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Por que as pessoas não são presas pelos crimes de racismo no Brasil?

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Por Zaira Castro – Jurista e Advogada

A Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH)  da Organização dos Estados Americanos (OEA) reconheceu  que no Brasil o racismo é institucional, o que implica diretamente na não aplicação da lei antirracista, destacando que “Da prova testemunhal, passando pelo inquérito na polícia até a decisão do Judiciário, há preconceito contra o negro. Os três níveis são incapazes de reconhecer o racismo contra o negro”.

Em 2021 a CIDH publicou seu relatório sobre a situação dos direitos humanos no Brasil, já que em 2018, a Comissão realizou uma visita in loco no território brasileiro com a avaliação até dezembro de 2019, e enfatizou que as pessoas afrodescendentes historicamente estão inseridas em um  contexto de discriminação estrutural e de racismo institucional, numa subjugação  que segue presente na sociedade brasileira e se repetem nas distintas estruturas estatais, também ressaltou que isso foi constatado em seu primeiro relatório sobre o país no ano de 1997.

Sendo assim, a resposta é notória por não existir prisões ou  penalizações decorrentes  dos crimes de racismo no território brasileiro, porque  o Brasil é um país institucionalmente racista, que nega constantemente a existência  da discriminação racial no seu território. Um dos argumentos  é ausência de tipificação do crime que, em regra, para a comprovação da prática do racismo, exige a  intenção do ofensor ao  discriminar a vítima.

Além disso, há sempre uma minimização da atitude do agressor, que sempre pede desculpas, expondo que  tudo não passou de um simples  mal entendido. E, ainda os casos denunciados são pouquíssimos, pois as vítimas não querem passar pelo transtorno judicial, haja vista que em sua  maioria é barrado na delegacia, onde os delegados minimizam a ação do acusado, interpretando como um simples mal entendido.

Deste modo, das denúncias que chegam a virar inquérito, muitas são descaracterizadas, e somente são aceitas como  injúria racial, crime este de ação penal privada que  depende da iniciativa da vítima para que o processo  seja iniciado.  E a  maioria das vítimas de racismo no Brasil vive uma situação vulnerável e não tem como contratar advogados, sequer tem conhecimento da legislação específica, e quando vai aos órgãos competentes, o procedimento fica estagnado, e por vezes o autor da injúria racial fica impune. Até porque o prazo da ação penal privada é de seis meses para ofertar a representação e ingressar com a queixa-crime.

E cabe destacar que  a consequência da desigualdade racial decorre do “racismo institucional”, das práticas individuais e estruturais que naturalizam a hierarquia racial. Senão, vejamos, a lei conduz à interpretação de que  para condenar alguém por racismo,  exige que o acusado tenha agido com intenção discriminatória, ou seja, com o dolo, que é uma conduta intencional, espontânea e com o objetivo do resultado ilícito . Por conseguinte, os tribunais não são uníssonos nas decisões para lidar com esse tipo de crime, e os magistrados não sentenciam os culpados por crime de racismo. Logo, o judiciário e a sociedade  brasileira não estão dispostos a colocar os criminosos na prisão por um tipo de atitude que é naturalizada no Brasil.

O racismo é imprescritível e inafiançável, ou seja, é punível com pena de prisão de um a cinco anos, iniciado através de ação penal pública (autor é Ministério Público). Já a injúria racial  é punível com pena de reclusão de um a seis meses, cabível através de ação penal privada e prescritíveis. Daí porque é mais fácil tipificar tão somente a injúria ou até difamação, já que a vítima da ação tem apenas um  breve prazo de seis meses para lutar por justiça diante da violação de um direito constitucional, o que conduz  ao crime não ser punido.

Vale ressaltar que as denúncias de crimes de racismo não se transformam em processos criminais e dos poucos são processados, um número ínfimo de perpetradores dos delitos raciais é condenado. Nesse ínterim, a CIDH em 2006 também recomendou que o Brasil, adotasse e instrumentalizasse medidas de educação dos funcionários de justiça e da polícia com o objetivo de evitar ações que provoquem discriminação nas investigações, no processo ou na condenação civil ou penal das denúncias de racismo.

