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A saúde mental da população negra e o janeiro branco

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Foto: Freepik

Por Dr. Ivair Augusto Alves dos Santos

No início do ano nós celebramos o ‘Janeiro Branco’ data que tem o objetivo de alertar a população para os cuidados com a saúde mental, a partir da prevenção das doenças decorrentes do estresse, incluindo os transtornos mentais mais comuns, como depressão e ansiedade. É um período importante para refletir sobre os efeitos do racismo na saúde mental de pessoas negras. A grande maioria da população negra vive em incessante sofrimento mental devido, por um lado, às condições de vida precárias atuais e, por outro, à impossibilidade de antecipar melhor o futuro.

Como forma de conscientizar a população sobre a importância de procurar ajuda, foi lançado no Brasil em 2014 a campanha Janeiro Branco, que tem por objetivo chamar a atenção para as questões e necessidades relacionadas à saúde mental e emocional das pessoas. Uma excelente oportunidade para se perguntar quais os efeitos do racismo estrutural na vida de homens e mulheres negras.
Os cuidados com a saúde mental são extremamente necessários no mundo em que vivemos. Estamos, o tempo todo, expostos a um bombardeio de informações, sendo cobrados por produtividade como se fôssemos máquinas. São diversos sintomas físicos e psíquicos advindos da permanente condição de tensão emocional, de angústia e de ansiedade, vivida cotidianamente pela pessoa alvo do racismo.

A saúde mental ainda não ganhou a devida atenção das pessoas, que não perceberam que estamos entrando em um vórtice insustentável. A conscientização a respeito dos cuidados que devemos ter com nossa saúde mental frente aos desafios do século XXI é fundamental.

O relatório sobre saúde mental e trabalho, de setembro de 2022, da OMS (Organização Mundial da Saúde) e da
OIT (Organização Internacional do Trabalho) traz o número alarmante de 15% dos trabalhadores adultos vivendo com algum transtorno. O mesmo documento estima que 12 bilhões de dias de trabalho são perdidos anualmente devido à depressão e à ansiedade que custam à economia global quase um trilhão de dólares.

O diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, disse: “Todos conhecemos alguém afetado por transtornos mentais. A boa saúde mental se traduz em boa saúde física e este novo relatório é um argumento convincente para a mudança. Os vínculos indissolúveis entre saúde mental e saúde pública, direitos humanos e desenvolvimento socioeconômico significam que a transformação de políticas e práticas em saúde mental pode trazer benefícios reais e substantivos para pessoas, comunidades e países em todos os lugares. O investimento em saúde mental é um investimento em uma vida e um futuro melhores para todos”.

Racismo, preocupações financeiras, equilíbrio entre vida pessoal e o trabalho, desafios da reintegração social. Para muitos tem sido difícil manter a estabilidade emocional.

Os indicadores de desigualdade racial têm sido denunciados sistematicamente nas últimas décadas pelo movimento negro. Face a esta mobilização, foi criada a Política Nacional de Saúde Integral da População Negra, que foi aprovada pelo Conselho Nacional de Saúde (CNS) em 2006, instituída pelo Ministério da Saúde (MS) em 2009 e foi inserida na dinâmica do Sistema Único de Saúde (SUS). Enfatiza-se aqui o reconhecimento, desde então, pelo Ministério da Saúde, da existência do racismo, das desigualdades étnico-raciais e do racismo institucional no âmbito do SUS.

A saúde mental da população negra está contemplada no capítulo terceiro da política acima mencionada, quando se define como “estratégias de gestão”: (a) o “fortalecimento da atenção à saúde mental das crianças, adolescentes, jovens, adultos e idosos negros, com vistas à qualificação da atenção para o acompanhamento do crescimento, desenvolvimento e envelhecimento e a prevenção dos agravos decorrentes dos efeitos da discriminação racial e exclusão social” , e (b) o “fortalecimento da atenção à saúde mental de mulheres e homens negros, em especial aqueles com transtornos decorrentes do uso de álcool e outras drogas”

Na Política Nacional de Saúde Integral da População Negra, a saúde mental está registrada como uma das preocupações. Além disso, o Ministério da Saúde reconheceu que a discriminação racial afeta a saúde mental.

Um problema na implementação de políticas voltadas para a população negra é o acesso aos dados. Temos uma subnotificação dos dados sobre saúde da população negra. A obrigatoriedade do registro do item raça, nos formulários, esbarra na falta de informação por parte dos gestores, como também na negação sobre a necessidade de notificação.

