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“Coisa de Rico”: A invisibilidade negra e raízes escravocratas da riqueza no Brasil

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Quando pessoas negras viajam, ou frequentam espaços tradicionalmente mais brancos, como lojas, ou restaurantes, elas são lidas quase como impostoras mesmo tendo poder aquisitivo para frequentar tais ambientes. A riqueza de berço, a tradicional, não pertence às pessoas negras pelos motivos que já sabemos, mas em “Coisa de Rico”, um dos livros mais vendidos do Brasil, o antropólogo Michel Alcoforado mostra que até pessoas brancas de classe média podem ser detectadas pelo termômetro da riqueza, pelos símbolos que ostentam para obter a passabilidade como ricas.

Convenhamos que o novo rico é um dos sujeitos mais preconceituosos e racistas, porque busca manter distância de tudo que possa estar relacionado à pobreza e para ele, o corpo negro só pertence a esse lugar.

Como o próprio Michel disse em entrevistas de divulgação do livro, a pessoa que ascendeu ao status de rico há pouco tempo é justamente a que se incomoda com a presença de pessoas diferentes no avião e que muda de bairro quando começa a ter vizinhos não brancos, alegando que a região já foi melhor.

Michel é fruto de um relacionamento interracial. Seus pais puderam colocá-lo nos melhores colégios, ele aprendeu cinco idiomas e teria credenciais para circular onde quisesse, e até circula, mas como contou no programa Provoca, apresentado por Marcelo Tas na TV Cultura, o imaginário brasileiro “não associa pessoas com a sua aparência ou tom de pele a posições de protagonismo ou poder”. Ele exemplifica com o episódio em que uma ouvinte do seu podcast na CBN comentou “achei que você era branco” quando o programa passou a ser transmitido no YouTube e sua imagem deixou de ser apenas ouvida para também ser vista.

Para o antropólogo, essa é uma experiência comum na trajetória de qualquer homem ou mulher negra das camadas médias no Brasil, resultado de um passado racista e de um presente igualmente racista. Isso aparece em situações cotidianas, como o porteiro pedindo mais documentos, a atendente da fila preferencial do aeroporto questionando sua presença ou o executivo lendo seu currículo com desconfiança antes de uma consultoria. São barreiras invisíveis, mas constantes, para pessoas negras que buscam ascender em espaços tradicionalmente brancos.

Coisa de rico: A vida dos endinheirados brasileiros Editora ‏ : ‎ Todavia

A pesquisa de Alcoforado sobre a naturalização da riqueza no Brasil também traz à tona a herança escravocrata. Ele critica a facilidade com que muitos ricos falam sobre a “fazenda de vovó”, como se a fortuna tivesse surgido do nada, sem reconhecer o passado de exploração. Essa narrativa conveniente esconde séculos de escravidão que foram fundamentais para a acumulação de capital de muitas famílias tradicionais do país. A busca por sobrenomes portugueses como sinônimo de berço e de presença “desde sempre” no Brasil é outra forma de apagar origens e consolidar a percepção de uma riqueza natural. Isso relega a um segundo plano a história de outros grupos, como os imigrantes italianos que chegaram no final do século XIX, e invisibiliza a contribuição de povos escravizados, cujos descendentes enfrentam barreiras estruturais para alcançar e legitimar sua própria riqueza e poder.

Michel enfatiza que o principal desafio para romper as desigualdades sociais no Brasil é superar a ideia de que “não precisa de tantas distâncias para viver com os outros”. Ele conecta diretamente essa percepção a uma sociedade estruturada sobre um passado escravocrata, onde as distâncias organizavam as relações e acabaram normalizadas.

As consequências dessas distâncias são drásticas e profundamente raciais. Pessoas negras morrem antes que pessoas brancas, meninos negros têm menos oportunidades de sonhar com o futuro e a sociedade, como um todo, bloqueia talentos e criatividade. É o que Michel chamou durante a entrevista ao Provoca, de um “capitalismozinho” que mata talentos e criatividade, evidenciando o custo social do racismo.

Apesar desse cenário, ele reconhece que houve uma transformação significativa em universidades como a USP e em espaços de poder em São Paulo, impulsionada pelas políticas de cotas e pela luta do movimento negro ao longo de mais de 50 anos. Ele, que cresceu sendo a única criança negra na escola, na natação, na aula de música e nas viagens, observa a mudança com otimismo, mas sem ilusões: ainda não é o espelho da sociedade brasileira, mas representa um avanço importante em relação à sua vivência.

