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Oportunidade: Inscrições abertas para o 14º Encontro de Cinema Negro Zózimo Bulbul

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Zózimo Bulbul - Divulgação

Até o dia 30 de maio, o “Encontro de Cinema Negro Zózimo Bulbul: Brasil, África, Caribe e Outras Diásporas” está com inscrições abertas para sua décima quarta edição. É possível inscrever filmes de curta, média e longa metragens, séries de TV e WEB, no formato digital, que tenham sido realizados e produzidos por pessoas negras. O evento será realizado na plataforma Todes Play, virtualmente, mas é aquela oportunidade concreta para quem está criando na área do audiovisual mostrar seu trabalho.

O Centro Afro Carioca de Cinema recebe as inscrições e segue na continuidade ao legado de Zózimo. Como em outros anos, o Encontro de Cinema tem o objetivo de difundir e promover os filmes, o intercâmbio entre pessoas realizadoras do audiovisual afro-brasileiro, africano, caribenho e da diáspora negra. Além disso, é um momento de visibilidade para a cena de cinema negro no Brasil, para narrativas negras terem mais espaço nacional e internacionalmente.

A consolidação do evento, relevante na expansão dos debates sobre cinema negro, por ser uma plataforma de ideias e trocas, impulsiona a criação de filmes centrados na experiência da comunidade negra. Vale ressaltar que Zózimo Bulbul, pioneiro em atuação em novelas, direção e produção negra no Brasil, e fundador do Centro Afro Carioca, utilizou suas produções cinematográficas como forma de questionar o racismo e reforçar como a população negra fez contribuições históricas ao Brasil.

Mais informações sobre as inscrições aqui.

“Uma menina não está segura em um mundo cheio de homens”, Oprah Winfrey fala sobre abuso sexual em novo programa

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Imagem: Reprodução

A apresentadora de televisão Oprah Winfrey, de 67 anos, fez tristes revelações na série documental  ‘The Me You Can’t See‘ (“O eu que você não pode ver” em tradução livre), programa produzido por ela e pelo Príncipe Harry. Oprah afirmou ter sido violentada diversas  vezes por um primo mais velho. Os abusos começaram a partir dos seus nove anos de idade da futura apresentadora. “Aos nove, 10, 11 e 12 anos, fui estuprada por meu primo de 19 anos. Eu não sabia o que era estupro. Certamente não estava ciente da palavra”, revelou emocionada.

The Me You Can't See: Oprah Winfrey says childhood rape convinced her that  girls 'aren't safe in a world full of men' | The Independent
Imagem: Reprodução ‘The Me You Can’t See

A apresentadora contou ao público do programa que não tinha a menor ideia da gravidade e que se manteve em silêncio por anos sobre o ocorrido.”Eu não tinha ideia do que era sexo, não tinha ideia de onde vinham os bebês, nem sabia o que estava acontecendo comigo. E eu mantive esse segredo”, disse.

“E é apenas algo que aceitei. Que uma menina não está segura em um mundo cheio de homens”, concluiu.

O programa visa trazer pautas importantes sobre abuso sexual, saúde mental através de relatos pessoais de personalidades como Glenn Close. A série também contou com revelações da cantora Lady Gaga sobre assédio sexual e depoimentos do Príncipe Harry.

‘Iê acarajé’: Websérie apresenta história das baianas e suas tradições

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Foto: Amanda Oliveira.

O acarajé, comida sagrada da orixá Oyá e reconhecido pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), como Patrimônio Cultural do Brasil, é tema da websérie Iê Acarajé, que estreia no perfil do Instagram da Casa MAR, no próximo dia 25. Elemento simbólico e constituinte da identidade baiana, com forte ligação com as religiões de matriz africana, o acarajé é reconhecido como uma das mais importantes contribuições africanas à identidade do país, revelando uma cultura afro-brasileira, ancestral e matriarcal.

A série é um retrato especial sobre a vida e desafios de cínco baianas de acarajé: Ubaldina, Dinha, Elaine, Taty e Marluce, em suas comunidades e a sua relação com a religiosidade, família e trabalho.

Dividida em quatro episódios, a narrativa apresenta o trabalho das baianas sob diferentes perspectivas, desde a escolha pela profissão, seja por herança familiar, acordos coletivos, oportunidade de empreender e contato com a religiosidade.

