Claudinho, um dos fundadores do grupo Soweto e sociólogo, rompeu parceria com o cantor Belo pela filiação ao PL (Partido Liberal), atual partido do presidente Jair Bolsonaro.
No instagram, o cantor escreveu o desabafo. “Belo, meu cumpade, de lá pra cá muita coisa aconteceu, o samba nos uniu e nos separou, mas jamais nos colocou em lados distintos. Afinal, somos do mesmo lugar, e vivenciamos, pelo menos até o momento de sua filiação no time de Bolsonaro, a mesma utopia de uma história de luta política e social que o próprio samba conta e reconta desde XIX”.
E finalizou dizendo: “Pela primeira vez, estamos em lados opostos e lutamos por uma ideia de Brasil muito diferente”.
Para o jornalista Leo Dias, do Metrópoles, o cantor Belo ainda não confirmou que será candidato, neste ano. Mas afirmou que a filiação se deu pela amizade com o senador Romário e com o governador do Rio de Janeiro, Claudio Castro.
Já o Claudinho, deverá ser candidato a deputado estadual pelo PDT (Partido Democrático Trabalhista), de acordo com a colunista Monica Bergamo, da Folha de São Paulo.
Durante o final de semana, uma foto do pré-candidato à presidência da República pelo PT, Lula, seu vice, Geraldo Alckmin e a cúpula do PSB, partido de Alckmin, chamou a atenção nas redes sociais. A ausência de pessoas negras e a baixa quantidade de mulheres (só estavam na foto Gleisi Hoffmann, presidente do PT, e Rosângela da Silva, esposa de Lula) foram os pontos mais criticados da imagem.
O intelectual Thiago Amparo registrou a ausência de pessoas negras em um post nas redes sociais, e, recebeu uma enxurrada de comentários e críticas, que inclusive, insinuavam que ele, que é um ferrenho crítico do governo Bolsonaro, estaria se alinhando à direita ao apontar a gritante brancura da imagem.
A vereadora pelo Rio de Janeiro Tainá de Paula (PT), usou o Twitter para se posicionar sobre o ocorrido, mas também registrou o racismo que sofre duplamente ao ser cobrada, quanto mulher negra integrante do PT a ser a pessoa que tem que se posicionar sobre o assunto, e não as lideranças brancas do partido.
“É sim uma foto que expôe o racismo e a misoginia partidária”, disse a parlamentar. O intelectual Silvio Almeida defendeu Tainá. “É muita energia para cobrar negros (ou para calá-los) e pouquíssima ou nenhuma para questionar os brancos que estão no poder. Racismo também é covardia”, pontuou.
Sobre a fatídica foto de @LulaOficial e a direção do @PSBNacional40: é sim uma foto que expõe o racismo e a misoginia partidária, e não há nenhuma novidade nisso. Mas há um segundo ato racista em se cobrar de mim, da forma abusiva e racista que estou sendo, os "esclarecimentos".
As eleições de 2022 colocam um novo componente à mesa. Diante da barbárie vivenciada com os anos Bolsonaro na história do Brasil, parece que não se pode mencionar o óbvio – a falta de diversidade daquela foto – sem parecer que se está defendendo o indefensável. É óbvio que qualquer pessoa comprometida com a pauta racial não defenderá o governo genocida do atual presidente. Mas será que o custo de não parecer defensor do atual presidente é o silêncio? Para Thiago Amparo, não.
“Foram críticas de negros/as, como a minha, que impulsionaram políticas raciais do PT. Me chamar de ingrato é lógica de casa grande e senzala: receba aí e fique quieto. Não, obrigado”, garantiu.
Me chamaram de "imbecil" e "arrogante" pela crítica ao PT/PSB no lançamento do candidato a vice. Foram críticas de negros/as, como a minha, que impulsionaram políticas raciais do PT. Me chamar de ingrato é lógica de casa grande e senzala: receba aí e fique quieto. Não, obrigado.
