A revista Vanity Fair liberou a edição de junho, que vem estampada com a atriz e cantora norte-americana, Janelle Monáe. Por conta da pandemia de Covid-19, Monáe não foi a nenhum estúdio fazer a sessão de fotos. O ensaio aconteceu através de uma videochamada no Zoom com imagens capturadas por Collier Schorr.
Além de uma entrevista com a artista, a publicação de junho, trouxe depoimentos de amigos de Janelle, como Julia Roberts, Michelle Obama, Erykah Badu e Billy Porter. Logo de cara, Roberts aproveitou para elogiar a colega e sua atuação na segunda temporada do seriado “Homecoming”, do Amazon Prime Video.
Sobre o papel, Monáe confessou ser o mais difícil que já interpretou e a carga da personagem a assustou, tendo de analisar cuidadosamente de seguiria em frente ou não.
E para Michelle Obama, a amiga tem um talento incandescente, em todas as áreas que atua, além de estar plena em todas as situações: “Ninguém fica na plenitude de seu poder como Janelle Monáe. Como artista, ela está em constante evolução, não importa o que Janelle faça, seja música, atuando ou produzindo, ela aborda tudo isso com graça, bondade e um senso de estilo intocável. Ela é um talento incandescente”.
Em seu Instagram, Janelle Monáe comemorou a sua primeira capa em uma revista e agradeceu a todos que participaram junto com ela dessa edição, desde os assistentes aos colegas entrevistados.
O Instagram estreou, nessa terça-feira (19), um novo recurso com foco na saúde mental em tempos de pandemia. Além do Brasil, participam da iniciativa Alemanha, Austrália, Canadá, Estados Unidos, Reino Unido, India e Indonésia
De acordo com a empresa, em cada país, um instituto de prevenção ao suicídio será responsável por selecionar, agrupar e ordenar vários conteúdos relacionados à saúde mental em uma aba chamada “Guia”. O objetivo é oferecer informações que possam facilitar a adaptação das pessoas às mudanças provocadas pela pandemia de Covid-19.
No Brasil, o Instituto Vita Alere de Prevenção e Posvenção (sobreviventes) do Suicídio é o primeiro a usar o recurso. Outras instituições que abraçam a iniciativa são: Fundação Americana para Prevenção do Suicídio, Heads Together, klicksafe, Headspace Deepika Padukone, SudahDong e e-Enfance.
Muito tem se falado das descobertas de brancos e ricos durante a pandemia pelo novo corona vírus, alguns aprenderam a fazer faxina, lavar suas próprias louças e agradecem ao COVID por sua reaproximação aos filhos nas redes sociais.
Mas, a situação do povo preto, e a forma como estão sendo atingidos pela crise além de ser completamente diferente não tem dado tanto o que falar.
Inseguranças e auto cobranças tem preenchido os nossos dias, o sentimento de vulnerabilidade e a incerteza do futuro nos atormentam. Então, além de tomarmos as medidas de prevenção contra o vírus, devemos também falar sobre nossa saúde mental na pandemia e como não a perder devido a estas circunstâncias.
Muito tem sido publicado na internet sobre produtividade na quarentena, textos romantizando o momento como “aproximador” de famílias e ainda enaltecendo a descoberta de dons tem viralizado. Com isso, muitos dos nossos tem entrado em uma sequência de cobranças, insegurança e incapacidade.
O essencial a ser feito neste momento é lembrar da sua fragilidade humana, ninguém estava preparado para isso, e dificilmente vamos conseguir manter tudo sobre controle sempre, então, é necessário não nos cobrarmos tanto.
Faça o que for necessário para se manter bem consigo mesmo, ainda que isso inclua não assistir o noticiário com tanta frequência, e se perder em um bom livro ou filme de vez em quando.
Neste momento, muitas pessoas tiveram suas rotinas completamente alteradas, e alguns que atuam de casa, se martirizam pela falta de produtividade.
Apesar de ser uma situação atípica, estamos nos cobrando como sempre fazemos, pois raramente nos damos o luxo de “relaxar”. Mesmo quando toda a situação nos leva a descrença, incertezas e desespero.
