Home Blog Page 922

Dia do Orgulho Nerd: Ser nerd também é coisa de preto

0
Imagem: Gabriel Jardim

O “Guia do Mochileiro das Galáxias” é um clássico da literatura de ficção científica escrito por Douglas Adams (1952-2001). Foi traduzido para diversos idiomas e ganhou versão cinematográfica em 2005, dirigida por Garth Jennings. A saga gira em volta do inglês Arthur Dent, que após ter sua casa destruída por máquinas, recebe as revelações de que seu amigo, Ford Prefect, é um alienígena e a Terra será destruída para a construção de uma via espacial.  A partir desse plot inicial, os amigos iniciam uma série de aventuras e desventuras, em que se somam à dupla outros personagens carismáticos, como o robô depressivo Marvin, a humana Tricia McMillan e o presidente da galáxia Zaphod Beeblebrox.

O rapper Mos Def como Ford Prefect no filme O Guia do Mochileiro das Galáxias” (Imagem: Divulgação)

Os amantes da saga, decidiram homenagear o autor no dia 25 de maio, escolhendo a toalha como símbolo da reverência, já que em seu Guia o autor descreve a toalha como objeto crucial para dar apoio psicológico, se esquentar, ajudar em uma luta após ser umedecida, como proteção ao deitar-se nas areias das praias de Santragino V e claro, se enxugar. Em 25 de maio de 1977 estreou o primeiro filme da saga ‘Star Wars‘ e alguns nerds decidiram celebrar a data em Madrid, assim a celebração se espalhou e hoje conhecemos a data como Dia da Toalha ou Dia do Orgulho Nerd.

Apesar da fama que nerds ganharam de serem pessoas muito inteligentes, mas excluídas, o que podemos constatar em grupos e fóruns é uma forte resistência às mudanças e, sobretudo, racismo e outra série de preconceitos contra minorias, contrariando inclusive o conteúdo das obras que são símbolos de narrativa a favor da igualdade, como X-Men e Super Choque, por exemplo. 

Para a roteirista Thais Hern, de 33 anos, as pessoas brancas estão desacostumadas a dividir certos espaços, incluindo o do consumo de cultura pop. “A comunidade nerd é um reflexo da nossa sociedade, então não teria como ela não ser racista. O que acontece em situações de nicho como a comunidade nerd é que fica mais aflorada a sensação de que aquilo te pertence. Em nichos, pessoas brancas acreditam que aquilo pertence a eles e pronto”, diz.

Thais Hern e um Stormtrooper diferenciado (Imagem: Instagram/Thais Hern)

Fundador do Nigeek, um espaço de produção de conteúdo de pretos para pretos, que também é uma marca de camisetas e outros produtos, o designer gráfico e ilustrador Renato Cafuzo (33) sofreu com ataques racistas a sua página, mas crê que há um processo de mudança em andamento. ”Manter a integridade do Nigeek foi tranquilo enquanto marca. Só fomos verdadeiros nos porquês de tudo que acreditamos e fomos acolhidos por quem também acredita. Nossa maior preocupação foi com as pessoas que foram expostas nesse ataque. Algumas pessoas foram perseguidas nas redes, e chegaram a ter que ficar um tempo off. Sobre a comunidade ser racista ou não, boa parte é sim, vide esse caso. Mas tenho fé num amadurecimento de alguma forma”, reflete.

Renato Cafuzo, fundador do Nigeek (Imagem: Instagram/Renato Cafuzo)

 Antes era impossível encontrar representatividade dentro das produções nerds e hoje temos pessoas que produzem isso visando reforçar a representatividade de crianças pretas que estão entrando nesse mundo. Nos anos 90 tínhamos a Tempestade, na bem-sucedida série animada dos X-Men, mas outras fontes de referência vieram, como os filmes do Blade e a popularização do Super Choque e do Lanterna Verde John Stewart. Com mais personagens e produções capitaneadas por pretos, mais passos se dão para inserção de gente negra num universo artístico rico em vários aspectos. No Brasil, tivemos recentemente a aparição para um público maior de artistas como Jefferson Costa, ilustrador da HQ ‘Jeremias – Pele’ e autor de ‘Roseira, Medalha, Engenho e Outras Histórias’.

Assim como Thais, Costa acha que uma parte da comunidade nerd enxerga com estranheza, para não dizer o mínimo, a presença de pessoas pretas inseridas nesse universo. “Ao olhar de uma comunidade nerd que não considera pessoas pretas, nem como parte integrante, público integrante, vide os chiliques quando se insere uma personagem preta num universo nerd popular, nem produtor, no sentido de que um produtor preto é lido como um produtor de conteúdo étnico, com viés que separa como nicho do nicho com a intenção de diminuir, sem reconhecer o viés já existente no conteúdo nerd popular, dominante, universal”, reflete o quadrinista.