“‘lê Acarajé’ é a união de duas paixões: acarajé – não à toa tenho a palavra dendê tatuada no braço, e a possibilidade de encontrar grandes personagens e dialogar com eles. Por isso, o mais interessante desse processo foi a troca com essas mulheres, ouvi-las sobre suas trajetórias, vivências, dores e delícias de suas vidas e perceber como ser baiana é fundamento para elas serem quem são.” revela Mariana Jaspe, diretora e roteirista.

Resgatando importante referência histórica e cultural, a escolha do nome “Iê acarajé” faz referência à primeira metade do século XX, quando, segundo o ex-diretor do Centro de estudos Afro-Orientais da Universidade Federal da Bahia, Ubiratan Castro, as famílias aguardavam, às 19h, as mulheres do acarajé passarem em uma espécie de cerimônia, anunciando a venda de ‘Iê acarajé, Iê abará!’.

Emocionante e revelador, o objetivo da websérie é mostrar de perto a vida dessas baianas, suas histórias e seus desejos, desvendando como essas mulheres, que trabalham alimentando o povo, lidando diretamente com o público, estão atravessando o atual momento de incertezas e distanciamento social.

“Vivo em uma sociedade que foi pensada para aniquilar existências como a minha”: Diz Eloá Rodrigues, Miss Beleza T Brasil

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Eloá Rodrigues - Foto: Divulgação

Entrevista e texto por: Joe Andrade

Eloá Rodrigues é estudante de Ciências Sociais pela Universidade Federal Fluminense (UFF), modelo, atriz, ativista dos Direitos da população Preta e LGBTI e Miss Beleza T Brasil, ela irá representar o país na Tailândia, no concurso Miss Internacional Queen, nessa entrevista exclusiva para o Site Mundo Negro, Eloá fala sobre sonhos e reflete sobre oportunidades para a comunidade trans/travesti no Brasil, confira: 

Mundo Negro (Joe Andrade):  Como foi o processo para se tornar uma miss? 

Eloá – Foi um processo quase paralelo a minha transição de gênero, um percurso de muita autoanálise, preparação, de construção e reconstrução e de muitas pessoas envolvidas, por isso costumo dizer que deixou de ser só meu sonho e se tornou de todos que, direta ou indiretamente, estavam ligados a este projeto. Eu sempre ouvi falar dos concursos de mulheres cis, porém o concurso para mulheres Trans e Travestis ainda não tinha tanto espaço e visibilidade. Em 2015 foi a primeira vez que tentei participar do extinto Miss T Brasil (que também era a nível nacional e mandava a brasileira para a competição na Tailândia). Porém minha inscrição não foi aceita. Em 2016 participei do também extinto Miss T Niterói, não angariando o pódio, entretanto a experiência e troca que tive foram transformadoras. Em 2017 tentei o Miss T Brasil novamente e, novamente, não fui aceita. Em 2019 foi lançado o Miss Beleza T Brasil e novamente tentei, e minha inscrição foi aceita. Sendo a minha primeira participação de um concurso a nível nacional. Fiquei no top 10, nessa ocasião, o que me motivou a continuar tentando a realizar meu sonho, que era ser a Miss Brasil. Feito que consegui na segunda edição do concurso, novamente representando meu estado (Rio de Janeiro). Consegui alcançar o meu objetivo maior, um percurso que não foi fácil, mas que com a ajuda da minha família, equipe e amigos, consegui chegar aonde mais desejava.

De que forma os concursos de beleza contribuem para a luta da comunidade T?

Eloá – Minha vivência já diz por si. Venho da periferia, sou negra e os sonhos para mim, no geral, nunca deixaram de ser sonhos. Vivo em uma sociedade que foi pensada para aniquilar existências como a minha. O Brasil é o país que mais mata jovens negros, que mais mata pessoas trans, e neste sentido é uma luta diária tentar criar uma narrativa sobre mim mesma e sobre meus iguais. Então acredito que sim, os concursos de beleza, em especial os direcionados para pessoas Trans e Travestis, ajudam a humanizar nossas existências e mostrar que é possível sonhar e criar outras narrativas sobre a nossa existência. Mesmo não sendo a solução para todas as nossas questões, servem para viabilizar o debate sobre o trânsito e a convivência social com os nossos corpos, com a possibilidade de naturalização, humanização e possibilidade de dignidade.

