O ódio em relação as religiões de matriz africana é tão banalizado e incorporado na nossa cultura, que um padre não vê nada de errado em fazer piadas sobre umbanda e candomblé para arrancar risos dos seus fiéis durante a missa. E engana-se que só os padres de pequenas paróquias fazem isso. Um verdadeiro flagrante de racismo religioso é o conteúdo de um vídeo que viralizou no Facebook, com mais de 2 milhões de visualizações. Quem está destilando um ódio disfarçado de conselho de amigo, é o Padre-Pop Fábio de Melo.
Ele gesticula, muda a voz e ri, ao enfatizar aos seus seguidores que a “macumba” deixada na porta da casa dele, não é mais forte do que o poder de Jesus, “o Cristo ressuscitado”.
“Com todo o respeito a quem faz a macumba, pode fazer, pode deixar na porta da minha casa, que se estiver fresco a gente come”. Eles riem, mas é uma colocação que ridiculariza a fé dos praticamente de religiões de matriz africana.
Tendo ao fundo um altar repleto de padres brancos entretidos, Melo continua com suas piadinhas, que dão a impressão que praticantes da religiões afro, são demonizados.
Em outro momento do vídeo, ele satiriza os banhos de ervas, muito usados pelos praticantes da umbanda e candomblé. “Ai, acho que estou com mau olhado, vou tomar um banho de arruda”, a plateia mais uma vez ri e ele continua. “Toma um banho, porque às vezes a macumba é só um banho que você está precisando tomar e uma limpada nas axilas. Às vezes o único diabo que você está levando, são nas axilas”, ele diz gesticulando para a alegria dos presentes. Para ele nesse caso, o mau olhado seria curado com o uso de um bom desodorante.
“Sabe qual é o nome da pregação de Pe.Fábio de Melo? Racismo religioso explícito. Quase cento e trinta anos depois da abolição, um padre católico retoma o discurso de intolerância dos jesuítas, cúmplices da colonização escravocrata que tentou aniquilar a cultura e as tradições religiosas de indígenas e africanos. Que cena lamentável”, comentou a jornalista Flávia Oliveira, da Globonews em sua página no Facebook.
A página que publicou o vídeo não é oficial, não há como saber quando o vídeo, postado no Facebook dia 4 de maio, foi gravado, o que não diminui a gravidade do conteúdo.
Desmerecer a umbanda para valorizar o cristianismo é uma estratégia preguiçosa e desonesta. São dessas “piadinhas” que surgem os atos de ódio, justificados como ato de fé. Milhares de pessoas presentes nesse “culto religioso” voltaram para casa achando que religiões afro são coisas de gente suja, influenciada pelas forças do mal. Essa foi a contribuição do Padre das Celebridades para a harmonia entre as religiões.
A exposição, que teve longa duração no Museu Afro Brasil, será revisitada no próximo domingo, dia 13, às 14h e retoma a discussão central da formação brasileira, além de destacar momentos decisivos do processo abolicionista.
A atividade tem duração de 1h30, é gratuita e livre para todos os públicos. Para participar da edição do dia 13 de Maio, inscreva-se através do link: https://goo.gl/nQDxjE.
Para participar das outras datas, consulte o link de inscrição no site do Museu Afro Brasil.
O Brasil carece de eventos que premiem pessoas e instituições que contribuem para o enriquecimento sócio e econômico da comunidade negra, parcela que representa mais da metade da população.
Dentro da programação do III Jantar Beneficente Sim à Igualdade Racial, que será realizado pelo Instituto Identidades do Brasil (ID_BR), no dia 17 de maio no hotel Copacabana Palace, está o Prêmio Sim à Igualdade Racial, que premiará personalidades atuantes na questão racial, entre os nomes bem conhecidos que concorrem ao prêmio estão, como Lázaro Ramos, Emicida, Karol Conká, Djamila Ribeiro, Zezé Motta, Joaquim Barbosa e o escritora Conceição Evaristo.
O vencedores ganharão uma placa dourada assinada por Vik Muniz, um dos principais artistas plásticos da atualidade. Os nomeados ao prêmio são empresas e personalidades que se destacaram nos setores Educação, Empregabilidade e Cultura durante 2017.
As cotas e ingressos individuais para quem quer participar do evento, que além do jantar terá um pocket show da cantora Iza, continuam disponíveis.
Confira os nomes de quem concorre ao prêmio.
– Pilar Educação –
Quem votou:
João Souza (CEO – Fa.Vela)
Regina Casé (Apresentadora)
Pedro Vergueiro (Executivo HSM)
Cátia Yuassa Tokoro (Executiva OI)
Ricardo Siqueira (Executivo – Fundação Dom Cabral)
Intelectualidade Negra
– Ana Maria Gonçalves
– Conceição Evaristo
– Djamila Ribeiro
Resumos:
::Ana Maria Gonçalves::
Escritora, mineira, trabalhou como publicitária em São Paulo, mas abandonou a profissão em 2002 para morar em Itaparica e escrever seu primeiro livro. Mais tarde, fixou residência em Nova Orleans.
Seu segundo romance, Um defeito de cor, de 2006, conquistou o Prêmio Casa de las Américas na categoria literatura brasileira. A obra, inspirada na vida de Luísa Mahin, conta a trajetória de uma menina nascida no Reino do Daomé e capturada como escrava aos 8 anos de idade, até a sua volta à terra natal como mulher livre.
