A família de Ezra Blount, menino de 9 anos de idade que morreu após tumulto generalizado no Festival Astroworld, rejeitou a oferta feita pelo rapper Travis Scott, que pretendia pagar os custos com o funeral da criança.
Em resposta à carta que Scott enviou demonstrando remorso pela morte de Ezra e fazendo uma oferta para cobrir as despesas do funeral do menino, o advogado da família Blount, Bob Hilliard, escreveu que “A oferta de seu cliente foi recusada. Não tenho dúvidas de que o Sr. Scott sente remorso. Sua jornada à frente será dolorosa. Ele deve enfrentar e, com sorte, ver que tem parte da responsabilidade por esta tragédia”.
A família Blount disse que perder Ezra foi como “uma torneira de dor inimaginável que não sai do controle”. “Perder uma criança da maneira como Treston perdeu Ezra aumenta a dor”, disse Billiard, acrescentando: “Como pai, Treston não consegue evitar de angustiar-se com a terrível ideia de que os últimos minutos de Ezra foram cheios de terror, sofrimento, sufocamento e o pior de tudo, cercado por estranhos, seu pai inconsciente sob a multidão descontrolada. “
Hillard também disse à Rolling Stone que rejeitou a oferta da equipe de Scott para que a família Blount conhecesse o rapper pessoalmente. Ele disse que “não é uma história para fotos”. Travis Scott enfrenta bilhões de dólares em ações judiciais relacionadas à tragédia que tirou a vida de 10 pessoas.
Ezra foi uma das vítimas que morreu após ser pisoteada em tumulto no festival Astroworld, durante o show do rapper, que também era o organizador do evento. Mais de 50 mil pessoas estavam presentes no show quando a situação saiu de controle.
Honraria acontece na noite em que o país rompe com a monarquia britânica e se torna uma República.
A cantora Rihanna tem agora o status de heroína nacional da República de Barbados. A estrela internacional recebeu a honraria durante a cerimônia de proclamação da república do País, na madrugada desta terça-feira (30).
“Em nome de uma nação grata, mas um povo ainda mais orgulhoso, apresentamos a você como heroína nacional de Barbados, a embaixadora Robyn Rihanna Fenty, que continue a brilhar como um diamante”, disse a primeira-ministra do país, Mia Mottley.
Nova presidente de Barbados, Sandra Mason. Foto: Tim Rooke / Rex / Shutterstock
Barbados cortou os laços com a monarquia britânica após 396 anos e a rainha Elizabeth II não é mais chefe de estado daquela nação. Agora, o país será comandado pela presidente Dame Sandra Mason. “Eu, Sandra Prunella Mason, juro ser fiel e manter verdadeira lealdade a Barbados de acordo com a lei, com a ajuda de Deus”, jurou a nova presidente
Sandra, de 72 anos, foi a primeira mulher admitida na ordem dos advogados de Barbados. Ela começou sua carreira como professora, secretária e então advogada, até finalmente se tornar governadora geral, em 2018.
Barbados passa por uma forte crise econômica motivada pela pandemia de covid-19, por ser um país cuja economia gira essencialmente em torno do turismo e este deve ser um dos grandes desafios a serem enfrentados pela nova monarquia no próximo período.
B3, empresa que coordena a bolsa de valores brasileira, anunciou um programa de capacitação no mercado financeiro, com foco em educação financeira e empregabilidade, gratuito e online, será voltado para pessoas negras.
O curso foi desenvolvimento e dividido por módulos que contemplam conteúdos sobre como organizar as próprias finanças e realizar investimentos, como voltados à teoria sobre os mercados financeiro e de capitais. Não há limite de vagas, mas é necessário ter mais de 18 anos.
Quem concluir essa etapa com bom aproveitamento estará habilitado para passar para a segunda fase, em que serão localizadas as pessoas que se identificam e têm interesse em atuar profissionalmente no mercado financeiro.
As 200 pessoas selecionadas passarão, então, por um desenvolvimento de competências comportamentais, plano de carreira e preparação para entrevistas de emprego.
