Victoria Barros, uma jovem tenista do Rio Grande do Norte, está conquistando troféus em sua primeira participação no circuito internacional juvenil para jogadores de 18 anos. Depois de vencer dois torneios de nível 30 no Chipre, ela alcançou um título ainda maior no J60 de Larnaca.
Com apenas 13 anos, Victoria manteve sua sequência invicta de 15 partidas e derrotou Vanessa Dobiasova, da República Tcheca, de 15 anos e número 700 no ranking juvenil, por 6/4 em ambos os sets. Durante a semana em Larnaca, ela também venceu Elena Francese, da Itália, Laura Valentine Pop, da França, e as tchecas Veronika Sekerkova e Monika Jirouskova, sem perder nenhum set.
Atualmente ocupando o 1.050º lugar no ranking juvenil mundial da ITF, com 61,5 pontos, Victoria Barros garantirá mais 60 pontos com essa vitória, o que a colocará entre as 700 melhores jogadoras do ranking até 18 anos. Para o cálculo do ranking juvenil, são levados em consideração os seis melhores resultados individuais durante um ano, além de 25% da soma das seis melhores pontuações em duplas. Nesta semana, ela chegou às quartas de final nas duplas.
Victoria já vinha se destacando no circuito de 14 anos da Tennis Europe, com três títulos de simples e quatro de duplas desde o ano passado. Um desses títulos foi conquistado na academia do ex-número 3 do mundo, Ivan Ljubicic.
Além disso, ela possui quatro títulos de simples no circuito Cosat e representou o Brasil no Sul-americano e no Mundial de 14 anos na temporada passada. A tenista, que completou 13 anos em dezembro, mudou-se para a França no início da temporada e começou a treinar na academia de Patrick Mouratoglou, ex-treinador de Serena Williams. Ela é treinada por Sliman Taghzouit, um treinador francês de 36 anos, e conta com a companhia de sua mãe, Maria Luiza, nos torneios.
Sônia Maria de Jesus, uma mulher negra de 49 anos, surda e muda, passou mais de 30 anos sendo tratada como escrava na casa do desembargador de SC, Jorge Luiz Borba. Segundo a reportagem do Fantástico no último domingo (11), uma ex-funcionária da casa disse que ela era tratada como “escravinha”.
Sônia começou a morar na casa do desembargador ainda nova, com 12/13 anos e logo cedo começou a viver situações precárias e de escravidão moderna. Ela foi privada do direito de se comunicar e nunca aprendeu Libras, a linguagem brasileira de sinais.
Três ex-funcionárias foram ouvidas sobre o caso. Segundo o depoimento de uma ex-cuidadora que trabalhou entre 2020 e 2021 na casa, Sônia era tratada como uma “escravinha” e os cachorros eram mais bem tratados do que ela. Ela sempre comia depois dos patrões e não possuía um quarto dentro da casa. A cuidadora também relatou que já precisou dar banho na Sônia por causa de assaduras que ela teve embaixo dos seios por não ter sutiã.
Uma faxineira que trabalhou entre 2015 e 2016 definiu Sônia no depoimento como “Mucama”, termo usado para definir mulheres negras escravizadas responsáveis pelos serviços domésticos antes da abolição.
Já uma ex-diarista, disse que sempre viu Sônia como uma trabalhadora e que os filhos do desembargador tinham tudo e ela não tinha nada.
Três funcionárias que trabalham atualmente na casa disseram em depoimento que ela não era obrigada a fazer os serviços domésticos e tinha um quarto próprio dentro da casa principal.
Na entrevista de Sônia ao Fantástico, acompanhada pela presidente da Associação de Surdos da Grande Florianópolis, o jornalista pergunta se ela tem conhecimento dos seus direitos, mas ela não soube como responder.
No dia 6 de junho, a Policia Federal realizou buscas na casa de Jorge Luiz Borba, a pedido do MPF, após denúncias anônimas de que uma trabalhadora surda e muda estaria trabalhando em condições análogas à escravidão. Na última sexta-feira (09), Sônia foi resgatada e está vivendo em um abrigo para mulheres vítimas de violência e está aprendendo Libras.
Em sua defesa, o desembargador disse que ama Sônia como se fosse sua própria filha e quando ela precisava de cuidados médicos amigos e a própria filha, que é medica, a atendia.
Ao Fantástico, ele disse que já tentou ensinar Libras quatro vezes a Sônia, mas que nenhuma tentativa deu certo. Mas não apresentaram nenhum documento comprovando as aulas. Ela só ganhou CPF há poucos anos atrás, que segundo o desembargador, não fez antes por não achar necessidade.
