A erupção do vulcão Nyiragongo, na República Democrática do Congo, matou 15 pessoas e deixou e mais de 30 mil desabrigados, segundo informações das autoridades locais, no último domingo (23). O fenômeno teve início no sábado. As lavas correram até bem próximo da cidade de Goma, que fica a 10km do vulcão. O centro da cidade, que tem dois milhões de habitantes, não foi atingido.
O número de mortos divulgado oficialmente deve aumentar nas próximas horas, conforme as autoridades alcancem as áreas mais atingidas. Nove das vítimas morreram em um acidente de trânsito enquanto tentavam fugir, quatro foram assassinadas enquanto tentavam escapar de uma prisão, e duas morreram queimadas, segundo nota oficial do porta-voz do governo, Patrick Muyaya.
Mais de 170 crianças podem estar desaparecidas e outras 150 foram separadas de suas famílias, de acordo com o Unicef. Ainda de acordo com o órgão, serão criados centros para receber crianças e adolescentes desacompanhados.
Antes mesmo das autoridades anunciarem o plano de evacuação, os moradores das regiões próximas ao vulcão já começaram a sair de suas casas. Autoridades de Ruanda, país vizinho, informaram que mais de três mil pessoas entraram oficialmente no país.
Em 2002, o mesmo vulcão entrou em erupção. Cerca de 250 pessoas morreram e mais de 100 mil habitantes de Goma ficaram desabrigados.
Uma riqueza enorme de narrativas está presente nos trabalhos dos fotógrafos selecionados, como religiosidade, pandemia, e questão de gênero. Todos os anos, o CAP premia cinco portfólios que estejam relacionados com o continente africano ou com a diáspora. Os vencedores serão anunciados em junho na feira internacional de arte Photo Basel.
Confira alguns dos trabalhos finalistas:
YETUNDE AYENI-BABAEKO – Nascido em Enugu, na Nigéria, vivem atualmente em Lagos e decidiu retratar pessoas com albinismo em seu ensaio belíssimo.
Pessoas com albinismo
Yetunde Ayeni-Babaeko. Gêmeos
JUSTIN DINGWALL – Nascido na África do Sul, trabalhou com o ditado “um assento à mesa” para representar a ideia de uma oportunidade de ser ouvido, de ser visto e ter voz e opinião, e assim, poder fazer a diferença.
Um assento à mesa
Justin Dingwall. Um assento à mesa.
ANDREW ESIEBO – Nigeriano, retratou o trabalho de profissionais do Centro Nigeriano para Controle de Doenças durante a pandemia de covid-19.
Andrew Esiebo. Coro Angels.
Tudo muito lindo, né? Para ver os trabalhos de todos os finalistas, acesse a página oficial do CAP Prize.
O Instituto Tomie Ohtake recebe ‘Pardo é Papel’, a exposição é tão maravilhosa que levou 60 mil visitantes ao Museu de Arte do Rio – MAR. O artista é o Maxwell Alexandre, na exposição ele pinta corpos pretos sobre o papel pardo, a “cor” parda foi usada durante muito tempo para velar a negritude no nosso país, o que contribuiu para essa desigualdade social e o racismo que vivemos até os dias de hoje.
A mostra disponibiliza ao público painéis enormes e nos faz refletir sobre a situação da população preta e a sensibilidade da realidade social do Rio de Janeiro.
Sobre Maxwell:
@calazansculturaearte
O jovem artista Maxwell Alexandre vive e trabalha na favela da Rocinha e já carrega em seu currículo o prêmio São Sebastião de Cultura, Maxwell também se formou em design na PUC-Rio, em 2016
A exposição irá ocorrer de 8 de maio a 25 de julho de 2021, de terça a domingo, das 12h às 17h. Endereço: entrada pela R. Coropes, 88, Av. Brg. Faria Lima, 201 – Pinheiros, São Paulo -Entrada franca
Não está fácil para ninguém. A saúde mental do negro brasileiro não resiste a tantas notícias ruins sobre COVID, violência, estatísticas que mostram que estamos ficando mais pobres, isso sem contar os prejuízos educacionais. As mudanças externas dependem de muitos fatores, alguns deles, fora do nosso controle. O que a gente pode fazer e assumir é a responsabilidade integral pelo nosso bem-estar. Não é fácil, mas a natureza pode ser a cura e dentro desse contexto, os banhos de ervas podem mudar a sua vida.
