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“Quem é o repórter?” jornalista da CNN alega ter sido alvo de racismo no clube Pinheiros

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Foto: Reprodução/CNN

No último domingo (21) Jairo Nascimento, repórter da CNN Brasil disse na TV que foi vítima de racismo quando realizava uma reportagem no clube Pinheiros, em São Paulo.

De acordo com a emissora, o repórter realizaria uma matéria falando sobre as condições dos atletas olímpicos durante a pandemia da covid-19, mas após o episódio, a matéria foi cancelada e um boletim de ocorrência foi registrado.

O presidente do clube, Ivan Castaldi Filho, disse a CNN que apura todas as denúncias recebidas e que eventuais desvios de conduta são corrigidos.

O repórter Jairo Nascimento contou que a equipe já estava identificada no Pinheiros, preparada para a gravação da matéria, quando foi abordada por uma diretora que questionou quem seria o repórter:

“Quem é o repórter?”. perguntou a diretora “Eu sou repórter”, respondeu Jairo. Segundo o jornalista, a diretora do clube  desconfiou dele e da sua posição. Além desse episódio, a diretora identificada como Ana Paula e um diretor identificado como Fábio questionaram a isenção e temiam reportagem tendenciosa.

O ocorrido foi levado à direção da CNN Brasil, que optou por cancelar a matéria que faria sobre a situação de atletas durante a pandemia do coronavírus. O caso ocorreu no mês passado, mas a denúncia foi ao conhecimento do público somente neste domingo.

“O preconceito é um mal que afeta o mundo inteiro, uma doença que a sociedade deve erradicar urgentemente. Precisamos viver muito atentos para identificar atitudes e ações que possam ter um lado de discriminação. Sempre foi assim com o clube Pinheiros. Somos uma instituição inclusiva”, afirmou o presidente Ivan Castaldi Filho  em um vídeo enviado ao UOL

Ivan disse ainda que toda a equipe trabalha diariamente para que todos tenham o mesmo tratamento:

“A equipe de diretores do clube, especialmente os times de governantes e comunicação, trabalham todos os dias para garantir que no Pinheiros todas as pessoas tenham o mesmo tratamento, o mesmo cuidado e as mesmas oportunidades. Por isso apuramos todas as denúncias que recebemos e corrigimos na hora qualquer desvio de conduta”.

O caso foi exibido no Dia Internacional de Combate ao Racismo e a emissora afirmou que lamenta o episódio, disse que “discriminação racial é crime” e que “infelizmente esse crime ainda está acontecendo”

Em nota enviada ao UOL a emissora repudiou o crime e saiu em defesa da equipe “A CNN Brasil não tolera e sempre denunciará qualquer tipo de discriminação. Também estará sempre ao lado de sua equipe prestando o apoio necessário para o exercício profissional do jornalismo”.

“Já aconteceram diversas vezes comigo. Obviamente nem todas viraram reportagens. Já é segunda vez desde quando comecei a trabalhar na CNN. Mas com o tempo a gente vai aprendendo, criando casca e aprendendo a dar resposta adequada”, afirmou ele ao UOL, por telefone.

Segundo a UOL Jairo Nascimento disse que registrou o boletim de ocorrência, quer aguardar o caminhar do processo, mas avisa que não tem interesse em abrir processo cível.

Não é a primeira vez que o clube Pinheiros é acusado de racismo, outro caso muito conhecido foi o do ginasta Ângelo Assumpção, que após ser vítima de racismo pelo colega de trabalho Arthur Nory, foi demitido logo após denunciar o caso a diretoria.

Informações: UOL

O que fez da data 21/3 o Dia Internacional de Combate à Discriminação Racial?

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O que fez da data 21/3 o Dia Internacional de Combate à Discriminação Racial?

Nesta data, no ano de 1960, ocorreu o Massacre de Sharpeville: pessoas negras marcharam pacificamente em direção à delegacia do bairro Sharpeville, periferia na África do Sul, protestando contra a Lei do Passe. Os policiais abriram fogo, e, dentre cerca de 5000 pessoas que protestavam na township (periferias racialmente segregadas), 69 foram assassinadas e 186 ficaram feridas.

O que foi apartheid?

Apartheid era a ideologia apoiada pelo Partido Nacional (composto por parlamentares branco) e foi implantado na África do Sul em 1948, exigindo o desenvolvimento separado dos diferentes grupos étnicos na África do Sul. Durante este sistema, todo tipo de relacionamento inter-racial foi proibido, da amizade ao casamento. Tal segregação já existia em território sul-africano, mas, com o apartheid, passou a ser lei.

São apontadas como as principais razões para a criação deste sistema as ideias de superioridade racial e medo da minoria branca. Em todo o mundo, o racismo é influenciado pela ideia de que uma raça deve ser superior a outra, mas a população branca local se preocupava com acesso a emprego e preservação de sua cultura.

Leis do apartheid

Book review: Selling Apartheid – South Africa's Global Propaganda War

Diversas leis foram aprovadas durante o apartheid:

Lei de proibição de casamento interracial – implatada em 1949, proibia o casamento entre europeus e não-europeus, com o objetivo de evitar que pessoas brancas se relacionassem com outras etnias. Não apenas os casais seriam punidos, mas quem oficializasse a união também.

Lei de Registro da População – implantada em 1950, esta lei era a base do apartheid, onde exigia que as pessoas fossem registradas de acordo com seu grupo racial: brancas, negras, coloured (birracial), indianas e asiáticas, e seriam então tratadas de maneira diferente de acordo com seu grupo populacional.

Lei das Áreas – Também implantada em 1950, este foi o ato que deu início à separação física entre raças, especialmente em áreas urbanas. A lei também pediu a remoção de algumas pessoas para as áreas reservadas para seu grupo racial. Limitava os negros a 72 horas em uma área urbana sem permissão de um representante municipal específico. Dois anos depois, em 1953, foi instituída a Lei de Reserva de Comodidades Separadas, permitindo que os locais, veículos e serviços públicos fossem separados por etnia.

Lei dos Nativos (Abolição de Passes – obrigatórios a toda população negra escravizada ou trabalhadora desde 1709 e Coordenação de Documentos) foi implantada em 1952: forçava os negros sul-africanos a portar uma série de documentos, incluindo uma fotografia, local de nascimento, registros de emprego, pagamentos de impostos e registros criminais, e permitiu ao governo restringir ainda mais seus movimentos. Era ilegal ficar sem um passe, cuja pena era detenção e prisão. Em 1956, através da Proibição de Interditos, removeu todos os recursos legais para contestar a remoção de negros de certas áreas residenciais.

