Em vídeo para lançar um relatório sobre a COVID-19 na África, o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, elogiou a resposta da África à pandemia, mas lembrou que esforços para ampliá-la, incluindo a cooperação internacional e os sistemas de saúde, ainda são necessários.
O continente africano já confirmou cerca de 2.500 mortes por COVID-19. Guterres destacou que os países africanos responderam rapidamente à pandemia e, até agora, os casos relatados são mais baixos do que se temia. “Mesmo assim, há muito a pesar na balança (…) A vigilância e a preparação são fundamentais”, ressaltou.
“Nos últimos anos, os africanos fizeram muito para melhorar o bem-estar das pessoas do continente. O crescimento econômico tem sido forte. Mas a pandemia ameaça o progresso. Irá agravar desigualdades que há muito existem e agravar a fome, a desnutrição e a vulnerabilidade a doenças”, disse o chefe da ONU.
Na África, a procura por mercadorias, turismo e remessas já está diminuindo. A abertura da zona de comércio foi adiada, enquanto milhões podem ser empurrados para a pobreza extrema.
O relatório da ONU lançado na quarta-feira (20) recomenda, “o que os países africanos já fizeram junto com a União Africana”. As medidas já executadas incluíram o reforço da coordenação regional, o destacamento de profissionais de saúde e a implementação de quarentenas, confinamentos e encerramentos de fronteiras.
A ONU também pediu que os países africanos tenham acesso rápido, igualitário e acessível a qualquer vacina e tratamento que possam surgir, e pediu que estes sejam considerados “bens públicos globais”.
O Menino que Descobriu o Vento é baseado na história real do malawiano William Kamkwamba. O filme constrói uma longa ponte de contextualização e explicações para o título, que torna-se uma realidade.
[Contém Spoiler]
Desde o começo podemos observar o descaso do governo com o povo. O governo promete riqueza e alimentação, mas logo ao assumir, desmata as terras. Com poucas árvores, as enchentes tomam conta das plantações e a colheita para os dias de seca não acontece, deixando o povo na miséria. Parte da população se sente enganada, sem dinheiro, sem um governo que olhe para as minorias e sem ter o que comer.
Passada as eleições, o presidente retorna ao vilarejo para agradecer os votos e mascarar a fome. O líder da comunidade, então, o desmente e diz para toda a população que nada do que foi prometido está sendo cumprido. Descontente com a oposição o presidente manda seus capangas acabar com a vida do velho líder do vilarejo.
Todo aquele que vai contra o governo, é punido.
De forma breve e muito mais superficial do que o próprio filme, digo: a estrela do filme é o pequeno William Kamkwamba que buscou ensinamento nos livros. Foi escondido a única e pequena biblioteca da comunidade. Passa-se mais de um uma hora e meia de filme e William ainda está em busca de construir o seu projeto que dá nome ao filme. A narrativa detalhista evidencia as relações familiares e principalmente a estima de perseverança independente da pouca credibilidade de um menino de 13 anos perante os adultos. William, provou para o pai e todo o vilarejo que ele poderia trazer água e consequentemente, comida. Foi contra o governo e até mesmo contra o seu pai.
Munido apenas de livros, descobriu o vento, trouxe água e vida ao vilarejo. Provou que só a educação salvará o mundo. O filme está disponível no catalogo da Netflix, confira o trailer:
(Qualquer semelhança com o atual governo, não é mera coincidência).
Hoje, 25 de maio se comemora o Dia da África, a data marca o encontro de 32 chefes de estado africanos, em maio de 1963 na Etiópia, o dia foi um marco para o continente, já que os líderes presentes criaram a Organização de Unidade Africana (OUA) a partir de uma carta conjunta que marcou a fundação da organização continental.
Para celebrar essa conquista e também debater questões importantes sobre África, Brasil e a luta antirracista o Festival dia da África reúne para uma live nesta segunda-feira (25), uma programação diversa para debater o tema.
