Campeão da NBA por três times diferentes, o astro LeBron James foi a estreia do filme “Space Jam” e falou sobreainda não saber quando será a sua aposentadoria como jogador, mas até esse momento não se vê jogando em outro time além do da Califórnia até o final de sua grande carreira na liga.
“Eu verdadeiramente espero que eu possa terminar minha carreira com os Lakers”, disse LeBron James ao SmartLess, podcast dos atores Jason Bateman, Will Arnett e Sean Hayes. “Não importa quantos anos faltarem, quatro, cinco, seis, tanto faz. Espero continuar a jogar. Eu e minha família adoramos Los Angeles. Estar em um time lendário como os Lakers é algo especial”, continuou.
Na mesma entrevista, no tapete vermelho para a inauguração da obra, ainda apontou benefícios sobre jogar nos Lakers quando falou sobre estrelar o filme Space Jam: Um Novo Legado’: “Nunca achei que seria possível”, declarou.
O filme, que é da produtora SpringHill Entertainment de James, é centrado em um jogo de basquete interdimensional de alto risco que James deve jogar ao lado dos personagens Looney Tunes para reconquistar seu filho de um algoritmo de computador maligno.
Os jogadores da NBA Anthony Davis, Klay Thompson, Damian Lillard, Chris Paul e Kyle Kuzma fazem aparições no filme junto com os jogadores da WNBA Diana Taurasi, Nneka Ogwumike e Chiney Ogwumike. A atriz Zendaya também estava presente no evento:
O ramo artístico é extremamente competitivo. No Brasil possuímos poucos incentivos e baixa valorização daqueles que sobrevivem da arte, ainda que o setor cultural chegue a compor 4% do PIB do país. Apesar das redes terem facilitado a ponte entre artista e seu público, aqueles que costumam obter maior sucesso possuem algum tipo de capital financeiro inicial ou capital social, nasceram em famílias já reconhecidas pelo meio. No setor da música, por exemplo, é necessário comprar os equipamentos, pagar estúdio para gravação e o tratamento do conteúdo antes de subir em plataformas.
Com a pandemia, o setor cultural foi drasticamente impactado. Os artistas que mais sofreram foram justamente os independentes, que dependiam da interação direta com o público e ficaram impossibilitados visto que para enfrentar o vírus Covid-19 é necessário o isolamento social. As lives formam uma forma de difundir o conteúdo dos artistas e obter, por vezes, um pequeno retorno financeiro do público. Mas essa estratégia é limitada, esbarrando na necessidade de compreensão social do público, pois conteúdos antigos já estavam disponíveis gratuitamente no youtube.
Recentemente casos de abusos físicos, morais e simbólicos por parte dos produtores que detém um grande poder financeiro e influência vieram a público. A indústria cultural também dita os ritmos e estilos que são tendência divulgando em massa seus artistas preferidos que chegam a lucrar milhões. Isso impacta não apenas artistas independentes como também pode determinar o fim de estilos musicais e legados culturais.
Dentre muitos dos artistas independentes negros que temos visto ganhar espaço nos últimos anos temos Jota.pê que chamou atenção na internet com suas músicas em ótimas versões acústicas e também belíssimas regravações como a da musica Zero, da cantora Liniker.
Jota.pê regravou sucesso Zero da Cantora Liniker
Uma das formas de artistas independentes conquistar recursos para demonstrar seus talentos é através de leis de incentivo a cultura independente que movimenta recursos para produções maiores. Um exemplo é a Lei Aldir Blanc de alcance nacional que acaba por financiar produções como as da artista Indy Naíse com seu ultimo e belíssimo trabalho produzido pelo Rapper Rincon Sapiência.
Indy Naíse tem novo projeto produzido por Rincon Sapiência
Outro projeto financiado pela Aldir Blanc é a Revista Odù, que apresenta matérias autorais de mais de 30 artistas, mestres/as e lideranças negras e indígenas do Brasil e do Benim.
O esforço de novos artistas negros independentes em ocupar uma cena extremamente competitiva no Brasil tem reunido grandes talentos e dessas uniões trabalhos autorais em conjunto surgem. Até mesmo eventos de valorização cultural acabam por ser promovidos e precisam da atenção do público.
O samba de roda, por exemplo, é patrimônio cultural e imaterial da humanidade reconhecido pela Unesco e o Samba do Rio de Janeiro é Patrimônio Cultural do Brasil. Foi pensando nisso que o cantor Odair Junior idealizou o evento Um Rio de Samba que nasceu justamente pensando nesta realidade afim de promover sambistas independentes e fortalecer a tradição de Samba no Rio de Janeiro.