Contudo, no Brasil,  existe legislação específica, como a Lei 7716/89 que penaliza os crimes resultantes de preconceitos de raça ou de cor,  bem como o artigo 140 do Código Penal que  pune a injúria consistente na utilização de elementos referentes à raça, cor, etnia, religião ou origem. A punição no território brasileiro é frágil, considerando a falta de aplicação normativa, inclusive  com base no relatório da  CIDH ao reconhecer que  a Justiça brasileira tende a ser  condescendente com a prática de discriminação racial e que dificilmente condena um branco por esta ação, até conduzindo à falsa impressão de que no Brasil não acontecem práticas discriminatórias, e  suponho que por isso um dito cujo declarou que no Brasil não existe racismo.

Portanto, as pessoas não são presas no Brasil pelos crimes decorrentes de racismo, em razão da dificuldade de comprovar o crime de ódio culminado com a intenção racista, ao exigir a que o acusado da tipificação do crime de racismo declare que teve um ato preconceituoso numa conduta motivada pela discriminação racial, além da ineficácia do judiciário em investigar e sentenciar os crimes decorrentes de preconceito de raça ou de cor junto ao perene racismo institucional e discriminação estrutural histórica, que abarcam na manutenção de uma mísera cultura de domínio racial num ciclo irreparável de violações de direitos humanos.

“Jeremias-Alma” é obra-prima em quadrinhos sobre a busca de um jovem preto pelas suas origens

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Quando a HQ “Jeremias-Pele” foi lançada, em 2018, o público teve acesso à uma pérola dos quadrinhos nacionais, concebida por Rafael Calça e Jefferson Costa (roteiro e ilustração respectivamente). A história conseguiu se destacar como a melhor obra da série de ‘Graphic MSP‘ da Maurício de Sousa Produções, ganhando o Prêmio Jabuti de Melhor História em Quadrinhos, em 2019.

Para a sequência, mergulhamos ainda mais no universo de Jeremias, personagem negro mais reincidentemente da Turma da Mônica. O garoto se depara com Franjinha indo para Europa buscar as raízes italianas de sua família e isso desperta em Jeremias a curiosidade sobre as origens de sua família, o que acaba por se mostrar uma tarefa difícil, visto que a família do garoto sofreu o apagamento de histórico ancestral comum a muitas famílias pretas no Brasil.

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Página da HQ Jeremias-Alma

A HQ se desenvolve ainda mais comovente que sua antecessora, com uma passagem de dar nó na garganta onde Jeremias e sua avó falam do quanto a escravidão invisibilizou a história das famílias pretas brasileiras. “Alma” continua a discutir o quanto o racismo pode potencializar o sentimento de inadequação de uma criança negra em sua turma, mas não deixa de reforçar a necessidade de conhecer o passado para que se possa tomar o poder nas mãos e elevar a autoestima.

A arte de Jefferson Costa é única e, para quem acompanha os quadros do desenhista vai conseguir reconhecer de primeira a identidade dos traços em outros trabalhos. O texto de Rafael Calça é poesia pura. Junto com “Pele”, “Jeremias – Alma” é obra obrigatória para adultos e crianças pretas, seja qual for o gênero literário preferido.

Cantora Gabriellê fala sobre ansiedade e saúde mental em novo single

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Foto: Jubiis Kobra

A cantora, compositora e produtora musical, Gabriellê, lançou no dia 20 de maio, o single “Wikipedianos”, o quarto trabalho autoral de sua carreira. A música e o videoclipe tratam sobre a necessidade que sentimos em saber de tudo a todo momento e de como isso é extremamente maléfico à saúde mental.

