Yara Shahidi, estrela deBlack-Ish, surge como Sininho no primeiro trailer do novo live-action “Peter Pan & Wendy“, divulgado hoje (28) pela Disney+. Ela é a primeira mulher negra a assumir o papel da personagem.
O filme chegará na plataforma de streaming no dia 28 de abril. O trailer revela aventuras mágicas com os protagonistas e também apresenta o visual da Princesa Tigrinha, estrelado pela atriz indígena canadense Alyssa Wapanatâhk (Bones of Crows). “Amo muito todos vocês. Muito orgulho de conhecer todos vocês e ver seu trabalho ganhar vida”, comemorou no Instagram.
Alyssa Wapanatâhk como Princesa Tigrinha (Foto: Divulgação/Disney+)
A adaptação do clássico animado de 1953, segue com as aventuras do jovem Peter Pan (Alexander Molony), que leva Wendy (Ever Anderson) e seus irmãos para o mundo mágico da Terra do Nunca, sem medo de crescer. Sereias, piratas, fadas, e muitas outras coisas incríveis surgem neste lugar.
Após uma primeira olhada exclusiva durante a D23 Expo em setembro do ano passado, os fãs da Disney já estavam na expectativa pelo trailer completo do filme.
Estreou hoje (28) o videocast “Closes & Corres”, criado por Patrícia Santos, fundadora do Empregueafro e por Samuel Gomes, escritor e criador do canal Guardei no Armário. Com foco em carreira, o programa nasceu com objetivo de dar voz a uma comunidade que muitas vezes é invisibilizada no mercado executivo.
“Somos os primeiros graduados de nossas famílias, os primeiros a chegar em ambientes corporativos, os primeiros a alcançar cargos de destaque. Toda essa trajetória foi construída sem espelhos ou iguais. A nossa proposta é quebrar esse mecanismo e empoderar pessoas através da vivência de profissionais do mercado”, destaca Samuel, que também além de criador, apresenta o videocast ao lado de Patrícia.
O evento de lançamento aconteceu na última segunda-feira (27) na agência WMcCann, apoiadora do projeto e parceira da EmpregueAfro, e contou com a presença de muitos convidados especiais assim como ativistas e influenciadores do movimento negro brasileiro.
Closes & Corres está disponível em todas as plataformas de streaming de áudio e vídeo, como Spotify e YouTube no canal Guardei No Armário, e promete ser uma importante ferramenta de inspiração e acolhimento para quem busca trilhar sua carreira em um mercado que ainda precisa de mais diversidade e representatividade.
A Polícia Federal abriu inquérito para apurar possíveis crimes cometidos pelo empresário Ranier Felipe dos Santos Ramacho, 43, acusado de agredir o cantor Gilberto Gil, 80, durante a Copa do Mundo do Catar, em dezembro do ano passado.
À época do ocorrido, o empresário apareceu perseguindo Gil, fazendo uma série de ofensas. De acordo com o G1, com base no estatuto do idoso, a Polícia Federal vai investigar se o empresário cometeu crimes como: discriminação contra pessoa idosa, exibição ou veiculação de informações ou imagens depreciativas ou injuriosas de idoso e injúria com base em elementos de raça, cor, etnia, religião, origem ou a condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência.
Protejam Gilberto Gil! Durante sua visita ao Catar, o cantor baiano de 80 anos, foi agredido verbalmente por um bolsonarist* Acompanhado de sua esposa Flora Gil, o ex- Ministro da Cultura se manteve calmo o tempo todo. A identidade dele ainda não foi revelada. pic.twitter.com/37d1HKJ6kZ
Somados, os crimes podem resultar em até 7 anos de prisão. A investigação da Polícia Federal sugere também que o acusado possui parentesco com algum magistrado. Isso porque, segundo o G1, o documento menciona o código 147 do artigo do Código Penal, que impede juízes de atuarem nesses casos.
No vídeo, divulgado nas redes sociais, o empresário acusado de agredir Gil faz menção ao ex-presidente da República, Jair Messias Bolsonaro, 67, e usa o termo ‘filha da puta’ para se referir ao cantor.