Lei de Promoção do Autogoverno Bantu (como eram chamados os negros) – Em 1959, esta lei dizia que diferentes grupos raciais tinham que viver em áreas diferentes. Apenas uma pequena porcentagem da África do Sul foi deixada para que os negros formassem sua “pátria”, sendo que os negros constituíam a grande maioria da população). Essa lei também eliminou os “pontos negros” das áreas brancas, removendo todas as pessoas negras da cidade e colocando-as em distritos fora da cidade. Eles não podiam possuir propriedade, apenas alugá-la, pois a terra só poderia ser propriedade de brancos. As pessoas negras perderam suas casas, foram removidas de terras que possuíam por muitos anos e foram transferidas para áreas não desenvolvidas, longe de seus locais de trabalho.

Resistência antes de 1960

A resistência ao apartheid veio de todos os núcleos, e não apenas, como muitas vezes se presume, daqueles que sofreram os efeitos negativos da discriminação. As críticas também vieram de outros países, e alguns deles deram apoio aos movimentos de liberdade sul-africanos.

Algumas das organizações mais importantes envolvidas na luta pela libertação foram o Congresso Nacional Africano, Congresso Pan-africanista e o Movimento da Consciência Negra. A história da revolução nacional de resistência ao apartheid passa por três fases: o diálogo e a petição; oposição direta e luta armada exilada. 

African National Congress - Wikipedia
Símbolo do Congresso Nacional Africano

Em 1949, logo após a implantação do apartheid, iniciou um caminho mais militante, com a Liga Juvenil desempenhando um papel mais importante. O Congresso Nacional Africano apresentou seu Programa de Ação em 1949, apoiando greves, protestos e outras formas de resistência não violenta. Nelson Mandela, em 1952, tornou-se vice-presidente do congresso. Neste mesmo ano, foi iniciada a Campanha de Desafio, convocando as pessoas a violar propositalmente as leis do apartheid e se apresentarem para serem presas. Esperava-se que o aumento de prisioneiros causasse o colapso do sistema e obtivesse apoio internacional. Pessoas negras entraram em “ônibus brancos”, usavam “banheiros brancos”, entravam em “áreas brancas” e se recusavam a usar passes. 

Em 9 de agosto de 1956, cerca de 20.000 mulheres marcharam para o Union Buildings, onde fica o escritório presidencial, em Pretória, com uma petição contendo mais de 100.000 assinaturas contra a Lei do Passe. Esta data ficou definida como o Dia Nacional da Mulher.

Marchas em 21 de março de 1960

As marchas não ocorreram apenas no bairro de Sharpeville, diversas outras cidades mobilizaram suas periferias, como Soweto e Langa, por exemplo, sendo esta segunda localizada na Cidade do Cabo, onde 3 pessoas foram assassinadas pela polícia e 26 ficaram feridas durante o protesto pacífico.

O então presidente do Congresso Nacional Africano, Alberto Luthuli, que já havia sido banido por seus atos anti-apartheid, ainda estava sob punição quando queimou publicamente seu passe e foi preso. Mas, logo após as marchas em 1961, tornou-se a primeira pessoa negra do continente africano a ganhar o Prêmio Nobel da Paz.

Após o massacre de Sharpeville, Mandela ajudou a organizar um ramo paramilitar do congresso para se engajar na guerrilha contra o governo de minoria branca. Em 1961, ele foi preso por traição e, embora absolvido, foi preso novamente, em 1962, por deixar ilegalmente o país. Condenado e sentenciado a cinco anos na prisão de Robben Island, foi levado a julgamento novamente em 1964 sob a acusação de sabotagem, sendo condenado, junto com vários outros líderes do Congresso Nacional Africano, e sentenciado à prisão perpétua.

Declínio do Apartheid

Nelson Mandela addresses a rally of more than 100,000 people at Soccer City Stadium in Johannesburg, South Africa, on Feb. 13, 1990, two days after leaving prison.
Nelson Mandela

Em 1989, De Klerk tornou-se presidente da África do Sul e começou a desmantelar o apartheid, suspendendo a proibição do Congresso Nacional Africano, as execuções e, em fevereiro de 1990, ordenou a libertação de Nelson Mandela.

Posteriormente, Mandela liderou o congresso nas negociações com o governo minoritário (branco) para o fim do apartheid e o estabelecimento de um governo multirracial. Em 1993, Mandela e de Klerk receberam conjuntamente o Prêmio Nobel da Paz, e, no ano seguinte, o congresso obteve maioria eleitoral nas primeiras eleições livres do país, quando Nelson Mandela foi eleito presidente da África do Sul. Em 1995, definiu 21 de março como Dia da Marcha pelos Direitos Humanos.

21 de março em tempos de pandemia

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Divulgação - Isabel Cintra

A verdade é que falaremos por muito tempo ainda sobre os problemas resultantes do preconceito e da discriminação racial, sobretudo nas datas que marcaram historicamente a vida do negro brasileiro e no mundo todo.

A ideia para o texto de hoje era outra. Queria trazer um pouco das minhas lembranças de criança como ajudante de cozinha da minha mãe, e como hoje estes temperos e sabores do interior paulista se refletem e compactuam na cultura da afetividade entre minhas filhas e eu.

No entanto, enquanto escrevia, me atentei ao calendário e vi, com uma surpresa inevitável (os dias estão voando!) a data que se aproximava.

O Dia 21 de Março – Dia Internacional contra a Discriminação Racial foi criado pela ONU – Organização das Nações Unidas, – com o objetivo de associá-lo à lembrança do Massacre de Shaperville. Na data, tropas do exército de Joanesburgo, capital da Africa do Sul, atirou sobre uma multidão de manifestantes matando 69 pessoas e ferindo outras 186.

A manifestação contava com cerca de 20 mil negros que protestavam contra a lei do passe, que lhes impunha trazer cartões de identificação que especificassem as áreas por onde eles deviam transitar.

Qualquer pessoa que viva na realidade sabe o quanto o racismo ainda se faz presente todos os dias, e de forma velada ou não contra a população negra. Sobretudo neste contexto em tempos de pandemia.

Sendo assim, eu decidi trazer a reflexão de que num momento em que grande parte da população mundial está doente em casa ou nos hospitais, o preconceito e a discriminação racial resultam em problemas que vão além da cor da pele: a nossa saúde mental.

É pensar a todo o momento, e mesmo em meio a esse caos, criar mecanismos para que a nossa autoestima não seja diminuída e, assim, conseguir controlar nossas emoções mantendo a nossa estabilidade mental.