A cantora possui várias composições dentro da temática da ansiedade e da saúde mental, e Wikipedianos é o primeiro single lançado, que busca tratar essas questões. “A música se chama Wikipedianos e fala sobre a nossa ânsia de ter todas as informações e de como isso polui a nossa mente nessa busca de ter as respostas para diversas questões, sejam dores, sejam problemas do mundo ou problemas pessoais. A gente busca informações o tempo todo, como se fosse para fugir do nosso próprio presente, da nossa própria realidade”, conta a artista. 

Gabriellê conta que, de certa forma, a música fala sobre parte do seu cotidiano, já que também precisa lidar com a própria ansiedade. “Eu falo na música: “Será que somos todos Wikipedianos? Nas horas vagas, as dúvidas chegam e eu me iludo, querendo ter uma resposta pra tudo.” E antes de mais nada, assim… Eu estou falando muito de mim, estou falando totalmente de mim. Porque nas minhas horas de insônia, às vezes eu quero fugir de mim mesma”, relata a multiartista.

Mostrando sua versatilidade e diferentes referências de estilos musicais, este é o primeiro trabalho da cantora no estilo Reggae. “Admiro muito o samba reggae nascido na Bahia, que tem tantos artistas e grupos incríveis. Minhas referências musicais, e brasileiras, para criar nesse estilo são Lazzo Matumbi, Edson Gomes, Ile Ayê, Cidade Negra e Margareth Menezes”, conta Gabriellê.

Gravado em dois locais diferentes, o clipe do single foi pensado de forma que pudesse transparecer a vivência de um ‘eu’ ansioso, que vive entre o caos e a calmaria. A primeira locação escolhida foi o Ferro Velho Santo Amaro, representando essa ansiedade, o acúmulo de coisas, de informações, e também, fazendo referência ao lixo eletrônico. Em contrapartida ao caos, surge a segunda locação, o Parque Nabuco, que representa a tranquilidade. 

“Nos dois locais tem a dançarina convidada, Bruna Vitorino, que dança tanto no caos, quanto na tranquilidade. E simboliza a vida de alguém que tem ansiedade ou que tenha algum outro transtorno. Às vezes a gente está dançando e está no caos, e tem momentos de paz. Às vezes a gente pode estar em um momento de paz, e de repente dançar um pouco no caos. E a gente vai aprendendo a naturalizar isso, sem romantizar. Mas naturalizar mesmo, no sentido de nos entender melhor, nos conhecer melhor e de entrar nessa dança”, conta a artista.

O figurino do clipe ficou por conta de Aman Requena, figurinista que trabalha com moda consciente. A maioria das peças trabalham o conceito de upcycling (reutilização, em inglês), sendo boa parte montadas com retalhos de tecidos, pedaços de mangueira, elástico, alfinetes e peças compradas em brechós. Seguindo essa linha, a marca Anjo Negro Store apoiou o clipe disponibilizando acessórios feitos de lixo eletrônico, como disquete, peças de teclado, e também um QR Code que simboliza também a tecnologia atual e futura. “Tudo isso nos convida a pensar, como estamos lidando com o nosso consumo, pois isso está conectado com como estamos com nós mesmos, nossa casa e o nosso mundo”, relata Gabriellê.

Sobre Gabriellê

Gabriellê é cantora, compositora, educadora e produtora musical, nascida no Jabaquara, zona sul de São Paulo. Suas canções abordam suas inquietações acerca do mundo e de si, passeando por diferentes estilos da música preta brasileira, com grande influência do hip hop. Traz em suas letras temáticas sobre afeto, saúde mental, cotidiano, ancestralidade, entre outros temas inspirada pela sua vivência como mulher preta.  Além de cantora e compositora, atua como educadora em projetos sociais e culturais, onde muitas vivências também influenciam e dialogam com o seu trabalho artístico. Lançou em 2019 os singles Fúria e Sede, em 2020 o videoclipe de Oxitocina e atualmente trabalha na produção do seu primeiro álbum.

“Movimentar meu corpo gordo, não tem nada a ver com emagrecimento”, diz a “atleta de peso” Ellen Valias

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Ellen Valias - Foto: Arquivo pessoal

A pandemia agravou ainda mais a relação das pessoas com o próprio corpo. A alimentação piorou e o sedentarismo aumentou. Para pessoas gordas isso é ainda mais cruel, porque a maioria das referencias de bem-estar e condicionamento físico são pessoas magras (e brancas).