Os estudos sobre a saúde mental da população negra sugerem uma conexão entre racismo e saúde que parece continuar ao longo da vida da pessoa. Elucidam uma gama de possíveis efeitos, os quais podem resultar do estresse do racismo e, por sua vez, comprometer a saúde mental.

O estudo registrado no trabalho denominado “Racismo e os efeitos na saúde mental”, elaborado por Maria Lucia da Silva em 2005 apresentou a seguinte conclusão: “A exposição cotidiana a situações humilhantes e constrangedoras pode desencadear um número de processos desorganizadores dos componentes psíquico e emocional. Sendo um problema para a saúde física e mental da pessoa, esse sofrimento causado pelo racismo passa, necessariamente, a ser um problema de saúde pública. Como tal requer proposições de políticas públicas que garantam o direito a um serviço de saúde mental eficaz direcionado especificamente ao sofrimento da população negra produzido pelo racismo”.

A juventude negra tem desenvolvido a depressão de forma preocupante, chega a ter 45% mais chances do que jovens brancos. A escola fundamental que não tem trabalhado o racismo, não sabe que o racismo impacta na construção da subjetividade de pessoas negras por meio de sentimentos de inferioridade, baixa autoestima, inadequação e sentimento de impotência. Dado que os fatores que determinam a saúde mental têm amplas e diversificadas causas, as intervenções destinadas a promover e proteger a saúde mental devem se fundamentar em uma múltipla série de estratégias, de serviços de apoio e acolhimento que não se limitam a um tratamento clínico.

É necessário investir em saúde mental para pôr fim às violações dos direitos humanos. As pessoas com transtorno mental são excluídas da vida comunitária e lhes é negado o exercício de seus direitos fundamentais.

Não só sofrem discriminação no acesso a empregos, educação, moradia, mas com frequência são vítimas de abuso contra os direitos humanos. As pessoas negras têm que lutar contra o racismo e a estigmatização que acompanham as pessoas com transtornos mentais. Não existe saída, além do acesso a serviços públicos de qualidade para atendimento de pessoas que sofrem os efeitos do racismo na saúde mental.

*Ivair Augusto Alves dos Santos
Mestre em Ciências Políticas pela Unicamp
Doutor em Sociologia pela UnB
Ex-diretor do Departamento de Direitos Humanos da Secretaria de Direitos da Presidência da República.

“Exú foi colocado nessa posição de demônio porque o colonizador precisava”, diz o Babalorixá Sidnei de Xangô

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Foto: Reprodução/Instagram

Religiosos de matrizes africanas – candomblé, umbanda, quimbanda – são as que mais sofrem com a intolerância religiosa. Segundo os últimos dados coletados pelo Disque 100 (número de telefone do governo para receber denúncias de violações de direitos humanos), das 121 denúncias feitas no primeiro semestre de 2019, 61 eram apenas das religiões de matriz africana. Em seguida, vem os espíritas com 18 denúncias.

Neste 21 de janeiro, Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa, o MUNDO NEGRO entrevistou o Babalorixá Sidnei de Xangô, 54, também Professor Dr. em Semiótica e Linguística Geral pela USP (Universidade de São Paulo). Morador de Mauá, no Grande ABC de São Paulo, o sacerdote anda pelos lugares públicos com um cajado de Exú, sempre atraindo o carinho dos fiéis de matrizes africanas ou o desprezo dos racistas religiosos.

“Desde a invasão do continente africano para escravização, Exú foi colocado nessa posição de demônio porque o colonizador precisava, de acordo com a cultura dele, espelhar a figura de alguém responsável por todos os males das suas próprias escolhas […] Nós andamos com Exú justamente para naturalizar a sua existência, que faz parte da identidade nacional, já que foram 5 milhões de pretos e pretas escravizades”, explica o professor Sidnei, pertencente ao movimento “Exú Não É Demônio” e autor do livro “Intolerância Religiosa“.

Babalorixá Sidnei de Xangô com o cajado de Exú (Foto: Robson Khalaf)

Leia a entrevista completa abaixo:

Você sempre andou pelos estabelecimentos com a escultura de Exú? Qual o simbolismo que você passa quando chega desta forma em lugares majoritariamente brancos e intolerantes?

