Na noite deste domingo (31), em meio aos vários protestos antirracistas que estão acontecendo nos Estados Unidos, o diretor de cinema Spike Lee divulgou um pequeno curta-metragem inspirado na história de George Floyd e Eric Garner.
Lee utilizou um dos filmes mais conhecidos dele, “Faça a Coisa Certa” (de 1989), para relacionar as histórias destes homens que foram mortos. O vídeo mostra que o problema já relatado há mais de décadas, ainda é presente.
No início do curta, vemos a seguinte pergunta na tela: “A história vai parar de se repetir?”. A produção foi liberada inicialmente no canal CNN.
Floyd, um homem negro desarmado de 46 anos, morreu asfixiado em Minneapolis depois que Derek Chauvin, um policial branco, se ajoelhou sobre seu pescoço por mais de oito minutos. Durante todo esse tempo, Chauvin ignorou o apelo de pessoas que gravavam a cena e do próprio Floyd, que disse que não conseguia respirar. Ele responde por homicídio culposo (sem intenção de matar) e assassinato em terceiro grau (quando é considerado que o responsável pela morte atuou de forma irresponsável ou imprudente).
Em 17 de julho de 2014, Eric Garner morreu em Staten Island, Nova Iorque, depois de um oficial da New York City Police Department colocá-lo no que foi descrito como um estrangulamento por cerca de 15 a 19 segundos enquanto prendia-o.
Na tarde dessa segunda-feira, 01 de junho, o YouTuber e influencer Felipe Neto fez uma publicação cobrando o jogador Neymar a se posicionar com relação aos protestos anti racistas que vem acontecendo pelo Brasil.
Em sua publicação, Felipe disse: “Vidas Negras importam. Mas nem todo mundo se importa” e publicou 3 imagens de tweets do Neymar onde ele aparece fazendo outras coisas durante o dia. As postagens incluíam o jogador brincando com o filho, fotos para seu público, mostrando seu terno novo e coisas do gênero.
Critiquei educadamente esse posicionamento e notei que muitas pessoas ficaram confusas quanto a isso, então vejo a necessidade desse artigo.
Antes de tudo gostaria de dizer que não vejo maldade na cobrança feita por Felipe e acredito que sua intenção tenha sido cobrar a maior celebridade brasileira nas redes sociais e não um homem negro. Mas raça é importante, como todos sabem, e é importante que falemos sobre isso.
Em segundo lugar é importante dizer também que eu não concordo com o silêncio de Neymar em um momento como esse. Como eu disse em minha resposta ao Felipe, Neymar é uma potência e sua voz nesse momento seria de EXTREMA ajuda, mas novamente entra a questão de raça.
Felipe Neto é um homem branco de grande visibilidade e usar de sua visibilidade para cobrar posicionamentos é importante, aplaudo esse trabalho. Porém, numa luta contra o racismo, o seu Lugar de Fala não é cobrar pessoas negras (mesmo que este seja o Neymar), e sim cobrar pessoas brancas.
Dentre todas as pessoas que não se pronunciaram sobre o caso, e houveram muitas, Felipe decidiu cobrar Neymar e, mesmo que seja por sua relevância e não cor da pele, isso passa uma mensagem muito errada quando pensamos de forma crítica sobre essa questão e nós não podemos deixar de falar e corrigir.
No post de Felipe, que foi apagado após ele ser corrigido por Cyberativistas negros, o número de pessoas ofendendo Neymar era gigante. Pessoas brancas.
Notem: pessoas brancas criticando, ofendendo e cobrando um homem negro em uma questão relativa ao racismo. Está claro o problema?
Quando falei sobre isso, fui criticado por pessoas brancas que me ofenderam e mandaram o famoso “descansa militante”, além de vários outros comentários insinuando que eu estava defendendo todas as merdas que o Neymar possa ter feito na vida.
Novamente, notem: a discussão sobre racismo se transformou em um show de horrores com brancos ofendendo pessoas negras e deslegitimando nosso posicionamento.
A discussão sobre o Lugar de Fala de pessoas brancas na luta contra o racismo permeia o reconhecimento de privilégios e a vazão das vozes negras para posicionamentos, mesmo que discordem de nós, quando falamos de racismo é importante que a NOSSA voz tenha o protagonismo. Se passarmos a permitir que pessoas brancas nos cobrem como e quando devemos fazer nossos questionamentos e promover nossas reivindicações nós, novamente, vamos perder o pouco espaço que temos conquistado.
Quero que entendam que a questão dessa discussão não é sobre o caráter de Neymar Jr., tampouco é sobre permitir que Felipe cobre posicionamentos importantes. A discussão é muito maior que isso. É sobre racismo, raça, brancos e negros, protagonismo, vozes e lutas.