A estudante de educação física Ellen Valias, usa as redes sociais para incentivar pessoas gordas como ela a se mexerem sem medo de ser feliz. Se engana quem pensa que a paulistana de 39 anos, vai ensinar seus seguidores exercícios para emagrecer.  “As pessoas precisam construir uma nova relação com atividade física, porque tudo o que falaram para a gente é errado. É baseado é numa estética imposta, em um falso discurso de saúde que só busca o emagrecimento. Então as pessoas começam na atividade física porque tem um projeto de verão, porque tem que se punir porque comeu alguma coisa. As pessoas precisam começar a construir uma nova relação com a atividade física”, explica a mãe de três filhos.

Seu perfil no Instagram @atleta_de_peso tem quase 90 mil seguidores que recebem um conteúdo inspirador por meio de fotos e vídeos de pessoas gordas fazendo o que influenciadores fitness padrão fazem.  “É importante buscar profissionais de saúde também que falam isso de forma honesta. Não como a gente vê na internet que blogueiras e blogueiros lucram, toda essa indústria lucra através de um falso discurso de saúde”, detalha.

Na perspectiva das pessoas negras, Ellen reconhece as dificuldades até pelo ponto de vista financeiro. “O sedentarismo atinge sim as pessoas negras de forma diferente das pessoas brancas e privilegiadas. Porque a atividade física ela ainda é um privilégio na nossa sociedade. Quem tem privilégio tem lá o seu personal trainer ou consegue frequentar uma academia que é um ambiente que exclui o corpo gordo. A população preta precisa se movimentar, a gente precisa ter esse hábito saudável que é direito nosso, mas aí é vendido somente um sonho de que o  menino tem que ser um jogador de futebol  e nesse  falsos discursos de sonho que ele pode ficar rico que só dá essa opção para o menino preto”, exemplifica a influenciadora.

Sobre sua produção de conteúdo na Internet Ellen foca na sua preocupação em acolher o aluno que não se sente bem-vindo em outros ambientes.

“Eu tento mostrar aqui essa representação do corpo gordo que se movimenta e isso não tem nada a ver com emagrecimento. No meu canal no YouTube, no Instagram também a aula com os professores recebendo uma pessoa a gorda de forma acolhedora.  As pessoas gordas se sentem mais à vontade quando o professor é gordo, lembrando que esse professor gordo também é questionado profissionalmente por ser uma pessoa gorda”, finaliza a influenciadora.

“Uma menina não está segura em um mundo cheio de homens”, Oprah Winfrey fala sobre abuso sexual em novo programa

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Imagem: Reprodução

A apresentadora de televisão Oprah Winfrey, de 67 anos, fez tristes revelações na série documental  ‘The Me You Can’t See‘ (“O eu que você não pode ver” em tradução livre), programa produzido por ela e pelo Príncipe Harry. Oprah afirmou ter sido violentada diversas  vezes por um primo mais velho. Os abusos começaram a partir dos seus nove anos de idade da futura apresentadora. “Aos nove, 10, 11 e 12 anos, fui estuprada por meu primo de 19 anos. Eu não sabia o que era estupro. Certamente não estava ciente da palavra”, revelou emocionada.

The Me You Can't See: Oprah Winfrey says childhood rape convinced her that  girls 'aren't safe in a world full of men' | The Independent
Imagem: Reprodução ‘The Me You Can’t See

A apresentadora contou ao público do programa que não tinha a menor ideia da gravidade e que se manteve em silêncio por anos sobre o ocorrido.”Eu não tinha ideia do que era sexo, não tinha ideia de onde vinham os bebês, nem sabia o que estava acontecendo comigo. E eu mantive esse segredo”, disse.

“E é apenas algo que aceitei. Que uma menina não está segura em um mundo cheio de homens”, concluiu.

