Tayane Nunes, Flávia Oliveira, Uila Gabriela e Bianca Campos formam o Espaço Ori.
Será que as questões levadas por pacientes para os consultórios de psicologia e psicanálise têm correlação com as experiências de raça, gênero e classe social dos pacientes? O Espaço Ori, criado por quatro psicólogas e psicanalistas negras de Brasília, acredita que sim. Por isso, está oferecendo o curso Racismo, Capitalismo e Psicanálise voltado a profissionais da área.
“É uma tentativa de construir uma psicanálise que consiga dialogar com os aspectos sociais e políticos. Existe um debate corrente sobre a necessidade ou não de estabelecer pontes sólidas entre o sujeito da psicanálise e o sujeito como é conhecido nas ciências sociais. Nós nos posicionamos nisso afirmando esta necessidade, que tem aparecido como falta ou carência de gramática entre profissionais que escutam experiências racializadas na clínica”, explica Bianca Campos, que vai ministrar o curso, ao lado de Flávia Oliveira.
Bianca é psicanalista, psicóloga e pesquisadora de relações raciais na clínica. Flávia é psicóloga, mestre em psicologia clínica e cultura pela Universidade de Brasília, com foco em saúde mental e trabalho, raça e gênero.
PÚBLICO-ALVO — Pode se inscrever no curso qualquer profissional interessado na temática. “Convidamos pessoas que estudem, trabalhem ou se interessem de alguma forma pela psicanálise como ferramenta de compreensão desses complexos que são o racismo e o capitalismo. Existem leituras múltiplas sobre estes temas e aqui a ideia é produzir um olhar pro fenômeno a partir dessas lentes”, explica Flávia Oliveira.
O curso é dividido em três módulos ofertados em encontros semanais com duração de duas horas às quintas-feiras de 19h às 21h, iniciando na primeira semana de junho. A cada cinco pessoas inscritas, vai ser oferecida uma inscrição gratuita, para quem informar a necessidade no ato da inscrição.
ESPAÇO ORI — Ori significa cabeça no idioma yorubá. Mas se refere não apenas à cabeça física, como também aos aspectos emocionais e espirituais da consciência. Em Brasília, é um espaço criado a partir das potências de mulheres negras que entendem este lugar como espaço simbólico de acolhimento, trocas, afeto e revolução.
“Somos um consultório no meio da capital do Brasil, um lugar muito indigesto para a população negra e periférica do Distrito Federal, mas esperamos que nossa presença ativa ajude a humanizar este espaço. Somos um espaço de atendimento e formação conjunta entre nós profissionais e a partir desse encontro, desejamos ampliar a rede de profissionais da psicologia e psicanálise que pensam relações raciais em suas práticas”, explica Tayane Nunes.
Síndrome da Senhorita Morello é a ânsia de uma pessoa branca, que até reconhece seus privilégios, se reconhece nele, mas não consegue entender que pessoas pretas podem ser tão inteligentes e capazes de ter uma vida tão plena quanto uma pessoa branca. Pessoas que se comportam como a Senhorita Morello, professora do Chris na série “Todo Mundo Odeia O Chris” acham que são superiores, seja moral ou psicologicamente e por isso se atribuem o papel de salvadores.
Esse tipo de comportamento, se traduz, por vezes, na postagem fotos de meninos de rua com uma legenda em alerta para seu trabalho de caridade. É aquele fotógrafo que ganha prêmio explorando a fome nos países do continente africano, mas pouco faz para trazer à tona o debate da culpa dos colonizadores.
Na série, a professora do Chris costuma repetir frases que refletem o lugar comum com que os brancos olham para os negros, tendo dificuldade em reconhecer que pessoas negras podem fazer parte de uma família funcional e conseguir empregos que não sejam empregados nas casas dos brancos. Em determinado momento ela diz para o ex-presidiário: Malvo: “Com educação apropriada você poderia fazer tantas coisas! Você poderia ser lixeiro, motorista do carro do lixo, recolher o lixo do carro do lixo, uma lista infinita. ”
Em outro diálogo da série temos um exemplo da visão da Srta Morello sobre o protagonista: – Chris, se você tivesse um pai. Chris: – EU TENHO UM PAI! Prof Morello: Se você soubesse o nome dele!
