Com apenas seis episódios em sua 1ª temporada, Sangue e Água (Blood & Water) é a segunda de origem africana apresentada na Netflix (a primeira foi Queen Sono) e conta a história de uma garota da África do Sul, Puleng Khumalo (Ama Qamata), que tenta encontrar sua irmã Phumele há muito sequestrada por uma rede traficantes de pessoas.
A série sul-africana da Netflix faz parte de um pacote de séries teen nas quais a plataforma está apostando, incluindo títulos como Riverdale, 13 Reasons Why e Outer Banks. E já que a estratégia está dando tão certo, nos perguntamos: Sangue e Água terá uma 2ª temporada?
A verdade é que, até o momento, não há nenhuma sinalização da Netflix sobre uma segunda temporada de Sangue e Água. Normalmente, o streaming tem uma tendência a aguardar algumas semanas, o que pode chegar até dois meses, para avaliar os dados de exibição de uma série e só assim decidir pela sua renovação ou não.
Há alguns sinais positivos no ar, para que a série seja renovada, a outra série sul-africana, Queen Sono, já foi renovada para uma 2ª temporada. Outro bom ponto é que circula pelo twitter um vídeo dos atores principais reagindo a notícia de que a série foi renovada e terá sim uma segunda temporada; veja:
Neste final de semana, Nina Silva, CEO do Movimento Black Money, comandará o Instagram do apresentador Fábio Porchat.
O Black Money é uma plataforma on-line – Marketplace – que permite a conexão entre empreendedores e consumidores negros. “Nosso objetivo é ser mais do que um Marketplace para negócios negros, mas uma ferramenta para gerar autonomia e prosperidade para comunidade negra, dentro dos valores afrocentrados. Queremos auxiliá-los a utilizar seu poder econômico e populacional em seu próprio benefício”.
Durante o final de semana, Nina dará espaço para afroempreendedores falarem sobre seus negócios durante lives que ocorrerão durante toda a sua permanência na rede social do apresentador, sempre falando sobre empreendimentos e iniciativas, usando a rede de acordo com a iniciativa Black Money.
“Vou comandar o instagram do Fábio Porchat até segunda-feira (15). Durante esse tempo, através da #VozesNegrasImportam, vamos conversar sobre diversos assuntos do meu cotidiano: inovação, transformação digital, futuro do trabalho, finanças, #blackmoney, empreendedorismo, gestão de negócios, desigualdades raciais e nossa sociedade. Além de fortalecer o rolê de empreendimentos negros. Sejam bem-vindxs ao meu mundo! Bora nessa?”. Para acompanhar todo o conteúdo é só seguir @ninasilvaperfil no Instagram.
As recentes expressões de racismo no Brasil e nos EUA fizeram com que a temática racial ganhasse os holofotes e passasse a fazer parte de vários espaços de discussão seja nas redes sociais seja nos programas de rádio e televisão. O dado em comum na abordagem da temática era a tentativa de estabelecer comparativos entre o Racismo nos EUA e o Racismo no Brasil. E, em todas as análises, a violência policial era destacada como expressão máxima do racismo. Afinal, as mortes de George Floyd e João Pedro se apresentaram como fatos inegáveis do racismo praticado pelas polícias de lá e daqui.
No bojo das discussões, também se buscavam estabelecer comparações entre outras variáveis da vida social em que o racismo se manifestara como, por exemplo, nas áreas de educação, mercado de trabalho e saúde. Neste particular, vale destacar que a pandemia da covid-19 também materializa o racismo. Afinal, tanto lá quanto cá, as comunidades negras ocupam as primeiras posições no ranking da letalidade da doença mesmo sendo minoria entre os infectados. Por fim, vale destacar também a tentativa de se explicar as diferenças na forma com que estadunidenses de reação aos casos de racismo promovidos pelos respectivos estados.