Em nota, a família Borba negou todas as acusações e disse que “jamais praticaram ou tolerariam que fosse praticada tal conduta deletéria, ainda mais contra quem sempre trataram como membro da família”.
Ainda na nota, anunciaram que vão fazer o pedido de filiação afetiva de Sônia. “Jorge e Ana Cristina ingressarão com pedido judicial para reconhecimento da filiação afetiva da [trabalhadora], garantindo-lhe, inclusive, todos os direitos hereditários.”
Será que é preciso aprender a amar? Fomos nós, sujeitos negros, excluídos da “dádiva” do amor? Sabemos o que é o amor? Somos capazes de (re)conhecer o amor? Para responder a estas e outras questões, tive que voltar às minhas “escrituras sagradas” (e talvez de inúmeras feministas negras), o livro: Tudo sobre o amor de bell hooks. Dos mais de trinta livros da bell hooks, escolhi aquele em que a autora responde uma pergunta valiosa: Afinal, o que é o amor?
Com a chegada dos Dia dos Namorados torna-se quase que automático pensar sobre as afetividades e o amor. Faremos isso aqui também, junto com bell hooks. No primeiro livro da Trilogia do Amor a autora negra estadunidense trata do amor nas diferentes relações: familiares, religiosas, românticas e de amizade. Sobre a geração que vê problema em ser emocionada ou emocionado, ela fala que eles são cínicos em relação ao amor e isso não passa de uma fachada para um coração decepcionado e traído. É preciso ter coragem para amar e ser amada.
Mas vamos voltar para a pergunta central: o que é amor? Para bell hooks o amor é uma ação, apesar de ser um substantivo, ele deve ser compreendido como verbo. Vimos filmes de comédia romântica, escutamos músicas, lemos romances em que o amor é uma sensação e não uma escolha, uma decisão. Aprendemos e por vezes ensinamos que o amor é ponto final, é o fim de uma corrida, quantas novelas terminam com casamentos? O amor não é um sentimento que está pairando no ar e de repente você o encontra. Uma troca de olhares, um click e o amor surge. Isso não é amor.
O amor é, como nos mostra bell hooks, “a vontade de se empenhar ao máximo para promover o próprio crescimento espiritual ou o de outra pessoa”. O espiritual aqui como a “dimensão de nossa realidade mais íntima em que a mente, o corpo e o espírito são um só”. Dito de outro modo, o amor é a disposição de investir no fortalecimento da força vital de alguém e da sua. A força vital quando nutrida, expande nossa capacidade de sermos plenamente realizados (ou, por que não, felizes) e capazes de nos relacionarmos em união com o mundo ao nosso redor.
O amor como ação pressupõe responsabilidade, comprometimento, sinceridade e comunicação. Como bell hooks alertou, as ações moldam os sentimentos e se estamos amando devemos expressar cuidado, afeição, responsabilidade, respeito e confiança. O autoconhecimento e o autoamor são essenciais para nutrir um relacionamento com outra pessoa. Parece clichê (e talvez seja), mas também é verdadeiramente valiosa a ideia de que se aprendermos a nos cuidar, nos amar, nos conhecer, podemos cultivar um namoro saudável. Compartilhar afeto, cuidado, desejo é trilhar o caminho do amor.
Quando reflito sobre esse dia dos namorados, um pensamento me preenche. Uma ideia dita por um babalorixá a um dos seus filhos de santo. “Nós negros temos a obrigação ancestral de sermos felizes”. E onde há amor a felicidade habita.
O ator Leandro Firmino, 44, e a esposa publicitária Leticia Da Hora, 34, são um dos poucos casais negros famosos no Brasil. Pais de uma criança atípica, eles se consideram completamente fora do padrão da mídia, e exalam muito amor e união.
Casados desde 2015, o casal compartilhou em entrevista exclusiva ao Site Mundo Negro, em especial ao Dia dos Namorados, como é a vida a dois, os cuidados um com o outro para manter um relacionamento duradouro e saudável, os hobbies, além da luta para trabalharem, cuidarem da casa, das crianças, e contra o racismo estrutural que afeta nessas dinâmicas do dia a dia.
Leandro, estrela do filme ‘Cidade de Deus‘, diz que não curte muito datas comerciais, mas a Leticia adora o Dia dos Namorados, então ele sempre lhe faz um agrado. “Eu só não gosto mais de sair porque tá tudo muito cheio, tô muito velha pra ficar passando raiva em fila de motel, de restaurante. Eu prefiro dar um rolê antes ou depois. Me contento com um presentinho. Mas não gosto de chocolate, presente de comer. Gosto de coisas duráveis, tipo brincos, relógio”, revela a ativista social.
