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Jogo da memória ‘Sankofa’ mantém viva a memória de mulheres negras da América Latina

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O Jogo da Memória Sankofa foi desenvolvido por Izabelle Simplicio, Nina da Hora e Taynara Cabral. Com o objetivo ser mais uma das ferramentas, que contribuem para manter viva a memória e a história de mulheres negras dos países da América Latina. “Trazer à memória esse legado para os dias de hoje significa não só reconhecer o passado, mas nos serve como inspiração e projeção de futuro. O nome Sankofa foi escolhido justamente por isso, que segundo a filosofia do povo Akan, significa ‘nunca é tarde para voltar e apanhar aquilo que ficou atrás’. O projeto foi desenvolvido sem nenhum financiador”.

Ao longo da história, nas mais diversas áreas, mulheres negras ocuparam a linha de frente da luta pela liberdade, pela garantia de direitos e de possibilidades de futuro. Com batalhas travadas tanto no campo de guerra, como na articulação política, na produção intelectual e artística, mulheres negras utilizaram, e seguem utilizando, de variadas ferramentas que hoje moldam um acervo extremamente rico de legado e estratégia.

As peças do jogo trazem ilustrações de 12 mulheres que marcaram a história de 6 países da América Latina: “Conhecer o passado, construir no presente e projetar novas possibilidades de futuro. A movimentação de mulheres negras transcende todos os ciclos do tempo”.

O material é gratuito e está disponível em duas versões: para imprimir e para jogar on-line, pensando justamente no alcance e na acessibilidade de cada um desses formatos.

Jogo online: bit.ly/Sankofa-Jogo
Jogo para imprimir: bit.ly/Sankofa-jogo-imprimir
Projeto: bit.ly/Sankofa-Projeto

Orgulho Crespo : conheça iniciativas globais que enaltecem o cabelo afro

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Marcha do Orgulho Crespo: Larissa Isis

Por Neomisia Silvestre*

Na semana passada uma amiga compartilhou empolgada no grupo do WhatsApp que, sozinha, havia terminado o processo de dredar os próprios fios crespos a partir de uma técnica ensinada por uma blogueira no YouTube. Muito rapidamente, dread é a forma abreviada e em inglês de dreadlocks e lock-dread para caracterizar cabelos em tranças naturais, emaranhados e popularizados pelo movimento judaico-cristão surgido na Jamaica, na década de 1930, entre negros descendentes de africanos escravizados.

Aqui, não falaremos sobre as motivações religiosas e/ou estéticas que envolvem a dedicação, a paciência e o autocuidado dessa amiga mas, sim, de instigar reflexões acerca de como, em pleno século XXI, paradoxalmente, sua própria aparência pode provocar um impacto negativo na vida social e profissional.

No Estado do Alabama, nos Estados Unidos, em 15 de setembro de 2016, uma lei foi aprovada com o propósito de recusar a contratação de pessoas pelo uso de dreadlocks. Uma lei que viola não só os Direitos Civis de 1964 – que punham fim aos diversos sistemas estaduais de segregação racial -, mas que também se baseia em estereótipos inerentemente discriminatórios e que trata, de antemão, afro-americanos como sendo impróprios e profissionais menos capacitados e eficientes a partir de um penteado fisiológica e culturalmente associado a esta parcela significativa da população americana.

Tal fato motivou a criação do World Afro Day (Dia Mundial do Afro), em Londres, idealizado pela produtora de TV Michelle De Leon a fim de criar uma plataforma para celebrar e educar sobre cabelos afro por meio de uma consciência positiva, expressa em eventos anuais e por uma rede educacional mundial com foco na juventude e na infância.

A inglesa Michelle De Leon, criadora do World Afro Day (Dia Mundial do Afro) Crédito: Divulgação


Diante da aprovação da lei, Michelle relata que queria justamente ressignificar a data e, por isso, escolheu o 15 de setembro de 2017 como marco inicial do World Afro Day, sendo ele um dia de celebração dos cabelos, da cultura e da identidade negra. “Eu sabia que isso [a existência da lei] poderia ser símbolo das atitudes negativas da sociedade em relação aos nossos cabelos e, por isso, a necessidade de mudança”, diz ela.


Em seu primeiro ano, a iniciativa foi endossada pelo Alto Comissariado das Nações Unidas (ONU) para os Direitos Humanos, recebeu cobertura internacional e apoio de celebridades, como a Miss USA 2016 Deshauna Barber, o rapper Jidenna e parte do elenco da série Black-ish, criada pelo produtor Kenya Barris. “Tivemos uma resposta global incrível, mas a cada ano há um desafio para continuar recebendo cobertura. O problema não desapareceu, por isso precisamos manter o foco no nosso trabalho para fazer coisas novas a cada ano. Entendo a mídia e posso usar de minhas habilidades para contribuir, mas é preciso continuar porque sabemos o quanto é importante para a próxima geração”.

Em 2018, o World Afro Day realizou a campanha “Mude os fatos, não o afro”, em que apresentou uma série de cartazes com mulheres negras e estatísticas como: “1 em cada 5 mulheres negras se sente pressionada a alisar os cabelos no âmbito profissional”; e “Apenas 27% se sente confortável em usar dreads para um evento profissional”. A iniciativa alcançou cerca de 6,6 milhões de pessoas e inúmeras menções positivas nas mídias sociais.



A educação é um dos pilares fundamentais do projeto, que desenvolveu um plano de aula para conscientizar alunos e professores e o qual, segundo Michelle, pode ser aplicado em qualquer escola. No ano passado, a ação The Big Hair Assembly recebeu quase 12 mil alunos inscritos em 100 escolas de oito países. Uma de suas embaixadoras é a modelo mirim americana Celai West. Para 2020, diante do contexto da pandemia, o WAD prevê a realização de um evento online que dialogue com iniciativas da Europa, da África e do Brasil, que possivelmente terá a participação da Marcha do Orgulho Crespo e do Encrespa Geral UK.


No que diz respeito às reivindicações dos cabelos naturais como parte da identidade e da beleza negra, Michelle acredita que há um significativo progresso em todo o mundo. E é importante lembrar que o mesmo país que aprova a lei proibindo o uso de dread no local de trabalho, tem em contrapartida Estados como Califórnia, Nova York e Nova Jersey que aprovaram no ano passado a lei Crown – Create a Respectful and Open Workplace for Natural Hair (“Crie um lugar de trabalho respeitoso e aberto ao cabelo natural”), redigida pela senadora Holly Mitchell, que proíbe, também nas instituições de ensino, a discriminação com base no estilo e na textura do cabelo. Colorado e Virgínia fizeram o mesmo em março e outros 20 Estados apresentaram, em seus respectivos Legislativos, projetos de lei para punir a discriminação contra o cabelo afro.