Na reportagem do Fantástico deste domingo (10), foi exibido o vídeo da cafeteria Starbucks no shopping do Rio de Janeiro, no momento em que a professora Mônica Rosa e o sobrinho Felipe, ambos negros, se sentaram no estabelecimento e um homem branco e desconhecido começou a xingá-los e ameaçá-los.
O caso ocorreu há um ano e meio e o agressor nunca foi identificado. As imagens só foram divulgas agora.
Segundo o Ministério Público, para que o homem possa responder pelo crime de injúria racial e agressão, ele precisa ser reconhecido.
A violência deixou Felipe tão mal, que o atrapalhou de realizar um sonho. “Ele estava vivendo o melhor momento dele para passar no vestibular de medicina. Aquilo foi tão pesado para ele que ele foi muito mal na prova”, conta a professora.
Nas imagens, é possível ver que nem os seguranças controlam o homem em ataque de fúria. “Um shopping é um lugar que você vai e acha que vai ficar segura naquele lugar, e que tinha segurança, só que aquela segurança não era para mim. Eu não tenho o direito de ser protegida dentro de um shopping contra alguém que nega a minha existência.”, desabafa.
Em nota, a Starbucks Brasil diz que tem uma política de tolerância zero contra qualquer tipo de discriminação. “Levamos todas as alegações a sério e estamos constantemente revisando nossas políticas e treinamentos para que nossos partners (colaboradores) e clientes sempre se sintam bem-vindos e respeitados em nossas lojas. Além disso, compartilhamos as imagens de segurança assim que solicitadas pelas autoridades policial e judicial e continuaremos cooperando com as investigações neste assunto. Tratando-se de uma investigação em andamento, outros questionamentos sobre o caso devem ser direcionados às autoridades competentes.”
Um edital destinado a iniciativas de geração de renda de mulheres negras de todo o Brasil foi aberto nesta segunda (11) pelo primeiro fundo filantrópico de mulheres negras, o Fundo Agbara, com objetivo de potencializar e desenvolver negócios coletivos e individuais de 11 selecionadas.
O edital Avança, Preta! 2, é um programa de capacitação técnica direcionado à mulheres negras de todo o Brasil que possuam iniciativas de geração de renda, sejam elas iniciativas individuais (pequeno negócio) ou coletivas (cooperativas e coletivos), que existam há pelo menos um ano.
Nessa segunda edição, serão contempladas 11 iniciativas de mulheres negras. Durante a execução do programa serão realizadas capacitações técnicas (cursos) , aportes financeiros de R$1.250,00 até R$ 5.000,00, para impulsionar suas atividades de geração de renda.
O projeto nasceu em setembro de 2020, visando a recuperação de iniciativas de mulheres negras afetadas pela pandemia de COVID-19, através da potencialização para o desenvolvimento integral de dez iniciativas de geração de renda, sejam elas individuais ou coletivas, lideradas por mulheres negras, a partir de 18 anos, com duração de dois meses.
As inscrições podem ser feitas entre os dias 11/04/2022 e 17/04/2022, até às 23h59 e serão pontuadas para seleção:
Grau de desenvolvimento institucional, tendo preferência as iniciativas com maior desenvolvimento
Potencialidade da iniciativa – iniciativas com características inovadoras em seus segmentos
Tempo de existência – tendo preferência iniciativas com maior tempo de existência
Critério socioeconômico – avaliação da renda familiar per capita
No dia 25 de abril(segunda) serão anunciadas as contempladas em uma Mega Aula especial “Afroempreendedorismo negro – significantes e significados”, às 19h, com a palestrante Nina Silva (CEO da D’Black Bank e Movimento Black Money).
Jon Batiste durante o 64º Grammys Awards. Foto: Matt Winkelmeyer/Getty Images.