“Para dar certo, os dois tem que querer de verdade. Porque as adversidades vem, problemas financeiros, incompatibilidades. Todo casal tem. Acho que o mundo está muito volúvel, tudo é muito artificial, raso. E para você manter um casamento, tem que ser algo profundo, intenso”, diz Leticia sobre os relacionamentos.
Foto: Rafa Furtado
Leia a entrevista completa abaixo:
1 – Neste ano vocês completaram oito anos de casados. Qual a receita para um casal se manter juntos por tanto tempo?
Leandro: No meu ponto de vista, o mais importante é saber perdoar e admitir os seus erros. O casamento é o dia a dia, não existe uma receita. A vida a dois é bem complicada, especialmente se ninguém quer ceder.
Leticia: Para dar certo, os dois tem que querer, de verdade, não é mais ou menos. Porque as adversidades vem, problemas financeiros, incompatibilidade de um monte de coisa. Todo casal tem. Mas é querer de verdade. Acho que o mundo está muito volúvel, tudo é muito artificial, raso. E para você manter um casamento, tem que ser algo profundo, intenso. Todo casal passa por um momento de reflexão, mas uma das coisas que eu gosto do Leandro, é o fato de que ele está sempre procurando se desconstruir, melhorar, procurar dar o seu melhor, para construir uma família e faz com que a gente queira ficar. Eu também melhorei bastante, amadureci muito. Agora não dá para entrar em um relacionamento profundo, duradouro, com uma pessoa, com a mesma personalidade de sempre.
Leandro: Não adianta você querer casar e levar uma vida de solteiro. Por exemplo: terminei uma gravação, vou pro pagode. Isso não existe. Você tem querer estar casado. Ter um compromisso. Isso de sair na sexta e voltar na segunda, como era no caso dos meus avós, isso não existe mais. Quando resolvi casar com a Leticia, eu pensei que a minha vida teria que mudar muita coisa. Eu ainda estou em processo de mudança, para melhorar como pessoa para continuar casado. Meus pais estão casados há mais de 40 anos, se conheceram bem jovens, e até hoje eles passam por muitas coisas. Por exemplo, ajudar a cuidar do bisneto, que acontece muito nas famílias negras, que vivem em comunidades, minhas sobrinhas foram mães muito cedo. Sempre que eu falo com alguém mais jovem, eu aconselho a estudar, trabalhar, viajar, porque tudo isso agrega. E quando for casar, ter uma família, você tem histórias, referências, que podem te ajudar.
Foto: Rafa Furtado
2 – Vocês são um casal negro famoso no Brasil, e infelizmente, ainda temos poucas dessas referências para admirar. Como vocês se sentem neste lugar e qual a importância de valorizar uma família negra, apesar de estarem em um espaço midiaticamente racista, que os coloca como fora do padrão?
Leticia: A gente já está acostumado a viver fora do padrão. Nada novo no rolê (risos). A gente ainda tem uma criança atípica. Mas questão de emprego assola muito mais a gente do que uma família branca. O trabalho de uma mulher preta e um homem preto é muito mais pesado do que o de um casal branco. As mazelas que nos atingem são muito maiores. Por exemplo, meu marido é um homem negro, ator. Com certeza, pelos trabalhos que ele já fez, se ele fosse um homem branco, ele teria muito mais trabalho e a gente estaria em outro patamar de vida. Eu não precisaria, por exemplo, trabalhar 40 horas por semana, igual eu trabalho. Seriam outras condições. Isso afeta na nossa saúde mental, nas nossas divisões de tarefas. A gente não tem uma pessoa que vai nos ajudar nas tarefas de casa. Ele como é um ator negro que nem sempre está trabalhando, fica mais em casa do que eu, então ele dá conta das coisas da casa mais do que eu. Fica muito mais com as crianças, lava mais a louça, porque eu tô fora.
Foto: Rafa Furtado
3 – A chegada de uma criança mudou muito a rotina de vocês?
Leticia: Uma criança muda totalmente a rotina. E uma criança atípica demanda muito mais. Questões de trabalho, de cuidar, porque ela precisa de mais necessidades do que outras, e questões emocionais. Antes de receber o diagnóstico do autismo, foi todo um rolê de terapia, de psiquiatra, da dúvida do diagnóstico. Foi muito dolorido pra gente, mas também fez a gente amadurecer enquanto casal. Essa foi a maior barra da minha vida. O Leandro não conseguia falar sobre isso, eu ainda falava, chorava. Então a gente encontrou apoio um no outro. O estresse que também causou devido a sobrecarga sobre mim e sobre ele. E a gente vê que tem muitas famílias assim, especialmente com mulheres negras, que são mais preteridas. Mulheres negras e com ensino superior tem mais chances ainda de ficar sozinha. E uma pessoa que escolheu ficar, apesar de todas as dificuldades, manter a nossa família, o nosso relacionamento, é muito bom. Ter um filho autista é punk, é caro, cansativo fisicamente e emocionalmente.
