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15ª edição do Festival Latinidades homenageia 50 mulheres negras e tem programação intensa

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Omara Portuondo, Conceição Evaristo e Francia Marquez - Homenageadas do Festival. Foto: Divulgação.

Com o objetivo de privilegiar e destacar a produção artística, cultural e intelectual de mulheres negras para todos os públicos, o 15º Festival Latinidades será realizado de 22 a 24 de julho, no Museu Nacional de Brasília. Sob o tema Mulheres Negras – todas as alternativas passam por nós, serão 50 homenageadas, dentre as quais Epsy Campell (Costa Rica), Sueli Carneiro (SP), Conceição Evaristo, Francia Márquez e Omara Portuondo.

O festival volta, este ano, à forma presencial. Desenvolvido pelo Instituto Afrolatinas, o projeto parte do lugar das artes e da cultura para dialogar, disputar narrativas e fortalecer diferentes saberes de mulheres negras: na academia, na rua, na escola, no chão de fábrica, na comunicação, nos movimentos sociais, na gestão de políticas públicas, na diversidade infinita das nossas potências e possibilidades de produção de conhecimento.

Há 30 anos, comemora-se a 25 de julho o Dia da Mulher Afro-Latino-Americana e Caribenha. O Festival Latinidades, responsável por popularizar sua agenda no Brasil, vem sendo realizado desde 2008, há 15 anos, na mesma data. Nesse sentido, durante o festival serão gravadas entrevistas e materiais que darão origem a um documentário internacional, contribuição do projeto para a salvaguarda de patrimônios imateriais ligados ao assunto.

Ao longo desse tempo, o Latinidades reuniu 350 mil pessoas de forma direta, estendendo-se a 2,5 milhões indiretamente. “O Latinidades é um festival multilinguagens onde histórias, saberes e potências se conectam. Uma casa de mulheres negras. Um palco de todas as artes. Um espaço de encontro, encanto, celebração e cura. Uma vitrine viva das potências, legados e produções de mulheres negras. Um espaço de formação, diversão e afetividade, desde 2008”, relembra a sócio-fundadora Jaqueline Fernandes.

Antes da agenda oficial, acontecem três atividades “esquentas” na periferia do Distrito Federal. A primeira delas é voltada para os pequenos: sessão de música, pintura no rosto e contação de história na fundação educacional (dia 15 de julho) e da Casa Afrolatinas (dia 16), ambas no Varjão. O dia 22 de julho será a vez das meninas que moram na Cidade Estrutural. Com 14 a 15 anos, elas vão ter um dia de beleza e cuidados, uma feira de profissões para inspirar seus futuros e um bailinho de debutante.

Depois de dois anos de vivências e edições online, o Festival Latinidades 2022 ocupará toda a área interna e externa do Museu Nacional de Brasília. Por isso, com o intuito de fazer tudo correr tranquilamente, os painéis e oficinas vão precisar de inscrição antecipada, que pode ser feita gratuitamente, no site do festival Latinidades, a partir do dia 25 de junho.

No dia 22 de julho, às 10 horas, acontece a abertura da Galeria Rosas em vida: as vozes de nossas griôs,que homenageia 50 mulheres negras com trajetórias diferentes e que atuam a partir de várias regiões brasileiras e até mesmo de outros países da América Latina. Durante todos os dias, a galeria poderá ser visitada, entre 10 e 19 horas, no foyer do Museu.

Neste mesmo horário, em parceria com a Mídia Ninja, tem início um painel sobre Mulheres negras e indígenas — todas as alternativas passam por nós! Para este painel está confirmada a presença da Dra. Epsy Campell Barr, ativista política e dos direitos humanos, economista e Ex-Vice-Presidente da Costa Rica (2018-2022).

E às 14 horas, com apresentação de Maria Paula Andrade, Dona Gracinha da Sanfona faz um pocket show na presença de algumas das homenageadas, como Sueli Carneiro, Cida Bento, Nilza Iraci, Nilcemar Nogueira e Mãe Dora.

Mais três debates encerram a programação interna do primeiro dia do Festival. O painel A política cultural como território de disputa de utopias e de futuros inclusivos, às 16 horas, no auditório I, tem a presença de Renata Dias (diretora da Fundação Cultural da Bahia – Funceb), Viviane Ferreira (presidente SPCine), Aline Torres (secretária municipal de Cultura de São Paulo), e Nilcemar Nogueira (sambista, gestora e ex-secretária de Cultura do Rio de Janeiro). Encerra a tarde, às 17 horas, a palestra Mulheres Negras: Projetos de Mundo, no auditório II com Nathalia Grilo (Imaginação Radical Negra), Aline Odara (Fundo Agbara), Yná Kabe Rodríguez (Escola de Indisciplina do Brasil), Bárbara Carine (Escola Maria Felipa) e Kananda Eller (Deusa Cientista e divulgadora científica no TikTok), mediação de Dani Sanchez – ativista, candomblecista, assessora parlamentar.

A partir das 19 horas, na área externa do Museu Nacional de Brasília, as apresentadoras Giovanna Heliodoro e Bielo Pereira comandam a primeira noite musical com as cantoras: Medro — Música Travesti Brasileira, Cristal (RS), Taliz (DF), Drik Barbosa (SP), Bixarte (PB), MC Carol (RJ), Deise Tigrona (RJ).Quem encerra a noite, à 1 hora, é a DJ Lumena Aleluia (SA). Para os shows gratuitos, é preciso retirar com antecedência o ingresso no Sympla e doação opcional de um quilo de alimento.