Depois disso, cerca de 60 alunos que se destacarem receberão uma bolsa para cursos preparatórios voltados para certificações do mercado financeiro, que permitem atuar na área. Há chances, ainda, de contratação pela B3.
O mundo se surpreendeu neste domingo (28) após o anuncio do falecimento do grande estilista Virgil Abloh, um dos grandes nomes da moda e um pioneiro no segmento, que morreu aos 41 anos de idade.
Depois da revelação de sua partida, muitas pessoas se pronunciaram sobre seu trabalho, talento e inserção no moda, relembrando quantas barreiras ele quebrou para ser reconhecido como homem negro na categoria. Além do mundo da moda propriamente dito, Virgil também ficou bastante conhecido por seu trabalho com Kanye West. O rapper, aliás, foi sua porta de entrada e colaborou com Abloh em trabalhos como Watch the Throne, álbum colaborativo com Jay-Z que teve a direção de arte assinada por ele.
Virgil abraça Kanye após desfile de suas criações
Eventualmente, ele contou também com o apoio de Kanye para popularizar a sua grande criação em vida: a Off-White, marca que se tornou referência mundial e objeto de desejo de muita gente. Além de West, outros grandes nomes como Rihanna, Justin Bieber e Kim Kardashian foram apoiadores importantes para o seu sucesso.
Depois do anuncio da Luis Vitton do falecimento do estilista, Kanye, atual YE, apagou todas as fotos de suas redes sociais e colocou uma imagem preta como foto do seu perfil. Além do cantor, outras celebridades pretas e importantes do mundo fashion falou sobre sua partida:
O ator ícaro Dias relembrou a morte de outro grande ícone ao falar sobre o estilista: “Ontem mesmo eu estava vestindo peças que você criou/dirigiu/supervisionou e brilhando tanto! Sua visão de mundo futurista, transgressora e extremamente sofisticada também permitiu que um rapaz preto aqui do Brasil usasse looks com os quais nem sonhava.”
O ator Dan Ferreira relembrou um pouco do legado que o estilista deixou e disse que o mundo da morte perde um ícone: “Triste pra moda, pro design, pra arte, pra cultura hip hip. Foi água, alcançando lugares gigantescos, realizando os sonhos do menino de Chicago e inspirando tantos outros, mas mantendo sempre em suas criações a essência do que o fez chegar tão longe.”
O presidente da Fundação Cultural Palmares, Sérgio Camargo, utilizou sua conta no Twitter para dizer que está há dois anos à frente da Fundação sem receber nenhum representante do Movimento Negro.
“Fiz, ontem, dois anos de Palmares. Dois anos sem receber NENHUMA liderança do assim chamado movimento negro. Sou um negro livre! Não tenho que dialogar com escravos”, diz a publicação.
Sérgio Camargo chegou ao governo Bolsonaro em novembro de 2020. O órgão que ele preside tem a função de preservar os valores culturais, históricos, sociais e econômicos decorrentes da influência negra na formação da sociedade brasileira.
Recentemente, Camargo utilizou suas redes sociais para criticar a existência do Dia da Consciência Negra e já é conhecido por desvalorizar todas as pautas tidas como importantes para o povo negro brasileiro pelo Movimento Negro, sugerindo, por exemplo, o nome de Princesa Isabel para substituir o nome de Zumbi dos Palmares na Fundação.
Nos últimos meses, Camargo esteve afastado da gestão da Fundação Palmares por promover assédio moral e perseguição ideológica contra funcionários da Instituição.
Fiz, ontem, dois anos de Palmares. Dois anos sem receber NENHUMA liderança do assim chamado movimento negro. Sou um negro livre! Não tenho que dialogar com escravos.