Eloá Rodrigues – Divulgação

 Em 2018, Angela Ponce desfilou no Miss Universo representando a Espanha. Ela não chegou entre as 20 colocadas, mas fez história sendo a primeira mulher trans a desfilar no maior concurso de beleza do mundo. Como você analisa a presença de mulheres trans/travestis em concurso de maioria cisgênera?

Eloá – Acredito que a nossa presença em concursos tradicionais deveria ser encarada com naturalidade e com a possibilidade de troca ainda mais interessante de vivências e experiências, porque afinal, somos mulheres. Entretanto a maior questão que permeia a inserção de pessoas Trans e Travestis, nos meios de convivência e mais especificamente no âmbito das competições, em qualquer esfera, é que a sociedade não está disposta a nos dar humanidade e reconhecer que somos dignas de ocupar determinados espaços, e não está disposta a fazer este tipo de diálogo de forma honesta, de forma horizontal e límpida, nos colocando no centro do debate. Desta maneira é mais fácil, dizer “que eles criem um concurso para eles “, no intuito de continuar nos colocando as sombras ou em nossos guetos. Frente a isso, continuo acreditando que hoje conseguimos atingir a um nível de diálogo com a sociedade, que é impossível dizer que nós não existimos (como faziam há não muito tempo atrás), e mesmo frente a tantos retrocessos, acredito que é uma movimentação que não tem mais como ser desfeita.

Quais suas referências de beleza?

Eloá – Minhas referências, vão para além do estereótipo que foi criado em torno do que é ser belo, para mim é muito mais complexo do que só “ter beleza”. Pessoas que me nutriram e me ensinaram algo sobre a vida, como ser uma pessoa melhor, que são parte da mulher que sou hoje. As mulheres da minha família, minhas amigas, as mulheres negras que fizeram e fazem parte da minha formação política e tantas outras, são minha referência não só de beleza, mas do que é ser mulher nesta sociedade.

O que podemos esperar no Miss Internacional Queen?

Eloá – Tem um trabalho lindo sendo preparado. Estou tentando dar conta de tudo o que este momento e processo exige. São muitos detalhes, muitos profissionais e muita gente que acredita no meu potencial. Terá muita ousadia, representatividade e amor. Estamos levando algo que é a mistura do clássico com o inovador. É um desafio, mas estou muito entregue e confiante. Meu maior intuito é que as pessoas ao falarem do Miss Internacional Queen 2022 automaticamente lembrem com orgulho de terem sido representados por mim!

Joe Andrade, autora da entrevista, é atriz e acadêmica em Teatro.

Michelle Williams fala sobre sua batalha contra a depressão e a reação das integrantes do Destiny’s Child

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Foto: reprodução/Internet

Nesta sexta-feira (21) a cantora Michelle Williams falou em entrevista para a CBS sobre depressão e sua luta para mudar os estigmas que caem sobre doenças mentais.

Em 2018 a cantora se internou durante semanas para tratar sua depressão e comunicou a amigos e fãs no Instagram que reconheceu ser a hora de procurar por ajuda

“Por anos me dediquei a aumentar a conscientização sobre saúde mental e empoderamento de pessoas para reconhecer quanto é hora de procurar ajuda, apoio e orientação que as amam e cuidarem de seu bem-estar”, publicou a cantora.

https://www.instagram.com/p/BlWAAovl7JV/?utm_source=ig_embed&ig_rid=4d49f6b6-5be2-4e68-b700-a793077b98fd

Hoje, Michelle falou da reação das suas amigas, ex-integrantes do grupo Destiny’s Child e revelou como era a relação com elas durante esse período.

