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‘7 Prisioneiros’: Filme da Netflix com Christian Malheiros estreia no Festival de Cinema de Veneza

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O novo longa nacional da Netflix, “7 Prisioneiros”, será exibido pela primeira vez no dia 6 de setembro durante o 78º Festival Internacional de Cinema de Veneza. O filme, dirigido por Alexandre Moratto e protagonizado por Christian Malheiros e Rodrigo Santoro, foi selecionado para participar do Festival na categoria competitiva Orizzonti Extra, que reúne trabalhos de diferentes gêneros, audiência e duração. Após a première global no festival, ‘7 Prisioneiros’ estreia oficialmente ainda em 2021 na Netflix.

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Imagem: Aline Arruda/Netflix


Na trama, o jovem Mateus (Malheiros) sai do interior em busca de uma oportunidade de trabalho em um ferro velho de São Paulo comandado por Luca (Santoro). Chegando lá, acaba se tornando vítima de um sistema de trabalho análogo à escravidão. A produção é de Ramin Bahrani (diretor indicado ao Oscar com ‘O Tigre Branco’, também da Netflix) e Fernando Meirelles (indicado ao Oscar com ‘Cidade de Deus’). O roteiro é assinado por Thayná Mantesso e pelo diretor Alexandre Moratto. Conhecido por seu trabalho em ‘Sócrates’ (vencedor do Spirit Awards), este é o segundo longa metragem do cineasta brasilo-americano.

‘7 Prisioneiros’ é mais uma das produções nacionais que serão lançadas ainda este ano pela Netflix

Turma da Mônica homenageia Tereza de Benguela pelo Dia da Mulher Negra Afrolatina e Caribenha

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Foto: Divulgação.

Com traços de Milena, a líder quilombola entra para o hall das Donas da Rua da História

Com o objetivo de trazer visibilidade e reforçar a importância do 25 de Julho, a Mauricio de Sousa Produções (MSP) homenageia a mulher que dá nome a esse dia: Tereza de Benguela. A líder quilombola acaba de entrar para o hall das Donas da Rua da História. A ação faz parte dos compromissos da MSP como signatária dos Princípios de Empoderamento das Mulheres, plataforma da ONU Mulheres e do Pacto Global, e tem como objetivo resgatar a trajetória de mulheres que marcaram a humanidade com suas ações.

Tereza de Benguela, ou Rainha Tereza, como ficou conhecida em seu tempo, viveu no século 18, no Vale do Guaporé, no Estado do Mato Grosso. E seus feitos fazem parte da história pouco contada do Brasil e que vem sendo resgatada pelo movimento negro.

Depois de seu marido, José Piolho, ser morto por soldados, ela foi responsável pela liderança do Quilombo do Piolho (também conhecido como Quilombo do Quariterê), o maior do Mato Grosso. Segundo informações de documentos da época, esse refúgio abrigava mais de 100 pessoas, entre negros e indígenas e resistiu da década de 1730 ao final do século 18, depois de ter sido atacado pelo exército.

Para Mônica Sousa, diretora-executiva da Mauricio de Sousa Produções, trazer visibilidade para essa data e para a protagonista desse marco histórico é poder inspirar e empoderar outras meninas e mulheres. “Tereza foi uma mulher forte e que nos deixou um legado atemporal. Tereza foi e continua sendo exemplo de resistência”, destaca.

Criado em 2016, o Donas da Rua tem como um de seus objetivos trazer visibilidade às mulheres notáveis para que se tornem exemplo, incentivem e conscientizem outras meninas e mulheres de que todas são capazes de marcar a história da humanidade. Essa proposta da MSP demonstra seu compromisso como signatária dos Princípios de Empoderamento das Mulheres, plataforma da ONU Mulheres e Pacto Global.

Tereza de Benguela e todas as outras homenageadas podem ser conferidas no site: https://turmadamonica.uol.com.br/donasdarua/ddr-da-historia.php.

Dia dos Avós: Ouvir a eles é como ouvir a nós mesmos no futuro

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Imagem: Reprodução

Antes mesmo de entrar, o cheiro do tempero do almoço te recepciona na porta. (eu arriscaria frango com quiabo, ou churrasco). Você ouve um samba tocando, Bezerra da Silva, talvez. Ao entrar, a casa está cheia, você cumprimenta e pede a benção aos seus tios e avós. Sim, você está na casa deles! Se fechar os olhos agora, consegue se lembrar de cada detalhe da casa e das reuniões, mesmo que o tempo tenha passado, você tenha crescido, e eles não estejam aqui agora para você abraçar e desejar um feliz Dia dos Avós neste 26 de julho, acompanhado de um presentinho, algo simples mas que eles iriam adorar.

Não é tão difícil se recordar dos costumes, dos ditados, das histórias que eles contavam, da xícara de chá milagrosa, do casaco de tricô feito a mão. Não é difícil porque nossos avós continuam vivos dentro de nós. Continuam como uma intuição, um instinto, uma voz, um hábito que nem percebemos, mas é deles. Não é difícil se lembrar de quem falamos com amor.

Do poderoso álcool com arnica que curava tudo, ao futebol no radinho de pilha, passando pelo benzimento de arruda, é possível notar a memória dos nossos avós em cada um destes detalhes. São eles os pilares da família, a quem buscamos quando precisamos visitar uma lembrança. Eles estavam antes de nós, receberam esse conhecimento sobre nossos antepassados de nossos tataravós, e nos passaram adiante para que nunca morram. Mas será que ouvimos tanto quanto deveríamos? Espero que sim, no entanto essa narrativa vem se alterando com o passar do tempo.

Embora a relação de carinho, respeito, atenção e cuidado que existe entre avós e netos vêm mudando nas últimas décadas, de acordo com a nova realidade da terceira idade e também marcada pelos avanços tecnológicos, é importante que se mantenha o diálogo, o olho no olho, a troca de informações. É importante que, passando a pandemia, essa relação não seja restrita apenas a uma conversa por aplicativos de mensagem ou troca curtida em redes sociais. Ainda será preciso passar uma tarde inteira com nossos anciãos olhando os álbuns de fotos e conhecendo as tradições de nossa família, nossos antecessores.

Assim como é importante estudar história na escola para saber de onde viemos, onde estamos e para onde vamos, é importante conhecer a história de nossa família pelos mesmos motivos, porém em um âmbito mais pessoal. Se você ainda tem a honra de ter os seus avós por perto, por favor, não desperdice essa chance. Se seus filhos ainda têm os avós, não os prive desse direito. E se você é avô ou avó, nunca duvide do poder que emana sobre seus netos.


‘Preciosa – Uma História de Esperança’: Só se consegue ver uma vez, mas precisa ser visto

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“O amor não fez nada por mim.O amor me machucou, me estuprou e me chamou de animal. Me fez sentir inútil e me deixou doente”. Essa passagem de ‘Preciosa – Uma História de Esperança’, longa dirigido por Lee Daniels, resume qual a experiência que se tem ao assistir a jornada de Claireece “Preciosa” Jones (Gabourey Sidibe) de 16 anos. É doloroso, áspero e é difícil assistir.

Preciosa, uma história de superação – Filme | Blog do Seu Alipio
Imagem: Reprodução

Preciosa é um adolescente negra, obesa, moradora do Harlem nos anos 80 e está grávida de seu próprio pai pela segunda vez. Ela não sabe ler nem escrever e sofre abuso constante nas mãos de sua mãe,Mary Lee (Mo’nique). Ao ser transferida para uma escola alternativa, a garota sente uma gota de esperança  ao encontrar o acolhimento da nova professora, a Sra. Rain (Paula Patton).

O diretor poderia ter pegado mais leve em toda a violência psicológica que a protagonista sofre? Poderia. Mas amenizar as dores de uma história vivida por milhares de meninas negras pelo mundo não fariam do filme uma experiência tão exasperante e, talvez, necessária.

Não é uma jornada de herói colorida. As pessoas que passam pela  vida de Preciosa também levam vidas complicadas, mesmo as que tentam ajudar. O ar pesado permeia até as interações que visam motivar  Preciosa que, diante de intervalos na dor, imagina números musicais em que ela é a princesa do garoto mais bonito, o centro das atenções de um mundo colorido e prazeroso. Quantos de nós não dedicamos alguns minutos de prazer escapista no mundo da imaginação em fases que tudo parece não ter jeito?

Mariah Carey (irreconhecível) e Lenny Kravitz aparecem bem no filme . Ele como um enfermeiro de ar acolhedor e ela como assistente social que percebe o quão maldosa é a genitora da protagonista. Mas é na atuação de Sidibe e de Mo’nique que reside o maior poder de ‘Preciosa’. A sensação é que a câmera de Daniels captou interações reais de mãe e filha dilaceradas por um lar destroçado por violência psicológica e física. As duas atrizes foram indicadas ao Oscar e Mo’nique levou a estatueta de Melhor Atriz Coadjuvante. A cara fechada de Sidibe se transforma num choro ardido quando finalmente se mostra vulnerável para a Srta Rain e a desfaçatez de Mary Lee consegue fazer da personagem uma das mais odiosas da história recente do cinema.

A única coisa que mantém a mãe e a filha sob o mesmo teto é que a primeira usa o dinheiro da pensão destinado à primeira neta para manter alguns vícios sem precisar trabalhar. A câmera na mão do diretor faz com que a imersão naquele mundo áspero seja maior, mas também há recompensas, por exemplo quando Preciosa começa a exteriorizar sentimentos para as novas amigas da escola e também quando aprende a escrever.

É particularmente irritante a atitude de Mary Lee ao culpar a filha pela perda do marido, como se o estupro fosse um consentimento de Preciosa.

A escolha para a trilha sonora é minimalista. O que ajuda no retrato realista das situações, escapando de transformar passagens dolorosas em manipulativas e cafonas.

“Preciosa – Uma História de Esperança” é doloroso, requer que se respire fundo e dificilmente você irá retornar para uma segunda visita. Mas é uma experiência necessária recheada de ótimas atuações. Prepare um lencinho.

Disponível no Amazon Prime Vídeo.

Estilistas negros são destaque da Casa dos Criadores que terá desfile com Érika Hilton e show de Rico Dalasam

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Erika Hilton para a KF Branding. Foto: Rikko Oliveira.

A 48ª edição da Casa de Criadores, evento de moda que sucede a São Paulo Fashion Week acontece de 26 a 30 de julho e, neste ano, 15 marcas e estilistas integram a programação. São elas: Alexandre dos Anjos; Berimbau Brasil; Dendezeiro; diegogama; Estúdio Traça; Gefferson Vila Nova; Jal Vieira; Kel Ferey; Mônica Anjos; Nalimo; NotEqual; Oroomin; Studio Ellias Kalleb; Thear e Trashrealoficial.

A atriz Aretha Saddick abre a programação com o prelúdio audiovisual “Anti Feitiço”, que fala sobre o direito ao silêncio e a vereadora de São Paulo, Erika Hilton, também aparece como modelo no desfile da marca Kel Ferey. Ao final de cada dia de desfile, apresentações musicais e shows encerram a programação. O rapper Rico Dalasam encerra a última noite de desfiles, na sexta-feira.

“A casa de criadores é um evento que permite aos estilistas do Brasil imprimirem sua identidade para o mundo. Esse ano eu estou muito ansioso pra acompanhar o desfile de Mônica Anjos e de todes outros pretes que participarão do evento. Eu acredito que uma das formas do universo da moda tem de participar do combate ao racismo, é dando visibilidade para criadores pretes”, diz o estilista Pedro Batalha, da Dendezeiro.

A edição deste ano do evento teve a parceria da Secretaria de Cultura de Município de São Paulo, que cedeu o espaço do Centro Cultural São Paulo para que grande parte das gravações desta edição acontecesse. Assim, muitos dos vídeos, desfiles, performances e shows tiveram como palco esse icônico espaço da cidade.