Senhorita Morello sempre fascinada pela cultura africana
Outra característica é achar que todo preto tem algum poder místico baseado em preconceito com religiões africanas. “Não é educado o senhor jogar sua macumba contra brancos”, diz Morello a Julius (Terry Crews). Não raro, essas pessoas sentem atração pelos corpos pretos. Enxergam de forma hipersexualizada homens e mulheres pretos, mas não acreditam que essas pessoas possam ter relacionamentos duradouros e cheios de afetividade.
É possível identificar o padrão de comportamento da Senhorita Morello em muitas pessoas que estão no campo progressista do espectro político. Ainda que não percebam, reproduzem uma visão estereotipada do que seria ter uma “vida de pessoa preta”. Muitas vezes essas impressões são debatidas dentro de uma bolha onde não se permite a entrada dos próprios negros, como se o indivíduo negro não pudesse ter uma visão válida do que seria a própria vivência em uma sociedade estruturalmente racista.
Depois dessa descoberta ela deduz se Juius é lixeiro ou cafetão
A Senhorita Morello, como muitas pessoas que detém acesso ao conhecimento, até viajam para África, usam turbantes, vestem as capulanas, se encantam com os artesanatos regionais e assim entendem que possam explicar a ancestralidade negra aos próprios negros. Algumas passagens hilárias da série envolvem a surpresa da professora quando confronta uma realidade diferente da que idealiza para comunidade preta.
Não se é uma acusação generalizada, mas uma tentativa de reflexão para entender essas dinâmicas que envolvem quem imagina sempre estar numa posição didática quanto à realidade do outro.
Você pode assistir a todos os episódios de “Todo Mundo Odeia o Chris” pela Amazon Prime Video.
Um fechamento: é como é considerado ‘Tina’, documentário sobre a vida da cantora Tina Turner, que já havia anunciado aposentadoria dos palcos em 2009. Dessa vez, a Rainha da Rock se despede da vida pública com mais um marco em sua carreira coroada de hits de sucesso, turnês mundiais com recorde de público, e inestimável contribuição para a cultura da comunidade negra. Afinal, rock’n roll é coisa de preto, baby!
O registro de quase 2h, dirigido por Dan Lindsay e T.J. Martin, foi lançado na HBO MAX no fim de março e só estará disponível no Brasil em julho, quando a plataforma será oficialmente lançada no país. Mas nós já demos uma espiadinha e mostramos em primeira mão 10 fatos sobre a história dessa mulher lendária que superou uma vida de abusos, alcançou o estrelato e deixou um legado no mundo.
1 – Entre algodões e corais
Tina teve uma infância e adolescência modestas em Nutbush, interior do Tennessee (EUA). Nessa época ainda era conhecida por seu nome de batismo, Anna Mae Bullock, e trabalhava com a mãe e irmãos nas colheitas dos campos de algodão. A diversão na cidade pacata era frequentar a igreja e cantar nos corais. Assim nascia uma estrela!
2 – Agarrando as oportunidades
Na vida adulta começou a frequentar clubes para assistir aos shows de soul music e rock’n roll. Quando o guitarrista da banda de Ike Turner (que viria a ser o seu marido) baixou o microfone para o público cantar, Tina agarrou a oportunidade e soltou o vozeirão, deixando todos boquiabertos. De espectadora, virou cantora principal, e o resto é história…
3 – Um furacão nos palcos
Autodidata é ela! Tina nunca fez aulas de canto ou dança, e possuía essas habilidades inatas em sua performance que chamavam atenção, numa época em que as cantoras eram mais comedidas no gestual. A musa chegou jogando as pernas e tremendo tudo com sua voz gutural e rascante, ofuscando seu parceiro Ike, e pavimentando oinevitável caminho de uma carreira solo e exitosa.
4 – Dizendo não a vida abusiva
Apesar do sucesso estrondoso, Tina vivia uma “vida de morte tortura”, como a própria destacou no filme. Foram 16 ao lado de Ike, sofrendo graves abusos que resultaram em marcas físicas e psicológicas (ela quase morreu ao tentar suicídio tomando vários medicamentos de uma só vez). Exausta e decidida a não mais sofrer violência, resolveu fugir e trilhar um novo capítulo para si. No seu divórcio, saiu apenas com o nome artístico, o qual foi batizado por Ike. Contudo, saiu com o bastante para dar a volta por cima.