A atriz Storm Reid, 19, que interpreta a personagem Riley Abel em ‘The Last Of Us’ se manifestou sobre os ataques homofóbicos que a série recebeu ao longo dos últimos dias. No domingo (26), foi ao ar o episódio ‘Letf Behind’, em que cenas amorosas de Riley e da personagem principal Ellie (Bella Ramsey) ganharam destaque. “Estamos em 2023. Se você está preocupado com quem eu amo, preciso que você reorganize suas prioridades”, disse Storm em entrevista para a revista Entertainment Weekly.
Ellie e Riley em ‘The Last Of Us’. Foto: Warner Media / HBO Max.
A atriz continuou destacando a forma como enxerga as críticas homofóbicas direcionadas à série como um verdadeiro absurdo. “Há tantas outras coisas com que você tem que se preocupar na vida. Por que você está preocupado com o fato de que essas jovens – ou qualquer pessoa – se amam? O amor é lindo, e o fato de as pessoas terem coisas a dizer sobre isso é um absurdo“, completou ela.
‘The Last Of Us’ é uma das maiores séries da atualidade. Storm também comentou sobre importância de ocupar um papel de destaque na produção da HBO. “Não estou representando apenas mulheres. Estou representando jovens mulheres negras e jovens queers que estão experimentando novos sentimentos e novos relacionamentos”, disse a estrela. “Estamos na corda bamba de uma amizade e tendo uma paixão, ou é uma paixão? É apenas energia de flerte? Há tanta coisa que entra na complexidade do que é o episódio. E, além disso, relacionamento de Riley tão lindo.”
Riley em ‘The Last Of Us’. Foto: Warner Media / HBO Max.
Em conversa com o MUNDO NEGRO, o ator Lamar Johnson, 28, que interpretou o personagem Henry no episódio 5, também falou sobre a representatividade e a importância de novas narrativas negras. “Acho que em última instância, quebramos estereótipos quando contamos histórias. Que tipo de histórias iremos contar? Acho que se continuarmos produzindo estereótipos, continuaremos colocando homens negros nos alvos, em brutalidade policial. São sempre as mesmas narrativas, as mesmas conversas. É preciso novas narrativas, novas conversas“, disse Lamar.
Henry em ‘The Last Of Us’. Foto: Liane Hentscher/HBO.
De acordo com a sinopse oficial, a história de ‘The Last Of Us’ se passa vinte anos após a civilização moderna ter sido destruída. Joel (Pedro Pascal), um sobrevivente experiente, é contratado para contrabandear Ellie (Bella Ramsey) para fora de uma zona de quarentena opressiva. O que começa como um pequeno trabalho logo se transforma em uma viagem brutal e dolorosa, pois os dois devem atravessar os EUA, dependendo um do outro para sobreviver.
A Comissão Estatal contra a Violência, Racismo, Xenofobia e Intolerância no Esporte da Espanha determinou o pagamento de multa de 4 mil euros, equivalente a R$ 22 mil, e a suspensão do direito de frequentar de recintos esportivos por um ano como punição para o torcedor que fez insultos racistas direcionados ao jogador Vini Jr. durante partida entre Real Madrid e Mallorca.
A decisão foi divulgada nesta terça-feira, junto com propostas de punição para outros casos. O torcedor do Mallorca que fez os xingamentos racistas contra Vini Jr. foi flagrado pelas câmeras da TV “DAZN” chamando o jogador de “macaco” durante jogo que aconteceu no dia 5 de fevereiro.
Inicialmente, a polícia espanhola propôs uma multa de 3 mil euros e a proibição de frequentar espaços esportivos por seis meses, o que não foi acatado pela Comissão Esportiva, que preferiu aumentar a punição.
Recentemente, LaLiga decidiu criar uma comissão para cuidar dos casos de racismo contra Vini Jr. A ideia é que em cada do jogo do Real Madrid, inspetores monitorem os setores mais problemáticos de cada estádio.
Vinícius Jr. tem sido alvo de uma série de ataques racistas por parte de torcedores espanhóis. No dia 26 de janeiro, um boneco vestido com a camisa do atacante do Real Madrid foi colocado enforcado em uma ponte com uma faixa onde estava escrito “Madrid odeia o Real”. Outros casos de racismo contra o jogador já haviam sido registrados em jogos durante o ano de 2022.