Mãe Celina é Yalorixá tem 30 anos de iniciação no Candomblé é iniciada também no culto de Ifá. Ela é Gestora do Centro Cultural Pequena África e idealizadora e criadora do projeto “O Poder das Ervas” . Durante a quarentena ela lançou o livro “O poder das Ervas” (Editora Córrego).
“Quando eu fiz o livro foi pensando em como as pessoas podem e devem se cuidar e como é importante trazer a natureza para o dia a dia e para a vida”, explica a Mãe de Santo e escritora.
Imagem: Márcio Monteiro
Para ela cuidar do corpo está diretamente ligado ao nosso mental. “Os banhos de chá trazem tranquilidade, paz, harmonia e calma mental. Eles preservam a saúde mental e através dela você protege a saúde física sim. A cabeça comanda tudo, o Ori comando todo o corpo. Quanto o Ori está em paz, o corpo está em paz” detalha a especialista em ervas.
Selecionamos alguns banhos do livro para você preparar para si ou para alguém que precisa restaurar suas energias.
O PODER DAS ERVAS
BANHO PARADEPRESSÃO/ANTIDEPRESSIVO
– Flor de laranjeira
– Elevante
– Alecrim
– Lavanda
– Camomila
– Malva branca
– Coentro ricos
Uso: Esse banho é muito indicado para pessoas que estejam se sentindo muito indispostas, tristes e deprimidas, sem motivações para sair de casa ou encontrar pessoas. Para pessoas que estão com sua energia muito baixa, este banho reativa, revigora e aumenta a energia e o ânimo de quem o utiliza.
Instruções: Quando estiver preparando o banho, mentalize coisas positivas para si. Após lavar as ervas, colocar porções generosas de cada erva em uma bacia com 5 litros de água mineral com gás, macerar as ervas na água com as mãos até colorir a água e as ervas estarem bem misturadas. Coar o líquido e reservar o bagaço. Banhar-se da cabeça aos pés por 5 dias seguidos sempre à noite antes de dormir.
Após: Vestir roupas brancas ou claras para atrair paz e harmonia. Devolver o bagaço das ervas à natureza, num jardim, horta ou espaço com árvores, adubando a terra do local.
Preparação: Deixar porções de uma xícara de cada uma dessas ervas imersas numa bacia com 5 litros de água filtrada ou mineral em repouso sub a luz do luar, num quintal, varanda ou próximas à janela, durante toda uma noite de lua nova.
Instruções: Na manhã seguinte, em jejum, macerar bem a ervas na água com as mãos até colorir a água e as ervas estiverem bem misturadas. Coar o líquido, reservar o bagaço e banhar-se da cabeça aos pés por 7 dias seguidos.
Após: Vestir roupas brancas ou claras para atrair paz e harmonia. Devolver o bagaço das ervas à natureza, num jardim, horta ou espaço com árvores, adubando a terra do local.
Instruções: Adicionar e ferver 3 litros de água mineral ou filtrada com as especiarias (camomila, erva-doce e canela). Após ferver, adicionar as pétalas de rosas, tirar do fogo e deixar repousar por alguns minutos. Coar o conteúdo todo e separar o bagaço. Banhar-se da cabeça aos pés quando o banho estiver em temperatura morna, confortável ou frio.