Monólogo teatral reflete a contemporaneidade ao discutir racismo e eugenia, ao mesmo tempo em que celebra os 140 anos de nascimento e centenário de morte do escritor Lima Barreto
O espetáculo Traga-me a cabeça de Lima Barreto!, com interpretação de Hilton Cobra, dramaturgia de Luiz Marfuz e direção de Onisajé, está de volta aos palcos em formato presencial. De 02 a 12 de dezembro, o ator e fundador da Cia dos Comuns realiza curta temporada de apresentações no Teatro Firjan SESI Centro, com sessões de quinta e sexta às 19h, sábado e domingo às 17h. Ingressos: R$ 30,00 (inteira), R$ 15,00 (meia) e Lista Amiga: R$ 10,00.
Escrita pelo diretor e dramaturgo Luiz Marfuz, em 2017, especialmente para comemorar os 40 anos de carreira do ator Hilton Cobra, a peça mostra uma imaginária sessão de autópsia na cabeça do escritor Lima Barreto, conduzida por um Congresso de Eugenistas no Brasil, início do século XX. Após a morte de Lima Barreto, os médicos eugenistas determinam a exumação do corpo, a fim de responder à seguinte pergunta: “Como um cérebro, considerado inferior pelos eugenistas da época, poderia ter produzido e publicado obras literárias de qualidade, se a arte nobre e da boa escrita deveria ser um privilégio das raças consideradas superiores?”. A partir desse embate, a peça mostra as várias facetas da personalidade e da genialidade de Lima Barreto, refletindo sobre loucura, racismo e eugenia, a obra não reconhecida e os enfrentamentos políticos e literários de sua época.
O monólogo conta com trechos dos filmes “Homo sapiens 1900” e “Arquitetura da destruição”, ambos cedidos pelo cineasta sueco Peter Cohen – que mostram fortes imagens da eugenia racial e da arte censurada pelo regime hitlerista. Lázaro Ramos, Caco Monteiro, Frank Menezes, Harildo Deda, Hebe Alves, Rui Manthur e Stephane Bourgade emprestam a voz para a leitura em off de textos de apoio à cena.
A atualidade da obra de Lima Barreto
Afonso Henriques de Lima Barreto (1881-1922) foi jornalista, escritor e crítico agudo na época da República Velha no Brasil. Nascido na cidade do Rio de Janeiro, no dia 13 de maio de 1881, sete anos antes da abolição da escravatura, teve a vida recheada de acontecimentos polêmicos, controversos e trágicos. Em sua obra, de temática social, privilegiou os pobres e os arruinados. Foi criticado por escritores contemporâneos por seu estilo despojado e coloquial, que acabou influenciando os escritores modernistas. Traduziu o Brasil por meio de obras com grande consciência crítica, pautadas na temática social, expressando injustiças como o preconceito e o racismo.
“É importante e providencial discutir eugenia e racismo a partir de Lima Barreto nestes tempos de pandemia, em que a população negra e pobre é a mais atingida”, fala Hilton Cobra. “A covid-19 nos convida a dilatar as lentes do racismo, da injustiça, do não reconhecimento, das desigualdades e da violência.”
Hilton Cobra e a Cia dos Comuns
Criada em 2001, no Rio de Janeiro, pelo ator, diretor, produtor e gestor cultural Hilton Cobra, a Cia dos Comuns é um grupo de teatro formado por atrizes e atores negros com a missão artística e política de desenvolver uma pesquisa teatral negra que possibilite um maior conhecimento da nossa cultura, além de estimular o apuro técnico e a ampliação do espaço de atuação profissional de artistas e técnicos negros no mundo das artes cênicas. Na companhia, Hilton Cobra produziu os espetáculos “A roda do mundo”, “Candaces – a reconstrução do fogo” e “Bakulo – os bem lembrados”, além de produzir e dirigir “Silêncio”. Idealizou e realizou a mostra “Olonadé – a cena negra brasileira” e o Fórum Nacional de Performance Negra.
