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“Sou muito grata aos meus ancestrais”, diz Eli Ferreira ao celebrar trabalhos como atriz

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Eli Ferreira. Foto: Divulgação.

A artista Eli Ferreira está vivendo um momento de destaque em sua carreira. Com diversos projetos em andamento, recentemente, ela participou da série ‘Sentença’, do Prime Vídeo. Agora, ela se prepara para ganhar o coração do público em ‘Mar do Sertão’, nova novela da TV Globo. “É um momento importante, só nossos ancestrais, os artistas que vieram antes poderão (sim, porque vivem em espírito) mensurar tudo que passaram em terra pra nós ocuparmos esses lugares“, diz Eli em entrevista ao MUNDO NEGRO. “Ainda falta muita coisa ,viu?! Não nos enganemos, não nos enganemos com ‘maquiagens’, isso é importante dizer e ter em mente. Mas sim, temos um avanço e sou MUITO grata aos meus ancestrais pelo caminho que trilharam pra eu poder sonhar ainda mais alto”.

Eli se classifica como uma pessoa ‘inquieta’ e diz que espera muita coisa boa no caminho, principalmente quando observa os últimos acontecimentos em sua carreira. “Olha, eu sou inquieta. Me sinto limitada quando preciso pensar em uma coisa por vez. E exatamente este momento, com 2 trabalhos no ar, e com mais 2 pra estrearem ainda no mesmo ano , acho que simbolicamente representa demais essa inquietude que eu amo“, diz ela. “E são personagens muito diferentes uma da outra, Advogada / Enfermeira / Economista e uma Policial, é uma alegria muito gostosa! Sempre quis ser várias, sempre senti muita coisa e sinto que tem muita coisa pra sair ainda, atuando, escrevendo, cantando. Eu estou feliz e quero é muito mais. Mais pra mim e mais pros meus. Estou amando ver vários amigos e amigas pretas trabalhando, estão em série, teatro, novela, estão dirigindo, roteirizando pra grandes canais”.

Eli Ferreira. Foto: Divulgação.

Em ‘Mar do Sertão‘, novela escrita por Mário Teixeira, somos apresentados à Canta Pedra, uma pequena cidade do nordeste que dizem ter sido mar antes de virar sertão. Eli interpretará Laura dentro do novo folhetim. “Uma novela que chega com quase metade do elenco todo nordestino, até agora somos uns 10 atores pretos de vários cantos do país”, conta Eli. “Uma novela divertida, é um texto que prende os atores durante as leituras. Por lá, dizem há muitos anos não se via algo tão bem escrito. Laura é uma mulher sofisticada, prática e ambiciosa. Ela nutre uma paixão velada pelo seu amigo de vida e de trabalho, José Mendes (Sérgio Guinze ) Ela não gosta de reatar ali, numa cidade parada no tempo, mas Jose convence ela a ajudá-lo nesse retorno e ela aceita, mas vai ser difícil se adaptar àquele lugar e àquelas pessoas”.

Sobre ‘Sentença’, Eli destaca a importância do trabalho enquanto atriz e as diferenças culturais no Uruguai. “Rodamos [a série] entre outubro e dezembro de 2020, no Uruguai, um dos poucos países possíveis de se trabalhar no primeiro ano de pandemia“, diz ela. “Foi minha primeira vez no país , estranhei um pouco o clima, as pessoas, não via pretos, a não ser os do elenco , não em Montevideo, fui no mercado não tinha creme nem pra cabelo cacheado, pra crespo então, nunca nem ouviram falar, estranhei a comida. Mas foi incrível poder trabalhar, ainda mais quando nosso trabalho foi um dos mais prejudicados, poder estar num set com profissionais tão talentosos, foi um acalanto pra alma”.

A artista finaliza lembrando a importância do processo eleitoral, principalmente neste ano de 2022. “Eleições estão aí né gente?! Sei que não temos a ‘variedade’ de candidatos fortes, mas precisamos estar atentos ao que precisamos fazer neste momento e já no primeiro turno”, diz ela. “No mais, é continuar nos cuidando, nos protegendo, nos aquilombando de alguma forma. Eu acredito em dias melhores pra nós. Atché lê o“.