Foto: Renato Parada

Eu gosto de falar sobre novelas, e daí?

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Cap22 - Cena 24 - Jarbas (Leandro Firmino), André (Breno Ferreira), Consuelo (Belize Pombal) e Daniela (Jessica Marques).

Como diriam os jovens, eu estou com “hiperfoco” na novela Vale Tudo. Há muito tempo eu não criava esse hábito de ter um horário fixo para ver algo na TV. Eu vejo pouca TV de forma geral. O que me faz ligar esse aparelho são, além das notícias, os programas em que eu me vejo enquanto mulher negra, com uma família negra. E nisso, pela segunda vez, depois de Amor de Mãe, me dei ao luxo de parar tudo para ver os capítulos do folhetim das 21h, antiga novela das oito. Confesso que a maior motivação era ver a Taís Araújo, uma mulher da minha geração e uma das minhas artistas e intelectuais preferidas do mundo.

Para além de assistir à intérprete da sofrida Raquel, os núcleos familiares negros, ou com personagens negros, mesmo sendo muito diferentes da minha família, me geraram muito interesse, renderam boas risadas e inúmeros papos com meus filhos e amigos (e leitores do Mundo Negro), assim que a novela acabava.

Não assisti outras novelas importantes com representatividade negra que felizmente estão cada vez mais presentes na TV, como Garota do Momento, Vai na Fé e Volta por Cima, mas quando falamos de Vale Tudo, estamos falando de dilemas morais da vida, escolhas que fazemos mesmo lidando com dificuldades, além de coisas triviais como, por exemplo, a Consuelo lidando com gerenciamento financeiro da família e crises de um casamento longo. Também vimos muitas situações de racismo explícito ou simbólico, e discutir se um tapa em racista é válido ou não é um papo que não tem nada de superficial considerando o país em que vivemos.

Novelas brasileiras são um patrimônio cultural, e acusar quem se diverte com elas de alienação seria o mesmo que acusar um fanático por futebol de obcecado. Não deveríamos julgar as pessoas por suas escolhas de como se divertir, quando elas são inofensivas.

Há paixões brasileiras que fazem parte da nossa vida e, no caso das novelas, quando há um núcleo negro representativo, isso é o mais próximo que temos de um seriado negro.

Nossas críticas, que parecem perda de tempo para os mal-humorados, na verdade, são reflexões que também poderíamos fazer lendo um livro, mas em novelas, fazemos isso de forma coletiva no online e offline. A falta de consistência e desenvolvimento de personagens questionáveis faz parte de qualquer produto cultural, como teatro, cinema, quadrinhos e literatura.

Assistir novela é no mínimo uma boa distração para um mundo tão difícil, mas quem tem mais repertório intelectual pode tirar muitos insights sobre a vida e o trabalho por meio dos personagens. Falar sobre novelas é uma das poucas interações online que não geram bate-boca sem sentido.

Mas assim que Vale Tudo acabar, não sei se emendo com a próxima, mas estou pensando em criar um abaixo-assinado para a família da Consu ganhar seu próprio seriado. Há lastros para isso, meu bem. Só basta a Globo querer.

Powerlist Mundo Negro 2025: Vote nas Criadoras Digitais que amplificam nossas vozes. Indicações até amanhã (31)

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Celebração da Powerlist 2024

A voz que move conversas, muda percepções e abre caminhos precisa ser vista. A categoria Criadora Digital do Powerlist Mundo Negro 2025 reconhece mulheres negras que transformam conteúdo em impacto real e fazem da internet um espaço de representatividade, debate e construção de futuro.

Quem pode concorrer. Toda mulher negra que cria conteúdo autoral e consistente em plataformas como Instagram, YouTube, TikTok, LinkedIn e Pinterest pode ser indicada, seja produzindo vídeos, séries, lives, textos, carrosséis ou projetos multimídia, atuando de forma independente ou à frente de marcas e comunidades, desde que a autoria e o protagonismo estejam claros e a atuação seja pública e ativa.