Reconhecimento do público e crítica especializada
Com uma trajetória de grande sucesso, interrompida pela Covid-19 no início de 2020, “Traga-me a cabeça de Lima Barreto!”, estava há 3 anos em cartaz, com 170 apresentações para cerca de 20.000 espectadores, em 72 cidades, de 19 Estados (Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, Bahia, Rio Grande do Norte, Pernambuco, Paraíba, Ceará, Maranhão, Piauí, Brasília, Mato Grosso, Goiás, Amazonas, Rondônia, Tocantins), de todas as regiões do País, onde colheu diversos elogios do público e crítica. O espetáculo foi encenado também na Flip – Festa Literária Internacional de Paraty/RJ/2017, onde o escritor Lima Barreto foi o homenageado
Ficha Técnica:
Hilton Cobra – Ator | Luiz Marfuz – Dramaturgia | Onisajé (Fernanda Júlia) – Direção | Cenário: Vila de Taipa (Erick Saboya, Igor Liberato e Márcio Meireles) | Desenho de Luz: Jorginho de Carvalho e Valmyr Ferreira | Figurino: Biza Vianna | Direção de Movimentos: Zebrinha | Direção Musical: Jarbas Bittencourt |Direção de vídeo: David Aynan | Produção executiva: Ruth Almeida | Assessoria de imprensa: Target Comunicações Fotos: Adeloyá Magnoni, Leandro Lima, Kaian Alves, Valmyr Ferreira e Vinicius César | Operação de Áudio e Vídeo: Duda Fonseca | Operação de Luz: Lucas Barbalho | Participações especiais (voz em off): Lázaro Ramos, Caco Monteiro, Frank Menezes, Harildo Deda, Hebe Alves, Rui Manthur e Stephane Bourgade
SERVIÇO
Espetáculo “Traga-me a cabeça de Lima Barreto!”
Temporada: de 02 a 12 de dezembro de 2021
Quinta e Sexta, às 19h | Sábado e Domingo, às 17h
Ingressos: R$ 30,00 (inteira) e R$ 15,00 (meia) | Lista Amiga: R$ 10,00 (cadastro através do celular 21 99949-6962)
Abloh estava em tratamento contra um tumor cardíaco maligno desde 2019.
O designer de moda Virgil Abloh, primeiro diretor criativo negro a ser contratado pela Louis Vuitton, morreu neste domingo (28), aos 41 anos, em decorrência de angiossarcoma cardíaco. A informação foi dada pelas redes sociais do estilista e da LVHM, conglomerado do qual a Louis Vuitton faz parte.
“Nós estamos devastados em anunciar o falecimento do nosso amado Virgil Abloh, um pai, marido, filho, irmão e amigo fortemente dedicado”, diz a mensagem postada na conta do estilista no Instagram.
Um comunicado família de Abloh na conta do designer no Instagram contou sobre a luta contra o câncer “Ele optou por enfrentar sua batalha em particular desde seu diagnóstico em 2019, passando por vários tratamentos desafiadores, ao mesmo tempo em que dirigia várias instituições importantes que abrangem moda, arte e cultura”, diz o comunicado.
Nascido em Illinois, nos EUA, filho de pais ganeses, Virgil Abloh se tornou um dos mais influentes nomes da moda nos últimos anos. Chamou a atenção da LVHM depois do destaque que alcançou com a Off White, marca que criou em 2013.
Abloh deixa sua esposa Shannon Abloh e seus filhos, Lowe e Gray.
Espetáculo “Encontros Tropicais: Frequências do Gueto” celebrou os ritmos musicais originários das periferias que inspiraram a música “Na atividade”, composta pela IZA e talentos dos guetos do Brasil na série de Devassa “Criatividade Tropical: Abre as Portas para o Gueto”
Quem esteve ontem na Concha Acústica do Teatro Castro Alves pode conferir de perto um dos momentos mais bonitos da retomada dos eventos presenciais no Brasil.
Cerca de 1.600 pessoas lotaram o espaço que foi tomado de muita música e um sentimento de celebração à cultura afro-brasileira por meio dos ritmos criados pelo povo preto.
Com uma estrutura de palco que remete as antenas parabólicas das periferias brasileiras, iluminação e dançarinos, o espetáculo foi pensado do início ao fim para contar a história dos ritmos que nasceram nos guetos do país.