O segundo dia de festival começa às 14 horas, no auditório II com o painel Produtoras negras movem o mundo que terá como convidadas Ana Paula Paulino, Ísis Vergílio, Val Benvindo, Carol Amaral e Vanessa Kanga para debater os desafios de atuar na cadeia produtiva da cultura e as respostas necessárias às formas que esse setor vem, sistematicamente, reproduzindo com violências baseadas em gênero e raça.

A pernambucana, deputada e educadora Érica Malunguinho é participante do painel seguinte, sobre O papel das narrativas negras na construção e desconstrução de estruturas e visões de mundo, às 16 horas no auditório I, juntamente com Judith Rodriguez e Alexandra Natali Leon, com mediação de Juliana Nunes. Ao mesmo tempo, no segundo auditório, as Jovens Negras Feministas debatem sobre Estratégias de autocuidado para o Bem Viver Coletivo – energias na ponta dos dedos. O encontro também pretende discutir o tema Amefricanidades e as alianças antirracistas com mulheres indígenas.

Às 16 horas, na área externa do Museu, as escritoras Cristiane Sobral e Nanda Fer Pimenta são celebradas no Julho das Pretas que Escrevem, no Espaço Literário Maria Firmina dos Reis. O Espaço recebe o nome da escritora, considerada a primeira romancista brasileira, cuja obra ficou desconhecida por décadas e cujo bicentenário ocorreu em março deste ano.

Novidade entre as atrações desta 15ª edição, o Espaço Bem Viver fica aberto entre 14 e 18 horas, para se dedicar aos cuidados e autocuidados entre ativistas e produtoras negras e tem a parceria do Centro Feminista de Estudos e Assessoria (CFEMEA).

Outro ambiente inédito, a Feira Gastronômica – Cozinha Afrolatinas será um espaço dedicado à culinária africana e afrolatina, com iguarias afro-brasileiras e pratos típicos de outros países. Entre 16 e 22 horas, a chef Aline Chermoula, pesquisadora da Cozinha Ancestral Afrodiaspórica pelas Américas e colunista da Vogue Brasil, ministra oficinas e oferece degustações relâmpagos de pratos típicos.

Pela primeira vez no Festival, o Espaço Geek vai oferecer máquinas de fliperama para jogar gratuitamente e rodas de conversa sobre cultura pop. A primeira roda de conversa será às 17 horas, com o influenciador digital Load Comics sobre o tema Nerd da Quebrada para o mundo. A partir das 18 horas serão liberadas máquinas de fliperama para o público.

“Embora a identidade geek esteja diretamente relacionada ao modo de consumo, os discursos convencionais predominam na elaboração de campanhas publicitárias e conteúdos na internet, assim, a população negra — a que mais consome — tem sido a menos representada, assim como é a menos considerada público-alvo”, comenta Preta Nerd, curadora do espaço.

DBN (Desfile Beleza Negra) finaliza as atividades internas, às 19 horas, com a apresentação das marcas: África Plus Size, Afrolatinas, Rosilda Noivas, Moda Side A&B e JM Ternos.

Para encerrar o segundo dia, o palco na área externa do Museu Nacional recebe as artistas Nduduzu Siba (África do Sul), Veeby (Camarões), Malika Tirolien (Guadalupe), Nara Couto (Salvador) e Tássia Reis (São Paulo). Quem abre a noite, às 20 horas, é o Preta Jam, espetáculo especialmente montado para o festival com as instrumentistas e poetas Luta Cruz (Chile), Letícia Fialho (DF), Larissa Umaytá (DF), Ana Bea (DF), Talita Felício (BA), Tatiana Nascimento (DF) e Priscila Obaci (SP). Assim, como nos outros dias, DJ Donna é residente e apresenta seu set entre os shows.

E para concluir a edição 2022 do Festival Latinidades, a programação do dia 24 de julho será repleta de debates, painéis e mais shows na área externa do Museu Nacional. Às 10 horas, o Fundo de População das Nações Unidas do Brasil (Unfpa), apresenta três publicações durante a mesaUnfpa Brasil: Povos de Terreiro + apresentação das publicações.

No começo da tarde, às 14 horas, os convidados Puro Roxo, Kayodê da Silva Silvério e Fábio Félix debatem sobre Masculinidades Negras, com a mediação de Sueide Kintê.

O livro Festival Latinidades: Memórias e utopias de mulheres negras será um dos lançamentos previstos para o Espaço Literário Maria Firmina dos Reis, além de outros seis títulos como Mulheres que gingam da Renata Lima e O Afrofunk e a ciência do rebolado, de Taisa Machado, no Espaço literário Maria Firmina dos Reis, às 16 horas.

No Espaço Geek, às 17 horas, acontece a Roda de Conversa: O que a cultura pop significa pra você?. Com a mediação da Preta Nerds, estarão no debate a apresentadora e comentarista e-Sports Maah Lopez, o influenciador digital L0ad Comics e a cosplayer Pati Maionese.

E a programação do palco externo acende suas luzes no último dia de festival, a partir das 19 horas, com Dona OneteLia de Itamaracá e a Orquestra Funmilayo com a participação de Luedju Luna com show dedicado à Elza Soares. Às 22 horas, a apresentadora Ana Luiza BellaCosta convida ao palco a cantora Juçara Marçal.