Mas, devemos lembrar a nós mesmos que é comum ficar ansioso, consequentemente aflito e inevitavelmente improdutivo. É necessário iniciar e normalizar formas de organização das atividades, em que sobre algum tempo para também refrescarmos nossas ideias.
A falta de concentração também nos visita com muita frequência, e até quem tenta relaxar lendo um livro ou assistindo um filme se pega perdido pensando na atual conjuntura, suas vítimas e na vida pós pandemia. Em alguns casos, jogos online e redes sociais tem sido bons aliados, não os subestimem.
O foco é sobreviver a este período, e de preferência de forma saudável, enquanto alguns movimentam projetos, outros se sentem bem atualizando suas redes sociais. A cobrança excessiva só faz com que esse momento seja mais doloroso.
Vamos cuidar de nós?
Hoje, um dos grandes nomes na luta antirracista da história Malcom X completaria seus 95 anos, ele que sofreu com um sistema racista desde sua infância, até sua morte, dedicou muitos de seus dias na luta pela independência dos afro-americanos.
Após uma traumatizante infância e juventude em que Malcom teve a sua casa incendiada e a família perseguida por supremacistas branco seguido do assassinato do seu pai e a internação de sua mãe, na juventude Malcom foi preso em Nova York por roubo e foi sentenciado a 11 anos de prisão, onde tudo mudou.
Na prisão, Malcom estudou diversas áreas do conhecimento e daria início a uma nova fase de sua vida, em que lutaria arduamente pelos direitos dos negros do país.
Hoje, 55 anos após o seu assassinato ainda temos muito o que aprender com a luta e história de Malcom X. Confira excelentes sugestões de filmes e documentários que narram a vida do ativista.
Malcom X– Filme produzido por Spike lee lançado em 1992 que conta a história da vida de Malcom e toda a sua trajetória, desde sua vida no crime até a conversão ao Islã, incluindo flashbacks da infância do ativista.
Denzel Washington interpreta Malcom X
O filme teve indicações ao Oscar, Globo de ouro e foi considerado “culturalmente, historicamente, ou esteticamente significante” para a preservação na National Filme Registry dos EUA.
Outra boa opção para os que preferem entender a morte do ativista, com maiores detalhes e informações.
Em fevereiro deste ano, a Netflix lançou o documentário “Quem matou Malcom X?” a série de 6 episódios, mostra arquivos exclusivos e a investigação independente do historiador e ativista Abdur-Rahman Muhammad.
O documentário foi lançado no dia 7 de fevereiro pela Netflix.
Um ano e meio após sua inauguração, a loja física de Jaciana Melquíades que foi fortemente abraçada pela comunidade enfrenta um momento difícil devido a pandemia.
Jaciana nos conta um pouco sobre o ano mágico da loja, em que conseguiu empregar pessoas e levar muita alegria e representatividade para os lares de milhares de crianças pretas.
“No ano da inauguração a repercussão foi incrível, as bonecas foram recebidas de um jeito perfeito, esse primeiro ano da loja foi muito bom, foi um ano de muitas vendas e com pessoas muito felizes pela existência desse espaço. A comunidade abraçou ‘Era uma vez o mundo'”.
Jaciana fala sobre a importância que a sua loja tem no mercado, sendo resistência e mudando a infância de muitas crianças.
“Hoje no mercado a gente tem 7% de bonecas negras, é uma dificuldade muito grande você entrar numa loja típica e conseguir encontrar uma boneca negra. Mas, nós estamos falando também de criar representatividade para as crianças, construir um lugar onde elas consigam se ver e existir. Esse lugar de existência que a gente cria com uma loja, e incluir esse brinquedo no mercado é permitir que crianças negras cresçam mais saudáveis do que as crianças que estão mergulhadas só em uma realidade racista.”
A criadora fala da importância da permanência da loja neste momento e sobre suas tentativas de divulgação das bonecas durante a crise do covid-19.
“Nossas crianças que estão conseguindo fazer o isolamento vivem uma série de processos e distúrbios, sentem medo, pânico e a incerteza de como a vida vai ser daqui para frente, então tem muita criança desenvolvendo depressão nesse momento. Mas tem também uma outra realidade, daquela criança que sequer consegue ficar confinada, e está exposta ao risco. Essa criança que na grande maioria vai ser uma criança negra, que está aí nas periferias e mesmo que saiba que tem que fazer isolamento, não tem condições.”