De fato, tivemos uma movimentação intensa nas redes em momentos em que atores pretos encarnavam heróis originalmente brancos, como foi o caso de Michael B Jordan como o Tocha Humana e até ataques racistas contra a atriz Anna Diop, que interpreta uma personagem que nas HQs é laranja! 

A maior parte dos ícones da cultura pop foram criados quando não havia preocupação em vender para pessoas negras. Todas as criações são resultado da visão eurocêntrica em torno do ideal de herói para os criadores, mas as demandas mudaram como aponta Jefferson: O grande problema é o olhar de o preto não ser um agente de narrativas, ser um preto nerd geek  é ser um cowboy,  mesmo que querendo representatividade querer ver o cowboy preto, mas ainda um cowboy, Ou como subversivo indígena, portanto corpo estranho. Em qualquer meio, o corpo preto é um corpo em movimento de ocupação,  de tentativa de transformação, seja por objetivo de integrar a universalidade ou não”, conclui.

A importância da representatividade para formação de novos leitores de quadrinhos (Imagem: Familia Quilombo)

Embora a produção nerd ofereça obras que chamam à reflexão e seja uma preocupação dos autores refletir a necessidade de mudança, o que se vê entre os consumidores é uma dificuldade de compreensão das mensagens. Ainda que o visual colorido característico da produção geek/nerd seja chamariz primário, é difícil compreender como alguém não consegue entender a premissa básica de X-Men, que é didático em sua analogia sobre discurso antirracista ou fãs de Star Wars que simpatizam com governos fascistas.

O roteirista Rafael Calça (37), parceiro de Jefferson Costa nas duas aclamadas HQS do Jeremias, “Pele” e “Alma” entende que a ideia de nerds serem um grupo acolhedor caiu por terra. “Por muito tempo descreveram a comunidade nerd como uma tribo que se encontra. Mas, na verdade, é algo muito tóxico e agressivo quando se é minoria representativa. Hoje eu tenho orgulho, de verdade, de ter companheiras e companheiros de luta nesse mundo de imaginação e realidade. De fantasia e sonhos lúcidos. Criar histórias é a forma com que me expresso e é um orgulho falar com tanta gente aberta a escutar. O resto. Bom, eles não entendem o que supostamente gostam”, diz Calça.

Rafael Calça e Jefferson Costa (Imagem: Minas Nerds)

A PerifaCon é um exemplo do crescimento constante de tomada de espaço por um público periférico, consumindo aquilo que os representa, seja do alternativo ou do mainstream. O evento reuniu milhares de jovens em sua última edição presencial e a promessa era de crescimento antes da pandemia. Enquanto isso, dentro das grandes editoras de quadrinhos e das produtoras de cinema há um esforço para ressignificar antigos símbolos e estabelecer novos rostos. Um exemplo disso é que, no próximo filme do Capitão América, o personagem será encarnado por um ator afroamericano, um possível filme do Superman preto, e ganho de importância de personagens originariamente negras como Super Choque, Tempestade e Luke Cage.

É como conclui Rafael Calça: “Uma parte sim ainda não entendeu que histórias devem ser plurais, para todos. Mas muita gente preta está se vendo em obras novas e por isso consumindo mais, isso é o mais importante, as novas gerações irão entender o mundo de uma nova forma”.

“Quero que saiba que estava certa – seu pai mudou o mundo”: Michelle Obama presta apoio a filha de George Floyd

0
Michelle Obama e filha de George Floyd; Reprodução/Instagram

Muitos famosos e militantes prestaram suas homenagens  lembranças pela  trágica morte do americano George Floyd, que aconteceu exatamente 1 ano atrás após um policial o estrangular com o joelho até ele parar de respirar, por aproximadamente 8 minutos.

Uma das pessoas a demostrar apoio a família de Floyd foi a advogada, escritora e ex-primeira dama dos EUA, Michelle Obama, fazendo lembrar que racismo, violência policial e responsabilidade governamental devem fazer parte de qualquer discussão sobre direitos humanos e liberdades fundamentais, em todo o mundo.

Michelle falou que imagina o quanto está sendo difícil para a filha de Floyd e que o ocorrido não foi uma tragédia nacional, e sim uma tragédia humana. Ao perder o pai com apenas 6 anos, a menina passou momentos de dor e crescimentos que alguém com tão pouca idade não precisaria passar.

