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Casa de Cultura Fazenda Roseira sofre incêndio na noite de domingo

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Imagem: Campinas.com.br

Instalada na casa sede da antiga Fazenda Roseira, a Casa de Cultura Fazenda Roseira é desde de agosto de 2007, um equipamento público. Ela é ocupada e gerida pela comunidade Jongo Dito Ribeiro, sendo bastante conhecida na região por seus eventos como rodas de jongo, festejos, festas juninas, feijoadas de resistência, rodas de capoeira, projetos para todas as idades, discussões sobre tecnologia, ancestralidade, entre outros.

Entretanto, esse símbolo de resistência da luta negra em Campinas ( uma das últimas cidades do país a abolir a escravidão) vem sofrendo com vandalismo e intolerância nos últimos meses. Em janeiro desse ano, a casa foi depredada e furtada, entre os objetos danificados ou levados a administração citou: câmeras, holofotes, alarmes, trincos e fechaduras, uma televisão, um fogão, uma pia, portas, um gira-gira, um cano de água, toda a fiação externa de iluminação e também materiais infantis.

O mato alto, a pouca iluminação e falta de segurança torna a casa ainda mais vulnerável aos ataques, e mesmo com vários pedidos para a solução desses problemas, eles ainda não foram solucionados. Tanto que na noite de ontem, domingo (08) um incêndio começou na Fazenda Roseira. Apesar de ter sido controlado antes que tomasse maiores proporções, ele acabou com boa parte da plantação da fazenda. Nas redes sociais, o público cobra por respostas da prefeitura sobre o pouco caso com esse patrimônio cultural da cidade.

Até o momento, ninguém foi preso por nenhum dos danos causados ao patrimônio.

Tichina Arnold entra com pedido de divórcio cinco anos após vazamento de vídeo de traição do marido

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Foto: Getty Images.

Ex-marido da atriz, Rico Hines, teve vídeo de sexo com outra mulher vazado na internet em 2016.

A atriz Tichina Arnold entrou com um pedido de divórcio do técnico de basquete Rico Hines, com quem se casou em agosto de 2011. Os dois já estavam separados desde 2016, quando uma gravação de Hines fazendo sexo com outra mulher vazou. De acordo com o TMZ, Tichina pediu o divórcio no início desta semana, indicando “diferenças irreconciliáveis”.

A gravação vazou para o público, o que fez com que a atriz se separasse do treinador de basquete. Segundo Tichina, Hines já a havia traído várias vezes desde o início do casamento. Em entrevista à People, Tichina Arnold disse que “está além do fato de que a infidelidade acontece. Nós cometemos erros. E corrigimos alguns erros de suas infidelidades anteriores. Mas quando se torna um padrão, não é mais problema meu. Chega um ponto em que você tem que abandonar o navio e se salvar”.

Tichina Arnold e Rico Hines se casaram em 18 de agosto de 2012. Eles não têm filhos juntos. Tichina Arnold solicitou que o tribunal restringisse os pedidos de pensão de qualquer uma das partes no julgamento de divórcio em andamento.

Breakdance nas Olimpíadas de Paris: Entenda as regras e as chances do Brasil na competição

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Imagem: Marcelo Maragni

A Olimpíada de de Paris 2024 vai trazer o breakdance para a lista de esportes participantes. O evento vai repetir a fórmula da edição recém finalizada em Tóquio, incorporando às competições esportes que conversem com os jovens e com a cultura urbana, visando aumentar o nicho de público e modernizar os Jogos Olímpicos. O breakdance nasceu como um dos elementos da cultura Hip-Hop e era usado como forma de evitar que jovens negros entrassem para gangues de rua.

O breaking mudou minha vida', diz B-Boy Pelezinho
Imagem: Nika Kramer

O surf e o skate fizeram grande sucesso este ano e estarão novamente na próxima edição, embora ainda não considerados fixos e precisando de análise a cada edição. 

É benéfico que haja inovações conforme a popularidade e demanda pela prática de esportes não tradicionais aumente, como já foi o caso do vôlei de praia em 1996, da BMX em 2008 e este ano do skate. Dança é uma linguagem universal e já existem competições em vários países do mundo com b-boys e b-girls (nome dado aos praticantes) de todos os continentes.

As competições de breakdance estão sob a responsabilidade da WDSF (World Dancing Sports Federation), uma entidade criada para organizar as competições internacionais de dança de salão e foi ela que apresentou o projeto de inclusão do esporte. As Olimpíadas da Juventude costumam ser usadas para teste das novas modalidades a serem incluídas no evento principal e a edição de 2018, sediada em Buenos Aires, contou com a dança em batalhas de um um round na primeira fase. Os dançarinos mostram seus passos de forma alternada e é criado um ranking pelos jurados com os mais bem avaliados (chamado de “round robin”). Depois disso vem a fase eliminatória e as finais que são decididas em batalhas de quatro rounds. passam a ser de melhor de quatro rounds. Vence quem tiver, no total, mais votos dos juízes na soma de todos os rounds. Os critérios dos jurados envolvem  técnica, variedade, criatividade e personalidade, performance, musicalidade.