“Então nós iniciamos na ‘Era uma vez o mundo’ a distribuição de informativos para criança, criamos peças de informação, com a boneca usando máscara, ensinando a usar a máscara, a boneca ensinando a fazer a higiene da máscara e a fazer máscaras de tecido com roupas de casa e etc. É uma forma inclusive de acessar esse público infantil e fazer com que ele tenha um pouco mais de consciência, e mostrar como é que ele precisa se proteger. Falando com uma linguagem que acesse as crianças, e dê também um pouco de conforto a elas, porque uma criança sem informação é uma criança que fica com muito medo e elas precisam se sentir seguras neste momento.”
Com o fechamento das lojas e quiosques parceiros a “Era uma vez o mundo” que atualmente conta com 5 funcionários e sustenta essas famílias se encontra em um momento delicado, e depende da migração dos seus clientes do ambiente físico para o digital.
“Como pequenos empreendedores, todo o dinheiro que entrou no ano anterior, nós investimos no nosso negócio, não tínhamos recursos necessários para nos segurar neste momento de crise. Diferente das empresas grandes, não temos condições de ficar 3-6 meses sem vender, com o fechamento das nossas lojas em março, agora em maio nós começamos a sentir o peso de não estar vendendo. Fiz uma postagem nas redes sociais contanto nossa realidade, e como estamos em um momento muito próximo de quebrar se não retomamos as vendas. Toda nossa receita vinha desses pontos de vendas que agora estão fechados, precisamos salvar nosso negócio. A movimentação que fazíamos no espaço físico vamos fazer no digital.”
Comecei a empreender como a grande maioria de mulheres pretas que são empreendedoras no Brasil: por necessidade. Nada dessas coisas que narram o faturamento de um milhão no primeiro ano de funcionamento. E como quase toda empreendedora igual a mim, estou quebrando. Segue o fio: pic.twitter.com/XzP3laFtPF
Desde 2013 a “Era uma vez o mundo” vem transformando a infância de crianças pretas, lutar pela permanência desse espaço é contribuir para uma infância com muita representatividade e menos racismo.
Um apelo tomou conta das redes sociais durante a noite de segunda-feira (18).:
“Esse é meu primo João Pedro Matos Pinto, tem 14 anos e estava por volta das 16h em casa (Praia da Luz ) São Gonçalo, RJ. Em uma operação da polícia dos traficantes entraram na casa e os policiais saíram atirando e atingiu ele na barriga”. A postagem é de Daniel Blaz, primo de João. Na manhã de terça (19) chegou a notícia de que o estudante estava morto.
GENTE PELO AMOR DE DEUS ME AJUDEM ESSE É O MEU PRIMO JOÃO PEDRO MATOS PINTO TEM 14 ANOS E ESTAVA HOJE POR VOLTA DAS 16h EM CASA NA (PRAIA DA LUZ) SÃO GONÇALO RJ EM UMA OPERAÇÃO DA POLÍCIA OS TRAFICANTES ENTRARAM NA CASA E OS POLÍCIAS SAÍRAM ATIRANDO E ATINGIU ELE NA BARRIGA pic.twitter.com/qklRuGFGSa
O Ministério Público emitiu uma nota sobre o caso:
“A Delegacia de Homicídios de Niterói, São Gonçalo e Itaboraí (DHNSGI) instaurou inquérito para apurar a morte de um adolescente ferido durante operação da Polícia Federal com apoio da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core), no Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo. Foi realizada perícia no local e duas testemunhas prestaram depoimento na delegacia. Os policiais foram ouvidos e as armas apreendidas para confronto balístico. Outras diligências estão sendo realizadas para esclarecer as circunstâncias do fato.
A ação visava cumprir dois mandados de busca e apreensão contra lideranças de uma facção criminosa.
Durante a ação, seguranças dos traficantes tentaram fugir pulando o muro de uma casa. Eles dispararam contra os policiais e arremessaram granadas na direção dos agentes. No local foram apreendidas granadas e uma pistola.