Sambista Odair Junior um dos idealizadores do evento Um Rio de Samba
Odair possui 41 anos, participou de rodas de samba e pagode no final dos anos 90 e começo dos 2000, com o Grupo Novo Acorde. Sambista de criação, pagodeiro de coração, o paulistano carioca aprendeu a escutar e conhecer boa música com seu pai. A chegada de seu filho e as responsabilidades como chefe de família acabaram o afastando da vida artística independente. Embora tenha se apresentado em grandes casas de show paulistanas a instabilidade financeira da carreira artística independente ficou cada vez mais insustentável. Já em 2020 Odair retomou sua carreira com o objetivo de não apenas reviver um sonho, mas também fortalecer a cena autoral e independente. Seu evento, Um Rio de Samba, é um dos maiores eventos de musica independentes brasileira.
As dificuldades para carreiras independentes da música são muitas, como podem ter notado, mas uma das coisas que podemos destacar ao observarmos esses artistas e suas trajetórias é o amor pela arte. A resiliência em insistir independentemente de qualquer dificuldade nos faz admirar cada vez mais estes profissionais que conseguem entregar amor, talento e manter viva a arte da música preta no nosso país.
Jade Alcantara Lobo é Editora e Coordenadora da Revista Odù: Contracolonialidade e Oralitura. Doutoranda em Antropologia Social na UFSC. Autora do livro “Para Além da Imigração Haitiana: Racismo e Patriarcado como Sistema Internacional”. Autora da dissertação: “Defeito de Fabricação”: Maternidades Negras. Trabalha com Maternidade Negra, Afroperspectivismo, Contracolonialidade e Cosmopolíticas Afroindígenas.
Uma das obras mais aclamadas do último ano, o filme “Black is king” de Beyoncé não foi indicado a nenhuma das doze categorias submetidas para a obra. Mesmo com diversos prêmios, incluindo Grammys e Leão de Ouro, o aclamado filme “Black Is King” de Beyoncé ficou de fora do Emmys 2021.
Beyoncé, como produtora executiva, diretora, compositora, diretora musical e roteirista, poderia concorrer em 5 das doze categorias em que “Black is King” foi sugerido e, mesmo assim, o clipe não foi mencionado no prêmio.
Contudo, a Disney submeteu “Black is King” em dozecategorias e nenhuma delas foi alcançada, continuando o legado da Beyoncé em ter oito indicações ao prêmio e nenhuma vitória.
Black Is King foi pensado como uma peça correlacionada a “The Lion King: The Gift”, trilha sonora de 2019. Beyoncé explicou que o filme foi criado para “celebrar a amplitude e a beleza da ascendência negra” e “para apresentar elementos da história negra e da tradição africana, com um toque moderno e uma mensagem universal, e o que realmente significa encontrar sua auto identidade e construir um legado”.
Alguns críticos falaram que o clipe mostra que Beyoncé estava em “outro patamar da cultura pop” com esse trabalho, por isso, muitos ficaram surpresos pela não indicação da cantora.
O álbum “Anti”, de Rihanna completou 275 semanas na Billboard 200, principal parada de discos dos Estados Unidos. É a primeira mulher negra a conseguir o feito e uma das cinco artistas femininas com mais tempo na parada.
Imagem: Divulgação
O premiado disco foi lançado em 2016 e conseguiu certificado triplo de platina nos Estados Unidos. Também foi indicado a dois Grammys. Entre as faixas constam os mega sucessos “Work” (feat. Drake), “Needed Me“, “Love On The Brain” e “Kiss it Better“.
O hiato da diva em lançamento de disco inédito já virou meme na internet, mas na última semana ela foi vista nos bastidores da gravação de um video com seu namorado, o rapper A$AP Rocky, fazendo com que os fãs levassem a tag #Rihanna is Coming (“Rihanna está vindo”) ao topo dos trendings do Twitter.
Nenhum álbum da cantora foi anunciado para um futuro próximo, mas os fãs esperam ao menos que a cantora e o rapper lancem uma faixa em conjunto.
O rock’n’roll foi criado por várias pessoas através da história, mas se tivesse que fazer uma lista de possíveis reis do rock, Elvis Presley, definitivamente, não estaria no top 5. O Rhythm & Blues lotava os bailes negros e os adolescentes brancos ficavam cada vez mais fissurados pelos riffs saídos das guitarras negras. Com o crescimento daquele incendiário movimento, os brancos criaram suas versões, com artistas que imitavam o rebolado e as performances quentes de Chuck Berry e Little Richard, assim como as palhetadas aceleradas e distorcidas de Rosetta Tharpe.