Dá uma conferida na programação:
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Festival Dia da África
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16h – Seimour Souza
Abertura: diáspora africana
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16h20 – Marina Iris convida Xixel Langa
Música em Moçambique
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16h50 – Seimour convida Fatou Ndiaye
Construção de uma educação antirracista
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17h25 – Mônica Cunha convida Dida Nascimento
Culinária, ritual de encontro
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18h – Michelle Lacerda convida Iyá Wanda
Combate ao racismo religioso
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18h35 – Flávia Candido convida Janaína Damasceno
Ler a África
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19h10 – Renata Souza convida Ludmilla Lis e Midiã Noelle
Ubuntu: Eu sou porque nós somos
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20h10 – Rayanne Soares convida Ruth Mariana
Angola e Brasil: Maré de arte e luta
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20h45 – Marina convida Maíra Freitas e Arifan
Religiosidade e música (Awuré)
O Brasil canta a África
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21h25 – Renata Souza convida Rafael Andrade Encerramento
Já estima-se que o colapso da indústria turística poderá ser catastrófica para as economias africanas.
A receita perdida como um todo é enorme. O Conselho Mundial de Viagens e Turismo (WTTC), uma associação do setor, estima que o turismo e suas atividades associadas sejam responsáveis por gerar cerca de 9% da receita do continente. O setor emprega 10 milhões de africanos diretamente, e talvez 14 milhões a mais de empregos sejam criados por seus impactos indiretos.
O turismo tornou-se um setor importante para a maioria dos países africanos nas últimas duas décadas. Houve um aumento dos investimentos em desenvolvimento e aprimoramento de produtos, marketing agressivo, juntamente com reformas sócio-políticas apropriadas para os negócios.
Em 2019 o aumento das chegadas internacionais em todo o continente foi de 4,2%. E antes do surto da pandemia de COVID-19, havia sido previsto um aumento adicional de 3% a 5% para 2020. As causas que impulsionaram o crescimento incluem a possibilidade de intercâmbio e pacotes turísticos com valores melhores se comparar com outros países, melhoria nas tecnologias digitais e processos de visto mais fáceis.
Como outros setores, o turismo, especialmente o internacional, é vulnerável a choques externos e crises. Repetidas vezes, os eventos fizeram o setor recuar. Isso inclui recessões, ameaças à segurança, incluindo ataques terroristas, desastres naturais e epidemias e pandemias. Há também o problema de reportagens negativas da mídia internacional.
A pandemia de COVID-19 em andamento é uma dessas ameaças, embora em um nível totalmente novo. Os países africanos devem aproveitar a experiência do passado para elaborar planos para gerenciar o vazio pós-coronavírus.
Visto que o turismo tem sido um dos setores mais atingidos desde que a doença foi detectada pela primeira vez em Wuhan, na China, em dezembro de 2019. O Conselho Mundial de Viagens e Turismo alertou que a pandemia do COVID-19 pode custar até 50 milhões de empregos em todo o mundo no setor turístico.
Em Uganda por exemplo, “os únicos hotéis com hóspedes são os designados como centros de quarentena”, diz Jean Byamugisha, diretor executivo da Associação de Proprietários de Hotéis de Uganda. Os hotéis normalmente precisam de 40% de ocupação para se equilibrar, e ele acrescenta, que muitos hotéis “não podem cumprir suas obrigações financeiras, como pagar impostos e pagar empréstimos”.
“Todo o setor está de joelhos”, acrescenta Carmen Nibigira, analista de políticas de turismo com sede em Ruanda. “Quando você olha para a região da África Oriental, não há muitas empresas maiores que estão realmente dominando nosso setor. Ainda temos milhares e milhares de empresários independentes por aí lutando e tentando sobreviver. ”
De fato, ela declara, que muitas dessas pequenas empresas “já estão enterradas” pela pandemia. “Essas são as linhas de frente da nossa indústria”, acrescenta ela. “Eles não são o Marriott. Talvez nesse momento muitos acabem optando por trabalhar em casa, no modelo estilo Airbnb, ou pousada.
É importante ressaltar que os países africanos devem se concentrar em aumentar sua promoção em viagens domésticas e entre outros países do continente. Isso servirá como um catalisador para desencadear a recuperação e estimular o crescimento da indústria.
Isso nem sempre foi o caso, porque a maioria das organizações de gerenciamento e marketing focadas no continente africano preferem campanhas direcionadas a visitantes internacionais, enquanto negligencia o poder de compra e as possíveis contribuições do povo africano. O que seria um grande estímulo na recuperação futura da industria.
