Home Blog Page 1252

Como usar o estilo étnico

0

Um hit da estação Verão 2014, vem de misturas multiculturais com estampas e desenhos supercoloridos e destaque nos elementos africanos.

Por Marcela Lemos * –  Esta tendência étnica tem tudo haver com estilo e tons da pele negra que já traz um histórico e usa esses elementos com muita naturalidade de um jeito único num toque especial e moderno.

Tons fortes, terrosos e alegres, nessa mistura não existe regras para usar este tipo de estampa, basta saber coordenar bem usando uma peça estampada (blusa, saia, shorts) e outra lisa, ousar no mix de estampas, no look total da mesma estampa ou se você é bem discreta pode usar em acessórios e calçados. Tudo depende muito do seu gosto e estilo.

Veja alguns looks e inspirem-se na produção

 

 

 

 

 

 

 

 

 


*Marcela Lemos
Consultora de Moda e Estilo
(11) 9 6245-8827
marcela@vestilonegro.com.br
Facebook: https://www.facebook.com/VestirComEstiloNegro

Comissão do Trabalho, aprova PL de cotas em concursos federais

0

Nesta última terça-feira (03) começaram os debates sobre a aprovação do projeto de lei nº 6738 que institui cotas de 20% nos concursos públicos federais.

Silvia Nascimento – Mesmo rejeitando as seis emendas sugeridas pelos membros da Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço Público (CTASP), entre elas a ampliação do número de vagas para a inclusão de indígenas e a extensão do projeto de lei para cargos no Legislativo e Judiciário, o relator do projeto nesta comissão, Dep. Vicentinho (PT-SP), votou a favor da aprovação da PL.

“A proposta sob exame representa uma ação afirmativa a ser adotada pela administração pública federal em consonância com os princípios que norteiam a sua atuação, em especial o princípio da isonomia, na medida em que trata os desiguais na medida das suas desigualdades”, ressalta Vicentinho em seu parecer.

Amanhã a PL segue para Comissão de Direitos Humanos e Minorias, presidida pelo Deputado Marcos Feliciano (PSC-SP). Em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, Feliciano disse ser a favor da aprovação do projeto e só mudaria “se fosse para aumentar o percentual da reserva de vagas para negros.”

A data da votação do PL na Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania, que avalia de o projeto está de acordo com a Constituição Federal para ser votado em plenário ainda não foi divulgada.

Redação Site Mundo Negro

A Roda Gigante e o motor da casa grande

0

A FIFA ao recusar Lázaro Ramos para sortear os grupos da Copa disse ao Brasil e ao mundo que pretinhos como ele devem tratar de ser bons de bola e ter destaque dentro das quatro linhas. Esse é o lugar reservado aos homens negros.


Por Cidinha da Silva *

Ao recusar Camila Pitanga para a mesma função, vocifera aos quatro cantos do universo empresarial da bola que lugar de mulher negra é azarando jogador, prestando-lhes serviços sexuais ou no máximo vendendo a imagem de Globeleza.

Em uma das salas da casa grande, outra atriz negra da novela Lado a lado, surpreende a gente altiva ao apresentar-se como pregoeira de um conjunto de bundas e pernas negras naturais (hiper malhadas) ou siliconadas: glúteos, vasto lateral, bíceps da coxa, trato iliotibial. Acém. Cupim. Músculo. Coxão Duro. Paleta. E não se sabe que parte da imagem é mais triste e deprimente, a carne de segunda e seu corte de costas ou o Filé Mignon disfarçado, maquiado, bem vestido, de sorriso angelical e dengoso a serviço do leilão de mulheres no mercado dos corpos.

Mas Camila e Lázaro batem um bolão, driblam a FIFA e ganham o prêmio Emmy com a novela Lado a lado. Superaram outra adversária poderosa, a novela das nove de maior audiência nos últimos anos, Avenida Brasil. Que vitória!