Brasil é crespo

Para a pedagoga mineira Nilma Lino Gomes, importante referência na luta contra o racismo no Brasil nos campos da educação e da antropologia, nos últimos anos o debate, as práticas e a visibilidade sobre o cabelo crespo passaram a ocupar outro lugar na cena política e estética brasileira. “Quanto mais se acirra o racismo, mais vemos pessoas negras assumirem a diversidade das formas de usar e lidar com a textura crespa dos seus cabelos como uma nova forma recriada de estética: a estética da resistência negra do século XXI. Isso tem possibilitado a muitas mulheres (e homens) se identificarem como negras e com as lutas negras no Brasil e no mundo, reconectando-se consigo mesmas, sua corporeidade e sua ancestralidade”. 

Legenda: A pedagoga Nilma Lino Gomes, professora titular emérita da Faculdade de Educação da UFMG
Crédito: Divulgação

Nesse contexto, a Marcha do Orgulho Crespo, movimento nacional criado em São Paulo, em julho de 2015, pelo Blog das Cabeludas e pela Hot Pente, se soma ao debate fomentado e trazido pelo movimento negro brasileiro no final dos anos 1970 ao incentivar a livre expressão do cabelo natural, a representatividade, a autoestima e o empoderamento de negras e negros na sociedade, especialmente por parte de mulheres.

No Brasil, diante de diversas manifestações de racismo no âmbito social, institucional e virtual – e a fim de instigar a visibilização de pautas acerca da estética negra a partir dos cabelos crespos/cacheados -, a Marcha do Orgulho Crespo passou a celebrar o 26 de julho como o Dia do Orgulho Crespo no Estado de São Paulo por meio da Lei 16.682/2018, em parceria com a deputada estadual Leci Brandão (PCdoB). A iniciativa também inspirou o Mato Grosso do Sul, que considera o 7 de novembro como o #DiaDoOrgulhoCrespo pela lei 5.206/2018, sancionada pelo deputado Amarildo Cruz (PT). A data escolhida homenageia Karina Saifer de Oliveira, do município de Nova Andradina, que se suicidou aos 15 anos em decorrência de bullying motivado pelo uso dos cabelos alisados.

“O Brasil é um país que se alimenta do racismo presente na sua estrutura. Desde os tempos da escravidão, o cabelo da negra e do negro é tomado como um símbolo identitário com sentidos que tensionam entre si. De um lado, foi (e ainda é) visto como fealdade e animalidade. Do outro, esse mesmo cabelo foi (e ainda é) visto como afirmação e recriação de elementos culturais africanos no Brasil – característica de resistência construída pelas africanas e africanos escravizados e seus descendentes”, diz Nilma, atualmente professora titular emérita da Faculdade de Educação da UFMG.

Ela é autora de “Sem perder a raiz: Corpo e cabelo como símbolos da identidade negra”, publicação de 2006 e relançada em 2019 pela editora Autêntica como resultado de sua tese de doutorado. No livro, a pesquisadora percorre salões étnicos de Belo Horizonte, em Minas Gerais, e registra depoimentos de cabeleireiros e cabeleireiras acerca das percepções sobre o cabelo como expressão e símbolo de resistência cultural, com base nos penteados de origem étnica africana, recriados e re-interpretados como formas de expressão estética e identitária. A análise se debruça e desperta reflexões sobre autoestima, memórias da infância e como a aceitação/rejeição atua no psicológico das mulheres negras.

“Ressignificar o lugar, a visão e as interpretações negativas que recaem sobre o cabelo crespo, transformando-as em leituras e narrativas afirmativas, identitárias e de luta é retomar a humanidade roubada das pessoas negras, no contexto do racismo ambíguo brasileiro. Nesse sentido, o Dia do Orgulho Crespo é mais do que uma data. Ele é símbolo de reconhecimento e de luta”, completa ela.

Desde sua criação, a Marcha do Orgulho Crespo Brasil é realizada de forma independente, com mobilização online e redes de apoio em nove Estados que envolvem ativistas, pesquisadores, artistas, oficineiras, blogueiras, influenciadoras, afroempreendedoras e público interessado, com o intuito de inspirar mulheres, homens, jovens e crianças de todas as idades a repensarem e a se reconectarem com suas identidades a partir dos cabelos crespos/cacheados que, para além do estético, pode se tornar também uma ferramenta de posicionamento diante do racismo estrutural.

E, aqui, reforço: passar pelo processo de transição capilar – procedimento em que se deixa o cabelo natural crescer até que atinja um comprimento ideal para o chamado big chop e retirar as partes ainda alisadas – pode, sim, ser ferramenta de posicionamento diante do racismo estrutural, já que o que aparentemente é considerado apenas uma mudança de visual, no fim das contas, revela-se uma mudança de postura. O racismo nos paralisa de muitas formas e ele também perpassa esse aprisionamento estético-capilar: do black power coloridão ao jovem negro e periférico.

No Orgulho Crespo, ao inspirar esta passagem, tentamos justamente criar um espaço de fortalecimento e coragem para se existir como desejar. Existir como corpo negro, como corpo social, como carta ancestral em qualquer lugar do mundo; é existir na exigência e na demanda cotidiana de coragens. Por isso, enquanto movimento, tentamos ajudar a entender que uma coisa é optar por alisar seu cabelo e outra é entender quais os motivos reais e alienados de se submeter a um processo de mutilação física absolutamente nocivo.

Diante de uma sociedade que está o tempo todo nos impondo padrões, diante de um contexto de pandemia que nos impede de ir às ruas, ao encontro, deixo meu desejo de que este Dia do Orgulho Crespo seja o seu domingo de repouso e skincare, sim, mas que ele também seja banhado de pensamentos que proporcionem um encontro positivo e afetivo com sua autoestima. Celebrar é preciso.

Aqui, partilho e indico algumas das iniciativas que pautam o cabelo crespo no Brasil e mundo afora.

Livros


“Sem perder a raiz: Corpo e cabelo como símbolos da identidade negra”, de Nilma Lino Gomes
Autêntica, 2006
Sinopse: Na obra, o cabelo é analisado não apenas como parte integrante do corpo individual e biológico, mas, sobretudo, como corpo social e linguagem, como veículo de expressão e símbolo de resistência cultural. 



“História da beleza negra no Brasil”, de Amanda Braga
EdUFSCar, 2015
Sinopse: O livro rastreia a emergência de pistas que refletem um conceito estético atribuído ao corpo negro, bem como o modo como tais pistas vão assumindo novas verdades na dispersão do tempo histórico. Trata-se, portanto, do desejo de revelar mais sobre a forma como historicamente se leu os signos da beleza negra, fazendo vir à tona um enredo que envolve memórias, exclusões e retomadas.



“Esse cabelo: A tragicomédia de um cabelo crespo que cruza fronteiras”, de Djaimilia Pereira de Almeida
Leya, 2017
Sinopse: Neste romance, a escritora portuguesa nascida em Angola mistura memória, imaginação e crítica social com humor e leveza para discutir temas atuais e fundamentais na atualidade, como racismo, feminismo, identidade e pertencimento. 