Manter a confiança dos viajantes será uma parte crucial para a retomada das rédeas. Investir em segurança, infraestrutura e conforto será um diferencial importante nos próximos meses.
E após a pandemia é importante que possamos mudar o olhar do viajante. Pois o nosso continente mãe estará contando com o nosso apoio. Sabendo o quanto esse continente tem para oferecer, que a Keep Travel tem como foco principal em muitos destes destinos. Vamos colaborar para acelerar essa transformação e contribuir para o crescimento. A África tem muito para ensinar a todos. Seus visitantes podem esperar uma riqueza de experiências únicas.
No dia 25 de maio se comemora o Dia da África, do continente berço da humanidade. A data marca o encontro de 32 chefes de estado africanos, em maio de 1963 na Etiópia, para pensar como, juntos, poderiam realmente emancipar o continente africano, ou seja, tirá-lo das mãos do domínio europeu.
O dia foi um marco para o continente, já que os líderes presentes criaram a Organização de Unidade Africana (OUA) a partir de uma carta conjunta que marcou a fundação da organização continental. Em 1972, a Organização das Nações Unidas (ONU) reconheceu a importância do encontro, instituindo a data como o Dia da África.
Para além do reconhecimento institucional, a data simboliza a memória coletiva dos povos africanos e o esforço conjunto no processo de desenvolvimento econômico e social do continente. Para reforçar a importância do continente africano para todo o mundo, selecionamos 11 produções Africanas disponíveis para assistir on-line.
Atlantique é um filme de drama romântico franco-belga-senegalês de 2019 dirigido por Mati Diop e escrito por Diop e Olivier Demangel. Estreou internacionalmente em 16 de maio de 2019 no Festival de Cinema de Cannes e foi selecionado para representar Senegal no Oscar 2020.
Sangue e Água
A trama é cheia de romances e intrigas. A protagonista, Puleng Khumalo (Ama Qamata), uma garota determinada em descobrir o paradeiro de sua irmã que foi raptada logo após o nascimento acaba conhecendo uma garota que ela acredita ser a sua irmã desaparecida. Para descobrir a verdade, a personagem se transfere de escola.
O Menino que Descobriu o Vento
Sempre esforçando-se para adquirir conhecimentos cada vez mais diversificados, um jovem de Malawi se cansa de assistir todos os colegas de seu vilarejo passando por dificuldades e começa a desenvolver uma inovadora turbina de vento.
The Burial of Kojo
The Burial of Kojo (em português: O enterro de Kojo), o filme explora a cultura africana através de uma viagem espiritual em que uma jovem busca seu pai após um desaparecimento misterioso. Escrito e dirigido por Blitz Bazawule, o longa foi selecionado para o Festival de Cinema Pan-Africano de 2019 (PAFF) e venceu na categoria de melhor narrativa no Festival de Cinema Urbanístico de 2018.
Queen Sono
Queen Sono é uma série de drama policial sul-africana criada por Kagiso Lediga que estreou no Netflix em 28 de fevereiro de 2020 e já foi renovada para sua segunda temporada.
In My Country
In My Country é um filme de drama de 2017 dirigido por Frank Rajah Arase, estrelado por Sam Dede, Shan George, Okawa Shaznay, Bimbo Manuel, Precious Udoh e Austin Enabulele.
Moolaadé
Moolaadé é um filme de 2004 do escritor e diretor senegalês Ousmane Sembène. Ele aborda o assunto da mutilação genital feminina, uma prática comum em vários países africanos, do Egito à Nigéria
Beast of No Nation (Cary Fukunaga | EUA, 2015)
Baseado no romance homónimo do autor nigeriano, Uzodinma Iweala, o filme conta a história de um garoto africano separado da família durante a guerra civil, que é obrigado a lutar ao lado de mercenários e se tornar um menino-soldado de guerrilha. O drama é uma produção estadunidense de 2015 e foi selecionado para ser exibido na sessão Apresentações Especiais da quadragésima edição do Festival Internacional de Cinema de Toronto.
Kiriku e a Feiticeira (Michel Ocelot.| França, 1998)
A animação francesa de 1998, ambientada na África Ocidental, conta a história de Kiriku, um menino minúsculo, cujo tamanho não alcança nem o joelho de um adulto, e que tem como desafio enfrentar a poderosa feiticeira Karabá, que secou a fonte d’água de sua aldeia. Kiriku enfrenta perigos e passa por muitas aventuras, provando que o seu tamanho, não só não é um problema, como é a sua melhor arma para enfrentar a feiticeira.