Para acompanhar a 48ª edição da Casa de Criadores, basta acessar o site (https://www.casadecriadores.com.br). Confira abaixo o line-up.

26 de julho, a partir das 20h

Prelúdio Anti Feitiço por Aretha Sadick
Vicenta Perrotta
Mônica Anjos
Studio Ellias Kaleb
Jorge Feitosa
Dario Mittmann
Brocal
Nalimo
Show de Brisa Flow

27 de julho, a partir das 20h
Fkawallyspunkcouture
Alexandre dos Anjos
Heloisa Faria
David Lee
Thear
Berimbau Brasil
Trashrealoficial
Show de Vermelho Wonder

28 de julho, a partir das 20h
diegogama convida Cia Sacana
KF Branding
Felipe Caprestano
Shitsurei
Diego Fávaro
Ken-gá
Estúdio Traça
Show de Teto Preto

29 de julho, a partir das 20h
NotEqual
Jalaconda
Estamparia Social
Gefferson Vila Nova
Ateliê Criativa Vou Assim
PIM (Periferia Inventando Moda)
Oroomin
Jal Vieira
Performance de Manauara Clandestina

30 de julho, a partir das 20h
Rober Dognani
Santista
Vivão Project
Rafael Caetano
Leandro Castro
REIF
Teodora Oshima
Dendezeiro
Show de Rico Dalasam

“O movimento de mulheres negras é uma das organizações mais potentes que existe”, diz Jaqueline Fernandes

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Foto: Arquivo Pessoal.

Em 2021 o Festival Latinidades completou 14 anos de existência e já se consolidou como o maior festival de mulheres negras da América Latina e um marco na agenda de mulheres pretas de diversas idades, esferas de atuação na região. Para saber um pouco mais da história do Festival, o MUNDO NEGRO conversou com Jaqueline Fernandes, que idealizou e coordena o Festival até hoje.

Tendo acontecido em diferentes formatos, tamanhos e até mudado de cidade, o Festival Latinidades nasceu na capital do país, com o propósito de popularizar o Dia da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha no Brasil. “É muito gratificante olhar para o que era o 25 de julho em 2008 e olhar para agora, que não é um dia, é um mês inteiro. O Julho das Pretas é um potencial como o 20 de novembro, e assim como o 20 de novembro, é um marco construído ano após ano”, diz Jaqueline.

A edição deste ano homenageou a multiartista Zezé Motta, a vice-presidenta da Costa Rica, Epsy Campbell, a cantora Rosa Passos e a cantora peruana e vencedora do Grammy Latino, Susana Baca. A escolha se deu pela conexão entre cultura e política, imprescindível, na avaliação de Jaqueline. “O principal link entre todas elas é a relação das quatro com a incidência política e a cultura, que são coisas que não estão, de forma nenhuma, dissociadas”, defende.

Para ela, a incidência política das mulheres negras, desde a criação do 25 de julho em 1992 e chegando até os dias atuais, tem transformado a sociedade como um todo. “Eu acredito que, de fato, o movimento de mulheres negras é uma das organizações sociais, políticas, mais potentes que existe”, crava.

Confira a íntegra da entrevista:

Como você se sente, enquanto idealizadora e realizadora do Festival Afrolatinas após 14 anos?

Eu sinto que o projeto partiu de um lugar de inquietação pessoal como mulher negra, periférica e artista, e se conectou com outras histórias, com outras realidades e pessoalmente, me colocou dentro de uma coletividade. Ao longo desses anos, eu e o projeto fomos impactados por essa coletividade e também impactamos essa coletividade. Então, eu me sinto honrada por fazer parte de algo que é tão grande, feito a tantas mãos e que chegou no lugar onde chegou, de ser o maior festival de mulheres negras da América Latina.

Quando eu volto para o início da criação do Festival, eu tanto comemoro essa caminhada que me impacta pessoal e coletivamente, quanto eu olho para o movimento de mulheres negras e vejo que, a cada dia mais, esse movimento é potente e tem sido determinante para os rumos da sociedade.

Eu gosto sempre de citar a Vilma Reis quando ela fala que o movimento de mulheres negras tem empurrado a esquerda mais para a esquerda. Eu acredito que a potência e a diversidade do movimento de mulheres negras, antes mesmo do Latinidades existir, mas tendo isso como marco nos últimos 14 anos, transformou totalmente a vida das mulheres negras e a sociedade como um todo. Eu acredito que, de fato, o movimento de mulheres negras é uma das organizações sociais, políticas, mais potentes que existe. 

Este ano, o Festival trouxe quatro homenageadas em diferentes âmbitos da sociedade, como se deu essa escolha?

Esse ano de 2021 a gente está fazendo homenagem a quatro mulheres e o principal link entre todas elas é a relação das quatro com a incidência política e a cultura, que são coisas que não estão, de forma nenhuma, dissociadas, e que muitas vezes parece que estão. O Latinidades e eu, como coordenadora-geral, estou sempre batendo nessa tecla de que nós partimos do lugar das artes e da cultura e que esse lugar é um lugar potente, frutífero, para incidência política, para além da mobilização, para além da inspiração, para além do campo subjetivo e da disputa de imaginário.

A gente tem no campo das artes e da cultura um campo estratégico e efetivo de fazeres e de transformações e de mudança, e essas mulheres todas têm uma ligação com isso. A Susana Baca por exemplo, é uma super artista afroperuana e que teve a trajetória relacionada à política afirmativa na cultura, e foi inclusive ministra da cultura. A Zezé Motta é uma multiartista que tem um brilhantismo em várias linguagens artísticas e que, ao mesmo tempo, empreendeu uma luta e toda uma trajetória no campo da incidência política fazendo arte e cultura.