Um dos grandes expoentes do breakdance no Brasil é o paulista Pelezinho, primeiro brasileiro a chegar numa final mundial em competição do estilo. Em entrevista para o site Breaking World, o dançarino deu sua impressão de quais são as chances do país em 2024: “Temos B-Boys e B-Girls que possam disputar medalhas para o Brasil, mas tudo depende de toda a estrutura e logística que será montada aqui no Brasil, de como será, se vai convidar os B-Boys e as B-Girls direto ou se vai fazer etapas. Então, dando uma resumida, eu acho que já estamos atrás dos outros países: o Japão já tem o time pronto, a Holanda praticamente também, a França, EUA, a China e o Brasil ainda não está! Quem estiver na frente tem que fazer de verdade! E resolver tudo o mais rápido possível, porque esse ano já descartamos praticamente, então, só sobra 2023 e 2024. Porque até o processo todo ser feito com a estrutura. Estou falando da minha visão como dançarino e como produtor e criador de eventos”, apontou.

O Brasil não teve representantes da modalidade nos Jogos Olímpicos da Juventude em Buenos Aires.

Hering e ID_BR lançam coleção da campanha “Sim à Igualdade Racial”

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Foto: Divulgação.

Parte da renda das venda das peças será revertida para as ações do ID_BR

Em parceria com o ID_BR – Instituto Identidades do Brasil a Hering lança coleção que pretende ampliar a conscientização e o engajamento com o movimento antirracista. As peças, que terão parte da venda revertida para o ID_BR, chegam ao e-commerce da marca nesta segunda-feira (9). Com este lançamento, a Hering se torna a marca oficial das camisetas que levam o logo da campanha Sim à Igualdade Racial, assinada pelo ID_BR. Além da peça icônica da linha, a coleção traz também moletons, calças e bermudas em uma cartela com tons do bege ao marrom. 

O símbolo que estampa as peças tem foi construído a várias mãos, como explica a diretora executiva do ID_BR, Luana Génot. “Eu fiz o símbolo, Kenyu Kanashiro coloriu o símbolo e o Gustavo Zimmerman foi o co-idealizador. Essa logo foi pensada para representar a luta pela igualdade racial. É um coração que geometricamente representa a sociedade e que evoca um convite para que todo mundo se dê as mãos para lutar por um mundo mais igualitário. Um mundo que ainda é um ideal, não é uma realidade, também longe de ser uma romantização de uma sociedade que tem a igualdade como algo estabelecido e, por isso, é um símbolo que se propõe a ser um convite. A gente convida a sociedade para ter um coração mais aberto para uma igualdade racial exercida na prática”, conta.

Para Luana, a moda tem uma forte conexão com a transmissão de ideias e valores atrelados ao que as pessoas vestem. “A ideia de dizer ‘Sim à igualdade racial’ em parceria com a Hering é fazer, de fato, com que as pessoas vistam a camisa, ou melhor, vistam a camiseta. E, a partir disso, fazer com elas se sintam mais envolvidas e engajadas com a causa tendo algo que é bastante próximo ao corpo delas e que as lembre de que esse engajamento ele precisa ser algo diário.  É um convite para todo mundo, de fato, possam colocar essa causa em pauta todos os dias”, defende.

Para Fabíola Guimarães, diretora de marcas da Hering, a realização da campanha é um convite para os usuários da marca.“A Hering é inclusiva por essência e o nosso básico está em ir além. Apoiar a igualdade racial é primordial para o momento que passamos no país. Uma marca legítima brasileira, acredita e valoriza a importância do seu povo e convida os clientes a refletirem sobre como serem antirracistas na prática”, afirmaa.

Loja online: www.hering.com.br

“Eu achei que eu não chegaria nem aos 30”, diz Xande de Pilares no Trace Trends

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Xande de Pilares foi o convidado da semana no programa Trace Trends. Falando sobre sua história na música e carreira, o compositor comemora a chegada aos 50 anos, sendo um homem negro de periferia. “Tinha uma história, no morro, que eu ia morrer com 30 anos. (…) Eu perdi tantos amigos na minha infância e adolescência e eu achei que eu não chegaria nem aos 30. Cheguei aos 50 e sem ter a cara de 50, então tá tudo certo!”, brinca. No papo, Xande ainda ressalta alguns nomes da música brasileira que o inspiram como Alcione, Zeca Pagodinho e Martinho da Vila.