Ceddo (Ousmane Sembène | Senegal, 1977)
Ceddo, também conhecido como The Outsiders, é um filme de drama senegalês de 1977 dirigido por Ousmane Sembène. Foi inscrito no 10º Festival Internacional de Cinema de Moscou.
Sambizanga
Sambizanga é um filme franco-angolano-congolês do género drama, realizado por Sarah Maldoror, com base na novela A vida verdadeira de Domingos Xavier do autor angolano José Luandino Vieira.
Arte de Emory Douglas para o jornal dos Panteras Negras
Quantos negros do seu circulo social, são formados ou estudam design? Infelizmente muitos responderão poucos ou nenhum. Apesar de sermos maioria entre os estudantes universitários, segundo dados do IBGE do final do ano passado, a distribuição ainda é desigual. Ocupamos a maior parte das cadeiras em cursos como Ciências Naturais e Química, mas em outros como Moda ou Design, somos apenas 26%.
E infelizmente, esse numero baixo não é apenas no Brasil. Nos EUA por exemplo, só 2% dos estudantes de design gráfico são negros, quando 86% são brancos. (Asiáticos e hispânicos também ocupam uma menor parte, com 6 e 4% respectivamente).
Considerando isso, podemos pensar: Por qual motivo? Então cabe uma outra reflexão: Cite um designer gráfico famoso negro. Conseguiu pensar em alguém? Exatamente. Não temos referências de pretos no design e sem alguém para se inspirar, pode ficar muito mais difícil se identificar com a profissão. Nem mesmo durante a faculdade, esses exemplos são vistos como deveria. Entretanto, mesmo que em menor escala, eles estão lá e devem ser lembrados.
Não tem como falar de referência negra no design gráfico sem citar Emory Douglas. O Ministro da Cultura do Partido dos Panteras Negras de 1967 até 1980 (quando o partido acabou) que completou 77 anos ontem, dia 24 de maio, é formado em design gráfico pela Faculdade da Cidade de São Francisco.
Ele era o diretor de arte, ilustrador e designer responsável por toda a parte gráfica do Jornal dos Panteras Negras, que em 1970 chegou a atingir uma circulação de 139.000 cópias por semana.
(mini documentário com legenda em inglês disponível)
Seu interesse pela área surgiu após trabalhar na gráfica da Escola Reabilitação de Jovens de Ontário, na Califórnia, onde foi sentenciado a passar quinze meses. O Revolucionário Emory, tinha que lidar com o baixo orçamento do jornal, bem como o pouco tempo que tinha para desenvolver seu trabalho (desafios esses que os designers gráficos ainda encontram), mas mesmo assim conseguiu criar um tipo de arte característico seu, com contornos pretos grossos, colagens e texturas.
Mural de Emory Douglas e Richard Bell em Brisbane, Austrália. A Arte reproduz a cena de 1968, quando Tommie Smith e John Wesley Carlos fizeram a saudação do movimento Black Power no pódio das Olimpíadas de 1968.
Apesar de ser muito associado erroneamente apenas com fins lucrativos e comerciais, os materiais de design gráfico como jornais, panfletos, cartazes e etc, são também na verdade documentos históricos que podem nos ajudar a compreender algo, sejam as duas grandes guerras ou a história do movimento negro.
A professora e Doutoranda em Filosofia africana Katiúscia Ribeiro - Foto : Reprodução Instagram
Penso, logo existo. Essa premissa de Descartes passa longe da essência da filosofia africana onde o sentir por meio do coração é mais valorizado do que o racionalizar usando a mente. Essa é alguma das reflexões que podemos fazer ao assistir a palestra da professora, mestra e doutoranda em Filosofia Africana pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Katiúscia Ribeiro para o TEDxUnisinos.
“(RE)ancestralizar as vozes através das filosofias africanas” foi o tema abordado pela acadêmica que discorre sobre os aspectos valorizados na filosofia africana, aspectos esses atropelados pelos europeus, que se intitulam os pais da filosofia.
A professora usa a palavra Kemet , que significa terra negra e é nome original do país que hoje conhecemos como Egito ( nomeação grega) para brindar a audiência com conhecimentos ancestrais africanos.