Little Richard (Imagem: Reprodução)
A gênese do rock é negra. O próprio Elvis declarou certa vez para a revista Tan: “Muitas pessoas parecem pensar que eu comecei este negócio. Mas o rock ‘n’ roll esteve aqui muito tempo antes de eu aparecer. Ninguém pode cantar esse tipo de música como pessoas de cor. Vamos ser sinceros: não sei cantar como o Fats Domino. Eu sei disso”.
Através dos anos diversas acusações de plágio surgiram contra nomes considerados unanimidade dentro do rock. Um dos casos mais famosos é envolvendo a banda britânica Led Zeppelin. Entre dezenas de acusações de plágio de música feito por artistas negros podemos citar How many more times (1969), essa música é plágio de duas músicas: ” How Manu More Years (1951) de Howlin Wolf, e da música “The Hunter“, de Albert King e o grande sucesso Whole Lotta Love (1969), plágio da música “You Need Love“, de Willie Dixon (foi feito acordo no Tribunal e Dixon foi creditado como autor posteriormente).
Acontece que apesar das acusações de plágio e apropriação, o mainstream acabou dominado por artistas brancos, mas o maior guitarrista é negro. Jimi Hendrix é unanimidade em todas as listas especializadas e influenciou gerações. Nos anos 80 o mundo recebeu uma das maiores cozinhas do hard rock. O Living Colour lançava ‘Vivid’. Uma pancada sonora que misturava metal, soul sessentista e rap. Na mesma década o Public Enemy fundia seu rap de denúncia com guitarras pesadas.
Dos anos 90 até a virada dos anos 2000, nenhum artista preto conseguiu ser mais popular tocando rock do que Lenny Kravitz. ‘Are You Gonna Go My Way’, do álbum homônimo, é um dos riffs mais memoráveis do rock.
O Site Mundo Negro preparou uma lista com 5 artistas negros do rock que merecem sua atenção. Para ouvir no volume máximo.
Lenny Kravitz
Imagem: Instagram
Compositor, guitarrista de mão cheia, multi-instrumentista, produtor, ator. Kravitz construiu uma sólida carreira na música tendo controle total da sua produção artística. Independência que rendeu frutos de qualidade inquestionável como “Let Love Rule” (1989), “Mama Said” (1991) e êxitos comerciais como a trilogia “Are You Gonna Go My Way” (1993) “5” (1998) e “Lenny” (2000).
Junte alguns dos melhores instrumentistas do mundo, um vocal competente, misture influências de punk, funk, heavy metal e soul e temos um disco de estreia para se ouvir da primeira à última faixa sem pular. Foi um bálsamo para o hard rock a concepção de “Vivid”, pelos norte-americanos do Living Colour em 1988. O guitarrista Vernon Reid, liderando Corey Glover (vocal), o baixista Doug Wimbish e o baterista William Calhoun, trouxe frescor em meio à farofa que dominava o cenário do gênero. ‘Cult Of Personality” é uma pancada que culmina com um dos melhores solos de guitarra da história. Após isso,mais dois álbuns bem-sucedidos: ‘Time’s Up´ (1990) e ‘Stain‘ (1993), com um a banda levando um merecido Grammy em 1990.
Nos anos seguintes a banda não conseguiu o reconhecimento merecido dentro do mainstream, mas suas performances ao vivo firmaram o grupo como uma das grandes de seu tempo.
O duo formado por Eric Burton (vocalista/guitarrista) e Adrian Quesada (produtor/multi-instrumentista) trouxe em seu primeiro álbum (homônimo) misturas deliciosas de soul psicodélico, folk, música latina e rock.
Uma viagem nostálgica, que não tenta reinventar a roda, mas prestar homenagem ao que já foi feito e com qualidade ímpar. A dupla, duas vezes indicada ao Grammy, concebeu um disco de estreia viciante, mostrando que há futuro promissor fora do grande circuito dominado por produções esquizofrênicas tentando acertar todos os lados. Conciso e objetivo.
CIRCA 1968: Rock and roll musician Chuck Berry does the splits as he plays his Gibson hollowbody electric guitar in circa 1968. (Photo by Michael Ochs Archives/Getty Images)
O rock não seria o rock sem Chuck Berry. Os Beatles tocavam Berry em seus primeiros shows. Sem Berry não haveria Rolling Stones.
Um dos precursores do rock levou uma vida intensa assim como suas performances, que podem ser conferidas em dezenas de vídeos no Youtube. Sucesso comercial, vendendo milhares de discos entre as décadas de 50 e 60, Berry não encontrou o mesmo reconhecimento até chegar à Calçada da Fama do Rock and Roll nos anos 80. “Maybellene” e “Johnny B.Goode” são clássicos absolutos e eternos.