“Meu crespo é de rainha”, de Bell Hooks
Boitatá, 2018
Sinopse: Publicado originalmente em 1999 em forma de poema rimado e ilustrado, a obra da escritora, teórica feminista, artista e ativista social estadunidense Bell Hooks enaltece a beleza dos fenótipos negros, exalta penteados e texturas afro.



Audiovisual

“Good Hair”, 2009
Documentário criado e apresentado pelo ator e comediante Chris Rock sobre a cultura do cabelo afro-americano e seu faturamento na indústria de cosméticos.
Trailer: www.youtube.com/watch?v=1m-4qxz08So

“Kbela”, 2015
Olhar da carioca Yasmin Thayná acerca das histórias de transição capilar, resistência e luta de mulheres pelo direito de terem sua beleza natural, sem intervenção da indústria e da opinião da sociedade.
Disponível em kbela.org

“Das Raízes às Pontas” (2015)
Dirigido por Flora Egéria e com roteiro de Débora Morais, o curta-metragem retrata Luiza, de 12 anos, que compartilha seu amor e orgulho pelo cabelo crespo.
Disponível no Vimeo



“Fios da Resistência” (2018)
O documentário produzido por alunos de Midialogia da Unicamp (SP) aborda a formação de novas redes de apoio da negritude na internet; como grupos do Facebook, canais do YouTube e influenciadores se tornaram uma ferramenta fundamental no processo de ressignificação identitária e estética de pessoas negras.
Disponível no YouTube


“Felicidade por um fio” (2018)
Baseada no livro “Nappily Ever After”, de Trisha Thomas, o filme mostra o percurso de uma bem-sucedida executiva que muda sua concepção de mundo ao decidir raspar os cabelos.
Disponível na Netflix

“Enraizadas” (2019)
Dirigido por Juliana Nascimento e Gabriele Roza, o filme investiga a tecedura dos fios capilares em tranças nagôs como um processo não restrito à beleza estética, mas também de renovação dos afetos, de resistência e reafirmação da identidade negra.
Ainda não disponível.

“Hair Love”, 2019
Produzido e dirigido por Matthew A. Cherry., o curta-metragem estadunidense  recebeu o Oscar 2020 de melhor animação ao apresentar a relação de um pai que penteia o cabelo de sua filha pela primeira vez.
Disponível no YouTube



“Self Made: A vida e a história de Madam C.J. Walker (2020)
Interpretada por Octavia Spencer, a série de quatro episódios retrata a história da ativista social e primeira mulher a se tornar milionária nos Estados Unidos a partir de sua linha de produtos capilares e cosméticos para mulheres negras.
Disponível na Netflix

Festivais


Natural Hair Academy – Paris
Desde 2011, no primeiro final de semana de junho, o festival celebra o cabelo natural e se consolida como o maior evento europeu dedicado à beleza negra.
Vem ver: https://www.facebook.com/watch/?v=1194732853980161
https://nhaparis.com


CurlFest – Brooklyn, Nova York

Realizado pelo Curly Girl Collective, fundado em 2011, com o intuito de fazer com que mulheres de cabelos com textura natural se sintam bonitas e celebradas. São pioneiras no movimento natural dos cabelos ao conectarem mulheres em eventos que estimulam e atraem os principais influenciadores da beleza afro-americana.


Vem ver:
https://www.curlfest.com



CurlyTreats Fest – Londres
Realizado desde 2017, o maior evento natural de cabelos crespos e cacheados da Inglaterra é realizado a fim de capacitar, educar e enaltecer a beleza negra.

www.curlytreats.co.uk

Encrespa Geral – Brasil
Instituto de promoção humana de desenvolvimento social e cultural voltado à diversidade racial e cultural brasileira criado por Eliane Serafim, em 2013, prima pelo empoderamento feminino por meio da valorização e da difusão do orgulho do cabelo cacheado e crespo. Realiza eventos anuais de alcance nacional e internacional.


encrespageral.com.br

Para acompanhar:

Estados Unidos –
Criada pelos afro-americanos Lindsey Day e Nkrumah Farrar, a revista Crown Mag promove um diálogo progressivo em torno do cabelo natural e das mulheres que o utilizam a partir da perspectiva de um novo padrão de beleza ao documentar de maneira impressa e tangível. Sua última edição traz a atriz, escritora, cineasta e produtora norte-americana Issa Rae, da série “Insecure”.
www.crwnmag.com

África – A artista africana @laetitiaky, da Costa do Marfim, usa a versatilidade de seu cabelo crespo para, literalmente, criar esculturas capilares e passar uma mensagem aos seus seguidores no Instagram.

França – O coletivo de mulheres SciencesCurls, presidido pela jovem Réjane Pacquit, discute o cabelo crespo e cacheado no âmbito acadêmico, dentro do Instituto de Estudos Políticos de Paris – IEP, a Sciences Po Paris, instituição pública de ensino superior especializada nas áreas de Ciências Humanas e Sociais. Adendo para refletir: na França, é comum ver salões que oferecem lissage brésilien (alisamento brasileiro).
www.facebook.com/sciencescurls

Inglaterra – O Curlture é uma plataforma online criada em 2014 pelas londrinas Trina Charles e Jay-Ann Lopez com o objetivo de capacitar mulheres negras. Inicialmente se concentrava em cuidados com os cabelos naturais, mas atualmente abrange tópicos como moda, viagens, produtos para a pele, decoração e afroempreendedorismo.
www.curlture.co.uk

Espanha – Criado pela modelo Awanda Perez, em Madrid, o Go Natural Spain promove o direito e o orgulho dos cabelos naturais a partir de dicas e inspirações para o uso do cabelo afro. Este movimento e também os dias da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, criado em julho de 1992, e o 25 de julho, Dia Nacional de Tereza de Bengela, líder quilombola que viveu no Mato Grosso durante o século XVIII, inspiraram a realização da 1ª Marcha do Orgulho Crespo Brasil.
www.awandaperez.com

* Neomisia Silvestre é jornalista, escritora e agitadora cultural. Soma atuações em projetos artísticos e socioculturais de juventude e periferia, teatro e dança, TV e produçāo de eventos. É uma das idealizadoras da Hot Pente e uma das criadoras do movimento nacional Marcha do Orgulho Crespo Brasil, desde 2015

Marca criada em Londres pela brasileira Islana Rosa lança projeto Vozes Negras e doa 50% das vendas para ONG’s negras

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A Islanna, marca criada em Londres pela brasileira Islana Rosa, já é conhecida no exterior por apresentar uma moda contemporânea e com apelo sustentável. A fundadora e CEO, desenhou um plano de negócios que pudesse traduzir sua visão para uma nova marca de roupas, com menos impacto ambiental e muita informação de moda. A força da mulher independente e autoconfiante também está representada no conceito, que propõe empoderamento e atitude através do styling. Agora, a marca se volta para o mercado brasileiro e lança o projeto Vozes Negras. 

Após a escalada do movimento Black Lives Matter, que tomou conta do Brasil e do mundo em junho de 2020, Islana decide focar seus esforços nas comunidades negras – promovendo artistas mulheres através da moda e apoiando organizações não governamentais, ligadas à promoção da educação e empoderamento feminino.