Com mais de 30 anos de estrada, Xande de Pilares revelou no programa que teve que ir contra a vontade de sua avó para se tornar músico. “Tive que contrariar minha avó que não queria que eu mergulhasse na música. (…) A minha mãe foi muito corajosa por abdicar da música e lutar pela família. Com certeza se ela optasse pela música, eu não estaria aqui… Tudo acontece como tem que acontecer”, diz.

Durante a conversa, o sambista falou sobre o início e a retomada de sua carreira, apontando a relação com o samba como um traço significativo de sua história e seu lugar de origem, como também a herança musical de sua família, o que abriu portas para que pudesse estar neste meio e representar os seus.

O programa traz ainda tudo sobre o filme “Doutor Gama”, de Jeferson De, Ad Júnior explicando o termo afrodescendente, a música e arte de Alice Guél, as dicas e conselhos de Babu Santana e as novidades musicais com “Bafros” de Dexter, 2:22music, Kynnie, Original Groove, Larissa Luz, Renegado com Grupo Bom Gosto, Master KG com David Guetta e Akon.

Com apresentação de Alberto Pereira Jr., Xan Ravelli, Ad Júnior, João Luiz Pedrosa e Babu Santana, a nova temporada do Trace Trends tem, a cada semana, um episódio inédito exibido às quartas-feiras no Globoplay e às sextas-feiras, às 17h, no Multishow.

“Eu vivo em um mundo interracial e amo” Alfonso Ribeiro fala que se sente “rejeitado” na comunidade negra

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(Photo by John Lamparski/Getty Images)

Em entrevista ao Atlanta Black Star, o ator Alfonso Ribeiro, mais conhecido pelo seu personagem em “Um maluco no pedaço”, conversou sobre se sentir um “estranho” na comunidade negra por ter se casado com uma mulher branca, a esposa Angela Ribeiro e ter um histórico de relações apenas com mulheres brancas.

“Estou em um relacionamento interracial e recebo coisas, como olhares e comentários constantemente”, constatou. O comentário foi em resposta à uma pergunta ao saber se ele já tinha ouvido se não era “negro o suficiente”, como seu personagem Carlton foi contado no oitavo episódio da quarta temporada depois que ele tentou fazer parte de uma fraternidade negra.

“Estou em meu próprio mundinho com o apoio de quase ninguém, apenas por estar apaixonado por alguém que me apaixonei. Como isso faz sentido ? Não importa. Todos nós queremos viver em um mundo onde todos sejam aceitos por serem quem são, amados e viverem da maneira que escolheram para viver. Apoiarei qualquer pessoa que queira viver em um mundo em que queira viver”, disse.

“Eu vivo em um mundo interracial e amo esse mundo. Eu vivo em um mundo negro e amo esse mundo. Eu sinto que todos deveriam ser apoiados. Eu lido com isso o tempo todo. Acho engraçado pelo fato de que sou um apresentador de televisão convencional, estou no jogo há muito tempo e poderia comprar ingressos para ir ao BET Awards”, finalizou o ator ao responder a questão.

Sem espetacularizar o sofrimento, ‘Doutor Gama’ traz bom suspense de tribunal na cinebiografia do abolicionista

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Luiz Gama tem tido cada vez mais reconhecimento, seja por pares do direito, área pela qual ficou conhecido, seja por pessoas que têm tido contato com sua luta abolicionista. E para coroar um ano extremamente benéfico para a memória de Gama, chega aos cinemas “Doutor Gama”, dirigido por Jeferson De. E não teria mãos melhores para comandar um longa sobre essa figura histórica do que o diretor responsável por ‘Correndo Atrás’ e ‘M8 -Quando a Morte Socorre a Vida’, todos filmes protagonizados por pessoas pretas.

FOTO TIRADA EM PARATY 22/02/2019

O olhar racializado faz bem para o longa que em nenhum momento usa o período de escravidão para chocar o público com cenas de violência contra os escravizados, recurso utilizado recentemente em produções norte-americanas.

O longa passa rapidamente pela infância do futuro advogado e sua vontade de aprender a ler desde pequeno e sua venda como escravizado pelo pai.  Em seguida, o jovem Gama (Angelo Fernandes) está com Antônio (Johny Massaro), o amigo que o ensinou a ler numa mesa de bar conversando com advogados brancos sobre direito com propriedade de doutor. Infelizmente essa fase da vida é mostrada de forma corrida e pouco vemos da formação e dúvidas que permearam a juventude do abolicionista e isso faz um pouco de falta. Inclusive a relação com a jovem Claudina (Samira Carvalho) que passa correndo apenas mostrando o envio de cartas e os dons de Gama como poeta romântico.