Os autores da novela das seis, de maneira inaugural na teledramaturgia tupiniquim, rasgaram, dilaceraram, escancararam os privilégios dos brancos brasileiros alicerçados na exploração reiterada e arraigada dos negros ao longo de séculos e foram premiados, a novela foi considerada “a melhor do mundo.”

Ê… volta do mundo camará! Alegria e tristeza alternam lugares na Roda Gigante e o motor da casa grande funciona a pleno vapor.

*Cidinha da Silva, escritora. Autora de Racismo no Brasil e afetos correlatos (no prelo), entre outros.

 

“Seus pelos lá de baixo devem ser duros como os da sua cabeça”, diz dono de restaurante à professora negra da USP

0
Fachada do restaurante Dueto Bar, em SP

Ao sair de casa para comemorar seu aniversário de 33 anos, no dia 8 agosto,  a geóloga e Professora  Doutora USP, Adriana Alves,  jamais imaginou que seria uma noite tão constrangedora.  Ela chamou um grupo de amigos e todos se encontraram no restaurante Dueto Bar, localizado no bairro do Butantã em São Paulo.  “É um bar frequentado principalmente por pós-graduandos e professores da USP. Era meu bar predileto, ia lá quase que semanalmente há pelo menos quatro anos”, descreve a professora em entrevista ao site Mundo Negro.

Fachada do restaurante Dueto Bar, em SP
Fachada do restaurante Dueto Bar, em SP

Por Silvia Nascimento – Tudo corria bem, até que ela o seus amigos foram para frente do restaurante, na calçada, para fumar e conversar. O dono do estabelecimento, um holandês de nome Peter, que nunca havia falado com ela, juntou-se ao  grupo com a intenção de se aproximar da professora.  “Ele começou perguntando se meus dentes eram verdadeiros, por serem muito brancos, eu dei uma risada e respondi que sim. Tentamos mudar o assunto da conversa, quando ele me perguntou se eu gostaria de tomar café  da manhã com ele no dia seguinte”, descreve a professora.  Ela tentou desconversar novamente, questionando o que a esposa dele acharia da proposta, e ele respondeu “que ela não tinha nada com aquilo”.

Para ver ser Peter desistia das investidas, Adriana foi ao banheiro e ao voltar, se posicionou bem entre seus amigos. O holandês deu a volta para se aproximar dela novamente e perguntou se ela se depilava. Brava e em tom agressivo a professora respondeu que não tinha pelos, quando ele retrucou: “Aposto que tem e os de lá de baixo devem ser duros como os da sua cabeça”.  Os amigos não reagiram, um deles era chileno e não falava português. Adriana resolver deixar o local, contra a vontade de Peter que perguntou ainda “qual era a última vez que ela tinha gozado gostoso”.

“Cheguei em casa e desatei a chorar. Pensei, sim, que a motivação dele foi racial. Há várias reclamações no site do restaurante, mas todas por grosseria. Então ele se achou no direito de falar daquela forma comigo, é porque sou negra e sabemos muito bem como a mulher negra figura no imaginário brasileiro”, afirma Adriana. Ela conta ainda que quando relatou o ocorrido aos amigos negros, todos de pronto entenderam o “viés racial” da situação. Já as amigas brancas, disseram que isso é normal e acontece “com qualquer mulher”.

 Inquérito foi instaurado

Em agosto, logo após o ocorrido, Adriana Alves se dirigiu à Delegacia de Defesa da Mulher para instaurar inquérito. No entanto, a delegada presente entendeu que crimes de racismo deveriam ser investigados numa delegacia comum. No dia 14 de novembro,  assessorada pelo advogado do Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades (CEERT), Daniel Teixeira, a professora foi orientada a retornar à 3ª Delegacia de Defesa da  Mulher para fazer o boletim de ocorrência, e nesta segunda tentativa não houve objeção.

“Trata-se  de com caso de racismo, porque o dono do restaurante não apenas a assediou, mas fez uma associação relativa ao cabelo dela, que tem obviamente uma conotação preconceituosa”, explica Teixeira do CEERT.