Pouco conhecido no Brasil, Jon Batiste se tornou um dos nomes mais comentados do mundo após sua vitória histórica no Grammys 2022. Com o disco ‘We Are’, o musicista recebeu o título máximo da música mundial, o prêmio de ‘Álbum do Ano’. Apesar de ter sido uma surpresa para muitas pessoas, já que o artista concorria com nomes de peso como Kanye West, Billie Eilish e Taylor Swift, a vitória de Batiste não foi uma surpresa para os entusiastas da indústria musical. A carreira de Batiste é marcada por pontos de glórias e reconhecimentos fascinantes, a julgar pelo seu Oscar de ‘Melhor Trilha Sonora Original’, vencido no ano de 2021 pelo aclamado filme ‘Soul’, da Disney.
Aos 35 anos, Jon Batiste possui uma carreira diversa, se tornando o 11º negro a vencer a honraria máxima do Grammys, suas contribuições ganharam destaque no mundo do Jazz. Dando um tom popular ao ritmo considerado elitista, o cantor inseriu elementos de R&B e Pop em torno de suas músicas, criando produtos próximos ao público e às grandes massas. “Vivo este momento como resultado de uma série de milagres que aconteceram em minha vida”, disse Batiste ao vencer o Oscar.
Classificando sua arte como uma ferramenta de transformação social, Batiste enfatiza que acredita no poder da música como uma força de cura, capaz de unir as pessoas e promover as mais severas mudanças. Ainda em 2020, durante o momento de destaque do Black Lives Matters, Jon ergueu sua música e criou o projeto ‘We Are’, que mais tarde deu título ao álbum do ano. Através do movimento, Batiste convocava pessoas a lutarem por mudanças e pela dignidade das pessoas pretas.
Capa alternativa de ‘We Are’, álbum de Jon Batiste. Foto: Divulgação.
“Esta é a nossa resposta à injustiça sistêmica profundamente enraizada que ainda temos que consertar, um fato bastante claro pela morte pública de outra pessoa negra. Este é um movimento que existe porque acredito que o poder da arte e da música é divino”, declarou Jon Batiste sobre o projeto ‘We Are’.
This is our response to the deep rooted systemic injustice we have yet to fix, a fact made abundantly clear by the public execution of another black person. This is a movement that exists because I believe the power of art & music is divine. RSVP here: https://t.co/PrtD5I6J3Apic.twitter.com/upLFTRxiXG
Compositor, pianista e líder de banda, o astro do jazz enfatiza com frequência que continuará utilizando sua arte como ferramenta de transformação social, utilizando as ’12 notas que o Divino lhe concedeu’. “Descobri que a música pode juntar as pessoas de um jeito que nada mais pode. A música e as artes são muito importantes, principalmente em momentos de divisão”, declarou Batiste.
A DUE Incorporadora, empresa especializada em empreendimentos de praia com alto padrão, vem seguindo um projeto pouco comum no concorrido mercado da construção civil. Possuindo cinco sócios, três deles são negros, sendo representados pelo ator Rafael Zulu e os futebolistas Adailton Filho e Fernandinho. Com forte atuação no nordeste, a DUE já conta com mais de 22 mil unidades entregues e seguem entre as 15 maiores construtoras do país.
Um dos empreendimentos da DUE incorporadora. Foto: Divulgação.
Pautados em desenvolvimento sustentável, tecnologia e experiência, a DUE declara que faz parte de um grupo líder de mercado. Em entrevista ao MUNDO NEGRO, Rafael Zulu comentou sobre a experiência dentro do negócio e sobre seu interesse dentro da construção civil. “O mundo dos negócios é uma paixão antiga. Acredito também que a minha trajetória nesse meio reflete bem os meu inúmeros interesses porque já fui sócio de bares até festivais musicais“, diz Rafael. “A DUE vem muito atrelada a minha inquietude profissional, sabe? De procurar sempre o novo e fazer diferente. Além do mais, ter a possibilidade de levar para o nordeste brasileiro um projeto tão único, responsável e comprometido com o desenvolvimento local é muito gratificante. E, ainda por cima, poder fazer tudo isso com amigos tão competentes é a combinação perfeita”.