A programação completa pode ser acessada por este link aqui

Pesquisa indica aumento de 38% para 44% na representação da população negra ou parda nas ações publicitárias do Brasil

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Foto: Nappy

A quarta edição do estudo anualDiversidade na Comunicação de Marcas em Redes Sociais” realizado pela Elife e a agência SA365, indica o aumento de 6 pontos percentuais na representação da população negra ou parda com relação à última versão da pesquisa, saltando de 38% para 44% entre as publicações contempladas pelo levantamento. O estudo, que identifica a presença da dos grupos minoritários na publicidade brasileira, analisou 11.083 posts totais dos 20 maiores anunciantes do Brasil segundo a Kantar Ibope, no Instagram e no Facebook.

Marcas como Fanta, Ponto, Budweiser, Cerveja Antarctica, Seda, Skol, Bradesco, Clear, Gatorade, Vivo e Casas Bahia são as que têm participação de pretos e pardos em proporção maior ou igual à da população brasileira, isto é, superior a 50% das
publicações.

Em relação aos espaços, percebe-se uma melhor distribuição da presença de pessoas pretas e pardas pelas diversas categorias. Quando falamos da mulher negra, o setor financeiro continua no foco da lista, com 26%, mesmo após o fim das ações com o auxílio emergencial que se destacaram na versão anterior. Além disso, outros setores como beleza e higiene também ganharam destaque e registraram a presença feminina em 25% das publicações. Após isso, temos 11% de presença em telecomunicação, cerveja e alimentos e bebidas.

Já os homens negros aparecem em porcentagens menores: 19% no setor financeiro; 16% no varejo; alimentos e bebidas não-alcoólicas 14%; higiene e beleza 14% e cerveja com 13%.

Em relação a outros destaques importantes, o negro idoso é representado pelo setor financeiro em 50%; o negro gordo, pela industria cervejeira com 33%; e o negro gay foi representado principalmente pelo varejo com 43%.

De acordo com o Instituto Locomotiva, as mulheres negras, contingente que reúne pretas e pardas, movimentam cerca de R$704 bilhões por ano no Brasil (cerca de 16% do consumo nacional). Apenas nas categorias de destaque, a representatividade alcança a média da população brasileira. 56% da população brasileira se declara negra.

Foto: Nappy

Pessoas LGBTQIA+ e outras minorias
Os grupos LGBTQIA+ apareceram em 8% das publicações analisadas, deste total cerca de 2% tiveram presença de pessoas trans. A presença mais que dobrou em relação à última edição do estudo, em que o grupo esteve contemplado em apenas 3% dos posts. Quando se compara 2021 com 2020, ano em que a parada não aconteceu devido ao lockdown, foi possível perceber a importância do evento na agenda das marcas.

Embora na mesma classificação, pessoas sexualmente diversas não são igualmente representadas. Homens cisgênero são maioria no grupo, seguido de mulheres trans e logo em seguida, mulheres cis. A presença aumenta em junho por conta do mês do Orgulho LGBTQIA+.

Há alguns segmentos que possuem maior participação LGBTQIA+, como: 25% no varejo;16% na limpeza e 13% na higiene e beleza. Já em relação às marcas com participação LGBTQIA+ maior ou igual à da população estão: Downy; Close-up; Casas Bahia; Engov; Pepsi; Guaraná Antarctica; Rexona e Bradesco. Segundo estimativa da ABGLT (Associação Brasileira de Lésbicas), 10% da população brasileira é LGBTQIA+.

Visando os idosos, apenas 4% das publicações apostam na representação da terceira idade em suas publicações. O percentual representa uma queda de 3 pontos percentuais em relação ao último ano, que registrou 7% em sua última edição. O setor financeiro é o que mais utiliza a representação de idosos em sua comunicação, seguido da indústria farmacêutica e da cerveja. Nesse sentido, marcas como: Estomazil; Colorado; Cerveja Antarctica; Guaraná Antarctica e Brahma, são as que têm mais participação de pessoas da terceira idade maior ou igual à da população brasileira.

Porém, apenas 4% das publicações tinham presença de gordos. Marcas de limpeza e cerveja foram de maior representatividade. No entanto, em todas elas há a predominância padrão magro, sem considerar a diversidade dos tipos de corpos. De acordo com a Associação Brasileira do Vestuário, o mercado plus size movimentou 6 bilhões de reais no Brasil em 2016, o que confirma que o número de pessoas com corpos gordos representa um grande mercado a ser trabalhado.

Também foi avaliada a presença de PCDs que, em relação aos últimos anos, também obtiveram um aumento, obtendo 3% das representações do estudo no seu total. Entretanto, o grupo ainda registrou a segunda maior disparidade da pesquisa, visto que
nenhuma marca utilizou PCDs na proporção da população brasileira, que possui 17,3 milhões de pessoas de 2 anos ou mais de idade com deficiência em pelo menos uma de suas funções, segundo o IBGE. Cerca de seis segmentos publicaram imagens com representações de PCDs, mas apenas três delas (financeiro – 10%; limpeza – 7% e higiene e beleza – 3%) passaram da marca de 1% das publicações. Outros grupos como asiáticos acumulam também 3% em publicações e indígenas fecham o estudo com 1%, com relevância em farmacêutico e financeiro.