Chuck Berry foi um grande entre os grandes, reconhecido pelos seus pares de todas as épocas. Caminhou entre Nat King Cole e Muddy Watters e teve sua obra redescoberta após lançamento do álbum inédito ‘Chuck’, lançado após sua morte.
Rosetta Tharpe, ou Sister Rosetta Tharpe, trazia fogo divino às reuniões de sua igreja tocando sua guitarra com um ritmo que ainda não tinha nome. A distorção aplicada ao gospel foi um catalisador para o nascimento do rock. Espiritualidade gospel misturada ao R&B lhe renderam turnês com o lendário Muddy Waters.
Canções como ‘Strange Things Happening Every Day’ e ‘Precious Memories’ já eram rock antes do rock ser chamado assim. Se existisse justiça no mundo da música ela seria reverenciada como a Rainha do Rock.
Projeto Fa vê-las vai produzir um livro escrito por moradores de cinco comunidades cariocas
Conhecimento é para ser compartilhado. Essa é a premissa das gêmeas Helena e Eduarda, do canal Pretinhas Leitoras que, em parceria com o Instituto Entre o Céu e a Favela, criaram o projeto “Fa vê-las”, que tem como objetivo de promover a escrita das crianças nas favelas do Rio de Janeiro, com atividades inteiramente gratuitas.
Nesta primeira temporada, de janeiro a agosto, as comunidades contempladas foram Cesarão, na Zona Oeste; Complexo do Chapadão e Morro do Alemão, na Zona Norte; Rocinha, na Zona Sul; e Providência, no Centro. Cada localidade terá 20 crianças atendidas, e o objetivo final do projeto é produzir um livro, com o conteúdo desenvolvido por elas.
Inicialmente, o a iniciativa seria 100% presencial, com contação de histórias e encontro com autores, além da roda para a produção de conteúdo para o livro. Com a pandemia, no entanto, houve uma adaptação para que o projeto, que deveria ter começado em 2020, não sofresse novo adiamento.
A dinâmica do projeto usou de recursos digitais para chegar até as crianças. Foram produzidos vídeos com contadores de histórias e autores de livros, enviados por WhatsApp para os participantes de cada comunidade atendida. Além disso, cada participante recebeu um kit com um diário de leitura, lápis de cor, caneta e uma bolsa.
“Nosso desejo é possibilitar para crianças periféricas contatos com livros, que contêm histórias em que elas possam se reconhecer e, assim, estimular que escrevam sobre suas próprias realidades. Com isso, além de oferecer protagonismo, tentamos de algum forma reconstruir a autoestima e a coragem de cada uma delas, que foram massacradas pelas falta de políticas públicas e por uma educação sem qualidade para crianças de favelas”, afirma a diretora do Instituto Entre o Céu e a Favela, Cintia Santana.
O encontro para a realização da escrita coletiva é feito em espaços, alugados em cada comunidade, com equipe reduzida. Neles, os participantes assistem às orientações da equipe pedagógica do “Fa vê-las” e das gêmeas Ferreira, por meio de um computador, conectado a uma sala de reunião virtual, prática muito comum nesse momento de isolamento social.
O livro terá uma tiragem será de 3 mil exemplares, dos quais 1,5 mil serão distribuídos gratuitamente entre escolas, bibliotecas públicas e projetos com foco em favelas e periferias. O restante será vendido na campanha Em Mãos, que visa a sustentabilidade e continuidade do trabalho.
Escrito por Rodolfo Teixeira Alves, antropólogo (UFRJ)
Este texto nasceu de uma provocação indireta. Eu já tinha assistido a série documental Da África aos EUA: uma jornada gastronômica quando vi no Instagram Joy M. Dias, pesquisadora e cozinheira preta, sugerindo uma versão brasileira, o que seria muito apropriado. No lugar de Stephen Satterfield, que protagoniza a versão estadunidense, Joy indicava Lourence Cristine Alves como apresentadora das heranças africanas e afro-brasileiras de nossa culinária. Concordei indiretamente com as sugestões, mas pensei que a função de Lourence pode ser dividida com outras pesquisadoras e pesquisadores que também se dedicam ao tema, que tratam de gastronomia e afro-brasilidades. Nomes como Aline Chermoula, Dida Nascimento (Dida Bar e Restaurante), Fernando Luiz Alves (Quilombo Cultural Urbano Casa do Nando), Dandara Batista (Afro Gourmet), e tantas outras vozes negras, que fariam com maestria uma série nossa.
