Síndrome da Senhorita Morello é a ânsia de uma pessoa branca, que até reconhece seus privilégios, se reconhece nele, mas não consegue entender que pessoas pretas podem ser tão inteligentes e capazes de ter uma vida tão plena quanto uma pessoa branca. Pessoas que se comportam como a Senhorita Morello, professora do Chris na série “Todo Mundo Odeia O Chris” acham que são superiores, seja moral ou psicologicamente e por isso se atribuem o papel de salvadores.
Esse tipo de comportamento, se traduz, por vezes, na postagem fotos de meninos de rua com uma legenda em alerta para seu trabalho de caridade. É aquele fotógrafo que ganha prêmio explorando a fome nos países do continente africano, mas pouco faz para trazer à tona o debate da culpa dos colonizadores.
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Na série, a professora do Chris costuma repetir frases que refletem o lugar comum com que os brancos olham para os negros, tendo dificuldade em reconhecer que pessoas negras podem fazer parte de uma família funcional e conseguir empregos que não sejam empregados nas casas dos brancos. Em determinado momento ela diz para o ex-presidiário: Malvo: “Com educação apropriada você poderia fazer tantas coisas! Você poderia ser lixeiro, motorista do carro do lixo, recolher o lixo do carro do lixo, uma lista infinita. ”
Em outro diálogo da série temos um exemplo da visão da Srta Morello sobre o protagonista: – Chris, se você tivesse um pai.
Chris: – EU TENHO UM PAI!
Prof Morello: Se você soubesse o nome dele!
Outra característica é achar que todo preto tem algum poder místico baseado em preconceito com religiões africanas. “Não é educado o senhor jogar sua macumba contra brancos”, diz Morello a Julius (Terry Crews).
Não raro, essas pessoas sentem atração pelos corpos pretos. Enxergam de forma hipersexualizada homens e mulheres pretos, mas não acreditam que essas pessoas possam ter relacionamentos duradouros e cheios de afetividade.
É possível identificar o padrão de comportamento da Senhorita Morello em muitas pessoas que estão no campo progressista do espectro político. Ainda que não percebam, reproduzem uma visão estereotipada do que seria ter uma “vida de pessoa preta”. Muitas vezes essas impressões são debatidas dentro de uma bolha onde não se permite a entrada dos próprios negros, como se o indivíduo negro não pudesse ter uma visão válida do que seria a própria vivência em uma sociedade estruturalmente racista.
A Senhorita Morello, como muitas pessoas que detém acesso ao conhecimento, até viajam para África, usam turbantes, vestem as capulanas, se encantam com os artesanatos regionais e assim entendem que possam explicar a ancestralidade negra aos próprios negros. Algumas passagens hilárias da série envolvem a surpresa da professora quando confronta uma realidade diferente da que idealiza para comunidade preta.
Não se é uma acusação generalizada, mas uma tentativa de reflexão para entender essas dinâmicas que envolvem quem imagina sempre estar numa posição didática quanto à realidade do outro.
Você pode assistir a todos os episódios de “Todo Mundo Odeia o Chris” pela Amazon Prime Video.
Já conheceu alguma Senhorita Morello?
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