E aí a gente tem Rosa Passos, uma figura incrível, uma das vozes mais poderosas do mundo, que vive em Brasília, e que sempre teve muito envolvida com política cultural. E a Epsy Campbell, realmente como vice-presidenta da Costa Rica como um símbolo de ocupação de espaço político, como uma inspiração e, principalmente, pensando que ela foi uma das mulheres que estiveram no primeiro encontro, e esteve na criação da rede de mulheres negras latino-americanas e caribenhas. Faz todo sentido, depois de 14 anos, a gente voltar, olhar para esse encontro, olhar para uma das pessoas que esteve na base dessa construção e que hoje é vice-presidenta da Costa Rica. 

Você acha que o Dia da Mulher Negra Afrolatino-americana e caribenha já é algo que está incorporado no Brasil?

A gente teve uma evolução tremenda em relação a isso. Quando o Latinidades surge, em 2008, a gente toma como missão, entre outros objetivos, popularizar o 25 de julho no Brasil. Quando a gente olha para 14 anos atrás, eram pequenas as iniciativas nesse sentido. O Latinidades vem e consegue acolher várias redes e amplificar essa data, ano após ano, e aí é muito gratificante olhar para o que era o 25 de julho em 2008 e olhar para agora, que não é um dia, é um mês inteiro.

O Julho das Pretas é um potencial como o 20 de novembro, e, assim como o Dia da Consciência Negra, é um marco construído ano após ano. A gente tem o Dia da Mulher Negra como lei, então ele está no calendário oficial, e acredito que ainda tem um caminho longo para fazer isso se espraiar e ser realmente uma data lembrada, comemorada e reafirmada na base.

Mas, acho que a gente está muito próximo disso, e já era de se esperar que o movimento de mulheres negras na América Latina realmente conseguisse pegar essa data e transformar, de fato, num marco enorme e visível para a sociedade, porque é um momento em que a gente celebra os nossos fazeres, nossa existência, nossa contribuição para a sociedade, reivindica visibilidade, políticas públicas e discute a situação da mulher negra na América Latina.

A atuação das mulheres negras acontece de maneira diversa ao longo do ano, mas no 25 de julho a gente percebe que, cada vez mais, essa data se amplia, cria pontes, diálogos e tem mais visibilidade, inclusive nos meios de comunicação. Não foi do dia para a noite, a gente está falando de 14 anos de Brasil, tendo o Latinidades como marco, e de 30 anos que a gente vai fazer em 2022, desde a criação do 25 de julho. Esse estágio que a gente chegou tem a ver com 30 anos de luta e de construção. 

Ao longo dos anos o Latinidades se transformou bastante. Ano retrasado vocês fizeram uma edição fora de Brasília, ano passado veio a pandemia, como você enxerga o futuro do Festival?

Ao longo de todo o processo, eu não vejo que o Latinidades tenha se transformado nos últimos anos, eu acho que ele se transformou desde o primeiro minuto, quando primeiro ele era um projeto local, que tinha motivações muito ligadas à história e à dinâmica do Distrito Federal periférico e preto. Depois, ele vira nacional, se conecta com outras redes, com outros propósitos, pega essa bandeira de popularizar o Dia da Mulher Negra Latino-Americana e caribenha, partindo das artes e da cultura começa a ser um espaço procurado por outros tipos de articulação, pela academia, por outros tipos de movimentos sociais e de pautas que a gente não imaginou no primeiro momento.

Então, sempre teve mudanças, um lugar de flexibilidade, um lugar líquido, de mar, de rio, de firmeza e de fluidez e que acolheu e foi acolhido e que esteve e está em constante transformação. Isso se deu por coisas boas que chegaram pra gente e por desafios impostos pela falta de políticas públicas, pelo racismo, pelo machismo, pela falta de investimento no projeto, por exemplo, como aconteceu quando a gente teve que ir para São Paulo, sem investimento nenhum do Distrito Federal, sem reconhecimento daquilo que a gente vinha fazendo.

Foi um desafio que tinha tudo para ser problemático, a gente em outra cidade, em outro contexto, longe dos nossos fornecedores, da nossa rede de trabalho, mas ao mesmo tempo, serviu pra gente perceber que o Latinidades não era só de Brasília, era do Brasil. Então a gente percebe, em São Paulo, que o Latinidades tem asas e pode acontecer onde for. Nessa perspectiva de acontecer onde for, vem a pandemia, coloca a gente numa situação de fazer ou não fazer.

Foi um momento muito delicado, de muita tensão, porque um dos valores agregados do Festival Latinidades é que ele é um espaço de encontro, com mulheres de todo o país, se reunindo na Esplanada dos Ministérios, que é um símbolo administrativo de poder, e ao mesmo tempo, um lugar onde as pessoas negras são subrepresentadas ou vistas em lugar de subalternidade, e a gente tá ali, em massa, às vezes colocando 30, 40, 50 mil pessoas.

A gente se questionava, se era uma coisa que a gente ia fazer – estar nesse ambiente virtual -, mas rapidamente a gente entendeu que era para estar, sim, que a gente não ia deixar de fazer uma edição, e que era mais importante discutir os temas que a gente discutiu: utopias negras no ano passado, e ascensão negra neste ano. Eu acho que o projeto, de fato, é uma constante dialética, uma constante transformação. 

Que retornos você recebe sobre o Festival?

Já recebi feedbacks como uma vez que eu estive em Salvador para entrar numa festa, perdi o convite e quando fui comprar de novo, a pessoa da bilheteria, que eu nunca tinha visto na vida, disse: Você não é do Latinidades? O Latinidades mudou a minha vida, você não vai pagar para entrar aqui.

Recebo também feedbacks sobre marcas que expuseram no festival e depois cresceram, pessoas que participaram em determinado ano das atividades formativas e tiveram a carreira impulsionada, ou pessoas que trabalharam como voluntárias no programa Serviço de Preto e que depois montou a própria empresa e já está no mercado trabalhando na área da cultura.