Exú é um dos principais símbolos escolhidos pelo racismo religioso para sofrer a satanização. Desde a invasão do continente africano para escravização, Exú foi colocado nessa posição de demônio porque o colonizador precisava, de acordo com a cultura dele, espelhar a figura de alguém responsável por todos os males das suas próprias escolhas. Na cultura yorubá não tem uma figura ancestral, do plano sagrado, para responsabilizar pelas nossas escolhas. O mal entre os yorubás, ele é gerado individual ou coletivamente. E começou há alguns anos o movimento, inclusive no continente africano, de: “Exú Não é Demônio”. Nós, alguns sacerdotes de religiões de matriz africana no Brasil – umbanda, candomblé, quimbanda – decidimos andar com um cajado de Exú e eu sou o representante desse movimento em São Paulo. Nós andamos com Exú justamente para naturalizar a sua existência, que faz parte da identididade nacional, já que foram 5 milhões de pretos e pretas escravizades. Nós andamos com o cajado em madeira, feita por artesões yorubás consagrada. Em qualquer lugar que eu vou: aeroporto, restaurantes, eventos, ando com o pai Exú, e outras lideranças de terreiro também. Às vezes a recepção é positiva, algumas pessoas já conhecem, nós nos identificamos como religiosos de matriz africana, há pessoas que veem e nos abraçam, outras pessoas com um pouco mais de cultura e conhecimento do continente africano, da sua arte, vem e quer tirar fotos. Mas a maioria quer sempre oferecer uma oração. A maioria vem reproduzir o que já sabemos que é o racismo religioso. E sobre tudo, se ver uma pessoa preta carregando o pai Exú, imediatamente ela visualiza naquela pessoa o demônio e quer satanizar, exorcizar. Alguns desviam, alguns oferecem oração – os cristãos fundamentalistas -, alguns falam aquelas palavras “tá repreendido em nome de Jesus”, “tá amarrado em nome de Jesus”. Há três categorias de manifestação: racismo religioso, admiração, e a outra é identificação das pessoas que fazem parte da cultura.

Babalorixá Sidnei de Xangô da Comunidade da Compreensão e da Restauração Ile Ase Sango, em Suzano – SP (Foto: Robson Khalaf)

Recentemente, você foi alvo de ataques de intolerantes religiosos nas redes sociais e expôs os comentários. Além da exposição feita, é comum ataques similares nas redes ou nas ruas?

Eu sou um Babalorixá, um sacerdote, eu não sou diferente de outras autoridades religiosas, de outras autoridades eclesiásticas, autoridades pastorais, eu sou uma autoridade com legitimidade ancestral, com uma história no candomblé, iniciado com mais de 35 anos de trajetória, estudos, formação. Entretanto as pessoas não respeitam esta minha legitimidade. Então não é não-raro, eu sofro sim eventos de racismo religioso, por conta de estar com as minhas insígnias, colares, roupas, o pai Exú. Isso é, sendo um homem preto, então isso tá muito marcado porque em alguma medida ser um sacerdote de liderança de matriz africana, coloca sobre mim mais uma camada da negritude, da qual eu tenho muito orgulho, entretanto num país racista, isso é estigmatizado. Então não-raro as pessoas se levantam e saem de perto de mim, dependendo do lugar que eu me sento, as pessoas olham com espanto, as pessoas repreendem usando o seu discurso religioso. Eu já fui inclusive assertivo, refutando esse tipo de comportamento e a pessoa vem e diz “eu posso fazer uma oração por você”, e eu perguntei um dia a um menino que veio me oferecer no Aeroporto de Congonhas “por que você acha que eu preciso da sua oração? Por que você acha que pode fazer alguma coisa por um homem preto, sacerdote, autoridade tradicional de terreiro, de 54 anos? Por que você pensa que eu preciso que você faça alguma coisa por mim?”. Ele não soube responder porque eles são marionetes do fundamentalismo dessas lideranças religiosas que tem pregado o ódio, que tem deslocado a religião para um campo de batalha, porque na verdade nós sabemos que esse não é o papel da religião. A religião é um lugar de paz, de controle, de harmonia, de conforto, mas infelizmente nós temos vivido isso sobretudo nos últimos nos últimos 10 anos, e isso se agravou nos últimos seis anos.

Professor Sidnei é autor do livro “Intolerância Religiosa”, da coleção “Feminismos Plurais” (Foto: Reprodução)

Nós falamos sobre racismo religioso, que é um recorte racial na intolerância religiosa, mas Bruno Gagliasso e Cleo Pires, por exemplo, ganharam destaque nas mídias por também sofrerem esse preconceito. Como as pessoas brancas e famosas também podem contribuir para o combate ao racismo religioso?