O projeto Vozes Negras manifesta o desejo de Islana com a sua marca em direção a uma moda antirracista, com base em três pilares: a visibilidade para vozes femininas negras; a criação de conexões entre mulheres negras e a sociedade; e a remuneração justa e empoderamento feminino negro. 

O start do projeto se dá por meio de uma coleção-cápsula de camisetas com estampas exclusivas – em formato de edital online, Islanna convoca artistas mulheres negras brasileiras para enviarem propostas para estampas. As criações irão para votação aberta do público a partir de julho, e serão transformadas em 12 camisetas, com drops de lançamentos mensais em outubro.

“A idea de criar o movimento Vozes Negras surgiu de um desejo antigo de potencializar o poder da comunidade artística negra no Brasil e trabalhar com mulheres na promoção das artes plásticas, grupo que historicamente foi negligenciado”, diz Islana Rosa, fundadora da marca.

O projeto tem viés social em sua totalidade, sendo que 50% do lucro das vendas das camisetas serão distribuídos para a artista detentora da estampa e os outros 50% serão doados para uma das instituições que trabalham com o empoderamento feminino negro no Brasil, como a Gelédes, organização que se posiciona em defesa de mulheres e negros, e a ONG Criola, que defende e promove os direitos das mulheres negras

Informações sobre o edital: Aberto a todas mulheres negras brasileiras, propostas de estampas para as camisetas devem ser enviadas para vozesnegras@islanna.co, até dia 20 de agosto. A seleção será realizada através de votação publica no site do movimento www.vozesnegras.org.

Trace Brazuca: Com 26 anos, Kenya Sade é uma das executivas do primeiro canal de conteúdo afro-urbano do Brasil

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Kenya Sade, Chefe de Programação da Trace Brazuca (Foto: Divulgação)

O Brasil finalmente ganha um canal de conteúdo afrocentrado na TV a cabo e totalmente em português. A Trace Brazuca,  entra no ar no Dia Internacional da Mulher Negra Latino Americana e Caribenha, 25 de julho. O canal muito aguardado, tem uma mulher negra como Chefe de Programação aqui no Brasil. O nome dela é Kenya Sade.

Kenya tem 26 anos e é  jornalista formada pela faculdade Cásper Líbero, faculdade com pouca presença de alunos negros. “Apesar de ser uma faculdade elitista, é importantíssimo que ocupemos esses espaços de poder que são nossos por direito”, defende a executiva.

A chefe da Trance Brazuca,  que  estará disponível para assinantes da Claro (canal 624) e Vivo (canal 630), literalmente se joga no mundo atrás dos seus objetivos.  “Em 2018, fiz um intercâmbio a Irlanda que mudou a minha vida e deu origem ao projeto autoral ‘Pretas Pelo Globo’, plataforma colaborativa que celebra e traz visibilidade às conquistas das mulheres negras espalhadas pelo mundo.  Em maio de 2019, na França (Toulouse) conheci o programador da Trace Global que me apresentou ao projeto da Trace Brasil. A ancestralidade é algo muito forte! Voltei ao Brasil e desde janeiro de 2020, trabalho neste projeto tão potente”, detalha a jornalista.

https://www.instagram.com/p/Bz_R3OaIjgA

Filha de mãe solo , Kenya se refere mãe como uma grande referência. “Minha mãe me ensinou a voar alto, sempre foi uma mulher com muitos sonhos. Ela teve uma infância difícil, mas subverteu todas as adversidades e formou-se economista, numa época em que pessoas negras não tinham espaço dentro da universidade. Eu cresci com esse referencial de mulher potente, independente dentro de casa”, conta.

Trajetória profissional

Kenya acredita que todas suas vivências a preparam para esse momento, onde ela, tão jovem lidera um projeto de relevância Global. “Na faculdade, fui estagiária na TV Cultura e tive oportunidade de trabalhar ao lado das repórteres do Jornal da Cultura Primeira Edição, hoje ‘Jornal da Tarde’ apresentado pela Joyce Ribeiro. Trabalhar com hardnews  é presenciar a  história, vê-la acontecer diante dos seus olhos. Percorri todas as editorias e me encantei com o jornalismo televisivo. Apareci em rede nacional, tenho certeza que essa experiência me trouxe até aqui”, comemora a executiva. Ela também foi jornalista freelancer e tem textos publicados  na Vogue e Glamour.

Na Trace Brazuca além dos desafios esperados há uma satisfação em trabalhar em um ambiente diverso. “Trabalhar em um ambiente com tamanha diversidade racial me faz acreditar em um amanhã melhor, mais plural, na qual haja equidade racial e representatividade de fato! A maioria das pessoas envolvidas na produção do canal são negras e não poderia ser diferente. Tem sido uma experiência de pertencimento, de olhar-se no espelho e orgulha-se da imagem refletida” celebra a jovem jornalista. Entre seus colegas de trabalho estão o Head de Marketing do canal , o influenciador AD Júnior e o jornalista e ator Alberto Pereira Junior, roteirista, diretor e apresentador do Trace Trends.

O que esperar do Trace Brazuca?

A Trace Brazuca chega ao Brasil em um momento que o isolamento social faz com que o consumo de conteúdo online e pela TV aumente. É bom saber que teremos uma fonte de conteúdo com rostos negros e uma linha editorial positiva. “É gratificante trabalhar como programadora do primeiro canal a cabo de cultura afro-brasileira, Trace Brazuca, traz narrativas positivas e conteúdos relevantes. Temos a possibilidade de contar nossas histórias em primeira pessoa, visto que, a subjetividade negra foi construída socialmente por imagens depreciativas”, comenta  Kenya  que detalha que o canal é para a comunidade negra e “pessoas não-negras que queiram conhecer a nossa cultura que se mescla tanto com a cultura brasileira”.

Sobre a programação ela explica que serão “24 horas de programação dedicada à música de todos os gêneros, documentários de grandes nomes do cinema nacional, como Sabrina Fidalgo, além dos conteúdos do programa “Trace Trends”, entre outros”.

Kenya destaca um programa da grade que é o seu preferido até o momento. “Será exibido semanalmente o programa da Mwana Afrika, até então minha menina dos olhos, programa produzido e apresentado pela jornalista angolana Mwana que apresenta, de maneira informativa e descolada, o continente africano nas mais variadas formas de manifestação cultural: história, arquitetura, sociedade, música, beleza e estética, moda. É maravilhoso, acredito que os telespectadores irão amar!”, descreve.

O novo canal faz parte de um grupo multimídia global francês, presente em mais de 120 países, tem forte difusão na África subsaariana com: Trace Naija (Nigéria) Trace Toca (África lusófona) Trace Senegal.  A chegada da Trace é fruto do encontro de Olivier Laouchez, CEO global, com José Papa, ex-CEO do Cannes Lions, líder da operação no Brasil.