“Discordo da condução da situação. Acho que há um pouco de falta de cuidado com a imagem do meu pai, uma pessoa querida por muita gente, e que se encontra doente e sem condições de se defender publicamente”, disse. “Acabamos de sair de um carnaval onde ele foi protagonista na avenida e na apuração, e isso já geraria uma grande repercussão negativa, que se amplificou ainda mais”, lamenta Kauan, que é fruto de um relacionamento extraconjugal do sambista.
Arlindo Cruz sofreu um AVC (Acidente Vascular Cerebral) em março de 2017 e ainda vive com sequelas, em estado vegetativo irreversível, segundo a esposa. A trajetória do cantor foi tema do enredo da Império Serrano em sua homenagem, mas a escola foi rebaixada para a Série Ouro no carnaval do Rio.
“Embora nunca tenha me casado e muito menos estado em um casamento público, entendo que se os ciclos se encerram, devemos fazer as coisas da forma mais clara possível. Fico preocupado sim com a saúde e também com a manutenção do patrimônio e imagem do meu pai”, afirma Kauan, que soube do namoro através da imprensa e acha que a Babi deveria passar a responsabilidade dos bens de Arlindo para um dos irmãos, Arlindinho e Flora, “ou em caso extremo de pressão, o divórcio”.
Na semana passada, Babi Cruz assumiu publicamente o namoro com o empresário André Caetano, que conheceu durante as eleições no ano passado, quando se candidatou a deputada estadual no Rio de Janeiro, e recebeu muitas críticas na web por ainda ser casada com o sambista.
O filho de Arlindo diz que já tinha ouvido rumores na família, mas antes preferiu não se envolver. “Me envolvi agora porque vejo pessoas faltando com respeito ao meu pai, piadinhas em comentários de fotos, e outras coisas. Acho que ele poderia ter paz nesse momento, que é o mais importante”, ressaltou.
Babi Cruz rebate ataques
A empresária voltou a se pronunciar via portal Em Off, com um comunicado que também foi enviado para o grupo da família e que deve ser postado nas suas redes sociais em breve. “Sou mulher, mãe, avó e sempre fui uma esposa dedicada, que zela pela imagem do homem que está ao meu lado por 37 anos com muita preocupação”, iniciou o texto.
“Não desejo ao meu pior inimigo, se é que os tenho, tudo o que passei nesses últimos anos, fui ao fundo do poço e lá me revitalizei para seguir adiante. Diante disso, não posso admitir ser tratada como vilã, pois em nenhum momento, desrespeitei, denegri, maculei, constrangi a imagem do Arlindo, dos meus filhos, netos, amigos e fãs”, diz um trecho do texto.
“Nada do que aconteceu ou acontecerá na minha vida, me impedirá de cuidar com todo amor e carinho da saúde do Arlindo, assim como sempre fiz. Todos os que convivem comigo têm a total ciência que a prioridade da minha vida é a saúde do Arlindo e sempre será, inclusive as dezenas de centenas de profissionais da área da saúde que acompanham o nosso caso durante todo esse tempo sabem o quanto já abdiquei da minha vida por ele, e, aos que não convivem, acompanham mesmo que à distância”, afirma a empresária.
A sistemática repressão policial, dado o seu caráter racista − segundo a polícia, todo crioulo é marginal até que se prove o contrário − tem por objetivo próximo a imposição de uma submissão psicológica através do medo. − Lélia Gonzalez
Texto: Ricardo Correa
Os brancos sempre procuram se esquivar das acusações que mencionam os seus privilégios. Eles mudam de conversa, resmungam, confrontam e até alteram a fisionomia mesmo em silêncio. Isso acontece tanto com aqueles que se assumem aliados (os posicionados politicamente à esquerda) e os defensores das práticas racistas (os posicionados politicamente à direita). Apesar de que os comportamentos racistas independem do campo ideológico, portanto a crítica cabe para ambos os grupos. Os brancos não querem reconhecer o fato de que as suas vidas são permeadas de privilégios em cima do sofrimento do povo negro. Eu até imagino o choque que sentem ao ouvir que tudo conquistado é resultado de privilégio racial. O orgulho construído em função do mérito é golpeado, pois acreditam que os próprios esforços foram responsáveis pelas conquistas pessoais (diplomas, bens materiais, bons empregos). Eu também compreendo que essa crença é reforçada pela educação, afinal, desde a infância somos estimulados a acreditar na meritocracia. Por exemplo, os pais presenteiam os filhos por se comportarem adequadamente, tirarem notas boas na escola, etc. Os professores na sala de aula estimulam o comportamento operante dos alunos: entregue o trabalho, ganhe ponto positivo; não entregue o trabalho, ganhe um ponto negativo. Nessa lógica que contamina, as crianças crescem achando que na sociedade somente prospera quem se esforça.