De acordo com Adailton Fillho, a DUE caminha para um futuro de grandes transformações no mercado e um impacto social positivo. “Hoje, não me vejo como um empresário, me considero um empreendedor social. Eu faço negócios no setor imobiliário com intuito de gerar riquezas para investir no setor social”, revela Adailton, que construiu também uma carreira sólida no mundo do futebol.
“Sou preto, nascido na periferia, vi, vivi e senti todo o tipo de preconceito existente. Durante os anos que joguei fora do país ouvi gritos da torcida rival me chamando de “macaco”. Então, procurei juntar todo esse sentimento do que vivi e tornar em algo positivo. Na nossa empresa, o DNA é 100% social”, enfatiza Filho. “Em 2011, eu fundei a Associação Superação com o intuito de transformar a vida de jovens por meio de apoio e levando oportunidades mostrando para eles que a vida pode ser muito mais. Dentro da DUE, temos como uma das nossas missões ser vistos de forma diferente das outras incorporadoras. Nós queremos agregar, de fato, e esse é o nosso diferencial. Estamos sempre dispostos a desenvolver a confiança e consciência na juventude preta de que ela pode vir com a gente e chegar onde nós estamos“.
Rafael Zulu e Adailton Filho. Foto: Divulgação.
Sobre a inclusão em seus projetos, a DUE declara que seu quadro de colaboradores é formado por uma equipe diversa, prezando pela inclusão e renovação social. “Acreditamos que já estamos colocando aqui, no presente, o que desejamos para o futuro”, conta a empresa em entrevista ao MUNDO NEGRO. “Os nossos empreendimentos são planejados de forma a garantir o menor impacto ambiental e máximo impacto social positivo. Ao nosso ver, quando esses dois pilares caminham juntos podemos chegar a lugares incríveis.Entendemos que não é um caminho fácil, mas com pessoas motivadas e que acreditam no nosso projeto tudo fica menos complicado. Por isso prezamos tanto pela inclusão na formação da nossa equipe. Hoje, o nosso quadro de colaboradores é composto por grande maioria de pretos, mulheres pretas e pessoas LGBTQIA+. Temos um olhar muito atento ao que acontece à nossa volta e queremos fazer parte da mudança. Esse sentimento é refletido na DUE desde a sua fundação porque queremos ser um destino incrível de moradias para as pessoas e, ao mesmo tempo, um lugar de pertencimento, principalmente, para aqueles grupos historicamente invisibilizados“.
O cantor Gilberto Gil ocupou a cadeira número 20 da Academia Brasileira de Letras, no Petit Trianon, Rio de Janeiro. Ele foi eleito com 21 dos 34 votos dos acadêmicos, em novembro de 2021.
“Poucas vezes na nossa história republicana o escritor, o artista, o produtor de cultura, foram tão hostilizados e depreciados como agora”, afirma Gil durante a posse.
A cerimônia de posse foi histórica. “Não só porque a ABL é a casa de Machado de Assis, escritor universal, afrodescendente como eu, mas também porque a ABL representa a instância maior, que legitima e consagra, de forma perene, a atividade de um escritor ou criador de cultura em nosso país”, ressaltou no discurso.
No Twitter, o Gil comparou a vestimenta usada para a posse da cadeira na ABL com a usada por ele na capa do segundo LP, em 1968.
Em maio de 1968, na capa do meu segundo LP, e já integrado à Tropicália, apareço envergando um fardão e usando pincenê. Ao recordar esse episódio escrevi um poema para este evento: (+) pic.twitter.com/bO9bTj9Gm4
Emocionado, o músico relembrou a história da sua família: “Sou filho de uma professora primária e um médico. A eles devo o meu amor às letras e à música. A imagem dos meus pais está comigo nessa noite e sua memória para mim é uma benção”.