::Conceição Evaristo::
Conceição nasceu numa favela da zona sul de Belo Horizonte, vem de uma família muito pobre, com nove irmãos e sua mãe, e teve que conciliar os estudos trabalhando como empregada doméstica, até concluir o curso normal, em 1971, já aos 25 anos. Mudou-se então para o Rio de Janeiro, onde passou num concurso público para o magistério e estudou Letras na UFRJ.
Conceição estreou na literatura na década de 90, é mestra em Literatura Brasileira pela PUC-Rio, e doutora em Literatura Comparada pela Universidade Federal Fluminense.
Suas obras abordam temas como a discriminação racial, de gênero e de classe. Atualmente, Conceição leciona na UFMG como professora visitante.
::Djamila Ribeiro::
É uma feminista e acadêmica brasileira, pesquisadora e mestre em Filosofia Política pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Tornou-se conhecida no país por seu ativismo na internet.
Graduou-se em Filosofia pela Unifesp, em 2012, e tornou-se mestre em Filosofia Política na mesma instituição, em 2015, com ênfase em teoria feminista. Suas principais atuações são nos seguintes temas: relações raciais e de gênero e feminismo. É colunista online da Carta Capital, Blogueiras Negras e Revista Azmina e possui forte presença no ambiente digital.
Em maio de 2016, foi nomeada secretária-adjunta de Direitos Humanos e Cidadania da cidade de São Paulo durante a gestão do prefeito Fernando Haddad.
Projetos de impacto
– Educafro
– Gerando Falcões
– Instituto Reação
Resumos:
::Educafro – Projeto do Frei Davi::
Rede de Pré Vestibulares Comunitários, Bolsa de Estudo em Graduação e Pós-Graduação. Educação para negros e periféricos.
O objetivo geral da EDUCAFRO é reunir pessoas voluntárias, solidárias e beneficiárias desta causa, que lutam pela inclusão de negros, em especial, e pobres em geral, nas universidades públicas, prioritariamente, ou em uma universidade particular com bolsa de estudos, com a finalidade de possibilitar empoderamento e mobilidade social para população pobre e afro-brasileira.
::Gerando Falcões – Projeto do Eduardo Lyra::
Sediado em Poá, cidade da Grande São Paulo, o projeto nasceu com o intuito de causar transformação social e mudar a realidade das periferias. O movimento começou em 2011, com pequenas ações e grandes ideias do então empreendedor social Eduardo Lyra, na época com 22 anos. A ONG foi institucionalizada em 25 de junho de 2013. No primeiro ano de fundação, o GF recebeu financiamento do Instituto PDR, que profissionaliza projetos de entidades com potencial de gerar alto impacto social.
Com o recurso, a organização conseguiu implantar sete projetos socioeducativos, que atingem mais de 100 mil jovens por ano. O crescimento médio de abrangência é de cerca de 25% ao ano.
::Instituto Reação – Projeto do Flavio Canto::
Criado pelo medalhista olímpico Flávio Canto, seu técnico Geraldo Bernardes e amigos em 2003, o Instituto Reação é uma organização não governamental que promove o desenvolvimento humano e a inclusão social por meio do esporte e da educação, fomentando o judô desde a iniciação esportiva até o alto rendimento. A proposta é utilizar o esporte como instrumento educacional e de transformação social, formando faixas pretas dentro e fora do tatame.
Mais de mil e trezentas crianças, adolescentes e jovens são beneficiados em seis polos: Rocinha, Cidade de Deus – Jacarepaguá, Cidade de Deus – Polo de Iniciação, Tubiacanga, Pequena Cruzada e Deodoro.
Inspiração
– Joana D’Arc Félix de Souza
– Joaquim Barbosa
– Zezé Motta
Resumos:
::Joana D’arc Félix de Souza::
Nascida em Franca, cidade do estado de São Paulo, filha de uma costureira e de um profissional de curtume, Joana é uma química, professora e cientista brasileira. Ganhadora de 56 prêmios na carreira, com destaque para o prêmio Kurt Politizer de Tecnologia de “Pesquisadora do Ano” em 2014.
É docente e pesquisadora na Escola Técnica Estadual (ETEC) Prof. Carmelino Corrêa Júnior, em Franca, cidade do interior de São Paulo. Atua em pesquisas envolvendo reaproveitamento e aplicação de couro e pele suína entre outros.
::Joaquim Barbosa::
É um jurista e ex-magistrado brasileiro. Foi ministro do Supremo Tribunal Federal de 2003 até 2014, tendo sido presidente do tribunal de 2012 a 2014.
Formado em Direito pela Universidade de Brasília em 1979, especializou-se em Direito e Estado. Também é mestre e doutor em Direito Público pela Universidade de Paris-II (Panthéon-Assas). De 1993 a 1995, foi professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro e, de 1997 a 2015, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro.
Foi membro do Ministério Público Federal de 1984 até 2003, quando foi indicado para o Supremo Tribunal Federal.
Em 2013, foi eleito pela Revista Time como uma das cem pessoas mais influentes do mundo e incluído pela BBC Brasil em uma lista de 10 brasileiros que foram notícia no mundo naquele ano.
::Zezé Motta::
Considerada uma das atrizes mais importantes da Teledramaturgia Brasileira, Zezé começou a carreira de atriz em 1967, estrelando a peça Roda-viva, de Chico Buarque. Em 1969, atuou em Fígaro, fígaro, Arena canta Zumbi e A vida escrachada de Joana Martini e Baby Stompanato. Em 1974, atuou em Godspell, e em 1999, participou de Orfeu (filme).