O que conta na avaliação. Buscamos impacto social, cultural ou político traduzido em ideias que informam, educam, mobilizam e elevam narrativas negras, com originalidade criativa, consistência editorial, qualidade estética, construção de comunidade, engajamento genuíno e resultados observáveis como mudanças de percepção, iniciativas coletivas ou repercussões relevantes no ecossistema digital.

Como indicar. A indicação é simples e direta: preencha o formulário com o nome da criadora e o @ principal, descreva em poucas linhas o que ela faz, por que seu conteúdo importa e quais evidências demonstram o impacto, inclua links de peças marcantes e convide a rede a participar. Clareza sobre autoria, propósito e resultados aumenta a força da candidatura e coloca essa história mais perto do palco.

Acesse o site: https://powerlist.mundonegro.inf.br/votar/

Puma Camillê reflete sobre a importância de documentar ‘Capoeira para Todes’: “Cada movimento é revolucionário”

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Foto: @nicfilmes

“Desafiamos e conquistamos nossas vitórias” – Essa foi uma das grandes mensagens deixadas durante a exibição do ‘Capoeira Para Todes: Aniversário de 3 anos’, seguida de um rico bate-papo com a idealizadora do coletivo que leva o nome do documentário, a multiartista Puma Camillê, durante a Mostra de Cinema Negro de Cotia, na Grande São Paulo, na última sexta-feira (29).

A Capoeira Para Todes tem sido um movimento essencial para a comunidade LGBTQIAPN+, que se tornou referência mundial ao inovar com a tecnologia ancestral da capoeira com o estilo de dança voguing, acolhendo grandes talentos que não conseguiam se encaixar em movimentos heteronormativos. Segundo Puma, a homofobia é um traço forte dentro das rodas tradicionais de capoeira, mas quando um corpo passa por uma transição de gênero, isso se torna ainda mais inaceitável. 

Apesar dos desafios que cada pessoa do Capoeira Para Todes pode vivenciar, o público pôde apreciar um documentário que mostra a esperança de ressignificar a sua jornada. Um grupo diverso que celebra o amor e a vida.

“A gente percebeu que a história de pessoas LGBTQIAPN+, trans, sobretudo, na capoeira, não foi documentada, não tem esse registro. O registro da pessoa trans sentada na mesa com uma pessoa de maior idade, trocando, comendo, sambando, são imagens que a gente não vê no filme, que a gente não vê em casa”, disse a Puma durante o evento. 

“A gente percebeu com a nossa existência, que cada movimento, por mais que muito simples que a gente faz, é um movimento revolucionário. Toda vez que a gente sentar na mesa, comer, sambar, sorrir e tá em volta de criança, de pessoas de mais idade, capoeira faz isso por si só. Quando isso é registrado, isso vira um grande marco pela tentativa de realmente silenciar a gente”, destacou. 

Confirmada de ir ao evento presencialmente, essa tentativa de silenciamento foi mais uma vez evidente no dia do evento, que fez com quê Puma desistisse de ir à Mostra, após receber ameaças quando anunciado a sua presença. Para zelar pela segurança da multiartista, foi decidido a realização de uma chamada de vídeo com o público, após a exibição do filme. 

A Mostra de Cinema Negro de Cotia continuará até setembro com a exibição dos documentários ‘Ijó Dudu, Memória da Dança Negra na Bahia’, dirigido pelo Zebrinha (José Carlos Arandiba), e ‘Terreiros do Brincar’, dirigido por Renata Meirelles. Para saber mais, acompanhe no Instagram: @cinemanegrodecotia.

O projeto foi contemplado pelo edital de cultura da PNAB Cotia e é realizado pelo Instituto Gira-Sol, Congada de Cotia e Ayê Produção Cultural, com apoio da Secretaria de Cultura e Lazer do município.

Powerlist Mundo Negro 2025 : Vote nas mulheres negras que movem a gastronomia brasileira

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Foto: gerada por IA

Já está confirmado, a Powerlist Mundo Negro, Mulheres Negras Mudam Histórias, abre votação popular para escolher a Destaque em Gastronomia. O público vai definir a homenageada entre as finalistas que representam a força das mulheres negras na cadeia da alimentação no Brasil. A votação será realizada no site oficial e cada pessoa pode participar com um voto por e-mail em cada categoria.

Como votar

Acesse powerlist.mundonegro.inf.br/votar, selecione Destaque em Gastronomia, escolha a candidata, informe seu e-mail e confirme. A tela exibirá a mensagem “Voto Registrado Com Sucesso”. Não há confirmação por e-mail. O período oficial de votação das finalistas é de 3 a 16 de setembro. A divulgação das escolhidas ocorre em 11 de outubro e a celebração acontece em 17 de outubro, em São Paulo.

Quem concorre em Gastronomia

Podem disputar o voto popular mulheres negras, cis ou trans, com 18 anos ou mais, com atuação pública comprovável no Brasil. A categoria contempla chefs, cozinheiras, quituteiras, banqueteiras, personal chefs, confeiteiras, doceiras e padeiras, além de empreendedoras e gestoras que lideram restaurantes, confeitarias, padarias, cozinhas de produção, marcas de alimentos e serviços de catering.

O que está em jogo

A avaliação considera saberes tradicionais, inovação culinária em técnicas e cardápios e impacto cultural, social ou econômico. Contam pontos iniciativas que formam novas profissionais, qualificam o serviço e ampliam o acesso à boa alimentação em suas comunidades.

Sobre a Powerlist 2025

Criada pelo portal Mundo Negro, a premiação é o maior reconhecimento dedicado exclusivamente a mulheres negras no país. Em 2025, a edição conta com patrocínio da Natura e apoio do Grupo L’Oréal, reforçando a visibilidade e a legitimidade das trajetórias celebradas.

Serviço

Votação das finalistas: 3 a 16 de setembro

Resultado do voto popular: 11 de outubro

Cerimônia: 17 de outubro, São PauloVote em: powerlist.mundonegro.inf.br/votar

Powerlist Mundo Negro 2025: vote em uma Profissional de Beleza e moda na maior premiação de mulheres negras do brasil

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Foto: Jaqueline Vieira

A Powerlist Mundo Negro 2025 chegou para reconhecer mulheres negras que fazem história todos os dias, especialmente aquelas que transformam vidas por meio da beleza e da moda. Mais do que estética, essas profissionais carregam talento, criatividade e força, elevando autoestima, fortalecendo comunidades e movimentando o mercado com inovação e paixão.

Profissionais da beleza e moda não apenas embelezam, mas constroem histórias de empoderamento e transformação social. Cabeleireiras, trancistas, maquiadoras, manicures, esteticistas e profissionais de moda que reinventam estilos e tendências atuam como verdadeiras agentes de mudança. Cada gesto, cada criação e cada atendimento é um ato de fortalecimento cultural e social, inspirando gerações e celebrando a diversidade negra.

A Powerlist Mundo Negro convida você a indicar aquela profissional que te inspira, aquela mulher negra que, com sua arte e dedicação, faz a diferença no dia a dia das pessoas e da comunidade. É a oportunidade de reconhecer quem transforma autoestima em história, quem eleva talentos e conecta tradição, inovação e representatividade.

Não deixe de participar dessa celebração única! Valorize quem faz a diferença, celebre conquistas e fortaleça a presença das mulheres negras no cenário da beleza e da moda. Indique agora sua referência na Powerlist Mundo Negro 2025 e ajude a destacar quem transforma vidas todos os dias.

Vote e celebre: powerlist.mundonegro.inf.br/votar

“Irê Ewá – A Caixa de Brinquedos” transforma moda e ancestralidade em espetáculo para crianças e adultos

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Foto: Divulgação

O coletivo Focus Arte Social e Sustentável, referência cultural na periferia de Salvador desde 2014, estreia neste final de semana o espetáculo “Irê Ewá – A Caixa de Brinquedos”, uma montagem que mistura poesia, música e imaginação para encantar crianças e adultos. A peça será realizada no Espaço Cultural SESI Casa Branca, em Salvador, no dias 30 e 31 de agosto, às 16h.

A peça se passa em um quarto cheio de brinquedos esquecidos e quebrados que, ao ganharem vida, revelam memórias, afetos e a força da ancestralidade africana. Mais do que uma história infantojuvenil, a produção se apresenta como uma experiência sensível que valoriza o protagonismo negro e o poder transformador da arte.