Elza Soares celebra aniversário de 90 anos em live especial

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“Elza in Jazz”, acontece nesse sábado (25), Dia da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, e será transmitida no canal oficial da cantora no Youtube. Parte da renda obtida com a live será revertida para as ONGs All Out, que atua globalmente em defesa dos direitos LGBTI+, e Apolonias do Bem, que oferece tratamento odontológico gratuito para mulheres vítimas de violência.

A live da artista terá participação dos músicos Jorge Helder, Gabriel de Aquino, Márcio Bahia e Netão, que irão acompanhar Elza durante a apresentação.

Serviço

Elza in Jazz – Live Especial 90 anos
Data: 25 de julho (sábado)
Horário: 21h
Ambiente de transmissão: youtube.com/ elzasoaresoficial

Repertório
1 – Juízo Final (Nelson Cavaquinho/ Élcio Soares)
2 – Malandro (Jorge Aragão)
3 – Meu Guri (Chico Buarque)
4 – Volta Por Cima (Paulo Vanzolini)
5 – Mulher do Fim do Mundo (Rômulo Fróes/ Alice Coutinho)
6 – Maria Da Vila Matilde (Douglas Germano)
7 – O Tempo Não Para (Cazuza/ Arnaldo Brandão)
8 – Espumas ao Vento (Accioly Neto)
9 – Menino (Elza Soares)
10 – Banho (Tulipa Ruiz)
11 – Carinhoso (Pixinguinha/ João de Barro)
12 – A Carne (Marcelo Yuka/ Ulisses Cappelletti/ Seu Jorge)
13 – Lírio Rosa (Pedro Loureiro/ Luciano Mello)
14 – Dor de Cotovelo (Caetano Veloso)
15 – Pranto Livre (Edel Ferreira/ Everaldo Dias)
16 – Libertação (Russo Passapusso)
17 – Negão Negra (Flávio Renegado/ Gabriel Moura)

Podcast: Escritor Ale Santos lança série sobre os maiores nomes do samba

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O escritor e podcaster Ale Santos (Foto: Divulgação )

Comemorando o vigésimo episódio do podcast Infiltrados No Cast, Ale Santos, escritor do livro Rastros de Resistência: História de Luta e Liberdade do Povo Negro está lançando a série “Lendas do Samba”, dedicada a apresentar a história de figuras importantes para a história da música e do movimento cultural que se tornou pilar do povo negro brasileiro. 

Para enriquecer os episódios o autor e podcaster conta com participações especiais, como do sambista e sociólogo Tadeu Kaçula presidente do Instituto Cultural Samba Autêntico, que recentemente lançou sua obra “A pequena África Paulistana” e outros grandes nomes como da cantora Teresa Cristina que tem um depoimento sobre Candeia no episódio que abre a série. 

“As pautas do Candeia, as reivindicações dele, dentro da obra dele continuam ativas.” – Trecho do depoimento da Teresa Cristina. 

Segundo Ale Santos, reconhecer os nomes e as lutas dessas pessoas podem guiar nossa população nesse momento político que estamos vivendo. “Parece algo distante, mas ao escutar uma ou duas músicas a gente percebe quanto é recente e mais ainda, como ainda é urgente que o Brasil entenda a mensagem dos nossos sambistas para construir nossa democracia.”

Os episódios estão disponíveis gratuitamente no site e nos principais programas de streaming musical. Eles vão ao ar nas Sexta-Feiras e contam com ilustrações fenomenais do Douglas Lopes. 

Onde escutar o Infiltrados No Cast? 

Site oficial – http://infiltradosnocast.com/

Google Podcast – https://podcasts.google.com/feed/aHR0cDovL2luZmlsdHJhZG9zbm9jYXN0LmNvbS9mZWVkL3BvZGNhc3Qv?sa=X&ved=2ahUKEwjn9Mq79-XqAhV5ajABHUoVAzIQ4aUDegQIARAC&hl=pt-BR

“Existe um apagamento das pessoas trans dentro da comunidade negra”, afirma a influenciadora Joe Andrade

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A ativista e influenciadora recifense Joe Andrade - Foto: Arquivo pessoal

Preta, nordestina e trans com muito orgulho. Joe Andrade é uma mulher com uma linda jornada de descoberta, em que ela aprende sobre si mesma, mas também ensina quem cruza seu caminho. Feliz quem pode testemunhar de perto esse renascimento poderoso.  

Joe que é estudante de teatro na UFPE é uma das entrevistadas mais especiais desse nosso Julho das Pretas e fala com a gente sobre sua vida como mulher, como a transição impactou suas relações sociais e familiares. Ela também destaca a transfobia presente na comunidade negra. Para se ter uma noção, Joe administra uma página bem conhecida pela comunidade negra no Facebook, a Desenrolando. Depois que ela começou a publicar mais conteúdos sobre comunidade LGBTQ+ e principalmente sobre mulheres trans, ela perdeu muitos seguidores.

“Minhas redes sociais, 95% são pessoas negras que me seguem. Eu falo sobre questões raciais desde 2013, a gente vai adicionando todas as pessoas pretas, mas depois vamos notando algumas coisas que me deixavam chocadas. Desconsiderar a existência das pessoas negras LGBT é um apagamento”, diz a ativista.

Te convidamos a conhecer mais o universo das mulheres negras trans nessa entrevista.

Mundo Negro  – Quando você descobriu que ser trans era algo possível? Digo pela questão da representatividade , a gente não sabe que pode ser uma coisa que nunca vimos.

Joe Andrade – O processo de autoconhecimento aconteceu em 2016 quando percebi que não era um homem gay e sim uma pessoa trans. Acredito que eu já  sabia desde cedo, quando criança,  me identificava muito mais com os problemas  das meninas negras do que dos meninos negros, quando eu me olhava no espelho eu me enxergava a própria  Taís Araújo  e não  o Lázaro Ramos.  Porém  por medo resolvi me assumir gay para minha família  e andar na linha da cisheteronormatividade. Chega um momento que não  tem jeito, você  tem a necessidade  de colocar para fora  algo muito precioso que está acontecendo dentro de você, e foi quando eu me assumi TRAVESTI, eles não  ficaram  tão  chocados  mas alguns ” amigos” se afastaram, houve aqueles que me excluíram de suas redes sociais, mas eu nunca me senti tão  linda.

Como foi para você o início desse processo e qual era o seu nível de preocupação com o julgamento do outros quando você decidiu ser você. Como foi sua família nesse processo?

Foi uma grande autodescoberta, eu procurava ao máximo  ouvir pessoas trans, principalmente as mais velhas, observava as inúmeras  vivências. Chega um momento em nossas vidas que a gente acha que aprendeu tudo e essa questão me fez perceber que não  é  bem assim. A minha preocupação  era se as pessoas iriam se afastar de mim, hoje em dia eu percebo que isso é  um favor. A minha ideia  de família ou modelo familiar mudou com o passar do tempo, para  mim, família  são  as pessoas que respeitam a sua humanidade  e te dá  todo  o suporte que a vida possa oferecer, independente  de laço  sanguíneo.  Penso que essa ideia de  ” família  é  de sangue” seja fruto de um pensamento colonial,  nós, pessoas LGBTQI+ precisamos descolonizar essa ideia e mostrar para a sociedade  os inúmeros modelos de família brasileira. 