Um de seus trabalhos mais marcantes ocorreu na novela Xica da Silva.
Zezé foi homenageada na Sapucaí nos carnavais de 1989 e 2017, pelas escolas Arrastão de Cascadura e Acadêmicos do Sossego, respectivamente.
Educação e Oportunidades
– CIEP 175 – José Lins do Rego
– Escola Eleva
– Ismart
Resumos:
:CIEP 175 – JOSÉ LINS DO REGO::
Localizado em São João de Meriti, na Baixada Fluminense do Rio, a escola estadual é referência em práticas pedagógicas que atendem a Lei 10.639/03 de ensino de história e cultura afro-brasileira para os 2 mil alunos. Além de trabalharem a literatura africana em sala, desenvolvem atividades como escola de samba, Circo “Se Essa Rua Fosse Minha”, concurso de beleza negra, oficina de cinema, CIEPx – estilo TEDx Talks com pessoas locais, pré-vestibular social e outros projetos.
::Ismart::
Criado em 1999, o Instituto Social para Motivar, Apoiar e Reconhecer Talentos (Ismart) é uma entidade privada, sem fins lucrativos, que identifica jovens talentos de baixa renda, de 12 a 15 anos de idade, e lhes concede bolsas em escolas particulares de excelência e o acesso a programas de desenvolvimento e orientação profissional, do ensino fundamental à universidade.
::Eleva::
Holding de educação básica, investimento do Gera Venture Capital que está construindo uma rede de escolas de alta qualidade acadêmica, sustentada por uma plataforma pedagógica de impacto. Um projeto bem inovador.
Hoje, o sistema reúne grandes redes de escola no Rio de Janeiro, Minas Gerais, Paraná, Santa Catarina e Mato Grosso do Sul com um total de 52 mil alunos e 4.500 colaboradores em nossas unidades.
Atualmente, a Escola Eleva do Rio de Janeiro iniciou um programa de bolsas de estudos integrais para crianças negras.
– Pilar Cultura –
Quem votou: Silvia Martins (CEO do site Mundo Negro)
Joca Guanaes (Publicitário)
Keli Santos (Cris Vianna – Atriz)
Preta Gil (cantora)
Asfilofio de Oliveira Filho “Filó” (produtor cultural)
Danilo Ferreira (Ator)
Representatividade em novos formatos
– Hugo Gloss
– Nátaly Neri
– Rayza Nicácio
Resumos:
::Hugo Gloss::
Blogueiro, Bruno Rocha conhecido como Hugo Gloss é formado em jornalismo e pedagogia, com mestrado em relações públicas que ficou conhecido em 2010 no Twitter. Em 2016, Hugo Gloss virou apresentador de TV, na MTV. Atualmente, é apresentador e faz coberturas de grandes eventos como o Oscar e Billboard Music Awards.
::Nátaly Neri::
Youtuber, dona do canal Afros e afins, estudante de Ciências Sociais na Unifesp (SP) tem interesses em moda e beleza. Com um ano de canal Nátaly foi reconhecida pelo Youtube como uma digital influencer, gravou um vídeo com Jout Jout e foi uma das convidadas da GNT para um painel no evento Teia, que discute questões como coletividade e empatia.
::Rayza Nicácio::
Youtuber, estudante de comunicação social, nasceu com seus cabelos cacheados, mas por muitos anos alisava os fios. Somente em 2009 experimentou a liberdade dos cabelos naturais, sendo hoje uma defensora da sua identidade original, assunto principal no seu canal do Youtube.
Raça em pauta
– Elísio Lopes
– Fátima Bernardes
– Luciana Barreto
Resumos:
::Elísio Lopes::
Diretor, produtor cultural, dramaturgo e roteirista de cinema e TV. Diretor artístico de estrelas da música como Ivete Sangalo e Saulo, dramaturgo com mais de 20 peças teatrais encenadas em todo o país e roteirista de curtas-metragens e programas para a TV, sem falar na direção de espetáculos teatrais e grandes celebrações como a Noite da Beleza Negra do Ilê Aiyê e Pérolas Mistas, Elísio Lopes Jr é um dos mais respeitados e multifacetados artistas da atualidade, atualmente dirige o programa Lázinho com você.
::Fátima Bernardes::
É uma jornalista e apresentadora de televisão brasileira. Entrou na Rede Globo em 1987 como repórter, e depois ficou nacionalmente conhecida em 1989 apresentando o Jornal da Globo, passou também pelo Fantástico, Jornal Hoje e Jornal Nacional, onde ficou de 1998 a 2011. Desde 2012, passou a ter um programa próprio durante as manhãs na Rede Globo chamado de Encontro com Fátima Bernardes.
::Luciana Barreto::
Luciana Barreto, âncora e editora-executiva do Repórter Brasil Tarde, que vai ao ar de segunda a sexta, ao meio-dia, na TV Brasil. Tem ampla experiência em televisão, se destacando pela facilidade com que realiza coberturas especiais ao vivo. Formada pela Puc-Rio, começou a carreira aos 23 anos como repórter e apresentadora. Luciana também é conhecida por sempre produzir pautas raciais em seu jornal.