O programa visa trazer pautas importantes sobre abuso sexual, saúde mental através de relatos pessoais de personalidades como Glenn Close. A série também contou com revelações da cantora Lady Gaga sobre assédio sexual e depoimentos do Príncipe Harry.

‘Iê acarajé’: Websérie apresenta história das baianas e suas tradições

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Foto: Amanda Oliveira.

O acarajé, comida sagrada da orixá Oyá e reconhecido pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), como Patrimônio Cultural do Brasil, é tema da websérie Iê Acarajé, que estreia no perfil do Instagram da Casa MAR, no próximo dia 25. Elemento simbólico e constituinte da identidade baiana, com forte ligação com as religiões de matriz africana, o acarajé é reconhecido como uma das mais importantes contribuições africanas à identidade do país, revelando uma cultura afro-brasileira, ancestral e matriarcal.

A série é um retrato especial sobre a vida e desafios de cínco baianas de acarajé: Ubaldina, Dinha, Elaine, Taty e Marluce, em suas comunidades e a sua relação com a religiosidade, família e trabalho.

Dividida em quatro episódios, a narrativa apresenta o trabalho das baianas sob diferentes perspectivas, desde a escolha pela profissão, seja por herança familiar, acordos coletivos, oportunidade de empreender e contato com a religiosidade.

“‘lê Acarajé’ é a união de duas paixões: acarajé – não à toa tenho a palavra dendê tatuada no braço, e a possibilidade de encontrar grandes personagens e dialogar com eles. Por isso, o mais interessante desse processo foi a troca com essas mulheres, ouvi-las sobre suas trajetórias, vivências, dores e delícias de suas vidas e perceber como ser baiana é fundamento para elas serem quem são.” revela Mariana Jaspe, diretora e roteirista.

Resgatando importante referência histórica e cultural, a escolha do nome “Iê acarajé” faz referência à primeira metade do século XX, quando, segundo o ex-diretor do Centro de estudos Afro-Orientais da Universidade Federal da Bahia, Ubiratan Castro, as famílias aguardavam, às 19h, as mulheres do acarajé passarem em uma espécie de cerimônia, anunciando a venda de ‘Iê acarajé, Iê abará!’.

Emocionante e revelador, o objetivo da websérie é mostrar de perto a vida dessas baianas, suas histórias e seus desejos, desvendando como essas mulheres, que trabalham alimentando o povo, lidando diretamente com o público, estão atravessando o atual momento de incertezas e distanciamento social.

“Vivo em uma sociedade que foi pensada para aniquilar existências como a minha”: Diz Eloá Rodrigues, Miss Beleza T Brasil

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Eloá Rodrigues - Foto: Divulgação

Entrevista e texto por: Joe Andrade

Eloá Rodrigues é estudante de Ciências Sociais pela Universidade Federal Fluminense (UFF), modelo, atriz, ativista dos Direitos da população Preta e LGBTI e Miss Beleza T Brasil, ela irá representar o país na Tailândia, no concurso Miss Internacional Queen, nessa entrevista exclusiva para o Site Mundo Negro, Eloá fala sobre sonhos e reflete sobre oportunidades para a comunidade trans/travesti no Brasil, confira: 

Mundo Negro (Joe Andrade):  Como foi o processo para se tornar uma miss? 