A atriz Nara Gil que deu vida à apresentadora de rádio DJ Afroblack, em alusão à sua famosa personagem DJ Black Boy na novela “Armação Ilimitada” (1985-1988), foi um show à parte. Conduziu com maestria os intervalos dos três blocos temáticos do espetáculo, com releituras de hinos nacionais.
Foto: Ricardo Cardoso
O show começou revisitando o gênero musical que originou vários outros, o samba, ritmo que nasceu marginalizado, já foi proibido e desde sempre retrata a realidade das periferias trazendo em suas letras cheias de suingue e malemolência a mensagem de resistência – que segue fazendo escola no rap e no funk atuais.
Os sambas clássicos de Dona Ivone Lara e Leci Brandão marcaram esse bloco e colocaram todos os presentes pra cantar. Carlinhos, Larissa e Rafa, trouxeram uma nova roupagem para os clássicos com a batucada que balança o gueto desde o início do século.
Larissa Luz, visivelmente emocionada, fez uma das performances mais lindas da noite (confira nossa cobertura nos stories do Instagram).
Foto: Ricardo Cardoso
Num segundo momento, o show abriu espaço para a Black Music dos anos 1970 e 1980, mostrando como o soul, à disco e a tecnologia eletrônica invalidam as pistas de dança no Brasil.
Foto: Ricardo Cardoso
Os bailarinos embarcaram no momento baile, com o protagonismo da dança, refletindo sobre como num momento de grande repressão e autoritarismo a criatividade tropical consegue se reinventar no gueto, e um movimento de orgulho e exaltação da cultura negra ganha forma.
Outro ponto alto da noite foi quando os convidados WD e Jéssica Ellen se uniram aos anfitriões Carlinhos, Larissa e Rafa para revisitar sucessos de Cassiano, Tim Maia e Jorge Ben Jor.
Foi também nesse bloco que Jessica Ellen entregou uma performance cheia de poesia. Já Carlinhos embalou o hit Tem Namorada para celebrar todas as formas de amar.
Para encerrar o último bloco do espetáculo chega aos anos 1990, quando a herança rítmica da música de pista tropicaliza a raiz ancestral para criar novas sonoridades.
Um momento onde tudo que é atual ganha destaque. O funk carioca, pagodão, rap,trap e afrobeats que explode atualmente nas periferias.
O último ato do espetáculo celebrou com toda riqueza de cenografia, iluminação e dançarinos a nova história da música popular brasileira que continua nascendo e resistindo nos guetos. Criolo, WD e Banda Didá e os anfitriões Carlinhos, Larissa e Rafa dividiram os vocais com talentos de periferias brasileiras descobertos por Devassa na série “Criatividade Tropical: Abre as Portas para o Gueto”.
Foi também quando a Didá Banda Feminina, emocionou o público trazendo o que há de mais belo na cultura afro-brasileira.
Foto: Ricardo Cardoso
Um momento de celebração e reencontro do público com os artistas que ficará guardado na memória de quem esteve presente.
Confira a cobertura completa em nosso perfil do Instagram @sitemundonegro.
Revolucionária e política, Dona Beatriz Kimpa Vita combateu a escravidão e buscou continuamente a valorização de seu povo por meio da sua fé
O Google Brasil nos convidou para contar histórias pretas ancestrais. A partir do tema “Oralidade ancestral para Consciência Negra em 2021” abrimos nosso espaço para apresentar a interessante trajetória de Kimpa Vita. Quanto mais a gente busca, mais a gente se encontra, e a busca pela ancestralidade é um sinal de novos tempos, de novas e significativas descobertas.
Reconhecida como um dos nomes revolucionários mais importantes do Congo, Dona Beatriz Kimpa Vita usou a religião como ferramenta política de seu tempo, defendeu e lutou pela preservação de seu povo e ensinou que, ao contrário do que os colonizadores diziam, o céu também pertencia aos africanos. Quebrando paradigmas impostos pela comunidade europeia, Kimpa Vita se firmou, ao longo do tempo, como uma das maiores lideranças africanas da história.
A vida e a missão da profetisa
De maneira global, para compreender um pouco da trajetória de Dona Beatriz, é necessário analisar o contexto histórico, político e social em que ela estava inserida. Voltando centenas de anos na história, em meados de 1660 o reino do Congo vivia uma imensa instabilidade política. Segundo a obra ‘Catolização e poder no tempo do tráfico: o reino do Congo da conversão coroada ao movimento antoniano, séculos XV-XVIII’, dos pesquisadores Ronaldo Vainfas e Marina de Mello e Souza, no final dos anos seiscentos o Congo vivia um ambiente de fragmentação, crise e guerras internas constantes entre a corte portuguesa e os congoleses.
Nesse cenário de crise e guerra civil, em 1684 nasce Beatriz Kimpa Vita. Desde muito cedo Beatriz foi considerada especial, ela era inteligente e manifestava sua espiritualidade através de visões. Assim, durante sua juventude, Beatriz passou a ser treinada para ser uma nganga marinda, ou seja, uma pessoa que consulta o mundo sobrenatural para resolver problemas dentro da sua comunidade.
Com o passar do tempo e com forte apego em sua espiritualidade, Beatriz declarou ter ressuscitado como Santo Antônio, possuindo, dessa forma, um relacionamento especial com Deus. Com a figura de Santo Antônio sendo sua maior representação, Kimpa Vita pregava às multidões do reino congolês com uma visão própria do catolicismo, firmando suas bases religiosas na história e na própria geografia do Congo. Tal movimento passou a ser conhecido como ‘antonianismo’ e as pregações da profeta vinham carregadas de conotação política. De acordo com essa visão, Jesus era negro e congolês, além disso, os santos ligados à religião eram africanos. Uma série de alterações ao cristianismo europeu foram feitas, Dona Beatriz divulgou ao povo novas versões da ‘Ave Maria’ e da ‘Salve Rainha’, com tons mais relevantes para o pensamento do Congo. Levando mensagens para multidões, a profetisa declarava que o céu também pertencia aos africanos e que no reino divino brancos e pretos se encontravam em alegria.
Embora o movimento antoniano reconhecesse a autoridade papal, era tido como hostil aos missionários europeus. Criticando a colonização portuguesa e o cenário de crise, Kimpa Vita preconizava a reunificação do reino e o bem do povo congolês. Chegando a se envolver em batalhas perigosas – e políticas da época – por busca de territórios, ao longo dos anos, a líder religiosa passou a atrair uma enorme quantidade de seguidores, aliados e fiéis. Influenciando dezenas de comunidades, Kimpa Vita e seus seguidores eram vistos como uma verdadeira ameaça aos interesses portugueses no Congo. Em 1706, Dona Beatriz Kimpa Vita foi capturada pelo rei europeu D. Pedro II. Julgada pelos monges do catolicismo europeu, a profetisa foi acusada de heresia e acabou sendo queimada viva.
O legado ao longo da história
Kimpa Vita foi uma das primeiras mulheres africanas registradas a lutar contra o imperialismo europeu na era colonial. Seu conhecimento e compreensão da espiritualidade congolesa, história, cultura e cristianismo permitiu-lhe ver como a religião europeia estava sendo usada de forma opressora no Congo. O movimento profético do antonianismo sobreviveu à morte de Kimpa. Após 1706, utilizando as próprias bases da religião, seus seguidores continuaram a acreditar e a difundir as mensagens de unificação e espiritualidade. O movimento antoniano, iniciado por Kimpa, sobreviveu a ela. O rei do Congo, Pedro IV, utilizou-o para unificar e renovar seu reino. O ensino antoniano seguiu vivo através das artes e da cultura daquele período. Muitas obras históricas datadas da época mostram Jesus como um congolês, revelando, dessa forma, o enraizamento do cristianismo em sua forma africana, mesmo que ele já tivesse sido observado em momentos anteriores da história. Alguns estudiosos também vêem o atual kimbanguismo, prática religiosa de grande força no Congo, como sucessor do antonianismo.
FILESI, Teobaldo. Nazionalismo e religião no Congo all’inizio del 1700: la seta degli antoniani. Roma: Istittuto Italiano per l’Africa, 1972.
RICH, Jeremy. “Dona Beatriz Kimpa Vita”. In: AKYEAMPONG, Emmanuel K .; GATES JR., Henry Louis (dir). Dicionário de biografia africana. Oxford University Press, 2012, v. 3, p. 381-383.
THORTON, John. O Santo Antônio kongolês: Dona Beatriz Kimpa Vita e o movimento antônio, 1684-1706. Cambridge: Cambridge University Press, 1998.
VAINFAS, Ronaldo; SOUZA, Marina de Mello e. Catolização e poder no tempo do tráfico: o reino do Congo da conversão coroada ao movimento antoniano. Tempo (UFF), n. 6, pág. 1998: https://www.historia.uff.br/tempo/artigos_dossie/artg6-7.pdf, , acessado em 20 de Novembro de 2021.
Este é um conteúdo pago feito em parceria com o Google Brasil.
Acontece nesta sexta-feira (16), o show “Encontros Tropicais: Frequências do Gueto”, promovido por Devassa. Abrindo a coletiva de imprensa realizada na tarde dessa sexta-feira, Vanessa Brandão, Diretora de Marketing da empresa, destacou que a principal mensagem do projeto envolve o propósito da marca de contextualizar que a música e a cultura preta são fios condutores criativos da Devassa. Segundo ela, “o projeto tem como maior objetivo reunir talentos dos guetos do Brasil com grandes artistas pretos da música nacional”.
Também participaram da coletiva os cantores e produtores do show Rafa Dias, Larissa Luz e Carlinhos Brown. Para eles, o espetáculo vai contar a história dos ritmos que fazem parte da cultura preta e que estão espalhadas por todos os cantos no país.
“Vamos homenagear Dona Ivone Lara, a Black Music, o Beat e no momento final vamos celebrar os novos ritmos que estão sendo feitos atualmente”, contou Rafa Dias, do grupo Àttøøxxá.
“Esse show traz a periferia para o centro. A história do gueto para o centro. Esse espetáculo é um retorno a nossa ancestralidade de forma profunda”, complementou a cantora Larissa Luz.
O line-up do espetáculo conta com Criolo, Jessica Ellen, WD, Rafa Porrada, Lukinhas, Stephanie, Nara Gil, atriz convidada e Mestre de Cerimônias do evento.
“Ha três anos reunimos Gilberto Gil e Baiana System no nosso primeiro Encontros Tropicais. Depois em 2020, foi a vez de Iza e Orkestra Rumpilezz receberem Margareth Menezes, BNegão, Mateus Aleluia e Lazzo Matumbi. Nós pesamos o que fazer depois disso? Foi aí que decidimos navegar no computador do Rafa Dias para trazer novidade para o que é ancestral”, contou Elísio Lopes, responsável pela concepção geral do espetáculo.
O evento acontece a partir das 19h, na Concha Acústica do Teatro Castro Alves em Salvador, com público presencial e transmissão ao vivo no canais do YouTube da Devassae Multishow . O evento também será transmitido pelo canal de TV por assinatura BIS e terá reprises no Multishow (TV): 28/11, às 19h; 29/11, às 00h15; e 30/11, às 14h.
O evento seguirá todos os protocolos de segurança do município, do Estado da Bahia e da Organização Mundial da Saúde: fluxo de 1.600 pessoas sentadas na plateia ao ar livre e com distanciamento. O espetáculo também exigirá apresentação do comprovante vacinal e a aferição de temperatura do público, além de oferecer infraestrutura para sanitização.
Acompanhe a cobertura do evento em nosso perfil no Instagram @sitemundonegro.