Foto: Rafa Furtado
4 – Como casal, vocês tem algum hobbie? O que vocês gostam de fazer quando estão apenas os dois juntos?
Ambos: Dormir juntinhos.
Leandro: Uma das coisas que a gente mais gosta.
Leticia: Quando a gente tá cansado, dormir de tarde é maravilhoso. Quando a gente consegue, pode.
Leandro: Hoje em dia é muito raro fazer isso no final de semana.
Leandro: Cada vez mais eu tenho gostado de ficar dentro de casa. A Leticia que faz força para sair, mas por mim faria tudo dentro de casa.
Leticia: Ele e o Miguel [filho mais velho do Leandro, de 11 anos] são caseiros. Eu e o Levi [6 anos] gostamos de rua. Eu trabalho a semana inteira, aí final de semana eu já quero sair. E a gente também adora comer. Conhecer uma milhão de culinárias diferentes.
Foto: Rafa Furtado
5 – Apesar de terem trabalhos diferentes, vocês costumam se apoiar de alguma forma no trabalho um do outro?
Leandro: A gente se ajuda muito. Ela me convence a postar status, cria os textos.
Leticia: Os vídeos com maiores visualizações, eu que fiz o roteiro (risos).
Leandro: Nos últimos meses, ela tem me ajudado. Porque se depender de mim, eu não tenho paciência pra isso, ficar pensando em vídeos: ‘amanhã vou falar sobre o que?’. Uma coisa é filmar, ir pro set, gosto de ficar dentro de um set.
Leticia: O Leandro também ajuda na divulgação do Mulheres da Parada [ONG idealizado pela publicitária].
Foto: Rafa Furtado
6 – Vocês se casaram mais de uma vez. Foi ficando cada vez mais tranquilo ou vocês tiveram aquele famoso ‘frio na barriga’?
Leticia: Foi bem tranquilo, mas eu fiquei muito mais feliz com o casamento no religioso porque eu sou protestante, e pra mim tinha um significado bem importante. A gente se casou três vezes. Casamos no civil, tivemos uma recepção no CDD [Cidade de Deus – RJ], e depois no religioso. E eu pretendo fazer bodas. Porque a gente casou velho e dificilmente vamos fazer 50 anos de casados. E eu queria comemorar a cada 5 ou 10 anos.
A educação é de fato um agente de transformação, mas precisamos considerar os recortes quando pensamos, principalmente, nas pessoas negras, que ainda sofrem com as dificuldades de acesso e permanência no ensino básico.
Apesar disso, podemos comemorar pequenas vitórias, como o aumento no número de professores universitários negros de acordo com pesquisa do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), que mostrou que, de acordo com Censo de 2021, os negros corresponderam por 24,1%, um aumento significativo se comparado ao Censo anterior, feito em 2017, que mostrava quo o numero de professores universitários negros era de 16% em todo o país.
Isso mostra que um número importante de pessoas negras conseguiu superar as dificuldades de formação no ensino básico, fundamental e médio, chegando à universidade e se dedicando à formação no campo da educação. Esse é o caso de Wallace Júnio Reis.Doutor em Química pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), parte dele cursado também na Universidade de Aarhus, na Dinamarca, ele trilhou um caminho acadêmico de excelência que, por muitas vezes foi solitário quando pensamos no perfil racial da maioria dos estudantes que chegam aos níveis superiores da educação.
Foto: Arquivo pessoal
A história de Wallace chegou ao Mundo Negro pelas mãos de Úrsula Francielly, irmã do jovem de 33 anos, que hoje atua como pesquisador no Instituto Federal do Amapá. Ele nos contou sobre a importância da família para sua trajetória como estudante e como ter encontrado pessoas negras nesse caminho também o fortaleceu.
MN – Como foi a experiência de crescer como um jovem negro de periferia? Quais foram os principais desafios que enfrentou ao longo desse caminho?
Wallace Júnio Reis – Crescendo como um jovem negro, eu sei da dificuldade existente em ocupar um lugar de protagonismo na sociedade e ser obrigado a fazer escolhas. O preconceito pesa muito para jovens periféricos, principalmente nas questões relacionadas à inserção no mercado de trabalho e o acesso à educação de qualidade. Sempre tive acesso à educação, por meio da minha família. Apesar de ser uma boa educação, infelizmente não podemos comparar o nível de qualidade das escolas públicas e particulares devido à diferença de investimento. Na maioria das vezes, precisei procurar outras fontes para agregar o conhecimento desenvolvido na escola, sempre procurando desenvolver habilidades que não estavam disponíveis no meu meio social. Aprender uma língua estrangeira, por exemplo, é algo raro para um jovem negro de periferia. Nossa dificuldade começa pelo acesso à educação, que antecede a dificuldade de conhecimento prévio necessário para desenvolver as habilidades desejadas. Além disso, poucas oportunidades são dadas às pessoas de periferia. Na maioria dos casos, uma empresa não enxerga um jovem negro de periferia como um potencial empregado com um futuro promissor.