5 – Nunca é tarde para (re)começar
Para sedimentar sua imagem como artista solo, Tina fez apresentações em bares, clubes, programas de TV, até conseguir contrato para lançar o seu primeiro álbum, ‘Private Dancer’, em 1984. Foi desacreditada por empresários que hesitaram em investir. Resultado? Vendeu milhões de cópias aos 45 anos de idade, e aos 50 fez uma das maiores turnês mundiais femininas. Isso que é um recomeço!
6 – Um dos maiores sucessos é cover?
“What’s Love Got To Do With It”, um dos maiores clássicos que rendeu um Grammy a Tina Turner, trata-se de uma regravação da banda Bucks Fizz. A cantora não gostou da primeira versão e, por pouco, não aceitou regravar por achar se tratar de uma música muito pop. Contudo, foi convencida a imprimir o “estilo Tina” de voz, e hoje quase ninguém conhece a versão original. Vrá!
7 – Recorde de público no Brasil
Sim, Tina esteve por aqui! Durante a turnê ‘Break Every Rule’ em 1988, ela fez um show no Maracanã para mais de 180 mil pessoas, realizando seu sonho de lotar estádios como uma grande estrela do rock. Lotou tanto que entrou para o Guinness Book com o feito de maior show já apresentado por uma cantora solo. Rainha faz assim, não é?
8 – Inspirando outras mulheres
Em 1986, Tina lançou o seu primeiro livro ‘Eu, Tina – A História de Minha Vida’ como forma de dar um ponto final à insistência da mídia em fazer perguntas e reminiscências sobre o seu passado de abusos. Apesar de ter conseguido o efeito contrário (o livro virou best-seller e os holofotes aumentaram, culminando na produção de um filme sete anos depois), Tina inspirou mulheres a falar sobre violência doméstica, assunto que era pouco abordado à época.
9 – A solidão da mulher preta
Um dos pontos mais emocionantes do documentário é quando a artista confessa em lágrimas, numa entrevista de 1985, que nunca viveu “uma história de amor”, e se indagou o porquê dos homens não enxergarem sua verdadeira beleza. O ponto de virada é que, naquele mesmo ano, ela encontraria Erwin Bach, seu grande amor, com o qual é casada e vive hoje na Suíça. O marido, inclusive, doou um rim à Tina em 2017, devido à luta da cantora contra a falência renal.
10 – O ato final
Depois da reclusão dos palcos, Tina brindou seu fãs com mais uma biografia “Minha História de Amor” (2018), onde fala sobre grandes desafios como as doenças enfrentadas, e o suicídio de seu filho mais velho, Craig Turner. Em 2019, a intérprete de ‘The Best’ prestigiou, em Nova York, a estreia de um musical sobre sua carreira e, agora, aos 82 anos, retira-se da vida pública com o lançamento deste documentário. Apesar das cortinas se fecharem, o aplauso à Rainha do Rock segue efusivo e eterno. Obrigado, Tina!
*Lucas de Matos é soteropolitano, 24 anos, Comunicador com habilitação em Relações Públicas (UNEB) e Pós-Graduando em Comunicação e Diversidades Culturais (Faculdade 2 de Julho). É poeta e apreciador da literatura.
Narrativas Negras é o nome da equipe formada por Eliana Alves Cruz, Estevão Ribeiro, Lidiane Oliveira (foto), Marton Olympio e Renata Diniz
Subverter expectativas quando se fala em narrativas negras, e ter nossas histórias contadas para o mundo todo, alcançando diferentes audiências. Estas são algumas metas da equipe “Narrativas Negras”, formada pela escritora Eliana Alves Cruz, pelo quadrinista Estevão Ribeiro, mais as roteiristas Lidiane Oliveira e Renata Diniz, com a coordenação do diretor e roteirista Marton Olympio. Assim chega ao cenário da comunicação brasileira a primeira sala de conteúdo para diversidade e equidade do VIS Américas (divisão da ViacomCB).
“Somos diferentes em gênero e origens, como realmente é a experiência negra no Brasil”, ressalta Eliana Alves Cruz, sobre a pluralidade sobreposta à grande diversidade que marca o grupo agora reunido, e que agrega formações, experiências e habilidades diversas, mas convergentes aos objetivos.
Os projetos desenvolvidos podem incluir séries, longa-metragens e até reality shows. Os cinco também atuarão na consultoria de outros projetos que possam aumentar a representatividade e promover equidade racial. Essa é uma iniciativa pioneira para o VIS Américas e deve ser replicada em outras regiões, a partir dessa primeira Sala.