Foto: Divulgação

Recentemente, o Projeto Focus teve acesso a uma tonelada de fardamentos de instituições, que está sendo transformada em roupas civis de patchwork e também em elementos de cenografia. A iniciativa é resultado da parceria com a marca de moda AXÓMI, conhecida por seu olhar inovador e engajado.

Jonas Bueno, fundador e diretor do Projeto Focus, é um multiartista, estilista e dramaturgo, com a trajetória marcada pela construção de uma moda engajada socialmente. Já levou sua arte para eventos como a São Paulo Fashion Week e o Afro Fashion Day, sempre apostando na valorização da identidade negra e no diálogo entre moda, cultura e ancestralidade.

Foto: Divulgação

Atualmente, o Focus funciona em espaços emprestados — no Pelourinho e em um terreiro de candomblé no subúrbio ferroviário de Salvador — mas segue firme em seu propósito de transformar vidas por meio da arte.

Serviço
Espetáculo Irê Ewá – A Caixa de Brinquedos: Bonecos Pretos
Local: Espaço Cultural SESI Casa Branca – Salvador/BA
Datas: 30 e 31 de agosto de 2025
Horário: 16h

Dr. Sahna Wilbonh de Barros explica por que a Urologia é essencial em todas as fases da vida

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O urologista Dr. Sahna Wilbonh - Foto: Divulgação

A Urologia é a especialidade médica que atua no diagnóstico e no tratamento de doenças do aparelho urinário e do aparelho genital masculino. Assim, doenças que acometem os rins, os ureteres, a bexiga, a uretra, a próstata, os testículos, o pênis e demais órgãos desses sistemas são o foco da Urologia. A prevenção, o diagnóstico precoce e o tratamento eficaz das doenças urológicas são objetivos da especialidade, visando a melhora da saúde da população.

O urologista desempenha um papel ímpar na Medicina, tratando homens e mulheres em todas as faixas etárias: antes do nascimento, na infância, na adolescência, na idade adulta e em idosos. A avaliação inicial por meio de história clínica e exame físico bem realizados pode ser complementada por exames diversos, dentre os quais se destacam os laboratoriais e os de imagem (como ultrassonografias, tomografias computadorizadas e ressonâncias magnéticas), mas exames endoscópicos e biópsias também são frequentemente utilizados.

A especialidade não se limita a aspectos técnicos e científicos, tendo importância sociocultural, religiosa e econômica, muitas vezes. A saúde urogenital suscita debates amplos sobre hábitos (e a falta deles) na promoção de saúde, como em campanhas diversas com enfoque na saúde masculina e no incentivo ao autocuidado, muitas vezes negligenciados por desconhecimento e preconceitos. Sintomas como disfunção erétil e incontinência urinária têm forte impacto no convívio social e na saúde mental das pessoas afetadas, uma vez que podem limitar a qualidade de vida e provocar isolamento. 

A retirada do prepúcio (circuncisão ou postectomia) é prática milenar e praticada por tantos povos, culturas e religiões ao redor do mundo como rito de passagem, mas também é forma de tratamento de doenças (fimose e parafimose, por exemplo) e de profilaxia, com melhora da higiene íntima, prevenção de infecções sexualmente transmissíveis, proteção contra câncer de pênis e contra câncer de colo uterino.  

E dentro das esferas laboral e econômica, as doenças urológicas muitas vezes acometem a população economicamente ativa e podem ser causas frequentes de faltas em atividades profissionais, perdas de tempo de trabalho e custos elevados com diagnóstico, tratamento e seguimento (como nos frequentes casos de infecções do trato urinário, cólicas renais e tumores). 

O câncer de próstata vem ganhando destaque em campanhas, com vista em diagnóstico precoce, o que possibilita índices elevados de tratamento, cura e melhora na qualidade de vida. Assim, o conhecimento da doença e dos seus fatores de risco, que incluem o avanço da idade, o histórico familiar (hereditariedade), a etnia (o risco é maior em homens negros) e a obesidade, têm se mostrado pilares de conscientização sobre esta doença tão comum (o tumor não-cutâneo mais prevalente em homens, com um novo caso diagnosticado a cada 8 minutos no Brasil) e com potencial de letalidade alto sem tratamento (o segundo câncer em mortalidade masculina no país, com um óbito a cada 40 minutos).

Também, outras doenças da próstata (hiperplasia benigna e prostatite), cálculos urinários (“pedras” nos rins), distúrbios hormonais, disfunções de ereção, infecções sexualmente transmissíveis, disfunções urinárias, alterações da fertilidade, demais tumores urológicos (como os de rins e bexiga) e acompanhamento do processo de adolescência (desenvolvimento e início da vida sexual) e do envelhecimento masculinos também são extremamente importantes e merecedores da atenção e do conhecimento geral.

Assim, sintomas como sangramento da urina (com ou sem coágulos), dores urogenitais (renais, uretrais, vesicais, prostáticas, testiculares ou penianas), alterações na micção (aumento de frequência e redução de jato, entre outros), incontinência urinária, impotência ou perda do desejo sexual, alterações na ejaculação, corrimento uretral e lesões genitais devem sem ser avaliadas por um urologista.

Os tratamentos das diversas doenças incluem, de forma isolada ou combinada, orientações gerais e específicas, medicamentos, cirurgias, quimioterapia, radioterapia e imunoterapia. Dentro do tratamento cirúrgico destacam-se as minimamente invasivas (endoscópicas, laparoscópicas e robóticas), sendo a Urologia uma das especialidades médicas que mais faz uso de inovações tecnológicas no seu arsenal diagnóstico e terapêutico, com nítidos aumentos de bons resultados e redução de complicações.

Deve-se lembrar que, mesmo na ausência de sintomas, há necessidade de acompanhamento urológico nas diversas faixas etárias e que hábitos de vida saudáveis, com boa higiene, boa alimentação e redução de índices de obesidade, infecções, etilismo e tabagismo são fundamentais para o bom funcionamento e preservação dos órgãos urogenitais, bem como na redução das suas doenças. O urologista é um aliado importante na promoção e na manutenção da saúde de todos. 

Por Dr. Sahna Wilbonh de Barros 

Médico urologista e titular da Sociedade Brasileira de Urologia 

(CRM-SP 144.578 / RQE 65.633)

Negràz: Márcia Paula transforma legado da família em bistrô afro-brasileiro em São Paulo

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Foto: @tudooquevejo_

Em maio deste ano, a chef e empreendedora Márcia Paula e Silva realizou um sonho: abrir um bistrô afro-brasileiro que traz para São Paulo. Mas a decisão não foi simples. “Abrir o Negràz foi um ato de coragem: eu saí do trabalho CLT, sendo mãe de três filhos e morando de aluguel, para viver do que eu realmente amo. Esse amor se transformou em cozinha, em afeto e autenticidade”, contou a chef em entrevista ao Mundo Negro e o Guia Black Chefs. 

“Desde pequena, eu era a ‘salsinha’ da minha avó Olívia Cherubin, uma dona de casa impecável, e também herdei a força da minha avó Maria, uma senhora de 1,40m que caminhava todos os dias para trabalhar na cozinha de um colégio interno. Elas me ensinaram que cozinhar é disciplina, cuidado e presença. Foi desse legado, e da fé de acreditar que o momento é agora, que nasceu o Negràz”, compartilhou a chef, que aprendeu a cozinhar aos nove anos, sob a influência da avó materna e a mãe, uma confeiteira.

Foto: Reprodução/Instagram

Esse legado tem atravessado gerações e hoje, o Negráz é um projeto de família, incluindo os filhos de Márcia, os Cauê e Maria Eduarda, e a Kelly Karoline. “Minha irmã [Claudia Paula] e eu colocamos nossas histórias aqui dentro, e junto com uma equipe pequena, mas muito dedicada, damos vida ao bistrô todos os dias. O dia a dia é desafiador, mas também muito gratificante. Eu costumo dizer que cozinho ‘a olho’ ou com ‘um punhado de amor’, porque não é sobre seguir receita, é sobre verdade e afeto”, completou Márcia. 

O acarajé é o cartão de visita do bistrô, mas o cardápio tem uma variedade de pratos para os clientes. “Os xinxins de frango e de frutos do mar são muito pedidos, assim como o arroz cremoso de costela. Temos também a carne seca com abóbora, com opções de acompanhamento como farofa, vinagrete mandioca ou banana terra. Cada prato traz a força da culinária afro-brasileira.”