Nos Estados Unidos, Jay Ellis é criticado por se ‘casar com mulher branca’

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Foto: Alessia Franco

O ator Jay Ellis, famoso pela atuação na série ‘Insecure’, compartilhou imagens recentes de seu casamento com a modelo e também atriz, Nina Senicar. Acontece que o astro vem recebendo fortes críticas na internet. O motivo? O fato dele ter se casado com uma mulher branca.

Os comentários com críticas ganharam tanto destaque que o ator chegou a bloquear todas as mensagens direcionadas a ele no Instagram. O tópico foi parar entre os assuntos mais comentados do Twitter nos Estados Unidos.

Em ‘Insecure’, Jay Ellis interpreta o personagem Lawrence Walker, que mantém uma intensa relação de amor com a personagem de Issa Rae, Issa Dee. A série da HBO aborda diversas questões relacionadas à sexualidade, mas com protagonismo negro, além de trazer debates frequentes como a solidão da mulher negra e o sexismo dentro da sociedade contemporânea.

“A questão é, por que você está bem com a maior parte do seu dinheiro e apoio vindo da negritude, mas na sua vida não tem nenhuma negritude além da sua? Esse é o problema com a situação de Jay Ellis“, comentou uma usuária nas redes sociais.

Issa Rae e Jay Ellus em ‘ Insecure‘. Foto: HBO.

Apesar das críticas, o ator também recebeu apoio. “Vocês precisam deixar os homens negros em paz. Nem todo mundo merece passar por esse julgamento“, comentou outro usuário. O casamento com Nina veio após cinco anos de namoro. Jay relata que pediu a modelo em casamento ao pôr do sol na cidade de Bali, ainda em 2019, e eles começaram a planejar o casamento logo depois. “Sempre soubemos que queríamos nos casar na Itália porque ir para lá foi a primeira viagem que fizemos juntos”, explica Nina. Os artistas realizaram a cerimônia de casamento na Toscana.

Foto: Alessia Franco.

Biografia da ativista e pantera negra Assata Shakur ganha edição brasileira

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Foto: Reprodução.

Na lista de “mais procurados” do FBI, Assata teve sua biografia publicada pela primeira vez em 1988, nos Estados Unidos

A autobiografia da ativista negra americana e pantera negra Assata Shakur chega ao Brasil este ano pela editora Pallas. A informação é do Estado de Minas. Tendo completado há 75 anos no último sábado (16/7), Assata está na lista de “terroristas mais procurados” pelo FBI, o serviço de inteligência dos EUA e vive em Cuba – onde escreveu a autobiografia – desde 1980.

No início dos anos 70, Assata já era um nome de destaque do movimento negro dos Estados Unidos, ligada aos Panteras Negras e ao Exército de Libertação Negra. Foi condenada à prisão perpétua pela morte do policial Werner Foerster – mesmo sem que vestígios de pólvora tenham sido encontrados em suas mãos. Há quatro décadas, Assata é considerada foragida e o FBI oferece uma recompensa de U$ 2 milhões por sua captura.

Assata foi para a prisão em 1977 e protagonizou uma fuga chocante em 1979, quando foi libertada por três homens negros, que invadiram a cadeia armados para soltá-la. Essa história também é contada no livro, cujo lançamento no Brasil é marcado por dois eventos: um no Rio de Janeiro, realizado na última quinta-feira (14/7), e outro em São Paulo, previsto para a próxima quarta-feira (20/7).

Os eventos contam com as presenças da escritora Cidinha da Silva; da cantora, atriz e ativista Preta Ferreira; da médica, ativista, escritora e diretora executiva da Anistia Internacional Brasil Jurema Werneck e da escritora e historiadora Ynaê Lopes dos Santos, que assina a apresentação da edição brasileira de “Assata: uma autobiografia”.

Crítica aclama “Não! Não Olhe!”, de Jordan Peele, mesmo criador de “Corra!”

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Foto: Reprodução.

Críticos começaram a assistir o novo filme de Jordan Peele, “Não! Não Olhe!” na última segunda-feira (18) e têm se desdobrado em elogios à nova obra do cineasta. Comparações com outros diretores como Steven Spielberg fazem parte do combo de elogios ofertados pela crítica, que também destacou o mix entre terror, comédia e ficção científica presente no longa. Confira algumas opiniões sobre o filme:

“Não! Não Olhe! é um dos melhores filmes que assisti este ano! É assustador e feroz, mas também muito engraçado e diferente de todos os filmes de alienígenas que você já viu. É um filme de horror único e envolvente, cheio de surpresas doidas e uma performance inesquecível de Keke Palmer”, disse Erik Davis, do Fandango e Rotten Tomatoes.