Eloá – Foi um processo quase paralelo a minha transição de gênero, um percurso de muita autoanálise, preparação, de construção e reconstrução e de muitas pessoas envolvidas, por isso costumo dizer que deixou de ser só meu sonho e se tornou de todos que, direta ou indiretamente, estavam ligados a este projeto. Eu sempre ouvi falar dos concursos de mulheres cis, porém o concurso para mulheres Trans e Travestis ainda não tinha tanto espaço e visibilidade. Em 2015 foi a primeira vez que tentei participar do extinto Miss T Brasil (que também era a nível nacional e mandava a brasileira para a competição na Tailândia). Porém minha inscrição não foi aceita. Em 2016 participei do também extinto Miss T Niterói, não angariando o pódio, entretanto a experiência e troca que tive foram transformadoras. Em 2017 tentei o Miss T Brasil novamente e, novamente, não fui aceita. Em 2019 foi lançado o Miss Beleza T Brasil e novamente tentei, e minha inscrição foi aceita. Sendo a minha primeira participação de um concurso a nível nacional. Fiquei no top 10, nessa ocasião, o que me motivou a continuar tentando a realizar meu sonho, que era ser a Miss Brasil. Feito que consegui na segunda edição do concurso, novamente representando meu estado (Rio de Janeiro). Consegui alcançar o meu objetivo maior, um percurso que não foi fácil, mas que com a ajuda da minha família, equipe e amigos, consegui chegar aonde mais desejava.

De que forma os concursos de beleza contribuem para a luta da comunidade T?

Eloá – Minha vivência já diz por si. Venho da periferia, sou negra e os sonhos para mim, no geral, nunca deixaram de ser sonhos. Vivo em uma sociedade que foi pensada para aniquilar existências como a minha. O Brasil é o país que mais mata jovens negros, que mais mata pessoas trans, e neste sentido é uma luta diária tentar criar uma narrativa sobre mim mesma e sobre meus iguais. Então acredito que sim, os concursos de beleza, em especial os direcionados para pessoas Trans e Travestis, ajudam a humanizar nossas existências e mostrar que é possível sonhar e criar outras narrativas sobre a nossa existência. Mesmo não sendo a solução para todas as nossas questões, servem para viabilizar o debate sobre o trânsito e a convivência social com os nossos corpos, com a possibilidade de naturalização, humanização e possibilidade de dignidade.

Eloá Rodrigues – Divulgação

 Em 2018, Angela Ponce desfilou no Miss Universo representando a Espanha. Ela não chegou entre as 20 colocadas, mas fez história sendo a primeira mulher trans a desfilar no maior concurso de beleza do mundo. Como você analisa a presença de mulheres trans/travestis em concurso de maioria cisgênera?

Eloá – Acredito que a nossa presença em concursos tradicionais deveria ser encarada com naturalidade e com a possibilidade de troca ainda mais interessante de vivências e experiências, porque afinal, somos mulheres. Entretanto a maior questão que permeia a inserção de pessoas Trans e Travestis, nos meios de convivência e mais especificamente no âmbito das competições, em qualquer esfera, é que a sociedade não está disposta a nos dar humanidade e reconhecer que somos dignas de ocupar determinados espaços, e não está disposta a fazer este tipo de diálogo de forma honesta, de forma horizontal e límpida, nos colocando no centro do debate. Desta maneira é mais fácil, dizer “que eles criem um concurso para eles “, no intuito de continuar nos colocando as sombras ou em nossos guetos. Frente a isso, continuo acreditando que hoje conseguimos atingir a um nível de diálogo com a sociedade, que é impossível dizer que nós não existimos (como faziam há não muito tempo atrás), e mesmo frente a tantos retrocessos, acredito que é uma movimentação que não tem mais como ser desfeita.

Quais suas referências de beleza?

Eloá – Minhas referências, vão para além do estereótipo que foi criado em torno do que é ser belo, para mim é muito mais complexo do que só “ter beleza”. Pessoas que me nutriram e me ensinaram algo sobre a vida, como ser uma pessoa melhor, que são parte da mulher que sou hoje. As mulheres da minha família, minhas amigas, as mulheres negras que fizeram e fazem parte da minha formação política e tantas outras, são minha referência não só de beleza, mas do que é ser mulher nesta sociedade.

O que podemos esperar no Miss Internacional Queen?

Eloá – Tem um trabalho lindo sendo preparado. Estou tentando dar conta de tudo o que este momento e processo exige. São muitos detalhes, muitos profissionais e muita gente que acredita no meu potencial. Terá muita ousadia, representatividade e amor. Estamos levando algo que é a mistura do clássico com o inovador. É um desafio, mas estou muito entregue e confiante. Meu maior intuito é que as pessoas ao falarem do Miss Internacional Queen 2022 automaticamente lembrem com orgulho de terem sido representados por mim!