Música
– Emicida
– Karol Conka
– Liniker
Resumos:
::Emicida::
Rapper, cantor e compositor brasileiro. É considerado uma das maiores revelações do hip hop do Brasil da década de 2000. O nome “Emicida” é uma fusão das palavras “MC” e “homicida”, por causa de suas constantes vitórias nas batalhas de improvisação.
::Karol Conka::
Rapper, cantora e compositora brasileira, além de atriz, produtora, modelo e apresentadora. É conhecida por suas canções que exaltam a força da mulher na sociedade.
::Liniker::
Vocalista da banda Liniker e os Caramelows. Também compõe e canta músicas de gênero soul e black music.
Produção cultural
– Carlinhos Brown
– Lázaro Ramos
– Vovô do Ilê
::Lázaro Ramos::
Resumos:
Ator, apresentador, cineasta e escritor de literatura infantil brasileiro. O ator foi indicado ao Emmy (2007) de melhor ator por sua interpretação na novela Cobras & Lagartos, como Foguinho. Recentemente, Lazaro dirigiu a peça O jornal e O topo da montanha e está a frente dos Programas Lazinho com você e Espelho.
::Carlinhos Brown::
Cantor, percussionista, compositor, arranjador, produtor, artista plástico, agitador cultural e candomblecista brasileiro. Atualmente tem participação ativa em programas televisivos (The Voice Brasil e The Voice Kids), levando a temática religiosa africana para os palcos.
::Vovô do ilê::
Antônio Carlos dos Santos, conhecido como Vovô do Ilê, é fundador e presidente do primeiro bloco afro da Bahia, o Ilê Aiyê. Ao fundar o Ilê Aiyê, em 1º de novembro de 1974, Vovô, juntamente com Apolônio de Jesus, tinha como principal preocupação preservar e promover as tradições culturais africanas e afro-brasileiras existentes na Bahia, bem como denunciar e combater o preconceito étnico-racial. Desde a criação do bloco, dedica-se exclusivamente a sua administração.
Assassinatos à sangue frio em primeiro plano seguidos de sorrisos e cenas de dança. Essas são as imagens que mais ficaram na minha cabeça depois de assistir ao vídeo “This is America” do Donald Glover, também conhecido como Childish Gambino.
A bomba, dirigida por Hiro Murai, foi lançada no sábado à noite, e já conta com mais 16 milhões de visualizações no Youtube, até a segunda de manhã quando esse texto foi escrito.
A temática do trabalho é a questão do desarmamento, muito discutida nos EUA, onde as forças mais tradicionais da terra do Tio Sam não abrem mão do direito de se defender por conta própria, esquecendo das que aproveitam desse direito para cometer crimes. Esse “direito” resultou na morte de muitas pessoas inocentes, inclusive dentro de um igreja, no caso Massacre da igreja de Charleston, onde 9 pessoas, todas negras, foram mortas a tiros por Dylann Roof, em 17 junho de 2015. E uma das cenas mais fortes da obra prima de Glover, faz menção a essa tragédia.
O clipe é uma experiencia para ser assistida mais de uma vez, até porque na primeira, acabamos agindo da forma esperada e calculada por Murai. Depois do tiro, nossos olhos se hipnotizam com a beleza, carisma, movimentos de Glover, e os jovens negros que o acompanham, deixando passar o caos que acontece em segundo plano, onde há muitas mensagens sublimares, outra bem explicitas mesmo, envolvendo a tormentosa relação entre a comunidade negra e a polícia.
O Twitter foi uma das redes onde os brasileiros mais repercutiram sobre esse tapão na cara da sociedade chamado “This is America” e eles me ajudaram bastante a tentar entender alguns frames do vídeo:
Não sei se vocês reparam, mas a música e a confusão param quando ele fuma. Fora que ela vai para um lugar alto e parece feliz. Mulher, carros, etc… Vi que o beck é meio que a representação de um refúgio, mas depois você é trazido de volta ao caos (final do clipe) pic.twitter.com/kur22bvY3n
eu já assisti #ThisIsAmerica 71 vezes e ainda tô boquiaberta com a consciencia corporal desse homem. é simplesmente incrível como os movimentos oscilam entre rigidos e descontraidos (isso aqui eu classifiquei com base nos meus conhecimentos em porra nenhuma) e a relaçao que eles
Em um momento do vídeo, ao fundo tem uma imagem de um homem à cavalo. É uma referencia ai livro “Behold the Pale Horse”, escrito um ex-agente do serviço secreto da Marinha americana, que jogou no ventilador muitos podres escondidos em arquivos secretos, que falavam inclusive da motivação racial por trás da morte do presidente JFK.
So much of this video is immediately missed because of the dancing. But the dancing also serves as a metaphor. It is cultural identity. It is self defense. It is a survival tool. #ThisIsAmericapic.twitter.com/37jap2PmXL
A Nave Gris Cia Cênica leva ao Teatro Sesc Ipiranga nos dias 11,12 e 13 de maio o espetáculo de dança “A-VÓS“, integrando a programação do “Projeto Fricções“, que aborda a temática da negritude em atividades de diversas linguagens artísticas, como rodas de dança, bate-papos e aulas que acontecem na unidade até junho. O ingresso custa R$ 20 a inteira e R$ 10 a meia.
Fotos Reprodução Internet
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O espetáculo homenageia os ancestrais através da dança. Para a companhia, “a reverência aos mais velhos é como assumir um ato estético político, indo na contracorrente de uma sociedade que esquece o passado e descarta sem pudores o que considera ultrapassado ou obsoleto, trazendo no próprio corpo o horror ao envelhecimento”.