Da esquerda para direita: Eliana Alves Cruz, Estevão Ribeiro, Lidiane Oliveira, Marton Olympio e Renata Diniz
Créditos: Divulgação / Acervo Pessoal
Potências – O coordenador Marton Olympio colabora com sua ampla experiência em direção e roteiro, inclusive de longas, séries, com passagem pela Rede Globo, Fox, Globo Filmes, além de ter atuado na tutoria de outros profissionais da área no Flup Narrativas Negras. Renata Diniz traz a vivência de roteirista premiada, com resultados de seus trabalhos exibidos nas telas do Canal Futura e TV Brasil, por exemplo.
A experiência de pesquisa profunda de Eliana Alves Cruz, autora de “Água de Barrela”, junto com seu domínio de textos poéticos e de prosa, são contribuições ao trabalho do grupo. O escritor, roteirista e quadrinista Estevão Ribeiro agrega o olhar apurado para o visual, pois também é fotojornalista. Já Lidiane Oliveira tem a experiência de teatro, atuação em peças, filmes e séries, além de ser também roteirista em várias dessas iniciativas.
O conjunto formado certamente atende, em alta qualidade, a necessidade de inclusão de temas, representações mais plurais e diversas, a gigantesca lacuna de representatividade que a mídia brasileira historicamente não consegue cobrir. “É importante que o conteúdo que desenvolvemos dialogue e atraia os diferentes espectadores. Queremos especialmente levantar essas vozes e destacar histórias que não estão bem representadas na mídia”, destaca Federico Cuervo, SVP, o Diretor Geral do VIS Américas, responsável pela criação da sala de conteúdo.
A iniciativa da Sala de Conteúdo faz parte da concretização do anúncio do VIS, feito em novembro de 2020, sobre 25% de seu orçamento na América Latina ser investido na criação e desenvolvimento de conteúdo por pessoas que ampliem a diversidade e aumentem a equidade, seja ela racial, cultural, de gêneros ou de perspectivas. O ViacomCBS International Studios é uma divisão da ViacomCB fundada em 2018 e produz conteúdo para as marcas e plataformas da ViacomCBS, incluindo Paramount+, Nickelodeon, MTV, Comedy Central, Channel 5, Network 10, VIS, Telefe, Ananey e Porta dos Fundos.
Se pudesse escolher alguma dica para mulheres pretas conquistarem o emprego dos sonhos, sem dúvida, a administradora e gerente de produtos de uma das maiores empresas techs do mundo, Antônia Souza, diria que é a estratégia. Isso porque, segundo ela, sonho sem estratégia não se realiza e se você tem pela frente um mercado de trabalho machista e racista, é melhor que a sua estratégia esteja muito bem estruturada e que o lugar onde você quer chegar esteja claro.
Liste suas prioridades
Para a mentora de jovens e mulheres, uma forma que pode ser de grande ajuda a tornar esses sonhos mais palpáveis é ter a sua lista de top 5 empresas dos sonhos. Coloque nessa lista apenas as 5 empresas que você daria tudo de si para trabalhar. De posse dessa lista entenda onde você está e quais passos serão necessários para chegar até seu sonho. Use isso de base para planejar metas menores que te ajudem a chegar lá. Essas metas podem ser: aprender um idioma, fazer um curso de especialização, etc.
Imagem: Arquivo Pessoal /Antônia Souza
Preparação
Se como mulher preta você precisa se provar mais vezes, comece fazendo isso já na preparação para os processos. É impressionante o volume de candidatos que chegam no processo seletivo sem saber ao certo como funciona a empresa em que estão se candidatando.
Se você quer se destacar nos processos seletivos o primeiro passo é a preparação. Por isso estude a vaga, o site da empresa, o perfil dos profissionais que trabalham na empresa, o mercado que a empresa atua e se possível verifique o perfil dos entrevistadores antes da entrevista. Aqui vale também usar os sites que disponibilizam avaliações sobre as empresas feitas por candidatos, colaboradores e ex colaboradores. Nesses sites é possível obter informações sobre o processo seletivo e te ajudará a não ser pego de surpresa. Toda essa preparação te ajudará a entender como a empresa funciona e além de te deixar mais preparada, também te deixará mais segura para o processo.