Joe Andrade, autora da entrevista, é atriz e acadêmica em Teatro.

Michelle Williams fala sobre sua batalha contra a depressão e a reação das integrantes do Destiny’s Child

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Foto: reprodução/Internet

Nesta sexta-feira (21) a cantora Michelle Williams falou em entrevista para a CBS sobre depressão e sua luta para mudar os estigmas que caem sobre doenças mentais.

Em 2018 a cantora se internou durante semanas para tratar sua depressão e comunicou a amigos e fãs no Instagram que reconheceu ser a hora de procurar por ajuda

“Por anos me dediquei a aumentar a conscientização sobre saúde mental e empoderamento de pessoas para reconhecer quanto é hora de procurar ajuda, apoio e orientação que as amam e cuidarem de seu bem-estar”, publicou a cantora.

https://www.instagram.com/p/BlWAAovl7JV/?utm_source=ig_embed&ig_rid=4d49f6b6-5be2-4e68-b700-a793077b98fd

Hoje, Michelle falou da reação das suas amigas, ex-integrantes do grupo Destiny’s Child e revelou como era a relação com elas durante esse período.

“Elas ficaram bem tristes por eu não ter contado a elas tudo que eu estava passando. Elas estavam casando, tendo filhos… E eu não queria ir a chás de bebês! (…) elas ficaram bem magoadas”

Michelle Williams, do Destiny's Child, deixa show na Broadway após fim de  noivado e crise de depressão - Quem | QUEM News

Mostra de cinema para debater a construção da identidade negra em países latinos será online e gratuita

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Fotos: Divulgação/América Negra

Entre os dias 04 e 13 de junho, o NICHO 54, instituto que atua no desenvolvimento de carreira de profissionais negros no audiovisual, promove a mostra online “América Negra: Conversas Entre as Negritudes Latino-americanas”. Com acesso online gratuito, a programação será formada por 35 filmes produzidos em 10 países diferentes e divididos entre ficções, documentários e obras experimentais.

A curadoria da mostra propõe uma reflexão sobre a descentralização dos Estados Unidos como principal campo do olhar de produções audiovisuais que retratam as vivências pretas da diáspora. A seleção contempla filmes produzidos ao longo dos últimos 20 anos, que convidam o público a mergulhar num diferente imaginário cinematográfico e racial sobre esses territórios da América Latina.

A programação da mostra será aberta no dia 04 de junho com a exibição de três filmes que têm em comum a dança, a música e a ancestralidade como fios condutores das narrativas e teve o apoio da Open Society Foundations.

Os três filmes que abriram a mostra audiovisual no dia 4 de junho serão, “Diabinhos, diabinhas e alminhas”, de Isis Violeta Contreras Pastrana; “Tambores afro-uruguaios”, de Naouel Laamiri e Rafael Ferreira – e, fechando a programação de estreia, o longa “Del palenque de San Basilio”, de  Erwin Goggel, produzidos no México, Uruguai e Colômbia, respectivamente. A mostra traz ainda filmes de Cuba, Equador, Peru e Bolívia.

Representada por 11 títulos, a produção brasileira marca presença com obras de diferentes estilos e linguagens. Destaque para a estreia de Invazão Brazil, de Laryssa Machada, e (Outros) Fundamentos, da artista visual Aline Motta, que traz imagens captadas nas cidades de Lagos, na Nigéria, em Cachoeira, na Bahia, e no Rio de Janeiro, destinos que representam a jornada da diretora em busca de suas raízes.

Os 35 filmes que compõem a mostra serão exibidos por meio da plataforma de streaming exclusiva Sala 54, que abrigará todas as mostras online de filmes do NICHO 54. Cada título ficará disponível para acesso por um período de 43 horas a partir da data de estreia no site.