“Nessa gota de sangue, a partir da concepção, que no coração moram nossas emoções e é por elas que nós acessamos para pensar sobre cada um de nós. O coração é a morada da nossa consciência. (…) Nós somos um ser e um ser é um todo”, explica Katíuscia ao destacar a importância do sentir dos ensinamentos africanos onde “o pensar kemético é um exercício de ouvir a si mesmo”.
De acordo com a filosofia africana antiga , filosofar também é um exercício espiritual e a presença dos nossos ancestrais, só pode ser acessada pelo coração. “Matéria e espírito não se dicotomizam para existir, nós coexistimos pela confluência da ancestralidade que permanece viva e pulsa dentro de nós”, detalha a filósofa.
Já pensou ver e viver o mundo com os sentimentos do coração e não com a racionalidade da mente?
Por que vocês acham que a relacionamentos interraciais são incentivados no Brasil desde a pós escravidão? Por que o Brasil adora negros e casais interraciais ou vocês acham que tem motivações racistas por trás disso?
Quem achou a segunda opção está certo.
Entre a segunda metade do século XIX e a primeira metade do século XX, vigoraram em várias partes do globo as teses eugenistas, isto é, teses que defendiam um padrão genético superior para a “raça” humana. Tais teses defendiam a ideia de que o homem branco europeu tinha o padrão da melhor saúde, da maior beleza e da maior competência civilizacional em comparação às demais “raças”, como a “amarela” (asiáticos), povos indígenas e a negra (africana).
Nesse período, alguns intelectuais brasileiros incorporaram essas teses e delas derivaram outra, por sua vez, “aplicável ao contexto do Continente Americano: a “tese do branqueamento.” A defesa do branqueamento, ou do “embranquecimento”, tinha como ponto de partida o fato de que, dada a realidade do processo de miscigenação na história brasileira, os descendentes de negros passariam a ficar progressivamente mais brancos a cada nova prole gerada.
No Brasil, se defendia o fator da miscigenação como algo positivo, por conta da sobreposição dos traços da raça branca sobre as outras, a negra e a indígena.
O que isso quer dizer? A miscigenação passou a ser vista como uma poderosa forma de branquear/higienizar a sociedade brasileira.
Cenas do filme Get Out (Corra!)
O antropólogo brasileiro, eugenista, João Baptista de Lacerda em um texto publicado em 1911 diz o seguinte:
“A população mista do Brasil deverá ter pois, no intervalo de um século, um aspecto bem diferente do atual. As correntes de imigração europeia, aumentando a cada dia mais o elemento branco desta população, acabarão, depois de certo tempo, por sufocar os elementos nos quais poderia persistir ainda alguns traços do negro.”
Percebe-se nitidamente nesse trecho o teor do anseio pelo branqueamento.
As lideranças do país no final do século XIX e início do século XX acreditavam que o território brasileiro era “sem futuro”, pois a quantidade dos povos mestiços (não brancos) era imensa.
Com o fim da escravidão em 1888 (132 anos atrás) o Brasil não criou nenhum tipo ação para incluir os negros no mercado de trabalho. Ao contrário, o país passou a fomentar a vinda de europeus, que fugiam da revolução industrial, para trabalhar aqui no país.
O Brasil literalmente dava terras e trabalhos para que esses brancos se misturassem aos nossos negros e dessa forma a nossa sociedade seria cada vez mais brancas nas próximas gerações e foi a partir disso que a miscigenação passou a ser fomentada. Como um plano para branquear a sociedade brasileira.
Na constituição brasileira de 1934 (apenas 85 anos atrás) havia textos que falavam que era responsabilidade do estado brasileiro fomentar a educação eugenista no país. Ou seja, há 80 anos atrás o estado brasileiro era declaradamente racista e acreditava nas teorias de superioridade racial branca e tinha como objetivo essa miscigenação para a higienização da raça brasileira.
Por que eu estou contando tudo isso? Pra explicar pra vocês que a raiz da glamourização da miscigenação é racista.
Nós negros nascemos e somos criados de forma a não desejarmos nos casar entre nós. Os meninos nascem e crescem numa sociedade que vê como objetivo o rapaz negro encontrar uma moça branca e se casar e não há incentivo do contrário.