Silvia Nascimento – Site Mundo Negro www.mundonegro.inf.br

Mostra Internacional de Cinema Negro chega em sua 10ª edição

0

Com homenagem ao cineasta Haroldo Costa, a Mostra Internacional de Cinema Negro chega a sua 10ª edição.  O evento conta com a curadoria do antropólogo e cineasta Celso Prudente, com assistência do engenheiro Paulo Rufino.

A mostra começa hoje, 25 de novembro, com uma cerimônia de abertura no Memorial da América Latina ( há a necessidade prévia de cadastramento para participar). Do dia 27 a 30 de novembro haverá a exibição gratuita de curtas e longas que mostram a contribuição do negro na sociedade. De acordo com os produtores, os filmes escolhidos mostram o negro de forma positiva, fugindo dos estereótipos e imagens depreciativas.

Carlinhos Brown em cena do filme "Olho de Boi" que faz parte da Mostra
Carlinhos Brown em cena do filme “Olho de Boi” que faz parte da Mostra

 Confira a programação:

Dia 25 de Novembro às 19h00

Cerimônia de Abertura na Biblioteca do Memorial da América Latina – sujeito à convite entre em contato  credenciamento.

 26 de Novembro às 19h00

1) Olho de Boi – Curta Metragem

2) Kilburn Grange Park – O Parque de Kilburn – curta metragem

Debate com os diretores de cinema após a exibição dos filmes

Local: BIBLIOTECA ALCEU AMOROSO LIMA

Rua Henrique Schaumann, 777 – Pinheiros – São Paulo

27 de Novembro às 14h00

1) Iemanjá  – curta Metragem

2) Marighella – longa metragem

Debate com os diretores de cinema após a exibição dos filmes

Local: BIBLIOTECA ALCEU AMOROSO LIMA

Rua Henrique Schaumann, 777 – Pinheiros – São Paulo

29 de Novembro às 19h00

1) Martin Luther King (Kinect) – O retumbar de um novo sentido – curta metragem

2) Os pombos de Londres – London Pigeon

Debate com os diretores de cinema após a exibição dos filmes

Local: BIBLIOTECA ALCEU AMOROSO LIMA

Rua Henrique Schaumann, 777 – Pinheiros – São Paulo

 Dia 30 de Novembro às 14h00 – Casa Pau Brasil

1) Martin Luther King – O retumbar de um novo sentido – curta metragem

2) Voice of Black Opera – Vozes da ópera negra curta metragem

3) Iemanjá  – curta metragem

Debate com os diretores de cinema  e desfile de moda afro após a exibição dos filmes

Local: Casa Pau Brasil

Endereço: Rua Fidalga, 403 – Vila Madalena – SP

 http://www.casapaubrasil.com.br

 Mais informações:

Site oficial
Facebook

Deuses de Dois Mundos, a mitologia dos orixás no livro de PJ Pereira

1

Dois mundos em paralelo. Na terra o ambicioso New Fernandes  se envereda pela carreira jornalística e encontra, por meio de um caso de sabotagem industrial, o caminho para subir na carreira.  Enquanto isso no mundo dos orixás, Orunmilá , o maior adivinho de todos os tempos, vê os búzios,  seus instrumentos que possibilitam  previsões e revelações,  se calarem.

 

Por Silvia Nascimento – “O Livro do Silêncio”, de PJ Pereira, publicitário brasileiro dono da bem sucedida agência Pereira & O’Dell, sediada nos EUA,  é o primeiro da trilogia “Deuses de Dois Mundo”. A obra, que é lançada amanhã, 25 de novembro,  é um romance onde os orixás, os deuses da mitologia africana, aparecem como personagens. PJ ressalta que não se trata de um livro sobre religião.  “Não acredito que seja real aos aspectos religiosos. Até porque conheço pouco sobre os rituais. O que meus amigos do santo, especialmente do Gantois, em Salvador, fizeram, foi me apresentar às lendas, e esse é o material que usei”, explica PJ, que é filho de Oxossi, apesar de não ter sido iniciado no candomblé.