Diferencial Profissional
A verdade é que no mercado de trabalho o produto é você e sabendo disso é fundamental que você conheça bem o que faz do seu produto melhor que o outro. Essa é uma tarefa muito difícil para nós mulheres negras, isso porque temos que lidar com uma síndrome interna que nos diz todos os dias que não somos tão boas assim. Mas para ter sucesso profissional e conquistar aquela vaga dos sonhos é extremamente necessário que você trave essa luta interna e encontre os seus pontos fortes.
Uma vez que você entender o que faz de você uma profissional diferente dos demais, use isso a seu favor e potencialize isso a cada entrevista realizada. Você verá como os recrutadores irão te olhar diferente depois que você descobrir como usar seus talentos a seu favor.
Networking
A falta de representatividade é uma das grandes dificuldades que a mulher preta enfrenta durante a busca pelo emprego dos sonhos. A tentativa frustrada de encontrar outras mulheres pretas na empresa dos sonhos pode gerar a crença de que aquele lugar não é pra ela. Uma forma de manter a chama do sonho viva dentro de si é através da expansão da sua rede de relacionamentos. Desenvolver um bom networking irá te ajudar a encontrar referências em outros mercados, a troca de experiências além de te ajudar na preparação, também te ajudará a manter a motivação na busca do sonho.
Antifragilidade
Podemos dizer que a resiliência se tornou a palavra da década e que é cada dia mais comum vermos empresas cobrando isso de seus funcionários, mas quando falo da luta pela carreira dos sonhos da mulher negra eu vou além. Ela não precisará apenas resistir a situações adversas, ela precisará se tornar melhor apesar das situações adversas.
O caminho da mulher preta até a conquista do sonho profissional é bem tortuoso e por isso desenvolver características antifrágeis a tornarão mais preparada para percorrer essa jornada e concluí-la.
Foi proposto pelo vereador Antonio Donato (PT), através do Projeto de Lei (PL) 258/21 o Programa São Paulo DNA África, com a finalidade de permitir que Descendentes de Negros Africanos Escravizados no Brasil (DNAEBs) tenham acesso a testes gratuitos de DNA e Mapeamento Genético de Ancestralidade. A PL prevê que esses testes sejam feitos na municipal de saúde podendo ser em via de parceria com entidades públicas ou privadas.
A Secretaria Municipal de Promoção da Igualdade Racial e Secretaria Municipal de Saúde ficariam responsáveis pelo cadastramento de todos os indivíduos da população que se identificam como DNAEBs. Com a adoção em larga escala desse tipo de exame é possível localizar as origens geográficas e familiares dos cidadãos descendentes dos povos escravizados, que tiveram seus registros queimados após a abolição.
Escritora e ex-vereadora Claudete Alves (Imagem: SEDIN)
No livro “Negros, o Brasil nos deve milhões: 120 anos de um Abolição Inacabada”, da escritora Claudete Alves, é exposto como se deu parte da destruição dos registros pelo então Ministro da Fazenda, Rui Barbosa, em 1890. “Rui Barbosa assinou um decreto que determinou a incineração de todos os documentos relativos à escravidão para assim acabar com qualquer vestígio e consequentemente, evitar qualquer pleito indenizatório tanto dos negros, como dos ex-senhores de escravo”.
É um fato que o preto no Brasil não sabe de onde vem. A diáspora africana foi sangrenta e após a abolição se seguiu um processo de apagamento da história que só tem sido, lentamente, recuperada recentemente. O Brasil é o país do continente americano que mais recebeu africanos escravizados e parece que a história do preto começou nos navios negreiros, como se o passado não existisse. Isso é o oposto do que acontece com os outros povos que ajudaram a compor a identidade da população brasileira, que tiveram preservadas suas histórias de lutas, conquistas e identidades.
O ator e diretor Lazaro Ramos se torna a partir do próximo dia 22 apresentador na Tv Cultura. O ator não assinou contrato com a TV Cultura, mas estará a frente de um projeto da emissora chamado “Trip Transformadores” uma série que será lançada no dia 22 de maio.
Lázaro Ramos volta à TV Cultura após 17 anos da sua última participação na emissora, como ator em “Contos da Meia-Noite”, dessa vez, Lázaro estreia como apresentador.
Sobre “Trip Transformadores”:
“As coisas só estarão boas de verdade quando estiverem boas para todo mundo” com esse mantra o projeto pretende causar reflexão e compreensão na sociedade sobre as mudanças ocorrentes no mundo.