E também citou a dor de perder o filho, Pedro Gil, que faleceu em 1990. “Não desanimo, porque é preciso resistir, sempre”. Na sequência, agradeceu o apoio e finalizou o discurso dando uma paleta da música ‘Luar’. “Se a noite inventa a escuridão, a luz inventa o luar, o olho da vida inventa a visão, doce clarão sobre o mar”, cantou timidamente. “Essa é nossa aposta na vida e na alegria”, ressaltou.
Com a carreira marcada por sucessos como Miss Beleza Universal e a versão feminista da música Mulheres, que tem a versão original conhecida na voz de Martinho da Vila, a cantora, compositora e empresária Doralyce, acaba de lançar seu novo álbum, Dádiva, o quinto de sua carreira. Passeando pelos temas políticos que fazem parte de sua trajetória, ela demarca pontos importantes sobre viver nos tempos atuais, com uma análise de conjuntura política, reflexão sobre liberdade afetiva e sexual das mulheres, responsabilidade afetiva e apontamento de caminhos a seguir enquanto sociedade.
Para Doralyce, conseguir lançar Dádiva é motivo de gratidão. “Eu me sinto grata ao Universo porque eu precisava sair dessa pandemia com saúde mental”, reflete a cantora, que deseja ser cada vez mais reconhecida por seu trabalho na música.
“Eu escrevi canções que têm uma representatividade muito grande para as mulheres. Todo 8 de março eu vejo as mulheres cantando minhas músicas na rua. Seja a versão feminista de “Mulheres”, seja “Miss Beleza Universal”. Depois, com as insatisfações com o governo, todas as mnifestações cantam “Vamo Derrubar o Governo”. Eu vivo uma dicotomia. Faz quatro anos que todo ano minha música toda no BBB, nos protestos e nas festas, e ao mesmo tempo, a maioria das pessoas não sabe quem eu sou”, pondera.
“A minha mensagem chega nas pessoas, mas por mais que a mensagem chegue, tem gente que não sabe nem o meu nome, não sabem quem é Doralyce. Tem gente que acha que eu me chamo Miss Beleza Universal. Vocês acham que a minha mãe ia me registrar com esse nome?”, brinca.
Boa parte das cançoes de visibilidade de Dora trazem a marca dos posicionamentos políticos da compositora, mas não é só sobre política que ela gosta de escrever e cantar. “Eu não falo só de política. Na verdade eu tenho muito mais músicas de amor, de sofrência, mas o discurso que me cabe, a roupa que me cabe é uma roupa emancipacionista”, explica.
No entanto, para ela, o contexto em que as populações negras, indígenas, LGBTQIAP+ vivem no Brasil não permitem que se ignore toto o contexto. “Eu queria estar fazendo outra coisa, mas só que a gente é assassinado todos os dias, perseguido no supermercado, a gente perdeu. O Estado declarou guerra contra a sociedade civil quando matou Marielle Franco em 2018. Aquilo ali foi o estado falando pra gente que não importa se você vai atravessar o racismo, o machismo, a lesbofobia, a vulnerabilidade, o tráfico de drogas. Mesmo que você atravesse tudo isso, você ainda vai levar cinco tiros na cabeça por defender os Direitos Humanos, se você tiver um projeto que pense em melhorar a vida das pessoas. Eu aho que essa ruptura, essa quebra de contrato social, acontece desde que a gente não tem perspectiva de futuro”, avalia.
O DISCO
Dádiva tem 13 faixas e começa com Terreno Fértil. que faz uma análise de conjuntura do cenário do Brasil de 2022. A última faixa do disco, “Batida Salve Todes” é um encaminhamento, uma proposta de ação a partir desta análise.
“Em Terreno Fértil eu falo tudo o que eu vejo que precisa mudar na sociedade, e encerro com Batida Salve Todes, que é uma música que faz alusão a uma brincadeira de infância, que uma hora uma pessoa bate e salva todo mundo, que é o nosso sonho. A gente sonhou, inspirados na história de Jesus, que um sacrifício humano salvaria toda a humanidade. Mas a gente tem sacrifícios humanos todos os dias e essa sociedade não mudou”.