O livro tem trailer produzido pela Laundry Design, de Los Angeles, com trilha sonora de Otto e Pupillo (Nação Zumbi), participação especial de Andreas Kisser (Sepultura) e narração de Gilberto Gil. Os direitos da trilogia já foram vendidos para cinema, TV e quadrinhos.

httpv://www.youtube.com/watch?v=GNAWuAlQKqE

Confira a entrevista exclusiva do autor  PJ Peireira ao site Mundo Negro.

Mundo Negro-  PJ de onde surgiu seu interesse pelo candomblé?
PJ Pereira –  Eu cresci no Rio, classe média, Zona Sul. Tudo em volta de mim dizia que “macumba” era coisa de se ter medo. Quando fui morar em São Paulo, conheci um baiano muito bacana e fui saber que ele era do candomblé. Fiquei impressionado como uma pessoa tão boa poderia fazer parte de algo que eu achava tão ruim, então pedi para ele me explicar, me contar, me mostrar. Meu contato então saiu do choque do meu preconceito com a bondade do povo de santo.

MN- Há outros aspectos da cultura negra com que você identifique?
PJ – Como parte desse processo de pesquisa eu fiquei fascinado pela estética africana de um modo geral, mas especialmente as máscaras Gueledé, que comecei a usar como tema das minhas pinturas. Expus algumas delas em vários países.

E como praticante de artes marciais, sempre fui fascinado por capoeira. Que só não aprendi por falta de vergonha e excesso de barriga.

MN- Como você acha que o livro será recebido pelos praticantes do candomblé?
PJ – Essa pergunta é difícil. Porque é uma das minhas maiores ansiedades. Escrevi essa história porque depois que conheci melhor essa mitologia achei que outras pessoas como eu deveriam ter acesso a ela, antes de formarem uma opinião sobre ela ser “coisa do diabo”, sabe? Então meu objetivo nunca foi necessariamente agradar o povo de santo, nem trazer mais seguidores, mas sim fazer com que o resto do mundo respeite essa cultura do mesmo jeito que respeitam as lendas de Zeus ou de Thor. O que torna isso mais complicado é que as lendas dos orixás são complexas, e os “personagens” não são bonzinhos o tempo todo como se espera de um santo católico, então acho que pode ter gente que vai ter mais preconceito ainda. Mas acho que vai ter quem passe a gostar e respeitar também. O que disse aos meus amigos do santo é que espero que esse livro traga mais bem que mal às religiões de origem africana.

MN -A narrativa é leal aos aspectos reais do candomblé?
PJ – Não acredito que seja real aos aspectos religiosos. Até porque conheço pouco sobre os rituais. O que meus amigos do santo, especialmente do Gantois, em Salvador, fizeram, foi me apresentar às lendas, e esse é o material que usei. O mitológico, não o ritual. Então peguei alguns dos mitos que mais gosto e usei em momentos especiais da trama, mas entre eles, há vários momentos saídos da minha cabeça. O professor Reginaldo Prandi, da USP, autor do Mitologia dos Orixás, me disse que o que eu fiz poderia ter sido um desastre como aquele que separou o Orum e o Aiê, mas que a história ficou surpreendentemente forte e respeitosa da essência dos personagens dessa mitologia.

 

Pé na África: Arte e reflexão fechando a semana da consciência negra em São Paulo

0

O mês da Consciência Negra está quase no fim e a última “Pílula de Cultura Feira Preta “acontece neste domingo. O evento é gratuito e acontece todos os meses, mas este edição será especial por conta da participação do cantor e ator Bukassa Kabengele, idealizador da festa Pé na África que é o tema do evento.