Exatamente. O racismo religioso não é somente sobre as pessoas, ele é sobre a origem, sobre a história, sobre a Gênese, não é sobre a criação de uma prática religiosa. Quando uma pessoa branca sofre intolerância religiosa, ela sofre porque ela é branca porque está se dando entre pessoas brancas. Mas a origem da religião, as insígnias, os símbolos, as roupas são negras e lidas como negras. Então a pessoa branca sofre intolerância religiosa por conta de ter assumido uma religião de origem negro africana. De qualquer modo, aí você tem uma pessoa branca sofrendo intolerância e na amplitude da intolerância, você tem o racismo religioso sobre todos nós, sobre os negros mais uma vez. As pessoas brancas, sobretudo essas pessoas brancas com visibilidade, com representatividade, precisam assumir, é importante que elas assumam. Nós sabemos hoje o quanto nós somos regidos por imagens no Instagram, no Facebook, na internet de uma maneira geral, nós sabemos o quanto o Brasil e os brasileiros se espelham em ídolos. Então foi importante que a Maria Rita assumisse que agora é de candomblé, é importante que o Bruno Gagliasso assuma que é de candomblé, o Paulinho jogador de futebol de Oxóssi, que fez um tributo a Exú e a Oxóssi nas Olimpíadas [de Tóquio], isso é importante. Embora eles sejam brancos e gozem de todos os privilégios, inclusive do privilégio de poder assumir e descartar a religiosidade que quiserem, na hora que quiserem, inclusive poder assumir uma religiosidade cuja ancestralidade é negra, nós sabemos disso, eles precisam se engajar mais politicamente na luta antirracista, se colocando mesmo como pertencentes de terreiro, inclusive dizendo, manifestando como fez o Paulinho, o que é um terreiro. Desde que seja um terreiro que esteja em sintonia com os valores civilizatórios africanos, que seja efetivamente negro, que não seja distorcido. Como fez o babálorixá da Anitta, que se declarou bolsonarista, conservador, homofóbico, aí não ajuda, que imediatamente esse terreiro já deixou de ser negro faz muito tempo. Mas se a pessoa branca pertence a um terreiro efetivamente negro, é importante que ela assuma, que ela fale, que ela dê visibilidade, isso é fundamental para nós.

O livro “Intolerância Religiosa” é finalista do Prêmio Jabuti 2021. (Foto: Reprodução/Instagram)

Infelizmente, o abate do animal ainda é uma grande polêmica. Como e por que essa tradição tem sido criticada, não só pelas pessoas de outras religiões, como também por outros irmãos de religiões de matriz africana?

Olha, são dois motivos associados: hipocrisia e racismo! O racismo vem carregado semanticamente de ódio, de perseguição aos negros, da necessidade de mantê-los numa posição escravagista, de desumanizá-lo. Ora, o Brasil é um dos maiores produtores, consumidores e exportadores de carnes, de aves. Nós somos cerca de 10% de religiosos de matriz africana, contra 80% de cristãos nas suas diferentes denominações, ninguém vai acreditar que nós que consumimos mais carne do que a carne produzida, exportada. Não é possível que alguém pense que nós somos responsáveis pelos problemas relacionados à produção bovina, a produção de aves, até porque a carne quer que nós utilizamos é desrespeito a um modo de alimentação tradicional, a um modo de nutrição que não descarta a dimensão ancestral, espiritual, a dimensão força vital dos animais. Nós também consumimos do mesmo modo que eles consomem churrascaria, compradas em açougues, só que nós coletivamente sacratizamos essa carne antes de consumi-la, nós cuidamos dela, nós escolhemos muito bem essa carne, nós ritualizamos, nos alimentamos também da dimensão espiritual dessa carne. E nós não descartamos nada. Eu nem precisaria estar aqui explicando isso porque o Brasil é um mega consumidor e exportador de proteína animal, mas o racismo, a hipocrisia, a necessidade de perseguição e desumanização de tudo o que se referir aos modos de ser, fazer, estar no mundo negro, precisam ser padronizados mesmo quando isso ainda contribui para a harmonia existencial do mundo, mesmo quando nós estamos falando de rituais de cura, de rituais de busca de saúde. Então é racismo, é ódio, é desumanização dos territórios negres é disso que se trata.

rProfessor Sidnei na posse da Ministra da Cultura Margareth Menezes (Foto: Reprodução/Instagram)

Uma das primeiras sanções do presidente Lula foi da Lei que institui o Dia Nacional das Tradições das Raízes de Matrizes Africanas e Nações do Candomblé. Você tem uma perspectiva de que neste governo será possível combater com mais efetividade o racismo e a intolerância religiosa?