MN –Poderia falar um pouco sobre o papel da educação em sua vida?
WJR – A educação teve um papel fundamental na minha vida. Comecei a estudar muito cedo, incentivado pela minha família. A maioria dos espaços que conquistei veio por meio da educação, principalmente o acesso a lugares que eu jamais imaginei conhecer. Por meio da educação, tive a oportunidade de morar na Dinamarca por 9 meses, um país incrível onde fui muito bem recebido e guardo excelentes recordações até hoje. Aprendi a escrever, ler e falar em inglês por meio de cursos presenciais e da internet, o que me permitiu acessar espaços e conhecer pessoas de diferentes nacionalidades. A educação também me permitiu viajar pelo Brasil para participar de eventos nacionais e internacionais, onde pude conhecer histórias incríveis de superação pessoal. Além disso, a educação me permitiu almejar uma vida melhor. Com os conhecimentos adquiridos ao longo da minha formação, posso buscar uma vida melhor e almejar cargos com posições e remunerações elevadas, proporcionando uma vida mais “confortável” do ponto de vista social.
MN –Quais foram os momentos mais significativos de sua formação acadêmica, tanto na Universidade Federal de Ouro Preto quanto na Universidade Federal de Minas Gerais e Aarhus University? Existe alguma experiência em particular que você considera marcante?
WJR – Durante toda a minha formação acadêmica, tive vários momentos significativos. Na minha jornada na UFOP, o momento mais marcante foi a minha formatura. Consegui reunir toda a minha família. Minha primeira professora do jardim de infância compareceu à minha colação de grau. Tirei uma foto com ela e com a minha orientadora de graduação, que também é negra. Acredito que poucas pessoas na vida conseguem realizar algo desse nível. Essa foto mostra que a educação pode mudar a vida das pessoas, permitindo o acesso a lugares e experiências que elas jamais poderiam sonhar. Esse contraste entre o início da formação acadêmica e um momento de conquista foi muito marcante para mim.
Quando cheguei à Universidade de Aarhus, na Dinamarca, para fazer o doutorado sanduíche, conheci uma aluna africana do Lesoto no prédio onde estava hospedado. Ela também estava realizando intercâmbio pela universidade. Até aquele momento, eu não havia tido contato com pessoas negras na universidade, apenas com pessoas mestiças. Perguntei a ela sobre a África, pois temos a ideia de um país muito pobre onde as pessoas não têm oportunidades de acesso à educação. Também perguntei a ela sobre a questão racial na África, considerando ser um dos lugares com a maior concentração de pessoas negras no mundo. A resposta dela não foi diferente daquela esperada no Brasil. A maioria das pessoas é pobre e sem acesso a uma estrutura educacional adequada. Os poucos ricos do país geralmente são estrangeiros brancos. Isso mostra que as pessoas negras enfrentam dificuldades em todas as partes do mundo. No Brasil, essa realidade não é exceção, e precisamos mudá-la o mais rápido possível.
Na Universidade Federal de Minas Gerais, o momento mais marcante foi quando tive a oportunidade de conhecer um pesquisador negro de relevância internacional. Um professor de Química da Universidade de Viena, na Áustria, uma das universidades mais antigas do mundo, veio ministrar uma palestra a convite de um professor da UFMG. Durante a palestra, foram apresentados trabalhos de extrema relevância e alta qualidade, que me chamaram a atenção pela elegância e aplicabilidade em diferentes áreas de pesquisa. Ele reservou um tempo para conversar com alunos ou professores que tivessem ideias diferentes. Durante nossa conversa, compartilhei algumas ideias e pontos que me chamaram a atenção nos trabalhos apresentados. Ele considerou minhas ideias pertinentes ao assunto e apontou algumas questões que eu não havia observado (ele era muito mais experiente na pesquisa do que eu). No final da conversa, ele me disse: “Foi muito agradável conversar com um aluno interessado, principalmente sendo um jovem negro do seu país. Continue, você tem um futuro brilhante. Quem sabe podemos trabalhar juntos algum dia?” Esse incentivo foi de extrema relevância, pois se tratava de um pesquisador negro de uma universidade renomada mundialmente. Esse episódio ficou marcado em minha jornada acadêmica, e espero ter a chance de trabalhar com ele um dia e lembrar dessa experiência.