‘Trip Transformadores’ nasceu em 2007, e todos os anos o projeto faz tributo a brasileiros das mais distintas origens, idades, estratos sociais e campos de atuação. Eles são lembrados por seu trabalho, ideias e iniciativas que ajudam a promover o avanço do senso de coletivo e a diminuir o sofrimento do outro.
Serão cinco episódios (sendo um por semana) e terão exibição aos sábados às 22 horas. Nos episódios algumas personalidades serão homenageadas e atores convidados farão participação especial.
Confira a programação:
22 de maio (22h): Homenageado – líder indígena pensador e escritor Ailton Krenak, que conversa com o cineasta Fernando Meirelles. Interpretação: ator Jesuíta Barbosa;
Homenageada 2 – criadora do projeto Vida Corrida, no Capão Redondo, zona sul de SP, Neide Santos. Ela conversa com a atriz Barbara Paz; interpretação: atriz Maeve Jinking
29 de maio: Homenageado 1 – youtuber e influencer Felipe Netto, que conversa com o historiador Leandro Karnal; interpretação: ator Bruno Gagliasso;
Homenageado 2 – empreendedor social e fundador do projeto Gerando Falcões Edu Lyra conversa com o ator Silvero Pereira; interpretação: atriz Maeve Jinkings
5 de junho: Homenageado 1 – ativista social e líder do projeto Central Única das Favelas (Cufa) Celso Athayde conversa com o cantor Leo Jaime; interpretação: ator Marcelo Mello Jr
Homenageada 2 – presidente da Federação Nacional das Trabalhadoras Domésticas (Fenatrad) Luiza Batista conversa com o estilista Dudu Bertholini; Interpretação: atriz Taís Araújo
12 de junho: Homenageado 1 – o físico e engenheiro Ricardo Galvão, que vai conversar com o ator Caio Blat; interpretação: ator Bruno Gagliasso;
Homenageada 2 – a biomédica e pesquisadora Jaqueline Goes de Jesus, que falará com a cantora Fernanda Abreu; interpretação: atriz Taís Araújo;
19 de junho: Homenageado 1 – Rodrigo Pipponzi, empresário e um dos fundadores da MOL, a maior editora de impacto social do mundo; ele vai conversar com o rapper Dexter. Interpretação: ator Jesuíta Barbosa;
Homenageado 2 – O rapper e ativista Emicida; ele conversa com o estilista Ronaldo Fraga; interpretação: ator Marcelo Mello Jr
Desde o lançamento do álbum Queen, em 2018, os fãs de Nicki estavam um pouco carentes de um lançamento da rapper. Mas essa carência foi em partes suprida essa madrugada, quando a artista disponibilizou pela primeira vez sua mixtape ”Beam Me Up Scotty” nas plataformas de streaming, e com direito a algumas faixas novinhas.
Seeing Green com Drake e Lil Wayne, Crocodile Teeth (Remix), e Fractions formam o trio de peso que vêm para somar na discografia da rapper. Para o relançamento da Mixtape, Nicki fez uma live no Instagram que beirou um milhão de visualizadores. A artista, aproveitou o momento e mandou um shade para ”rappers com música no Tik Tok”.
E pra quem está com medo de Nicki sumir outra vez, saiba que ela anunciou um documentário e um novo álbum durante a live no Instagram. O relançamento de Beam Me Up Scotty, marca o 12º aniversário da mixtape. E você, já deu seu stream?
“Super Choque” fez muito sucesso no Brasil, com uma narrativa focada no herói adolescente negro que combate vilões, mas também precisa lidar com racismo, violência policial e as mudanças típicas desse estágio da vida. O personagem, junto ao Lanterna Verde John Stewart de “Liga da Justiça” foi importante para que as crianças e adolescentes negros se enxergassem nos desenhos da TV brasileira.
Um dos episódios mais emblemáticos é a ida de Virgil Hawkins (a identidade do herói) e família para o continente africano, mais especificamente em Acra, capital de Gana. Lá chegando encontram o super herói local, Anansi, inspirado no mito da aranha que teceu uma rede até o céu para pegar as histórias de Nyame, o Deus do céu e trazer à Terra.