Na falta de certezas e inundados diariamente com notícias alarmantes que nos fazem sentir vontade de gritar de desespero e impotência, não nos esqueçamos jamais de olhar para a história dos nossos antepassados e concluirmos que, apesar de tudo, estamos aqui e o plano é seguir avançando.

Esse pensamento é de grande valor e nos serve de força para o enfrentamento do dia a dia, como uma memória que tenho da minha avó que se chamava Maria Isabel. Ela nasceu em 1902.

Alguém que nasceu naquele ano e negra certamente teve muitas histórias para contar. Uma vez me contou que, quando ainda era menina, trabalhava numa casa onde não lhe davam comida e a proibiam de trazer de casa por não gostarem dos “cheiros” da comida dos pretos.

Ela, para aliviar a fome quando o estômago doía, trazia nos bolsos do vestido pequenos palitos de cana-de-açucar. “Era assim que eu adoçava aqueles dias amargos”, lembrava ela.

Esse depoimento da minha avó nunca saiu da minha cabeça e sempre que me vem essa lembrança eu lacrimejo e tento trazer esse exemplo de valentia para a vida.

Com o tempo, podemos encarar a mudança de rotina imposta pela quarentena, como mais uma entre as situações difíceis que já enfrentamos.

E neste dia 21 de março, ainda que estejamos confinados e sem saber quando isto acaba, guardemos no coração a força e a coragem dos que já passaram por aqui antes e lutaram por nós.

Projeto de letramento racial para professores da rede pública de SP é lançado pelo ID_BR

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Google/Reprodução

Até o dia 28 de março, professores, diretores, coordenadores e supervisores que atuam em escolas públicas (municipal, estadual e federal) no estado de São Paulo poderão se inscrever para participar do projeto que pretende auxiliar profissionais da rede pública de ensino do estado de São Paulo no desenvolvimento de ações sobre diversidade e inclusão. 

Serão disponibilizadas 60 vagas e o resultado final será divulgado nas redes sociais do ID_BR, no dia 31 de março pelo link http://simaigualdaderacial.eadbox.com/courses/ead-abc-da-raca-para-escolas

O “Professores pelo Sim à Igualdade Racial” terá duração de cinco horas e oferecerá um workshop de formação e capacitação voltado para a aplicação de ações práticas em sala de aula e gerenciamento de situações racistas vivenciadas diariamente no ambiente escolar. Além disso, os participantes também terão acesso ao curso de formação online ‘ABC da Raça para Escolas’, desenvolvido pelo ID_BR.

“Para garantirmos uma sociedade melhor e mais equânime no futuro, é fundamental garantir uma educação antirracista desde a base educacional até o ambiente corporativo. As escolas têm um papel essencial como um espaço de socialização, experiências, descobertas, transmissão e troca de conhecimentos”, conta Luana Genot, Fundadora e Diretora-Executiva do ID_BR. 

O Instituto Identidades do Brasil (ID_BR) acredita que mais do que dizer não ao racismo, é preciso dizer sim à igualdade racial. Por isso, tem como uma de suas principais missões a de disseminar o conhecimento por meio do letramento racial e da educação antirracista. Como parte desse objetivo, o ID_BR está lançando esta semana o ‘Professores pelo Sim à Igualdade Racial’.

Quando é que o afeto chega para nós, mulheres negras?

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Imagem: Instagram/Reprodução

Há um tempo atrás me deparei com um desabafo no Twitter que falava sobre a dor de mulheres pretas que nunca estiveram em um relacionamento. O assunto em questão, me acertou como um soco no estômago e, até hoje, eu sinto meu peito se fechando sempre que reflito o quanto este assunto está presente na vida de inúmeras mulheres negras, inclusive na minha.

Vejam só: Eu sou uma mulher negra e gorda, no auge dos meus 24 anos, que nunca esteve em um relacionamento sério. Assumir esta posição é o mesmo que divulgar os meus segredos mais íntimos em praça pública. O sentimento é de vergonha, decepção e, principalmente, culpa.

Por muitos anos, até entrar na faculdade, eu sempre achei que o problema fosse comigo, entende? Sei lá, talvez eu fosse feia demais, grande demais, desajeitada demais ou negra demais! Uma vida inteira tentando me encaixar dentro de um padrão inatingível onde o sistema racista escracha nossas diferenças todos os dias.

Ainda na adolescência, me lembro de nutrir um amor incondicional pelas comédias românticas dos anos 90. Julia Roberts, Sandra Bullock e todas as musas dos filmes antigos que fizeram crescer em mim uma obsessão em ser amada. Eu sempre tive a certeza que, em algum momento, a pessoa certa, o meu eleito, o escolhido que me amaria com todos meus defeitos, iria aparecer e nós teríamos o nosso “felizes para sempre”.

O problema é que este enredo perfeito não fecha quando você é uma mulher negra. Aos 16, eu vi minhas colegas da igreja começarem a namorar. Aos 20 praticamente todas as minhas conhecidas da escola já estavam casadas e com filhos. E agora, aos 24, vejo algumas das minhas amigas de faculdade iniciarem o projeto “noiva do ano”.

Só que no meu caso, o tal eleito não apareceu e os que chegaram nesse meio tempo nunca nem mesmo cogitaram me assumir – mesmo que logo depois eles surgissem namorando outra pessoa.

Nos últimos anos, o realmente me ajudou foi começar o meu processo de autoconhecimento. Compreender que a solidão da mulher negra é uma problemática real, presente na vida de muitas mulheres pretas, me na hora de não aceitar migalhas e cair em ciladas.

Digo isso porque nós, mulheres negras, que não estamos acostumadas a receber afeto, estamos sempre caindo na cilada do meio amor, do meio carinho e do meio relacionamento. Muitas vezes, a gente acaba aceitando o amor ruim por medo de não receber nenhum tipo de amor. E pior, às vezes, o relacionamento acontece somente na nossa cabeça com a esperança de que se estenda no coração do outro.

Hoje, no auge do meu autoconhecimento, consigo enxergar que o envolvimento que me permiti ter com algumas pessoas foi apenas por medo de não vivenciar nenhuma experiência. Em nenhuma das vezes, eu tive absoluta certeza ou me senti completamente desejada.

Muitas das vezes, eu só queria ter algo para contar na roda de amigas, já que nos primeiros anos da adolescência e vida adulta eu era apenas a pessoa que podia ouvir o que elas compartilhavam.

E infelizmente, se você é uma mulher negra em uma roda de amigas brancas, em algum momento você vai se deparar com as seguintes frases: tudo tem seu tempo, miga. mas relacionamento nem é tudo isso, viu? você tem sorte de estar solteira.