“No ano passado, vimos tantos jovens marchando, cantando, cantando, dançando e votando. É apenas um vislumbre de sua promessa. E oferece um retrato poderoso do que está por vi.” Começou ela;

Michelle, relembrando a fala da menina em que dizia que “papai mudou o mundo”, deu alternativas para que isso verdadeiramente ocorresse.

“Não podemos parar nem por um segundo. Isso significa responsabilizar os líderes locais, votando em novos promotores e xerifes se for necessário, e falando abertamente sobre nossas próprias experiências de injustiça e discriminação. É assim que garantimos que “Papai mudou o mundo” não seja um momento passageiro online, mas uma mudança duradoura em todo o país.”

Lembrando sobre as dificuldades que surgiram durante um ano pandêmicos e noticias aterrorizantes, Michelle ainda disse que estava desejando boas notícias e energias para a menina e que com toda a certeza seu pai mudou o mundo.

“A África sempre esteve na vanguarda do pensamento crítico, inovação e produção cultural”, diz Miguel de Barros.

0
Foto: Gabrielly Pereira

Neste dia 25 de Maio, celebra-se o Dia da África, ou Dia da Libertação Africana. Para entender mais sobre a importância da data, conversamos com o sociólogo Miguel de Barros, natural da Guiné-Bissau e considerado pela Confederação da Juventude da África Ocidental (CWAY), a personalidade mais influente do ano de 2018.

“25 de maio continua a ser uma data muito importante no contexto africano e nas diásporas africanas, porque promove um debate de uma nova geração à procura dos ideais da libertação, emancipação. Também é algo que possibilita às diásporas um reencontro com as origens, para aqueles que não nasceram no continente e procuram um local de afeto e alguma possibilidade de ação política consciente e solidária com as causas com as quais a África se debate”, contextualiza Miguel.

Para Barros, ainda existe um longo caminho para que o Ocidente perceba as potencialidades do continente, que, de acordo com o pesquisador, “ainda é vista mais enquanto reserva, enquanto um espaço de exploração, enquanto um continente que precisa de ajuda exterior. Essas narrativas não só são falsas questões, mas alimentam também uma percepção da incapacidade da construção de uma agenda de transformação africana”, analisa.

Outro fator que chama a atenção, é a visão que se tem da capacidade econômica do continente e o êxodo de imigrantes de origem africana. “A contribuição dos migrantes africanos, que na sua maioria, estão no continente africano, é muito mais importante do que a ajuda pública ao desenvolvimento em África, com uma diferença de mais de 20 bilhões de dólares. Por outro lado, a economia colonial acaba por asfixiar a própria transformação da África, colocando o continente numa posição de reservatório de matérias primas que são exportadas para o ocidente e depois voltam como produtos”.

Para sociólogo, o que é mais importante hoje, é que o continente consiga usufruir das próprias riquezas que gera, rompendo com o jugo colonial, que segue rendendo riquezas para a Europa. “Uma das coisas que hoje é reivindicada é a África constituir-se como uma potência porque suas matérias primas poderiam ser transformadas para gerar em emprego, canais de distribuição no continente, zonas de livre circulação e comercialização dos produtos. Mas, também, trazer esse potencial natural em termos de investimento em capital humano, para que uma nova geração de africanos possam se beneficiar das vantagens que seus recursos naturais oferecem”, visualiza Miguel.

Celebrar o Dia da África passa também por desconstruir imaginários como os que se ensinam nas escolas no Brasil, de um continente africano apenas marcado por pobrezas, doenças, e falta de possibilidades. “A África sempre esteve na vanguarda da construção, quer do pensamento crítico, inovação científica e tecnológica, e da produção cultural. Infelizmente, a colonização ocidental escondeu e eliminou todos esses elementos que demonstram essa factibilidade”.

Para Miguel, as pesquisas têm grande contribuição a dar neste resgate. “As pesquisas no campo das Ciências Sociais e Humanas evoluíram bastante e têm encontrado vestígios, documentos, monumentos, espaços de patrimônio que confirmam que a contribuição da África para o mundo, como um território produtor de civilizações que influenciaram o modo de estar, de consumo, de produção e de construção de espaços plurais, que hoje lutamos para que se refiram como um espaço que merece ter sua paz para construir a sua própria transformação” finaliza.