O jovem foi ferido e socorrido de helicóptero. Médicos do Corpo de Bombeiros prestaram atendimento, mas ele não resistiu aos ferimentos. O corpo foi encaminhado para o IML de São Gonçalo.”
Ainda não se sabe onde o corpo de João ficou durante o desaparecimento.
Veja algumas repercussões sobre o caso.
Depois de horas sem saber do filho, a família do João Pedro, jovem de 14 anos baleado dentro de casa, descobre que ele está no IML. Desumano. Triste. Avassalador.
Até quando o Estado vai enxugar o sangue de jovens, pretos e favelados?
Estou em contato com a família do João Pedro e os pais deles acabaram de ficar sabendo que o corpo dele se encontra no IML. O adolescente de 14 anos estava dentro de casa brincando com primos e amigos.
Para aumentar o índice de isolamento social e diminuir o avanço do Coronavírus na cidade de São Paulo, a prefeitura aprovou a antecipação de alguns feriados para essa semana, sendo eles os feriados de Corpus Christi (11 de Junho) e Consciência Negra (20 de novembro).
Com a aprovação do projeto pelo parlamento municipal nessa segunda-feira, os feriados paulistanos passam para a quarta (20) e a quinta-feira (21). Haverá ponto facultativo na sexta-feira (22).
O movimento negro não gostou da alteração do feriado que lembra a morte de Zumbi dos Palmares e emitiu uma nota de repúdio.
No documento, a mudança não é criticada somente pelo simbolismo histórico, mas principalmente pelas outras medidas que poderiam ser tomadas e que comprometem principalmente, a comunidade negra e periférica , grupo que representa maior letalidade pela COVID-19.
“As taxas de isolamento social na cidade estão baixas em função de parte significativa dos empregadores continuarem a exigir que os trabalhadores compareçam em seus locais de trabalho. Os dados mostram isto: as taxas de isolamento social aumentam nos finais de semana e reduzem nos dias de semana. A responsabilidade do baixo isolamento social não é da população, mas sim desta situação imposta à eles”, diz o texto assinado por 13 coletivos da comunidade negra.
“A fracassada tentativa de intensificar o rodízio demonstrou que medidas artificiais, tomadas sem planejamento, não resolvem o problema. É preciso criar um mix de políticas públicas como programas de auxílio emergencial a nível municipal, instalação de centros provisórios de referência de combate ao vírus nos bairros periféricos, distribuição de kits de higiene, testagem massiva, respiradores em grande quantidade, entre outros”, destaca a nota.
Sobre 20 de novembro, faz apontamentos sobre a importância da data historicamente. “É o único feriado existente no calendário que foi fruto de lutas de um movimento social brasileiro. Por isto, propostas de alteração de feriados, ineficazes como demonstramos é, no caso específico do 20 de novembro, um desrespeito a esta história. A população negra é a que mais tem se vitimizado com a epidemia. É a que mais tem se exposto a contaminação porque está neste segmento que é obrigado a sair as ruas para garantir o seu sustento. ”
Leia a Nota da Íntegra:
NOTA PÚBLICA CONTRA A ANTECIPAÇÃO DO FERIADO 20 DE NOVEMBRO DIA NACIONAL DA CONSCIENCIA NEGRA ANTECIPAR FERIADOS NÃO É EFICAZ NO COMBATE AO COVID19. PRECISAMOS DE LOCKDOWN E CONDIÇÕES E APOIO FINANCEIRO PARA QUE POBRES E NEGROS POSSAM SE PROTEGER EM ISOLAMENTO.
Os argumentos apresentados pelo Prefeito municipal de São Paulo e pelo Governador do estado de que a antecipação de feriados se justifica por aumentar a taxa de isolamento necessária para combater o coronavírus não se justifica. Primeiro, porque as taxas de isolamento social na cidade estão baixas em função de parte significativa dos empregadores continuarem a exigir que os trabalhadores compareçam em seus locais de trabalho.
Os dados mostram isto: as taxas de isolamento social aumentam nos finais de semana e reduzem nos dias de semana. A responsabilidade do baixo isolamento social não é da população, mas sim desta situação imposta à eles. Segundo, o alto índice de desemprego e de precarização do trabalho fez com que um enorme contingente de trabalhadores ingressasse no chamado “mercado informal”, aquele em que o seu ganho depende de ir trabalhar, como diaristas, vendedores ambulantes, motoristas de aplicativos, motoboys.