E eu sei que você vai se sentir como se ninguém mais entendesse a sua dor no mundo, mas olha, você não está sozinha! Estou aqui para te dizer que nesta vida, enquanto mulher negra, algumas dores a gente só divide com outra mulher negra.

Mas, por favor, entenda que não há nada de errado com você. Se estar solteira até hoje, significa não aceitar amores pela metade, que você possa continuar sendo inteira sozinha. Você nasceu digna de receber todo o amor que merece e todo afeto que necessita. A libertação vem quando você, eu e todas nós, mulheres negras, entendemos que não podemos nos contentar com a margem quando merecemos um oceano inteiro.

“Pretos na fotografia”: Festival ‘photothings’ recebe inscrições até 21 de março

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Imagem: Divulgação

Com a proposta de estimular a produção fotográfica nacional e valorizar as diversas formas de inserir a imagem no cotidiano das pessoas, o festival ‘photothings’ é dedicado aos artistas visuais que tenham a fotografia como suporte para o seu trabalho. 

Pensando na responsabilidade em se ter uma equipe mais diversa, está reunido nesse ano a Luciara Ribeiro, Renata Felinto, André Pitol, Deri Andrade, Tiago Santana e Nego Júnior para integrar a equipe do Festival, e potencializar as atividades com olhares direcionados a cultura preta e periférica. É a primeira vez que estes profissionais, da fotografia e das artes, trabalham juntos e enriquecem o time de um projeto de fotografia. 

Para o fotógrafo e participante dos Diálogos Phothothings, Nego Júnior, é de extrema importância que as estruturas se preocupem e possibilitem que negros alcancem estes espaços. “A presença de gente preta no Photothings traz novos olhares e consequentemente abordagens inéditas, não está próximo do ideal, mas se mostra acurado ao assunto”, disse.

Idealizado pela curadora e pesquisadora de fotografia Marly Porto, o Photothings tem por missão trazer oportunidades para os artistas sem representação comercial apresentarem seus trabalhos diretamente ao público, conectando artistas e público num local onde a imagem possa se mostrar e ser vista.

As inscrições para os fotógrafos interessados estão abertas até o dia 21 de março. Eles devem enviar um ensaio fotográfico, formados por no mínimo seis e no máximo 12 imagens. Os ensaios submetidos, por meio de inscrição online e gratuita, não precisam ser inéditos. As fotografias, quando reunidas, precisam estabelecer um diálogo, criar uma narrativa, expressar o sentimento do candidato sobre o tema de sua escolha.

Link para inscrição e outras informações aqui.

O júri formado por representantes da classe artística nacional e internacional selecionará 20 ensaios fotográficos que serão expostos em uma exposição virtual, desenvolvida pela artista Luisa Puterman. Com lançamento previsto para o dia 27 de abril, a exposição poderá ser vista no site e redes sociais do festival photothings e na galeria virtual do Metrô de São Paulo, empresa que apoia o projeto.

Entre os 20 artistas selecionados, 10 serão contemplados com a produção de um fotolivro autoral, produzido pela Porto de Cultura, editado pela Grão Editora e impresso na Ipsis Pro. E ainda uma caixa portfólio, 100% artesanal, contendo ampliações fotográficas de seu trabalho, impressas com tinta de pigmento natural sobre papel Hahnemühle Photo Rag 308 gsm.

Da África para o Brasil: descubra os benefícios do cuscuz em 3 receitas inovadoras e deliciosas

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Imagem: Aline chermoula

A Chef Aline Chermoula fez um pesquisa e nos apresenta algumas receitas de cuscuz preparadas pelo Brasil e até fora dele. O cuscuz é um alimento bastante conhecido e consumido no Brasil cada região traz sua variante com suas influências locais.

Saboroso e nutritivo, o quitute também é bastante versátil, uma vez que pode acompanhar diversos ingredientes, desde carne vermelha a leite. Tudo depende da preferência e do objetivo de cada um. A base do cuscuz é o flocos de milho, cereal rico em carboidratos complexos, fibras, vitaminas A e B1 e ácido fólico. O cuscuz também pode ser inserido no cardápio daqueles que desejam emagrecer e ganhar massa magra.

Benefícios do cuscuz:

Os carboidratos complexos presentes no cuscuz são fonte de energia; as vitaminas A e B1 auxiliam nos impulsos nervosos e na regeneração celular; já o ácido fólico ajuda a prevenir as doenças cardíacas. Outros nutrientes importantes são a proteína, o selênio e o potássio.

Cuscuz nordestino:

Conhecido especialmente pela sua versatilidade, o prato elaborado à base de milho, sal, manteiga e água pode ser servido em momentos variados do dia, como no café da manhã, em refeições principais e lanches ao longo do dia. Além disso, o cuscuz nordestino pode ser complementado com ingredientes diversos.INGREDIENTES

1 ½ xícara (chá) de farinha de milho flocada

½ colher (chá) de sal

¾ de xícara (chá) de água

2 colheres (sopa) de manteiga

REPARO: 1 Numa tigela misture a farinha de milho com o sal. Regue com a água aos poucos, mexendo com uma colher para umedecer a farinha – a textura deve ficar como a de areia molhada, bem úmida. Deixe hidratar por 10 minutos – assim os flocos ficam mais macios ao cozinhar no vapor.

2 Preencha o fundo da cuscuzeira com água e encaixe o cesto de vapor na panela. Transfira a farinha de milho hidratada para o cesto, sem compactar. Tampe e leve para cozinhar em fogo alto.

3 Assim que começar a ferver, vai sair um leve vapor pela lateral da tampa. Abaixe o fogo e deixe cozinhar por mais 10 minutos até o cuscuz ficar bem macio. Verifique ao abrir a tampa: o cuscuz deve estar inflado macio ao toque.

4 Desligue o fogo e, com cuidado para não se queimar ou virar o cesto, puxe a haste central para desenformar cuscuz. Transfira para uma tigela e desfaça o cuscuz em pedaços com um garfo.

5 Numa tigela pequena misture a manteiga com ¼ de xícara (chá) da água fervente da cuscuzeira. Mexa com uma colher até derreter pelo menos a metade da manteiga – ela termina de derreter com o calor do cuscuz.

6 Regue a água com manteiga sobre o cuscuz e misture com o garfo – a água com manteiga deixa o cuscuz mais úmido e saboroso. Sirva a seguir.

Cuscuz de Mandipuva (Mandioca podre)

Ingredientes

4 kg (ou mais) de raízes de mandioca fresca;

Sal a gosto;

Erva-doce;

Canela em pó;

Cravo.