Por outro lado, os negros, em sua maioria, são ensinados no ambiente familiar um pouquinho diferente. Muitos pais e parentes dizem que devemos duplicar os esforços com relação aos brancos, assim seremos “alguém na vida”. No entanto, mesmo seguindo literalmente essa orientação o resultado quase sempre é desfavorável.
Seguimos com a vida estagnada na mesma condição social que iniciamos a jornada de esforços, somos tomados por frustração, adoecimento (físico e mental), entre outras situações lamentáveis. Na dinâmica do capitalismo a lógica que sustenta as desigualdades raciais opera em concordância: estagnação/declínio econômico de uma massa de negros e ascensão econômica dos brancos. Isso é um fato inconteste.
Com essas questões entranhadas na cultura brasileira, os “aliados” confrontam os nossos apontamentos, e, inconformados, apelam para a questão de classe. Argumentam que “negros e pobres brancos na favela são todos iguais”, e por essa razão não podem ser tachados de privilegiados. Como se a cor da pele não fosse o fundamento que coloca os brancos em vantagem. Nem tudo é material, ora essa! Não precisamos de nenhuma explicação complexa para contestar o fator classe como parâmetro de igualdade entre negros e brancos numa sociedade racista. O simbólico − representado pela raça −, sempre se sobressai quando a igualdade é aparente. Se não fosse assim, a epígrafe deste texto estaria equivocada, e os negros não seriam a maioria dos mortos em ações policiais.
Tenho a impressão de que os “aliados brancos” pensam em combater o racismo somente na superfície, ignorando completamente a abolição dos privilégios para não afetar suas vidas. Isso não é antirracismo. Portanto, se eu estiver correto não podemos acreditar em uma aliança com potencial de mudança coletiva e revolucionária. O combate ao racismo passa pelo compromisso dos brancos no repúdio aos próprios privilégios, que, enquanto existirem, poderão ser utilizados no processo de luta. E ninguém precisa dizer que existem pessoas brancas empenhadas na justiça racial. Eu acredito. Entretanto, continuo me apegando às palavras do revolucionário sul-africano Steve Biko “Claro que existem alguns brancos bons tanto quanto existem alguns negros ruins. No entanto, o que nos interessa aqui são as atitudes de grupo e a política de grupo. Uma exceção não faz uma mentira ou a regra − ela apenas a fundamenta.”
Estou apaixonado por Sol (Sheron Menezzes), a protagonista da novela ‘Vai na Fé’. Quando ela entra em cena, todos os olhares são pra ela. Uma linda mulher negra que irradia alegria, sensibilidade, muita luta e uma ginga que nos leva a sonhar.
Quando vi a cena do reencontro de Sol com seu primeiro amor Ben (Samuel de Assis), isto me levou a pensar em nosso primeiro amor, quando o futuro é visto com alegria, otimismo, e não há desafios que não possam ser superados. Me veio à cabeça o livro Walden II – Uma sociedade do futuro , de Skinner, que desenha uma sociedade sem conflitos, de cooperação, em que todos são felizes- uma utopia. No livro, os jovens são estimulados a valorizar o seu primeiro amor e a casarem. O primeiro amor é descrito como o mais puro, mas completo e rico de emoções. Um momento mágico em nossas vidas, onde todos os sonhos são possíveis.
Sol e Ben formaram um casal apaixonado, com uma entrega absoluta, algo que talvez nunca tenha se repetido. Quando eles se encontram, ficam paralisados e a memória volta com a dor do rompimento. A imagem deles, jovens casais, nos alegra e nos leva a pensar: puxa vida, eu também tive um primeiro amor.