Na fila da adoção, crianças negras são maioria

0
Toda criança só quer um lar. Foto: Freepik.

Em uma palestra realizada para pais que pleiteiam a adoção, Paulo Sergio P. dos Santos, filho adotivo e pai adotivo, falou sobre a importância de pais de adoção compreenderem que crianças adotadas têm uma identidade, uma origem, um passado. Ou seja, em uma adoção inter-racial, tentar apagar ou fingir não existir a identidade negra dessa criança apaga parte de quem ela é.

Dia 25 de maio é o Dia da Adoção, e quando falamos em adoção estamos falando de famílias negras e crianças negras, principalmente. As condições do negro pós-escravidão geraram efeitos desastrosos na família negra, empurrando milhares de crianças para a fila da adoção em busca de um lar. No Cadastro Nacional de Adoção do Conselho Nacional de Justiça, das 8.476 crianças cadastradas para adoção, 65,93% são negras e pardas, um total de 5.588 crianças no Brasil.

Cada vez mais aumenta o número de pretendentes que não têm preferência pela cor das crianças, em 2015 eram 15.594 e hoje, a CNJ contabiliza que dos 46.390 cadastrados, 24.047 aceitam crianças de todas as raças. Apesar de parecer que há um excedente de famílias que aceitariam crianças negras e pardas, há outros impeditivos que dificultam essa adoção como idade, doenças e gênero dessas crianças, itens de critério que constam na ficha cadastral dos adotantes.

Estar na fila de adoção, para muitas famílias, tem como foco encontrar crianças que se adaptem ao “perfil do filho imaginado”. Com essa mentalidade, optam por crianças que se pareçam com elas, principalmente na estética, para assim, essa criança, completar a família. A regra é: quanto mais nova melhor e quanto mais parecida com a gente melhor. Essa cultura da adoção no Brasil, enxerga a criança como mercadoria – um objeto a ser desejado – e ignora, muitas vezes, a necessidade que essas crianças têm de um lar, independentemente de sua idade, gênero, doença ou raça. Somado a isso o racismo que cria uma hierarquia racial entre as crianças, onde as negras são descartas, tudo acaba por empurrar as crianças negras para o final da fila, tirando a possibilidade de terem um lar.

Quando a adoção inter-racial acontece

O ideal seria que todas as famílias em processo de adoção, não fizessem distinção de raça, assumindo uma mentalidade antirracista de compreender que a cor da criança não vai interferir em quem ela, humanizando assim esse processo e compreendendo que ali há apenas uma criança.

Quando pais na fila de adoção optam por adotar, independentemente da raça, há uma chance maior dessa criança ser negra, haja visto que são maioria na fila da adoção. Nesses casos, quando a família é branca e adota uma criança negra ou vice-versa, como fica a questão do pertencimento racial e do racismo para essas pessoas? Perguntamos para três pessoas que vivem essa realidade e elas deram seus depoimentos, veja a seguir:

Carolina de Biagi Pereira, 38 anos, negra adotada por uma família branca. “Acho que as questões de racismo levaram mais tempo pra serem entendidas, eu sofri muito bullying e por muitos anos levei como um ataque pessoal e não como algo estrutural. Minha mãe é cabeleireira e sempre se esforçou pra que eu amasse meu cabelo natural, o mais difícil era a falta de referências (mesmo as mulheres negras que eu conhecia alisavam o cabelo). A melhor parte é que meus pais sempre me incentivaram a ir atrás do que me interessasse culturalmente. Acho que a dificuldade era uma coisa da época, de falta de acesso mesmo. Hoje eles entendem melhor questões raciais e eu também, acho que fomos aprendendo juntos.”

Luana Paulino Mariano, 30 anos, branca adotada por uma família negra. “Pra mim, nunca houve diferença alguma em fazer parte de uma família com pessoas negras. Sempre houveram questionamentos das pessoas comigo, de o por que eu era branca e minha mãe negra? Minha resposta sempre foi, porque vivemos no Brasil, onde existem diversas misturas de cores de pele. Confesso que sou apaixonada pela cultura negra. Amo um bom samba, samba-rock, black. Tranças, cabelos cacheados, blacks power. Minhas referências sempre foram voltadas para a cultura negra. Minha melhor amiga é negra. Confesso que nunca me atentei ao preconceito, acredito, por estar muito inserida, não tenha percebido algo explicito para com a minha mãe ou família. Mas me lembro da minha mãe indo para cabeleireiros, passando, as vezes, o dia todo para alisar seus cabelos e me dizendo sempre que se ela tivesse os cabelos iguais aos meus estaria no céu! E agora, depois de praticamente 28 anos, ela conseguiu finalmente aceitar os cabelos da forma que são. A luta é grande! