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Zoe Saldana foi uma escolha ruim para interpretar Nina Simone

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Artigo originalmente publicado em Awesomely Luvvie e traduzido por Durval Arantes

Quando eu ouvi pela primeira vez que Zoe Saldana interpretaria Nina Simone em uma biografia não-autorizada, eu não fiquei satisfeita.  Não faz NENHUM sentido para mim que entre tantas atrizes negras de Hollywood, a Zoe se a escolhida para interpretar a Nina. Zoe é boa como atriz e eu admiro o trabalho dela, mas nada nela nem de longe lembra Nina Simone.  OK, eu sei que a indústria pode promover “a mágia do cinema” e blá, blá, blá… Mas existem outras atrizes que poderiam BOMBAR sobre este papel.

Simone Kelly, a filha de Nina, escreveu uma carta contundente se opondo ao filme e eu realmente refleti:  “Então… qual é o motivo?”.  Se a pessoa mais próxima à lenda não aprova a manobra, o que eles (da indústria cinematográfica) estão fazendo? Ah, sim.  Dinheiro. Somente dinheiro. Especialmente, uma vez que o filme não vai ter aquela precisão.  Simone, a filha, pôs a presunção do filme em vergonha.  Eles estão basicamente criando a história desta mulher sem se importarem até onde o script é preciso ou não.

NOTA:  Sigam @NinaSimoneMusic no Twitter.  Trata-se do perfil oficial do patrimônio de Nina Simone e é gerenciado por sua filha. Chequem a linha do tempo e vocês verão que ela não aprova esta produção.

Para piorar as coisas, eles selecionaram a Zoe “Eu Passei no Teste da Pele Negra Clara” Saldana para interpretar uma mulher que cresceu ouvindo dizer que ela era “escura demais” e basicamente “negra demais”. Fala sério! Hollywood fazendo asneira e essa é uma delas.

Eles encharcaram uma bola de algodão gigante em tinta preta e cuidadosamente a colocaram na cabeça da Zoe. É uma peruca AFRO! Eu me sinto ofendida, em nome de Nina Simone, cujo penteado afro sempre foi curto e bem ajeitado!

Eles usaram graxa de sapato no rosto dela? Eu compreendo que Zoe é Afro-Latina e tudo o mais, mas fica parecendo um pouco com “blackface”. Eles não precisariam fazer isso, se eles selecionassem uma atriz próxima do tom de pele de Nina, para interpretá-la. Eu falo de mulheres tipo Viola Davis. Dizem que a Nina na verdade queria a Whoopi Goldberg para vivê-la (nas telas), um dia.  Em que galáxia a Zoe é a Nina “ideal”?

E além delas, Adepero Oduye está LOGO ALI! Ela BOMBARIA como Nina Simone.  Se vocês não sabem quem é a Adepero, fiquem sabendo. Trata-se da mulher sensacional no filme “Pariah“, e ela é incrivelmente talentosa (e também muito gente boa e centrada).  Eu a encontrei quando eu fui para Los Angeles para o Oscar em Fevereiro e ela é maravilhosa. Ela seria perfeita como Nina. Elas até se parecem! Tipo… de verdade.  Vejam:

É sério. Adepero nasceu para interpretar Nina. Mas eles querem ignorá-la e selecionar a Zoe como se eles não tivessem outras opções.  VAMOS FALAR SÉRIO!!!

Talvez eu esteja implicando demais, mas trata-se de uma escolha ruim, na minha opinião. eu não vou dar apoio a este filme.  Não apenas pelo fato da óbvia decisão ruim de elenco com a Zoe, mas pelo fato de a própria filha da Nina Simone ser efusivamente contra o filme por muitos motivos (e eles são justificáveis).  Eles podem ficar com o filme

Então… o que você acha desta escolha de elenco? Você vai assistir o filme, quando ele for lançado?

Com música anti-semita e sarcasmo exagerado, Oscar 2016 surpreende em vários sentindos

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Por Betina Costa do Claquete 16

“Esse é o mais louco e selvagem Oscar para se apresentar”, disse Chris Rock no inicio de sua apresentação. De fato a 88º edição do Oscar foi cercada de muita controvérsia em relação a falta de diversidade e representatividade. Devido a falta de indicados negros pelo segundo ano consecutivo, várias celebridades como: Jada Pinkett Smith, Will Smith, Spike Lee e Lupita Nyong’o, decidiram boicotar a premiação.

A Apresentação de Chris Rock foi cheia de altos e baixos. Ele zombou do boicote ao Oscar:

“Eu tenho certeza que não existiam indicados negros em 1962 ou 1963, e os negros não protestavam, sabem por quê? Porque nós tinhamos coisas mais importantes para protestar naquela época. Estávamos muito ocupados sendo estuprados e linchados.”. Eu entendi que a intenção provavelmente foi chamar atenção a selvageria com que negros eram tratados há não muito tempo atráz, porém era realmente necessário diminuir e dizer que o protesto contra a falta de indicados negros é algo sem importância?

Algo semelhante se repete em relação ao #AskHerMore, campanha que incentiva chamar a atenção para reportagens sexistas e sugere formas de mudar o foco para as conquistas femininas (ao invés de simplesmente perguntar sobre a roupa, por exemplo). Nesse caso, ele faz pouco do movimento e sugere que só não perguntam para homens sobre sua roupa, pois eles estão usando sempre a mesma coisa, além de ter mencionado que “Nem tudo é racismo e nem tudo é sexismo”. Aqui, não houve nenhuma boa intenção.

Outro momento infeliz, foi quando ele chamou ao palco os auditores de prêmios da noite: “Como sempre os resultados dos prémios da Academia de hoje à noite foram tabulados pela Price Waterhouse Cooper”, disse Rock. “Eles nos enviaram seus representantes mais dedicados e esforçados . Eu quero que vocês recebam Ming Zu , Bai Ling, e David Moscowitz”. E nesse momento três crianças asiáticas entraram. Não pega bem, algumas horas depois de falar contra racismo, propagar um estereótipo que todos asiáticos são bons em matemática, especialmente quando não tem quase nenhum asiático concorrendo.

Por outro lado, ele também conseguiu chamar a atenção para pontos importantes, quando disse: “Se vocês querem indicados negros todos os anos no Oscar, tenham categorias como: Melhor amigo negro”. Isso foi uma ironia bem sutil, pois quase sempre nos filmes é esse o papel dos negros. Melhor amigo do protagonista branco. É esse tipo de papel disponível para negros em Hollywood, não é de se admirar que as categorias melhor ator/atriz coadjuvante tenham mais indicações e vitórias de negros do que as de melhor ator/atriz.

No seu segmento inicial, ele também mencionou a falta de oportunidade para negros: “Senhor Presidente, você vê todos esses compositores, produtores, atores… Eles não contratam negros”. Não é só culpa da academia a falta de indicados, é culpa também dos diretores, produtores, etc, que não chamam atores e atrizes negros para seus filmes. “Nós queremos oportunidades. Queremos que atores negros tenham as mesmas oportunidades que atores brancos. Não apenas uma vez, Leo consegue um ótimo papel todo ano. Todos vocês recebem ótimos papeis o tempo todo. E os atores Negros? E Jamie Foxx? Jamie Foxx é um dos melhores atores do mundo”. Completou Chris Rock.

Poderia ter sido melhor? Poderia. Certamente poderia ter sido mais engraçado em vários momentos, poderia não ter zombado de certas campanhas. Mas também poderia ter sido pior. Considerei o desempenho do Chris Rock mediano, com pontos positivos e negativos (talvez mais negativos do que positivos)

Dando continuidade a cerimonia, algo que chamou atenção (completamente não relacionado a Chris Rock), foi a forma como a maioria dos vencedores foram expulsos do palco ao som de “A Cavalgada das Valquírias” quando o seu discurso estava começando a ficar “um pouco longo”. Pra começar, é uma péssima ideia escolher a composição de um possível anti-semita, admirado por Hitler para tocar em qualquer momento do seu evento, quando se está sendo acusado de racismo.

Sem falar que é muito deselegante cortar alguém no meio de um discurso. A Diretora Sharmeen Obaid-Chinoy, que ganhou o premio de Melhor Documentário em Curta-Metragem por  A Girl in the River: The Price of Forgiveness, que estava falando sobre como sua obra pode impactar crimes de honra no Paquistão, mal conseguiu terminar seu discurso. Nem Alejandro Iñárritu, que ganhou o prêmio por melhor Direção foi poupado. A diferença foi que ele ignorou a música e continuou seu discurso até que desistissem e deixassem ele terminar.

 

Quanto aos vencedores, Mad Max levou para casa seis merecidíssimos Oscars (o que foi maravilhoso), porém acho que George Miller merecia ter levado o prêmio por melhor direção, pois seu trabalho em Mad Max foi impecável, gerando sem dúvida nenhuma um dos melhores filmes de 2015. Nada contra Iñarritu, pelo contrário, o trabalho dele em “O Regresso” foi muito competente.

 

Houve também algumas surpresas, como a vitória de Mark Rylance na categoria melhor ator coadjuvante. Ambos criticos e cinéfilos estavam apostando em Sylvester Stallone (confesso que também adoraria ver o Stallone ganhar um Oscar), mas não foi nenhum crime. Rylance estava impecável em Ponte dos Espiões. Contudo, creio que as vitórias que pegaram todo mundo de surpresa, foram Spotlight como Melhor Filme e “Writing’s On The Wall” em Melhor Canção Original.

 

A vítória de “Writing’s On The Wall” foi um crime. Apesar de Sam Smith ser um fofo e ter dedicado o prêmio a comunidade LGBT, a música é HORROROSA! Não sei como foi indicada, muito menos como ganhou! E pensar que ela venceu de “Til It Happens To You” depois da maravilhosa e emocionante apresentação da Lady Gaga, só piora as coisas. Não gosto nem de lembrar disso.

 

Já Spotlight como melhor filme foi muito inesperado. A última vez que um filme ganhou nessa categoria, tendo ganho apenas mais um Oscar foi em 1952. Eu particularmente não gostei de Spotlight, por mim não teria ganho nem Melhor Roteiro Original (votaria em Ex-Machina um milhão de vezes). Eu estava torcendo para Mad Max, embora soubesse que as chances dele ganhar fossem as mesmas do Matt Damon, ou seja, zero. Eu estava psicológicamente preparada para ver O Regresso ganhar, a vitória de Spotlight realmente foi uma surpresa, porém a felicidade do Mark Ruffalo me deixou menos inconsolável.

 

E por último, mas não menos importante, tivemos o Oscar para DiCaprio. Confesso que quando Sylvester Stallone eu fiquei com muito medo pelo Leo, era só o que faltava. Mas no fim, tirando melhor canção original (sim, eu fiquei muito transtornada com isso) e talvez Melhor Direção, foi uma premiação justa com os indicados. Lamento apenas, o fim dos memes do Leo.
Fonte: http://www.slashfilm.com/2016-oscars-asian/

Entreviste um Negro: por um jornalismo plural e inclusivo

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*O projeto Entreviste um negro é uma parceria entre a jornalista Helaine Martins, criadora do projeto e o site Mundo Negro que apoia projetos criativos de inclusão racial)

Dizem que o menino jornalismo está agonizando, respirando por aparelhos, quase morto.

É inegável que ele já teve dias melhores. Mas, nós, do Entreviste um Negro, não acreditamos em últimos suspiros. Acreditamos em mudanças – de modelos de negócios, de habilidades, de interesses.

Acreditamos que o pleno exercício da democracia, e por consequência a superação dos problemas raciais, perpassa estratégica e fundamentalmente pela prática de um jornalismo transformador. De pessoas e realidades. E para isso o jornalismo precisa, antes de tudo, ser menos concentrado, mais plural e inclusivo. Por dentro e por fora. Do contrário, ele se torna arma de intolerância.

Em um país com 53% da população autodeclarada parda e negra, é de se espantar que apenas 23% dos jornalistas brasileiros sejam negros. Segundo a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), essa é uma das profissões com a menor proporção de negros no país. E se a pluralidade não começa dentro do processo jornalístico não há como encontrá-la no produto final.

Até entre as fontes jornalísticas, ou seja, personagens e profissionais qualificados para entrevistas – como psicólogos, antropólogas, médicas ou engenheiros, por exemplo – o negro também é minoria e aparece quase sempre em papel secundário, mesmo quando questões raciais estão em pauta. Essa ausência de fala torna o debate – seja sobre economia, política, esporte ou cultura – inconsistente e tendencioso. Por vezes, desonesto.

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O resultado dessa estrutura excludente é a difusão de um discurso fortemente racista e naturalizado na imprensa; a invisibilidade do negro; o desinteresse por pautas que contemplem suas causas e ações; o reforço de estereótipos dos quais se tenta tanto fugir; e a publicação recorrente de equívocos grosseiros, demonstrando total desconhecimento da temática étnico racial dentro das redações.

Inspirada pela proposta do Entreviste uma Mulher, da Think Olga, a jornalista Helaine Martins criou este projeto, o Entreviste um Negro, um banco de fontes colaborativo que busca aproximar mulheres e homens negros, especialistas nas mais diversas áreas ou que têm experiências para contar, a jornalistas e produtores de conteúdo que procuram fontes especializadas, seja para pautas com recorte étnico racial ou não.

Nosso objetivo é ser uma ferramenta na luta por um jornalismo mais plural e que busque um equilíbrio em seus pontos de vista. Um jornalismo que reconheça seu compromisso de ser uma plataforma que nos dê voz, não mais dentro dos padrões racistas e estereotipados que há anos ocupamos involuntariamente, mas como fontes jornalísticas, protagonizando nossas histórias e lutas, compartilhando ideias e opiniões.

Que o Entreviste Um Negro seja um passo nesse sentido.

Como participar

O funcionamento é básico. Se você é jornalista, é só acessar o banco de fontes e procurar pelo profissional que melhor se encaixa na sua pauta a partir das palavras-chaves e entrar em contato diretamente com ele. http://bit.ly/1PPkcAt

Se você quer ser fonte ou indicar uma, é só mandar para e-mail entrevisteumnegro@gmail.com o nome, uma mini biografia, as áreas de expertise (os assuntos que você pode abordar numa entrevista em formato de palavra-chave), contato (site, portfólio, telefone e/ou e-mail), e cidade onde a entrevista será realizada, caso seja feita pessoalmente. Ou, ainda, se cadastrar pela fanpage https://www.facebook.com/entrevisteumnegro

Mês da Mulher – Cantoras negras que amamos

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Março mês da mulher.O site Mundo Negro selecionou cantoras negras brasileiras que venceram com o seu talento e beleza.  Qual a sua preferida?

Paula Lima

Bendito seja o dia em que Paula Lima trocou o Direito pela música. Seu tom de voz feminino e potente, já lhe rendeu indicações ao Grammy Latino. Ultimamente a a artista tem exibido um corpo mais magro nas redes sociais e ao 45 anos, está cada dia mais linda.

Karol Conka

Uma poetiza que virou rapper e tem um visual de fazer Nick Minaj ficar com a pulga atrás da orelha. Seu som tem letras consistentes e de impacto e as batidas são definidas por ela mesma  como “batuk freak”, nome também dado ao seu álbum de estreia que teve uma ótimas críticas dentro e fora do Brasil.

Ludmila

Ex “MC Beyonce”, Ludmila com apenas 20 antes mostra atitude e segurança de uma mulher madura. Ela dança, canta muito bem e veio para ficar. Seus clipes são modernos, com muita dança mostrando que ela aprendeu “certin” o caminho para o sucesso.

Negra Li
Ela não é uma cantora negra de RAP. Sua voz é sem sombra de dúvida uma das melhores da MPB atual. Solista do Coral da USP, com passagens pelo grupo de RAP RZO, Negra Li  já fez diversas colaborações em trabalhos de outros artistas e tem mostrado que sua  beleza tem crescido proporcionalmente ao seu talento.

Ellen Oléria

A voz do Brasil em 2012, depois de vencer o The Voice, Ellen Olléria é quase nossa Jill Scott. Sua voz tem um potência com doçura e sua presença no palco iria te deixar sem pescar. Linda por dentro e por fora, ele espalha amor pelo música brasileira e sua negritude por onde canta.

 Gabi Amarantos

Exuberância é a palavra para descrever essa locomotiva chamada Gaby Amarantos. A “Beyonce do Pará” faz 37 anos no próximo dia 1º de agosto e agora também esbanja talento como apresentadora no programa Troca de Estilos, as terças-feiras no canal Discovery Home & Health.

 Elza Soares

Da favela para mundo. Elza Soarez já passou fome, mas hoje tem seu trabalho reconhecido até pelo NY Times, além de outros veículos da imprensa internacional. Não tem ninguém na MPB que usa a rouquidão da voz como ela. E esse corpinho dela com quase 80 anos?

Sandra de Sá

Vamos combinar que ela tem um dos sorrisos mais lindos da MPB? Sandra de Sá foi uma das primeiras a cantar funk no Brasil, sendo quase um Tim Maia de saia. Foi indicada ao Grammy Latino tendo também se arriscado na telinha. Ela foi a mãe da Negra Li no seriado “Antônia”, da TV Globo.

https://www.youtube.com/watch?v=Er0O1xke12w

Margarete Menezes

Vamos combinar que quem deveria cantar “a cor dessa cidade sou eu”, era ela. Ela já foi indicada para o Gramy Awards e Gramy Latino. A cantora baiana soma 21 turnês mundiais, e é considerada pelo jornal estadunidense Los Angeles Times, a “Aretha Franklin brasileira

Alcione

Deixamos o melhor para o final. 9 entre 10 brasileiros escutam Alcione quando estão de fossa. Sua voz indefectível dá vida a belos poemas que falam de amor. Além de cantar como poucas – no mundo – Alcione ainda toca trompete e clarinete e morou na Europa por 2 anos. O grande mistério sobre a vida dela, não é o motivo pelo qual ela nunca se casou, mas sim porque ela foi tão pouco premiada em sua carreira.

https://www.youtube.com/watch?v=t2gndoZtIS4

Gostou da lista? Faltou alguém. Quem é sua musa negra da MPB?

Chris Rock e quem ri por último: o oprimido nunca deve ser o objeto da piada

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Sim. Chris Rock em seu monólogo de abertura da 88ª edição do Oscar, que aconteceu ontem em Los Angeles (EUA), falou sobre questões importantes como o racismo na indústria do cinema,  a falta de oportunidades para negros e a violência policial. Assim como Lady Gaga foi aplaudida de pé ao levar a questão sobre assédio sexual ao palco da premiação, DiCarpio falou da questão ambiental durante o discurso do tão esperado do merecido Oscar de melhor ator e Sam Smith, sereno, mas engajado dedicou seu Oscar de canção original à comunidade LGBT.

A visibilidade do evento americano estimula muitos artistas a usarem o palco como plataforma para aumentar o alcance de questões sócio-políticas importantes. Faz parte da democracia, é honrável, mas não é novidade.

No entanto, ontem à noite, a questão racial se fez presente majoritariamente em forma de piada. E ao contrário da maioria dos artigos escritos no Brasil não foram só os brancos que ficaram desconcertados. Foram três horas de piadas e indiretas sobre racismo, sem descanso.

Há quem dirá que não sou inteligente para não entender as ironias e genialidade de Rock, o que até pode ser verdade, mas mesmo assim eu indico assistir uns dos documentários mais certeiros sobre a questão da comédia e o politicamente correto: O Riso dos Outros. Salvando seu tempo, o documentário de  Pedro Arantes  que inclui depoimentos de Laerte e Jean Wyllys diz: o oprimido nunca deve ser o objeto de piada.

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Rock  mostra que os negros não assistiram muitos dos filmes indicados. Muito engraçado!

Não tem como discordar disso. Lady Gaga jamais faria uma piada sobre uma menina estuprada, Cate Blanchett jamais faria chacota sobre o salário das atrizes, mas Chris Rock fez sobre negros pendurados em árvores e sobre o desemprego dos seus pares. Também disse que falar sobre racismo é coisa de quem está desocupado, visto que em tempos mais difíceis, no auge dos conflitos pelos direitos civis dos negros, ninguém reclamava da ausência de afro-americanos no Oscar.

Violência contra negros inspira piada de Chris Rock. “Estávamos muitos ocupados nessa época”

Rock, criador do precioso documentário Good Hair, nomeou e ridicularizou quem boicotou o prêmio. Fez a plateia rir fazendo piadas de quem, como Martin Luther King, usou o boicote para alertar sobre o racismo. Ele gerou desconforto entre os negros também, em vários momentos. “É o Chris Rock sendo Chris Rock”, alguns dirão, dedução errônea já que umas das suas mais fortes características como comediante é a originalidade. E ele foi previsível. A queda da audiência do evento vem para confirmar.

Já o discurso de Cheryl Boone Isaacs, presidente da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, que obviamente não usou do tom jocoso e ironia, para criticar a ausência da diversidade, recebeu mornos aplausos.

Cheryl Boone Isaacs, presidente da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas. (Foto: Google Images)

Nas redes sociais há muitos afro-americanos o apontando como o novo  Pai Tomás, o que é pouco exagerado, levando-se em conta o próprio conteúdo da sua carreira, mas numa noite de tão delicada para os atores negros dos EUA, Chris Rock foi o cara que quis agradar os dois lados, para como ele mesmo disse, não perder o job para um cara branco. É tipo o amigo da firma que ridiculariza as vítimas do chefe assediador, para ser lembrado na hora do aumento do salário.Qual a genialidade disso?

Piada mesmo foi ver que em pleno Mês da História Negra, quase em todas categorias, tinham negros entregando prêmios para brancos, como se colocar afro-americano lendo teleprompter fosse realmente botar panos quentes na polêmica. É claro, que o #oscarsowhite não tinha como objetivo salvar vidas, mas a representatividade negra traz esperança aos negros que acreditam no sonho americano e faz a vida dos sobreviventes mais significativa por meio da arte.

Fotos: Google Images e Instagram.

São Paulo recebe primeiro Food Truck Afro

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O circuito gastronômico de São Paulo receberá o primeiro food truck com cardápio desenvolvido a partir da culinária afro. Com opções diversificadas e preços acessíveis, o PRETA TRUCKER surge de forma pioneira para oferecer uma experiência construída por meio do diálogo entre a gastronomia africana e a afro-brasileira. O truck também oferece ambientação e atendimento que celebram os valores civilizatórios afro-brasileiros, como a ancestralidade, ludicidade, memória e religiosidade.

A novidade é uma parceira entre Adriana Barbosa, idealizadora da Feira Preta, o maior festival de cultura negra e afroempreendedorismo da América Latina, e o chef Roberto Felicio. “Além de oferecerem comidinhas gostosas, os food trucks representam uma nova maneira de ocupar a cidade, de devolver as ruas às pessoas. Neste contexto, percebemos que faltava uma iniciativa inspirada na culinária de matriz africana, gerida por afrodescendentes, o que é importante”, explica Adriana.

No país mais negro fora do continente africano, o Preta Trucker preenche um espaço ainda pouco explorado mesmo por restaurante tradicionais com o intercâmbio Brasil-África, com cardápio oferecendo uma fusão da comida brasileira com comidas da Etiópia e África do Sul, por exemplo. Muitas das receitas fazem parte do livro Gula D’África | O Sabor fricano Na Mesa Do Brasileiro, organizado por Flávia Portella.