Apanhe as raízes de mandioca, corte as pontas e abra cortes longitudinais na casca.

Coloque-as no “lago” (buraco feito com areia) e deixe de “banho”, de 4 a 5 dias. Depois que a mandioca ficar mole (fermentar), tire a casca e esprema o produto num saco de algodão.

Depois de enxuta e seca, soque-a num pilão até virar farinha.

Coloque a farinha em um recipiente, de preferência uma gamela, e adicione sal, canela, cravo e erva-doce.

Faça uma massa, coloque em uma cuscuzeira e cozinhe em banho-maria (no vapor).

Deixe cozinhar de 25 a 30 minutos e estará pronto.

Nota: Prato indígena que os litorâneos do Paraná preparavam.

Influência os tupinambás cuscuz de mandioca delicioso mistura mandioca e amendoim, se delicie!

Bijajica é um prato típico do estado brasileiro de Santa Catarina, localizado na região Sul do país. É mais popular nas regiões litorânea e serrana do estado. Trata-se de um bolinho produzido na região do planalto serrano de Lages.

Ingredientes

500g de massa de mandioca ralada, bem espremida (talvez seja necessário 1 kg de mandioca).

500g de amendoim vermelho cru triturado (usei processador, mas pode ser no liquidificador)

250g de açúcar mascavo

1 colher (chá) de sal

12 cravos triturados

Preparo

Misture bem todos os ingredientes e coloque, sem apertar, na parte de cima de uma cuscuzeira ou panela de vapor, forrada com pano de algodão.

Cubra com as pontas do pano, feche a panela e cozinhe por mais ou menos meia hora ou até sentir com os dedos que a massa está cozida e grudadinha.

Aí é só virar e desenformar. Se quiser fatias perfeitas, espere esfriar um pouco para cortar.

Cuscuz de inhame

INGREDIENTES

1 kg de inhame pré-cozido

1 coco pequeno ralado

1 xícara de açúcar

Sal a gosto

PREPARO

Rale o inhame, coloque em um recipiente e acrescenta o coco ralado, o açúcar e o sal. Amasse bem e coloque em uma forma.

Depois desenforme e enfeite como quiser.

Depois é só saborear.

Cuscuz do Maranhão

1 xícara floção de milho

1 pitada sal

40 g coco ralado

1/2 xícara leite de coco

1/2 xícara água

Preparo

1 Misture todos os ingredientes secos em um recipiente.

2 Adicione água e leite de coco, aos poucos, até formar uma farofa bem úmida.

3 Deixe descansar por 5 minutos.

4 Coloque na cuscuzeira sem amassar e deixe cozinhar por 15 minutos.

5 Depois desse tempo retire o cuscuz da cuscuzeira e polvilhe coco ralado. Para assim, se servir e saborear essa maravilha de comida.

Imagem: Aline chermoula

Cuscuz Marroquino

INGREDIENTES

1 ½ xícara (chá) de cuscuz marroquino
1 ½ xícara (chá) de água
3 colheres (sopa) de azeite
1 colheres (sopa) de salsa picada
1 colher (sopa) de manteiga
120g de amêndoas laminadas e torradas
5 colheres (sopa) de cebola roxa
5 colheres (sopa) de uvas-passas pretas
2 dentes de alho fatiados
sal e pimenta-do-reino moída na hora a gosto

PREPARO

Leve uma chaleira (ou panela) com a água ao fogo alto para ferver.
Coloque o cuscuz marroquino numa tigela grande, regue com a água fervente, misture e tampe com um prato. Deixe abafado por 5 minutos.
Junte 1 colher (sopa) de azeite de oliva, a manteiga e 1 pitada de sal ao cuscuz. Misture bem e reserve.
Descasque a cebola e corte na metade. Corte as metades em fatias bem finas formando meias-luas. Corte os dentes de alho em fatias finas.
Em uma frigideira grande, coloque o restante do azeite e leve ao fogo médio para aquecer. Em seguida, junte a cebola e o alho e deixe dourar.
Junte as uvas-passas, as amêndoas e, por último, o cuscuz hidratado. Mexa bem. Tempere com sal e pimenta-do-reino.
Polvilhe com a salsinha picada. Sirva a seguir.

Quem resiste ao saboroso cuscuz paulista?

INGREDIENTES

500 g de camarão (médio)

caldo de 1 limão

500 g de cação em postas

3 ovos cozidos

1 kg de palmito (em conserva)

4 colheres (sopa) de manteiga

1 cebola grande picada

3 dentes de alho picados

8 tomates sem sementes e picados

¾ de xícara (chá) de extrato de tomate

200 ml de leite de coco

1 maço de cheiro verde picado

1 xícara (chá) de farinha de milho

1 xícara (chá) de farinha de mandioca

folhas de salsinha para decorar

sal e pimenta-do-reino moída na hora a gosto

PREPARO

1. Limpe os camarões: retire as cascas e a cauda; faça um corte nas costas e retire as tripas com um palitinho. Lave bem sob água corrente. Transfira para uma tigela e tempere com o suco de limão e sal.

2. Numa panela, coloque 15 camarões, tampe e deixe cozinhar no vapor por 7 minutos em fogo médio.

3. Numa tábua, corte o cação em cubos de 2 cm e os ovos cozidos e os palmitos em rodelas. Reserve.

4. Umedeça uma fôrma de pudim com água para que o cuscuz desenforme mais facilmente. Disponha de maneira harmoniosa as rodelas de ovo e de palmito e os camarões cozidos. Reserve.

5. Numa panela, coloque a manteiga e leve ao fogo. Quando derreter, acrescente a cebola e mexa até ficar transparente. Adicione o alho e, assim que dourar, coloque os tomates picados e deixe cozinhar em fogo médio por 10 minutos.

6. Junte a polpa de tomate, o leite de coco e o cheiro-verde. Tempere com sal e pimenta-do-reino. Deixe cozinhar por mais 15 minutos. Retire do fogo.

7. No liquidificador, bata o refogado de tomate. Volte-o à panela e deixe cozinhar em fogo médio. Adicione, aos poucos, a farinha de milho e a de mandioca. Continue mexendo até que a mistura comece a engrossar. Acrescente o cação, o restante do palmito e os camarões crus. Continue mexendo até que a mistura se desprenda do fundo da panela.

8. Transfira o cuscuz para a fôrma preparada e cubra com filme. Quando esfriar, leve à geladeira por 3 horas. Desenforme sobre um prato e decore com as folhas de salsinha. Sirva frio.

Imagem: Aline chermoula

Dicas!

COMO COMPRAR A FARINHA

Para não ter erro na hora de comprar a farinha, procure no supermercado por farinha de milho flocão, ou farinha de milho para cuscuz nordestino. Não confunda com a farinha de milho amarela flocada (utilizada para fazer o cuscuz paulista e farofas).

Acompanhamentos para cuscuz

1 – Banana. Caso você queira inovar na combinação do seu cuscuz nordestino, a banana se mostra uma ótima opção de recheio. …

2 – Carne-seca. A carne-seca talvez seja um dos acompanhamentos mais conhecidos. …

3 – Coco. …

4 – Manteiga.

5 – Ovo.

6 – Queijo coalho

7 – Leite

8- Calabresa

9- Vinagrete

10- RequeijãoDa África para o Brasil: descubra os benefícios do cuscuz em 3 receitas inovadoras e deliciosas

O cuscuz é um alimento bastante conhecido e consumido no Brasil cada região traz sua variante com suas influências locais.

Saboroso e nutritivo, o quitute também é bastante versátil, uma vez que pode acompanhar diversos ingredientes, desde carne vermelha a leite. Tudo depende da preferência e do objetivo de cada um. A base do cuscuz é o flocos de milho, cereal rico em carboidratos complexos, fibras, vitaminas A e B1 e ácido fólico. O cuscuz também pode ser inserido no cardápio daqueles que desejam emagrecer e ganhar massa magra.

Benefícios do cuscuz

Os carboidratos complexos presentes no cuscuz são fonte de energia; as vitaminas A e B1 auxiliam nos impulsos nervosos e na regeneração celular; já o ácido fólico ajuda a prevenir as doenças cardíacas. Outros nutrientes importantes são a proteína, o selênio e o potássio.

Concorrendo ao Oscar, Jon Batiste lança novo álbum

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Jonathan in Harlem

Se você assistiu a animação Soul da Disney Pixar e gostou não só do que viu, mas também do que ouviu, essa é uma boa notícia pra você. Após ganhar um Globo de Ouro por Melhor Trilha Sonora, e ser um dos mais fortes candidatos ao Oscar na mesma categoria, o cantor Jon Batiste de 34 anos, lançou seu mais novo álbum nessa sexta-feira (19).

Intitulado ”We Are”, o disco conta com treze faixas incluindo o hit dançante I Need You, e também ”Show Me The Way”, que apresenta um R&B setentista influenciada por artistas como Stevie Wonder e Al Green.

Apesar de ter se tornado mundialmente mais famoso após trabalhar na trilha sonora de Soul, Jon não é um artista exatamente novo no mercado fonográfico, e possui uma discografia que vale a pena conhecer. Todos os álbuns do cantor e pianista da Louisiana estão disponíveis nas principais plataformas digitais.

”We Are”, foi lançado sob o selo da Verve Records, gravadora de artistas como Ella Fitzgerald, Nina Simone, Billie Holiday e Sarah Vaughan. Além das plataformas digitais, também é possível adquirir We Are em LP e CD na loja oficial do artista, uma boa notícia aos colecionadores.

Cuscuz: A história do alimento que tem origem no Norte da África e se tornou Patrimônio Imaterial da Humanidade

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Imagem: Aline Chermoula

Um clássico brasileiro reina na mesa dos brasileiros, ótima opção para substituir o pão com manteiga. Com ovo cozido, com leite, manteiga, requeijão, carne seca, e afins. O segredo é o acompanhar com ingredientes típicos e populares.

Sua origem é antiga, documentos revelam sua existência no império romano em Magrebe de 300 a.C. a 200 a.C., na época conhecida como África menor (contempla Argélia, Tunísia e Marrocos), os preparos culinários com trigo foram crescendo na região e, assim, foi se desenvolvendo a receita de cuscuz que ficou famosa no mundo todo.

A criação do cuscuz berbere foi em alguma época entre o final do reino Zirida (972 – 1148) e o começo do Califado Almóada (1121 – 1269) na Idade Média na África. Para os berberes, primeiros povos que habitaram o norte do continente africano, o cuscuz é tradicionalmente com sêmola de trigo, mas pode ser também de cevada, arroz ou sorgo, todos cozidos no vapor, como acompanhamentos de pratos salgados, fazendo as vezes de arroz, ou em preparos doces, com leite (de vaca, cabra, ovelha ou camela), açúcar, frutas secas e

Os portugueses invadiram o que conhecemos hoje como Brasil e escravizaram os povos africanos e os obrigaram a trabalho forçado, os africanos islamizados trouxeram consigo a cultura do arroz e do cuscuz e as herdeiras de ganho vendida seus quitutes em seus tabuleiros da época e neles já apresentavam a versão brasileira do cuscuz que em vez de trigo usava farinha de milho – ingrediente farto nas américas e que ganhou o mundo.

Já nesta época, tomou forma o cuscuz nordestino, feito com milho e cozido no vapor, normalmente em uma cuscuzeira. Mais parecido com o africano, ele é granulado e acompanha coisas como ovos, manteiga, carne de sol, ou sua versão doce, embebido em leite de coco, também ingrediente da receita do Norte, que além de leite de coco, é normalmente consumido puro no café da manhã, e comumente em outras refeições diárias.

No sudeste do país dos tabuleiros mukheres escravizadas no pátio do colégio – ao lado das formigas içás, às famílias paulistanas tradicionais, o cuscuz era popular em São Paulo desde o século XVIII, principalmente quando preparado com o peixe Bagre.

Hoje, o cuscuz ganhou diversas versões ao redor do Brasil. O paulista leva farinha de milho e mandioca, tomate, pimentão, sardinha, camarão, ovo, pimenta, salsinha… ao gosto do cliente. Em Minas a receita leva galinha, desfiada ou em pedaços, muitas vezes com molho de tomate ou caldo de feijão. Outra receita mineira mistura a tradicional farinha de milho com mandioca e fubá, açúcar, canela, erva-doce e queijo.

Em Santa Catarina, é famoso a bijajica, um cuscuz feito com mandioca, amendoim cru e açúcar mascavo. No Paraná existe a mandipuva, um tipo feito com mandioca fermentada e espremida, e pode levar sal, erva doce e canela, ou amendoim, ovos e banha de porco. Na Bahia também existe uma versão com inhame e farinha de mandioca e, no Maranhão, eles preparam o prato com flocos de arroz e tapioca.

O cuscuz é um alimento que representa a transformação cultural de uma comida africana, sofreu influências locais brasileira, é um exemplo de comida descolonizada reproduzindo a cultura culinária que cada região do Brasil e essas exercem influências sobre uma única receita e, assim, criou novos sabores, formatos e histórias.