Eu penso que sim. Não é só uma data. Nós não temos uma bancada de religiões de matriz africana, nós não temos um juiz adoravelmente macumbeiro, nós não temos políticos, ministros, secretários que se auto declarem abertamente e incisivamente pertencentes às religiões de matriz africana porque sempre há muita vergonha, muito medo. Então uma data é um começo, é fundamental, muda tudo. Nós estamos muito esperançosos, estamos mesmo acreditando na democracia porque a democracia é diretamente proporcional a laicidade, a liberdade religiosa. Uma data para os povos tradicionais, para diferentes nações de candomblé, para as religiões com as suas diferentes matrizes africanas, diferentes origens, é fundamental, é mais um dia de luta no combate à intolerância e ao racismo religioso.

5 policiais negros são imediatamente demitidos após linchar e matar jovem negro nos EUA

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Ele só queria voltar para casa. Tye Nichols, 29, foi mais uma vítima da brutalidade policial nos EUA, Na última sexta-feira (27), foram divulgados os vídeos da agressão que ocorreu no dia 3 de janeiro, no estado do Tenesse, e as imagens  revoltaram os norte-americanos. Os policiais alegaram que pararam o carro de Nichols devido a uma condução imprudente, mas a acusação não foi comprovada. No vídeo, é possível ver cinco policiais se revezando para chutar e socar brutalmente. 

O vídeo mostra que após levar um disparo de um taser, Tyre correu e logo foi imobilizado pelos policiais com gás de pimenta, ao se proteger dos efeitos, a vítima se move e um dos braços atinge um dos policiais, e logo em seguida as agressões se intensificaram

Em um dos vídeos é possível ver as tentativas de Nichols de acalmar os policiais e logo em seguida as agressões aumentam. O caso causou ainda mais choque porque todos os 5 polícias, representantes do Estado Americano, eram homens negros. Eles foram imediatamente demitidos, sendo acusados de homicídio em segundo grau, agressão agravada, sequestro agravado, má conduta e opressão oficial.

Os advogados de dois dos policiais anunciaram que seus clientes irão se declarar inocentes. Cerelyn Davis, diretora da polícia de Memphis, descreveu as ações dos policiais como “hediondas, imprudentes e desumanas”.

Após a divulgação dos vídeos, manifestantes tomaram as ruas de Memphis e outras cidades dos Estados Unidos, o presidente dos EUA, Joe Biden se pronunciou sobre o crime em comunicado: “Como muitos, fiquei indignado e profundamente triste ao ver o horrível vídeo do espancamento que resultou na morte de Tyre Nichols”.

Nas redes sociais, artistas, ativistas e comunicadores negros comentam o caso: “Minhas mais profundas condolências aos entes queridos de Tire Nichols e a todos os afetados por este ato de violência sem sentido. Meus pensamentos e orações estão com você durante este período difícil. 💔🕊🙏🏿”, publicou Angela Davis em um post com a foto de Tyre Nichols

O caso comoveu a todos, mas também levantou debates sobre a agilidade da polícia norte-americana em punir os criminosos quando se trata de pessoas negras. Em um caso semelhante de violência policial, os policiais acusados de assassinar Breonna Taylor foram demitidos 9 meses após o assassinato da agente de saúde.

Para o ativista brasileiro Antônio Isuperio afirma que o sistema tem mecanismos diferentes quando pessoas negras cometem o crime:

“Eu acredito que o processo de responsabilidade deste crime tão cruel é o que deveria de forma justa acontecer em qualquer crime que se assemelha. Mas observar como o sistema tem mecanismos completamente diferentes de operação quando quem comete crimes são pessoas negras é o maior ponto deste caso. Não foi de forma alguma questionado as falas da corporação, o déficit de treinamento nem a saúde mental dos já criminalizados. O processo todo de encarceramento dos cinco policiais negros foi todo concluído de forma extremamente rápida não vista na história recente e com apoio de grande maioria dos formadores de opinião”, diz Isupério.


Um ano de saudade da mulher do fim do mundo

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Foto: Reprodução/Instagram

Elza Soares nasceu na favela carioca de Moça Bonita, região conhecida atualmente como Vila Vintém, em 23 de junho de 1930, ano em que Getúlio Vargas deu o golpe e permaneceu como presidente do Brasil por 15 anos, incluindo o período da ditadura conhecido como Estado Novo (que de novo não tinha nada). Vinda de uma família extensa (teve dez irmãos) e pobre. Foi lavadeira, como sua mãe e empregada numa fábrica de sabão. Aos 12 anos foi obrigada, pelo pai operário, a se casar com um homem muito mais velho. Aos 13 teve o primeiro filho, aos 15 perdeu um filho vítima da fome e aos 21 ficou viúva. Foi a fome que levou Elza Soares para a música.