Foto: Reprodução/Instagram

Trajetória profissional 

Márcia morou por 10 anos em Salvador que Márcia se aproximou das raízes da culinária baiana e nordestina. “Foi lá que aprendi, na prática e na vivência, os sabores marcantes e sagrados de uma cultura que me atravessa até hoje. Acarajé, abará, vatapá, xinxim de frango, tudo isso foi entrando na minha história e ganhando espaço no meu coração e nas minhas panelas.”

Foto: Reprodução/Instagram

De volta a São Paulo, ela começou a caminhada profissional como freelancer em eventos gastronômicos e assim nasceu o seu primeiro negócio, que ela continua trabalhando simultaneamente com o Negràz: o Buffet Marcia Paula Gastronomia. “Nosso foco se tornou o catering corporativo, brunch afetivos, coquetéis elegantes e experiências gastronômicas personalizadas.”

Com uma trajetória inspiradora, Márcia deseja capacitar  outras mulheres, especialmente mães solo, a encontrarem na cozinha um caminho de autonomia e renda. “Eu sigo me posicionando com coragem, quebrando estereótipos e abrindo caminhos para que outras mulheres negras também possam brilhar na gastronomia como protagonistas.”

Serviço

Bistrô Negraz

Endereço Rua Pais da Silva, 185 – Chácara Santo Antônio (Zona Sul), São Paulo

Instagram: @bistro_negraz

“Se eu cair 100 vezes, eu vou levantar 101”

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Foto: TV Globo

A queda de Raquel, a personagem interpretada por Taís de Araujo na novela “Vale Tudo”, nos negócios de alimentação, nos deixou muito tristes, pois embora saibamos que se trata de nossa realidade, que estamos habituados a conviver com fracassos, é duro encarar a falência de algo que parecia tão promissor.

Em entrevista à Quem, Taís Araújo, a intérprete da cozinheira, diz ter “levado um susto” quando leu no texto da novela que sua personagem voltaria a vender sanduíche na praia. A fala de dela é reveladora: “Esse momento da Raquel voltar a vender sanduíche na praia, confesso que recebi com um susto. Não era a trama original. Para mim, a Raquel ia numa curva ascendente. Quando vi aquilo, falei: ‘Ué, vai voltar para a praia, gente?'”, falou.

Ver a novela nos transporta para momentos de tristeza e alegria e Taís Araujo sintetiza este sentimento de frustração. “Quando peguei a Raquel para fazer, falei: ‘A narrativa dessa mulher é a cara do Brasil. Ela vai ter uma ascensão social a partir do trabalho. Ela vai ascender e vai permanecer. Isso vai ser uma narrativa muito nova do que a gente vê sobre representação da mulher negra na teledramaturgia brasileira'”, disse.

Na vida real, aquelas mulheres negras que têm sucesso sempre ascendente pelo trabalho são minoria, mas mesmo elas relatam períodos de insucessos motivados por crises com sócios, fornecedores e consumidores. As pessoas bem-sucedidas fracassam. E isso não é uma contradição. O fracasso é parte do caminho para o sucesso. Você ganha novas informações que o ajudam a evitar erros.

Estamos habituados a imaginar que o sucesso é decorrência de trabalho e dedicação, mas, na maioria dos casos, essas histórias estão ocultando os erros que existem por trás dessas conquistas. Um químico, para formular uma substância, faz testes, muitos testes que dão errado antes de chegar na fórmula certa.

Devemos nos preparar com bons planejamentos, mas entender que o fracasso faz parte de quem quer empreender. E saber tirar as boas lições dos erros, dos enganos e daquilo que não prevíamos e acontece.

Um exemplo é a iniciativa de empreendimentos de homens mulheres negras, mas fracassam muitas vezes por falta de recursos, de estrutura, planejamento, de capital de giro e conhecimento do mercado. O fracasso os desanima e muitos desistem depois dos problemas que não são poucos.

Numa história de um sucesso, sempre estão presentes histórias de pequenos e grandes fracassos. Mas todos que sobreviveram souberam arranjar forças, aliados, amigos e parentes para construir o sucesso.

Resiliência faz parte de histórias de vida de negros e negras que ousaram enfrentar e de se recuperar de fortes crises ou perdas pessoais com habilidade e ginga. Ser negro é ser sobrevivente e um aprendiz de superação das intempéries da vida. Como diria o líder angolano Agostinho Neto: A luta continua e a vitória é certa

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