BIBLIOGRAFIA QUE A AUTORA USOU PARA O ARTIGO:

CASCUDO, L. C. História da alimentação no Brasil. 3 ed. São Paulo: Global, 2004. CARNEIRO, D.F. SANTOS, M.; DONASOLO, A. GIORDANI, R.C.F. Transformações no espaço rural e a insegurança alimentar no Vale do Ribeira: descrevendo as práticas alimentares de agricultores caboclos. In: ROSANELI, C.F. (Org.) Contextos, conflitos e escolhas em alimentação e Bioética. Curitiba: Editora Champagnat, 2016. p. 35-58.

CASTRO J. Geografia da fome: o dilema brasileiro pão ou aço. 10. ed. Rio de Janeiro: Antares, 1984.

CASTRO, E. C.; MACIEL, M. E.; MACIEL, R. A. Comida, cultura e identidade: conexões a partir do campo da gastronomia. Ágora, Santa Cruz do Sul, v.18,n. 07, p. 18-27, 2016. CAVALCANTI, M. L. M. História dos sabores pernambucanos. Recife: Fundação Gilberto Freyre, 2010.

CAVIGNAC, J. A.; DANTAS, M. I.; SILVA, D. P. Comidas de raiz: a retomada da cultura quilombola no Seridó (Brasil). Tessituras, Pelotas, v. 3, n. 2, p. 105-139, 2015. CONSEA – Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional. Relatório Final Mesa de Controvérsias sobre Transgênicos. Brasília; 2014.

CONTRERAS J. Patrimônio e Globalização: o caso das culturas alimentares. In:

CARNEIRO, F.F; PIGNATI, W. RIGOTTO, R. M.; AUGUSTO, L. G. S.; RIZZOLO, A.; FARIA, N. M. X.; ALEXANDRE, V. P. FRIEDRICH, K.; MELLO, M. S. C. Parte I. Segurança Alimentar e Nutricional e Saúde. In: CARNEIRO, F.F; PIGNATI, W. RIGOTTO, R. M.; AUGUSTO, L. G. S.; RIZZOLO, A.; FARIA, N. M. X.; ALEXANDRE, V. P. FRIEDRICH, K.; MELLO, M. S. C.. (Org). Dossiê ABRASCO: um alerta sobre os impactos dos agrotóxicos na saúde. Rio de Janeiro: EPSJV; São Paulo: Expressão Popular; 2015.

INTER-LEGERE | Vol 2, n. 25/2019: c17358 | ISSN 1982-1662

CANESQUI A.M;, GARCIA, R. W. D. (Org.). Antropologia e nutrição: um diálogo possível. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2005. p. 129-147.

FLANDRIN, Jean-Louis; MONTANARI, Massimo. História da alimentação. São Paulo, SP:

Estação da Liberdade, 1998.

MONTANARI, M. Comida como cultura. São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2010.

Chato pra comer não sobrevive na favela

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Na semana em que o rapper Projota foi eliminado do Big Brother, uma pesquisa feita pela Central Única das Favelas (CUFA) e o Instituto Data Favela e Locomotiva do Rio aponta que mais 80% das famílias que vivem em favelas dependem de doações para se alimentar. 

O número médio de refeições por dia desta população é 1,9. Ou seja: ou café da manhã e almoço, ou almoço e jantar, ou lanche e jantar. Sempre uma coisa OU outra. Nunca tudo. Sempre quase nada.

E o que uma coisa tem a ver com a outra?

Projota já foi tarde do horário nobre por inúmeras questões. Mas, na semana anterior a sua saída, para coroar uma série de declarações que o elegeram o fresco da casa em todo os sentidos, ele chamou um prato que é quase uma paixão mundial, o strogonoff, de bosta. Na época, o contexto era uma conversa com Caio que defendia o prato russo, enquanto Projota rechaçava. Na sequência, Caio insiste que ele não gosta porque nunca experimentou o dele. E Projota responde que “é tudo a mesma bosta”. Não bancou comer o que tinha na “xepa” e ameaçou a sair do programa caso “passasse fome”.

Será que dá mesmo pra bater no peito e dizer que é muleque de vila, cria da comunidade e desdenhar de comida a esse ponto? Sem nenhum peso na consciência?

Não consigo descrever como uma frase dessa soa para quem já passou fome, quem não vai ter o que comer hoje em muitos becos do Brasil. Nunca vivi isso no pale. Embora tenha sido assombrada por esse fantasma durante toda a minha infância. Esse era o trauma da minha mãe que repetidamente dizia “vocês não sabem o que é passar fome, o que é não ter nada pra comer, viver de canjiquinha e dar a sorte de encontrar marisco na praia quando a barriga estava vazia”. Ela, minha avó e minhas tias viveram isso durante anos na geração passada e isso ressoa toda vez que eu vejo um desperdício, encontro alguém pedindo algo ou simplesmente entro numa cozinha pra preparar a comida que posso comer. 

Projota não é o primeiro nem será o último fresco que se dá ao direito de nem experimentar algum tipo de comida, que nutre nojo e fala mal. E nem a ter espaço pra assumir isso em rede nacional. 

Um de meus passatempos preferidos na quarentena é assistir a alguns programas culinários. Tinha tudo pra ser um momento relaxante, instrutivo e gostoso… até aparecerem as pragas orgulhosas do que não comem ou não cozinham.

Num desses episódios, um rapaz, além de ser chato pra comer, não cozinhava nada, não entrava na cozinha, dependia da namorada para se alimentar e o pior: não sabia diferenciar uma abobrinha de uma cebolinha.

E eu fico me perguntando: que tipo vida privilegiada uma pessoa leva para se sentir no direito de não saber a diferença entre um alimento e outro. Ele também não sabia o que era um pimentão. Você sabe o que é um pimentão? Ele não.

Não saber sobre comida quando se come, pra mim, é coisa de gente mimada que tem gente pra fazer. Resquícios de um país escravocrata.

Num outro episódio recente, a história era sobre um rapaz que no auge de seus 27 anos, não comia nada que não fosse fast food. O pai o indicou, apostou que ele não comeria e no fim das contas, o menino comeu um pato com abóbora e jiló e voltou pra casa. Mas só depois de irritar a audiência e esmerilhar muito a comida no prato de um lado pro outro.