Foto: Freepik

Metodologia da pesquisa
A pesquisa analisou mais de 11 mil posts no Facebook e no Instagram, respectivamente, por meio do módulo de Social Listening da plataforma Buzzmonitor, que permite a coleta de dados baseada em buscas por termos, ou, no caso deste estudo, focadas nas publicações de perfis específicos. Em ambas as redes sociais, foram analisadas publicações de 11 categorias de mercado (financeiro; higiene e beleza; restaurantes; varejo; cervejas; bebidas não alcoólicas e alimentos; farmacêutico; telecomunicações; automotivo e limpeza doméstica).

O processo metodológico consiste em identificar os perfis dos principais anunciantes e realizar o set-up para coleta na na plataforma Buzzmonitor; coletar os dados; selecionar os posts que contêm protagonistas humanos; classificar os grupos presentes na imagem; processar os dados de cada categoria e grupo representado e analisar quantitativa e qualitativa dos dados.

O período de publicação da base analisada foi de Janeiro a Dezembro de 2021. Negros de pele clara e os de pele retinta foram classificados na mesma categoria. Já o público LGBTQIA+, foi identificado a partir de figuras públicas e demonstrações afetivas nas fotos e vídeos analisados, havendo nesta edição destaque para pessoas trans. Quanto aos PcDs, só foram identificadas quando estas foram mostradas de uma maneira explícita.

Vídeo mostra que policiais mataram homem negro desarmado com mais de 60 tiros nos EUA

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Foto: Reprodução.

Um vídeo divulgado neste domingo (3) mostrou que oito policiais de Ohio, nos Estados Unidos, estão envolvidos na morte a tiros de um homem negro desarmado. O corpo de Jayland Walker, de 25 anos, foi encontrado com aproximadamente 60 ferimentos de bala depois que ele fugiu de um controle de trânsito na última semana.

Walker tinha uma multa de trânsito e nenhum registro criminal. A polícia disse que inicialmente tentou detê-lo por uma violação de de trânsito. A polícia exibiu vários vídeos em uma coletiva de imprensa, e um deles, segundo a polícia, mostra um tiro sendo disparado de dentro do carro dirigido por Jayland.

O tiro em si não é visível nas imagens, mas durante a coletiva de imprensa, imagens de fora do carro foram mostradas que pareciam capturar um flash vindo da porta do lado do motorista do carro de Jayland.

Walker, então, saiu do carro e fugiu da polícia. A polícia diz que ele aparentemente estava se voltando para os policiais, que então acreditavam que ele estava armado. Mais tarde, uma arma foi apreendida em seu carro.

Bobby DiCello, advogado da família Walker, disse que Walker só recentemente obteve a arma. “Jayland não estava familiarizado com armas de fogo e não sabemos se disparou acidentalmente”, disse ele. “Mas a polícia não encontrou balas na arma quando a encontraram no carro após sua morte.”

Stephen L. Mylett, chefe de polícia de Akron, disse não ter certeza de quantos tiros foram disparados contra Walker. Ele não pôde confirmar o número exato de balas que o atingiram (embora tenha citado os ferimentos relatados pelo médico legista), mas antecipou que o número seria “muito alto”.

Após a divulgação dos vídeos, centenas de manifestantes marcharam no centro da cidade de Akron, exigindo justiça para Walker e denunciando a violência policial. A família Walker pediu que a comunidade permanecesse em paz.

“Estamos todos nos preparando para a resposta da comunidade, e a única mensagem que temos é que a família não precisa de mais violência”, disse DiCello, o advogado da família.

* Com informações do The New York Times

A ‘Síndrome da Sinhá’ e o impacto na saúde mental de mulheres negras

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Foto: iStock.

*Por Shenia Karlsson

Atualmente a discussão sobre os impactos do racismo na experiência de mulheres negras tem aumentado, especialmente no que tange à saúde mental. Entretanto, quando denunciamos o racismo estrutural como uma produção exclusivamente patriarcal branca, esquecemos que tal estrutura jamais encontraria sustento sem o esforço árduo de mulheres brancas.

Diante a minha percepção em minha atividade clínica, constato como mulheres negras estão mais reticentes em suas interações com mulheres brancas. Sendo assim, proponho tanto uma reflexão sobre como mulheres brancas utilizam seus privilégios para oprimir mulheres negras e causar adoecimento psíquico quanto possibilidades que visam estabelecer laços mais propositivos e saudáveis.

A construção da feminilidade ocidental também brutalizou e desumanizou a mulher negra em todos os aspectos da vida, como sinaliza Angela Davis em sua obra ‘Mulheres, Raça e Classe’. Refiro-me ao lugar social da mulher branca como estratégico e controverso, com uma tendência a diluir-se quando comparada a violência patriarcal. De acordo com a autora Kyla Schuller, “a feminilidade branca” é um fator estabilizador da civilização ocidental”, pois, o estereótipo da mulher branca virtuosa e inocente está a serviço de uma suposta suavização das práticas de violências.

Ademais, a mulher branca é a mediadora das relações entre brancos e não brancos e, no Brasil, sua origem se deu nas relações de intimidade na “Casa Grande”. Como mulheres negras foram forçadas a cuidar da casa, dos filhos e da família de mulheres brancas, bem como “damas de companhia”, essas relações de intimidade foram permeadas por um suposto “afeto”, que na prática muitas vezes não se confirma. A mulher negra ainda hoje é tratada como força de trabalho, objeto ou adorno quando conveniente.