Recomendação: Aconselho fazer esse banho num fim de semana, preferencialmente preparando o pela manhã. Enquanto o faz, mentaliza coisas boas para si. Após banhar-se, procure evitar roupas pretas ou escuras. O bagaço deve ser despachado à Natureza, como adubo ou você pode secar ao sol e usar para fazer defumação.
Luana Génot, empresária, publicitária, especialista pela igualdade racial e fundadora do Instituto Identidades do Brasil (ID_BR) é uma das gestoras mais importantes da atualidade na comunidade negra e vive desconstruindo padrões impostos diante daquilo que representa, um desses, é sua apresentação pessoal perante o cargo que ocupa.
A publicitária, que está à frente de um dos eventos mais importantes da comunidade preta do país, remete a sua ancestralidade e quebra tendências ao mostrar que a mulher negra traz diversidade, beleza e informação em qualquer das suas ações, gerando ainda, lucro e movimentação financeira positiva ao consumir de outras pessoas negras.
A idealizadora da Campanha “Sim à Igualdade Racial” mostra cuidado na sua apresentação pessoal sem deixar sua ancestralidade e carisma de lado. Luana vem usando o “loiro pivete”, estilo de resistência da comunidade, mas que foi influenciado e levado para uma marginalização do povo preto, caracterizado como “coisa de favelado”, para simbolizar um visual desfavorecido e, principalmente, criminoso.
Ao trazer uma referência negra diante de um espaço empresarial transformador, a empresária avança num debate de extrema importância para as mulheres negras: “qual o visual adequado para que uma mulher preta e empresária seja considerada boa no que faz?”
Luana Génot usa joias HStern e cabelo por Suelen Paiva – Foto: Victor Vieira
Assim como diversos outros elementos culturais da cultura preta, o “loiro pivete” é desprezado até virar moda em corpos brancos, mas descartados nos cabelos da população negra. Ao usar e mostrar sua cultura em espaços elitizados, Luana representa uma cultura populacional marginalizada e desprezada, que é reconhecida apenas em alguns dias do carnaval.
Além dos cabelos, a publicitária fala sobre usar joias que fortalecem o quanto trabalhou e merece frequentar o local que está, roupas que mostram suas identidades ancestrais e reconhecimento. Luana ressalta: “Acredito que nem eu ou nenhuma outra pessoa negra mereça se sentir culpada por ter dinheiro e qualidade de vida. Pelo contrário, é uma pequena alegria e que sirva de incentivo para que, do outro lado, as marcas, empresas contratem mais pessoas negras e as valorizem por isso.”
Avançar, para além da falta de mais lideranças e transformações, essa é a mensagem que a empresária demostra em suas linguagens e modelos, sobre as mulheres negras. “Que as remunerem bem, para que cada vez mais pessoas negras possam viajar pra fora do Brasil, usar marcas de luxo e investir o seu dinheiro no que escolherem, sem culpa”, finaliza Luana.
A proteção de Nicole Cristina (conhecida nas redes sociais como Nicole Karateka) e da sua família motivou, nessa sexta-feira (21), a formalização da denúncia de crimes de ódio e injúria racial cometidos contra a adolescente de 15 anos, que atua como criadora de conteúdo nas redes sociais. Acompanhada e assessorada pela Dr. Fayda Belo, advogada criminalista, a família de Nicole foi à Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância, na cidade do Rio de Janeiro para formalizar a medida, que além de proteger, visa identificar e responsabilizar as pessoas por trás dos perfis que a atacam, nos últimos meses.
A mãe de Nicole, Ana Cristina, destaca a ação criminosa, lembrando que ela “é menor de idade, e isso podia ter destruído a autoestima dela e feito com que ela ficasse com depressão. Nicole não sofreu uma simples ofensa, ela sofreu injúria racial”. A advogada Fayda Belo, que está assessorando juridicamente a família, complementa: “Não podemos normalizar e nem ignorar condutas racistas como essas. Discriminar alguém pela cor da pele, pela fibra do cabelo, é crime, inclusive com chancela Constitucional. É necessário sempre dar uma resposta jurídica a atos assim, para que o racismo que já é tão gritante no Brasil não possa continuar se perpetuando”.