“A programação convida o público a fazer um ‘mochilão’ cinematográfico pela América Latina, tendo a negritude como acompanhante privilegiada dessa jornada. Esta mostra possibilita ainda que a plateia acesse manifestações culturais da diáspora, descubra os diversos marcadores de racialização presentes nestes territórios e encontre paralelos entre as experiências de racismo e resistência à opressão na América Latina”, explica Heitor Augusto, codiretor do NICHO 54 e diretor curatorial da mostra, que contou também com aportes curatoriais de Bruno Galindo, Gabriel Araújo, Kariny Martins e Mariana Souza.

CURSO DE FORMAÇÃO:

A mostra de cinema será antecedida pelo curso ”Discursos Acerca das Negritudes Latino-americanas”, a ser realizado entre os dias 31 de maio e 03 de junho, sempre das 19h às 21h30. A atividade é composta por quatro encontros focados em um país diferente, com o objetivo de oferecer uma perspectiva da formação da identidade negra em diferentes territórios da região.

O curso será aberto com o encontro da Colômbia “Diálogos de fronteira: Perspectivas afro-colombianas e negro-brasileiras”, conduzida pelas artista Stéphanie Moreira em conjunto com a artista plástica Liliana Angulo Cortés. Na aula seguinte, o público terá acesso à perspectiva argentina, com a masterclass “Também somos negros! A Argentina e os aportes da população Afro”, com a professora Miriam Cortez.

No dia 02 de junho, será a vez da masterclass “México: racialização e diálogos afro-indígenas”, com o rapper Bocafloja. A formação será concluída com aula “Lélia Gonzalez e a Améfrica Ladina: notas sobre racialização a partir do Brasil”, ministrada por Flávia Rios, socióloga, professora adjunta da Universidade Federal Fluminense (UFF) e coorganizadora do  livro “Por um feminismo latino-americano: Lélia Gonzalez”.

Serão oferecidas 30  vagas para o curso. Os interessados podem se inscrever pelo link disponível aqui até o dia 25 de maio. As pessoas selecionadas serão informadas pelo e-mail indicado no formulário de inscrição.

SERVIÇO:

O quê: Mostra – América Negra: Conversas Entre as Negritudes Latino-americanas

Quando: de 4 a 13 de junho de 2021 (segunda a domingo)

Onde: exibições online pela plataforma Sala 54, disponível em www.sala54.com.br (disponível a partir de 25 de maio). 

Quanto: Grátis

O quê: Curso Discursos Acerca da(s) Negritude(s) Latino-americana(s)

Quando: 31 de maio a 3 de junho de 2021

Horário: Das 19h às 21h30 (horário de Brasília)

Onde: Transmissão via plataforma Zoom

Inscrições: até o dia 25 de maio de 2021 – Inscreva-se por aqui

Em novo single, Lil Nas X se abre sobre as dores de ser um menino preto e gay.

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Em Sun Goes Down, Lil Nas X revisita a própria história. Foto: Divulgação.

O rapper Lil Nas X lançou nesta sexta-feira (21) o single Sun Goes Down. A música conta um pouco da trajetória de Nas enquanto um menino preto e gay, desde a dificuldade em ser aceito pelos colegas por ter a pele escura e lábios grossos, até as tentativas de se livrar de ‘pensamentos gays’. No novo single, Nas escancara as portas de suas vulnerabilidades.

Com um ritmo bem mais suave do que o último lançamento de Nas, Montero (Call Me by Your Name), Sun Goes Down inspira uma empatia quase automática com o sofrimento que o rapper expressa, em especial, quando menciona suas “vontades de fugir” e, até mesmo, acabar com a própria vida, que sentia ao ser vítima de racismo.

Confira o clipe:

Em um segundo momento da canção, Nas se orgulha de ter ‘dado um salto de fé’ e que ‘tudo deu certo’ pra ele. Mas ainda parece aguardar pela aprovação do público, quando diz: ‘vou fazer meus fãs ficarem orgulhosos de mim’.

No próximo sábado (22) o artista vai participar do talkshow Saturday Night Live, onde vai performar Sun Goes Down e o hit Montero.

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