Entretanto, todos esses debates despertaram em mim a necessidade se abordar algo que vem sendo quase que negligenciado em todas as discussões sobre racismo. É recorrente, e salutar, discutir os efeitos do racismo na sociedade brasileira sob a ótica da geração e perpetuação da pobreza entre os descendentes dos escravizados – nós, os negros e negras. Todavia, quase nada é escrito sobre a geração e perpetuação de riqueza que esse mesmo fenômeno (O RACISMO) perpetuou entre os brancos.
Portanto, se as condições de vida dos negros de hoje são resultantes do processo de exploração que seus antepassados foram submetidos durante a escravidão e também dos efeitos do racismo no pós-abolição, pode-se afirmar que as condições de vida dos brancos de hoje também são resultantes do mesmo processo, porém usufruindo das riquezas por ele geradas.
Se essa afirmação for verdadeira (e é), será preciso abrir uma janela de discussão e de pesquisa profunda para que se possa fazer uma espécie de genealogia da riqueza no país remontando desde à origem do processo escravocrata e racista, passando pelas leis racistas de incentivo à imigração europeia do final do século XIX que tanto enche de orgulho os seus descendentes. Um dado que pode facilitar essa pesquisa é que, ao contrário do que ocorreu com os documentos da escravidão, há muito mais registros e documentos que possibilitarão a identificação das famílias que se beneficiaram com o racismo no Brasil.
Na prática, essa identificação pode não trazer nenhuma compensação monetária aos descendentes dos povos escravizados, mas servirá, ao menos, para mostrar que não é apenas nas mãos da polícia que há gotas de sangue negro.
* Graduado em Ciências Sociais pela Universidade Federal da Bahia; Consultor de Projetos Sociais e Ambientais; e Pai de Beatriz, Letícia e Martin.
Texto de Fernando Campo Grande, publicado originalmente no site Kolmeia.net
No final de 2019, fui surpreendido pela série da Watchmen produzida pela HBO. Minhas expectativas estavam altas graças aos trailers de divulgação e por ser fã declarado da DC comics. Porém, não estava preparado pelo que estava por vir ,uma vez que a série já começa pelo massacre da cidade de Tulsa – Oklahoma/EUA.
Trailer da série
Confesso que nunca soube sobre essa história, e o próprio diretor (Damon Lindelof) revelou só ter conhecido ao fazer pesquisas para a série. A partir dessa curiosidade me despertou uma pergunta: o quanto de fato sabemos sobre a história negra no Brasil.
Infelizmente, ainda hoje os cerca de 54% da população ainda não possuem as ferramentas necessárias tanto para conhecer a sua própria história, tampouco para contar a sua própria. Logo, esse texto irá escolher um determinado período: a abolição.
Já adianto que a função desta postagem serve para provocar a mesma curiosidade que o primeiro episódio de Watchmen provocou em mim, e se pelo menos uma pessoa que ler de fato for pesquisar sobre 13 de maio, já estarei extremamente grato.
O que estava acontecendo antes da Princesa Isabel assinar a lei áurea?
Aposto que na escola você deve ter ouvido a seguinte narrativa:
” no dia 13 de maio, a princesa Isabel assinou a lei áurea, pondo fim a escravidão dos negros”
Durante muito tempo boa parte da população decorou essa frase tal como os versos do hino nacional. Na verdade, houve até algumas adaptações para TV a colocando como redentora e tudo mais. No entanto, a história não foi bem assim.
Assim como em Watchmen, a história foi bem sangrenta e com vários episódios
Não tivemos um massacre como da cidade de Tulsa, mas nossa história contou com massacres e tramas. Para prepará-lo melhor, assim como nos flashbacks da série da HBO, vamos deixar uma pergunta: Já perceberam que os negros raramente aparecem como protagonista nos atos históricos no Brasil?
Então, é sempre bom relembrar o óbvio, ou seja, tudo isso ocorreu graças a dois fatores. O primeiro deles é que negros eram vistos como propriedade e não como pessoas, quem dirá seres pensantes. O segundo, e também muito importante, o ensino de qualidade estava disponível apenas para as classes dominantes.