“Elas ficaram bem tristes por eu não ter contado a elas tudo que eu estava passando. Elas estavam casando, tendo filhos… E eu não queria ir a chás de bebês! (…) elas ficaram bem magoadas”

Michelle Williams, do Destiny's Child, deixa show na Broadway após fim de  noivado e crise de depressão - Quem | QUEM News

Mostra de cinema para debater a construção da identidade negra em países latinos será online e gratuita

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Fotos: Divulgação/América Negra

Entre os dias 04 e 13 de junho, o NICHO 54, instituto que atua no desenvolvimento de carreira de profissionais negros no audiovisual, promove a mostra online “América Negra: Conversas Entre as Negritudes Latino-americanas”. Com acesso online gratuito, a programação será formada por 35 filmes produzidos em 10 países diferentes e divididos entre ficções, documentários e obras experimentais.

A curadoria da mostra propõe uma reflexão sobre a descentralização dos Estados Unidos como principal campo do olhar de produções audiovisuais que retratam as vivências pretas da diáspora. A seleção contempla filmes produzidos ao longo dos últimos 20 anos, que convidam o público a mergulhar num diferente imaginário cinematográfico e racial sobre esses territórios da América Latina.

A programação da mostra será aberta no dia 04 de junho com a exibição de três filmes que têm em comum a dança, a música e a ancestralidade como fios condutores das narrativas e teve o apoio da Open Society Foundations.

Os três filmes que abriram a mostra audiovisual no dia 4 de junho serão, “Diabinhos, diabinhas e alminhas”, de Isis Violeta Contreras Pastrana; “Tambores afro-uruguaios”, de Naouel Laamiri e Rafael Ferreira – e, fechando a programação de estreia, o longa “Del palenque de San Basilio”, de  Erwin Goggel, produzidos no México, Uruguai e Colômbia, respectivamente. A mostra traz ainda filmes de Cuba, Equador, Peru e Bolívia.

Representada por 11 títulos, a produção brasileira marca presença com obras de diferentes estilos e linguagens. Destaque para a estreia de Invazão Brazil, de Laryssa Machada, e (Outros) Fundamentos, da artista visual Aline Motta, que traz imagens captadas nas cidades de Lagos, na Nigéria, em Cachoeira, na Bahia, e no Rio de Janeiro, destinos que representam a jornada da diretora em busca de suas raízes.

Os 35 filmes que compõem a mostra serão exibidos por meio da plataforma de streaming exclusiva Sala 54, que abrigará todas as mostras online de filmes do NICHO 54. Cada título ficará disponível para acesso por um período de 43 horas a partir da data de estreia no site.

“A programação convida o público a fazer um ‘mochilão’ cinematográfico pela América Latina, tendo a negritude como acompanhante privilegiada dessa jornada. Esta mostra possibilita ainda que a plateia acesse manifestações culturais da diáspora, descubra os diversos marcadores de racialização presentes nestes territórios e encontre paralelos entre as experiências de racismo e resistência à opressão na América Latina”, explica Heitor Augusto, codiretor do NICHO 54 e diretor curatorial da mostra, que contou também com aportes curatoriais de Bruno Galindo, Gabriel Araújo, Kariny Martins e Mariana Souza.

CURSO DE FORMAÇÃO:

A mostra de cinema será antecedida pelo curso ”Discursos Acerca das Negritudes Latino-americanas”, a ser realizado entre os dias 31 de maio e 03 de junho, sempre das 19h às 21h30. A atividade é composta por quatro encontros focados em um país diferente, com o objetivo de oferecer uma perspectiva da formação da identidade negra em diferentes territórios da região.

O curso será aberto com o encontro da Colômbia “Diálogos de fronteira: Perspectivas afro-colombianas e negro-brasileiras”, conduzida pelas artista Stéphanie Moreira em conjunto com a artista plástica Liliana Angulo Cortés. Na aula seguinte, o público terá acesso à perspectiva argentina, com a masterclass “Também somos negros! A Argentina e os aportes da população Afro”, com a professora Miriam Cortez.

No dia 02 de junho, será a vez da masterclass “México: racialização e diálogos afro-indígenas”, com o rapper Bocafloja. A formação será concluída com aula “Lélia Gonzalez e a Améfrica Ladina: notas sobre racialização a partir do Brasil”, ministrada por Flávia Rios, socióloga, professora adjunta da Universidade Federal Fluminense (UFF) e coorganizadora do  livro “Por um feminismo latino-americano: Lélia Gonzalez”.

Serão oferecidas 30  vagas para o curso. Os interessados podem se inscrever pelo link disponível aqui até o dia 25 de maio. As pessoas selecionadas serão informadas pelo e-mail indicado no formulário de inscrição.

SERVIÇO:

O quê: Mostra – América Negra: Conversas Entre as Negritudes Latino-americanas

Quando: de 4 a 13 de junho de 2021 (segunda a domingo)

Onde: exibições online pela plataforma Sala 54, disponível em www.sala54.com.br (disponível a partir de 25 de maio). 

Quanto: Grátis

O quê: Curso Discursos Acerca da(s) Negritude(s) Latino-americana(s)

Quando: 31 de maio a 3 de junho de 2021

Horário: Das 19h às 21h30 (horário de Brasília)

Onde: Transmissão via plataforma Zoom

Inscrições: até o dia 25 de maio de 2021 – Inscreva-se por aqui

Em novo single, Lil Nas X se abre sobre as dores de ser um menino preto e gay.

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Em Sun Goes Down, Lil Nas X revisita a própria história. Foto: Divulgação.

O rapper Lil Nas X lançou nesta sexta-feira (21) o single Sun Goes Down. A música conta um pouco da trajetória de Nas enquanto um menino preto e gay, desde a dificuldade em ser aceito pelos colegas por ter a pele escura e lábios grossos, até as tentativas de se livrar de ‘pensamentos gays’. No novo single, Nas escancara as portas de suas vulnerabilidades.

Com um ritmo bem mais suave do que o último lançamento de Nas, Montero (Call Me by Your Name), Sun Goes Down inspira uma empatia quase automática com o sofrimento que o rapper expressa, em especial, quando menciona suas “vontades de fugir” e, até mesmo, acabar com a própria vida, que sentia ao ser vítima de racismo.

Confira o clipe:

Em um segundo momento da canção, Nas se orgulha de ter ‘dado um salto de fé’ e que ‘tudo deu certo’ pra ele. Mas ainda parece aguardar pela aprovação do público, quando diz: ‘vou fazer meus fãs ficarem orgulhosos de mim’.

No próximo sábado (22) o artista vai participar do talkshow Saturday Night Live, onde vai performar Sun Goes Down e o hit Montero.

A cronicidade das condições de trabalho da enfermagem brasileira: realidades invisibilizadas e a participação das mulheres negras

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Foto: Rafael Rizzino - CoordCom UFRJ

Por Alva Helena de Almeida

A enfermagem brasileira é a segunda maior categoria profissional depois dos metalúrgicos. É a maior força de trabalho na área da saúde, cerca de 2.5 milhões de trabalhadores, que correspondem a 53% dos profissionais assistenciais do setor, e cuja produtividade representa 60% das atividades desenvolvidas no sistema de saúde. É uma área predominantemente feminina, constituída por 77% de profissionais do nível médio de escolaridade, as Auxiliares e as Técnicas, e por 23% de universitárias, as enfermeiras e as obstetrizes. Nesse contingente, 53% se declararam negras, 42% brancas e 0,6% indígenas. Dentre as enfermeiras 57,9%, se declararam brancas e 37,9% negras (COFEN,2017).

A função social do trabalho da enfermagem é a produção do cuidado à saúde desde antes do nascimento até depois da morte. Não é possível imaginar a complexidade do sistema de saúde, nos distintos níveis e setores, onde a enfermagem não atue direta ou indiretamente, constituindo a sua força motriz, viabilizando a atenção à saúde. Ainda que haja algum reconhecimento da importância dessa produção e da sua especificidade, a área da enfermagem permanece no imaginário social como uma atuação de menor valor, inerente ao papel feminino e de menor prestígio, quando comparada à atuação da equipe médica.

A institucionalização da enfermagem como prática profissional teve início em 1890, culminando em 1923, com a instalação do primeiro curso de formação de enfermeiras no país. Antes disso, a produção dos cuidados e curas era atribuição das mulheres, das escravizadas, pretas, pardas e das indígenas. A profissionalização negou o espaço de atuação e posteriormente o acesso à profissão ao contingente de mulheres pobres, negras(os) e mestiços. Foram definidos como critérios de ingresso aos cursos ter o diploma do curso normal e ser da ‘raça branca’(Moreira,1999). Por influência de Florence Nightingale1 adotou-se um modelo de organização do trabalho pautado na divisão social e técnica, atribuindo a prestação dos cuidados diretos às mulheres de menor escolaridade, as ‘nurses’, enquanto a supervisão, o ensino e o gerenciamento às ‘ladies-nurses’, mulheres das classes média e alta, pré-selecionadas, com maior escolaridade (Lombardi, Campos, 2018).