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Você fez terapia durante essa mudança? Teve algum tipo de acompanhamento profissional?

Eu busquei a terapia para resolver outras questões, porém  a questão  da travestilidade acabou entrando no jogo e me ajudou ainda mais. Eu pretendo voltar quando começar  o processo  de hormonização, inclusive, é  extremamente perigoso se hormonizar  por conta própria, o profissional irá  nos ajudar  a tomar as quantidades  certas, quais tipos de hormônios tomar. Muitas meninas ficam inseguras de procurar acompanhamento profissional devido algumas violências transfóbicas que vivenciamos com alguns profissionais da psicologia, afinal, só  em 2019 que a OMS retirou a transexualidade da lista de doenças mentais, mas existem muitos profissionais capacitados e que respeitam a nossa humanidade, vale a pesquisa. 

O que mais as pessoas dizem sobre os trans que te irrita, que te tira do sério?

Uma lista de coisas:

  • Que somos pessoas indecisas;
  • Que somos pessoas sem Deus ;
  • Que temos problemas psiquiátricos;
  • Que somos pessoas promíscuas;
  • Quando duvidam  da nossa capacidade intelectual;
  • Que não iremos viver mais de 30 anos ( nossa expectativa de vida)
  • Quando perguntam  nosso “nome verdadeiro” ou se já “fizemos a cirurgia”.  As pessoas se interessam muito pelas genitálias de pessoas trans, ninguém saí perguntando a um homem cisgênero se ele fez a circuncisão, nem deveria.
Joe Andrade em cena no espetáculo “O Dia que os gatos aprenderam a tocar jazz” – Foto: Arquivo pessoal

A comunidade negra é transfóbica ?Pode dar algum exemplo de algo que te afetou pessoal ou profissionalmente?

Acredito que assim como o racismo, a transfobia  é  um problema estrutural na sociedade, isso não  significa  que não vamos nos repensar e jogar  a responsabilidade  para a “sociedade ” como se nós  não fizéssemos parte dela. Nós fazemos  parte dessa estrutura, então, assim como o racismo é  problema  dos brancos a transfobia é  um problema das pessoas  cisgêneras. A comunidade negra é transfobica quando pauta a negritude  apenas no aspecto cisgênero  e heterossexual e exclui todas as outras possibilidades de gêneros e sexualidade. 

Eu acredito que a comunidade negra deveria abraçar  a luta da travesti, afinal, a maioria das travestis que são assassinadas são  negras e eu acredito que isso  se configura genocídio  negro. Essa pessoa trans que não chega até os 30 anos em sua grande maioria é  negra, 90% das meninas que estão na rua se prostituindo devido a falta de oportunidade são negras. A experiência negra deve ser pautada para além da cisheteronornatividade.  Nós travestis negras morremos duas vezes, por ser preta e por ser travesti, às vezes somos assassinadas três vezes, a terceira morte é quando erram nosso nome nas notícias.

Fiz uma seleção para uma agência de modelos, fui aprovada e me convocaram para uma reunião  importantíssima, eu achei que seria para  fechar o contrato, mas foi para me comunicar que infelizmente  não poderiam me contratar. Eles me aprovaram mas a minha aprovação gerou uma certa polêmica  e eles resolveram me dispensar, a justificativa que um dos agentes deu é que sendo uma pessoa trans isso geraria muita polêmica  e alguns clientes poderiam cancelar parcerias, eles não queriam correr tal risco.  Eu me senti extremamente humilhada, quando se é  uma pessoa trans em busca de um emprego não  é o seu curriculum e experiência que está em pauta e sim a sua humanidade.

Agora que você se tornou o que você é? Quais são as suas maiores alegrias, o que mudou no seu autocuidado?

Eu me sinto muito mais bonita e confortável, me sinto uma pessoa extremamente corajosa e feliz, no país que mais mata travesti é preciso ter coragem para andar pela  rua na luz do dia. A minha maior alegria foi ser a primeira da minha família a entrar em uma universidade pública e ter a oportunidade de descolonizar essa instituição que historicamente nos excluiu e desmereceu os nossos conhecimentos. 

Quem são suas referências entre as pretas trans?

As minhas referências principais são minhas amigas, Marcya Soares, Jarda Araújo, Rimena Brilhantina e Sued Hozanna, são pessoas que eu aprendo e me inspiram , são intelectuais maravilhosas e o futuro da nação. Espero que uma delas seja PRESIDENTA do Brasil um dia, acredito que esse país  só  irá para frente quando  tiver uma presidenta travesti. Também  amo as atrizes da série  Pose, MJ Rodrigues, Dominique Jackson, Angelica Ross e o elenco todo.

As crianças trans estão descobrindo mais cedo que não se identificam com o gênero de nascimento. Qual seu conselho para os mais jovens?

Eu acredito que a internet aproxima muitas discussões, hoje algumas crianças já nascem com um smartphone na mão  e tirando uma selfie para postar no Instagram. Penso que todas as pessoas  que querem ter uma criança  deveriam ler sobre questões  de gênero e respeitar os seus filhos, apoia-lo e ajuda-lo no que for preciso. O meu conselho para os mais jovens é que se cuidem emocionalmente, temos um mundo extremamente cruel mas as que vieram antes de nós abriram a porta e nós estamos aqui, não iremos embora, não morreremos pois somos sementes.

Fundadora da Feira-Preta, Adriana Barbosa é homenageada pela Turma da Mônica

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Adriana Barbosa é um patrimônio da cultura brasileira. Por meio da Feira-Preta, maior evento negro da América-Latina, a empresária conseguiu mostrar a força, o talento diverso, a arte da comunidade negra e ainda fortalecer a relevância econômica dos negros enquanto consumidores. Não por acaso, ela recebeu uma homenagem da Turma da Mônica por conta do Dia Internacional da Mulher Negra Latino Americana e Caribenha, 25 de Julho, sendo representada pela personagem Milena. Barbosa agora faz parte do hall do projeto Donas da Rua da História. 

 

A empresária é formada em Gestão de Negócios, é vencedora da categoria Empreendedorismo e Negócios do Prêmio CLAUDIA 2019, do Troféu Grão do Prêmio Empreendedor Social promovido pela Folha de S. Paulo, do Prêmio Estado de São Paulo para as Artes, da Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa, na categoria cultura urbana, e, ainda, é parte do time de fellows de líderes globais da Fundação Ford. 

A linda homenagem faz parte do projeto MSP parceiro da plataforma da ONU Mulheres e do Pacto Global tem como objetivo resgatar a trajetória de mulheres que marcaram a humanidade com suas ações.

Para Mônica Sousa, diretora executiva da Mauricio de Sousa Produções, é uma honra poder somar o nome de Adriana ao projeto. “É extremamente gratificante poder homenagear a criadora de uma plataforma tão importante para o empreendedorismo e para o movimento negro no Brasil. Trazer mais visibilidade a mulheres  notáveis para que sejam exemplo e incentivem outras mulheres é nosso papel não apenas como empresa, mas como cidadãos”, pontua. 