Se o começo do filme parece vacilante e corrido, do meio para frente a obra ganha força e musculatura com César Mello encarnando de maneira excelente o personagem principal, que se vê diante de um caso difícil. Defender José (o ótimo Sidney Santiago) de uma condenação certa no caso em que o escravizado matou um ‘senhor’ para defender sua esposa de constantes abusos.

A contraposição às ponderações de Gama no tribunal ficam por conta de Pedro (Erom Cordeiro), que já tinha o antagonizado anos antes. O ator consegue despertar a antipatia esperada de um advogado que prega a morte de um escravizado e fornece bom contraponto ao discurso humanitário defendido por Luiz Gama. 

É nos trechos do tribunal que reside a energia máxima do filme. A retórica  do brilhante advogado sai de forma convincente da voz de Mello e há uma (não óbvia) quebra da quarta parede, com palavras que vão direto aos corações e mentes do espectador: “Quando um escravo  mata o seu senhor, não estamos falando de assassinato. Não,senhores! Estamos falando de legítima defesa”.

Os olhos de cumplicidade e angústia de Claudina, vivida por Mariana Nunes suprem a ausência de mais diálogos entre os dois, o que desperta a curiosidade de como seria se houvesse maior exploração dessa dinâmica, mas para uma figura tão rica quanto Luiz da Gama, o longa cumpre bem seu objetivo de pintar um retrato sobre um ponto específico de sua história.

Não seria surpresa se Jeferson De fosse chamado para explorar outros casos do agora Doutor Honoris Causa pela USP ou até mesmo personagens que oferecem uma isão diferente quanto às formas de se lutar contra a escravidão como é o caso da imponente Maria Júlia, encarnada por Dani Ornellas.

‘Doutor Gama’ é um dinâmico suspense de tribunal que deixa a curiosidade ver mais sobre seu herói.

Músico e ator, Alan Rocha interpreta líder da Pequena África na novela ‘Nos Tempos do Imperador’

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Imagem: Ernane Pinho

Alan Rocha, ator do musical “A Cor Púrpura”, da vida a Balthazar na nova produção das 18 horas da Globo, “Nos tempos do Imperador”, personagem que é um dos líderes da Pequena África, local que acolhe os negros após o comércio de escravos se tornar ilegal no país, a partir de 1831 (local hoje é a zona portuária do Rio de Janeiro).

Balthazar ajuda no resgate de escravos refugiados ou alforriados que por lá chegam a procura de abrigo e emprego, organiza uma forma de resgatar estes negros antes de serem escravizados. O personagem, como o ator, é músico, e um trio de choro é criado com a chegada de outros refugiados no local, como Samuel, personagem de Michel Gomes.

“Esse trio de choro formado pelo Baltazar (cavaquinho), com Samuel (violão) e Cariri (flauta), para mim, cria uma conexão com Pixinguinha, que frequentou muito as festas da Penha, bairro onde moro. Essa conexão também se dá a outros grandes chorões e ao inicio das formações desses grupos regionais de choro.”, declara Alan Rocha.

Imagem: Arquivo Pessoal ; nos tempos do imperador

No cinema, o ator está no elenco de “Doutor Gama” (Globo Filmes), longa-metragem de Jeferson De que também estreia em agosto. Mais um trabalho que retrata a época da abolição da escravatura do país, cinebiografia sobre a vida do advogado abolicionista Luiz Gama (1830-1882), nascido de ventre livre, mas vendido pelo seu pai aos 10 anos. Também no cinema, aguarda a estreia do filme “Os Suburbanos”, do Rodrigo Sant’Anna. Alan também participa em episódio da nova temporada do humorístico “Tô de Graça”, do Multishow.

Foto Miguel Angelo Ferreira

Com o ano de 2021 repleto de projetos sendo lançados na TV e no cinema, Alan Rocha planeja lançar mais duas músicas até o fim do ano, um novo videoclipe e aguarda ser convocado para os ensaios de um novo musical onde vai emprestar seu talento como um artista repleto de possibilidades – na atuação, na música, nas artes do seu país.

“Todos da nossa classe artística desejam este retorno aos palcos e estou ansioso para começar os trabalhos que já estou no elenco. Enquanto isso, organizo a consolidação do “Clube AKorin”, projeto que traz o teatro e a musicalização infantil. A valorização da cultura negra para a infância nas redes sociais, que será veiculado no YouTube e no Instagram.”, afirma o inquieto Alan Rocha.

Em ‘Cartas para Minha Avó’, Djamila homenageia ancestralidade através de uma escrita íntima e afetiva

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Imagem: Divulgação

Em seu quarto livro, a escritora revisita memórias de vida dialogando com a saudosa Dona Antônia, sua avô materna

Quando o surfista Ítalo Ferreira ganhou a medalha de ouro nas Olimpíadas de Tokyo, disse: “Eu queria que minha avó estivesse viva para ver isso. Para ver o que eu me tornei”. Essa atitude de olhar para trás em reverência ancestral, que a tradição africana denomina de sankofa, é a síntese do novo livro da filósofa e feminista negra, Djamila Ribeiro. Em ‘Cartas para Minha Avó’ (Companhia das Letras, 2021), seu quarto lançamento, a escritora traz memórias e pensamentos através de epístolas endereçadas a Dona Antônia, sua avó materna, mostrando uma escrita íntima, delicada, e igualmente repleta de sabedoria.

enzedeira famosa em São Dimas, bairro de Piracicaba, Dona Antônia foi figura fundamental na vida de Ribeiro. A matriarca de uma família de sete filhos, faleceu aos 68 anos, em decorrência da fragilidade da saúde que foi se acentuando depois de uma picada de barbeiro, deixando um legado de cuidado, visão de mundo e personalidade que influenciam fortemente a escritora.

“Ao ver seus olhos na foto, entendi de onde herdei os meus”, descobre a autora por meio das reminiscências entre os quintais da avó no interior de São Paulo e o apartamento em Santos, onde acompanhamos histórias sobrepostas que narram o crescimento e amadurecimento de Djamila. E a narrativa vai além dos episódios de racismo e questões de gênero, temas vivenciados e amplamente abordados em suas obras predecessoras e no seu ativismo. Nas cartas há espaço para uma menina traquina, partilhando a experiência do primeiro beijo; de uma moça que é sucesso na pista de dança e chora com músicas românticas; e de uma poeta que foi premiada com seus versos.

A presença da ancestralidade é recorrente na obra em várias nuances. Já na capa se apresenta um ofá (flecha) de Oxóssi, orixá de frente da escritora, anunciando essa procura às suas raízes. Em ‘O Espírito da Intimidade’ (Odysseys, 2003) Sobonfu Somé mostra como os parentes da aldeia Dagara em Burkina Faso são importantes para o fortalecimento de seus seus familiares, sobretudo na escuta, orientando-os em suas decisões. 

Como “Brasil também é África” (leia o livro para entender essa máxima), a experiência diaspórica é similarmente vivenciada por Djamila, que se conecta com seus familiares ancestrais partilhando momentos de sua trajetória. E aqui o diálogo se expande para Dona Erani e Seu Joaquim, mãe e pai da autora, que também faleceram precocemente. Relação amorosa, ensinamentos, orientações pra combater o racismo e demais vivências que Ribeiro teve no bojo familiar, foram diretrizes para criar sua filha Thulane, rompendo alguns ciclos (como conversas sobre sexo, consideradas tabus pra suas mais velhas) e realizando a manutenção de outros, como a proteção vinda das rezas e do banho de erva

Há brechas para o riso e para o choro. Nesta obra, a neta fala tanto quanto a celebrada escritora, que também é uma mulher apaixonada e sonhadora, sem deixar desvanecer a sua potência enquanto ativista, e sua força como uma das 20 mulheres de sucesso do Brasil, segundo a Forbes (2021). Assim, a autora consegue ilustrar a profundidade das múltiplas facetas que compõem as pessoas negras, opondo-se à insistência em colocá-las numa narrativa de apenas dor ou superação. Isso é humanizar pessoas. 

É positivo o fato de uma mulher negra em ascensão, sinônimo de influência e poder, contar suas intimidades e vulnerabilidades, pois assim fortalece a identificação das pessoas que a leem. Afinal, como pontua a escritora, “restituir a humanidade também é assumir fragilidades e dores próprias da condição humana”.

Ao contar histórias de sua avó, Ribeiro conta suas próprias histórias, as de sua mãe, e as de tantas outras mulheres negras (e também homens) que, mesmo carregando suas narrativas individuais, partilham de dores, dengos e delicadezas comuns. 

Seja pela experiência do racismo, ou pelas similaridades presentes no convívio e na cultura de famílias pretas, conseguimos identificar as Antônias, as Eranis, as Djamilas e as Thulanes que passam pelo tempo cronológico, mas permanecem em nossas vidas e nas vidas dos nossos. Contar essa história é uma forma de perpetuar a presença antepassada, que foi responsável por abrir caminhos e continua sendo esteio existencial. No fundo Djamila sabe que, mesmo não estando presente em matéria, Dona Antônia comemora, do Orun, a medalha de ouro que é sua neta. Axé!

‘Cartas para Minha Avó ’Djamila Ribeiro Companhia das Letras, 2021200 páginas R$34,90 (venda no site)

*Lucas de Matos é soteropolitano, Comunicador com habilitação em Relações Públicas (UNEB) e Pós-Graduando em Comunicação e Diversidades Culturais (Faculdade 2 de Julho). É poeta e apreciador da literatura.