Outro empurrão para este texto veio da leitura que venho fazendo do livro Uma história feita por mãos negras (2021), de Beatriz Nascimento, recém publicado pela Zahar, organizado por Alex Ratts. Trabalho primoroso, e tão necessário. O título do livro vem a calhar para este ensaio-resenha que defende uma série nossa, tal como foi feita nos EUA. Nossa, no caso, tem mais a ver com nós, população negra, e menos com a ideia de uma culinária nacional. Explico: não é para narrar a história da alimentação no Brasil dando destaque aos aspectos africanizados como contribuição cultural para algo maior, que é a “cultura brasileira”. Esse tipo de narrativa de incorporação, que fala de contribuições para algo que está no centro – nesse caso, o colonizador português –, já nos cansa. Dessas teorias lusotropicalistas que cheiram a mofo, que gastam páginas e mais páginas para falar de uma suposta empatia que os portugueses nutriam por outros povos, e que a “cultura brasileira” é reflexo disso. Isso que era novidade para alguns nos anos 1930, hoje é démodé – e tem quem ainda usa.
O audiovisual brasileiro já tratou de fazer uma série nesse enquadramento, está disponível no Prime Vídeo com o nome História da Alimentação no Brasil. O quarto episódio fala dos “temperos da panela indígena” e o oitavo é dedicado à “dieta africana”. Os outros, em geral, tratam de ingredientes, de suas origens e usos, e de algumas diferenças regionais e das comidas palacianas, em “A comida real” (episódio 10).
Uma série nossa tem que cumprir outro propósito. Em nossos termos, tem mais a ver com quem fez (e faz) a culinária afro-brasileira, com interesse nas pessoas, seus saberes e tecnologias ancestrais. A história é outra. Imagina como seria incrível uma arqueologia que trouxesse nomes históricos de personalidades negras que fizeram da comida a sua agência política; que praticaram através dela o mercar para sua emancipação, como mostra a historiadora Tâmisa Caduda; da comida como cura física e espiritual. Fizeram assim na versão estadunidense da série, dando destaque à resistência e criatividade da população negra de lá. E, aqui, isso não nos falta. Nossa série deve abordar, por exemplo, a importância que tiveram na gastronomia carioca as tias baianas da Pequena África no começo do século XX, Dona Zica no Zicartola e Vicentina na Portela, entre outros nomes. (Nesse ponto estou indicando meus interesses pessoais de pesquisa, que fique claro).
Dos filmes que eu conheço, o mais perto que chegamos disso foi o episódio sobre a culinária brasileira na série Street Food: América Latina, de David Gelb, também disponível na Netflix. Elegeram a cidade de Salvador como representante do Brasil, mostrando uma culinária genuinamente negra, como experimentamos e sabemos desde os trabalhos de Manuel Querino. Foi por esse documentário que passei a conhecer dona Suzana e sua moqueca, e o Kabaça com a sua feijoada, pratos que fiz questão de provar quando estive em Salvador, fevereiro deste ano. Pratos que falam mais da trajetória de vida desses chefes de cozinha do que da biografia social dos alimentos que eles usam. Se são ingredientes “do reino”, do “continente” ou “da terra”, se provêm das “grandes navegações” portuguesas… essa jornada sonolenta pela exatidão de suas origens (que tanto atrai parte dos interessados no assunto), parece importar menos.
As diferenças entre as séries Da África aos EUA: uma jornada gastronômica e História da Alimentação no Brasil explicam algumas coisas. O que esses documentários têm em comum é que ambos derivam de um livro. E é aqui que entra o trabalho de Beatriz Nascimento que falei anteriormente. Da África aos EUA: uma jornada gastronômica é a tradução para a português de High on the Hog: How African American Cuisine Transformed America. Seu título original faz menção direta à obra de base, que é o livro High on the Hog: A culinary journey from Africa to America, de Jessica S. Harris. Já o documentário brasileiro tem o título homônimo do livro de Câmara Cascudo. Assim, como cada série expressa os recortes teóricos do livro de referência, as diferenças entre eles aparecem no plano político e epistemológico. São essas diferenças que me levam a defender a necessidade de uma versão brasileira com o nome Das Áfricas ao Brasil. No plural mesmo, para marcar as diásporas africanas por aqui e para falar de trânsitos de saberes que não se limitam à escravidão.