Sua participação histórica, em 1953, no programa no programa ‘Calouros em desfile’, apresentado por Ary Barroso na rádio Tupi, inaugurou sua carreira musical. Elza foi até a rádio porque precisava de dinheiro para comprar remédio e comida para seu filho, vestida com a roupa de sua mãe larga (cheia de alfinetes) num corpo magro com menos de 35 quilos. Assim que ela subiu no palco, a plateia toda riu. Ary Barroso ao entrevistá-la, perguntou, ironicamente: “De que planeta você veio?” e ela respondeu: “Do planeta fome”, quase chorando de raiva, como ela relembrou no programa de televisão Roda Viva, em 2002. Da vergonha a ganhadora do concurso de calouros da rádio Tupi. Seis anos depois deste episódio sua carreira despontou, porém ao longo dos anos teve altos e baixos.

Elza era alvo de muitas críticas quando o assunto era sua vida pessoal. O casamento com o jogador de futebol Garrincha durou quinze anos, foi marcado por polêmicas e violência física.. Foi acusada, dentre outras coisas, de ser uma destruidora de lares, pois o namoro deles teve início quando o mesmo ainda era casado.

Elza Soares e Garrincha (Foto: Reprodução)

O sofrimento, as perdas e a luta são explícitos na vida e também na obra de Elza, mas reduzi-la a eles é no mínimo equivocado. Ela deixou um legado à música brasileira, com uma voz excepcional que não se limitou a somente um gênero musical, mas transitou e marcou diversos gêneros, principalmente, o samba (em suas diferentes vertente, como o samba rock), o jazz, o hip hop e até o funk misturando-os. A pesquisadora e cantora Marilda Santanna, no livro As bambas do samba, narra a excepcionalidade presente na atuação de Elza, destacando “o artesanato vocal da intérprete”, ou seja, voz e significações. Marilda Santanna destaca que a intérprete utilizava a sua voz de forma bem livre, “ para convocar a imagem concreta do objeto referenciado – como quando prolonga a consoante final”.

Em 2015, Elza ainda estava se reinventando e lançava o CD A mulher do fim do mundo com coragem que denuncia a violência contra a mulher e o racismo, silenciamentos das mulheres negras e tantas lutas políticas. Os versos da música O que se cala, expostos a seguir, refletem a potência da música no combate ao racismo e machismo: Minha voz/ Uso pra dizer o que se cala/ O meu país/ É meu lugar de fala.

Elza faleceu há um ano, em janeiro de 2021, aos 91 anos, deixando um legado de militância na arte negra brasileira. Ela representa a ancestralidade e sempre será uma referência para todas nós, mulheres negras, que usamos todos os dias nosso corpo e voz em busca de um país mais justo.

Ludmilla presenteia a mãe com carro dos sonhos “ela tava louca por esse carro dei de presente pra ela”

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Nesta sexta-feira (20) a cantora Ludmilla fez uma surpresa para sua mãe, a influenciadora digital Silvana Oliveira, a cantora publicou um vídeo em seus stories do Instagram em que mostra a reação da mãe vendo o seu carro dos sonhos com uma fita de presente

“ela tava louca por esse carro dei de presente pra ela”, publicou Ludmilla nos stories.

Recentemente Silvana Oliveira viralizou nas redes sociais ao reclamar com a filha sobre a falta de mimos enviados para ela, “Eu sou blogueira, Youtuber, com mais de 600 mil seguidores… e não ganhei o meu (Perfume da Ludmilla) (…) Que isso, gente?” reclamou Silvana.

Com o carro dos sonhos recebido hoje a blogueira agradeceu em suas redes sociais “Meu tão sonhado presente de natal, obrigada, obrigada Jesus!! <3”

https://twitter.com/SquadBrumilla/status/1616549659476127745

Amílcar Cabral, o pan-africanista que influenciou Paulo Freire

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Foto: Reprodução

Por: Ricardo Corrêa

Dia 20 de janeiro de 2023, completa cinquenta anos do assassinato de um dos maiores revolucionários que surgiu no continente africano. Estou falando do poeta, pan-africanista e engenheiro agrônomo − Amílcar Lopes Cabral −, nascido em 1924, na cidade de Bafatá, Guiné-Bissau. Ele foi co-fundador do Partido Africano Para a Independência da Guiné-Bissau e Cabo Verde – PAIGC (1956), e se tornou a principal liderança do partido na luta pela independência. Naquela época, o desafio dos países colonizados por Portugal era demasiadamente complexo, pois o país estava sob o governo violento do ditador António de Oliveira Salazar (1933−1968),