Conheça Sérgio All e Fernanda Ribeiro, criadores da Conta Black

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Sérgio All e Fernanda Ribeiro. Foto: Divulgação.

Por Rodolfo Gomes e Victória Gianlourenço

Sérgio All nasceu na periferia de São Paulo, no bairro do Capão Redondo, na década de 70. Filho de um metalúrgico e uma diarista, dona Cleuza Aparecida. Seus pais não puderam terminar os estudos, mas sempre o incentivaram a estudar, pois entendiam que aquele era o único caminho possível para vencer. Com seis filhos, seus pais sempre trabalharam muito, ficando pouco tempo em casa, e essa ausência criou em Sérgio uma vontade de mudança, de fazer o possível para mudar aquela situação.

Durante a infância, vivenciou ditaduras, inflação, desemprego, falta de tecnologia, mas ele sempre buscou se informar pelo rádio, TV e jornais, meios aos quais tinha acesso na época. Desde os 6 anos almejava ser um homem de sucesso. Criado em lar cristão, aprendeu desde cedo a distinguir o certo do errado. E optou pelo caminho do certo. Sonhador, Sérgio se inspirava filmes, e seu sonho era trabalhar no mercado financeiro, de Nova York, assim como no filme Wall Street, estrelado por Charlie Sheen e Michael Douglas.

“Eu via o filme e falava pra minha mãe: eu quero trabalhar assim mãe, e ela sempre dizia, você vai”, contou. Enquanto os irmãos empinavam pipa, ele brincava de faz-de-conta na cama da sua mãe, simulando que ali era sua grande mesa de escritório. Estudou sempre em escola pública até o Ensino Médio, e desde muito cedo buscou empreender.

Foi o primeiro de sua família a ter uma empresa formal, e aos 16 anos foi trabalhar no Mappin (antiga loja de departamentos), como office boy. Vendo o mundo corporativo de dentro, sempre almejou novos cargos, durante os 8 anos que passou na companhia. Estudou desde cedo a questão do racismo, e enfrentou na pele o racismo corporativo, desde o seu primeiro emprego.

Sérgio sempre desafiou o status quo, e depois de enfrentar alguns conflitos com seu chefe, por causa de sua cor, foi mandado para trabalhar no arquivo morto, no subsolo. Lá embaixo, ele descobriu que os nãos seriam seu combustível para o sim. Ia trabalhar sempre de terno e gravata, começou a se relacionar com a diretoria, que nos elevadores o encontravam e estranhavam aquela figura: preto, jovem e de terno.

Após algum tempo trabalhando no subsolo, entendendo a desordem do local para armazenamento de arquivos e vendo oportunidades de melhorias, sugeriu uma mudança drástica no arquivo da loja. Ciente que enfrentaria resistência de seu superior imediato, levou a sugestão diretamente à diretoria, que aprovou como um piloto. Com o aval dos diretores, criou processos que facilitaram a busca pelos arquivos e aumentaram a produtividade da área jurídica.

Durante o teste, no qual pediram uma série de arquivos diferentes, surpreendeu ao encontrar forma rápida tudo que lhe havia sido pedido. Cientes da eficácia do que Sérgio havia proposto, fizeram com que o novo processo virasse modelo para todas as outras lojas. E assim começou sua escalada corporativa.

Foi convidado para cursar Direito, com apoio da empresa, mas agradeceu e recusou, entendendo que, apesar das oportunidades, aquela não era a sua vocação, e não era o trampolim que o levaria a realizar o sonho de sua mãe, que era terminar a construção de sua casa. Cursando Marketing Multinível, aprendeu muito sobre liderança e sobre aglutinar pessoas. Sérgio foi se desenvolvendo e se preparando para o que estava por vir.

“Aos 18 anos, perdi minha mãe, e contraí depressão, uma dor solitária, assim como o empreendedorismo, que persistiu por 2 anos”. Aquela que o tinha ensinado a desafiar a vida, agora faltava. Durante o processo de depressão, se tornou autodidata, e lendo livros sobre publicidade, achou ali sua vocação.

Optou por empreender na área de jogos eletrônicos e concluiu que poderia fazer disso um negócio. Antes da bolha da internet estourar, lançou o SOS Games, uma startup na qual aplicou toda a base do que aprendeu no marketing multinível. A startup desenvolveu um buscador de dicas de jogos, chamados também de “detonados”, que era alimentado por noites de jogos entre ele e os amigos.

O SOS Games ficou no ar por 5 anos, e acumulou mais de 50 mil dicas, com um público mensal de mais de 30.000 pessoas. O negócio decolou, e Sérgio, através de sua empresa, começou a representar grandes marcas, e a participar de feiras, como a Fenasoft, a maior feira do segmento.