O projeto Donas da Rua e outras Donas da Rua da História podem ser conferidos no site:turmadamonica.uol.com.br/donasdarua/ddr-da-historia.php

Implicantes: conheça e ajude a primeira fábrica cervejeira negra do Brasil

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Situada em Porto Alegre, a marca Implicantes promete “implicar” com o racismo. Foi assim que surgiu a primeira fábrica cervejeira negra do Brasil. Em meio a crise e a pandemia, o projeto foi afetado. Foi então que a namorada de um dos sócios fez uma publicação no Facebook para reunir fundos e divulgar a empresa do amado. O post repercutiu muito, alcançando, até o final dessa matéria, a marca de 22 mil compartilhamentos. A equipe sofreu inúmeros ataques racistas mas, também, recebeu apoio da comunidade negra.

Conheça a origem e a essência desse projeto pioneiro no ramo das cervejas:

MUNDO NEGRO: O que seria uma cervejaria negra? Qual o grande diferencial?

IMPLICANTES: A gente fala que é uma cervejaria negra porque somos a primeira fábrica cervejeira negra do Brasil. Até existem cervejarias negras, cujo sócios são negros, mas eles não possuem fábrica. Por infelicidade, por muitos não terem a oportunidade de possuir uma fábrica. A gente fala isso justamente para as pessoas perceberem que, na verdade, é uma infelicidade essa questão de ser a primeira fábrica cervejeira negra, porque deveriam existir mais. A gente já começa a “implicar” daí, por  isso o nome IMPLICANTES, a  gente gosta de implicar com muitas questões que não são discutidas na sociedade e, principalmente, no meio cervejeiro. O nosso diferencial é representatividade! Em todos os nossos rótulos nós homenageamos as personalidades negras, trazemos muitos debates em questão do racismo mesmo estrutural, relacionados tanta aos termos pejorativos como outras  questões.

Cervejas IMPLICANTES / Acervo Pessoal

MUNDO NEGRO: Como surgiu a ideia desse projeto: ser a primeira cervejaria negra do país? 

IMPLICANTES: Na fábrica somos em sete pessoas negras, contando com os três sócios Diego Dias, Daniel Dias e Thiago Rosário. Somos basicamente uma empresa familiar, entre primos e irmãos. A ideia surgiu quando eu (Diego) e o Daniel – o mestre cervejeiro –  frequentávamos os eventos cervejeiros e não nos sentíamos representados. Muitos rótulos que tentavam representar o negro, geralmente era de maneira totalmente pejorativa e  sempre baseado em uma cerveja escuro. Quando iniciamos a produção, em casa, a gente já começou a rascunhar ideia dos rótulos, a identidade visual da empresa e já também fazendo uma receita de cerveja, já nessas primeiras produções caseiras para, futuramente, a gente abrir uma produção cervejeira. 

MUNDO NEGRO: Qual maior dificuldade enfrentam?

Tivemos a oportunidade de comprar uma fábrica de segunda mão e, por isso,  muitas vezes a gente não conseguiu distribuir para fora do Rio Grande do Sul. Deu muito problema na fábrica, tínhamos pouquíssimo dinheiro para pagar profissionais que ajeitassem a fábrica e, por essas e outras, acabamos sendo muito autodidatas – o que não era o certo, já que deveríamos contratar um profissional para resolver esses problemas.  

Basicamente o motivo do nosso financiamento coletivo é porque  estarmos com muitas contas em atraso, ainda temos manutenções para terminar e queremos expandir, comprar maquinários para aumentar a produção – por isso o valor da meta o pessoal se assusta. Nossa dificuldade vem do nosso posicionamento, exaltar a representatividade, mostrar no nosso rótulo nossa luta contra o racismo. E esse meio que é extremamente racista gera essa repercussão, o pessoal não assimila nossa ideia, acha que é vitimismo quando, na verdade, a gente quer representar nosso povo. A nossa maior felicidade é ver pessoas pretas nas nossas redes sociais dizendo “conheci vocês agora, tenho que provar. Me sinto muito representado por vocês”. 

Implicantes: a primeira fábrica cervejeira negra do país

MUNDO NEGRO: Como foi a reação após a repercussão da postagem?

Pessoal, quem puder apoiar e compartilhar, meu namorado tem a 1ª fábrica cervejeira negra do Brasil e está lutando para…

Posted by Taiane Teixeira on Wednesday, July 22, 2020
Publicação de Taiane, namorada de um dos sócios

IMPLICANTES: A repercussão foi muito boa para a gente ver que tem muitas pessoas que estão apoiando a nossa causa. O lado negativo, a gente já sabia que existiam  pessoas podres, mas olhar eles atacando de forma direta a Taiane (namorada do sócio) e a família dela, o Thiago (sócio)… Fez com que  a gente fique assustado com esse ódio que o pessoal vomita, sem nos conhecer, passando fake news, passando informações erradas. Falando coisas que não fazem o menor sentido. Então isso que nos deixou bem entristecidos mas, ao menos tempo, muito felizes pelo pessoal estar sempre presente conosco. 

Saiba como apoiar e ajudar: http://bit.ly/vaquinhaimplicantes. E nas redes sociais: @implicantesmc

Preta Pretinha: a história por trás da primeira loja de bonecas negras do Brasil

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As irmãs Venancio, Lúcia, Joyce e Maria Cristina, são as fundadoras do Preta Pretinhas Bonecas, pioneiras em bonecas negras no Brasil. No ano de 2000 abriram a loja na Vila Madalena, em São Paulo. Em 2009 fundaram o Instituto Preta Pretinha, que visa levar autoestima para famílias pretas através do artesanato. Em 2017, o projeto foi reconhecido e certificado como ponto de cultura, trabalhando com palestras, artesanato, ida às escolas públicas e privadas. 

No #JulhoDasPretas de hoje conheça a história desse projeto lindo que abriu portas para a representatividade em diversos segmentos. 

MUNDO NEGRO: Quando e como surgiu o Preta Pretinha Bonecas?

PRETA PRETINHA: Desde a infância nós tivemos uma autoestima muito bem resolvida e trabalhada com a vovó Maria. Ela se preocupava muito em nos presentear por bonecas feitas por ela: bonecas pretas! Bonecas que nos representassem, até porque a gente já questionava muito a falta dessas bonecas no mercado – que não existia. Com esse trabalho da vovó e da família nos incentivar com bonecas, a primeira necessidade que tivemos quando adulta, foi montar um ateliê de bonecas negras na Vila Madalena (São Paulo), onde nós nascemos, para podermos entrar no mercado. Bonecas sem estereótipo que representassem  a beleza negra. Preta Pretinha Bonecas surgiu em 2000.

Primeiros bonecos feitos pela Preta Pretinha Bonecas / Acervo Pessoal

MUNDO NEGRO: Havia outra marca especializada em bonecas negras? Pode contar alguma história de alguém pioneiro que a inspirou? 