Falar sobre racismo sem racializar os debates é um erro e racializar essa situação é também um ótimo exercício para que vocês, brancos, entendam que só vão compreender a nossa luta com a nossa voz em protagonismo.
Muitos podem falar que Neymar não se considera um homem negro por falas dele no passado, enquanto mais jovem. Não sei como está a consciência racial de Neymar, mas ele se considerar negro ou não, não muda nada.
Imaginem só se pudéssemos decidir se somos ou não vistos enquanto pessoas negras. Muitos não escolheriam sofrer racismo.
Neymar, apesar da pele mais clara, é lido como um homem negro. Dotado de privilégios por ser milionário e celebridade, mas ainda assim um homem negro. Pretendo falar sobre isso em outro texto, já que esse não é o foco, mas espero que tenham entendido.
Enfim, ao Felipe, espero que entenda o que disse em meus tweets e nesse texto. A vocês, leitores, espero que reflitam sobre o exercício que propus aqui. E ao Neymar venho, enquanto homem negro, cobrar que se posicione nesse momento tão importante para a nossa luta. Não é hora de ficar calado, Neymar. Fale, use do seu privilégio pelo seu povo, seu pai, sua irmã, seus amigos da favela e da Vila Belmiro, seus amigos negros jogadores… Por nós.
Parece que dessa vez a ideia do “não basta não ser racista, tem que ser antirracista”, finalmente foi entendida.
Além das movimentações e protestos exigindo justiça nos casos de vítimas de abordagens e ações policiais violentas, como de George Floyd nos EUA e João Pedro, no Brasil, algumas empresas estão se posicionando de maneira histórica.
As Redes Sociais têm sido a maior fonte de notícias sobre os protestos online e off-line que acontecem no planeta e agora, mais do que nunca, a comunidade negra está sendo reconhecida por empresas de comunicação.
Facebook e Instagram mudaram seu logos coloridos, em suas contas oficiais americanas, para branco e preto (como o nosso) e além disso, comunicaram que irão incentivar a comunidade negra a contar a sua história por meio da hashag #ShareBlackStories (compartilhe histórias negras). Mark Zuckerberg, dono das duas marcas, disse em seu perfil no Facebook que irá deslocar 10 milhões de dólares para ” grupos que trabalham com justiça racial”. Essa por enquanto é uma iniciativa que cobre apenas os EUA.
https://www.instagram.com/p/CA4WJuyMwY_/
O Youtube está investindo 1 milhão de dólares em iniciativas de combate ao racismo.
“Nós somos contra o racismo. Nós apoiamos a comunidade negra – e todos aqueles que trabalham em prol da justiça em homenagem a George Floyd, Breonna Taylor, Ahmaud Arbery e muitas outras pessoas cujos nomes não serão esquecidos.”
https://www.instagram.com/p/CA2sHrBHNxo/
No Brasil, país onde a cada 23 minutos um jovem negro é assassinado, as plataformas ainda mantém a cor original.
Viola Davis tem mostrado seu amor pelo Brasil em diversas situações. Difícil de esquecer seu apoio quando a vereadora Marielle foi assassinada.
Dessa vez ela usou sua conta no Twitter para prestar apoio a uma abaixo-assassinado que pede justiça no caso do assassinato de João Pedro, atingido por um tiro de fuzil calibre 556 pelas costas quando estava dentro da casa de seus tios na comunidade do Salgueiro, RJ, em 18 de maio.
Bernice King, filha do lendário ativista dos Direitos Civis Martin Luther King não está feliz com a forma que algumas pessoas têm usado a fala do seu pai para diminuir a importância dos protesto pró-Vidas Negras que tem acontecido desde assassinato de George Floyd, no dia 25.
Pelo Twitter, ela falou sobre como os EUA odiavam seu pai.
“Não ajam como todo mundo amou meu pai. Ele foi assassinado. Uma pesquisa de 1967 refletiu que ele era um dos homens mais odiados da América. O mais odiado. Muitos que o citam agora e o evocam para deter a justiça hoje provavelmente odiariam, e podem até já odiar, o autêntico King”.
Don’t act like everyone loved my father. He was assassinated. A 1967 poll reflected that he was one of the most hated men in America. Most hated. Many who quote him now and evoke him to deter justice today would likely hate, and may already hate, the authentic King. #MLK. pic.twitter.com/NF5yHxgi0R
Em vários tweets, a herdeira de King destaca que ele nunca pregou a passividade e sim a justiça.
Quando um perfil afirmou que MLK teria vergonha dos protestos dessa semana, ela respondeu:
“Meu pai acreditava que a não-violência [estratégica, centrada no amor, falando a verdade ao poder, desafiando a violência do governo] era o caminho para a mudança social. Eu também. Mas você sabe do que ele realmente teria vergonha? O joelho de Derek Chauvin no pescoço do #GeorgeFloyd “.