Vale ressaltar que a adolescente e sua família têm recebido a solidariedade de personalidades, artistas, marcas, e até instituições, como a Razões para Acreditar, responsável por uma campanha de arrecadação de fundos para permitir a aquisição de uma casa para a família. Com mais de meio milhão de seguidores nas redes sociais, Nicole segue mudando sua vida para melhor com suas publicações sobre a família, receitas, cuidados familiares e com os animais. Aos 15 anos, Nicole ama karatê e pretende, em breve, voltar às aulas.
Roger Cipó, influenciador que assessora e dá suporte para Nicole, ao lado da youtuber Neggata, comenta: “Nós vamos trabalhar para que Nicole tenha segurança para produzir o que ela quiser. Uma adolescente talentosa como ela, precisa ser amparada e protegida. Meu apoio é nesse sentido. Foi assim que mobilizamos uma rede de suporte e também estamos em diálogos bem importantes com o próprio TikTok Brasil. A plataforma tem sido parceira e dado a devida atenção para o caso de Nicole”.
Finalmente, sobre a denúncia, a mãe de Nicole afirma o que deveria ser óbvio e não precisar ser repetido: “É um absurdo, em pleno século XXI existir esse tipo de racismo. Tem que ser dado um basta. Somos um povo livre”.
A Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) da Organização dos Estados Americanos (OEA) reconheceu que no Brasil o racismo é institucional, o que implica diretamente na não aplicação da lei antirracista, destacando que “Da prova testemunhal, passando pelo inquérito na polícia até a decisão do Judiciário, há preconceito contra o negro. Os três níveis são incapazes de reconhecer o racismo contra o negro”.
Em 2021 a CIDH publicou seu relatório sobre a situação dos direitos humanos no Brasil, já que em 2018, a Comissão realizou uma visita in loco no território brasileiro com a avaliação até dezembro de 2019, e enfatizou que as pessoas afrodescendentes historicamente estão inseridas em um contexto de discriminação estrutural e de racismo institucional, numa subjugação que segue presente na sociedade brasileira e se repetem nas distintas estruturas estatais, também ressaltou que isso foi constatado em seu primeiro relatório sobre o país no ano de 1997.
Sendo assim, a resposta é notória por não existir prisões ou penalizações decorrentes dos crimes de racismo no território brasileiro, porque o Brasil é um país institucionalmente racista, que nega constantemente a existência da discriminação racial no seu território. Um dos argumentos é ausência de tipificação do crime que, em regra, para a comprovação da prática do racismo, exige a intenção do ofensor ao discriminar a vítima.
Além disso, há sempre uma minimização da atitude do agressor, que sempre pede desculpas, expondo que tudo não passou de um simples mal entendido. E, ainda os casos denunciados são pouquíssimos, pois as vítimas não querem passar pelo transtorno judicial, haja vista que em sua maioria é barrado na delegacia, onde os delegados minimizam a ação do acusado, interpretando como um simples mal entendido.
Deste modo, das denúncias que chegam a virar inquérito, muitas são descaracterizadas, e somente são aceitas como injúria racial, crime este de ação penal privada que depende da iniciativa da vítima para que o processo seja iniciado. E a maioria das vítimas de racismo no Brasil vive uma situação vulnerável e não tem como contratar advogados, sequer tem conhecimento da legislação específica, e quando vai aos órgãos competentes, o procedimento fica estagnado, e por vezes o autor da injúria racial fica impune. Até porque o prazo da ação penal privada é de seis meses para ofertar a representação e ingressar com a queixa-crime.