PRETA PRETINHA: Quando surgiu a marca, observamos que anos antes surgiu uma artista chamada Tilaí, que customizava bonecas brancas, as tingindo de preto, transformando em bonecas negras. Iniciativa bonita que nós admirávamos. Outra marca era a Nega Fulô, também chamou nossa atenção; como passava muito pela USP, via as bonecas negras de pano, muito bem arrumadinhas e bonitas. Ela atendia a rede de educadoras na época. Fora isso, muito pouco, somente nas feiras. 

Alguns modelos das atuais bonecas Preta Pretinhas / Acervo Pessoal

MUNDO NEGRO: Qual a história por trás do “Preta Pretinha”?

PRETA PRETINHA: Nossa inspiração veio mesmo da nossa vovó Maria, de casa, da educação que tivemos. Vovó ficava com a gente como cuidadora, enquanto mamãe saia para trabalhar. A vovó tinha uma consciência incrível e trabalhava muito bem essa questão de autoestima. Nós sentíamos necessidade no “dia do brincar”, sexta-feira na escola, de levar a bonequinha para brincarmos. Vovó satisfazia nossa vontade, fazia nossas bonequinhas. Ao chegar na escola era incrível, porque não existia no mercado. Todos os coleguinhas queriam nossas bonequinhas para brincar! Era uma festa (risos).

MUNDO NEGRO: Como foi o processo de transformar a produção doméstica em uma produção em escala maior?

PRETA PRETINHA: Nós sempre pensamos em montar algo maior e vir no segmento de empresa, como empresárias.Nos instalando num local comercial onde tivéssemos visibilidade para levantar uma bandeira: a anti-racista. Para levantar uma bandeira de ”sim, nós podemos!”. Fizemos uma pesquisa para ver qual seria a aceitação desse produto, fizemos enquetes, fizemos plano de negócio, para seguirmos uma estratégia para prosperarmos. Nós pensamos grande porque essa questão da boneca negra, como brinquedo educativo, também diz respeito da ancestralidade – e, para nós, isso sempre foi muito importante. Por isso tinha que ser ali, no bairro onde nós nascemos; um bairro cultural, bem eclético, no qual tivéssemos ali uma marca que se superasse. Nós começamos no espaço de 15 m², que era necessário para estarmos no mercado. Nós fazíamos também eventos e feiras; uma experiência muito boa, porque observamos a reação das pessoas, a aceitação. Após quatro anos fomos para um espaço maior, de 120 m² ao lado do endereço que tínhamos. (…) A gente percebeu que a Preta Pretinha contribuiu muito para o afroempreendedorismo, conseguimos atravessar a fronteira das bonecas, tivemos visibilidade. Foi o início de um sonho! 

Poder contribuir como negras na história do Brasil é incrível. Estamos presentes no livro de história do autor Alfredo Boulos, demos entrevistas internacionais. Queremos fortalecer a imagem do negro. Preta Pretinha não é só sobre bonecas, é sobre o conceito. Após a Preta Pretinha, surgiram outras bonequeiras e artistas trazendo, cada uma, na sua linha de segmento, uma beleza diferente (…). E precisa ter sim. Porque demorou muito, então tem que ter uma (loja de bonecas pretas) em cada esquina.

Preta Pretinha passou a ser ponto de pesquisa e de cultura. Na foto, visita da escola Dom Bosco com as irmãs Venancio / Acervo Pessoal

MUNDO NEGRO: Como o seu negócio se modificou ao longo dos anos com a entrada de outras marcas no mercado?

PRETA PRETINHA: Modificar exatamente não, melhoramos. Temos que nos fortalecer!  Esse crescimento de outros artistas é gratificante, pois torna-se multiplicador da variedade, gera black money. Para cada artista mostrar seu trabalho. Tudo isso está relacionado a questão do negro no Brasil; precisamos nos unir, temos de possuir o poder, sobretudo o financeiro – que está muito ligado ao que nós podemos construir e sair fora dessa questão social tão pequena e miserável. A união precisa ser um multiplicador. Não só na área das bonecas, mas em todos os segmentos. 

Depois de Preta Pretinha surgiram outras marcas, como a marca Lucco Artesã e, recentemente, foi lançada a marca Era Uma Vez Um Mundo. Quero ressaltar também que a Preta Pretinha existe desde 2000, estamos há 20 anos no mercado. Fomos a primeira loja de bonecas negras do Brasil! Com passar do tempo, após quatro anos de existência, percebemos a necessidade de criar os bonecos da diversidade e inclusão.

Boneca de inclusão / Acervo Pessoal

MUNDO NEGRO: Há alguma história marcante de clientes com suas bonecas?

PRETA PRETINHAS: Há várias histórias marcantes, uma em especial foi logo no início, em 2001. Haviam alguns garotos negros da comunidade que carregavam sacolas na feira livre, na nossa rua. Essas crianças sentiam muita curiosidade sobre os bonecos que  ficavam expostos em nossa calçada; eles passaram a entrar na loja, contávamos histórias sobre a beleza negra. Um dia, o menorzinho deles, ficou muito triste pelos demais amigos dizerem que ele se parecia com um dos nosso bonecos. Em pratos, ele dizia que não parecia pois o boneco não era bonito. Ao questioná-lo o porquê de dizer isso, ele respondeu que o boneco era feio pois todos diziam que a pele preta era feia. Ali eu vi a necessidade de trabalhar com essas crianças, todo sábado eles vinham para conversarmos sobre ser negro e a autoestima deles. Dei a ele o boneco, disse que parecia com ele, pois ele era lindo. Essas crianças aprenderam sobre a beleza negra e depois passaram a levar outras crianças para aprender também, corrigiam aqueles que faziam algum tipo de racismo. A importância de ser reconhecido como belo! O mais velho desses, o Lucas, até hoje têm contato conosco, tem filhos e sempre participa dos nossos eventos. Isso é muito lindo! 

MUNDO NEGRO: Qual a sensação de contribuir para a representatividade de crianças e mães negras?

PRETA PRETINHA: É importantíssimo! Nós passamos por ataques dia a dia, sofrimentos. É muito triste saber de cada criança que passa por todo tipo de violência e cada mãe que perde seu filho, é uma dor muito grande. A contribuição da Preta Pretinha está ligado a isso, nos fortalecer e nos unir, fazendo um trabalho em conjunto. 

Cliente da loja Preta Pretinhas / Acervo Pessoal

MUNDO NEGRO: Qual sua relação com as bonecas, enquanto mulher negra? Como foi sua infância?


PRETA PRETINHA: Somos abençoadas de vir na família que viemos, que nos passava toda a questão da negritude, o que é “ser negro”, as dificuldades que enfrentaríamos enquanto negras. Se não tivéssemos esse alicerce, da família trabalhando nossa autoestima, não sei como seria. Nós amávamos brincar de bonecas, até batizado delas nós fazíamos, sempre trabalhando a nossa autoestima enquanto crianças negras. É muito importante empoderar essas crianças!

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