Dessa forma, ainda que você fosse branco, se não fosse da classe dominante, muito provavelmente seria analfabeto e corria o risco de não ser tratado como “Branco”. Para o subtítulo desse bloco fazer sentido, vamos falar de um evento em específico, A Guerra do Paraguai.
Esse é outro exemplo de como passamos batidos por eventos chaves da nossa história. Afinal, quantas vezes você ouviu a mentira de que o Brasil sempre foi pacífico? Pois bem, para se ter uma ideia, guardadas as devidas proporções, a Guerra do Paraguai foi um dois maiores conflitos armados do continente sul americano. Ouso dizer que pode ter sido um dos maiores da América. Inclusive, vale muito a pena assistir ao documentário Guerras do Brasil.doc e claro uma conversa com algum pesquisador de história da sua cidade.
Qual a importância da guerra do Paraguai para a abolição da escravidão?
Para exemplificar melhor, irei citar o significado da palavra catalisador. De acordo com o dicionário Michaelis, catalisador é uma substância que altera a velocidade de uma reação química. Com isso, A Guerra do Paraguai foi o catalisador de algo que já estava em curso. Pois, durante o século XIX o número de fuga de escravos, quilombos e até mesmo insatisfação popular só aumentava. Todos eles sempre sufocados pela guarda nacional. Os fatos aconteceram assim:
1 – Brasil decidiu entrar na guerra ao lado da Argentina, porém, mesmo sendo um país gigantesco, não tinha um exército formado. A princípio eles contaram com o apoio dos voluntários da pátria, mas rapidamente passaram a alforriar negros para enviá-los à guerra.
2 – Negros recém libertos lutaram ao lado daqueles que antes os perseguiam. Além disso, o conflito que duraria apenas alguns meses, durou 6 anos.
3 – Ao retornar ao Brasil, os negros livres manusearam em armas, sabiam que o Brasil era a último país a apoiar a escravidão e os soldados do exército eram ex-combatentes.
Ainda sim, em 1870, ao término da Guerra do Paraguai, a elite da época queria re-escravizar os negros. Com isso, restavam 18 anos até o dia 13 de maio de 1888, longe de serem pacíficos ou sem articulações.
A conquista da abolição
De volta ao universo da série Watchmen da HBO, dentro da ficção há uma série de TV chamada American Hero Story. Nela, existe um herói chamado Justiça Encapuzada (Hooded Justice) que usava capuz preto e laço de corda ao redor do pescoço. Além disso, foi o primeiro aventureiro mascarado e a principal influência dos Minutemen, grupo de heróis fantasiados.cujo qual foi um dos membros fundadores.
Ainda assim, ele não tinha nem de longe o papel de protagonista. Antes de continuar o assunto desenvolvido na parte 1, na série fictícia, o Justiça Encapuzada era protagonizada por um ator branco e mais a frente neste texto vocês irão entender o porquê dessa menção específica.
Na edição 179 da revista Aventuras na História, publicada em abril de 2018, há uma matéria que somente um palavrão pode descrever. Com o mesmo título desse bloco, o artigo relata algo que eu já imaginava: os negros lutaram e muito pela abolição.
Primeiramente, fica fácil de imaginar que aqueles negros combatentes da guerra do Paraguai ao voltarem não assistiriam passivamente pessoas sendo chicoteadas. Na edição citada há um relato em especial da formação de uma vasta rede de colaboração, incluindo caixeiros-viajantes e funcionários da rede ferroviária no estado de São Paulo.
Dessa forma, podiam ajudar negros a fugirem através dos vagões e seguirem para o quilombos de jabaquara. Em outra citação, negros alfabetizados liam as notícias para os demais saberem o que acontecia, sem contar aumento do número de negros que se rebelaram por conta própria. Vale lembrar que nesse momento, o exército se recusava a perseguir negros.
Outro ponto importante foi que tanto os EUA, quanto Cuba já tinham abolido a escravidão. Com isso, o Brasil tinha se tornado o último país no ocidente a manter o regime. Dessa maneira, uma parcela maior da sociedade estava insatisfeita com a escravidão. Por isso, em 1880, dez anos após o término da Guerra do Paraguai, a abolição estava nas ruas, na arte, nas manifestações.
Era o início de um movimento civil organizado, muito provavelmente com a contribuição daqueles ex-combatentes da guerra do Paraguai e muitos outros cansados da opressão. Além de figuras como Luís Gama, José do Patrocínio e André Rebouças, todos abolicionistas negros e com grande influência na imprensa e no meio político.
Afinal, o que Princesa Isabel fez de fato?
Nesse mesmo período, os abolicionistas ganhavam cada vez mais adeptos, desde a imprensa, passando por pessoas da elite, membros do governo e assim chegamos a Princesa Isabel. E aqui chegamos em um ponto de divergência.
Segundo Danilo Nunes, mestre em História pela UFRJ e professor de História da SME-Rio, ela sofreu pressão dos abolicionistas, deputados e da Inglaterra. Inclusive, de acordo com o artigoO Lado B da Princesa Isabel publicado na revista IstoÉ, a filha de Dom Pedro II estava bem longe da figura de redentora dos escravos. Diante disso, a assinatura da Lei Áurea possivelmente foi um ato ocorrido muito mais por pressões do que de fato por vontade própria. Ainda que tinha acontecido foi uma vitória para o povo negro naquele momento, outra luta estava começando.
Contudo, há um grupo que reconhece seus atos. Se analisarmos a situação, de fato ela merece parte do reconhecimento, afinal ao assinar a lei áurea, ela teve a coragem que o pai não teve. No episódio 45 do PodcastHistória no Cast, existe um interessante debate em relação a participação da filha de Dom Pedro II no processo da abolição. Embora eles não a coloquem na figura de redentora, mostram bons argumentos sobre a contribuição dela que inclusive lhe custou o trono. Uma vez que no ano seguinte os militares com o apoio da elite cafeicultura expulsaram toda a família Real. Com isso, a República foi implementada e diferentemente da abolição, sem participação popular.
A Injustiça histórica liga o enredo da série a nossa história
Portanto, atribuir a ela toda a glória do primeiro movimento popular, onde diversos líderes negros contribuíram até com a própria vida é algo tão escandaloso quanto o que aconteceu ao Justiça Encapuzada. Apenas uma observação, o Justiça Encapuzada na série fictícia foi baseado em homem negro que caçava supremacistas brancos protegidos por um sistema corrupto. Logo, toda mitologia dos super-heróis teve início com homem que teve sua história completamente ignorada.
Encerro esse texto com uma observação feita pela também redatora do Kolmeia.net Carla Benevenuto. Na última temporada de Game of Thrones, vimos a criatura mitológica conhecida como o Rei da Noite, tentar a todo custo eliminar o Bran que naquele momento possuía as lembranças de todos os habitantes de Westeros. Se não fosse Arya Stark, Bran teria morrido e assim toda a atenção história existente dos 7 reinos. Com isso, todos estariam condenados eternamente a tal longa noite.
O efeito de não saber a história ou ela ser contada pelo lado do dominante, é o mesmo de deixar a longa noite acontecer.
Não é exagero dizer que Michael Jackson foi um dos artistas mais impactantes na história da música. O eterno Rei do Pop construiu uma carreira marcada por recordes, sucessos estrondosos no mundo todo e fez com que seu legado mudasse para sempre a forma como os artistas produziam arte, indo muito além de vídeos monocromáticos e produções sem enredo.
Após o lançamento do álbum ‘Thriller’ em Novembro de 1982, toda a indústria mudaria sua forma de apresentar conteúdo para a sociedade.
O primeiro grande choque do álbum aconteceu com ‘Billie Jean’, em 1983, a música que em seu visual, trazia Michael quase como uma figura mítica, dançando sobre ladrilhos que brilhavam, num misterioso enredo.
A canção atingiu o topo de todas as paradas e com o vídeo, Michael acabou se tornando o primeiro artista negro a ter um clipe aparecendo na grade da MTV (Music Television), emissora que, naquele momento tinha pouco mais de 1 ano de existência.
Na época, a própria MTV era acusada de não reproduzir artistas negros em sua grade, muitos inclusive, se questionavam o porquê de nomes como Rick James, Stevie Wonder ou Diana Ross não figurarem nas tabelas e programas da emissora.
Com o decorrer do álbum, vieram grandes hits como ‘Human Nature’, ‘Wanna Be Starting Something’ e ‘Beat It’, a primeira composição de rock de Michael, que trazia elementos visuais muito bem construídos, coreografias e temas populares associados, foi inclusive, a primeira música de um negro a tocar nas rádios de rock declaradamente brancas, assumindo o topo dos charts de R&B, Pop e Rock simultaneamente. Porém, o auge visual de todo o disco, aconteceu com a faixa título, ‘Thriller’.
Para a produção do clipe de ‘Thriller’, Michael tinha se interessado pelo trabalho do diretor John Landis, após ver o filme „Um Lobisomem Americano em Londres’, de 1981. O longa de terror com tons de comédia, apresentava a história e as aventuras de um homem que se transformava em lobisomem. A produção acabou suscitando em Michael o desejo de adicionar aquela arte sombria e com efeitos de maquiagem em seu futuro vídeo.
‘Um Lobisomem Americano em Londres’
O Diretor John Landis inclusive, conta que Michael queria se transformar num verdadeiro monstro e tudo teria que se dar de forma muito espetacular e surpreendente. Na visão do diretor, tudo foi muito bem pensado e milimetricamente executado, por exemplo, existia uma preocupação muito grande por parte de Michael, em tornar até a coreografia dos zumbis ao seu lado, a mais séria possível, de forma a não parecer cômica para o espectador, ver monstros dançando daquela forma. Por isso, toda a equipe ensaiou muito, por semanas seguidas, até atingir passos perfeitos, e de fato, foi o que aconteceu.
Toda a atmosfera de ‘Thriller’ se mostrava ÚNICA para aquele momento, porque misturava pela primeira vez, a idéia do cinema com a música. Tínhamos ali, uma história sendo narrada, personagens bem definidos, mixagem de som em determinados momentos e alterações bem características de um curta-metragem, nunca antes usada ou pensada por outro artista.
Com o sucesso estrondoso do curta-metragem de 14 MINUTOS, apresentado com exclusividade na MTV, a emissora obteve um crescimento gigantesco em audiência e com efeito, passou a abrir caminho para outros artistas negros, para demais produções de R&B, Soul e Black Music, era o fim de uma barreira. Com isso, demais artistas passaram a contar histórias em seus clipes e a associarem a letra da música com um enredo bem definido, de forma a prender a atenção do espectador.
A partir daquele momento, se deu início a uma nova era no mundo da música. Nas palavras da própria equipe do Rei do Pop:
“Quando a MTV estreou ‘Thriller’, de Michael Jackson, no dia 02 de dezembro de 1983, o curta-metragem mudou o gênero dos vídeos musicais de cabeça para baixo, para sempre.”
*Arthur Anthunesé jornalista especializado em cultura pop e ama a Beyoncé
Estamos no Mês do Orgulho LGBT e separamos alguns perfis de pessoas negras e trans para você seguir.
Todas essas pessoas maravilhosas são da região nordeste do país pois gostaríamos de descentralizar a ideia de que só existe influenciadores na região sul/sudeste. Sigam todas, deem todo o amor do mundo, exalte pessoas que verdadeiramente merecem ser exaltadas.
O movimento negro está para além da cisgeneridade e da região sul e sudeste do país.
Essa provocação foi feita por Maíra Azevedo, a Tia Má. “Chegou a hora de contar as nossas histórias! No quadro #voceviucomtiama”.
O quadro vai ao ar toda sexta-feira no programa Encontro com Fátima Bernardes, Maíra faz um grande resumo da semana, comenta os acontecimentos e as possibilidades de entretenimento durante a quarentena.
“Agora é com vocês!”. Somos 56% da população brasileira, “então será fácil essa gincana”. Escreveu Tia Má ao lançar o desafio em seu Instagram, “vamos falar sobre personalidades negras históricas e eu conto com vocês! Pesquise aí, na sua cidade, qual a estátua que tem em homenagem a uma personalidade negra, me marque @tiamaoficial e use a #desafioestatuatiama que vamos falar um pouco da história no programa encontro.
O desafio surgiu após manifestantes que participaram de um ato antirracista neste domingo (7) em Bristol, no sul da Inglaterra, derrubaram a estátua do traficante de escravos Edward Colston (1636-1721) e depois a jogaram em um rio que corta a cidade.
Protestos antirracismo vêm ocorrendo pelo mundo desde a morte de George Floyd, cidadão negro sufocado por um policial branco em Minneapolis, nos Estados Unidos, no dia 25 de maio.
Sempre tive vontade de entrevistar Pelé. Certamente, uma das perguntas seria sobre racismo.
Na adolescência, eu e meus irmãos tínhamos um Ídolo: o campeão de Box estadunidense Cassius Clay, o grande Muhammad Ali. Eu e meus quatro irmãos acompanhávamos a vida do pugilista através do programa de rádio A Voz da América.
Certa vez, saiu uma reportagem com ele na revista REALIDADE (Ed. Abril, 1967). Na entrevista, Muhammad falava: “Eu sou o melhor, porque sou negro. Eu sou bonito, sou um campeão”. Isso era como um mantra pra nós. O pugilista dizia ter orgulho por ser negro. E eu me perguntava: por que Pelé não falava sobre o assunto.
Na minha casa era natural falar sobre racismo, contávamos dos apelidos que nos davam na escola .Vovô não aliviava, nos dava muitas lições de vida. Tínhamos uma educação diferente dos nossos colegas da escola e da igreja. Tornar-se negro é muito complicado para algumas pessoas. O mundo é branco impõe o tempo todo negarmos o nosso “Eu”, a nossa essência, para sermos aceitos.
Imaginem isso há 40, 50 anos…
Eu e meus irmãos, como tantos outros, fomos privilegiados. Aprendemos a ser negros desde crianças. Até hoje soam as palavras de Muhammad Ali e as cenas do filme “Ao mestre com carinho”, com o ator Sidney Poitier. Acho que muitos de nós nascemos marcados para sempre, para ter referências, passar por um trabalho de base.
Daí, me pergunto: Será que Pelé teve essa chance? Teve essa oportunidade? Quantas vezes ele foi humilhado por ser negro? Quantas vezes foi induzido a negar sua raça? Quem é negro sabe de todo esse processo. Nao estou passando pano, não! Deixem que ele assuma sua história. É tarde? Näo! Talvez essa seja a hora dele.
Wanda Chase é jornalista e ativista do Movimento Negro. Comentarista e repórter, conhecida principalmente pelos 27 anos de trabalho na TV Bahia, afiliada Rede Globo. Passou também pela Globo Nordeste, Rádio Jornal (Recife), TV Paraíba, Diário de Pernambuco e Jornal do Commercio. Entre os muitos troféus que recebeu, o Troféu Maria Felipa 2009, da Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher, e o Troféu Ujaama, concedido pelo Grupo Cultural Olodum. Amazonense de nascimento, reside em Salvador, onde recebeu o título de cidadã soteropolitana.
Neste sábado (13) o Instagram do ator Bruno Gagliasso, será assumido pela ativista americana Ruby Bridges, conhecida por ser a primeira criança negra a frequentar uma escola nos Estados Unidos. Para o dia estão previstas intervenções da americana com conteúdo sobre sua história e uma conversa com a filósofa Djamila Ribeiro na qual elas trocam ideias e reflexões sobre o momento e o racismo estrutural no Brasil e nos EUA.