MN – Sendo uma pessoa negra, acredita que, mesmo com toda sua formação acadêmica, ainda enfrenta muitas barreiras para se estabelecer em sua área de atuação? Particularmente, quais são?
WJR – Como pessoa negra, enfrento inúmeras barreiras para me estabelecer em minha área de atuação, mesmo com toda a minha formação acadêmica. Não é comum encontrar professores negros, principalmente em níveis de graduação e pós-graduação no Brasil. Vejo poucas pessoas negras nos eventos que frequento, sejam eles nacionais ou internacionais. Esse fato já evidencia a dificuldade de ocupação desses espaços por pessoas negras. A falta de representatividade também pode levar ao questionamento da credibilidade desses profissionais. Inúmeras vezes tive que provar minha capacidade diante de alunos e colegas de trabalho. Infelizmente, ainda há um peso maior atribuído à competência e capacidade de liderança quando se trata de pessoas negras ocupando posições no mercado de trabalho e na sociedade em geral.
MN – A Úrsula entrou em contato conosco, enaltecendo bastante o seu currículo. Gostaria que falasse sobre a relação de vocês como irmãos e se sua família o incentivou em todo o seu processo de formação.
WJR – Minha relação com minha irmã Úrsula sempre foi a melhor possível. Sou o irmão mais velho e, desde que ela nasceu, minha mãe sempre enfatizou a importância da cumplicidade e proteção entre irmãos. Sempre tivemos uma relação muito próxima, sempre nos apoiando mutuamente para facilitar a vida um do outro. O incentivo da nossa família foi fundamental em todo o meu processo de formação. Sem o apoio deles, dificilmente eu teria chegado onde estou hoje. Cresci em uma família pobre da periferia, com seus problemas financeiros e sociais. No entanto, minha família sempre foi um exemplo para mim ao longo da minha formação. Minha mãe, por exemplo, é professora atualmente, mas antes era costureira e, após eu crescer, formou-se em História. Essa situação já foi por si só um exemplo de superação e vitória, considerando as dificuldades de conciliar família, trabalho e uma graduação. Além disso, meus tios e tias mais próximos possuem formação em cursos superiores nas áreas de engenharia e saúde, então eu tinha muitos exemplos próximos de sucesso acadêmico. Sempre fui incentivado a acreditar que a educação era a única forma de mudar de vida e que o conhecimento, uma vez adquirido, é uma ferramenta capaz de promover mudanças permanentes em todas as áreas da vida.
O Dia dos Namorados é uma data especial para celebrar o amor e a conexão entre casais. E nada melhor do que aproveitar esse momento para desfrutar de filmes românticos que representem a diversidade e o protagonismo negro. Pensando nisso, reunimos uma lista de filmes que trazem histórias de amor cativantes que vão aquecer os corações. Prepare a pipoca e aproveite essa seleção especial!
Um Crime Para Dois
Onde Assistir: Netflix
Em Um Crime para Dois, um casal (Issa Rae e Kumail Nanjiani) está passando por uma crise em seu relacionamento. Quando eles se veem de repente envolvidos em um misterioso assassinato, eles precisam tentar resolver o crime para limpar seus nomes enquanto tentam salvar a relação.
O amor de Sylvie
Onde assistir: Prime Video
Estrelado por Tessa Thompson, o filme conta a história de Sylvie, que vive um romance de verão com um saxofonista, em Nova York. Quando os dois se reencontram anos mais tarde, eles descobrem que os sentimentos que compartilharam no passado não diminuíram.
Rafiki
Onde assistir: Globoplay
Banido no Quênia e aclamado em Cannes, o filme conta a história das jovens quenianas Kena e Ziki, que são grandes amigas, apesar das suas famílias serem rivais políticas. Mas relação de amizade se transforma em um romance e afeta a rotina da comunidade conservadora em que vivem. Então elas precisam escolher viver este amor, desafiando as leis do Quênia, ou se distanciarem para manter a segurança.
No Auge da Fama
Onde assistir: Prime Video (aluguel)
Andre Allen (Chris Rock), um famoso comediante, busca um novo sucesso para reviver sua carreira após ser duramente criticado pelo New York Times. Enquanto sua noiva (Gabrielle Union) tenta impulsionar seu Reality Show, Andre secretamente deseja fazer um filme sobre a Revolução Haitiana. Ele concorda em permitir que o New York Times faça um perfil sobre sua vida, numa tentativa de mudar sua imagem. A jornalista (Rosario Dawson) é encarregada da tarefa e à medida que eles se aproximam, uma disputa entre os dois se desencadeia.
Really Love
Onde assistir: Netflix
Em ‘Really Love’, enquanto tenta furar a bolha do mundo dar artes em Washington, um jovem artista plástico conhece uma não menos brilhante advogada e começa com ela um relacionamento daqueles de marcar uma vida inteira.
Atlantique
Onde assistir: Netflix
Misturando drama, ficcção científica e romance, ‘Atlantique’ apresenta a história de amor entre Ada e Souleiman. Depois de receber um calote do empregador, um grupo de trabalhadores da construção civil ruma para o mar, em busca de uma vida melhor em outro país. As mulheres que eles deixam para trás em Dakar são tomadas por uma febre misteriosa. Ada, 17, sofre em segredo por seu amor, Souleiman, mas é prometida a outro homem. Na noite do seu casamento, ocorre um incêndio, e um jovem policial é enviado para investigar o crime. Mal sabe ele que os funcionários revoltados retornaram – mas como assombrações, espíritos possessivos. Muitos deles procuram vingança pelo trabalho não pago, mas Souleiman voltou com outro propósito: um último encontro com Ada.
A rapper Nicki Minaj anunciou neste domingo (11), através de suas redes sociais, o lançamento de sua nova música ‘Barbie World’, em parceria com Ice Spice. O single inédito chega ao público no dia 23 de junho como parte integrante da trilha sonora do aguardado filme ‘Barbie’.
Desde o início de sua carreira, Nicki incorporou elementos da icônica boneca em sua imagem, tornando-se uma verdadeira referência para seus fãs, que admiravam sua atitude única e autêntica. A peruca rosa se tornou um elemento estético marcante da rapper norte-americana. Em 2011, a Mattel, marca responsável por produzir as bonecas Barbie, chegou a lançar uma versão especial do brinquedo com referências à Nicki. “A Barbie é obviamente um ícone da cultura pop. Ela está no centro das atenções há mais de 50 anos e impressiona garotas de todas as idades em termos de representação da época. E Nicki é uma grande parte da cultura pop e também enorme na indústria da moda, assim como uma grande fã da nossa boneca”, disse Stefani Yocky, porta-voz da Barbie, à época do lançamento.
Ser cria da periferia e nascer uma pessoa preta nesse país não é para amadores, agora, imagina ser gay, preto e pobre! Imaginou? Estamos nas estatísticas da vulnerabilidade do racismo e da homofobia.
Quando falamos em crime de assassinato no Brasil, não podemos esquecer que são as pessoas pretas as mais acometidas nesse quesito, também, são os LGBTQIA+ que mais morrem pelo crime de homofobia. O que tem sido feito para nos proteger? Existe políticas públicas?
O racismo dentro da comunidade é uma realidade e precisamos falar sobre isso. Já me deparei com a seguinte frase em um aplicativo de relacionamento: “não saio com pessoas acima do peso e negros”, sim. Já vi isso. O nome dessa atitude é “racismo”.
Parada do Orgulho em São Paulo. Foto: Kevin David/A7 Press/Estadão
É importante que pessoa pretas ocupem papéis de destaque na Parada do Orgulho, seja pela música, ativismo ou pelas oportunidades e participações efetivas em cargos. Dialogar sobre essa pauta é fundamental para que possamos cuidar da saúde mental dos nossos. O que a Parada do Orgulho tem feito para essa população? Não dá para ser apenas um evento, tem que acolher e proteger.
Jovens negros e negras tem uma porcentagem muito maior em desenvolver depressão. Esse fator está relacionado a autoestima e a falta de oportunidades e exclusão. Existem dados estatísticos, eles evidenciam que entre pessoas queers a possibilidade de suicídio é muito mais frequente.
Tenho dito, cuidar, respeitar, e pensar na saúde mental das minorias é fundamental e urgente. A violência contra a comunidade LGBTQIA+ negra é absurda é isso tem que acabar. Nossa luta é pelos nossos.
Lançado nesta sexta-feira (9), The Age Of Pleasure é o quarto álbum de estúdio de Janelle Monáe, e o primeiro desde 2018 com Dirty Computer. De lá para cá, a artista que também é atriz se dedicou ao cinema, atuando em filmes como Harriet, Antebellum e Glass Onion.
Circulando entre o afrobeat, reggae e soul, o disco só peca em uma coisa: a curta duração de suas faixas. São quatorze músicas em 32 minutos, o que dá um gostinho de quero mais.
Porém se a quantidade é um problema, a qualidade não é. O disco conta com participações especiais de artistas como Doechii e Grace Jones, o que pode explicar um pouco sobre como a cantora consegue entregar tanta excelência em seus trabalhos: ela tem boas referências e está mais preocupada em produzir algo de qualidade com músicos talentosos do que se render à featurings que gerariam hits de gosto duvidoso.