Com inspiração em rituais funerários dos índios Bororos, na dança butô e nas danças e narrativas de tradição banto, os bailarinos-criadores dançam a sabedoria coroada por cabelos alvos, em uma trilha que leva ao encontro dos “avós do mundo”, os ancestrais míticos.
O projeto foi contemplado pela 21ª Edição do Programa de Fomento à Dança para a Cidade de São Paulo. Através dele, a Nave Gris Cia Cênica também realizou a circulação dos trabalhos Minha Cabeça me Salva ou me Perde e Brevidade, além do II Encontro Mulheres Negras na Dança.
O espetáculo acontece no dia 11 das 14h às 15, 11 e 12/5 das 21h Às 23 e domingo, das 18h às 19h. O SESC Ipiranga fica na Rua Bom Pastor, 822. O local está sujeito a lotação e não é recomendado para menores de 12 anos. Duvidas: www.sescsp.org.br
Novelas de época, como Deus Salve o Rei, trama das 19h da Globo carecem de atores negros. A justificativa é que por ser uma novela Medieval, antes do período da escravidão, não haveria motivos para a presença de pessoas negras circulando nos vilarejos, mesmo sendo uma cidade fictícia.
Em Londres, o Achilles de Troia, do seriado da Netflix é negro. Gerou críticas do público? Claro que sim, mas os roteiristas bancaram o personagem e a escalação não esperada porque quando falamos de ficção, tudo é possível.
No Brasil, a próxima novela das 21 h, Segundo Sol, já vem gerando discussão sobre questões raciais antes mesmo do seu lançamento. Motivo: um elenco com protagonistas que não representam o fenótipo de 80% da população local e é claro, a Globo tem uma resposta para justificar o injustificável.
“Os critérios de escalação de uma novela são técnicos e artísticos. A Globo não pauta as escalações de suas obras por cor de pele, mas pela adequação ao perfil do personagem, talento e disponibilidade do elenco. E acredita que esta é a forma mais correta de fazer isso. Uma história como a de Segundo Sol, também pelo fato de se passar na Bahia, nos traz muitas oportunidades e, sem dúvida, reflexões sobre diversidade na sociedade, que serão abordadas ao longo da novela, que está estruturada em duas fases. As manifestações críticas que vimos até agora estão baseadas sobretudo na divulgação da primeira fase da novela, que se concentra na trama que vai desencadear as demais. Estamos atentos, ouvindo e acompanhando esses comentários, seguros de que ainda temos muita história pela frente!”.
Se os critérios passam por questões como talentos dos atores e não há negros protagonistas, na primeira fase, que é a mais importante para cativar a audiência e apresentar a história, a impressão que fica é que só brancos tem competência para papel de destaque. Dizer que as manifestações trazem reflexões sobre a diversidade, é admitir a limitação intelectual dos roteiristas que precisam de críticas para perceber que a trama não é fidedigna em termos de representação étnica e ainda nos pedem paciência para esperar até a segunda fase do folhetim.
Para Diretor negro, roteiristas são o problema
“Eles colocaram que se trata de perfil. Eu pergunto quem faz o perfil? Quem faz isso é quem escreve o roteiro, quem coloca as características dos personagens. Então eu acho que o problema principal está aí”, argumenta Anderson Jesus, ator, diretor e roteirista, dono da produtora Iracema Rosa Filmes que é parceira do canal da TV a cabo A &E. “Nós negros não estamos em primeiro plano na cabeça de quem escreve as personagens. Outro problema é essa questão de perfil, que geralmente está relacionado com o visual. Por exemplo, se estamos falando em um médico dono de uma clínica, o ator negro não é considerado”. Para Anderson, o autor é o problema, e os negros ficam sempre destinados a papéis estereotipados. “Se é um médico negro, tem que ter algo por trás, como uma deficiência ou abuso na infância ou foi resgatado por uma família branca. Sempre tem algum trauma”, detalha o diretor. De acordo com ele, o papel de negros é o convencional personagem ligado à criminalidade
Para ele, o cenário só muda com atores e diretores negros. “Eu acho que o problema não está na cúpula da Globo, está mais abaixo, na mão de pessoas que tomam decisões, e não temos negros lá, ou qualquer pessoa realmente preocupada com a inclusão. E eu acho que a televisão, o áudio visual é um dos principais causadores do racismo no Brasil, por que ela é ainda uma forte formadora de opinião e movimenta as massas que estranham a presença de negros em aeroportos e lugares elitizados, justamente por que isso não aparece na mídia”.
Ator baiano acha que novela desrespeita a história da Bahia
“Eu acho essa novela um disparate, um desrespeito com a nossa história ancestral. A Rede Globo é uma concessão pública, nós pagamos para que ela exista”, explica o ator baiano do Bando de Teatro Olodum, Sergio Laurentino. Para ele a dramaturgia brasileira é “embranquecida graças ao seu Jorge Amado e outros”.
“Eu estou numa cidade chamada Salvador que tem 89% de negros e é impossível que no século 21 a gente tenha qualquer tipo de história que essa ancestralidade, a minha pele, a minha cor, o que eu sou, não seja contado nessa novela. É preciso fazer histórias que contem a nossa história”, argumenta o ator, que também estuda Jornalismo. “É impossível contar a história dessa cidade, sem negros, só do ponto de vista dos brancos. Eu vou fazer de tudo para boicotar essa novela, juntamente com a Nova Frente Negra Brasileira, juntamente com a Freta Favela, nós vamos fazer de tudo para boicotar essa novela. Chega dessa parcimônia”, protesta Laurentino.
Fiz duas faculdades, falo 4 línguas e não consigo trabalho aqui no Brasil
Taiguara é um dos rostos negros mais conhecidos no mundo artístico e da moda. Mesmo com uma vasta experiencia internacional, duas faculdades, fluência em quatro idiomas, aperfeiçoamento de suas técnicas artísticas em canto e dança, ele se frustra ao falar como a beleza limitou suas opções de trabalho, tendo em vista que corpos negros não servem pra interpretar personagens dentro do padrão de cidadão comum.
“Quando voltei para o Brasil, achei que fosse fazer sucesso no meu país. Fiz Presença de Anita e foi um grande papel que qualquer branco que tivesse feito o personagem do jeito que eu fiz, estaria contratado até hoje. Acontece que virei símbolo sexual, só consegui personagens que tem a ver com corpo ou beleza. Eu sofro um preconceito às avessas por ser um negro bonito. Se eu fosse um negro com um aspecto ´mais ordinário’ conseguiria mais trabalho. Eu era muito bonito para ser escravo ou bandido”, relata o ator paulistano.
Taiguara fez um temporada recente na Irlanda e Inglaterra com a peça As Duas Mortes de Roger Casement, onde ele fez uma coisa rara, que foi interpretar um personagem sem nenhum apelo físico, ele foi contratado pela sua competência em atuar. “Fiz essa temporada lá fora e sempre trabalhei mais por lá, não tinha essa coisa de corpo. Nessa peça eu até cantava. Hoje estou desempregado, mas sempre mais sempre preparado para uma oportunidade”, finaliza.
“Tu é preta, pobre você acha mesmo que eles vão te dar uma oportunidade que não seja de escrava e empregada?”
“ Eu sempre soube que não seria fácil ser protagonista um dia. Me lembro como se fosse hoje, depois de três anos de escola de teatro. Formada, liguei pros meus pais toda feliz e disse que agora eu era atriz. Mainha disse `parabéns minha filha você merece e que seus caminhos se abram pra sua felicidade e realização´. Na vez de painho, ele disse as palavras mais duras que já ouvi na vida `minha filha, deixe dessa história. Volte pra cá, esse negócio de artista, artista! Tu é preta, pobre você acha mesmo que eles vão te dar uma oportunidade que não seja de escrava e empregada?’”. Esse é relato da atriz Érica Ribeiro, muita conhecida pela garotada por sua atuação programa Zoo da Zu, do canal Discovery Kids, além de atuar em peças e ainda comandar o canal Vai Trazendo, seu canal no Youtube.
“Eu chorei muito, mas no fundo eu sabia que Painho não desacreditava de mim, mas sim de quem escreve as nossas histórias. As nossas histórias que por vezes nos são negado o protagonismo. Quer dizer que Giovana Antonelli pode ser Angelicat, fazer a Capitu(Garota de Programa Ficha Rosa) Jade(muçulmana mesmo sabendo a grande concentração de muçulmanos de pele escura) Anita Garibaldi( Heroína popular) Alice( protagonista em uma novela com plano de fundo a cultura oriental) e Luzia em Sol Nascente como a cara do Brasil. Só falta ela fazer a Daniela e sair cantando “A cor dessa cidade sou eu”, provoca Érica.
“Chega do título de preto único, chega de sermos cotas nas produções. Lázaro e Tais são incríveis e estão fazendo um vendaval nos últimos tempos em questão de representatividade. Mas, ainda é pouco, bem pouco perto dos talentos desconhecidos espalhados pelos quatro cantos do país. A Bahia carrega um histórico de brilhantismo artístico imensurável. Seja através da música, dança, escrita e atuações. O carioca pode chiar em novela com enredo paulistano. Vai o baiano cantar pra ver o que acontece. Esses privilégios precisam ser revistos”, encerra a Youtuber.
Boicotar ou não?
As redes sociais geraram muitas manifestações contra a escalação de atores da novela Segundo Sol, não só dos artistas, mas também do público. Se para falarmos das nossas mazelas no programa de Fátima eles nos encontraram, porque para contar nossas histórias como protagonistas não somos convidados?
Enquanto não doer na audiência, a Globo continuará achando que está acertando.
Com o objetivo de discutir a importância da manutenção da memória e da resistência das mulheres negras, grandes zeladoras dos ancestrais, filhas de santo, mães de santo e também compreender a concepção do feminino dentro da visão de mundo africana, a partir da narrativa yorubá, o curso Candomblé, Feminino e Ancestralidade, que será realizado através da iniciativa do Coletivo Di Jejê, visa discutir as interfaces entre feminismo, feminino, ancestralidade e candomblé.
A aula presencial acontecerá no dia 29 de abril, de 13hrs às 18hrs, em São Paulo, no Estúdio NU. As inscrições já estão abertas, serão oferecidas 20 vagas e é livre para todos que têm interesse na temática. Contudo, a metodologia de trabalho foi desenvolvida pensando na mulher negra e suas narrativas.