Beatriz Nascimento dedicou muitas linhas de seus escritos para criticar o pensamento social de sua época, em especial aquele ancorado no lusotropicalismo de Gilberto Freyre, onde se enquadra a obra de Câmara Cascudo. De maneira arguta, às vezes sarcástica, Beatriz Nascimento mostrou que parte de seus contemporâneos da intelectualidade branca, reforçaram perspectivas racistas sobre a história e formação social do Brasil. A escrita dessa história foi feita por mãos brancas, ela defende, que relegou ao negro, através da ideologia da “democracia racial” e do inclusivismo retórico, a posição de contribuinte cultural, à revelia degradação escravista. É uma história branca conforme tem a branquitude como pressuposto, por desconsiderar a violência colonial como mediação das relações que as teses mistificadoras, de orientação lusotropicalista, insistem em representar como complacentes. Por isso a importância de uma história escrita por mãos negras, baseada nas vivências da população negra, como uma reescrita da história brasileira. E como nosso tema aqui é comida, devo dizer que também a história social da alimentação no Brasil carece de ser reescrita. Atualmente tem muita gente se dedicando a isso. Listei alguns nomes acima.
Suponho que essa reescrita apresenta coisas novas (e boas) conforme traz outras epistemologias, quando insere sensibilidades decolonizadas para contestar, com a escrita de si, narrativas como de Câmara Cascudo em seu livro História da Alimentação no Brasil. São outros enquadramentos, portanto. Visam superar as narrativas que apresentam o africano e o indígena como sujeitos totais e mumificados, felizes com a missão de contribuir culturalmente, baseadas na ideia de um iberismo absorvente de fundo.
Enfim, nossa série fala das diásporas africanas no seu aspecto alimentar no Brasil, tendo o cuidado para não cair nas armadilhas epistemológicas do inclusivismo retórico da formação da cultura brasileira de perspectiva lusotropicalista. Uma série de reescrita, feita por mãos negras, com outras sensibilidades pressupostas. Que trata a culinária negra em termos de agência política, e fala da cozinha como espaço de organização e exercício contra-colonial. Perspectiva que obviamente seria muito diferente das representações do escravizado dócil, que desconsidera nosso histórico de revoltas. Estariam em jogo outras sensibilidades e epistemologias, como vem fazendo pesquisadoras e pesquisadores atualmente, que, aos poucos, reescrevem e fazem a história social da alimentação no Brasil sob outros parâmetros conceituais.
O livro de Jessica S. Harris começa com a autora se apresentando: “I am an African American” [Eu sou afro-americana]. E isso já diz muito. Uma história feita por mãos negras. Que nossa série siga esses termos, que fale, pela comida, de pessoas e movimentos políticos e culturais da população negra no Brasil. Que aborde os trânsitos contínuos de saberes e não reduza a ancestralidade africana como algo do passado. A mudança é o deslocamento epistemológico feito por uma narrativa sensível, como Beatriz Nascimento – “Eu sou preta, penso e sinto assim” – diz em seu texto “Por uma história do homem negro”, que compõe o livro já citado.
Enquanto a Netflix não se atenta para a necessidade de financiar uma série nossa, seguimos com os nossos trabalhos. Enquanto Lourence não assume a função atribuída, nos contentamos com os espaços onde tratamos dos saberes da nossa gastronomia afrocentrada. É por isso que eu deixo aqui, para concluir, o convite para o painel temático “Alimentação: saberes e tecnologias ancestrais africanas e afro-brasileiras” que vai acontecer no Festival do Conhecimento da UFRJ, na próxima quinta-feira, 15 de julho, às 11:30, no espaço virtual do evento. Convidei Aline Chermoula, Lourence Cristine Alves e Tâmisa Marques Caduda para um bate papo, essas que são as possíveis narradoras de nossa série documental, que necessita ser produzida. Alô, Netflix!
Rodolfo Teixeira Alves, sou antropólogo (UFRJ) e desenvolvo atualmente o projeto de pesquisa “Alimentação e cidade: circuitos de restaurantes afros no Rio de Janeiro”.
Após o sucesso estrondoso de Bridgerton, a Netflix e a produtora Shonda Rhimes vão expandir sua relação de conteúdos criativos. Esta parceria expandida servirá como oportunidade para a Netflix e a Shondaland Media produzirem, transmitirem em streaming e distribuírem exclusivamente filmes e potenciais conteúdos em formato de videojogos e realidade virtual.
Um elemento integral do acordo geral é o compromisso da Netflix em investir e fornecer uma infraestrutura financeira e técnica para apoiar a missão da Shondaland para criar programas de diversidade, equidade, inclusão e acessibilidade que fomentem a representação na indústria para grupos sub-representados, tanto nos EUA como no Reino Unido. Mais detalhes ainda serão anunciados.
“Ted Sarandos, Bela Bajaria e toda a equipe da Netflix têm sido parceiros incríveis ao longo de todo o processo, apoiando a minha visão criativa e dando mostras de uma dedicação incansável à inovação que fez da Netflix o que a empresa é hoje. Eu e a equipe da Shondaland estamos felizes e muito entusiasmadas por expandir a relação com os nossos parceiros de conteúdos da Netflix”, disse Shonda.
Inspirada na série de best-sellers de Julia Quinn, Bridgerton, da Shondaland, quebrou recordes na Netflix, sendo visualizada por 82 milhões de famílias de todo o mundo nos primeiros 28 dias. A Shondaland estabeleceu, assim, uma nova série global através do género do romance, tão menosprezado em tempos e agora bem conhecido dos espetadores.
A segunda temporada de Bridgerton está em produção, com estreia prevista para 2022. A Netflix já renovou a série para mais duas temporadas e já foi anunciado que o universo Bridgerton será expandido com uma nova minissérie baseada nas origens da Rainha Carlota. Embora a série se centre na ascensão da jovem rainha, vai também contar a história da jovem Violet Bridgerton e de Lady Danbury. Shonda Rhimes vai escrever a série e será produtora executiva, juntamente com Betsy Beers e Tom Verica. O título oficial e outros detalhes ainda não foram anunciados.
O filme “Doutor Gama”, inspirado na história do primeiro homem negro a se tornar advogado no Brasil, Luiz Gama, tem estreia prevista para 29 de julho e tem direção do conceituado Jeferson De, que busca evidenciar a história deste nome para um Brasil que tenta apagar sua trajetória.
Falando sobre a história deste advogado, jornalista, abolicionista e escritor, o longa retrata a historia de vida de Luiz, que alforriou, por vias judiciais, centenas de vítimas da escravidão. Fazendo o uso das leis com conhecimento e precisão. Obteve uma provisão para advogar, pois mesmo sem ter frequentado o ensino superior, provou ter todos os conhecimentos necessários de sobra.
Sua missão era libertar e garantir o direito de pessoas em condições de escravidão – seus irmãos desvalidos como costumava dizer -, e exigir que as leis existentes no país fossem aplicadas e isso será mostrado no filme “Doutor Gama”.
Pensando na responsabilidade de interpretar um personagem tão importante na história do país, o ator César Mello conversou exclusivamente com o Mundo Negro e falou um pouco mais sobre os desafios em interpretá-lo.
Em seu elenco, estará também César Mello, Teka Romualdo, Johnny Massaro, Mariana Nunes, Romeu Evaristo, Sidney Santiago, Dani Ornellas, Erom Cordeiro, Nelson Baskerville, e participação especial de Zezé Motta e Isabél Zuaa.
1-Como foi receber o convite para interpretar Luiz Gama?
Eu fiz teste pro personagem Santos, que nosso incrível Romeu Evaristo interpreta no filme. Depois de um tempo me chamaram para um novo teste, dessa vez para o Luiz Gama, quando me mandaram o texto eu li, fiquei super empolgado, achei que era uma chance incrível e me dediquei muito. Decorei o texto e fiz uma self-tape na sala da minha casa e enviei para a produção do filme. Depois de alguns dias fui chamado pra uma reunião com o Jeferson De na produtora dele. Conversamos bastante, ele me recebeu muito bem, falamos sobre o roteiro, como ele gostaria de conduzir o filme, carreira, amizades. Nunca vou me esquecer que num determinado momento da conversa ele me olhou e disse sorrindo – você é o nosso Gama – então nos abraçamos. Eu me lembro que fiquei muito emocionado. Foi um daqueles momentos em que você perde o chão, o tempo pára e sua história faz sentido.
Receber um convite para interpretar um herói negro é como um sonho de infância que você nem sabia que tinha. Eu não conheci Gama na minha infância porque Gama e sua história foi propositalmente apagada, sua vida não estava nos meus livros didáticos, mas eu tenho certeza que se eu tivesse lido sobre esse homem e sua grandeza, seu legado e sua história, se alguma de minhas professoras tivesse me contado a biografia desse herói admirável, eu teria sonhado ser ele.
Gama é a personificação do personagem que eu sempre quis fazer.
2- Quais os desafios em dar vida ao personagem e como fez essa construção?
Bem, muitos desafios, o primeiro e muito importante é que Gama era um homem justo num mundo injusto e carregava nas costas o peso da responsabilidade de provocar mudanças no mundo. A São Paulo de sua época não tinha transporte público, as roupas não eram muito confortáveis, andava-se muito, então trabalhamos muito esse estado de alma incansável no corpo de um mortal, como isso afeta o olhar, sua energia, seu coração, sua vida.