Amílcar Cabral  compreendia que a assimilação dos valores dos colonizadores, pelos colonizados, era um fator que necessitava ser desconstruído para que a independência, quando fosse alcançada, se tornasse completa. Para tanto a retomada da cultura africana seria imprescindível. Ele até nomeou de “reafricanização dos espíritos” referindo-se as atividades artísticas que resgatavam a identidade do povo africano. Com esse objetivo, defendeu incondicionalmente a educação no processo de descolonização, tanto que declarou que a utilização de armas como instrumento de combate era um recurso imperativo, por causa da demanda concreta, porque se dependesse da sua própria vontade os livros seriam mais desejáveis.

O método pedagógico de Cabral, na construção da consciência política, considerava a realidade do povo em permanente dialética com a teoria. Em virtude disso, acabou chamando a atenção do educador pernambucano Paulo Freire, que passou a estudá-lo profundamente […] eu cheguei realmente até ter um projeto de fazer um estudo, assim uma espécie de biografia da práxis de Amílcar e era um grande sonho; em certo sentido eu me sinto frustrado até hoje, porque não pude fazer isso […]. Eu cheguei até a ter o nome do livro que eu quis escrever, que não pude escrever que se chamava ‘Amílcar Cabral, pedagogo da revolução’.”

A independência de Guiné-Bissau foi reconhecida oficialmente em 1974, e Cabo Verde, em 1975, entretanto, o “Pedagogo da Revolução” foi assassinado antes de presenciar o resultado da vitoriosa e memorável luta. De qualquer maneira, as suas ideias continuam circulando e influenciando a todos que combatem a opressão dos povos oprimidos, e considera a educação como fundamento para a emancipação política; Paulo Freire (2016) não o conheceu pessoalmente, mas aproveitou as lições “Em Cabral eu aprendi uma porção de coisas, digo em Cabral significando também com Cabral, que aprendi um bando de coisas, eu confirmei outras coisas de que eu suspeitava, mas eu aprendi, por exemplo, uma coisa que é a necessidade que têm o educador progressista e o educador revolucionário.”

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CABRAL, Amílcar . Guiné-Bissau – nação africana forjada na luta. Lisboa. Nova Aurora, 1974.

CABRAL, Amílcar. Unidade e Luta I. A Arma da Teoria. Textos coordenados por Mário Pinto de Andrade, Lisboa: Seara Nova, 1978.

FREIRE, P. Sobre Africanidade: Amílcar Cabral, pedagogo da revolução. In: FREIRE, P; ARAÚJO, A. M. (org.). Pedagogia da tolerância. 5. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2016. p. 115-155.

ROMÃO, José Eustáquio; GADOTTI, Moacir. Paulo Freire e Amílcar Cabral: a descolonização das mentes. São Paulo: Editora e livraria Instituto Paulo Freire, 2012.

Fred Nicácio chama Gil do Vigor de “bicha caricata” e ex-BBB rebate

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Fotos: Divulgação e Reprodução

Fred Nicácio causa mais uma polêmica no BBB 23. Durante a madrugada desta sexta-feira (20), Fred se reuniu outros brothers para articular estratégias do jogo e declarou sua intenção de voto no Bruno. Porém, Cezar acha que ele não seria eliminado pelo público e Nicácio concordou. “Ele é o perfil do Gil do Vigor. O povo gosta da ‘bicha caricata’, porque é engraçado, é entretenimento. Infelizmente é isso”, o comparando com o ex-BBB 21.

https://twitter.com/midiasdefamosos/status/1616354148915503108

“O Vyni foi o mesmo perfil, não deu certo e foi eliminado”, respondeu a cantora Marvvila que também estava na roda, sobre o ex- BBB 22,

Gil do Vigor logo se pronunciou nos stories do Instagram para rebater o médico. “Um gay falando que o público gosta da bicha caricata. Cada uma que a gente tem que ouvir, viu? Cada uma que dá duas”, iniciou o economista. “Mas não, o público gosta de pessoas, de seres humanos. De pessoas que são verdadeiras, sinceras, que se jogam e que se entregam”, completou.

“Graças a Deus me falam muito que gostaram de mim por eu ser sincero, honesto, por ser da cachorrada, por ser acadêmico, um pesquisador. Por eu ser um religioso, por ter sido missionário”, contou Gil.