Quem for por lá poderá aprender mais sobre África, onde serão apresentados aspectos positivos da cultura do continente. Para tanto haverá a roda de conversa: “Qual a importância do reconhecimento da africanidade na cultura brasileira”,  a exposição “Olhar Negro”, de Vera Rocha Vidal, apresentação de Dança Afro com Vanessa Soares e show de Bukassa Kabengele acompanhado da Banda Booka Mutoto.

Serviço:

Pílula de Cultura Feira Preta – Festa Pé na África

Dia 24 de novembro de 2013, a partir das 16h

Centro Cultural São Paulo – R. Vergueiro 1000 – Sala Adoniran Barbosa

Entrada Franca

Os Mendonças

0

“Por que você escreve essas coisas de preto?”

0
Foto: SeCom Bahia

Recentemente, me perguntaram por que escrevo essas “coisas de preto”. Não foi só uma vez.

Foto: SeCom Bahia
Foto: SeCom Bahia

Por Higor Faria*

Poderia dizer que escrevo “coisas de preto” porque sou preto, ou porque quero afirmar e externalizar a minha identidade. Assim como seria possível dizer que escrevo a fim de encontrar, por meio das “coisas de preto”, outros pretos — inserção, acolhimento e proteção. Posso também afirmar que escrevo para que outros pretos se projetem e encontrem pares de vivências. Tudo isso é motivação e não deixa de ser verdade.

E mais. É válido falar que escrevo “coisas de preto” para denunciar tanto o genocídio da nossa juventude negra quanto a falta de oportunidade e os obstáculos impostos especificamente aos negros quando se fala em escolaridade e mercado de trabalho. Ou ainda para derrubar padrões que excluem o corpo negro ou que o coisificam por meio da hipersexualização. Escrevo “coisas de preto” por isso também, não é mentira.

Escrevo “coisas de preto” por querer ser um contador de histórias. E quero também contar a nossa história, como muitos outros negros já fazem há mais tempo e melhor que eu. O protagonismo me impulsiona: preto contando nossas “coisas de preto”.

Tô cansado de não negros dizendo como devemos ser,pensar e agir. De forma geral, isso só resultou em exclusão, em marginalização, em estigmatização e em genocídio de quem é preto. Existem as exceções. Existem, mas, por mais que haja um nível de empatia transcendental, o branco nunca vai dar de cara com os mesmos obstáculos, quem dirá ter que superá-los. Aliados são mais que bem-vindos. A luta precisa de vocês. Mas o protagonismo é nosso, é preto.

É tempo de nossa voz ser ouvida e respeitada. Há um pensamento coletivo de que nós, pretos, somos radicais quando falamos de racismo, enquanto brancos são sensatos falando do mesmo assunto com as mesmas palavras. Escrevo para acabar com essa lucidez seletiva que legitima só o outro, o não preto, para contar as nossas “coisas de preto”.

Tem quem cante, tem quem atue, tem quem produz, tem quem legisla, e tem quem debate “coisas de preto”. Eu escrevo. É a arma que possuo. Posso até não manejá-la da melhor forma — ainda. Tenho noção que o aprendizado é constante e a vontade de acertar o alvo é grande. E também é por isso que escrevo essas “coisas de preto”.

Sigo com o racismo na mira: uma hora ele não escapa!

Higor Faria é preto, publicitário, estuda masculinidade negra e escreve no https://medium.com/@higorfaria

20 de novembro e a luta incessante pela descolonização

0

Por Júlio Evangelista Santos Júnior*

Costumo dizer em minhas andanças que somos um povo de mente colonizada e subconsciente racista parafraseando J. Martiniano Silva em seu livro Racismo à Brasileira, ao qual recomendo aos colegas leitores. Em um país com mais de 350 anos de escravização de povos africanos e seus descendentes transladados para o Brasil de forma desumanizada e opressora, que em 2013 completou 125 anos de uma abolição inconclusa e sem as devidas reparações, com 25 anos de uma Constituição Cidadã inconstitucionalmente descumprida pelos brasileiros e seus representantes republicana e democraticamente eleitos, os 318 anos da morte de Zumbi e conseqüente declínio de Palmares não comovem e nem alteram o modus operandi de um Estado baseado na desigualdade e violação de direitos humanos básicos própria de um modelo hegemônico e racista de desenvolvimento.