A mediação do curso será feita pela fundadora do coletivo Di Jejê, Jaqueline Conceição, que atua com pesquisa, formação e disseminação de conhecimento sobre a formação do indivíduo negro (na perspectiva da Teoria Critica da Sociedade) no Brasil, e as relações entre feminismo/feminino na cultura tradicional de matriz africana presente no candomblé.
O Di Jejê é um local de formação e produção de conhecimento sobre a mulher negra, para a mulher negra e é feito por mulheres negras, com o proposito de potencializar o lugar de troca, de fala, de transformação, de poder, de conhecimento para as mulheres negras.
Com a promoção de 50% de desconto nas inscrições do curso, fica o valor de R$ 75 e estão inclusos: certificado, café e apostila de textos. Para realizar a inscrição, acesse o site.
Com o proposito de promover o conhecimento da produção tecnológica dos povos africanos e descendentes na diáspora, que por séculos foi ocultada, o professor mestre em História Social pela USP, pesquisador, e palestrante, Carlos Eduardo Dias Machado, se une a Ação Educativa para a realização do curso de História da Ciência, Tecnologia e Inovação Africana e Afrodescendente. As aulas acontecem durante todo o mês de maio, sempre aos sábados, das 9h às 13h. O investimento é de R$ 250,00.
Segundo ele, é impossível saber realmente história da ciência sem também aprender sobre o legado dos inventores de origem africana.
“Durante séculos criou-se uma imagem negativa a respeito da inteligência da população negra como inexistente e uma gama de intelectuais brancos como Hegel, Montesquieu, Hume, Kant, Lineu, Weber, Marx, Darwin, Victor Hugo e Voltaire desenvolveram teses afirmando que mulheres e homens negros não são humanos nem dotados de inteligência, não criaram impérios, civilizações e ciência, sendo isto uma prerrogativa do homem branco e base do racismo científico”.
A parceria mostra também a busca pelo autoconhecimento, a importância de perceber a história do povo preto através dos antepassados na história. A cultura africana é rica e diversificada e por meio do curso, será possível entender a relação da ciência e tecnologia com tudo isso. Para mais informações, basta contatar alexandre.suenaga@acaoeducativa.org.br, ligar para (11) 3151-2333 (ramal 177) ou acessar a página do evento.
Jovem negro e da periferia, o sonho de Guilherme Pacheco, vulgo Gxlden, assim como o de alguns outros jovens, é dar do bom e do melhor para a própria família. Contrariando as estatistificas e sendo um sobrevivente, ele segue vivendo de música e realizando seus sonhos aos poucos.
E foi em busca desses sonhos que ele chegou na UFO Records, gravadora que o acolheu e propôs a construção desses sonhos, transformando-os em realidade. Com isso, o rapper deu inicio as gravações do seu segundo disco, intitulado “Visões de Cria” e na última quarta (18) lançou o videoclipe do primeiro single, “Coretando Notas“.
A música tem beat de Pedro Soffiatti e mixagem e masterização por Charles Boricceli. O videoclipe foi dirigido e filmado por Marcus Forster, na Chapela Records, com fotografia de Gabrielle Marvazeli (Gabbo) e produção executiva de Thiago Diogo.
Segundo Gxlden, nesse single é possível vê-lo de uma forma diferente. “Mais melódico e sem perder a essência de cria. Representa um novo rumo na minha carreira. Mais maduro, menos orgulhoso, mais analítico do jogo e com certeza, mais evoluído musicalmente”.
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“Coretando Notas para mim, significa: “vim tomar o que é meu”, “pegar o que é nosso por direito”, mesmo a sociedade não querendo, as barreiras da vida impedindo, e as pessoas que não gostam de você por perto, mesmo com tudo isso, coretando notas pra mim é nesse sentido“, explica o rapper sobre o significado da música.
Gxlden se mostrou feliz com o resultado do lançamento, que já passa de 21 mil visualizações no youtube e deve chegar as plataformas de streaming em breve.
“O que marcou bastante é ver que, apesar de muito tempo sem lançar nada, ainda tenho fãs e pessoas que admiram meu trabalho, pessoas que compram o barulho do cria e isso não tem preço […] Foi foda fazer o clipe, muito trabalho. A equipe da UFO sabe bem disso, foi com muito suor e luta para conseguirmos chegar nesse resultado. Quero agradecer aqui a todos que ajudaram nesse trabalho, especialmente a Marcos Forster e Thiago Diogo“.
As parcerias no próximo álbum ainda não foram reveladas, ele prefere manter segredo para atiçar a curiosidade do público. O que se sabe, até o momento, é que “Visões de Cria” possui oito faixas gravadas. “O álbum está chegando pesado, só isso que tenho para dizer. A produção é do Pedro Soffiatti e do Charles Boricceli, todo gravado na UFO Records. Está lindo! Não vejo a hora de mostrar para o mundo”.
A explicação da letra já está disponível no Genius, clique aqui. Confira o videoclipe!
Minhas filhas mudaram de escola. Tivemos que comprar novos uniformes. Por ser um colégio tradicional, quis garantir que encontraríamos todas as peças, das três crianças, então antecipei a compra dos uniformes para novembro. Quando as aulas começaram em fevereiro, elas reclamaram que as calças estavam desconfortáveis. Consegui trocar. Ainda não ficaram satisfeitas. Na segunda troca, a vendedora, a mesma que vendeu e realizou as trocas, disse que talvez fosse o caso delas compraram um outro modelo, que ela só não me ofereceu de primeira, por ser 20 reais mais caro. Ou seja, ao ver uma mãe negra com três filhas de escola particular, ela assumiu que não teríamos dinheiro para comprar o uniforme com melhor tecido e acabamento, e nos vendeu o mais barato sem nem me oferecer as opções. Se fosse o caso de optar pelo mais barato, o que eu provavelmente faria antes de saber da má qualidade, deveria ser uma decisão minha e não dela. E foi um grande transtorno.