Michael Jackson ganhará uma cinebiografia dirigida por Antoine Fuqua

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Fotos: Reprodução e Getty Images

Michael“, a cinebiografia de Michael Jackson, que contará a vida e a carreira do cantor, será dirigido por Antoine Fuqua, o mesmo diretor de “Dia de Treinamento” e “Emancipation“, revelou o portal Deadline nesta quarta-feira (18). 

Com previsão para início da produção no final deste ano, ainda não foi definido quem interpretará o Rei do Pop. O Graham King, responsável pelo filme vencedor do Oscar “Bohemian Rhapsody“, foi confirmado como produtor executivo, em fevereiro do ano passado.

Segundo as fontes do portal, o filme aproveitará ao máximo as realizações musicais de Michael Jackson, desde os dias em que ele liderou o The Jackson 5 quando criança até seu trabalho de sucesso como a maior estrela musical do mundo quando adulto.

A cinebiografia também irá abordar as polêmicas na vida do ator, como as acusações de pedofilia que o perseguiram até seus últimos anos de vida. Jackson faleceu aos 50 anos, em 2009, de parada cardíaca, vítima de intoxicação por propofol e benzodiazepina.

Para os críticos, Fuqua atingiu o seu ponto alto como cineasta com o filme Emancipation, estrelado por Will Smith, “por causa de sua narrativa inabalável de uma história muitas vezes brutal do escravizado fugitivo Joseph”, diz o Deadline.

“A Aline foi barrada de entrar no nosso próprio show, do Rouge”, Karin Hils se emociona ao falar de representatividade e valor da mulher preta

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Foto: Reprodução

Na última quinta-feira (19), no Big Brother Brasil as confinadas Aline e Sarah falaram sobre o poder e a representatividade que as participantes negras do grupo Rouge levavam para meninas negras na década de 90.

“Provavelmente eu não teria a clareza que consegui ter de acesso, se, por exemplo, a Aline não fosse a Aline do Rouge” comentou a sister Sarah, se referindo ao impacto representativo que as integrantes negras do grupo tiveram na sua infância e de sua irmã.


As confinadas se emocionaram juntas e tiveram outras trocas nessa conversa lá dentro, e aqui fora, a Karin comentou a fala das duas e lembrou do valor que as duas tem enquanto mulheres negras, mesmo sendo desacreditadas.

“A gente tem muito valor minha amiga @alinewirley apesar de todos os dias vir alguém ou alguma situação tentando nós convencer do contrário, até mesmo dentro da nossa casa, a gente tem muito valor.”


Em um post em sua rede social Karin comentou sobre ela e sua dupla impactam a vida de outras mulheres negras sem mesmo ter noção do poder da representatividade

“Mesmo sem ter a total noção disso naquela época, de alguma maneira também ajudamos a dar lugar a tantas meninas pretas, lugar que nós mesmas não tivemos na nossa infância, é o que sem dúvida, para a gente em especial, faz tudo valer a pena.”

No mesmo post, Karin ainda lembrou de um caso de racismo que Aline sofreu em 2017, na ocasião a cantora foi impedida por um segurança de entrar no próprio show da banda Rouge.

“Muita gente não sabe, mas a Aline foi barrada de entrar no nosso próprio show, do Rouge, por um segurança na volta de 2017. Parece piada né?! (…) Mas estamos aqui até hoje resistindo, persistindo”

Produzida por Jada Pinkett Smith, série sobre a rainha e guerreira africana Njinga ganha trailer e data de lançamento

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Foto: Divulgação

Produzida por Jada Pinkett Smith, a série documental “African Queens: Njinga” será lançada no dia 15 de fevereiro na Netflix, Mês da História Negra nos Estados Unidos. O trailer oficial foi divulgado nesta quarta-feira (18).

“Espero que você sintonize para honrar o legado desta poderosa rainha guerreira cuja história foi quase perdida e esquecida”, escreveu Pinkett Smith no Instagram, também narradora da série.

Foto: Reprodução/Instagram

A história da Njinga, rainha guerreira de Ndongo e Matamba, do século 17, a atual Angola, será abordada na série, misturando dramatização com documentário. O audiovisual irá mostrar sua ascensão e reinado em meio a traições familiares e rivalidades políticas.

A Netflix lançará duas temporadas no streaming, a primeira sobre Njinga e a segunda sobre a Cleópatra. Serão quatro episódios em cada temporada, com cerca de 45 minutos de duração, contendo entrevistas com especialistas.

Anteriormente, a produtora executiva também relatou a importância da série documental. “Como mãe de uma jovem negra, é imensamente importante para mim que ela aprenda as lições das rainhas africanas que abriram o caminho para nosso sucesso e o sucesso de gerações de mulheres negras”, disse Pinkett Smith.

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