Em ‘’The Age Of Pleasure’’, (A Idade do Prazer) Janelle trata da liberdade, sexo e amor de forma extremamente natural. O trabalho marca um certo distanciamento do R&B e afrofuturismo que marcaram toda a era Dirty Computer, mas honestamente? É isso que a gente espera quando um artista passa tanto tempo sem lançar algo, que ele não volte com mais do mesmo, músicas que pareçam descartes de trabalhos anteriores. Todavia, a identidade de Janelle não foi perdida durante o processo criativo- ainda tem a cara dela.
Entre a crítica especializada o retorno foi bem aceito, marcando 75 pontos no Metacritic baseado em 7 críticas até agora. Uma turnê de divulgação do álbum com 30 datas agendadas pelos EUA começa em agosto, e até o momento não sabemos se irá se estender a outros países, incluindo o Brasil (onde Janelle já se apresentou em 2011 no Palco Mundo do Rock In Rio)
Mas o que sabemos é que você pode ter o prazer de ouvir agora mesmo ‘’The Age Of Pleasure’’ em sua plataforma digital favorita.
Com clima de amor leve e energia de encontros e desencontros de São Paulo, “Um ano Inesquecível – Outono”, dirigido por Lázaro Ramos, se torna aquele filme que precisamos quando queremos apenas aproveitar o momento.
O segundo filme da quadrilogia da Prime Video, Outono traz a história de Anna Júlia. Uma estudante do primeiro ano de direito que conseguiu uma oportunidade única de talvez ser contratada como estagiária em um dos melhores escritórios de São Paulo. Atualmente ela vive com seu pai, um cara muito otimista e orgulhoso da filha que tem. Já sua mãe Patti, interpretada pela Iza em seu primeiro filme, “largou” a família para seguir seu caminho como cantora. Por causa da sua mãe, Anna Júlia odeia música.
Já o nosso galã, João Paulo, é um músico de rua que está tentando viver do seu sonho e busca uma oportunidade de ser reconhecido. Em um desses encontros ao acaso na Avenida Paulista, os dois se esbarram e o músico se apaixona logo de cara, enquanto ela está focada em seu trabalho.
Neste ponto já dá para perceber que nosso par romântico vive aquele amor “yin & yang”, ou “A Dama e o Vagabundo”. Além de terem vidas diferentes, os dois possuem pensamentos diferentes, ainda mais quando o assunto é música.
Falando em música, o longa-metragem acerta na medida de cenas musicais e não incomoda aqueles que não são muito fãs desse estilo de filme. Aliás, ser um filme musical em uma história onde a protagonista não gosta de música é uma combinação certeira – para quem não gosta de música ela até canta bastante.
Diferente do primeiro filme do Lázaro Ramos, “Medida Provisória”, que traz o embate sobre racismo e um clima mais “hostil”. Em “Um ano Inesquecível – Outono” ele nova, com cenas mais animadas, com um clima mais “harmonioso”, onde o foco não é o racismo, mas sim a vida “normal” de um jovem negro que vive em São Paulo e se apaixona.
O roteiro também não tem nada de inovador, não há muita coisa diferente desse estilo de filme para esperar, mas isso não é necessariamente algo ruim. Dá para entender que a proposta do filme é ser algo leve, que possa ser assistido sem precisar de uma analise profunda, só que isso também não quer dizer que não aborde questões da vida cotidiana de um jovem negro, fazendo isso de forma sutil.
Os conflitos internos, e também externos, da vida da Anna Júlia fazem com que você queira acompanhar mais cada desdobramento, seja no seu relacionamento com João Paulo, com sua mãe, no trabalho ou na faculdade, que acaba ficando apagada por causa do tempo de duração do filme. O filme facilmente poderia ser uma série.
Já seu relacionamento com seu pai, talvez um dos personagens mais legais em cena, é leve e bonito do início ao fim. É bonito ver um pai preto sendo retratado em cena como um homem bom (até demais as vezes), que cuida muito bem da filha e faz com que ela entenda que o mundo corporativo e as mágoas do passado não podem dominar sua vida.
Iza também reforçou que seu talento ultrapassa sua voz. Ela que além de cantora é apresentadora e possui experiências como garota propaganda demonstrou que em poucas cenas que tem capacidade de trabalhar em outros projetos cinematográficos.
Caso esteja procurando algo leve, um romance de fim de tarde para passar o tempo e que possa se identificar não vai se arrepender da escolha. “Um ano Inesquecível – Outono” consegue abordar de forma tranquila negros acima de seus sofrimentos e recebendo o afeto que merecem.