Tudo isso gera o que? As mulheres negras são as que menos se casam e tem relacionamentos estáveis no país. Os homens negros sonham em conquistar uma mulher branca e não querem relacionamentos com negras.
Ao mesmo tempo mulheres negras preferem homens brancos. Mas não é recíproco. Os brancos são os que mais casam e se relacionam entre eles e a balança se torna injusta nesse sentido.
Todos nós sabemos que a atração física influenciada pelos padrões brancos, influencia no amor, na paixão.
Caso contrário, se o amor não tivesse nenhum tipo de contaminação social europeia porque os negros são os que menos se casam e tem relacionamentos estáveis?
Eu não estou falando de mim ou de você, não de indivíduos, não de exceções, estou falando de toda uma sociedade.
Observem, nossos negros famosos e ricos, quantos deles estão em relacionamentos com mulheres brancas e quantos estão com mulheres negras? Observe a preferência dos nossos jogadores de futebol negros.
Quantos casais negros famosos nós podemos citar no país? Lázaro Ramos e Tais Araújo? Quantos mais?
Quantas vezes, eu enquanto jovem não repetia e ouvia a a frase: “De preto basta eu!”
Mas então você está dizendo que é errado o relacionamento interracial? Não, pelo amor de Deus, não é esse o ponto.
O que estou querendo dizer é que a miscigenação no Brasil fez e faz parte da institucionalização do racismo e isso gera reflexos nos números da população negra e por isso falar sobre isso é importante.
Mas Levi, você acha bacana atacar casais interraciais online?
Não, não acho também.
Primeiro porque eu não acredito que fazer isso terá algum efeito positivo. As pessoas preferem não entender as coisas e a militância negra, ao fazer isso, como fizeram com Erika Januza ou Nego do Borel, acaba por se colocar ainda mais na linha de frente para que brancos racistas os criticarem.
Segundo que eu não acredito que esse seja um problema individual e sim coletivo, então atacar individualmente as pessoas não vai resolver.
Terceiro que eu não acredito que culpar o negro por preferir ficar com uma branca do que com uma negra seja o certo. Nós nascemos e crescemos recebendo mensagens racistas pela sociedade o tempo todo que nos condiciona a preterir os negros e negras. Com isso, culpar o jovem ou a jovem negra é basicamente tirar a responsabilidade desse problema da nossa sociedade racista e colocar nas costas do negro. É como dizer que os negros são os próprios racistas.
A crítica é ao coletivo. Não ao indivíduo. É sobre discutir esses padrões e fazer com que relações interraciais sejam criadas na base certa e não com essa base racista e eugenista que infelizmente o Brasil tem hoje.
E brancos, pensem um pouco. Porque vocês casam entre vocês e ninguém questiona isso?
Por que quando a militância negra fala sobre negros casarem com negros vocês chamam de segregação?
A nossa sociedade JÁ É SEGREGADA e não é porque a militância hoje busca valorizar o casamento entre negros, mas sim porque existe um HISTÓRICO RACISTA NO NOSSO PASSADO.
Devemos sim discutir o assunto. Desconstruir o preconceito criado na cabeça dos negros e da sociedade como um todo para que passem a ver os negros como dignos de amor e paixão assim como fomos ensinados a ver os brancos.
Essa discussão não é sobre proibir casais interraciais, mas sobre democratizar os relacionamentos.
Tornar belo o negro com negro também!
E fazer com que a criação dos casais interraciais seja feita de forma saudável e não porque a sociedade fomenta o embranquecimento de nossa sociedade desde o fim da escravidão.
Aprendeu, não é meu filho? | Cena do filme Queen & Slim
O ano é 2010, eu e meus amigos adolescentes sentados num ponto esperando o ônibus pra irmos à escola. Um vendedor passa, olha para o meu amigo (bastante afeminado), e exclama com olhar de repulsa:
– Não basta ser preto, ainda é gay –.
Ninguém fala nada.
Não sabíamos das implicações de ser gay.
Não sabíamos das implicações de ser negro.
Mas já sabíamos que a coexistência desses dois fatores tornaria tudo ainda mais difícil.