A enfermagem brasileira institucionalizada nasceu sob o escudo do ‘branqueamento’. Nesse projeto, os conhecimentos específicos advindos das formações e capacitações específicas passaram a ser valorizados em detrimentos dos conhecimentos tácitos das populações tradicionais (Campos et al, 2007). A população negra permaneceu apartada da prestação de cuidados até meados de 1930, quando a expansão dos serviços de saúde no governo de Getúlio Vargas absorveu contingentes de trabalhadores, possibilitando a ascensão de grupos sociais subalternizados3. Há de se reconhecer pelo menos duas compreensões a respeito da configuração da estrutura organizacional do trabalho na enfermagem, uma, explicitada nas publicações, de que “a divisão técnica interna do trabalho se hierarquizou a partir e sobre as relações sociais de gênero, raça e classe” (Lombardi, Campos,2018). 

A outra perspectiva contrapõe elementos do racismo estrutural pautados na eugenia e darwinismo social para a exclusão da população negra da produção de cuidados na sociedade brasileira. Além disso, a implementação de políticas educacionais favoreceram a estratificação social2 no interior da área, visto que a proliferação de cursos profissionalizantes permitiu o acesso de mulheres e jovens, de menor poder aquisito aos cursos técnicos, em contraposição à menor ofertas de vagas no ensino universitário. Dentre os profissionais do nível médio 72% acessaram a formação em instituições de ensino (IE)privadas, 48% na modalidade de curso noturno, enquanto na graduação apenas 35,6% acessaram a formação no ensino público, 36,6% na modalidade curso integral e 57,4% nas IE privadas.

Esses determinantes produzem a estrutura organizacional da enfermagem no país: uma ampla base de profissionais nos cargos de menor valorização e remuneração, que realizam o trabalho de maior sobrecarga física, em condições de maior desgaste e adoecimentos, maioria de mulheres negras, chefes de família. No ápice temos a menor parcela da equipe, maioria de mulheres e homens brancos, também submetidos a um padrão de rebaixamento salarial e menor proteção social quando comparados a outras categorias da saúde. Nas imagens publicizadas na mídia, não é possível perceber esse mosaico racial. A invisibilidade da população negra na história e na identidade da enfermagem no país constrói a falsa ideia de identidade social e racial única e atemporal.

A exploração do trabalho na enfermagem não é um fato recente, desde a regulamentação da profissão em 1986, fomos surpreendidos pela decisão avassaladora dos empresários do setor saúde que permitiram a indicação de jornada de trabalho, mas bloquearam a definição do piso salarial. Esses mesmos grupos, apesar dos lucros exorbitantes obtidos no ano de 2020, na vigência da pandemia, permanecem impassíveis no lobby junto ao legislativo, impedindo a definição da jornada de 30h e do piso salarial digno e justo para todos os profissionais.                                                                                                                                              

A enfermagem brasileira permanece no front para desempenhar a sua função, e em luta pelo reconhecimento da importância do seu papel na produção do cuidado, por salários compatíveis com a especificidade desse trabalho e pela própria sobrevivência, visto que a precarização até mesmo uberização4 das condições de trabalho, além da adoção de uma política de subdimensionamento dos quadros de pessoal dos serviços, vem expondo esses trabalhadores a graus extenuantes de desgastes, adoecimentos e mortes. Desgraçadamente alcançamos a posição número 1 no ranking dos países com o maior número de contaminação e mortes dos profissionais de enfermagem pela COVID no mundo.

Em maio – mês designado às comemorações na enfermagem5, os trabalhadores permanecem submetidos a péssimas condições de trabalho, exacerbadas na crise sanitária e, até o momento sem perspectivas de melhoras, visto que raras têm sido as decisões por contratação de profissionais para o desempenho das funções rotineiras, acrescidas da atuação como serviço essencial no combate à pandemia, e da responsabilização isolada pela imunização no país.

A enfermagem brasileira é um tecido esgarçado, que precisa de socorro, de respeito e de proteção, sem o que o Sistema Único de Saúde está em iminente risco.

Por Alva Helena de Almeida, integrante da ANEN – Articulação Nacional da Enfermagem Negra, enfermeira aposentada, mestra em Saúde Pública e doutora em Ciências.

Notas

  1. Florence Nightingale, enfermeira inglesa é considerada a precursora da enfermagem profissional. Seus conhecimentos e práticas serviram de referência para a enfermagem mundial.
  2. Para Silvio Almeida (2019), a estratificação social é um fenômeno intergeracional consequente à práticas de discriminação de um grupo social, impedindo a ascensão social.
  3. no Estado de São Paulo, à época da Revolução Constitucionalista de 1932, foi permitido a inclusão de negros no exército. O livro “1932 Imagens de uma Revolução” apresenta entre civis e militares anônimos as “enfermeiras da Legião Negra”, mulheres negras, voluntárias, retratadas em cerimônias públicas como “enfermeiras”.
  4. A uberização tem sido reconhecida como extrema precarização do trabalho, perda de direitos e autonomia, contratação por tempo determinado, com disponibilidade diuturna para o trabalho, responsabilidade por adquirir os próprios equipamentos de proteção individual e a remuneração por hora trabalhada (Souza dias, Carvalho et.al, 2020).
  5. No Brasil está consagrado comemorar a Semana de Enfermagem com início em 12 de maio, dia Internacional da Enfermagem, nascimento da inglesa Florence Nightingale, e dia do Enfermeiro em homenagem à Ana Nery, até 20 de maio, dia do Auxiliar e Técnico de Enfermagem e falecimento de Ana Nery.

REFERÊNCIAS:

Machado, Maria Helena (Coord.). Perfil da enfermagem no Brasil: relatório final: Brasil / coordenado por Maria Helena Machado. ― Rio de Janeiro NERHUS – DAPS – ENSP/Fiocruz, 2017.

Lombardi MR. Campos VP. Revista da ABET, v.17, n.1 jan a jun, 2018.

Moreira MCN. A Fundação Rockefeller e a construção da identidade profissional de enfermagem no Brasil na Primeira República’. História, Ciências, Saúde – Manguinhos, V (3): 621-45, nov. 1998-fev. 1999.

Campos, Oguisso e Freitas. Cultura dos cuidados:  mulheres negras e formação da enfermagem profissional brasileira. Cultura de los Cuidados. 2º semestre 2007 Ãno XI n,22.

Beatriz Calass, Juliana Andrade https://forbes.com.br/forbes-money/2021/02/bilionarios-brasileiros-da-area-da-saude-sao-os-que-mais-ganharam-dinheiro-durante-a-pandemia/

Souza, Dias, Carvalho et. al. Risco de uberização do trabalho de enfermagem em tempos de pandemia da Covid 19: relato de experiência https://rsdjournal.org/index.php/rsd/article/view/9060/8175

Preto Zezé ministra mentoria ‘Favela é Inovação’, nesta sexta-feira

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Foto: Divulgação.

Preto Zezé, presidente da Central Única das Favelas (Cufa) é o palestrante desta sexta-feira (21), da mentoria Favela é Inovação, do Laboratório de Inovação Cidadã (Labic). A transmissão vai ser feita pelo Youtube. O Labic iniciou suas atividades de 2021 na última sexta-feira (14), em um encontro entre os 40 projetos selecionados para a edição Territórios 2021. Mesmo quem não está inscrito, pode assistir a transmissão.

Além de Presidente da CUFA nacional, Zezé é o CEO e fundador do Lis – Laboratório de Inovação Social. À frente da Cufa, articulou mais de R$170 milhões em doação durante a pandemia do novo coronavírus, trabalhando com mais de 5 mil favelas do Brasil. Em novembro de 2020, Preto Zezé foi entrevistado no Programa Roda Viva.

Interessados ainda podem se inscrever como colaboradores dos projetos do Laboratório de Inovação Cidadã Territórios 2021 até quinta-feira (27).