Mulheres brancas foram e são até hoje ativas no que concerne a violência racial e de gênero e estão muitas vezes aliançadas com o patriarcado na medida em que são protegidas por ele. Mas, como mulheres brancas têm adoecido mulheres negras? Como consciente e inconscientemente mulheres brancas são agentes do racismo estrutural? Parece que este grupo opera diretamente no sustento das opressões e as negando ao mesmo tempo. É na hierarquização dos papéis estáticos que as mulheres brancas acabam por angariar benefícios. Nesse jogo, mulheres negras acumulam prejuízos materiais, simbólicos e psíquicos, visto que são as mulheres brancas – em sua maioria, atuantes nos dispositivos públicos e privados.

Há uma enorme resistência em admitir privilégios, quiçá comportamentos questionáveis tais como a exploração do trabalho, assédios, violências raciais e de classe, desumanização dentre outros. É juíza branca que submete criança vítima de estupro a mais sofrimento ou que dá ordem de prisão para advogada negra em seu pleno exercício profissional, é violência obstétrica contra mulheres negras praticadas por médicas brancas, é patroa insensível a morte de um menino negro filho da empregada que ela mesma ajudou a causar, é branca assediando mulher negra em restaurante, metrô… a lista é vasta. Notamos diariamente um show de horrores com requintes perversos semelhantes aos castigos e chibatadas do período colonial. As práticas sofisticaram-se, somente.

O corpo da mulher negra também é objeto para mulher branca, infelizmente. Contudo, como mulheres negras têm despertado para essa realidade e tomado providências? Tenho observado na clínica relatos de mudança de mentalidade, de reconhecimento de violências antes sequer pensadas. A cada dia, mulheres negras entendem que é preciso protegê-las e a denúncia é constante. Outro fator é que mulheres negras estão reavaliando seus pactos e submetendo-se cada vez menos a relações tóxicas e de subserviência.

Outro movimento embora em menor escala mas evidente, é de uma pseudo- conscientização de um grupo de mulheres brancas orientadas pelas práticas feministas antirracistas em que dizem reconhecer o quão nocivo é o problema racial para o avanço das pautas feministas. É preciso avanço, cura coletiva e responsabilização, visto que não há saúde social e coletiva numa sociedade que tem como base a mulher negra mas que simultaneamente a adoece sistematicamente. Nesse sentido, a Psicologia tem agido como instrumento importante na descolonização mental e, consequentemente, na emancipação não só da mulher negra e sim, da sociedade em geral.

*Shenia Karlsson – Psicóloga clínica, Co-Fundadora do Papo Preta: Saúde e Bem-estar da Mulher Negra.

Prótese capilar: uma técnica de “colagem” para cabelos afros

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Fotos: Divulgação

Uma nova tendência que tem começado a chamar atenção dos homens negros no Brasil é a prótese capilar, uma técnica de “colagem” para preencher a região sem cabelo.

O STUDIO TapaCerto em São José, Santa Catarina, tem feito muito sucesso na região e nas redes sociais por realizar esse tipo de procedimento, que é um grande diferencial em relação as outras barbearias. Em entrevista ao MUNDO NEGRO, Oberdã Vieira da Luz, 28, dono da barbearia, deu detalhes sobre como funciona o procedimento.

“O procedimento de prótese capilar que usamos é um trabalho feito com cabelo orgânico ou lace, fixada no couro cabeludo, proporcionando resultados agradáveis e a durabilidade varia em média de 15 a 25 dias, mas tudo depende do cuidado que o cliente vai ter. Após a aplicação passamos todo o direcionamento, de manutenção e cuidados”, explica o barbeiro.

E complementa: “A técnica que uso no STUDIO é nova no Brasil, porém já existe outras técnicas de aplicação de prótese capilar que já vem de algum tempo, a técnica desenvolvi devido a dificuldade para encontrarmos prótese para cabelos afros”.

https://www.instagram.com/p/CfUrIyspS7_/?igshid=YmMyMTA2M2Y%3D

Para realizar o procedimento, o cliente precisa ter alguns cuidados. “A prótese não pode ser lavada após as 48 horas de aplicação. Ao lavar, é necessário um shampoo apropriado ao material. E ao dormir, é indicado que o cliente utilize uma durag ou toca de cetim”.

Outros cuidados também podem variar de uma pessoa para outra. “O que diferencia é a técnica utilizada para aplicar, o material compatível de acordo com a tipologia capilar e o grau da calvície de cada cliente. São sempre repassadas de forma única para cada cliente, de acordo com cada necessidade”.

Antes de aplicar a prótese capilar, o cliente passa por um teste de segurança para descobrir se não tem nenhum tipo de reação alérgica, mas o barbeiro garante que tem sido confiável para todos até o momento. Atualmente a prótese custa R$200.

Para aumentar o número de clientes no TapaCerto, Oberdã está oferecendo curso de prótese capilar para que toda a equipe do Studio atenda os clientes.

Sobre o STUDIO TapaCerto

“O STUDIO TapaCerto existe há 3 anos, onde começamos em uma sala pequena dentro de um edifício em 2019. Junto a minha esposa Natielle, depois de 3 meses de salão, decidimos investir e ampliar o espaço. Já no início acreditamos que daria certo, então entramos de cabeça no nosso empreendimento e fizemos nosso nome na Grande Florianópolis”, conta Oberdã.