My father believed that [strategic, love-centered, speaking-truth-to-power, challenging-the-violence-of-government] nonviolence was the way to social change. I do, too.
Nesta semana, foi anunciado o plano de retomada de algumas atividades e serviços do Estado de São Paulo, com o objetivo de recuperar a economia, que sofreu grande impacto, em função da pandemia provocada pelo coronavírus. Outros estados como Ceará e Rio de Janeiro também já estão se organizando para o retorno das atividades
A “retomada consciente”, como foi nomeada pelo governador de São Paulo, deverá ocorrer de forma gradual e dividida em cinco fases.
A capital paulista e a região metropolitana foram divididas e classificadas por cores, de acordo com características demográficas e critérios de saúde, como leitos de UTI disponíveis, avanço de casos e mortes causadas pelo coronavírus. Semanalmente, os municípios serão reclassificados, podendo ou não avançar de fase. Esse avanço diz respeito ao tipo de estabelecimento que poderá funcionar.
A capital paulista, por exemplo, atualmente está classificada como laranja e, caso permaneça assim, a partir do dia 1º de junho, serviços como atividades imobiliárias, concessionárias, escritórios, comércio e shoppings poderão funcionar com restrições. Estes setores foram drasticamente afetados pela pandemia e contribuíram para a queda do PIB (produto interno bruto) brasileiro, que caiu 1,5%, comparado ao último trimestre.
Diante deste cenário, é importante refletir e questionar sobre o grau de em que pessoas pretas estarão expostas, após a retomada da economia. Durante todo o período da pandemia, as desigualdades foram acentuadas e foi possível acompanhar o impacto do coronavírus na população preta e periférica brasileira. Os negros formam a grande maioria da força de trabalho de grande parte dos comércios e serviços que poderão abrir com restrições.
Com o retorno de algumas atividades, uma possível segunda será que onda de infecção não corre o risco de acontecer? A pandemia está controlada de maneira satisfatória para que, aos poucos, a rotina volte ao normal? A reabertura do comércio pode ter um efeito reverso e a crise já instalada, na saúde e nos outros setores, podem se agravar e mais uma vez a negligência governamental colocará vidas negras em risco. Os negros estão mais suscetíveis a se contaminarem pela doença, pois estão constantemente expostos nas ruas, seja em serviços essenciais ou não. Para além disso, cerca de 70% da população preta depende inteiramente do SUS, que atualmente em algumas cidades encontra-se em colapso. Para completar, cerca de 23% dos óbitos notificados por coronavírus são de pessoas negras, de acordo com o Ministério da Saúde.
Com a chegada da pandemia, a forma de como exercemos o trabalho sofreu alterações drásticas. O home office tornou-se essencial, e mais uma vez as desigualdades foram acentuadas. Como a população preta geralmente ocupa postos de trabalhos relacionados a comércio, serviços classificados ou não como essenciais, pode-se ver que o trabalho em casa é, sim, um luxo e privilégio. Muitas empresas adotarão esse novo formato por um bom tempo e, com isso, muitos escritórios físicos deixarão de existir.
Os tipos de serviços que poderão funcionar, a exemplo de São Paulo, são atividades essencialmente ocupadas por negros, com possíveis chances de gerarem aglomeração e contato físico (comércio de rua, shoppings, salões de beleza etc.). Além disso, caso haja contaminação, a chance do vírus retornar para as periferias é altíssima.
Estaria o SUS preparado para suportar o retorno de um alto número de infecções? Essa “retomada consciente” é inclusiva?
O Brasil é um país sem memória e triste é constatar que isso acontece até com alguns veículos grandes de imprensa como o canal CNN Brasil. Esquecimento é a única explicação razoável para colocar o jornalista William Waack para comentar a onda de protestos nos EUA desde o assassinato de George Floyd.
Para quem não se lembra, em 2018, quando era âncora do Jornal da Globo, Waack, usou a expressão “coisa de preto”, ao se referir a um motorista que buzinava enquanto ele estava prestes a entrar ao vivo, durante a cobertura das eleições americanas em 2016, em Washington.
O ator Rafael Zulu foi um, entre as centenas de pessoas que se manifestaram sobre a desagradável sensação de ver um jornalista demitido por questões raciais, opinião sobre questões raciais.