Para estes não existem finais de semana, feriados e nem isolamentos sociais sob pena de não ter o dinheiro mínimo para sustentar suas famílias. A única forma de garantir o isolamento social é instituir mecanismos de transferência de renda para estes trabalhadores em uma situação em que possam garantir os seus sustentos. Terceiro, que não vai ser um ou dois feriados antecipados que irá resolver o grave problema da epidemia do coronavirus. A prefeitura quer fugir do enfrentamento da raiz do problema que é justamente a precarização do trabalho na cidade.
A fracassada tentativa de intensificar o rodízio demonstrou que medidas artificiais, tomadas sem planejamento, não resolvem o problema. É preciso criar um mix de políticas públicas como programas de auxílio emergencial a nível municipal, instalação de centros provisórios de referência de combate ao vírus nos bairros periféricos, distribuição de kits de higiene, testagem massiva, respiradores em grande quantidade, entre outros.
O feriado municipal de 20 de novembro quando se celebra o Dia da Consciência Negra é uma conquista histórica do movimento negro. Foi fruto de batalhas em que se destacam nomes como os do poeta Oliveira Silveira e o jornalista Hamilton Cardoso, das lutas que culminaram na construção do Movimento Negro Unificado em 1978, da histórica Marcha da Consciência Negra nos 300 anos de Zumbi em 1995, das conquistas das políticas de ação afirmativa e dos espaços institucionais de gerenciamento destas políticas como as secretarias e coordenadorias de políticas de igualdade racial.
É o único feriado existente no calendário que foi fruto de lutas de um movimento social brasileiro. Por isto, propostas de alteração de feriados, ineficazes como demonstramos é, no caso específico do 20 de novembro, um desrespeito a esta história. A população negra é a que mais tem se vitimizado com a epidemia. É a que mais tem se exposto a contaminação porque está neste segmento que é obrigado a sair as ruas para garantir o seu sustento. É a que está no universo das pessoas que são obrigadas a enfrentar as filas da Caixa Econômica Federal para tentar obter o auxílio emergencial do governo federal. Não é justo que seja chamada também a renunciar a uma conquista sua. ASSINAM: 1. Agentes de Pastoral Negros do Brasil (APNs) 2. Central Única dos Trabalhadores (CUT) 3. Circulo Palmarino 4. Coordenação de Nacional de Entidades Quilombolas (CONAQ) 5. Congresso Nacional Afro-Brasileiro (CNAB) 6. Coordenação Nacional de Entidades Negras (CONEN) 7. Instituto do Negro Padre Batista (INPB) 8. Movimento Negro Unificado (MNU) 9. União de Negros Pela Igualdade (UNEGRO) 10. UNEAFRO Brasil 11. Pastoral Afro Brasileira (PAB/SP) FORÚM SÃO PAULO SEM RACISMO 12. Rede Quilombação 13. Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (APEOESP)
O “Maio Laranja” é o mês de conscientização e combate ao abuso e exploração sexual infantil. A campanha* traz números que chocam: a cada hora três crianças são abusadas no Brasil. Cerca de 51% destas crianças tem entre 1 a 5 anos de idade.
Todos os anos 500 mil crianças e adolescentes são explorados sexualmente no Brasil.
Um debate que precisa ser feito! Em 2018 foi registrado o maior índice de violência infantil, somando 32 mil casos, segundo o Ministério da Saúde. Ainda nessa pesquisa, dentre os casos registrados dois terços ocorreram dentro de casa. A cada 4 casos, em um deles o abusador fazia parte do meio social da vítima, em 23%, era pai ou padrasto.
Os dados do Disque 100 apontam que, no período de 2011 a 2017, 92% das vítimas eram do sexo feminino. Já os dados do Ministério da Saúde apontam 85% de vítimas meninas. Das denúncias recebidas pelo Disque 100, 34% das vítimas eram meninas e meninos negros (em 41% das denúncias a cor da pele não foi informada).
O coletivo nasceu de um curso de contos curtos formado só por escritores negros no início desta pandemia. “Pretos em Contos” virou livro e além do sarau, terá seu lançamento no sábado (23) em uma live na pagina do coletivo no Facebook “nosso livro vai estar a venda no site da Amazon, e o dinheiro arrecadado vai ser doado para famílias pretas que estão precisando de auxilio durante a pandemia”.
“A maior intenção na apresentação desta preta coletânea preta é que irmão pretos nos leiam; Entendam; Reflitam; Divirtam e escrevam também. Estamos juntos nesta jornada”.
A coletânea Pretos em Contos – Volume 1, é um dos primeiros resultados do vitorioso encontro de irmão pretos brasileiros que tem na escrita um de seus espaços de luta, expressão e liberdade.
Organizado pelo escritor Plínio Camillocom concepção e execução da capa por Diogo Nogue as idealizadoras do Pretos em Contos são: Kátia Moraes e Shirley Maia.
“O Campo de luta do Pretos em Contos já está no nome, o conto. Que o entendemos e praticamos como uma luta, capoeira, breve, ligeira, sem muitos floreios com armada, queixada, queda de quatro, cabeçada, tesoura e outros golpes que aos leitores são revelados as nossas intenções e os nossos motivos. Sempre, em todas a palavras/momentos, este será finalizando rapidamente Rabo de Arraia ou Meia-lua de Compasso”.
O termo surgiu em meados dos anos 70, quando um grupo de negros norte-americanos começaram a protestar devido ao descaso das autoridades diante da poluição causada por fábricas em bairros negros periféricos. A comunidade começou a tratar a situação como uma luta por justiça social, uma vez que notaram o racismo do estado em não se movimentar para resolver o problema ambiental causado pelas fábricas ao redor do país.
Desde então tem se observado pelo mundo uma série de situações semelhantes que expõem a seletividade de grandes empresas e do Estado na forma de lidar com problemas ambientais de acordo com a população atingida.
De acordo com o reverendo, químico e líder de movimentos negros americanos, Benjamim Chavis, Racismo Ambiental é a “discriminação racial nas políticas ambientais. É discriminação racial na escolha deliberada de comunidades de cor para depositar rejeitos tóxicos e instalar indústrias poluidoras. É discriminação racial no sancionar oficialmente a presença de venenos e poluentes que ameaçam as vidas nas comunidades de cor. E discriminação racial é excluir as pessoas de cor, historicamente, dos principais grupos ambientalistas, dos comitês de decisão, das comissões e das instâncias regulamentadoras.”
Em meados de 1983, nos oito estados do sul dos Estados Unidos (onde a segregação racial era mais evidente), 75% dos depósitos de rejeitos eram instalados em bairros negros, embora a população negra representasse apenas 20% do total de habitantes da região. Não há outra explicação para esses dados e a forma como as autoridades e empresas enxergam as populações racializadas como inferiores, priorizando a proteção da vida branca, senão o racismo.
O racismo ambiental não se restringe a onde os empreendimentos que mais poluem e degradam são instalados, mas também como eles operam. Em 2011, o Ministério Público do Estado do Espírito Santo moveu uma Ação Civil Pública contra a siderúrgica ArcelorMittal e o Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Iema). O processo acusa a empresa de racismo ambiental e sustenta que a multinacional adota por aqui uma tecnologia diferente de suas plantas no exterior, como se no Brasil houvesse uma espécie de “licença para poluir mais”.
Maíra Mathias, na Revista Poli/Fiocruz, afirma que “em tempos de capitalismo global, o conceito de racismo ambiental foi sendo ampliado – e também disputado. Se no início da luta no condado de Warren o foco eram as comunidades negras, o próprio movimento social foi se dando conta de que por lá o racismo ambiental também atingia povos indígenas e populações imigrantes, como latinos e asiáticos. Por aqui, o conceito abarca diversos grupos que por seus traços físicos, culturais, políticos e econômicos se diferenciam do modelo branco, ocidental e burguês historicamente imposto, como ribeirinhos, quebradeiras de coco, geraizeiros, dentre outros…”
O médico patologista e ativista ambiental Paulo Sadiva orienta a discussão de racismo ambiental em diversos aspectos da construção capitalista. De acordo com ele, não há desculpa científica que explique o porquê de empresas europeias seguirem padrões de proteção na construção de modelos de seguranças em seus veículos diferentes em cada país que opera. “O uso dos freios abs e air-bags em veículos reduz cerca de 35% da mortalidade em acidentes de trânsito, e temos multinacionais que operam com diferentes padrões de segurança conforme o país em que está. O que é isso? Racismo. Lógico que existem pressões econômicas, mas como consideramos que o ser humano é o mesmo em todos os países do mundo, não existe explicação para que se apliquem padrões de segurança diferentes em determinados países se isso significa redução do número de mortos em acidentes.”
Sadiva fala ainda sobre como regiões diferentes dentro da cidade de São Paulo sofrem com diferentes condições climáticas dado ao descaso das autoridades com essas regiões. Segundo ele “se colocarmos uma sonda térmica na favela de Paraisópolis e no bairro Morumbi podemos notar que há poucos metros de distância a temperatura é diferente, a umidade é diferente, a condição térmica é diferente e a poluição é diferente. Ou seja, as ilhas de vulnerabilidade ambiental estão associadas as ilhas de pobreza das cidades.”
Em São Paulo, morrem cerca de 11 mil pessoas a mais por ano devido à poluição do ar. Considerando que níveis de poluição estão diretamente associados a regiões de pobreza da cidade, temos a grande maioria dessas mortes acontecendo entre pessoas pobres, consequentemente negros e, ainda assim, o Estado não trata do meio ambiente como uma questão de saúde pública.
Entender e discutir a respeito da negligencia por parte do Estado com as questões ambientais no que tange pessoas periféricas e negras é discutir como o Racismo Ambiental atinge essas populações.
Estamos em meio a uma pandemia e o que me despertou o interesse em discutir o racismo ambiental foi observar os números que afirmam que o risco de morte de negros por Covid-19 é 62% maior em SP. No estado do Espírito Santo os números também são reveladores: a taxa de mortalidade de pessoas negras é de 42,8%, enquanto a taxa de mortalidade de pessoas brancas é de 19%.
E por quê? O vírus em si é racista? Não. Isso é o exemplo perfeito de Racismo Estrutural como consequência direta do Racismo Ambiental.
A desigualdade é um dos fatores determinantes, mas a raça/cor é um delimitador crucial que retira a garantia de cidadania dos indivíduos. Somos marcados por um sistema de opressão edificado nas dinâmicas da escravidão.
Amani Allen, professora de epidemiologia na Universidade da Califórnia em Berkeley, afirma que o conceito de raça é “uma construção social da desigualdade. Desde a infância os negros têm uma proteção menor do sistema de saúde e capacidade limitada de ascensão social. A Covid-19 está jogando luz nas disparidades”
Especialistas apontam que questões socioeconômicas como saneamento básico precário, insegurança alimentar e dificuldade de acesso à assistência médica, aumentam o risco de pessoas negras adoecerem e não sobreviverem. Além disso, pessoas negras são a grande maioria do grupo de trabalhadores essenciais, os mais expostos ao coronavírus.
Dizer que o vírus não discrimina é um equívoco, justamente porque há grupos que estão muito mais desprotegidos do que outros e grande parte disso é consequência da falta de atenção das autoridades quando falamos de políticas públicas de saúde ambiental.
O infectologista Crispim Cerutti Junior chama nossa atenção para um outro fator social que envolve as moradias periféricas dessas populações: “uma marca das doenças infecciosas em geral, particularmente da Covid-19, é que elas transmitem melhor nos ambientes de moradias mais inadequadas.”
Foto reprodução Instagram @acoisaficoupreta
Como se isso não bastasse, pessoas negras ainda relatam casos de racismo e violência policial pelo país ao utilizarem máscaras, itens esses essenciais para proteção como orientado pela Organização Mundial da Saúde.
É de extrema importância que passemos a questionar até onde o braço do Estado e seu descaso nos atinge nesses aspectos. O Racismo Ambiental evidente que propicia maior impacto da pandemia em populações racializadas e pobres é mais um exemplo claro de como essas questões precisam ser debatidas e propostas precisam ser discutidas.
O racismo nos atinge e nos mata todos os dias das mais variadas formas e o Racismo Ambiental é mais uma das formas a serem analisadas e combatidas.