Recebo relatos de pessoas que receberam notícia de gravidez, gente que foi pedida em casamento, durante o Festival. São muitas memórias e muitas histórias. Nesse momento, a gente está mirando a edição de 2022 muito baseada nisso, em quantas histórias, memórias e coisas aconteceram durante essas edições do Festival e marcaram as pessoas.

Muitas pessoas levaram os temas do Latinidades ou o próprio Festival para defender na academia, seja como monografia, como publicação de artigos. Às vezes não consigo acreditar que aconteceu tudo isso mesmo, que foi articulado a partir da utopia e do sonho de uma mulher preta periférica e que encontrou com outras pessoas que colocaram seu sonho, sua vida.

Foram muitas mãos, mentes e redes envolvidas. Acho que esses feedbacks vão estar muito presentes no que vai ser a próxima edição do Latinidades e próxima fase do Festival. O mais importante são as histórias das pessoas e é esse movimento que é o futuro, que é o passado, que originou a criação.

Dia da Mulher Negra: veja sete motivos para assumir e se orgulhar do cabelo natural

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Foto: Reprodução.

O Dia Internacional da Mulher Negra Latino-americana e Caribenha, celebrado neste domingo, dia 25 de julho, simboliza mais uma data de luta contra o racismo. Ainda hoje, uma das formas de resistência é a aceitação de um dos aspectos mais característicos da identidade negra: o cabelo.

Em meio a uma sociedade em que o padrão de beleza é ser branca, qualquer traço — ou fio — que não seja associado a essa etnia é considerado “ruim”. Por isso, o especialista em “cabelos reais” Bruno Dantte aponta sete motivos para se aceitar e enxergar beleza em cada curvatura.

Para assumir o cabelo natural é preciso, primeiramente, desconstruir mitos, especialmente os relacionados ao cabelo crespo. Um deles é que os fios são resistentes e “duros”. Segundo Bruno, cabelos com curvatura mais fechadas, como os 4A, 4B e 4C, são super finos e a ação da química neles é muito mais agressiva.

Outro ponto importante é a ideia de que o cabelo afro não define. Por anos, produtos de beleza foram escassos às mulheres negras, tornando, portanto, o cuidado menos preciso. “O preconceito sempre vai apontar que o cabelo afro é mais difícil de lidar, mas é justamente ao contrário. Quando mulheres aprendem a fazer uma definição, ela pode durar por dias. Além disso, livre das químicas a versatilidade é garantida, podendo ousar nos penteados, na coloração mais saudável, nas tranças e, até mesmo, na chapinha sem danificar os fios”, explica Bruno Dantte.

O Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha surgiu em 1992, em um encontro de mulheres negras em Santo Domingos, na República Dominicana. Elas definiram a data e criaram uma rede para pressionar a Organização das Nações Unidas (ONU) a assumir a luta contra as opressões de raça e gênero.

Atualmente, as mulheres negras são maioria entre os brasileiros (28%), de acordo com o IBGE. No entanto, representam o grupo socioeconômico e político mais vulnerável do país.

Confira os 7 motivos para assumir já o cabelo natural:

1 – Ter o cabelo mais saudável

O cabelo crespo sempre foi tratado com química quando, na verdade, a química não trata, mas deteriora e quebra a fibra capilar, deixando-a mais sensível, seca e sem vida. Então, se você quer poder ter um cabelo mais brilhoso e hidratado, de dentro para fora, é ideal assumir os cachos ou o Black Power.

2 – Poder descolorir sem medo

Consequentemente, com um cabelo mais saudável é possível descolorir, podendo brincar um pouco mais com as cores. Quando um cabelo com química é tingido, ele quebra, pois a coloração é uma química alcalina e o relaxamento também. No momento em que são combinados, o cabelo pode cair, quebrar ou ficar extremamente ressecado.

3 – Versatilidade de penteado

O cabelo crespo pode ser usado definido, ou seja, com muito ou pouco volume; pode colocar tranças também — característica muito importante da cultura africana. Inclusive, ele é tão versátil que pode ser usado liso, fazendo uma escova, ou formando cachos com o babyliss ou chapinha. O cabelo natural aguenta toda a versatilidade que a química não proporciona.

4 – Ter mais autoestima

Quando a mulher negra assume seu cabelo crespo ou cacheado tem a autoestima muito mais elevada, pois é um visual que ela começa a experimentar com o cabelo mais saudável e versátil. O fator volume tem sido cada vez mais visto como empoderamento negro. A possibilidade em poder ser quem é e mudar a partir do natural transforma a autoestima.

5 – Ser representatividade

As mulheres que já assumem os seus cabelos naturais são referências para outras pessoas no trabalho, na família, para crianças. Com o advento das redes sociais, esse movimento de representatividade tem crescido e ajudado, cada vez mais, pessoas a reconhecerem a beleza que existe em cada curvatura do cabelo afro e na mulher negra.

6 – Combater preconceitos e o racismo

Ainda hoje, muitas mulheres precisam alisar o cabelo para serem aceitas no mercado de trabalho, por exemplo. A partir do momento em que as crespas e cacheadas começam a usar o cabelo natural, há um movimento de mudança de consciência, quebrando preconceitos e racismo. No dia a dia, essas mulheres contribuem para normalizar em todos os ambientes o cabelo crespo com volume, com definição, loiro, grande, em todas as suas formas.

7 – Assumir a identidade (ser você mesma)

Todo povo tem a sua identidade. A identidade de uma mulher crespa está muito associada ao cabelo. Deixar o cabelo natural é uma forma de resistência contra aos padrões e é aceitar sua ancestralidade, acima de tudo, fortalecendo um movimento de que vidas, culturas e fenótipos de pessoas negras importam e merecem ser apreciados.

Em parceria com Netflix, cineastas negras tornam o cinema brasileiro cada vez mais preto e feminino

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Uma nova geração de diretoras e roteiristas pretas  vêm impulsionando as narrativas negras na produção audiovisual brasileira. São criadoras que têm ultrapassado barreiras e criam histórias que vão além do enfoque sobre violências cotidianas e racismo. 