“Uma ideia como essa traz para a cidade de São Paulo não só uma comida típica, mas uma experiência que vai revelar o quanto da comida africana já consumimos sem saber a origem, a exemplo da banana da terra, mandioca, azeite de dendê, entre outros. Representará ao mesmo tempo uma novidade e um resgate” , explica o chef Roberto Felício ao ressaltar que um cardápio de bebidas típicas também será oferecido.

Confira alguns pratos:

Feira Trucker

Hamburger Senegal: um blend de carnes vermelhas, acompanhado de molho africano e especiarias.
Djinjan África é o nome do suco concentrado de gengibre com frutas cítricas que é distribuído em festas tradicionais da Guiné e oeste africano.

Espetinho Bafana Bafana: tradicional na África do Sul, feito com damasco e tempero africano, acompanhado por arroz de açafrão e farofa.

Panqueca Etiópia: Uma panqueca parecida com pão, acompanhada de vários tipos de guisado: de frango, lentilhas e ratatouille de berinjela. É a “Injera”, diretamente da Etiópia.
Depois do lançamento, o food truck segue para demais eventos gastronômicos na grande São Paulo. O Preta Trucker é uma evolução do Degust’Afro, projeto idealizado por Adriana e pelo multi-artista negro e chef Paqüera, em 2013, durante o Feira Preta Week. Na ocasião, eles levaram ao Centro Cultural Rio Verde, na Vila Madalena, iguarias da culinária afro-brasileira.
Serviço
Lançamento do Preta Trucker na Feira Gastrônomica de Moema
Rua Gaivota, 1423 Moema. Das 12h às 18h.
Confira novidades sobre esse e os próximos eventos na página do Preta Trucker no Facebook. 

Enegrecendo o YouTube: fazendo o que a TV nunca fez

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A televisão está perdendo cada vez mais espaço para Internet e para nós negros isso pode ser uma grande oportunidade de reverter a ausência da diversidade em veículos de comunicação que ainda persiste em pleno século XXI. Vivemos num pais negro, e apesar dos desinformados de plantão insistirem, não somos a minoria. A mídia nacional – e tradicional – está concentrada nas mãos (alvas) de pessoas que construíram a imagem do Brasil como o que eles gostariam que fossem, se inspirando em países de maioria branca, por racismo ou complexo de inferioridade ou os dois. Com 65 anos, a TV brasileira ainda não reflete a sua população e seus maiores consumidores.

Globo ironizando as críticas à sua programação excessivamente branca

A preguiça intelectual e limitação cultural (daqueles grupo que acha que somos minorias), não vê o enegrecimento da mídia, como bonito. Associa a negritude à pobreza, violência e hipersexualidade. Ninguém melhor que os próprios negros para reconstruir a representatividade negra e mostrar os talentos que o racismo impediu de florear. E a Internet é o caminho.

Com custo relativamente baixo, dependendo do tipo de produção, mas munido de criatividade e dedicação, qualquer um pode usar sua câmera do celular e criar um canal no YouTube, plataforma que permite o compartilhamento de vídeos, gratuitamente.

O Mundo Negro recentemente publicou um texto sobre as vlogueiras negras, que são as meninas que usam o YouTube para compartilhar seus conhecimentos sobre beleza negra. Assunto que merece destaque vez ou outra na TV, mas que interessa a pelo menos 51% da população. O canal de vlogger PH Côrtes que fala sobre história negra de uma forma muito original virou notícia em dezenas de veículos de comunicação no Brasil. Há demanda.

Apresentadores, jornalistas, mãe, crianças, comediantes, atrizes, produtores, historiadores e músicos negros. Timidamente, mas de forma crescente, pessoas negras estão fazendo sua própria revolução por meio do maior site de vídeos do planeta.

Qualidade técnica, conteúdo nerd e criatividade da periferia

Apesar da maior parte dos produtores de conteúdo do YouTube, não somente os negros, mas em geral, sofrerem com limitações técnicas, que resultam em problemas de iluminação e som, a gente pode encontrar vídeos dignos de horário nobre na TV, como é o caso do canal recém lançado Bola 8oito.

“Lazaro Gianecchini e Tais Dieckmann, estão fazendo um trabalho até que bonito para sua raça”. Essa é a fala de Paulo Lumumba, celebridade fictícia representada pelo ator Eduardo Silva no vídeo “O que não vi da Vida”, uma versão sarcástica e de forte crítica racial com o formato visual semelhante ao quadro do Fantástico “O que vi da vida” . Esse é o primeiro trabalho do canal.

”A exigência é em primeiro lugar é pela qualidade audiovisual. A referência de ficção em YouTube hoje é Porta dos fundos. É ali que devemos nortear nossa qualidade. A ideia de compor a equipe de cada vídeo com profissionais negros da área audiovisual é mostrar que estamos aí e temos outras competências além de carregar a van”, explica Newman Costa, 30, Diretor Audiovisual de São Paulo e responsável pela direção e fotografia do canal. O roteiro do primeiro filme é de Rogerio Ba-Senga, a produção de Issis Valenzuela. Thiago Domingos é responsável pelo som e edição e arte é de Sil Elis .

Para Costa o corpo negro não é ”senso comum” e até o YouTube acaba sendo um dos desafios para produtores negros. “. É aquele racismo que já impregnou no DNA por conta da defasagem de referências de negros sendo representados como pessoas normais ”, explica o diretor, em relação as dificuldades em emplacar projetos protagonizados para afro-brasileiros na plataforma.

“Esse universo da cultura pop ou nerd como alguns chamam, é pouco acolhedor as minorias. Há poucos negros, poucas mulheres falando sobre o assunto. Eu, por exemplo, não conheço nenhum YouTuber negro que fale sobre cinema, quadrinhos e games”, alerta Betina Costa, 22, estagiária em TI em Porto Alegre (RS) e apresentadora do canal Claquete 16, que fala sobre filmes, seriados e cultura pop. O canal está no ar desde de 2013, feito inicialmente em parceria com um amigo. Depois de uma pausa, ela retomou o canal sozinha no final do ano passado.

Betina posta novos vídeos toda a primeira terça-feira do mês. O longo intervalo entre as publicações, vale a pena, pois todos os vídeos mostram a pesquisa tanto de texto como de imagens da jovem gaúcha que tenta conciliar o trabalho do canal com outras atividades.

“Normalmente eu escolho um tema e pesquiso sobre ele, às vezes é algo “aleatório” como o vídeo sobre traduções e em outras um tema muito falado no momento, como por exemplo, o Oscar. Depois eu faço um roteiro combinando o conteúdo com um pouco de humor, gravo (com a ajuda de um amigo para facilitar, quando possível), realizo a edição e público no Canal”, relata Betina sobre o processo de produção.

O Esquenta da Globo pode se proclamar o programa das periferias, mas quem faz vídeos divertidos e gravados direto da laje é Valtinho Rege, do canal Energia Positiva. O nome do canal mostra como o jovem paulistano superou as agressões sofridas por ser negro, gay e pobre (ele relata em um dos vídeos que perdeu os dentes de leite, aos seis anos, apanhando de colegas que o achavam muito afeminado) em vídeos divertidos e muito bem editados. O espaço além de ser usado pelo vlogger para emitir sua opinião sobre diversos assuntos, ainda inclui entrevistas com artistas e pessoas da comunidade. No vídeo abaixo ele viajou para o Rio de Janeiro para mostrar como o funk contribui para a autoestima dos moradores das favelas no RJ.

Prestigie as produções negras no YouTube:

Bola Oito
YouTube:https://www.youtube.com/channel/UCPL7SRcgQNXFWUrHdEMKvug
Facebook:https://www.facebook.com/bola8ito/?

Claquete 16
YouTube: http://www.youtube.com/user/Claquete16
Facebook: https://www.facebook.com/Claquete16

Energia Positiva:
YouTube:http://youtube.com/energiapositiva2015
Facebook:https://www.facebook.com/canalenergiapositiva/

O Mundo Negro quer ajudar a divulgar o talento de produtores de conteúdo no YouTube. Mande informações sobre seu canal pelo e-mail: sitemundonegro@gmail.com com o assunto “Negros no YouTube”.

Mãos negras sofrem ataques racistas no Instagram da Risqué

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Alguns dias depois da repercussão dos ataques racistas contra uma modelo negra no Instagram da marca de maquiagem MAC, mulheres brasileiras também mostraram sua face preconceituosa na mesma rede social.

Em um misto de racismo explicito e disfarçado de opinião, seguidoras da marca de esmalte Risqué, destilam comentários como “A mão parece que tá (sic) suja de carvão”, “Tá horrível” “Que horror”, em fotos de mulheres negras que participam da campanha com a hashtag #RisquédaSemana, onde a marca publica no seu perfil,  fotos das suas consumidoras usando produtos da empresa.

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Além de serem menores, as críticas em relação à pintura e acabamento das mãos brancas, são construtivas e brandas.

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No meio dos comentários ofensivos a Risqué emitiu sua opinião dizendo que defende que todas as mulheres podem e devem usar a cor que quiserem nas unhas.  “Somos uma marca democrática desde sempre, valorizamos o poder das cores na vida e não compactuamos com qualquer tipo de manifestação preconceituosa” disse a marca no Instagram.

Para algumas seguidoras negras da marca, esse comentário não foi suficiente e algumas sugerem até o boicote à empresa que afirma, via sua assessoria de imprensa, que os comentários racistas foram denunciados. “Nós denunciamos o comentário no Instagram e ele sumiu horas depois de ser postado”, detalha a assessoria de imprensa da Risqué, sobre uma das fotos atacadas.

Cadê as mãos negras?

Não precisa navegar muito no Instagram da Risqué para constatar que a diversidade étnica brasileira não aparece no seu perfil. “Atualmente não recebemos muitas imagens de mãos negras. Já no conteúdo desenvolvido por Risqué, a marca sempre preza pela diversidade”, justifica a assessora de imprensa.

Colorama e Impala são outras marcas populares de esmaltes que não mostram mãos negras em seu Instagram.

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O escurecimento dos dedos próximos a região da cutícula ( aquele vemos até nos recém-nascidos negros) foi alvo de muitas críticas das “experts” em unhas da Internet. Essas mesmas “especialistas” de redes sociais, são as que acham que cabelo crespo tem um aspecto desarrumado e batom vermelho não combina com lábios grossos.

A agressão à estética negra pode ser caracterizada juridicamente como injuria racial. Ninguém é obrigado a achar as mãos negras as mais lindas, mas quem se julga um entendedor de beleza, porém ignora as especificidades étnicas de das mulheres não-brancas, acaba expondo sua ignorância, preconceito e cafonice.

A História africana pode resgatar a autoestima dos afrodescendentes

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Em psicologia, autoestima é definida como a característica de uma pessoa que valoriza a si mesma, dando-lhe a possibilidade de agir, pensar e exprimir opiniões de maneira confiante. Autoestima também pressupõe uma avaliação objetiva e subjetiva que uma pessoa faz de si mesma como sendo intrinsecamente positiva ou negativa em algum grau. Ou ainda, a autoestima envolve tanto crenças quanto emoções autoassociativas.

Foto: Coletivo Expressão
Foto: Coletivo Expressão

Trata-se, portanto, de uma emoção ou de um sentimento que reflete a apreciação que uma pessoa faz de si mesma em relação à sua autoconfiança e seu autorrespeito. Através dessas percepções, podemos enfrentar desafios diversos e defender nossos interesses ante as mais variadas instâncias de nossas vidas. A autoestima é formada ainda na infância, utilizando o tratamento que se dá à uma criança como peça chave, ou seja, se uma determinada criança for sempre oprimida em relação às suas atitudes, muito provavelmente esta criança desenvolverá a “baixa autoestima” como um entendimento de si mesma. Por outro lado, se uma criança for sempre apoiada em relação à suas atitudes, dentro de parâmetros justos e edificantes de avaliação, também muito provavelmente terá a sua autoestima elevada em seu processo de amadurecimento pessoal.

Reflexão: Qual a importância da autoestima nas estratégias e tratativas da comunidade afro-brasileira na legitimidade de suas demandas históricas de cidadania de primeira classe?

De um histórico, onde toda a grandiosidade das tradições e estruturas Africanas foi dizimada e violentada pela colonização euro-cristã (período este massacrante e eficaz no sentido de oprimir e desvirtuar toda a essência e autoavaliação que outrora os povos da Diáspora Africana anteriormente faziam de si), o sentimento de autoestima para os afrodescendentes, notadamente os sequestrados para o Novo Continente, transformou-se profundamente, a partir do flagelo do comércio escravocrata, não obstante às muitas e honrosas páginas de resistência, ao longo do tempo.

Tornou-se, pois, em um paradigma quase que épico, na medida em que a dinâmica de vida dos Africanos e de seus descendentes na terra nova passou a “obedecer” a um modelo (ou padrão) opressivo em todos os seus aspectos e o qual viria a servir de parâmetro ou exemplo a ser seguido nesta ou naquela situação, fosse qual fosse a relação entre opressor e oprimido. As vidas dos pretos e pretas passaram a ser regidas por “normas orientadoras” de um grupo hegemônico que estabeleceu limites, a partir de preceitos, teses e doutrinas falaciosas e tendenciosas , que determinariam como um indivíduo de descendência Africana deveria agir dentro desses limites.

E, dentro desses limites, as pessoas habitantes e oriundas dos navios tumbeiros, das senzalas, dos engenhos de açúcar, das plantações agrícolas, das minas de exploração mineral, das periferias, dos morros, das favelas, dos cortiços e das comunidades passaram a ser estigmatizadas pelas elites de forma depreciadora e pejorativa.

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Foto do projeto “Cansei” de Larissa Isis

Some-se a isso, especificamente no Brasil, a degradação humana e os baixíssimos índices de cidadania nos quais esses contingentes humanos certamente se inseriam, principalmente nos períodos pré e pós-abolicionistas: desconhecimento e distanciamento de sua própria História, abuso de gênero contra as mulheres, desemprego entre os homens, proibição de voto, baixa expectativa de vida, ociosidade, desamparo republicano, etc…

Sem dúvida, um ambiente histórico pouco propício para qualquer projeto de cultivo sistemático de um sentimento de orgulho e amor próprio, em um povo.

Não sem surpresa, portanto, muitos dos antepassados das gerações atuais de afro-brasileiros e afro-brasileiras introjetaram uma percepção enviesada sobre si, passando a rejeitar e subestimar a sua autoimagem e o que ela representava ante a sociedade da época.

E essa “visão equivocada de si” foi sendo passada de geração a geração, causando efeitos danosos e de longo alcance na formação e no legado psicossocial das pessoas de pele escura habitantes deste lado do oceano.

Isto posto, a autoestima das pessoas afrodescendentes precisa ser construída sobre os pilares da verdade Histórica de seu passado:

Os povos africanos são a primeira e a mais antiga etnia a caminhar sobre o planeta terra (TODAS as demais civilizações terrestres surgiram DEPOIS e A PARTIR dos contingentes humanos saídos da África), os povos Africanos inauguraram os conhecimentos de transformação de metais, estudaram e mapearam as estrelas, os ciclos da água; lançaram os fundamentos da Zoologia e da Botânica, através da observação sistemática da rica fauna verificada na imensidão do território Africano… desenvolveram técnicas de caça e pesca que são utilizadas até os dias de hoje, independentemente do uso de quaisquer tecnologias, fundaram reinos… formataram regras de linguagens e construíram pirâmides cujos níveis de sofisticação e complexidades são ainda um mistério até para o conhecimento científico contemporâneo… cobriram distâncias continentais e venceram obstáculos topogeográficos e climáticos inimagináveis… desbravaram e povoaram territórios outrora inóspitos… lançaram as bases para o aparecimento e a continuidade histórica das civilizações aborígenes, persas, gregas, romanas, ibéricas e do sudoeste asiático, todas tendo a África como ponto de origem!!!  

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Todo este patrimônio afro-antropológico, no entanto, foi suprimido e “desapropriado” pela dita historiografia eurocêntrica, que deslocou o eixo de entendimento do mundo para o foco de uma visão branca, capitalista e cristã. Somado a isto (ou até mesmo EM RAZÃO DISTO), acrescentem-se todas as influências filosóficas, econômicas, artísticas, acadêmicas, burocráticas e generalistas de conteúdos tendenciosos e protecionistas que visaram (e visam!) à manutenção de privilégios infundados que fundamentaram o controle dos feudos, da burguesia, das castas eclesiásticas, das forças militares, dos conglomerados e das ditaduras que cruzam o processo civilizatório do mundo, desde a Idade Média. E todos estes fatores citados, sem exceção, tornaram-se fatores de desfacelamento e prejuízo da autoestima dos povos representantes da Diáspora Africana.

O século 21 escancarou, via tecnologia virtual, o acesso e a massificação das diversas fontes de informação que oportunizam o contato dos afrodescendentes ao conhecimento real de fatos históricos. Acervo este que, antes da disseminação do mergulho à rede mundial de computadores, só estava disponível em círculos acadêmicos restritos e elitizados. De POSSE desta informação (como fator de revisão, retratação e reparação dos privilégios verificados), os movimentos representantes das demandas das populações afro-diaspóricas podem, também, fazer uso dos conteúdos resgatados via internet como plataformas de resgate e difusão da relevância histórica, social, filosófica, científica e sobretudo humanitária da África e dos seus filhos e filhas para o entendimento da existência da espécie humana sobre a face da Terra. Isso, seguramente, iniciaria um processo altruísta e revigorante no resgate da autoestima étnica de homens e mulheres de pele escura ao redor do planeta.