Ruby é a primeira criança afro-americana a se matricular em uma escola para brancos em Nova Orleans, aos seis anos, em 1960 e tornou-se uma importante ativista. No seu primeiro dia de aula, ela precisou ser escoltada por quatro policiais federais até a escola tendo enfrentado uma multidão racista com cartazes e gritos. Vencida a primeira batalha, Ruby aguentou a hostilidade dos pais que tiraram seus filhos da escola e ela chegou a estudar sozinha em uma sala de aula.
Santa Catarina tem o maior número de casos de injúria racial do país, segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, publicado no fim do ano passado. Por causa do dado alarmante e sabendo do esforço que a população catarinense faz para mudar esse cenário, a pedagoga Jaque Conceição criou a primeira plataforma do Brasil com foco em Educação feminista e antirracista do Brasil, o Coletivo Di jejê.
Vítima de racismo em muitas esferas profissionais, Jaque lembra de uma das muitas situações que passou no meio acadêmico: “Me lembro de um dia que eu entrei no elevador, na PUC, e estava com um copo de café na mão, e uma professora branca colocou uma bolinha de papel dentro do meu copo e falou: “Minha Querida, joga fora para mim, por favor.” Para aquela professora, a única forma de uma mulher negra estar no elevador de uma das principais universidades brasileiras, seria trabalhando na limpeza, jamais como uma aluna, jamais como uma professora”, relembra.
Racismo estrutural motivou criação do Coletivo Di Jejê
Situações como a da PUC, incentivaram Jaque a fundar o Coletivo Di jejê, em 2014. A pedagoga, formada pela Universidade São Camilo e doutoranda em Antropologia Social pela Universidade Federal de Santa Catarina, veio de família humilde e as vulnerabilidades sociais que enfrentou a fizeram ter certeza sobre o caminho a seguir: “Eu vim de uma família muito pobre, de um bairro muito pobre, na periferia de São Paulo. Todos os meus amigos ou foram mortos pela polícia ou pelo tráfico. Imagina que minha avó não sabe nem ler e nem escrever, fui a primeira pessoa da minha família a me formar no ensino superior. A Educação foi um lugar em que eu busquei para me desenvolver de todos esses marcadores”, relembra. “Quando eu criei o Di jejê, aliei o desejo e a necessidade de uma forma de combate ao racismo através da formação da cultura e da Educação. Esse é o meu lugar, eu sou professora. A gente só vai conseguir enfrentar o racismo através de uma Educação antirracista.”
Ciente de que muitos professores poderiam estar aproveitando a pandemia para se aprofundarem no desenvolvimento antirracista, durante o mês de junho, o Coletivo Di jejê irá apoiar professores da rede pública básica de todo o Brasil, mas para isso, precisarão de ajuda do público. Comprando o pacote Kukala, o Di jejê doará outro pacote para um professor da rede básica, o pacote é composto por oito cursos.
Cada curso pode ser parcelado no cartão de crédito, sem juros, e custa R$ 195. Para se inscrever, basta acessar o site: coletivodijeje.com.br. Se você quiser apenas fazer a doação, dois cursos serão doados, para dois professores da educação básica do país. A Kukala é um pacote com oito cursos de formação voltada para professores sobre a lei 10.639, que estabelece a obrigatoriedade de “história e cultura afro-brasileiro”, com conteúdo para formação técnica da educação infantil ao ensino médio.
Serviço:
· Nkanda: Cursos e conteúdo sobre feminismo negro e o pensamento racial negro. A pessoa faz um pagamento e acessa por 12 meses.
· Kukala: Nosso curso de formação voltada para professores sobre a lei 10.639, com conteúdo para formação técnica da educação infantil ao ensino médio.
· Intié: Plataforma voltada para educação indígena, voltada para professores, com conteúdos de formação técnica, com conteúdos da Educação Infantil ao ensino médio.
· Ifá: Plataforma voltada para empresas, voltada para a diversidade étnico-racial para o ambiente empresarial. São quatro cursos compostos por vídeo-aulas de 10 minutos. Cada curso contém quatro vídeo-aulas, disponibilizados para colaboradores das empresas que fazem a assinatura dos serviços por três meses.