E cabe destacar que a consequência da desigualdade racial decorre do “racismo institucional”, das práticas individuais e estruturais que naturalizam a hierarquia racial. Senão, vejamos, a lei conduz à interpretação de que para condenar alguém por racismo, exige que o acusado tenha agido com intenção discriminatória, ou seja, com o dolo, que é uma conduta intencional, espontânea e com o objetivo do resultado ilícito . Por conseguinte, os tribunais não são uníssonos nas decisões para lidar com esse tipo de crime, e os magistrados não sentenciam os culpados por crime de racismo. Logo, o judiciário e a sociedade brasileira não estão dispostos a colocar os criminosos na prisão por um tipo de atitude que é naturalizada no Brasil.
O racismo é imprescritível e inafiançável, ou seja, é punível com pena de prisão de um a cinco anos, iniciado através de ação penal pública (autor é Ministério Público). Já a injúria racial é punível com pena de reclusão de um a seis meses, cabível através de ação penal privada e prescritíveis. Daí porque é mais fácil tipificar tão somente a injúria ou até difamação, já que a vítima da ação tem apenas um breve prazo de seis meses para lutar por justiça diante da violação de um direito constitucional, o que conduz ao crime não ser punido.
Vale ressaltar que as denúncias de crimes de racismo não se transformam em processos criminais e dos poucos são processados, um número ínfimo de perpetradores dos delitos raciais é condenado. Nesse ínterim, a CIDH em 2006 também recomendou que o Brasil, adotasse e instrumentalizasse medidas de educação dos funcionários de justiça e da polícia com o objetivo de evitar ações que provoquem discriminação nas investigações, no processo ou na condenação civil ou penal das denúncias de racismo.
Contudo, no Brasil, existe legislação específica, como a Lei 7716/89 que penaliza os crimes resultantes de preconceitos de raça ou de cor, bem como o artigo 140 do Código Penal que pune a injúria consistente na utilização de elementos referentes à raça, cor, etnia, religião ou origem. A punição no território brasileiro é frágil, considerando a falta de aplicação normativa, inclusive com base no relatório da CIDH ao reconhecer que a Justiça brasileira tende a ser condescendente com a prática de discriminação racial e que dificilmente condena um branco por esta ação, até conduzindo à falsa impressão de que no Brasil não acontecem práticas discriminatórias, e suponho que por isso um dito cujo declarou que no Brasil não existe racismo.
Portanto, as pessoas não são presas no Brasil pelos crimes decorrentes de racismo, em razão da dificuldade de comprovar o crime de ódio culminado com a intenção racista, ao exigir a que o acusado da tipificação do crime de racismo declare que teve um ato preconceituoso numa conduta motivada pela discriminação racial, além da ineficácia do judiciário em investigar e sentenciar os crimes decorrentes de preconceito de raça ou de cor junto ao perene racismo institucional e discriminação estrutural histórica, que abarcam na manutenção de uma mísera cultura de domínio racial num ciclo irreparável de violações de direitos humanos.
Quando a HQ “Jeremias-Pele” foi lançada, em 2018, o público teve acesso à uma pérola dos quadrinhos nacionais, concebida por Rafael Calça e Jefferson Costa (roteiro e ilustração respectivamente). A história conseguiu se destacar como a melhor obra da série de ‘Graphic MSP‘ da Maurício de Sousa Produções, ganhando o Prêmio Jabuti de Melhor História em Quadrinhos, em 2019.
Para a sequência, mergulhamos ainda mais no universo de Jeremias, personagem negro mais reincidentemente da Turma da Mônica. O garoto se depara com Franjinha indo para Europa buscar as raízes italianas de sua família e isso desperta em Jeremias a curiosidade sobre as origens de sua família, o que acaba por se mostrar uma tarefa difícil, visto que a família do garoto sofreu o apagamento de histórico ancestral comum a muitas famílias pretas no Brasil.