Candice Frederick, repórter cultural do Huffington Post disse que ainda vai levar um tempo para digerir a nova produção. “Ainda não sei como vocês vieram com uma reação tão rápida ao “Não! Não Olhe!”. Ainda estou pensativa sobre o filme”.

Para Nigel Smith, editor da People, “Nope (título original do flme) é um retumbante SIM! Veja na maior tela que você encontrar. Um espetáculo emocionante e estranho diferente de tudo por aí. Nunca mais vou olhar para o céu da mesma forma”, disse.

“A coisa mais importante a se saber sobre Não! Não Olhe! é que ele é muito diferente de Corra! e Nós. Este é Jordan Peele abrindo suas asas e fazendo uma ficção científica à la Spielberg, com todo o subtexto que você esperaria. Entre na sessão com a mente aberta, e você será recompensado”, disse Kevin Polowy, do Yahoo.

A estreia de Peele no mundo do terror com o filme Corra! rendeu a ele quatro indicações ao Oscar, incluindo melhor filme, melhor diretor e melhor ator para Daniel Kaluuya. O filme levou a premiação de roteiro original. O faturamento mundial de US$ 255 milhões do filme foi igualado pelo filme que veio a seguir, “Nós”, levando Peele a conquistar em apenas dois filmes feitos que muitos não conseguem durante uma vida inteira.

“Não! Não Olhe!” apresenta a história de dois irmãos (Daniel Kaluuya e Keke Palmer) que descobrem uma nave alienígena pairando sobre o rancho de cavalos de sua família. A dupla parte para capturar a espaçonave na câmera, mas a missão não sai conforme o planejado.

O filme tem estreia na América Latina prevista para 25 de agosto.

Alcione passa por cirurgia na coluna; assessoria diz que procedimento foi bem-sucedido

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Foto: Marcos Hermes.

A cantora Alcione passou nesta segunda-feira (18) por uma cirurgia na coluna vertebral. Aos 74 anos, a artista realizou o procedimento no hospital Copa D’or, Zona Sul do Rio de Janeiro.

A cantora Alcione foi submetida à uma cirurgia na coluna vertebral para tratamento de espondilolistese de L5 – VT associada à discopatia degenerativa de L5, com sinais de radiculopatia à direita“, publicou a assessoria da cantora em nota oficial. “Gostaríamos de enfatizar que a cirurgia realizada pelo Dr. Deusdeth Gomes do Nascimento e Equipe, foi muito bem-sucedida e que, a alta hospitalar, deverá ocorrer nos próximos dias“.

Segundo informações, espera-se que a artista possa voltar aos palcos em breve, para continuar com sua agenda de shows em comemoração aos seus 50 anos de carreira. No início do mês de julho, a equipe de Marrom já tinha anunciado cancelamento de um show da cantora em São Paulo. À época, a sambista notificou os organizadores que se submeteria a uma cirurgia e que ficaria temporariamente longe dos palcos, para recuperação.

Após série de rumores, Drake confirma que foi preso na Suécia

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Foto: Richard Shotwell / Invision.

O cantor Drake utilizou sua conta no Instagram para confirmar que foi preso na Suécia durante o último final de semana. A notícia ganhou destaque ao longo dos últimos dias na imprensa europeia, mas só foi confirmada após a publicação do rapper, que mostrou ao público um documento com o título: “Informações para suspeitos de um crime e posteriormente detidos”. A imagem traz uma série de apontamentos sobre os direitos da pessoa detida, como a possibilidade de realizar ligação em busca de apoio e entrar em contato com o responsável legal.

“Se você não é um cidadão sueco, você tem o direito de pedir ajuda para seu país de origem ou informar a instituição equivalente sobre sua detenção”, diz trecho do documento compartilhado pelo artista.

Uma série de rumores surgiram na internet, afirmando que Drake teria sido preso no país europeu por porte ilegal de maconha, equanto curtia a noite em Estocolmo. Na legenda da publicação, o artista canadense não deu detalhes sobre o ocorrido na Suécia. “Quero ver a família Ibiza Chubbs”, disse ele ao compartilhar imagens de outros momentos.

Drake também não revelou o motivo da viagem ao país europeu, mas especula-se que ele esteja organizando edições de seu novo festival de música. “Eu estou trabalhando para levar o OVO FEST ao mundo todo em 2023 e comemorar o aniversário de 10 anos [do evento]“, disse ele em entrevista.

“Seria irrealista que líderes africanos continuassem a pregar a paz enquanto o governo responde nossas exigências pacíficas com a força”, disse Nelson Mandela

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Foto: Reprodução.

Por Ricardo Corrêa

Nossa marcha para a liberdade é irreversível. Não devemos permitir que o medo fique em nosso caminho. −Mandela

Nelson Mandela nasceu em 18 de julho de 1918, na aldeia de Mvezo no Transkei, África do Sul.  Em 2009, a Assembleia Geral da ONU escolheu a data como Dia Internacional Nelson Mandela. O herói sul-africano foi agraciado com o Prêmio Nobel da Paz (1993) e eleito presidente da África do Sul (1994). Indiscutivelmente, um homem radical. Nesse aspecto, recorro à reflexão do educador Paulo Freire (1968):

“O radical, comprometido com a libertação dos homens, não se deixa prender em “círculos de segurança”, nos quais aprisione também a realidade. Tão mais radical, quanto mais se inscreve nesta realidade para, conhecendo-a melhor, melhor poder transformá-la. Não teme enfrentar, não teme ouvir, não teme o desvelamento do mundo. Não teme o encontro com o povo.”

Estudou bacharelado em Direito na Universidade de Witwatersrand, e, em 1951, abriu um escritório de advocacia em Johanesburgo. Antes, frequentou as reuniões e cursos do Partido Comunista Sul-Africano, atividades que contribuíram para o desenvolvimento da sua consciência política. Mandela até declarou que, de certa forma, foi influenciado pelos estudos marxistas e que sentia atração pela construção de uma sociedade sem classes. Ele admirava a estrutura e organização das primeiras sociedades africanas do país, pois não havia exploração, nem ricos ou pobres.

Mandela ingressou no Conselho Nacional Africano (CNA), em 1942. A organização defendia os direitos do povo africano, e atuava no campo constitucional: formulando petições, encaminhando demandas etc. Anos mais tarde, foi eleito para a executiva do CNA. O Partido Nacionalista chegou ao poder, em 1948, e transformou o apartheid em lei; os brancos e os negros deveriam viver em áreas separadas, os espaços públicos teriam instalações distintas: banheiros para negros, banheiros para brancos, bebedouros para negros, bebedouros para brancos, escolas separadas, casamentos interracial proibido, entre outras políticas racistas.

No dia 21 de março de 1960, ocorreu o Massacre de Shaperville que resultou  em 69  pessoas mortas e mais de 180  feridos. Os negros protestavam contra a Lei do Passe, que obrigava a portarem cartões com registro oficial informando se poderiam transitar naquela área que se encontravam, e qual o período permitido. Os policiais responderam com brutalidade. Diante desse fato, Mandela optou pela luta armada e convocou manifestações em massa, entrou para a clandestinidade, usou disfarces, organizou reuniões secretas. No movimento do manifesto armado, escreveu  “no início de junho de 1961, após uma longa e ansiosa avaliação da situação sul-africana, eu e alguns colegas chegamos à conclusão de que, como a violência neste país era inevitável, seria irrealista e errado que os líderes africanos continuassem a pregar a paz e a não-violência, numa altura em que o Governo responde às nossas exigências pacíficas com a força”.

Depois de ser acusado de violação da Lei de Proibição do Comunismo, de atividades contra o governo, de incitação à greve, e viagem sem passaporte válido,  Mandela acabou sendo preso. Em 1964, o condenaram à prisão perpétua por planejar invasão armada e pelo crime de sabotagem; a pena começou a ser cumprida na Ilha Robben. Incontáveis mobilizações e campanhas exigindo a sua liberdade explodiram na África do Sul e no mundo. Em 1985, recebeu a proposta de liberdade condicional desde que renunciasse a luta armada. Ele negou. No dia 11 de fevereiro de 1990, recebeu a liberdade e pouco tempo depois as leis racistas foram abolidas. Nelson Mandela morreu no dia 05 de dezembro de 2013, mas as suas lições continuam eternas.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BOEHMER, Elleke. Mandela: O homem, a história e o mito. Tradução: Denise Bottmann. Porto Alegre, RS: L&PM, 2014.

MANDELA, Nelson. Autobiografia de Nelson Mandela – Um longo caminho para a liberdade. Lisboa: Planeta, 2009.

Comédia ‘Barraco de Família’ estrelada por Cacau Protásio e Lellê ganha trailer

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Foto: Divulgação

A nova comédia da Santa Rita Filmes, “Barraco de Família”, estrelada por Cacau Protásio e Lellê, ganhou o seu primeiro teaser trailer. O filme é financiado e distribuído pela Synapse Distribution e Ledafilms e será lançado em breve nos cinemas.

Depois de ser cancelada por causa de um vídeo vazado, Kellen (Lellê), uma funkeira famosa arma o maior barraco ao tentar voltar às suas origens e precisará da ajuda da mãe Cleide (Cacau Protásio) para desenrolar sua carreira.

O filme reúne ainda talentos da música e da comédia, como Sandra de Sá e, pela primeira vez no cinema, o cantor Péricles e a atriz e cantora Jeniffer Nascimento, além dos humoristas Yuri Marçal, Nany People e Maurício de Barros. Também estreando em um longa-metragem, o jornalista e influenciador Hugo Gloss interpreta Rick, o vilão de “Barraco de Família”. Completam o elenco Robson Nunes, Eduardo Silva e Lena Roque.

A comédia é mais uma produção da dupla Maurício Eça (diretor) e Marcelo Braga (produtor), que, recentemente, realizaram os filmes “A Garota Invisível”, “A menina que matou os pais” e “O menino que matou meus pais” e “Hora de Brilhar”. Emílio Boechat e Lena Roque assinam o roteiro.

Assista ao trailer:

Como mulheres negras têm criado espaços para promover o coletivo

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Adriana Barbosa, Fernanda Ribeiro, Maitê Lourenço e Luana Génot.

Por Isadora Santos

A exemplo de nossos ancestrais, pessoas negras têm desenvolvido estratégias para sobreviver e prosperar, criando espaços e hackeando o sistema

“Pretos no topo”, “Favela venceu” e outras frases de efeito costumam circular pelas redes sociais, compartilhadas por pessoas negras orgulhosas de seus feitos e conquistas, que certamente devem ser comemoradas. Mas sabemos que se tratam de processos individuais e que, o ‘topo’, na verdade precisa ser um espaço muito maior que caiba o coletivo.

O caminho para conquistarmos espaços ainda é longo. Um levantamento realizado pela consultoria Gestão Kairós no início de 2022 mostrou que mulheres negras ocupam apenas 3% dos cargos de liderança nas empresas, no geral, as mulheres representam 25% dos profissionais nesses cargos, de acordo com a pesquisa.

Esperar que as instituições, tanto públicas, quanto privadas, promovam de maneira espontânea ações de inclusão e diversidade que aumentem o número de pessoas negras nesses espaços não nos levará longe. É por isso que vemos, desde sempre, pessoas negras articulando para construir suas próprias estratégias de desenvolvimento profissional e de negócios e promover toda a comunidade.

Como é o caso da Adriana Barbosa, CEO do PretaHub. Há 20 anos, Adriana criou a Feira Preta, dando espaço para que os pretos pudessem mostrar todo seu potencial de criação artística e de negócios. “Desde que comecei a Feira Preta, há mais de 20 anos, olhava os espaços e territórios e sentia a ausência da população preta. E a primeira atitude foi ocupar o espaço. Hackeamos os espaços, mas vejo a criação de outros pela população negra como estratégia importante para protagonizarmos as nossas histórias”, contou Adriana Barbosa em entrevista.

Para Fernanda Ribeiro, Presidente da Associação AfroBusiness, co-fundadora e CCO da Conta Black, uma fintech que busca contribuir para o fim da exclusão financeira e desbancarização da população pobre e negra, o fato de pessoas negras lutarem para criar espaços também significa que estamos ‘hackeando o sistema’ através de nossas próprias estratégias. “Eu acredito que tudo isso faz parte de um processo de “hackeamento do sistema” que está posto! Existe estranhamento, mas também existe transformação nesses ambientes e acredito que precisamos estar lá para trazer provocações. Mas entendo que essa “ocupação” precisa acontecer de forma estratégica e sem se desviar do propósito coletivo”, explica Ribeiro. 

Luana Génot, Fundadora e Diretora Executiva no Instituto Identidades do Brasil, o ID_BR, que se dedica a criar ações para a promoção da igualdade racial no Brasil, explica que “Mais do que ocupar um espaço, eu queria ter o poder da caneta. Eu acho que isso fez toda a diferença nas minhas tomadas de decisão de carreira. Não só por mim, mas pelas pessoas que eu entendi que tinham todo o potencial de liderança, mas que não exerciam seus plenos talentos por conta de um sistema opressor, racista, já pré-moldado”, explica.

“Hoje minha posição é a seguinte: eu acredito que é tão importante ocupar espaços já criados, quanto criar espaços. É uma coisa e outra. Até porque, para que a gente possa empreender é necessário que as condições nos sejam dadas”, complementa Génot.

Fundadora da BlackRocks, Maitê Lourenço percebeu na faculdade a importância de gerar oportunidades para pessoas negras na área de tecnologia e inovação. “Tornar isso minha missão profissional foi durante a faculdade e logo depois, quando entrei de cabeça na área de tecnologia/no ecossistema de startups com a BlackRocks, ali eu não vi que era somente importante e sim uma oportunidade de gerar negócios onde ninguém até então estava interessado em atuar (digo homens brancos com potencial de desenvolvimento de negócios que com todo pacto narcísico da branquitude não enxergam, até hoje, potencial onde nós enxergamos)”, explica. 

Nossas entrevistadas compartilham também a condição de serem mulheres negras em ambientes dominados por homens brancos, o que torna ainda mais desafiador o trabalho que realizam. Quando perguntamos a elas como é ser uma mulher preta e ter que criar espaços que reconheçam o talento e a excelência negra, o cansaço e a exaustão são quase um consenso entre elas. Afinal, criar espaços é necessário e estratégico para nós, mas isso não torna o trabalho fácil.

“Eu resumiria em algumas palavras: desafiador, cansativo, motivador e gratificante. Tudo ao mesmo tempo, inclusive. Ser uma mulher preta em um país racista e machista, como o que vivemos, já é uma prova diária para qualquer sanidade. Ser uma mulher preta, jovem, retinta em um ecossistema que tem uma representação imagética que é exatamente o oposto (homens, brancos e mais velhos) já diz muita coisa”, analisa  Fernanda Ribeiro.

Adriana Barbosa destaca a necessidade de se reconhecer a humanidade de mulheres negras nesses processos. “Cansativo e desgastante demais. Imagine estar lutando há 20 anos, quero parar de brigar, quero simplesmente viver. Não dá para nós mulheres negras estarmos sempre no front, na resistência, sermos guerreiras. Somos humanas e vulneráveis também”, complementa.

Luana Génot ainda destaca a importância de superar o racismo mostrando que podemos fazer o que quisermos. “Ser uma mulher negra, de pele preta, e ter que criar espaços que reconheçam o talento e a excelência negra e indígena para mim é uma forma da gente conseguir espalhar que nós somos muito maiores que o racismo”.

O que esperar dos espaços futuros

Luana Génot destaca que é importante lembrar de quem veio antes:  “Eu espero que não seja mais uma grande questão ver uma mulher negra ou indígena sendo a próxima governadora do Estado, a próxima CEO. E eu vou avançar, andar e percorrer o máximo de estrada que eu puder fazer em vida para ver isso acontecer, até porque é uma passagem de bastão. Se eu estou fazendo isso é porque tantas pessoas fizeram muito antes de mim e estão fazendo agora comigo”, afirma a diretora executiva do ID_BR.

“Eu acredito em um futuro onde as pessoas pretas não serão empurradas ao endividamento, perdurando uma lógica cruel. Cabe parafrasear Martin Luther King, que dizia que “apesar das dificuldades de hoje e de amanhã, ainda tenho um sonho”. Sinceramente não acredito que a Conta Black vai resolver esse problema sozinha, nem temos essa pretensão, mas acredito muito no poder das pequenas ações impactando as grandes transformações”, conta Fernanda Ribeiro.