O racismo à brasileira tem dessas. É sutil, subliminar, mas quase onipresente em espaços públicos.
Os recentes casos de racismo envolvendo homens negros em restaurantes, Burguer King no Brasil e Startbucks nos EUA, repercutiram fatos que não aconteceram pela primeira vez e nem a última, e que exemplifica a forma como funcionários de estabelecimentos comerciais ainda associam a comunidade negra ao crime e extrema pobreza ou a alguém não merecedor de estar em certos espaços, por tanto, sujeitos a comportamentos racistas e preconceituosos de que quem deveria os servir.
O CEO da Startbucks Kevin Johnson, ao invés de mandar assessoria de imprensa emitir o boletim padrão que varias empresas publicam quando são acusadas de racismo, onde alegam ser a favor da diversidade e contra discriminação ( mas jamais reconhecem que precisam mudar), assumiu a responsabilidade pelo ato da loja em Filadélfia, onde dois jovens empresários foram presos, após um funcionário da loja chamar a policia alegando que estavam no local sem consumir. “Eu conserto, é responsabilidade minha”, repetiu Johnson em diversas entrevistas que deu.
Resolvi perguntar aos nosso leitores sobre situações de constrangimento que eles sofreram em estabelecimentos comerciais Seguem alguns casos (os nomes das vítimas não serão divulgados):
Negra, grávida e perseguida na loja
“Fomos fazer compras eu, minha irmã grávida de 33 semanas e o pai da minha filha. Quando entramos no corredor dos produtos de toucador ‘ por acaso’ encontramos o segurança mexendo no celular no mesmo corredor. Cada corredor que a gente ia ‘por acaso’ de novo encontrávamos com ele.
Esse ” por acaso” aconteceu inacreditáveis cinco vezes, até que a minha irmã parou o carrinho e falou diretamente pra ele que o valor do cartão que ela estava carregando era no mínimo duas vezes o salário dele. Então encontrei uma funcionaria no corredor e falei que tinha a moral de largar o carrinho no meio do mercado, reclamar na central e colocar no Reclame Aqui.
Ah, a resposta que recebi: “Foi um terrível mal entendido… A senhora me desculpe isso não vai acontecer mais…”
Pra finalizar, passamos no caixa e quem tava no cantinho com o rabicó entre as pernas, e cara de capitão do mato? O lixo orgânico que alguém denominou segurança. Foi no mercado no mercado Extra Cursino Zona Sul de São Paulo.”.
Ninguém me atendeu
“Meu pai me deu uma bolada para comprar roupas, sapatos, bijuterias, bolsa, o pacote completo. Entrei numa loja, estava vazia e ninguém me atendeu. Dei uma olhada e saí. Fui em outras lojas e comprei tudo que podia e não podia, passei em frente a loja onde fui ignorada, cheia de sacolas e ficaram todas espantadas. Eu não compro em loja racista.”
Brancos não me querem lá
“Fui a um supermercado de luxo em um shopping da minha cidade, Recife, e lá dentro fomos perseguidos por um segurança. Ele estava em todos os corredores em que nós estávamos, foi um constrangimento ímpar. Acabamos indo embora e desde então tive receio em visitar esse shopping. Ainda não consigo me sentir confortável em locais elitistas e frequentados por pessoas brancas, eles não me querem lá.”
Todos me olharam como se eu fosse ladra
“Em uma loja de roupas de Porto Alegre. Estava com uma amiga branca, olhamos algumas peças, experimentei algumas, gostei e decidi levar. A compra deu um valor de trezentos reais. Quando a moça do caixa passou meu cartão a transação não completou. Pedi para passar novamente, o mesmo problema. Calmamente perguntei ‘você está passando no débito? ‘, resposta ‘desculpa, achei que era no crédito ‘. Até aí tudo bem. Saímos da loja com as sacolas, começou um sinal sonoro, não demos bola. Poucos metros depois tem um segurança atrás de nós, ‘moça, poderia retornar a loja, acho que deu algum problema com suas compras ‘. Ele foi direto em mim. Uma vergonha tomou conta do meu ser, todos que estavam por perto me olhavam como se eu fosse uma ladra. A moça não tirou o lacre de segurança. A gerente da loja, que é negra, conseguiu me tranquilizar, e disse que o caso não ficaria assim. A moça foi despedida, não foi o primeiro caso de racismo em que ela esteve envolvida. Aliás a gerente me disse que inclusive ela não aceitava suas ordens e questionava sua forma de trabalhar.”
Assim como no caso da Starbucks, filmar ações racistas praticadas por funcionários ou qualquer tipo de flagrante de abuso, tem sido um procedimento muito usado para dar o flagrante.
A cor da pele não pode ser motivo para arruinar a experiência de sair para comer ou fazer compras. Se sentiu ofendida ou ofendido, reclame. Às vezes é necessário um escândalo para mudar o padrão de atendimento, mas mesmo de forma mais discreta, como uma baixa nota da página da empresa no Facebook, por exemplo, já pode render bons resultados.