O homem gay negro é ora visto como mero objeto de curiosidade e fetiche, ora visto como não atrativo; mas nunca considerado como alguém dotado de qualidades, medos, características e desejos próprios. Somos sempre objeto da imaginação e necessidade de realizar fantasias de homens brancos. Nos aplicativos a dicotomia persiste: a maioria dos gays se dividem entre “não me relaciono com negros” e “adoro um negão desde que, bem dotado”, sendo a segunda afirmação muitas vezes vista com bons olhos até mesmo por alguns negros já que, é isso ou nada. Afinal de contas, na vida real relacionamento com negros só se for pra uma transa casual e as escondidas.
É aí que entra a tal da hipersexualização de corpos negros, a idealização do “negão” selvagem, viril, bem dotado que remonta ao tempo da escravidão quando os negros eram obrigados a serem reprodutores. Isso se reflete ainda nas abordagens, que sempre são acompanhadas de frases como: “é dotado?”, “curte meter sem pena num rabo branco?”, “quero um negão pra me arregaçar”, entre outros absurdos.
Nos espaços, o homem gay negro é geralmente invisível. Outro dia, no tinder, dei match com um menino branco que sempre frequentava a mesma balada que eu. Ao comentar com ele a respeito disso, ele responde: “Ué, mas eu nunca te vi por lá”. Talvez nunca tenha visto mesmo, a quantidade de gays brancos no local era imensa como era possível para ele notar alguém com outra cor de pele? Somos sempre os amigos da bicha branca que já se relacionou com meio mundo de gente, estamos sempre por ali, mas ninguém nos nota. Essa invisibilidade é perpetuada não só pela mídia, mas também pela comunidade lgbt.
Por exemplo, um site especializado em cinema postou uma lista com os melhores filmes gays para se assistir, e só um filme era protagonizado por gays negros, no caso, Moonlight (a lista tinha 100 filmes). Gays negros quase nunca são representados.
Não é por acaso também que muitos negros só se relacionaram afetivamente com homens brancos… Não estamos acostumados a nos enxergamos. Mas não se engane, esses relacionamentos são também permeados por situações decorrentes do racismo… Olham como se dissessem: “não acredito que aquele menino lindo (o branco), namora com esse menino (o negro)”, há ainda aqueles que exibem o seu namorado branco como um troféu, uma dádiva, um privilégio.
Até as nossas preferências sexuais são colocadas em questão. Certa vez, um menino num aplicativo me disse que não era possível eu ser passivo (sim, gay negro precisa ser ativo), isso não foi um fato isolado… Desde que iniciei a minha vida sexual ouço comentários do tipo “você não tem cara de passivo” (por cara, leia-se cor), “você está inventando desculpa porque não quer ficar comigo” (como se fosse realmente impossível para um negro ser passivo), entre outras coisas.
Tem ainda os que dizem não se relacionar com homens negros por questão de gosto, como se isso justificasse toda e qualquer contra argumentação. Sim eu sei! Todo mundo em maior ou menor grau precisa lidar com rejeição na vida, a grande questão é que neste caso a rejeição é exclusivamente baseada na cor da sua pele. O fato é que gosto é construção social, ninguém é obrigado a ficar com ninguém, de fato, mas quando suas preferências eliminam todo um grupo da possibilidade afetiva não é questão de gosto, é questão de racismo.
Tudo isso acaba por destruir a autoestima do homem gay negro que é alimentada por uma sensação de não-pertencimento, não nos sentimos incluídos nas pautas do movimento lgbt e tampouco nas discussões do movimento negro, para além disso temos que lidar com o racismo e homofobia que permeiam a nossa sociedade. À noite, as pessoas atravessam a calçada ao cruzarem conosco, de dia, estamos solitários e somos obrigados a nos contentar com relações casuais, marginalizadas e às escondidas.
Daí que surge a necessidade de nos fortalecermos enquanto negros. E isso é mais do que uma frase de efeito, é um processo lento e gradual que consiste em nos aceitarmos, nos entendermos e nos amarmos. Fazendo com que a gente se enxergue e possa enxergar o outro.
Fortalecimento. Este que nos permite dizer não a situações que outrora nos submeteríamos, a nos relacionarmos com outros meninos negros. Nos tornando espelho, exemplo, aprendizes e companheiros de nós mesmos. E nos possibilitando entender aquilo que sempre nos foi negado:Ser preto é lindo e como se já não bastasse, ser preto e gay é lindo demais.