Página da HQ Jeremias-Alma
A HQ se desenvolve ainda mais comovente que sua antecessora, com uma passagem de dar nó na garganta onde Jeremias e sua avó falam do quanto a escravidão invisibilizou a história das famílias pretas brasileiras. “Alma” continua a discutir o quanto o racismo pode potencializar o sentimento de inadequação de uma criança negra em sua turma, mas não deixa de reforçar a necessidade de conhecer o passado para que se possa tomar o poder nas mãos e elevar a autoestima.
A arte de Jefferson Costa é única e, para quem acompanha os quadros do desenhista vai conseguir reconhecer de primeira a identidade dos traços em outros trabalhos. O texto de Rafael Calça é poesia pura. Junto com “Pele”, “Jeremias – Alma” é obra obrigatória para adultos e crianças pretas, seja qual for o gênero literário preferido.
A cantora, compositora e produtora musical, Gabriellê, lançou no dia 20 de maio, o single “Wikipedianos”, o quarto trabalho autoral de sua carreira. A música e o videoclipe tratam sobre a necessidade que sentimos em saber de tudo a todo momento e de como isso é extremamente maléfico à saúde mental.
A cantora possui várias composições dentro da temática da ansiedade e da saúde mental, e Wikipedianos é o primeiro single lançado, que busca tratar essas questões. “A música se chama Wikipedianos e fala sobre a nossa ânsia de ter todas as informações e de como isso polui a nossa mente nessa busca de ter as respostas para diversas questões, sejam dores, sejam problemas do mundo ou problemas pessoais. A gente busca informações o tempo todo, como se fosse para fugir do nosso próprio presente, da nossa própria realidade”, conta a artista.
Gabriellê conta que, de certa forma, a música fala sobre parte do seu cotidiano, já que também precisa lidar com a própria ansiedade. “Eu falo na música: “Será que somos todos Wikipedianos? Nas horas vagas, as dúvidas chegam e eu me iludo, querendo ter uma resposta pra tudo.” E antes de mais nada, assim… Eu estou falando muito de mim, estou falando totalmente de mim. Porque nas minhas horas de insônia, às vezes eu quero fugir de mim mesma”, relata a multiartista.
Mostrando sua versatilidade e diferentes referências de estilos musicais, este é o primeiro trabalho da cantora no estilo Reggae. “Admiro muito o samba reggae nascido na Bahia, que tem tantos artistas e grupos incríveis. Minhas referências musicais, e brasileiras, para criar nesse estilo são Lazzo Matumbi, Edson Gomes, Ile Ayê, Cidade Negra e Margareth Menezes”, conta Gabriellê.
Gravado em dois locais diferentes, o clipe do single foi pensado de forma que pudesse transparecer a vivência de um ‘eu’ ansioso, que vive entre o caos e a calmaria. A primeira locação escolhida foi o Ferro Velho Santo Amaro, representando essa ansiedade, o acúmulo de coisas, de informações, e também, fazendo referência ao lixo eletrônico. Em contrapartida ao caos, surge a segunda locação, o Parque Nabuco, que representa a tranquilidade.
“Nos dois locais tem a dançarina convidada, Bruna Vitorino, que dança tanto no caos, quanto na tranquilidade. E simboliza a vida de alguém que tem ansiedade ou que tenha algum outro transtorno. Às vezes a gente está dançando e está no caos, e tem momentos de paz. Às vezes a gente pode estar em um momento de paz, e de repente dançar um pouco no caos. E a gente vai aprendendo a naturalizar isso, sem romantizar. Mas naturalizar mesmo, no sentido de nos entender melhor, nos conhecer melhor e de entrar nessa dança”, conta a artista.