“Ahhhhhhh @cnnbrasil , VOCÊS SÓ PODEM ESTAR DE BRINCADEIRA COM A NOSSA CARA!!!! Esse Sr Willian Waack que tá analisando os protestos antirracistas, é o mesmo que saiu da Rede Globo por conta de um comentário Racista!!! VOCÊS NÃO CANSAM DE BRINCAR COM A NOSSA HISTÓRIA NÃO??? Lembro que vim aqui bem surpreso quando soube que vcs tinham admitido esse cara que até onde eu sei não se arrependeu do que falou, mas por essa realmente eu não esperava!!! @cnnbrasil vc é uma piada!!!”, disse o artista em sua conta no Instagram.
O âncora Cassius Zeilmann chorou ao vivo no programa Visão CNN, da CNN Brasil, no momento em que ele e os colegas jornalistas Luciana Barreto e Diego Sarza conversavam sobre racismo com o cantor Toni Garrido.
O assunto do programa era a morte George Floyd, homem negro assassinado por um policial branco nos Estados Unidos. Nascido no Rio Grande do Sul, Zeilmann ouviu o relato de Toni e em seguida pediu a palavra. Ele relembrou alguns momentos que presenciou na sua juventude em seu estado.
“Toni, mais do que uma pergunta, eu gostaria de te fazer na verdade um testemunho aqui, até porque acho que a Lu, o Diego e você têm muito mais autoridade. Como eu vim de um estado muito, mas muito preconceituoso, que é o Rio Grande do Sul, eu acho que, como testemunha, eu presenciei muitas cenas de racismo”, começou.
“Quando eu ia no mercado os seguranças sempre observavam o menino negro, quando eu ia num lugar público, num shopping, eu via que sempre monitoravam, seguiam o menino negro. Eu nunca senti na pele, me desculpe que eu fico muito emocionado [choro], mas por isso que eu aprendo todo dia com a Lu, com o Diego, que eu não sei o que é isso, e estou aprendendo muito com você”, disse.
A âncora Luciana tomou a palavra e começou a conversar com Toni em seguida. A câmera também saiu do foco de Zeilmann até que ele se recuperasse.
Danielle Geathers e seu companheiro de chapa Yu Jing Chen venceram a eleição do governo estudantil no início deste mês. Geathers acabou de terminar seu segundo ano no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) e está se formando em engenharia mecânica. Ela atuou como diretora de diversidade no ano passado.
“Em termos de vir desse espaço de diversidade e se concentrar na promoção da eqüidade no MIT, seria meio importante ter alguém no papel do presidente que se concentrasse nisso”, disse ela.
Ela disse que planeja usar sua plataforma para tornar a escola o mais inclusiva possível.
“Embora algumas pessoas pensem que é apenas um papel de governante, elas podem ser importantes em termos de pessoas se verem em termos de representação. Ver-se em uma faculdade é uma parte importante do processo de admissão”.
Cerca de seis por cento dos estudantes de graduação do MIT são negros e 47 por cento são mulheres.
Os alunos do MIT tiveram que deixar o campus em março por causa da pandemia de coronavírus, então Geathers fez campanha online e através das mídias sociais de sua casa em Miami, Flórida. Os alunos votaram online.
A Ocupretar surgiu como projeto artístico em 19 de maio de 2017. De início, se resumia à #Ocupretar em que o objetivo era com os adesivos do projeto ocupar as ruas e com essa hashtag concentrar todos os locais dentro das redes sociais.
Em setembro de 2019, os números de alcance do projeto levaram o criador Rawier Queiroga a virar a chave de projeto para micro empresa impulsionadora e geradora de cultura negra e empresa criativa. O que os números mostravam era que o projeto criado para ocupar uma cidade de 22 mil habitantes havia chegado ao Estados Unidos, Canadá, Itália, além de 7 estados brasileiros.
Hoje, além do lançamento da revista digital, que por enquanto está sendo enviada com exclusividade para aqueles que acompanham o corre em suas redes (uma dica, segue eles no Instagram @ocupretar e deixe o seu e-mail pra receber a revista totalmente gratuita), com a pandemia, quarentena e todos em casa, a Ocupretar também lançou uma série de entrevistas.
“Queremos direcionar a atenção para mulheres que estão por trás dos corres que estão acontecendo nas produções artísticas. Muitas das vezes não são reconhecidas pelo o público, que raramente lê ficha técnica, onde esses nomes se encontram. Queremos transformar através de lives, onde podemos criar uma proximidade com o público, já que o intuito é apresentar um pouco da vida das convidadas, abordando assuntos como sua rotina”.
A repórter Afro Futurista Aniké Pellegrini é quem comanda o programa/Live “Mina do Corre”, toda segunda-feira as 21h, no instagram da ocupretar, ela entrevista uma “mina” que está nesse mundão fazendo o seu corre e seus sonhos acontecerem. Todas as lives do Mina do Corre estão disponíveis em versão podcast; Confira: