirma Eneas Carlos Pereira, diretor de Programação da emissora.

O programa vai mostrar histórias, lutas e conquistas de pessoas que encontraram seus espaços e se tornaram referência no Brasil e no mundo, e também de quem apoia a diversidade de um país plural como o Brasil. Mulheres e homens de várias áreas e profissões, negros e não negros que fazem a diferença e ajudam a valorizar a cultura black. Segundo o IBGE, o Brasil é composto por 54% de pessoas pretas e pardas.

Quanto mais tivermos um país rico em diversidade, como é o Brasil, mais ganharemos em intelectualidade, formação e cultura. Elementos que contribuem para o crescimento e não para segregar. Cada pessoa que passar pelo Estação Livre contribuirá e muito para o desenvolvimento genuíno de todos nós”, afirma Kelly Castilho, diretora do programa com mais de 25 anos no mercado de filmes publicitários e cinematográficos.

Com uma hora de duração e edições temáticas, o Estação Livre tem 4 blocos, receberá convidados e contará com matérias feitas pelos jovens vídeorrepórteres Lucas Veloso e Rodney Suguita. Entre os assuntos que serão abordados estão empreendedorismo, comunidades, literatura, dança, gastronomia e artes plásticas.

É um programa para todos, afinal a sociedade brasileira é muito diversa, composta por pessoas brancas, negras, indígenas, pessoas de descendência asiática, libanesa”, diz Cris Guterres.

Festival ‘Afromusic’ traz apresentações online e gratuita em gêneros variados

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Foto: Sérgio Fernandes

O Festival Afromusic realiza sua segunda edição com shows de artistas e bandas que estão alavancando a nova cena independente, além de uma série de entrevistas que irão refletir sobre temas ligados à música e sociedade. Totalmente gravada no Teatro de Contêiner, no centro de São Paulo, as atrações vão ao ar nos dias 09, 10 e 11 de abril, sempre a partir das 19h, no canal do YouTube Universo Afromusic.

A Deputada Erica Malunguinho abre o Festival discorrendo sobre o tema que orientou a construção desta edição: “Música tem Cor”. Viajando pelos ritmos tradicionais, contemporâneos e futuristas, Jup do Bairro, Gê de Lima, Izzy Gordon, Renato Gama, Biel Lima e Fabriccio são alguns dos convidados que destacaram repertório autoral em suas próprias linguagens.

Imagem: Sérgio Fernandes

“Estamos no país mais preto fora da África e é fato que a população preta e originária do Brasil inscreveu expressões vitais em nossa identidade até os dias atuais”, reflete Hever Alvz, idealizador e curador do festival.

Fechando a agenda, Ballet Afro Koteban faz um resgate ancestral com o espetáculo que mescla som e dança a partir de uma pesquisa aprofundada da cultura Malinkê, do oeste da África. E, no ano em que o carnaval foi cancelado em todo o país, em virtude da pandemia de Covid-19, o Bloco Afro Afirmativo Ilu Inã, acostumado às ruas de São Paulo, oferece ao público seu novo “MacumBrass”.

Emparelhado aos shows, compõem a programação, conteúdos sobre a construção do DNA musical afro-brasileiro e nomes como o Salloma Salomão, Danielle Almeida, dos cantores e compositores Marina Afares e Aloysio Letra estão confirmados.

Totalmente online e gratuita, o afromusica é uma expressão fundamental a favor da vida e da cultura da população afro-brasileira.

“Amor de mãe” e a banalização da morte negra

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Imagem/Reprodução: Rede Globo

Quando Amor de Mãe foi anunciada como a próxima novela do horário nobre foi grande a celebração por conta do grande número de atores negros. Porém conforme a novela vai chegando ao fim, fica a sensação que representatividade quantitativa não é tudo. As formas com que a trama explorou os corpos negros foram lastimáveis e agora nesse segunda fase da novela é penoso assistir tanta violência com gente que se parece com a gente.

No capítulo de segunda-feira (6) o público presenciou a morte de mais uma pessoa preta em sua trajetória. O personagem Lucas, interpretado pelo ator Nando Brandão, foi assassinado de forma cruel e incoerente nessa parte final da trama.

O rapaz levou um tiro à queima-roupa disparado por Penha (Clarissa Pinheiro). O momento acontece quanto ele atravessa a rua depois de entregar Álvaro (Irandhir Santos) para Vitória (Taís Araújo) por meio de uma ligação. Um dos maiores problemas da cena foram as outras milhares de alternativas que Lucas poderia escolher, já que tinha visto a capanga de Álvaro lhe encarado. O rapaz poderia ligar para a polícia, não sair do bar, avisar a Vitória que estava sendo vigiado ou até mesmo pedir ajuda a qualquer desconhecido do local.

https://twitter.com/betaoprazeres/status/1379244216027611140

É preciso saber do contexto mais afundo, antes da cena ocorrer, em uma conversa com sua ex-chefe, Lucas disse estar arrependido por ficar do lado “cruel” da situação e ouviu dela um relato de quando ele a pediu um emprego pela primeira vez. “Eu lembro de você, Lucas, um rapaz pobre e de periferia que queria mudar o mundo e tinha acabado de se formar”.

Um rapaz pobre, negro e nascido em um local periférico, que alcançou coisas incríveis em sua jornada profissional, mas se deslumbrou com aquilo que sempre quis alcançar, mas mesmo assim, não conseguiu ter uma morte justa. As novelas ainda são meios grandiosos de construção do intelecto da massa popular e deveria humanizar os corpos pretos e produzir imagens em que os personagens possuam alguma dignidade e possibilidades, uma delas a de redenção.

A morte desnecessária do Lucas, levantou uma questão interessante nas redes sociais, a quantidade de pessoas pretas que estão morrendo/sofrendo na última fase da novela. A primeira delas, sendo a última cena da primeira fase, foi a morte da Rita, ainda obtendo uma explicação lógica para o assunto, pois nesse momento os telespectadores começavam a entender o quanto Thelma (Adriana Esteves) chegaria longe para defender seu segredo.

Em alguns capítulos anteriores assistimos a morte do personagem Marconi, que foi executado pela polícia. Agora, a morte do advogado, que poderia ter tido um final poderoso e transformador, conversando muito melhor com todas as suas outras cenas e história, ao invés de ser baleado no meio da rua.

Enquanto esperamos o aneurisma de Thelma estourar, desde a primeira aparição da mesma e o ativista Davi Moretti (Vladimir Brichta) leva vários tiros – um deles na cabeça, deixando a bala alojada nela– mas sai sem sequelas de seu coma de 2 meses, presenciamos a morte de mais um personagem negro na narrativa.

A televisão não pode esquecer que tem o papel nítido de mexer na realidade e deveria usar esse poder para demostrar o quanto o homem preto também pode ser bom.

Edição: Silvia Nascimento

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