Super Choque e Anansi em Gana
O episódio é cheio de referências à cultura africana, com o pai de Virgil sendo intermediador entre os filhos e a história da África. A irmã mais velha, Sharon, faz menções ao Império Ashanti (estendia-se da Gana central para o Togo dos dias atuais e Costa do Marfim).
A parte mais marcante é quando o herói liga para seu amigo, Rick, nos Estados Unidos e explica como se sente diferente e pertencendo ao lugar. “Na América eu sou um garoto negro, aqui eu sou só um garoto”, diz. Como todos nós, Virgil é fruto da diáspora africana (imigração forçada dos povos africanos para suprir os colonizadores com mão de obra escrava). Como consequência, ainda que nascido em solo norte americano, é tratado como estrangeiro em razão da cor de sua pele.
Ele diz que nunca se sentiu assim e que deve ser a maneira que seu amigo branco se sente o tempo todo, deixando claro a sensação de não pertencimento em seu país de origem. O criador do personagem, Dwayne Mcduffie sempre quis que sua criação não tivesse apenas a cor como símbolo de representatividade, mas também sua interação com o ambiente que o cerca. Sendo um garoto negro no subúrbio, Virgil passa por situações que vão sempre lembrá-lo que as pessoas o enxergam como um recorte intruso naquele lugar. Em Gana ele é apenas um homem, sem necessidade de racialização nos moldes das pessoas brancas.
As versões do Super Choque (Imagem: Geek Guia)
Esse episódio evoca um sentimento ancestral: a necessidade de pertencer a um grupo, a uma tribo. Estamos nessa busca quando escolhemos nossos amigos, nossa faculdade, os lugares que passeamos, sempre na esperança de nos encaixarmos.
Filhos de pessoas arrancadas de sua terra, não somos bem recebidos ou bem tratados por mais esforço que façamos, muito embora ajudemos a construir nações e moldar a cultura. Super Choque volta com a visão ampliada de si mesmo, entendendo a origem das cicatrizes da diáspora.
“Judas e o Messias Negro” acaba de chegar às plataformas digitais no Brasil. O longa dirigido por Shaka King foi indicado a Melhor Filme, Melhor Roteiro Original Melhor Fotografia e fez bonito ao vencer nas categorias de Melhor Ator Coadjuvante, com Daniel Kaluuya, e Canção Original, por “Fight For You“, interpretada pela cantora H.E.R.
O filme acompanha a ascensão e queda de Fred Hampton, ativista dos direitos dos negros e revolucionário líder do partido dos Panteras Negras. Hampton é interpretado de forma brilhante por Daniel Kaluuya que conseguiu emular a ótima oratória e carisma do ativista. O FBI, perseguindo o ativista, infiltra William O’Neal, (interpretado pelo também indicado a Melhor Ator Coadjuvante LaKeith Stanfield), com a promessa de perdão pelos delitos cometidos pelo golpista. Porém, O´Neal acaba sendo fisgado pela retórica e presença de Hampton, acabando por enfrentar conflitos internos que podem levá-lo para caminhos não planejados na missão.
Imagem: Divulgação
O envolvente filme de Shaka King levou Daniel Kaluuya ao topo das premiações da indústria norte americana de cinema e ele agradeceu de forma especial ao receber a estatueta dourada. “Como somos abençoados por existir em um mundo que ele existiu (Fred Hampton). Obrigada por sua luz. Ele esteve na Terra por 21 anos, e em 21 anos ele achou uma forma de alimentar crianças, educá-las, dar assistência médica gratuita”, disse emocionado. Também direcionou parte de sua fala para o Partido dos Panteras Negras: “Eles me mostraram como me amar. Esse amor ultrapassou barreiras para a comunidade negra e outras comunidades. Eles nos mostraram o poder da união – que ao invés de dividir e conquistas, nos unimos e ascendemos. Obrigada por me mostrar a mim mesmo. Tem muito trabalho a ser feito, para todos aqui, pois não é o trabalho de um homem só”, afirmou ao ator.
O filme já está disponível para compra nas plataformas Apple TV, Google Play, Microsoft e Playstation, o que possibilita que o filme esteja para sempre em sua playlist. Para quem quiser apenas alugar ‘Judas e o Messias Negro’, poderá fazê-lo nas plataformas Apple TV, Google Play, Microsof, Playstation, Sky, Uol Play, Vivo, WatchBr e Claro, a partir do dia 3 de junho, o que garante acesso à produção pelo período de 48 horas, sem limite de plays.