No dia 26 de julho, Dia da Mulher Negra Latino-Americana Caribenha, chega à Netflix o longa “Um Dia Com Jerusa”, dirigido pela soteropolitana Viviane Ferreira e protagonizado por Léa Garcia. Ferreira é fundadora da Associação de Profissionais do Audiovisual Negro (APAN) e um dos símbolos dessa ocupação de espaço por idealizadoras pretas no cinema nacional.

Crítica | Um Dia com Jerusa (2020) - Plano Crítico
Léa Garcia em ‘Um Dia Com Jerusa’ (Imagem: Divulgação)

Para ajudar a dar mais velocidade e suporte à caminhada de criadoras pretas, a Netflix criou o projeto Colaboratório Criativo. A iniciativa é uma colaboração entre Afar e WIP que faz o recrutamento com a ajuda de associações focadas em mapeamento de profissionais negros do audiovisual como a Apan.

um programa de formação prático que tem como objetivo equipar roteiristas e cineastas emergentes afro-brasileiros com ferramentas para que desenvolvam uma série que possam apresentar à Netflix Brasil. A diretora e roteirista de curtas como “Verás” e “Em Jogo”, Thays Berbe, foi contemplada a participar do projeto. “A importância do Colaboratório é organizar essa transformação de mercado, de ruptura. É também procurar espaço para que autores negros e negras possam ter espaço de buscar seu trabalho (…) e é importante que a gente tem oportunidade de se conhecer, entender o mercado quanto estrutura,a lógica de mercado, outros profissionais”, diz Berbe que a princípio não sabia que a Netflix estava por trás do projeto. “Eu recebi um e-mail que era tão bom que parecia mentira dizendo que eu tinha sido selecionada para participar de um processo seletivo e que eu ganharia uma bolsa para estudar e eu falei ‘nossa, maravilhoso’. Não sabia que era a Netflix que estava patrocinando esse processo, que estavam em busca de um projeto”, diz.

Thays Berbe (Imagem: Divulgação)

Quem também está envolvida diretamente com projetos dentro da Netflix Brasil é a roteirista Belise Mofeoli, uma das roteiristas da comédia romântica “Casamento à Distância, que está em fase de pré-produção. Casamento à Distância, o longa da Netflix do qual sou também roteirista (ao lado do Renato Fagundes), que eu me lembre, é a primeira comédia romântica brasileira protagonizada por um casal afrocentrado. E é repleto de diversidades. E por que isso é importante? Por que estou cansada de ver negros subalternizados, morrendo e marginalizados nas produções audiovisuais. Tudo bem fazer narrativas que também englobam isso se for para aprofundar e ampliar olhares, mas não como fetiche ou vício narrativo”, diz a roteirista.

Quem acompanha a fala de Belise sobre a produção é a Gerente de aquisição de conteúdo na Netflix, Aline Lourena (34).O filme fala de sentimentos universais e inerentes a todo ser humano, como a afetividade e suas diversas formas de vivenciá-la. E coloca um casal negro no centro de uma história de amor, como tantas outras que há por aí. Precisamos naturalizar a presença das pessoas negras em qualquer formato, gênero, personagem ou tema de história”, declara.

Belise Mofeoli (Imagem:Divulgação)

Com a presença de criadoras potentes no audiovisual se ampliando, se abre um portal de novas referências que se juntam a nomes consagrados e lembrados por Belise.  “O apagamento histórico da nossa gente é tão sintomático que sempre que descobrimos que uma nova pessoa preta criou antes de nós, rola uma emoção. Outra coisa curiosa é que nossas referências para construção de narrativas vêm tanto de outras artes quanto do audiovisual, e isso porque como ainda são poucas as pessoas negras com boas oportunidades no mercado audiovisual, seguimos com outras criações artísticas. Em homenagem à data que motiva essa entrevista, cá estão nomes de mulheres pretas que me fazem querer continuar seguindo no audiovisual. São cineastas, pesquisadoras de cinema negro, atrizes, roteiristas… enfim, um quilombo maravilhoso! Adélia Sampaio, Aline Lourena, Ava DuVernay, Chica Xavier, Dione Carlos, Hattie McDaniel, Janaína Oliveira, Kênia Freitas, Luh Maza, Lupita Nyong’o, Maria Angela Jesus, Maria Shu, Melina Matsoukas, Michaela Coel, Octavia Spencer, Ruth de Souza, Sabrina Fidalgo, Safi Faye, Sarah Maldoror, Shonda Rhimes, Taís Araújo, Viola Davis, Viviane Ferreira, Zezé Motta… sério, eu sou capaz de citar nomes o dia inteiro”, aponta.

Como uma geração inteira de brasileiros, Berbe se viu representada em séries norte-americanas como ‘Um Maluco No Pedaço’, ‘Eu, a Patroa e As Crianças’ e ‘Todo Mundo Odeia o Chris’. “Eu via as séries de comédia gringas e me perguntava porque a gente não fazia uma série de comédia brasileira preta e essa minha vontade de fazer humor, fazer comédia, talvez tenha nascido assistindo esses produtos protagonizados por pessoas pretas”, declara a diretora, que cita também nomes da atualidade como Michaela Coel (‘I May Destroy You’) e Issa Rae (‘Insecure’) e Shonda Rhimes (‘Bridgertons’).

“Me sinto muito honrada e ao mesmo tempo chateada. Ao mesmo tempo podia não ser uma responsabilidade coletiva. Porque é isso. Se o mercado fosse mais diverso, tivesse mais profissionais pretas, tivesse uma rede mais forte nesse espaço, eu acho que eu teria mais apoio, as coisas poderiam ter acontecido antes, de outra forma. O público já estivesse mais habituado a consumir produtos desse gênero, o caminho estaria mais sedimentado, talvez fosse mais tranquilo”, diz  Berbe quando questionada como se sente ao pensar que pode se tornar uma referência para futuras roteiristas negras.