“Batida Salve Todos é uma brincadeira, dizendo que eu sei que o mundo tá se acabando, mas eu já cheguei e bati na parede. Tá todo mundo salvo. E como a gente se salva? E eu digo: Apague a velha ordem do recinto. Apague essas ideias”.
Para Doralyce, em uma sociedade de leis injustas, cumprir a lei não é, necessariamente, fazer a coisa certa. Esta é a mensagem de Batida Salve Todes. “A gente vive uma legislação punitivsta, misógina, que não deixa a mulher ser dona de seu proprio útero, que cria mecanismos para o encarceramento da população preta, que cria mecanismo para exclusão e apagamento das populações indígenas. Vem cá, a gente vai cumprir a lei? Aí, nesta faixa, eu proponho a desobediência civil”.
“Eu sou bandida e minha lei é um contatinho em cada cidade”
Caminhando para o lado mais voltado para as experiências afetivas e sexuais, “Leve e Gostoso” fala de ser transparente nas relações. “Nessa música eu falo sobre responsabilidade afetiva. As pessoas acham que é só p*taria. Mas não é. É sobre ‘nenhum acordo sai caro’. Se você se abre para a pessoa e fala sobre quem você é de verdade, a pessoa sabe com quem ela está se relacionando. O que é injusto, o que é cruel, é você mentir e enganar a pessoa, fazendo ela acreditar em uma coisa que não é verdade. É uma música onde eu chamo as pessoas a serem honestas”, avalia.
Além de cantora e compositora, Doralyce é empresária na Colmeia 22, um projeto que trabalha com artistas em situação de vulnerabilidade. “O trabalho com a Colmeia é feito com artistas que estão à margem desse mercado. Pessoas que a gente trabalha para introduzir no mercado e fazer com que esses artistas se revelem”, explica.
Este trabalho também foi desafiador para Dora durante a pandemia. “Além de acreditar em mim, eu tinha que acreditar nessa galera toda e dizer, ‘vamo, galera, vai dar certo'”, relembra. “Todo mundo ficou numa situação muito difícil durante a pandemia e dizer pra essas pessoas não desistirem quando eu estava pensando em desistir, eu não sei de onde eu tirei força”, relembra.
Como saldo do trabalho como cantora, compositora e artista, fica as transformações feitas nas vidas de outras mulheres. “Sair na rua e ver as pessoas vestida de “Miss Beleza Universal”, ver a galera de faixa, ver mulher gorda botando piercing no umbigo, e ver mulheres separando de relacionamentos abusivos porque ouviram a versão feminista de ‘Mulheres’ e sabem que não precisam passar por isso. Tudo isso é muito revolucionário”, conclui.
Integrante no elenco do filme ‘Medida Provisória’, a professora aposentada Dona Diva Guimarães foi escolhida pelo próprio diretor do filme,Lázaro Ramos, para participar da obra. “Qual o primeiro rosto que quero que apareça nesse filme? Aí fui pra um lado bem pessoal e pensei em Dona Diva. Acho que o rosto que pensei como símbolo de esperança, potência e símbolo de uma história dos nossos antepassados foi ela”, disse Lázaro, em entrevista à Silvia Nascimento, editora-chefe do MUNDO NEGRO.
Para o diretor, ‘Medida Provisória’ é um alerta sobre coisas que a gente não quer que aconteça. Ele espera sensibilizar as pessoas com entretenimento, já que a obra possui “momentos de humor e momentos de emoção que vão para além da compreensão racional política”. A presença de Dona Diva enriquece o longa, trazendo reflexões importantes sobre a construção da identidade negra no Brasil. “Ela não aceitou [participar do filme] de primeira, me falou ‘meu filho eu não sou atriz, eu não vou fazem bem’. Aí como já tenho intimidade falei: ‘Dona Diva isso não é um convite, eu estou apenas te informando que a senhora vai fazer’. Então ela respondeu: ‘Meu filho está difícil de viajar’, e respondi: ‘A senhora vem com acompanhante, te dou comida na boca se quiser”, enfatizou Lázaro com alegria, ao relembrar a história.