Eu acredito que quando eu era criança, se tivéssemos passado por uma situação como a que estamos vivendo com essa Pandemia, eu me recordaria, com muito afeto e alegria, dos dias que passei junto com a minha mãe e meu pai dentro de casa, e tudo que fizemos juntos.
Meus pais trabalhavam muito quando eu era pequena. Minha mãe era auxiliar de enfermagem e trabalhava numa jornada de 12×36 horas, ou seja, ela estava em casa um dia sim e outro não (incluindo os finais de semana). Meu pai era gráfico, na cidade do interior paulista, onde morávamos, ele não conseguia trabalho, então, por boa parte dos anos, ele trabalhava na capital e só voltava para casa aos finais de semana.
Acho que não ficou nenhum trauma grave, por causa dessa ausência, mas ficaram boas lembranças de quando estávamos todos em casa e podíamos fazer as refeições juntos, brincar, assistir televisão ou passear. Ficou na memória também, quando meu pai tomava a tabuada, ou pedia para ver meus cadernos, eu me sentia cuidada e amada.
A realidade de muitas famílias é igual à da minha infância: pais ausentes por muitas horas e a alegria das crianças em vê-los voltar para casa. Mas tudo mudou bruscamente: pais e filhos o dia todo dentro de casa, o dia todo (eu já disse, o dia todo?).
Será que dá para olhar o lado positivo?
Boa parte das crianças que estudam em escolas públicas estão sem aulas. Essa ausência do ensino, do aprendizado pode estar deixando as crianças angustiadas, com medo de não aprender, ficar para trás e perder oportunidades.
Eu sei que a rotina está complexa, são muitas demandas para os adultos, mas sugiro um exercício para acalmarmos o coração dos pequenos e a angústia pela falta das aulas, ou mesmo com aulas EAD. Faça uma educação antirracista.
Muitas vezes a gente reclama do que é ensinado na escola, principalmente se estamos falando sobre cultura africana e afro-brasileira. Então, a minha proposta é que vocês, pais e criadores de crianças pretas, realizem uma nova educação para os pequenos. Não precisa necessariamente ser conhecedor da cultura africana e afro-brasileira para isso. Resgate o que você sabe, resgate a sua ancestralidade presente. Como? Assim:
Conte sobre as histórias da sua família, as histórias de quem veio antes.
Resgate a música favorita e apresente para as crianças, vejam a letra e os significados. Sambas-enredos renderão boas conversas
Sabe aqueles passinhos que dançamos tanto nos bailes de charme? Será a aula de hoje aqui em casa!
Pegue o álbum de família e conte uma história curiosa sobre aquele momento ou aquelas pessoas.
Relembre aquela receita deliciosa e faça junto com as crianças.
Façam bonecas Abayomi juntos.
Façam turbantes e amarrações de tecidos africanos e estudem (brinquem também) sobre os reinos da África.
Busque na internet provérbios africanos e reflitam sobre eles.
Descubra inventores, cientistas, escritores, pesquisadores negros e relembrem as histórias deles.
Tem tantos contos e histórias da mitologia Africana, dos Orixás, espalhados por aí, vale à pena procurar.
Vivenciar isso juntos é resgatar e manter a ancestralidade presente, manter a essência de quem são!
Você também pode se aprofundar mais nessa proposta. Lei ou assista vídeos no Youtube sobre temas importantes para a formação de uma consciência antirracista e converse com as crianças sobre o assunto, torne-se o professor de assuntos essências para a vida e formação dessas crianças.
Uma mãe, seguidora do Criando Crianças Pretas, pela passagem do dia 13 de maio, me pediu conteúdo para crianças do ensino infantil, que falasse sobre a data. Ela estava aborrecida com os vídeos que a escola havia mandado. Como não encontrei na internet materiais que pudessem atender à demanda, sugeri que ela assistisse vídeos e lesse textos para produzir, ela mesma, um conteúdo para a filha.
Esse período ficará guardado para sempre na cabeça das crianças. Sei muito bem, e na pele, que para nós adultos, está sendo, com muita frequência, um verdadeiro caos, mas um provérbio Africano diz: Se você pode andar, você pode dançar. Se você pode falar, você pode cantar. Dance e cante para tornarmos esses dias mais leves. Eu estou tentando.