Ele me lembrou três amigos de famílias diferentes cujo orgulho de contar que só comem batata frita, hambúrguer, bife ao alho e sal, macarrão e nhoque sem molho já testou minha paciência inúmeras vezes, inclusive na hora de escolher um menu no restaurante. Ouso dizer que a família é a culpada. De um lado a mãe de gêmeos e do outro a esposa dedicada que faz todas as vontades.

E daí eu me pergunto: é trauma? Não é. É um privilégio triplo.

Dentro do meu quadradinho do preconceito, só tem uma coisa que irrita mais que ser chato pra comer: ser chato pra comer e não cozinhar e ainda demonizar ou criticar quem ama uma cozinha. Tenho uma amiga de anos que não gosta e conjuga o verbo odiar quando tem que entrar na cozinha. Nem sei mais se é minha amiga. Não dá pra ser. Me tornei intolerante com a falta de sensibilidade dos outros. Sim, porque declarar ódio a comida, cozinha e cozinhar publicamente num momento desses, é sintoma de um estado de insensibilidade. 

Qualquer pessoa que fale qualquer coisa contra comida ou contra o trabalho que é cozinhar aparenta privilégio, infantilidade, alienação e ranço escravocrata de quem tem quem faça sempre.

Volto ao ponto inicial.

Tem gente passando fome desde que o mundo é mundo. Mas entre 2017 e 2018, a fome nua e crua deu conta de 10 MILHÕES e 300 MIL pratos no Brasil. 

Dois bilhões de pessoas vivem num estado de insegurança alimentar no mundo todo.

No Brasil, o número é de 43 MILHÕES na mesma situação. Mais de 7 milhões em situação grave. O que significa que milhões de pessoas vivem uma incapacidade de ter acesso a alimentos seguros, nutritivos e suficientes o ano todo. Abobrinha, pimentão e cebolinha, entende?

Se alimentar saudavelmente é um desafio pra mais de 14, 5% da população. E a anemia entre mulher aumenta a cada ano e quase bate os 30 % da população feminina.

E todos esses dados são subestimados diante da pandemia que já completou aniversário no Brasil e no mundo. Dados da FGV indicam que, no nosso país, o vírus e a ineficiência do Estado jogaram mais 22 milhões de pessoas na pobreza nesse período. E 16% das pessoas que já eram pobres em 2019, migraram para a extrema pobreza.

Um retrato fiel da miséria, das panelas vazias em que quem tem fome não faz distinção do que comer porque não tem com o que se alimentar. 

Quem é cria da favela, o tal moleque de vila, hoje, não tem tempo, irmão, pra escolher o que comer.

Para deixar os dados mais poéticos, se é que possível, imaginem que vivemos num país em que Carolina Maria de Jesus escreveu “Quarto de Despejo”, um livro sobre sua rotina diária de catar papel e passar fome em 1960. E esse livro poderia ser reescrito por ela ou por mais de 43 milhões de pessoas hoje, 60 anos depois.

“A tontura da fome é pior do que a do álcool. A tontura do álcool nos impele a cantar. Mas a da fome nos faz tremer. Percebi que é horrível ter só ar dentro do estômago”, escreveu Carolina.

Enquanto ongs e coletivos como Cufa, Voz das Comunidades, Coalizão Negra por direitos, inúmeros centros espíritas e católicos estão se desdobrando para dar conta dessa conta que não fecha, me parece inaceitável que você seja uma pessoa que – não tendo nenhuma restrição alimentar – só aceite comer apenas aquilo que tem em festinha de aniversário infantil no dia a dia.

Ninguém é obrigado a nada que fique registrado. Assim como eu também não sou obrigada a achar bonitinho ou não me irritar ao ver quem tem o privilégio de comer simplesmente não comer.

Reitero que a crítica aqui passa longe de gente que tem traumas e os cultiva sem a chance de terapeuta ou psiquiatra surtirem efeito. Tenho um amigo que certa vez encontrou um besouro no feijão e depois disso nunca mais comeu comidas com molho ou escuras.

Respeito e apoio crianças daquelas que não comem carne e viralizam na internet porque querem proteger os animais. Isso é bonitinho.

Nesse mesmo espectro, 35% dos brasileiros apontam algum tipo de intolerância à lactose e evitam leite e derivados. Acontece com o glúten e os celíacos, o açúcar e os diabéticos e por ai vai…

Mas uma coisa é restrição alimentar e incapacidade. Outra coisa é escolha em meio à alienação.

Num grupo do qual faço parte no whatsapp, a pauta era essa: o que você não podia comer na infância que hoje pode? Um papo inspirado numa sessão nostalgia com a música traumática da Xuxa das frutas nos anos 1990. A quantidade de relatos sobre como as privações moldaram paladares restritivos é bizarra e entristecedora. “Eu não consigo nem olhar pra uva. Eu nunca comi uva até crescer. Morria de vontade. Hoje que posso, odeio uva assim como pizza e hambúrguer, por exemplo”. Um ódio justificado pela privação. 

Como é que uma pessoa que sempre teve acesso à uva, que não criou nenhum tipo de trauma em relação à uva porque não podia comer, não tem intolerância ao paladar ácido da uva, se recusa a pelo menos experimentar uma uva? Ou, no caso do nosso amigo do programa. Se você aceita comer abóbora, jiló e pato num programa de televisão por que você não fazia isso no seu dia a dia, então?

Da próxima vez que cruzar o batente da porta da sua cozinha, leve todas essas histórias com você, principalmente os números da última pesquisa sobre as favelas.

OITENTA POR CENTO DA POPULAÇÃO DE FAVELAS, HOJE, DEPENDE DA ESCOLHA DOS OUTROS PARA COMER.

Se puder, ajudem os mais de 80 dos moradores das favelas e pessoas em situação de rua a continuarem. 

Ong Voz das Comunidades

Caixa Econômica Federal

Agência 0198 / conta 3021-2 / operação: 003

CNPJ 21.317.767/0001-19

PIX 21.317.767/0001-19

@vozdacomunidade no PICPAY

contato@vozdascomunidades.com.br no paypal

Cufa – Central Única das Favelas

Bradesco

CNPJ:06.052.228/0001-01

Ag.: 0087 / C/C: 5875-0

CNPJ:06.052.228/0001-01

https://www.maesdafavela.com.br/doar

Vakinha Virtual: http://vaka.me/1758793

Campanha Tem Gente com Fome 

https://www.temgentecomfome.com.br/#block-36192

Padre Júlio Lancellotti e Paróquia São Miguel 

Ajude o trabalho da Paróquia de São Miguel Arcanjo.

Banco Bradesco| Ag: 0299

Cc: 034857-0 |

Cnpj: 63.089.825/0097-96

Chave Pix: 63.089.825/0097-96

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