Foto: Mariana Viana.
‘Medida Provisória’ estreia dia 14 de abril de 2022. O filme tem como protagonistas Taís Araujo, Alfred Enoch e Seu Jorge e conta ainda com um grande elenco de 77 atores, entre eles Adriana Esteves, Renata Sorrah, Mariana Xavier, Emicida, Flávio Bauraqui e Paulo Chun. O enredo se passa num futuro distópico em que o governo brasileiro decreta uma medida que obriga os cidadãos negros a voltarem à África como forma de reparar os tempos de escravidão – a partir desse conflito e da história de amor vivida pelos personagens de Taís e Alfred, o filme debate questões sociais e mistura humor, drama e thriller.
A Lei Maria da Penha agora é aplicável a mulheres transgênero, por decisão da 6ª Turma do STJ (Superior Tribunal de Justiça), na última terça-feira (5).
O Ministério Público Federal defendeu que a mulher transexual tem direito a medidas protetivas com base na Lei Maria da Penha, independentemente de ter sido submetida a cirurgia de transgenitalização.
Por unanimidade, os ministros foram favoráveis a um recurso apresentado em favor de uma mulher transgênero que alega ter sido agredida pelo pai.
Ela diz que sofreu agressões que deixaram marcas visíveis, constatadas por autoridade policial. Segundo depoimento, o pai chegou em casa alterado e, quando tentou sair da residência, ela foi imobilizada e jogada na parede e empurrada. Ela ainda foi ameaçada com um pedaço de madeira, mas conseguiu fugir.
O ministro Rogério Schietti citou que o Brasil responde, sozinho, corresponde a 38,2% dos homicídios contra pessoas trans no mundo. Dados divulgados em janeiro pela ANTRA (Associação Nacional de Travestis e Transexuais) revelam que no ano passado foram 140 assassinatos no país.
A deputada estadual de São Paulo Erica Malunguinho (PSOL), comemora a jurisprudência, mas lamenta a demora da medida. “Nós estamos reivindicando isso há muito tempo, uma vez que a violência que recaí sobre os nossos corpos, diz respeito a uma violência baseada na condição de mulher transgênero”.
Em 2020, as mulheres trans haviam conquistado o direito de abrir o boletim de ocorrência fora da delegacia comum. “A gente conseguiu aqui pelo estado de São Paulo que as mulheres trans conseguissem ser atendidas nas delegacias da mulher, usando exatamente esses argumentos”.
Apesar da vitória, Malunguinho reconhece que a lei não é o suficiente para impedir a violência. “Não é o que a gente vê em relação as próprias mulheres que são cisgênero. A gente tem uma lei Maria da Penha que existe há 16 anos e que o índice do feminicídio crescente no Brasil”.
A vereadora de São Paulo Erika Hilton (PSOL) e presidente da CPI da Violência Contra Trans e Travestis, vibra com a extensão da lei, mas relembra a dificuldade de aprovar o PL da Semana Maria da Penha nas escolas.
“Quando as crianças conhecem a lei, independente da lei, ali ela cumpre o papel importante porque ela cumpre o papel de conscientizar, ela ela cumpre um papel de contar uma história, de mostrar uma realidade que faz com que as crianças possam beneficiar talvez isso dentro de casa. Mas a lei isolada, eu acho que ela tem pouco impacto”, explica.
Mesmo parecendo um projeto simples, Hilton tem batalhado contra os vereadores da Câmara Municipal. “Os vereadores são completamente contrários. A gente tem enfrentado uma resistência muito grande desde o momento que ele foi aprovado no ano passado pela comissão.”
Erica Malunguinho diz o que motiva a luta diária: “Nós só queremos viver. Nós só queremos não ser mortas por ser quem somos. Só querer ter direito ao trabalho, a escolarização, a vida e a humanidade”.