O figurino do clipe ficou por conta de Aman Requena, figurinista que trabalha com moda consciente. A maioria das peças trabalham o conceito de upcycling (reutilização, em inglês), sendo boa parte montadas com retalhos de tecidos, pedaços de mangueira, elástico, alfinetes e peças compradas em brechós. Seguindo essa linha, a marca Anjo Negro Store apoiou o clipe disponibilizando acessórios feitos de lixo eletrônico, como disquete, peças de teclado, e também um QR Code que simboliza também a tecnologia atual e futura. “Tudo isso nos convida a pensar, como estamos lidando com o nosso consumo, pois isso está conectado com como estamos com nós mesmos, nossa casa e o nosso mundo”, relata Gabriellê.
Sobre Gabriellê
Gabriellê é cantora, compositora, educadora e produtora musical, nascida no Jabaquara, zona sul de São Paulo. Suas canções abordam suas inquietações acerca do mundo e de si, passeando por diferentes estilos da música preta brasileira, com grande influência do hip hop. Traz em suas letras temáticas sobre afeto, saúde mental, cotidiano, ancestralidade, entre outros temas inspirada pela sua vivência como mulher preta. Além de cantora e compositora, atua como educadora em projetos sociais e culturais, onde muitas vivências também influenciam e dialogam com o seu trabalho artístico. Lançou em 2019 os singles Fúria e Sede, em 2020 o videoclipe de Oxitocina e atualmente trabalha na produção do seu primeiro álbum.
A pandemia agravou ainda mais a relação das pessoas com o próprio corpo. A alimentação piorou e o sedentarismo aumentou. Para pessoas gordas isso é ainda mais cruel, porque a maioria das referencias de bem-estar e condicionamento físico são pessoas magras (e brancas).
A estudante de educação física Ellen Valias, usa as redes sociais para incentivar pessoas gordas como ela a se mexerem sem medo de ser feliz. Se engana quem pensa que a paulistana de 39 anos, vai ensinar seus seguidores exercícios para emagrecer. “As pessoas precisam construir uma nova relação com atividade física, porque tudo o que falaram para a gente é errado. É baseado é numa estética imposta, em um falso discurso de saúde que só busca o emagrecimento. Então as pessoas começam na atividade física porque tem um projeto de verão, porque tem que se punir porque comeu alguma coisa. As pessoas precisam começar a construir uma nova relação com a atividade física”, explica a mãe de três filhos.
Seu perfil no Instagram @atleta_de_peso tem quase 90 mil seguidores que recebem um conteúdo inspirador por meio de fotos e vídeos de pessoas gordas fazendo o que influenciadores fitness padrão fazem. “É importante buscar profissionais de saúde também que falam isso de forma honesta. Não como a gente vê na internet que blogueiras e blogueiros lucram, toda essa indústria lucra através de um falso discurso de saúde”, detalha.
Na perspectiva das pessoas negras, Ellen reconhece as dificuldades até pelo ponto de vista financeiro. “O sedentarismo atinge sim as pessoas negras de forma diferente das pessoas brancas e privilegiadas. Porque a atividade física ela ainda é um privilégio na nossa sociedade. Quem tem privilégio tem lá o seu personal trainer ou consegue frequentar uma academia que é um ambiente que exclui o corpo gordo. A população preta precisa se movimentar, a gente precisa ter esse hábito saudável que é direito nosso, mas aí é vendido somente um sonho de que o menino tem que ser um jogador de futebol e nesse falsos discursos de sonho que ele pode ficar rico que só dá essa opção para o menino preto”, exemplifica a influenciadora.
Sobre sua produção de conteúdo na Internet Ellen foca na sua preocupação em acolher o aluno que não se sente bem-vindo em outros ambientes.
“Eu tento mostrar aqui essa representação do corpo gordo que se movimenta e isso não tem nada a ver com emagrecimento. No meu canal no YouTube, no Instagram também a aula com os professores recebendo uma pessoa a gorda de forma acolhedora. As pessoas gordas se sentem mais à vontade quando o professor é gordo, lembrando que esse professor gordo também é questionado profissionalmente por ser uma pessoa gorda”, finaliza a influenciadora.