Zumbi dos Palmares - Herói Negro da Nova Consciência Nacional
Zumbi dos Palmares – Herói Negro da Nova Consciência Nacional

Costumo dizer também neste dia, e em todos os outros diga-se de passagem, que a hipocrisia do cidadão brasileiro é tão sofisticada e irônica que faz do ‘racismo à brasileira’ o pior tipo de racismo existente no mundo, pois traz o raciocínio defensivo como arma de desincompatibilização do racismo de si próprio, ou seja, ‘eu não sou racista’, mas a sociedade é, eu não discrimino, mas a sociedade sim.

Enfim, é 20 de novembro, dia em que incontáveis e incontestáveis ativistas escrevem e bradam nas redes sociais, e pelas ruas do país, por igualdade e fim do racismo e que os não menos incontáveis, mas contestáveis, ‘cidadãos de bem e de todas as cores’ bradam que ‘somos todos iguais’ e que só existe a raça humana, o que nos remete a pensar o porquê de tanta resistência a um dia em que enaltecemos a nossa resistência a um processo de desumanização que já dura 513 anos. É inegável a ampliação das formas de organização e de luta do movimento negro e antirracista, ao qual agradeço constantemente pela minha formação e sobriedade, como também é inegável a aprovação de leis em favor da igualdade racial e de iniciativas governamentais nesse sentido, porém nada disso surtirá efeito se a mente colonizada e o subconsciente racista continuarem moldando os comportamentos humanos de forma a degradar incessantemente uma parcela significativa da população que sempre foi a ‘maioria minorizada’ e invisibilizada deste país. Essa mente colonizada produz fenômenos que substituíram a forma escravocrata de extermínio da população negra no Brasil a partir de, e desde, 1888 e que devem ser combatidos com toda a desenvoltura e resistência possíveis. Somente políticas públicas não serão suficientes nesse processo que invisibiliza o feminicídio, desdenha da luta quilombola, amplia o genocídio da juventude negra, demoniza as religiões de matriz africana, desqualifica e macula as iniciativas afirmativas de promoção da igualdade racial e de enfrentamento ao racismo e ainda confere legitimidade a um racismo institucional cada vez mais poderoso e ingrato diante das relevantes contribuições do povo negro no processo de formação nacional.

Quilombolas_Conciencia Negra_320 (1)
Quilombo Kalunga, Comunidade Vão das Almas. Na foto, a senhora Deuanir Francisco da Conceição, 39 anos, com a família – Foto Agência Brasil

Pela efetiva implementação das ações afirmativas, pela aprovação imediata de cotas no serviço público em todos os entes federativos, pela criação onde ainda não existam de órgãos municipais e estaduais de promoção da igualdade racial, por um feriado nacional da Consciência Negra (projeto de lei que está engavetado no Congresso), pela ampliação do debate por um Sistema Nacional de Promoção da Igualdade Racial (que já está em construção e precisa de maior participação popular), pelo empoderamento da população sobre o Estatuto da Igualdade Racial, por mais representantes negros nos espaços políticos e em todos os espaços democráticos!

Axé Zumbi, axé Dandara!

*Júlio Evangelista Santos Júnior, também conhecido por Tumbi Are Nagô de Oyò, é militante e ativista do movimento negro, coordenador da Regional Baixada Santista do Projeto Educafro, poeta, angoleiro, Tecnólogo em informática com ênfase em gestão de negócios, advogado, pós-graduando em direito constitucional aplicado e gestor público municipal de promoção de igualdade racial e étnica na Prefeitura de Cubatão/SP

error: Content is protected !!