Sobre a mesma questão, Belise enumera uma série de apontamentos. Abrir caminhos é sinal de evolução, o contrário seria estagnar. Só se dá ao luxo de parar quem chegou a um lugar confortável. E me pergunto como alguém pode sentir-se confortável num mundo caótico, com questões seríssimas a serem discutidas. Quero mais é aquilombar! (…)  1. O orgulho por haver quebrado uma barreira; 2. A torcida para que outros tenham as mesmas oportunidades; 3. Um questionamento inevitável sobre qual motivo fez com que demorasse tanto para que algo assim se desse; 4. A certeza de que vai ter gente tentando inverter o jogo ao pegar o nosso caminho árduo para tecer discursos meritocráticos ou dizer que foi “sorte”. Não foi. Para cada mulher preta que tem visibilidade hoje, deveria ser perguntado também do que abriu mão para chegar lá. Referência é pra dar norte, não para ser o caminho, é pra inspirar. É tipo “Preta(o), respire fundo e só vai!”. Quero sucesso pra mim e pra um bando de gente preta, quero um mundo onde saibam que merecemos ser bem pagas porque, infelizmente, precisamos provar muitas e muitas vezes a qualidade no trabalho. Por anos me trataram como se eu estivesse começando. Em alguns lugares, ainda tentam”, conta.

O Site Mundo Negro pediu para que Belise e Berbe deixassem uma mensagem para mulheres pretas que aspiram seguir carreira na produção audiovisual:

Belise: “Nossos antepassados, forçadamente, trabalharam de graça e vocês não precisarem fazer isso. Valorizem-se! Ninguém está te fazendo favor ao te chamar pra uma sala de roteiro. As suas experiências de vida e cultural imprimem originalidade nas narrativas, então, façam-se ouvir. É delicioso encontrar num produto audiovisual uma frase que você facilmente diria ou ouviria de alguém querido, não é? Identificação com o que se assiste é reconfortante, não acham? Faça isso também! Assim que puderem, ajudem outras pessoas negras e indígenas a integrarem suas equipes. Muitas de nós estão se preparando para a grande chance. Inspirem-se em pretas e inspirem pretas. E, principalmente, NUNCA esqueçam de onde vieram. Afrofuturisticamente falando, é o único jeito de nosso futuro honrar todo o passado do nosso povo.”

Berbe: Acho importante elas se aproximarem das associações, de coletivos pretos, de festivais de cinema com essa temática, começarem a racializar as obras brancas. Enxergarem esses espaços pretos como um apoio por reflexo da sociedade. Acho muito ingênuo quem está começando agora  não compreender ou ignorar que essas questões te atravessam querendo ou não. É muito bom fazer essa leitura do mercado e das produções a partir dessa atenção e formar sua turma. Cinema é fazer parceria, ver quem você conhece que gosta de fazer som (…) e não necessariamente falar só sobre racismo, falar sobre o que quer contar, mas saber que esses movimentos vão ajudar muito. E estudar muito. Estudar, estudar, assistir bastante coisa, ler bastante coisa, ter uma consciência racial sobre o mercado, ter um olhar político, sempre pensar que haverá outros projetos na frente, que você vai errar, vai acertar e contar sua visão de mundo”.Léa

A hipersexualização do corpo negro fez com que renegássemos a nossa sexualidade. Não mais.

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Imagem: Nappy Images

A hipersexualização do corpo negro é uma pauta recorrente dentro da causa. Vemos com frequência, nossos homens e mulheres tendo seus papéis na mídia limitados a ‘entreter’ os brancos. Infelizmente, isso não é algo que começou hoje e, embora lutemos para que caminhe para um fim, isso ainda parece um tanto quanto distante de acontecer.
Recebemos esse tratamento historicamente, desde o período da escravidão quando nossos antepassados escravizados eram, dentre outras coisas, sexualmente abusados pela casa grande. Com o passar do tempo, esse tom foi mudando para algo (na visão da branquitude) ligeiramente mais sutil e engraçado como os estereótipos de “negão dotado”, “cor do pecado” entre tantos outros, que viraram temas de músicas e nomes de novela (hoje, felizmente vistos como problemáticos)

Todavia, precisamos reconhecer a sexualidade como algo intrínseco ao ser humano, sendo assim é um direito que temos de falar e expressar esse comportamento natural, tal como falamos sobre autoestima, amizade, família, saúde, comida e tudo o que faz parte da vida do ser humano. É entendido que, o tópico sexualidade por si só já é considerado (indevidamente) um tabu, e isso é indevido pois, embora o assunto seja constantemente banalizado, falar sobre isso seriamente é visto como algo constrangedor por muitas pessoas. Algo demonizado. Quando afunilamos ainda mais esse tema e focamos na comunidade preta, encontramos um cenário onde existe uma repulsa pela exploração e exibição da sensualidade, mesmo quando esse conteúdo é produzido e publicado pela própria pessoa e compartilhado respeitosamente por outras pessoas negras.

Analisando o contexto histórico que citamos aqui, não é difícil entender o real motivo de tal repulsa, (praticamente um trauma) todavia é um problema que devido à hipersexualização que sofremos por parte dos brancos durante todos esses séculos, tenhamos “perdido” o direito de experimentar e conhecer o nosso próprio corpo da maneira como bem entendermos. Usar roupas sensuais ou não, postar fotos sensuais ou não, cantar músicas sensuais ou não é um direito nosso e que deve ser reconquistado e reafirmado. É algo que cabe a nós decidir se vamos fazer ou não. Precisamos retomar as rédeas desse âmbito em nossas vivências e normalizar o fato de termos nossos homens e mulheres falando de sexo finalmente não por que isso foi imposto por terceiros brancos, mas porque eles querem. E isso não tem nada a ver com “biscoitar” (termo usado na internet para dizer que alguém busca por atenção e curtidas), mas com o fato de se sentir bem naquela posição, o que é de fato, perfeitamente normal.