“Quando inauguramos o STUDIO, não tínhamos conhecimentos técnicos sobre o procedimento de prótese capilar, mas já tínhamos experiência em cortes de cabelos e no início, o que fortaleceu nosso crescimento foi o diferencial que conseguimos apresentar com trabalhos de platinado, corte em cabelos afro, desenhos realismo no cabelo e freestyle que foi e ainda é um sucesso na cidade. Porém, o TapaCerto tem um sentido importante que é sempre inovar. No início desse ano, resolvi aprender as técnicas de prótese capilar que é o mais novo diferencial no nosso Studio”, diz o empreendedor.

“Era Uma Vez o Mundo” ensina crianças a produzirem bonecos negros em oficina no RJ

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Foto: Divulgação.

O fortalecimento da autoestima de crianças por meio da brincadeira com bonecas negras é um ponto importante para muitas famílias negras. Agora, elas têm também a oportunidade de aprender a confeccionar estes brinquedos. A iniciativa é o Ateliê Aberto da Era Uma Vez O Mundo. “É importante que todas as crianças negras tenham essas bonecas porque este elemento lúdico humaniza corpos negros. As crianças se veem, sentem-se representadas, criam uma noção de existência e percebem que existe um lugar no mundo para elas”, ressaltou a historiadora, professora e CEO da “Era Uma Vez o Mundo”, primeira loja especializada em confecções de bonecas negras do Brasil, Jaciana Melquiades, sobre o ‘Ateliê aberto’, evento que acontece no dia 9 de julho, em Santo Cristo, Rio de Janeiro,

Do lúdico à vida real, além da oficina ensinar as crianças negras e não-negras a produzirem bonecas, a programação promove também um bate-papo com história e cultura e oferece ainda um café da manhã. “Este projeto faz com que crianças brancas comecem a enxergar pessoas negras como potências – fora desse lugar da subalternidade – e ocupando um espaço de igualdade mesmo. Um espaço de pertencimento ao mesmo lugar que essas pertencem”, reforça.

No comando da “Era Uma vez o Mundo”, startup educacional e de impacto social, Jaciana vem, através da fantasia e do mundo conotativo, proporcionando pelo Brasil afora uma experiência de imersão no universo de criação de bonecos e bonecas negras, assim como a Dandara. “Temos um processo de conversa, falando sobre a história da Dandara, contando porque ela é importante para a história do movimento negro e das mulheres negras e o que ela representa para toda a nossa construção de ideia de liberdade que temos hoje”, explicou.

As conexões propostas durante as atividades estimulam o desenvolvimento de sentimentos positivos com relação aos brinquedos que representam figuras negras, ajudam a combater o racismo estrutural que perpetua o país, fortalecem uma sociedade mais igualitária, além de mitigarem as desigualdades sociais por meio dessas confecções infantis.

Para Jaciana, o evento oferece mais que um momento para aprender a fazer bonecos. “Construir a própria boneca traz algumas habilidades para a criança, como a sensação de independência, a autonomia de conseguir realizar com as próprias mãos um determinado elemento, a felicidade intrínseca ali por se sentir independente, além, é claro, da possibilidade de conseguir um elemento visual no qual a criança consegue se enxergar também, o que faz muito mais sentido nesse processo”, pontuou.

SERVIÇO
Onde: Atelier EUVOM
Rua Sara, 186 – Loja A, Santo Cristo, Rio de Janeiro
Valor: R$200
HORÁRIO: 10h às 13h
Quando : 9 de julho
Lotação: 25 vagas (1 vaga = 1 adulto + 1 criança)Ingressos: https://www.sympla.com.br/evento/atelier-aberto-09-de-julho/1619103

Mostra de Cinemas Africanos 2022 será realizado em Curitiba e São Paulo durante o mês de julho

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Foto: Divu

De 7 a 13 de julho de 2022, Curitiba recebe a edição presencial da Mostra de Cinemas Africanos 2022. Serão exibidas produções da África do Sul, Angola, Burkina Faso, Camarões, Chade, Egito, Guiné-Bissau, Níger, Nigéria, Quênia, Ruanda, Senegal e Tunísia. A programação na capital paranaense é gratuita e divide-se entre o Cine Passeio e a Cinemateca de Curitiba, com oito longas e mais de 20 curtas, tendo como destaque a produção feminina, a presença de cineastas africanos e filmes inéditos no Brasil.

O evento também acontece simultaneamente em São Paulo (SP), de 6 a 20 de julho. A mostra traz ainda curtas online para todo o Brasil na plataforma Sesc Digital.

O título de abertura é “Afrique, je te plumerai”, dirigido por um dos maiores documentaristas do continente, Jean-Marie Teno. O filme, que completa 30 anos em 2022, examina a repressão política em Camarões. O cineasta estará na sessão para conversar com a plateia.

Outro destaque da programação é o thriller sul-africano “Boa Senhora”, de Jenna Bass. Comentário sobre as relações raciais na África do Sul pós-apartheid, teve sua estreia premiada no Festival de Toronto. Em parceria com o Cineclube Atalante, Jenna e  Babalwa Baartman, co-roteirista e produtora do filme, participam de debate no sábado (9), na Cinemateca.

O documentário “Caminhar sobre a Água” marca a estreia na direção da franco-senegalesa Aïssa Maiga. Nome de destaque no cinema francês, Aïssa acumula uma extensa carreira como atriz, roteirista e ativista. No filme, a cineasta registra os efeitos das mudanças climáticas e da globalização em uma aldeia do Níger.

Fazendo sua estreia mundial na Mostra de Cinemas Africanos“Otiti”, de Ema Edosio, segue a história de uma costureira que assume a responsabilidade de cuidar do pai doente que a abandonou quando criança. Aïssa vem ao festival com apoio da Embaixada da França no Brasil e Ema também estará presente na programação através do apoio do Goethe-Institut.

Outro destaque é “Nós”, de Alice Diop, documentário que foca em seis mulheres que transitam em uma ferrovia que cruza Paris, incluindo a própria cineasta. Do Quênia, a comédia “Contos da Cidade Acidental”, de Maimouna Jallow, mostra um eclético grupo que se reúne online para uma aula de controle de raiva.

Ambientado na periferia da capital do Chade, o drama “Lingui”, de Mahamat-Saleh Haroun, acompanha a busca de uma mãe e sua filha de 15 anos condenadas pela religião e pela lei por buscarem uma clínica de aborto para a adolescente. Os co-diretores Saul Williams e Anisia Uzeyman fazem sua estreia no cinema com o musical futurista e libertário “Geada de Netuno” de Ruanda.

A mostra em Curitiba também inclui três programas de curtas: uma seleção de títulos recentes de vários países feita por Kariny Martins e Bea Gerolin da Cartografia Filmes; uma sessão de filmes angolanos produzidos durante os dois últimos anos de pandemia com curadoria da produtora audiovisual Geração 80; e um apanhado de curtas produzidos por jovens cineastas a partir de uma formação em documentário orientada pelo camaronês Jean-Marie Teno.

O evento também promove na capital paranaense a oficina Eu, Você, Nós: Contando histórias através de nossos corpos, alma e voz, ministrada por Maimouna Jallow. A oficina gratuita acontece de 8 a 10 de julho. Serão oferecidas 15 bolsas para residentes no interior e litoral do Paraná, com vagas preferenciais para pessoas negras e indígenas.

No sábado (9), será realizada a mesa Reflexões sobre a representação da mulher negra no audiovisual, com a Aïssa Maiga. No domingo é a vez de um encontro com todos os convidados, Aïssa MaigaJenna BassBabalwa BaartmanEma Edosio e Maimouna Jallow com o tema Produção Independente no contexto Africano.

Caso Emmett Till: Novo documento é encontrado e familiares da vítima pedem por justiça

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Emmett Till e Carolyn Bryant Donham,. Foto: AP.

Membros da família de Emmett Till, o adolescente negro de 14 anos que foi sequestrado, torturado, espancado e morto em 1955, revelaram que encontraram um mandado de prisão não cumprido para Carolyn Bryant Donhom, a mulher branca que acusou Emmett de ter feito supostas ofensas a ela. O caso bárbaro chocou os Estados Unidos e o mundo. À época, o marido de Carolyn, Roy Briant juntamente seu irmão J. W. Milam, assassinaram o adolescente e foram inocentados por um júri formado apenas por pessoas brancas.

Enquanto procurava por documentos no tribunal de Leflore, no Mississippi, uma equipe que incluía membros da família Till desenterrou um mandado de prisão não cumprido destinado a “Sra. Roy Bryant”, ou seja, Carolyn Bryant Donhom. O documento acusava a mulher de ter sequestrado Emmett Till. A legitimidade do mandato foi confirmada, de acordo com a imprensa local. Em uma entrevista no ano de 2008, Bryant Donhom, agora com 80 anos, chegou a declarar que “não era correta” a versão dos fatos que tinha apresentado ao juiz meio século antes. Embora seu depoimento final não tenha sido utilizado, ela mentiu quando afirmou que Till a tocou e tentou fazer avanços sexuais.

Mandado de prisão direcionado à Carolyn Bryant Donhom. Foto: Emmett Till Legacy Foundation.

A imagem do mandado mostra que o atual funcionário do condado de Leflore certificou o documento como autêntico em 21 de junho deste ano. Na ausência de ação da polícia à luz da descoberta, a família considerou resolveu buscar iniciativas para reabrir o caso e buscar por justiça. “Chorei. Choramos. Nos abraçamos”, disse Deborah Watts, prima de Emmett, em entrevista. “Inacreditável. Nós nos abraçamos. A justiça tem que ser feita.”

Agora, a Emmett Till Legacy Foundation está convocando o promotor público de Leflore para apresentar acusações contra Bryant Donham, abrindo uma nova investigação, contudo ainda não é possível garantir os próximos desdobramentos legais do caso.

“Toda gestante ou mãe tem direito de entregar um bebê voluntariamente para adoção”, diz advogada Elaine Quirino

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Foto: Arquivo Pessoal.

Os debates acerca da possibilidade ou não de se entregar uma criança voluntariamente para adoção tomaram o debate público recentemente. Muitas pessoas ainda têm dúvidas quando o assunto é adoção e quais são os limites e os direitos das crianças e, principalmente, se é permitido, por exemplo, entregar uma criança logo ao nascer para a adoção.