Entre suas descobertas, se questionou o motivo de não haver jogos para Mac, e pra sua surpresa, viu que esses jogos existiam, e só não eram divulgados. Procurou a Apple, e encontrou apoio para popularizar esses jogos, pra essa plataforma, e pouco tempo depois estava no palco de um grande evento para revendas, no Clube Pinheiros, sendo apresentado como o responsável para divulgação dos jogos na plataforma.

O networking foi algo que ele aprendeu muito cedo em sua jornada empreendedora, durante uma edição da Fenasoft. Ali, entendeu que precisava ir logo no primeiro dia, quando o board dos expositores visitava a feira, e distribuía muitos cartões de visita.“O mercado de entretenimento me projetou”, disse ele.

Como previsto, pouco tempo depois já estava em um evento da Apple na Amchan, onde teve a oportunidade de apresentar um novo jogo para a plataforma. Lá, conheceu muitas pessoas importantes. Pra atrair capital e crescer, ele trouxe outros profissionais para o board, como sócios, e com essa experiência aprendeu a duras penas sobre a importância de escolher as pessoas certas.

Depois de diversos desentendimentos e muita hostilidade por parte dos seus sócios, Sérgio vendeu sua participação na empresa e foi buscar novos horizontes. “Lembrava de minha mãe me dizendo que tudo que eu me dedicasse eu conseguiria sucesso, e foi assim”.

Ao sair de sua própria empresa, decidiu montar uma agência. Aglutinou pessoas, trouxe sócios certos, e consolidou a sua agência ao longo de 20 anos, que começou prestando serviços para o digital, fazendo sites, e foi adicionando divisões de trade marketing, eventos, até se tornar uma agência full service. Surfou vários segmentos, participou na construção de grandes shows, como U2, Linkin Park, entre outros grandes nomes.

Aprendeu sobre captação de patrocínios, e sempre que surgia uma nova demanda, Sérgio primeiro vendia, depois ia descobrir como entregar. E entregava com muita competência, na raça. Sempre teve clientes brancos, os pares e parceiros idem. Percebeu que seu maior desafio era não ser reconhecido como o dono da agência, pela sua cor.

Em diversas situações, encarou com um sorriso amarelo no rosto, quando enfrentava esses desafios raciais. Foi então que aprendeu a lidar, e passou a letrar os seus próximos sobre o tema. Lutava para conquistar clientes, que muitas vezes duvidavam de sua capacidade de entrega.

Quando jovem havia perdido seu irmão caçula, que foi assassinado. E agora, perdia seu irmão mais velho, seu braço direito na agência, para um infarto fulminante. Perdeu também seu pai. E lidando com suas perdas, não desistiu, e ganhou novas bases de sustentação. Conheceu a Fernanda Ribeiro, que presenciou as suas dores e perdas. Na ocasião, sua agência estava crescendo, e precisou de um empréstimo para modernizar os computadores e crescer. Durante entrevista presencial, ao verem a cor da sua pele, o banco negou o empréstimo, e esse foi o estopim para que Sérgio decidisse abrir um banco.

Utopia e motivo de chacota no início, ele sempre conduziu suas iniciativas pelo querer fazer. Desde cedo, em toda sua jornada, jogou pro universo, desejou, e conquistou os espaços que desejava. Pessoas viam no seu olho a vontade de querer fazer, e apostavam.

Pesquisou o mercado, aprendeu a fundo sobre a desbancarização do povo preto, buscou e consolidou números. Na época, Sérgio já conhecia a Fernanda há 15 anos, e dividiu o desafio com ela, que imediatamente aceitou construir em conjunto. Fernanda vem de um berço feminino. Sétima menina de uma grande família, contrariou as estatísticas desde o ventre, quando sua mãe, aos 43 anos engravidou, mesmo usando o DIU.

Com as irmãs já todas crescidas, nasceu numa família de adultos, na periferia de São Paulo. Em razão do estágio de vida em que estavam, seus pais já eram financeiramente saudáveis. Sua mãe trabalhava como assistente social, na área da saúde, e seu pai na área de aviação. Sempre teve acesso a educação de qualidade, em escolas particulares. E pra além de tudo isso, teve a oportunidade de conviver com pessoas diferentes.

“Quando nasci, minha família, de tão grande, precisava até de um organograma.” O encontro de família, os almoços de domingo, eram um grande laboratório. Com uma família repleta de diversidade, ela aprendeu a pensar sempre sob muitos pontos de vista. Sempre furou bolhas, em sua família diversa.

Sua mãe sempre levou os filhos a campo, pra ver outras realidades. Fernanda conviveu com essas realidades, e buscava conhecer sempre mais. Já no dia a dia, em escola particular, convivia com outro extrato da sociedade, com famílias abastadas e de origem privilegiada.“Sempre sou a pessoa improvável nos lugares improváveis. E agora, não é diferente. Sou uma mulher, negra, retinta, jovem, no meio do mercado financeiro. Para além disso, gosto de balançar as estruturas, e promover o teste do pescoço, olhando pro lado em busca de pessoas como eu.”

Com DNA questionador, não convive em locais com tantos iguais. Ao contrário do esperado (sua mãe e irmãs todas trabalhavam na área da saúde), ela seguiu outro caminho, e inspirada pelo seu pai, que sempre a levava nas folgas ao aeroporto, para verem aviões chegando e partindo, na hora de escolher sua faculdade, escolheu Turismo.

Trabalhou como executiva em grandes companhias aéreas, onde construiu sua carreira corporativa. Entendeu que o quanto mais subia na escalada corporativa, menos negros encontrava pelo caminho. Trabalhando o triplo, por 18 horas diárias, sempre focou em entregar e ir além.

Fernanda tem muito orgulho de sua carreira, dos países que visitou, das pessoas com quem se conectou. Apesar de amar seu trabalho, enfrentava o racismo de muito perto, vindo de seu superior imediato. Com uma jornada de trabalho adoecedora, teve Síndrome de Burnout, desenvolveu um nódulo, descoberto em um atendimento médico que precisou se submeter, durante uma crise de ansiedade. Na ocasião entendeu que precisava mudar de carreira, e que aquele ciclo havia finalizado. Durante sua internação, seu chefe não parava de ligar para ela, afinal, ele precisava de informações para uma reunião importante.

Percebendo ser apenas mais um número, decidiu migrar sua carreira. Se programou financeiramente para um período de pausa, preparou sua sucessora, e saiu da companhia. Após sua saída, se dedicou por um ano a conhecer o novo, se conectar com o diverso. E nesse momento os destinos de trabalho de Fernanda e Sérgio se cruzaram, e criaram juntos a Afro Business, juntamente com Márcio, um amigo em comum, e terceiro fundador do negócio.

Desde o primeiro dia, a grande vocação era para atuar na área econômica, gerando trabalho e renda pra pessoas pretas. E assim surgiu um negócio de impacto, uma plataforma de cadastro, que em 3 meses já era finalista de uma premiação internacional, promovida pelo Google. Com um plano de comunicação sólido, saíram em uma matéria de mais de 5 minutos, no programa Pequenas Empresas, Grandes Negócios, e viram sua rede se encher de profissionais.

Começaram a conectar as pessoas entre si, e notaram que havia muita diferença entre os graus de maturidade dos negócios. Para além de conectar as pessoas, entenderam que precisavam capacitar e fomentar o empreendedorismo. “Nascemos com o DNA de não reinventar a roda“.

Segundo Fernanda, com diversas organizações pretas no mercado, atuando em diversas vertentes, optaram por focar na conexão dos empreendedores. E assim começou a atuação do Afro Business, gerando frutos para os participantes. Os empreendedores negros não estão em todos os setores da economia, limitando as conexões possíveis. Quando surgiu a ideia de inserir os empreendedores na cadeia de suprimentos de grandes empresas, e dentro desse ecossistema, surgiu a coragem de criar um banco, para atender a demanda do povo preto.

Tinha empreendedor que não tinha conta bancária, pois eram impedidos pelo sistema, sendo reprovados muitas vezes pelo recorte étnico, diante de gerentes de banco que não enxergavam potencial em seus negócios. O prazo de faturamento das empresas para seus fornecedores também era um problema, pois era longo demais, para empreendedores que não tinham caixa nem crédito. As instituições tradicionais negam crédito 4x mais para pessoas pretas.

O Conta Black nasce como uma conta digital, e traz pro empreendedor acesso a ferramentas financeiras, e trabalhar com outras camadas. “Desde o primeiro dia, entendemos que educação financeira precisava constar em nosso DNA. No Brasil, o sistema financeiro tem um mecanismo para manter as pessoas pretas endividadas. 70% dos adultos economicamente ativos e endividados são pretos, e o Conta Black veio para mudar esse cenário”.

Tão importante quanto o crédito, trazer a educação financeira pro povo preto se faz necessário, é preciso também educar para o não endividamento. Ao longo dos 6 anos do Conta Black, criamos cartão, microcrédito e conta digital. Somos hoje um hub de serviços financeiros, conectados a uma conta digital. Nossos pilares se baseiam em educação financeira: Benefícios, que representa entregar produtos e serviços que sejam adequados a realidade; Consumo, que orienta a forma como continuamos fomentando o black money; e Conta Digital”, finaliza Fernanda.

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