Após o holocausto que foi a intervenção e colonização europeia no continente Africano (cujos efeitos nefastos se fazem sentir até hoje na região), três indicadores históricos podem ser apontados como responsáveis pelos impactos corrosivos no senso de autoestima dos povos locais e de uma expressiva parte de seus descendentes ao redor do mundo, já a partir da dinâmica do ciclo escravocrata:

 

1) A arma de fogo: Instrumento que abatia um foco de resistência de forma imediata: rebelou-se, fuzilava-se e encerrava-se o embate. Aqui o efeito é instantâneo e opressor pela via rápida, inclusive para o amedrontamento de outros eventuais focos de resistências próximos e imediatos.

2) O açoite físico: Mecanismo que minava um foco de rebeldia ou de resistência de forma gradual e lenta. Indiscutivelmente abusivo (e exclusivamente do ponto de vista da mão no chicote), o açoite tinha um caráter “educador”. Durante a “Grande Travessia”, no desembarque em terra firme, nos leilões de venda, na quebra e violação de vínculos familiares, no estupro sistemático e bestialização das mulheres e crianças pretas, no trabalho assalariado e implacável, na Abolição (mais imposta do que conquistada), no abandono do Estado, na perseguição das forças policiais, desde a fundação da República… o abuso físico foi um fator de implosão e deterioramento do amor próprio dos povos afro-diaspóricos.

3) A conversão às religiões monoteístas: As populações afrodiaspóricas inseridas no contexto escravocrata foram forçadas ou seduzidas a abrirem mão de suas doutrinas teo-espirituais seculares, mormente reverenciadoras da flora e das forças da natureza, para abraçarem uma outra doutrina cuja liturgia e retórica são calcadas na reverência a um poder único, no pecado, na punição, na seletividade e na penitência. A conversão religiosa de pessoas afrodescendentes às doutrinas eurocêntricas tem um efeito fisicamente menos traumático do que a arma de fogo e o açoite, mas produz resultados cataclísmicos na auto-percepção de pessoas de descendência Africana, uma vez que este fenômeno se apropria da “alma” e do discurso dessas pessoas, com a vantagem adicional de este “efeito doutrinador” ser repassado de geração para geração de uma mesma família. Um domínio e controle que se estende pelo tempo, pelo espaço e em escala geométrica. Talvez não seja de toda absurda a lógica de se afirmar que, ao defender o seu direito intrínseco (sobretudo legítimo) de defender a fé monoteísta que prega e acredita, uma pessoa afrodescendente está paradoxalmente fazendo a defesa da autoestima de uma tradição sufocante, que tira a África do centro do entendimento do que é, como é, e do “porquê é” o mundo. Em todas estas 3 instâncias do fenômeno afrodiaspórico (arma de fogo, açoite e conversão doutrinária) a autoestima ORIGINAL de pessoas Africanas e de sua descendência foi meticulosamente pisoteada, subestimada, corrompida, oprimida e relativizada.

Agora, ainda às portas do século 21, é chegado o momento de as pessoas herdeiras das tradições Africanas seculares promoverem um resgate da grandeza e da “maravilhosidade” de sua importância como pessoas e, assim, promover o revigoramento de sua autoestima.

Temos, sim, que manter o foco nas mazelas, ameaças e desigualdades que assolam a nossa gente todos os dias e em todas as facetas da sociedade moderna.

Mas temos, também, que pegar a nossa própria História pelas mãos e fazer dela um motivo de orgulho, exaltação, auto-satisfação, glória e honra.

Essa História, a nossa, rica e que abraça todo o mundo, não se inicia com a chegada dos colonizadores na Europa.

Nós NÃO SOMOS descendentes de escravos. Somos descendentes de seres humanos Africanos que foram ludibriados, manipulados e sequestrados em suas terras.

Imagem: Google Images
Imagem: FlinkSampa – Google Images

A nossa autoestima já reside dentro de nós. Se estava adormecida, já passou da hora de acordá-la. E que seja cedo, logo de manhã. Ao levantarmos, que cada um e uma de nós que vá para a frente de um espelho. E que só saia de lá quando amar e respeitar a imagem refletida diante de si.

Nós, filhos e filhas da Diáspora Africana, viemos ao mundo com o direito de ter sonhos e sermos felizes.

Com todo o respeito às opiniões em contrário.

 

II Afro Gourmet oferece culinária africana aos cariocas

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O espaço afro Dida Bar e Restaurante recebe a Chef Dandara Batista no Evento Afro Gourmet que acontece no próximo sábado, dia 20, no Rio de Janeiro.

A jovem irá preparar pratos da culinária africana e afro-brasileira, em um jantar com música ao vivo. Haverá três opções de pratos para público. O Arroz de Hauçá (da Nigéria) é cozido com leite de coco, acompanhado de molho de camarão e carne seca refogada) A segunda opção, de origem moçambicana é a “Galinha piri piri”: (piri piri” significa pimenta no dialeto africano). São sobrecoxas de frango marinadas nesse molho feito com pimenta malagueta, páprica, suco de limão e leite de coco. Assadas e servidas com arroz branco, banana da terra frita e o molho piri piri à parte.

Bobotie é um prato sul africano, feito com carne moída, temperada com várias especiarias e ingredientes doces como uvas passas e damascos, que dão um sabor super rico ao prato. Ele é assado no forno com uma cobertura de ovos batidos com leite. Servido com arroz de açafrão com passas( tradicional) ou arroz branco.

O som ao vivo ficará por conta de Flávia Enne na voz e percussão e Fabio Neto na voz e no violão que tocarão vários ritmos para alegras o evento, entre eles afoxé, samba, forró e com o melhor da nossa MPB, de Djavan á Chico, de Gil a Milton.

Serviço:
Invasão Afro Gourmet no Dida Bar e Restaurante 
Dia 20 de fevereiro, sábado a partir das das 12:30hs
Rua Barão de Iguatemi, 408
Rio de Janeiro
021 2504-0841
Mais informações na página do restaurante no Facebook. 

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