Maitê Lourenço reforça o que espera para o futuro: “Eu sempre brinco que sucesso pra mim é ver que a BlackRocks ou qualquer outro empreendimento que eu tenha, não faça mais sentido de existir. Que as discriminações tenha acabado e que possamos estar proporcionalmente em todos os espaços de poder, que as instituições se preocupem realmente com equidade e entendam que ceder espaços, patrocinar ações e restituir o que foi retirado de direito seja algo comum e já feito por todos, eu espero no futuro ter sucesso”, conclui.

As mulheres negras que viajam o mundo sozinhas

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Fotos: Reprodução/Instagram

Rebecca Aletheia, 36, mora em Santo André (SP), já conheceu 32 países e é a idealizadora do coletivo Bitonga Travel, feito por e para mulheres negras que viajam ao mundo, com o objetivo de compartilhar experiências de afroturismo em grupo e fomentar encontros.

“É um coletivo de mulheres negras, latino-americanas e caribenhas e também de mulheres negras africanas, de países que falam a língua portuguesa, que traz narrativas de mulheres negras viajantes desde 2018”, explica a enfermeira.

Atualmente, o coletivo conta com 202 mulheres que colaboram de forma voluntária com os conteúdos nas redes sociais, site e canal do Youtube. Apesar de ser voltado para mulheres negras, Rebecca diz que é um coletivo muito diverso. “Tem muita diferença na questão social, modelos de vida. São mulheres ao redor do Brasil e do mundo. E quando a gente fala de Brasil, de América Latina, a gente não está falando só de São Paulo, a gente está falando de mulheres peruanas, dominicanas, com filhos, mais velhas, LGBT’s”.

A Rebecca costuma compartilhar detalhes das suas viagens nas redes pessoais e no blog. “Como chegar, o que fazer em cada lugar, principalmente por destinos não muito frequentados e por ter um olhar muito voltado pro afroturismo, com um olhar mais crítico e racial dessas questões, que nos aflige, o racismo, a questão de gênero e de classe”.

O coletivo eventualmente realiza viagens de mulheres negras presencial ou virtual. “Eu tive a oportunidade de fazer um encontro na Bélgica, no Royal Museum, o maior museu africano fora da África [localizado no Canadá]. A gente já fez encontro na Bahia, no Rio de Janeiro, em São Paulo. Vai muito além de viagem, é a gente poder ocupar espaços que muitas vezes nos é negado”.

Neste Julho das Pretas, o coletivo já tem um novo encontro marcado em Sorocaba, interior de São Paulo. “É um encontro em referência ao Dia da Mulher Negra, Latino-Americana e Caribenha, no dia 27 de julho, no quilombo Cafundó, que preserva a língua banto, assim como tem uma grande produção de produtos orgânicos na cidade”, diz Rebecca.

Como dica imprescindível, Rebecca destaca a importância de não se limitar por ser uma mulher negra e economizar dinheiro. “Acredito que a gente é muito podada, isso é muito ruim, enquanto mulheres, negras, administram nossos lares. Faça o seu plano, está tudo bem se você demorar cinco, dez anos pra realizar o seu sonho, mas que você consiga colocar ele no papel, que você batalhe para isso acontecer.

E completa: “Se preciso for, abra mão de algumas coisas que são pequenos luxos, que às vezes a gente não quer se desfazer por querer estar com todo mundo. Então talvez reduzir um pouco as saídas ou um pouco os nossos consuminhos de bebida ou aplicativos de carro. Esse dinheiro vai fazer muito sentido. A gente sabe que pra viajar, mesmo com pouco dinheiro, vai precisar”.

Atualmente a enfermeira está morando em Serra Leoa, onde deverá ficar por seis meses, junto a uma organização internacional em um projeto de abertura de uma maternidade.

“Esse é o décimo país africano que eu conheço, mas é o primeiro da África Ocidental, então pra mim é tudo novo. Eu costumo dizer que estou na região da “Iorubalândia”, região do iorubá que vai muito além da Nigéria. O lugar é muito bonito, as pessoas, a cultura e também toda essa riqueza do minério. Eu estou vivendo numa região um pouco afastada da capital, Kenema. Uma cidade que tem muito diamante, tem toda uma história, uma riqueza. Mas as pessoas vivem em um vilarejo, eu costumo dizer que eu vivo num quilombo”, detalha.