Para sanar algumas dessas dúvidas e explicar que procedimentos devem ser adotados nesses casos, o MUNDO NEGRO conversou com a advogada familiarista Elaine Quirino sobre o tema.

De acordo com a lei, quais são os direitos da mãe para entrega de crianças para adoção?

Ainda pouco conhecida da população brasileira, a previsão legal de entrega voluntária de bebês para adoção foi incluída no Estatuto da Criança e do Adolescente em 2017. As gestantes ou mães que manifestem interesse em entregar seus filhos para adoção ainda na gestação ou logo após o nascimento da criança, serão encaminhadas, sem qualquer constrangimento, à Justiça da Infância e da Juventude. A medida visa principalmente evitar qualquer forma de intimidação e, acima de tudo, o que é mais importante, respeitar a vontade da mulher na entrega do filho que, por alguma razão, ela não se sente em condição de cuidar. 

Como é feito esse procedimento?

Nessa oportunidade ela será ouvida por uma equipe multiprofissional que vai apresentar relatório à autoridade judiciária considerando, inclusive, os eventuais efeitos do estado gestacional ou puerperal. De posse desse relatório, o juiz poderá determinar o encaminhamento dessa gestante ou mãe, mediante a sua concordância, para atendimento especializado. Tudo isso está previsto no ECA.  Para que essa criança seja colocada na lista de adoção, a lei prevê um prazo de 90 dias, porque conta-se ainda com o arrependimento.

Na hipótese de não haver a indicação do genitor e de não existir representante de família biológica apta a receber a guarda, o juiz vai decretar a extinção do poder familiar. Só com a extinção do poder familiar é que essa criança pode ser adotada. Nessa mesma audiência ela pode determinar se deseja manter o nascimento da criança em sigilo, inclusive não sendo emitida a certidão de nascimento onde conste qualquer dado da mulher que pariu a criança. 

É possível fazer uma adoção diretamente para uma família? 

Toda adoção precisa passar por um procedimento no judiciário. Podemos destacar, com relação a uma entrega direta, que existe uma particularidade se o pedido for formulado por familiares com os quais a criança mantenha vínculo de familiaridade e afetividade. Ou seja, a pessoa tem que ser integrante dessa família extensa ou ampliada. Nesse caso, não é necessária a habilitação prévia. No próprio processo de adoção, os habilitados vão provar que têm condição de adoção e que desejam acolher uma criança que lhe é próxima e necessita da sua adoção.  

A chamada adoção à brasileira, onde se entrega a criança para que seja criada por outra família, ou casos de fraude onde a pessoa diz que gerou, ou que se troque certidões, é ilegal, e é crime previsto no Código Penal. Tanto a pessoa que está entregando quanto a pessoa que está recebendo a criança pode receber sanções.

O impacto da pandemia na educação e no mercado de trabalho para a juventude periférica

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Foto: Agência Brasil.

Por Kelly Baptista*

Recentemente, estudos realizados pelo FGV Social e pelo CEDAPS (Centro de Promoção da Saúde), apontam que a pandemia aumentou as desigualdades entre ricos e pobres no país. Passados mais de dois anos e com o sentimento de volta à normalidade, os efeitos do fechamento das escolas, da redução da atividade econômica e da digitalização das empresas ainda impactam de forma agressiva a juventude periférica.

Para minimizar este impacto é preciso criar ações efetivas entre os três setores (público, privado e sociedade civil), dialogando sobre inclusão, equidade, diversidade e oportunidade. Assim, será possível pensar em oportunidades para preencher as lacunas deixadas na vida destes jovens. 

As formas de trabalho também têm se remodelado, há um aumento de empregos na área de serviços (pensando em áreas tecnológicas) e redução dos cargos mais comuns de entradas para jovens periféricos, como atendentes, vendedores, caixas etc. 

Aqui, vale fazer um adendo para a necessidade da inclusão digital: juventudes conectadas conseguem disputar melhores vagas de emprego no mercado formal, já os desconectados se ajeitam nos subempregos.

Segundo a professora Raquel Souza, analista de políticas públicas de ensino médio do Instituto Unibanco, “os jovens precarizados no mundo do trabalho e ameaçados pela destruição de empregos, que se vislumbra com o avanço acelerado das tecnologias digitais, têm cor e classe social bem definidas: são pobres e negros.”

Observando o cenário de fechamento das escolas na pandemia, os anos finais do ensino fundamental e ensino médio foram os mais impactados, com destaque para os estudantes do sexo masculino, pardos, negros e indígenas, com mães que não finalizaram o ensino fundamental. Esses foram os mais afetados pela pandemia, conforme apontou um levantamento encomendado pela Fundação Lemann ao Centro de Aprendizagem em Avaliação e Resultados para o Brasil e a África Lusófona (Clear), vinculado à Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas (FGV EESP).

Oferecer oportunidades para a juventude afetada é prioritário, uma das formas mais potentes de resolução é incluir digitalmente esses jovens. A precariedade, a falta de espaço para estudos e a falta de renda diminuem a capacidade de aprendizagem e isso impactará diretamente no futuro e na diversidade do mercado de trabalho, em especial para cargos mais altos.

*Kelly Baptista é especialista em gestão de políticas públicas e diretora executiva da Fundação 1Bi, apoiada pela Movile, membro da Rede de Líderes Fundação Lemann e Conselheira Fiscal do Instituto Djeanne Firmino.

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