“Ainda ouço os gritos de Tulsa”, diz sobrevivente, de 107 anos, do maior massacre racista dos EUA

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“Eu estou aqui querendo justiça” disse Viola Fletcher. “Eu estou aqui pedindo para o meu país reconhecer o que acontece em Tulsa, em 1921”. Foto: Reprodução NPC.

Na noite de 31 de maio de 1921, quando tinha 7 anos, a afro-americana Viola Fletcher acordou com seus pais gritando para que ela e seus cinco irmão saíssem imediatamente de casa. Tulsa, sua cidade, considerada a “Black Wall Street” americana, lar da classe média alta da comunidade negra, estava sendo ataca por bombas vindas do céu, um “arrastão branco” formado por pessoas brancas com armas, incêndios e outros ataques provocados por grupos racistas que apareceram no bairro negro depois que uma mulher branca de 17 anos acusou um afro-americano de 19 anos de um suposto comportamento impróprio em um elevador dentro do Edifício Drexel. Quando uma multidão de brancos tentou linchar o acusado, eles foram repreendidos por veteranos afro-americanos da Primeira Guerra Mundial. O grupo racista voltou para se vingar.

Ao todo 300 pessoas foram mortas. Homens, mulheres, idosos, crianças, bebês e gestantes. Aproximadamente 1200 de negócios promissores construídos por descendentes de povos escravizados foram saqueados e destruídos. Uma barbaridade sem precedentes que durou até o dia seguinte, 1º de junho. Além e negócios, a região abrigava também instituições de ensino e igrejas geridos integralmente por pessoas negras.

Uma das heranças dessa tragédia foi o imensurável trauma de Viola, hoje com 107 anos e a mais velha sobrevivente do maior ataque racista da história dos EUA. Ela participou de um evento no Congresso Americano, no último dia 19 de maio, onde deu detalhes do que viveu e ainda vive. Ela e seu irmão, Hugues Van Ellis de 100 anos, querem reparação.

“Eu estou aqui querendo justiça” disse Viola. “Eu estou aqui pedindo para o meu país reconhecer o que acontece em Tulsa, em 1921”.

Ele se lembrou da sua vizinhança, no bairro de GreenWood, onde ela até então vivia seu sonho americano, sendo uma garota negra amada e livre em uma região de pessoas parecidas com ela. “Eu nunca vou esquecer a violência daquela multidão branca quando a gente deixou nossa casa. Eu ainda vejo homens negros levando tiros, corpos negros deitados no chão. Eu ainda sinto o cheiro da fumaça e vejo o fogo. Eu ainda vejo negócios negros sendo queimados. Eu escuto os gritos de Tulsa, eu vivo esse massacre todos os dias”, detalhou.

O massacre que destruiu a 'Wall Street Negra' há quase cem anos e voltou à  tona na série 'Watchmen' - BBC News Brasil
Foto: Greenwood Center

Os sobreviventes e seus descendentes nunca foram ressarcidos ou receberam qualquer tipo de reparação pelo ocorrido. “Quando eu e minha família fomos forçados a deixar Tulsa, eu perdi minha chance de ser educada. Eu nunca terminei meus estudos e nunca fiz muito dinheiro”.

Durante seu discurso, Viola explica que atualmente ela ainda passa por dificuldades financeiras, apesar de ter trabalhado a vida toda como doméstica para famílias brancas. Ela acusa as autoridades locais de faturarem com sua história. “Eles têm usado o nome de vítimas como eu para enriquecer e os aliados brancos conseguiram 30 milhões de dólares para construir o Tulsa Centennial Comission enquanto eu ainda vivo na pobreza”, denunciou a sobrevivente.

Lebron James produzirá documentário sobre o massacre

O filme “DREAMLAND: The Rise and Fall of Black Wall Street,” na tradução literal “Terra dos sonhos: A ascensão e a queda da Wall Street Negra” é o documentário da CNN Films sobre o massacre de Tulsa e terá a produção de Lebrom James.

“Não podemos avançar até que reconheçamos nosso passado e se trata de homenagear uma próspera comunidade negra, uma de muitas, que foi encerrada por causa do ódio”, explica Jamal Henderson, diretor de conteúdo da SpringHill e um dos produtores executivos do documentário, disse no comunicado à imprensa.

O documentário ainda não tem previsão de estreia.

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