Outro desafio foi o fato de Gama ser conhecido como excelente orador, ele tinha o dom da palavra, sabia se comunicar muito bem, era um exímio advogado então eu sabia que isso era uma coisa que mereceria a minha dedicação. Pra me conectar com essa sua inteligência verbal eu lia seus textos em voz alta por horas e horas, até cheguei a decorar muitos trechos, eu queria captar a maneira que Gama pensava, sua lógica, como ele construía seus textos e como provavelmente desenvolvia isso nos tribunais. Isso foi muito importante porque me deu muitos elementos que utilizei em cena.
Trabalhamos sua intimidade com sua esposa Claudina, Gama era poeta e deixamos isso transbordar nos ensaios que tive com Mariana Nunes, foi um momento muito importante na construção desse personagem porque me deu um pouco da dimensão íntima desse homem.
Enfim, eu sempre soube que os desafios seriam imensos e muitos, tentei trabalhar um a um agrupando-os e deixando me tocar por eles. As cenas eram difíceis e tentei enfrentar uma de cada vez . Foi um trabalho árduo mas inesquecível.
Imagem: Pedro-Iglesias
3- Por que acha importante levar a história de Luiz Gama ao conhecimento das pessoas?
Primeiro porque foi uma história propositalmente apagada, Gama era uma força vital e poderosa, não aceitou a sociedade desumana da qual fazia parte, não aceitou a lei sendo válida para poucos em benefício de uma classe corrupta e escravocrata, nunca baixou a cabeça, enfrentava juízes, advogados, donos de escravos em longas discussões, debates, textos, cartas, publicações, charges, ele era incansável.
Também é muito importante contar essa história porque Gama sempre foi o exemplo do homem negro que a sociedade brasileira escondeu, era negro, bonito, inteligente e competente, bom pai, esposo e o Brasil sempre evidenciou o escravo cabisbaixo e obediente, o negro vadio, o preto mal vestido e intelectualmente pobre, evidenciou a Lei Aurea como um presente branco aos pretos impassíveis, ou seja, o Brasil sempre vendeu uma mentira. A Luta negra pelo fim da escravidão foi incansável e determinante para o fim da mesma, e quem era uma das vozes mais poderosas de sua época gritando nos tribunais pelo fim da escravidão? Gama. Numa época em que desembarcar navios negreiros no Brasil já era ilegal pela lei de 1831 e que mesmo assim continuava, quem foi o cara inteligentíssimo que usou essa mesma lei pra libertar centenas e centenas de escravos? Luiz Gama.
Por isso é importante contar essa história. Ele é importantíssimo, seus textos continuam atuais, sua voz pedindo justiça continua atual, ele é um exemplo da contribuição intelectual negra no Brasil, ele é exemplo a ser seguido nesse país injusto, corrupto, com governantes atrasados e mal intencionados. Gama é necessário nesse pais pra influenciar milhões de jovens negros e periféricos que precisam muito de referência de força, inteligência e senso de justiça.
4- Qual a expectativa com o lançamento?
Acho que estou ansioso para compartilhar essa história com as pessoas, estou ansioso para que enfim essa história exista para o público. Estou ansioso para ver os atores, assistir o filme com eles, com o Jeferson, com a equipe toda.
Espero que esse filme chegue para todo mundo, todos nós temos alguma coisa a aprender com esse personagem, algo a aprender revisitando nossa história. Que ele nos inspire a seguir em frente, a nos unir contra as injustiças, a sermos um só povo quando o assunto for atraso e corrupção. Gama vive.
O ator Babu Santana estreou nesta segunda-feira (12) o quadro “Babu 90” em seu Instagram com foco em bem estar. A ideia do projeto é mostrar um pouco da rotina de trabalho do carioca e como ele tem se cuidado desde que descobriu o seu quadro de diabetes. Uma das metas do ator é chegar aos 96 kgs.
“Nosso corpo deve ser celebrado. E a ideia deste projeto é justamente mostrar como podemos nos sentir melhores com exercícios, bem como isso reflete em nossa saúde física e emocional, gerando também um impacto na autoestima. Devemos lembrar que nosso corpo é morada, é o lugar que habitamos 24 horas. Isso preciso de afeto e cuidado”, declarou o ator.
A meta do quadro será misturar entretenimento, conhecimento e saúde, Babu Santana trará sempre uma novidade em cada um dos quadros. Ou seja, além do foco em sua saúde, “Babu 90” também terá conteúdos sobre a rotina de ator, viagens, a relação com os filhos e, claro, o foco no emagrecimento.
“Toda segunda-feira eu vou compartilhar com vcs esse diário de emagrecimento saudável. Eu quero chegar aos meus 96 em 6 MESES! E claro, estou fazendo tudo isso com acompanhamento de profissionais da área.” Disse o ator, após compartilhar seu primeiro vídeo do projeto em forma de igtv.