Ser uma mulher negra viajando o mundo costuma ter seus bônus e ônus. “Falo em nome do coletivo: é muito discrepante o apoio às produtoras de conteúdo de viagens mulheres pretas. É muito fácil você conviver em grupos com influenciadoras brancas recebendo milhões por produção de conteúdos e olhar para mulheres pretas do coletivo ou não, que não tem nenhum apoio e o apoio muitas vezes vem em forma de ‘a gente te dá visibilidade’. Mas no final do mês, a gente tem que pagar nossas contas, nosso aluguel e a gente também quer viajar, quer comer. É muito difícil esse reconhecimento”, desabafa Rebecca.

Para compartilhar mais das experiências e dicas para outras mulheres negras viajantes, Rebecca lançou o livro “EscreVIVER: carta de uma viajante negra ao redor do mundo“. “É um livro que a gente pode encontrar na Amazon, impresso e também na forma de vídeo áudio no YouTube. Sabemos que a população negra é a que menos lê, então trouxe ele em diversas formas para que a gente possa alcançar muitas outras pessoas, pra que a gente possa entender que viajar é preciso. Pra mim, ser uma mulher hoje negra viajando o mundo é um ato revolucionário. E eu me sinto em revolução”.

Viajando o mundo com a aposentadoria

Há cinco anos, a Josefa Feitosa Acioly, mais conhecida como , 62, se aposentou e fez uma mala para desbravar o mundo sozinha. Se desfez da casa, dos móveis e se despediu dos três filhos e de um neto para viver uma vida diferente do que a sociedade espera das mulheres na terceira idade.

Membro do coletivo Bitonga, atualmente ela está no Peru, se ambientando com o clima e a altitude do local. “A experiência não é muito boa pra quem está acostumada a climas como o nosso. Outra questão também é com a moeda. Sempre que me mudo de país preciso me organizar e ficar atenta. E agora principalmente com a nossa moeda tão desvalorizada”, explica.

As viagens podem ter destinos inesperados na rotina da Jô. “Eu não planejo nada. Eu sigo ao sabor do vento e das boas indicações que me chegam através de reportagens que leio e informações de pessoas que já estiveram em determinado local. Outra coisa que conta também é estar próximo do lugar onde já estou. Por exemplo: eu escolhi o rolê pela América Latina então vou seguindo o mapa Colômbia, Equador, Peru… Depois daqui eu ainda não sei. Os outros países eu já fui. Menos a Venezuela. Mas agora com a instabilidade tá difícil ir lá. Deixo pra outra vez”.

Até 2016, a aposentada trabalhava como assistente social no sistema prisional do Ceará e atuava em defesa das mulheres transexuais, sob constantes ameaças.

É com o dinheiro da aposentadoria que Jô custeia todas as viagens. “Eu me sinto ao mesmo tempo uma mulher forte, empoderada e privilegiada. Principalmente por ter vencido o medo de enfrentar preconceitos racial, xenofobia, machismo, idades e gêneros. Tenho orgulho de poder mostrar para outras mulheres como eu, que podemos ser e estar onde quisermos”.

Foram tantos países incríveis que ela conheceu, como a Índia, o Egito e o Vietnã, que a Jô tem a certeza de que existem mais lugares lindos para se ver como esses e quase não pensa em voltar para algum destino. Mas tem a certeza de um país que não pretende voltar, o Quênia.

“Fui confundida com imigrante ilegal e passei uma noite detida. Mesmo mostrando a cópia do passaporte não me liberaram. O episódio foi em Nairóbi e apagou todos os bons momentos que passei em Mombaça, que é uma cidade maravilhosa do país, onde cheguei a fazer voluntariado em um orfanato”, relata.

Jô também realiza palestras para falar das experiências vividas como mulher preta e de terceira idade viajante e participou inclusive do 3º Encontro Brasleiro de Mulheres Viajantes, realizado em São Paulo, em março deste ano.

Rompendo os padrões de avó que fica em casa para cuidar dos netos, Jô mantém uma relação a distância com a família. “Eles já se acostumaram. A tecnologia nos aproxima. Nossa relação é muito respeitosa. Mantenho contato diariamente com eles”.

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