A branquitude nos ensinou a odiar nosso cabelo, nossa pele, nossos lábios e narizes grossos na mesma medida em que se beneficiava de tudo isso para entreter a si mesmos. Eles nos ensinaram que éramos feios na mesma proporção em que nos hipersexualizavam. Contraditório, não acham? Mas agora, finalmente, temos a consciência de quão lindo somos e vamos reconquistar o poder de falar sobre a nossa sexualidade com autoridade no assunto, pois nós somos o assunto.

LOS ANGELES, CALIFORNIA – JUNE 27: Lil Nas X performs onstage at the BET Awards 2021 at Microsoft Theater on June 27, 2021 in Los Angeles, California. (Photo by Johnny Nunez/Getty Images for BET)

Na indústria musical por exemplo, temos o Lil Nas X. Rapper, preto e gay que passou várias semanas no top 10 da Billboard Hot 100 com músicas que falam abertamente sobre relações sexuais. Para quem sempre pode falar sobre isso quando bem entendesse, não parece grande coisa, mas ter uma representatividade (visual e lírica) LGBTQIA+ em um cenário tão heteronormativo como o RaP, é sim uma grande conquista. E ter o Lil Nas X nessa posição faz com que outros jovens na mesma posição que ele, que sempre se sentiram sexualmente reprimidos, tenham a coragem de assumir esse lado sem medo da reação alheia pois independentemente de qualquer comentário racista ou homofóbico quem está no controle da situação é ele.

Durante a ultima edição do BET Awards, após apresentar sua canção “Call Me By Your Name” o cantor deu um beijo no palco da premiação. O beijo não dividiu opiniões, mas dividiu o público, entre os homofóbicos e os não homofóbicos. No Twitter, o cantor foi bem incisivo ao responder a tweets que criticavam a performance, dizendo que “se ficaram assim por um beijo, da próxima vez ele transaria no palco”. O mesmo podemos dizer de rappers como Lil Kim, Nicki Minaj, Cardi B e Meghan Thee Stallion que mostram em seus versos o ponto de vista, os desejos, os sentimentos da mulher negra com relação a tudo aquilo que os homens -inclusive os brancos- já estavam cansados de falar. E é claro, ainda assim sofreram retaliações por parte deles, como aconteceu quando Snoop Dogg (que nunca teve censura em suas composições), criticou o conteúdo lírico do hit WAP.

Por fim, gostaria de frisar que não se trata de banalizar o corpo negro. Mas trata-se de inspirar outros corpos negros a se mostrarem, se essa for a vontade. De nos orgulharmos da nossa beleza. É sobre autoconfiança e empoderamento. Chega de ouvir frases como ”mas não precisa mostrar tanto o corpo”. Não precisa, mas se queremos, nós iremos. Chega de nos acostumarmos com o fato de que para sermos respeitados não podemos falar sobre tais assuntos. Chega de sempre seguirmos o padrão de imagem e comportamento que os brancos querem ver de nós.



26 de julho: No dia do Orgulho Crespo, movimento comemora com programação online

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Imagem: Divulgação

Desde 2018, o Movimento Orgulho Crespo celebra o 26 de julho como o Dia do Orgulho Crespo no Estado de São Paulo por meio da Lei 16.682, criada em parceria com a Deputada Leci Brandão a fim de instigar a visibilização de pautas acerca da estética afro-brasileira.

A data é fruto de uma mobilização nas redes sociais que, em 26 de julho de 2015, levou cerca de mil pessoas à 1ª edição da Marcha do Orgulho Crespo, na Avenida Paulista. Após alguns anos de encontros presenciais, o evento ganhou uma versão online que acontecerá nesta segunda-feira (26), às 18h, pelo canal da Marcha do Orgulho Crespo Brasil, no YouTube.

Com o objetivo de incentivar a livre expressão do cabelo natural, a representatividade e o empoderamento de pessoas negras na sociedade, o Movimento – em parceria com Meu Cabelo Natural e a Liga das Crespas e Cacheadas – reuniu nomes de peso para mediar debates e comentar pautas de relevância para a comunidade.

Participam da programação a fundadora do Movimento Black Money, Nina Silva; a escritora, fundadora e diretora da Piraporando, Janine Rodrigues;as empreendedoras Thais Ramos, CEO da De Benguela; Carla Carvalho, CEO do Meu Cabelo Natural; Sheila Makeda, CEO Makeda Cosméticos; dentre outras.

Com apresentação da jornalista e apresentadora Karen de Souza, o evento discutirá temas como os desafios do afroempreendedorismo com mulheres negras que se destacam no mercado de beleza afro, transição capilar,  saúde e cuidados capilares.

“Em um país majoritariamente negro, o nosso cabelo natural, seja ele crespo ou cacheado, é um símbolo que transcende as fronteiras da beleza e da chamada ‘moda’. Por isso, enquanto movimento, queremos ressignificar essa potente ferramenta de afirmação da identidade. Iniciativas como essa reforçam a importância da autoestima, do respeito à diversidade e da liberdade de expressão orgulhosa e cotidiana da nossa estética afro-brasileira, que é linda e vivaz”, pontua Thaiane Almeida, organizadora do evento e uma das criadoras do Movimento Orgulho Crespo.

Para mais informações sobre a programação, participantes e temáticas, acesse as redes sociais do Orgulho Crespo no facebook.com/orgulhocrespobrasil e no Instagram @orgulhocrespobr

SERVIÇO

Evento: Dia do Orgulho Crespo

Data: 26 de julho de 2021

Horário de início: 18h

Canal: YouTube Marcha do Orgulho Crespo Brasil

Inscrição: Gratuita via Sympla 

Descrição: Um evento para celebrar o cabelo crespo, a estética afro-brasileira e refletir sobre preconceitos, desigualdades e possibilidades. Reunindo especialistas em estética negra para discutir, difundir conhecimentos e dialogar com a comunidade sobre assuntos relativos ao cabelo crespo e à negritude.

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