Sol e Ben se encontram após 20 anos. Foto: Reprodução / TV Globo.
A primeira coisa que nós espectadores pensamos é: será que é possível um recomeço? Talvez até possa acontecer no desenrolar da novela, mas agora vamos nos fixar na descrição do primeiro amor em nossas vidas. Todos nós temos na memória, a primeira paixão por um companheiro, ou companheira. Muitas vezes acontece no ambiente de escola, num período de incertezas e medos de não passar por ridículo. Sem saber como se comunicar, o que dizer, sem saber se será correspondido, tudo se torna um furacão de emoções.
Amar pela primeira vez é nadar em mar aberto, sem saber nadar e ficar onde dá em pé, mas é inevitável o risco de se decepcionar. Qualquer gesto e olhar nos alimenta a sonhar com a felicidade. Sol e Ben se apaixonaram, dançaram, se amaram, e viveram intensamente aquele momento de encontro de dois jovens negros, despreocupados com o futuro. O primeiro amor também tem riscos.
O que preocupa a sociedade brasileira, pais e famílias, são as taxas de maternidade na adolescência que ainda são elevadas no Brasil, resultado da ausência de uma educação sexual nas escolas e diálogo. O primeiro amor não precisa terminar em gravidez na adolescência, que atinge todas as classes sociais. Ele apresenta, no entanto, marcadores de desigualdade de geração, de raça, de classe muito específicos, sendo mais frequente justamente nos grupos de maior vulnerabilidade social. Precisamos conversar com meninos e meninas, um diálogo aberto, com amplo apoio da sociedade.
Sonhamos e valorizamos o primeiro amor em nossas vidas. A novela ‘Vai na Fé’ nos possibilita que a ficção se aproxime da realidade e nos leve a muitas reflexões. Nos leva a afirmar que amar sempre vale a pena.
Estamos habituados a ver imagens da Serra Gaúcha como modelo de prosperidade, com famílias brancas e donas de belos vinhedos que produzem 90% do vinho do país. Também como instâncias turísticas onde paulistas, mineiros, cariocas e todos os brasileiros se orgulham de ver a pujança do agronegócio, com a crescente e competitiva indústria do vinho.
Na semana passada, conhecemos o outro lado da Serra, com homens trabalhando de maneira análoga à escravidão. Homens trazidos da Bahia para trabalhar na colheita da uva viajaram durante dias em condições precárias, mal alimentados, sem a mínima higiene e iludidos com um salário de R$ 3000,00 reais. Uma prática comum de exploração humana durante o período da colheita, que parece ser do conhecimento dos proprietários que sabem fazer um falso marketing do seu produto e da maneira de viver na Serra.
Três trabalhadores chegam ofegantes ao posto da Polícia Rodoviária Federal (PRF) de Bento Gonçalves, cidade situada na Região Serrana do Rio Grande do Sul. O que eles relataram aos agentes levou à descoberta de um galpão com cerca de 240 trabalhadores em condições precárias. A oferta de trabalho prometia, segundo os aliciados, salário de R$ 3 mil, alimentação e alojamento incluídos, o que não se concretizou quando chegaram ao Rio Grande do Sul. O grupo chegou a Bento Gonçalves de Salvador (BA) no dia 2 de fevereiro, após quatro dias e meio de viagem. Os depoimentos são fortes e não deixam dúvida sobre a banalização do mal.
“A gente saía às 4h e ia para as fazendas trabalhar catando uva. Voltava 22h, 23h. O carro largava a gente lá, para ficar esperando [ele voltar], e tratavam a gente como se fôssemos bicho. Pegavam as quentinhas com a comida azeda e davam para a gente comer. Diziam: ‘vocês têm que comer isso mesmo, porque baiano bom é baiano morto’. A gente é pai de família, trabalha”, contou uma das vítimas, sob forte indignação.
“Tomei cadeirada, spray de pimenta, estou com os dentes moles. Eu escutei eles falando que um carro estava vindo para levar para me matarem. O tempo dos escravos eu não vivi, acho que nem minha bisavó viveu. Hoje vai existir escravo de novo? Não vai. O que depender de mim, não vai, eu vou abrir minha boca, eu vou falar que tá errado”.
Há um sentimento de solidariedade e de perplexidade entre os grandes produtores: Salton, Cooperativa Garibaldi e Aurora, que alegam desconhecer as condições desumanas dos trabalhadores baianos.
O Ministério Público do Trabalho e o Ministério do Trabalho estão realizando diligências e se comprometeram a cobrar das empresas as indenizações. Mas há um valor que se perdeu na cadeia produtiva desses vinhos: a dignidade humana.
Fica difícil beber uma taça de espumante e não pensar na dor e sofrimento dos trabalhadores.
David Júnior em "12 anos ou Memória da Queda" (Foto: Ale Catan)
Inspirado no livro “12 anos de escravidão”, de Solomon Northup, o espetáculo “12 Anos ou Memória da Queda” protagonizado por David Júnior, Bruce de Araujo e Cintia Rosa, estreia no dia 2 de março, às 19h, no Centro Cultural Banco do Brasil em São Paulo.
A peça, que estreou em 2022 no CCBB RJ, conta a história real de um homem negro no século XIX que, após aceitar um trabalho que o leva para outra cidade, é sequestrado e escravizado por doze anos. A temporada segue até 9 de abril com sessões às quintas e sextas, às 19h; e aos sábados e domingos, às 17h.
O atual momento foi determinante para a montagem contar com David Júnior no elenco. “Estamos tocando numa ferida social, econômica, estrutural do nosso país que precisa ser falada. Me sinto muito realizado como artista pelo tema e pela equipe técnica incrível que conseguimos reunir neste trabalho. Enquanto tivermos pessoas sendo descartadas da sociedade apenas por representar o seu lugar de negro, com todo este discurso de ódio, invisibilidade e descaso com os corpos negros precisaremos colocar estes assuntos em voga. É importante estar em cena no momento em que estamos vivendo, falando dessas mazelas antigas e, ao mesmo tempo, tão atuais na nossa sociedade”, pontua o ator.
Na temporada do Rio de Janeiro, David Júnior protagonizou a peça com Dani Ornellas (Foto: Ale Catan)
Bruce de Araujo ressalta a maneira como o tema é retratado em cena. “A peça foge dos clichês como são apresentados normalmente quando a gente trata de escravidão contemporânea, ou do racismo em suas mais diversas formas. O texto é direto, é atual, mas ele vem de uma maneira muito poética, muito bonito. E esse olhar poético faz com que as pessoas saiam do espetáculo potencializadas para promover uma mudança.”
A atriz Cintia Rosa comemora seu retorno ao teatro depois de 11 anos sem subir ao tablado. “Fazer meu retorno falando dessa história e poder ressignificá-la para que ganhe contornos mais leves e de vitória no final é uma grande alegria. Estar com esse elenco e com essas diretoras foi uma cura coletiva para mim, que me deixa extremamente feliz. Essa peça fala de uma história universal, mas que precisa ser falada o tempo inteiro, pois vemos histórias de racismo todos os dias. É um espetáculo para refletir sobre as várias formas de escravização moderna.”
Sinopse:
12 anos ou A memória da Queda é inspirado no livro 12 Anos de Escravidão, de Solomon Northup. Com dramaturgia original de Maria Shu e texto final de Onisajé, que também assina a direção com Tatiana Tiburcio, o espetáculo teatral traz à tona uma temática pulsante na atualidade: a escravização de corpos negros. O projeto tem como inspiração a história real de Solomon – um homem negro que após aceitar um trabalho que o leva a outra cidade, é sequestrado e escravizado por 12 anos. No elenco, David Júnior, Bruce de Araujo e Cintia Rosa.
Serviço:
Espetáculo 12 anos ou Memória da Queda
Local: Centro Cultural Banco do Brasil São Paulo
Temporada: 2 de março a 9 de abril de 2023.
Horário: Quintas e sextas, 19h | Sábados e domingos, 17h.
Ingressos: R$30 (inteira) e R$15 (meia) em bb.com.br/cultura e bilheteria do CCBB
Duração: 80 minutos
Classificação indicativa: 12 anos.
Capacidade: 120 lugares
Endereço: Rua Álvares Penteado, 112 – Centro Histórico, São Paulo – SP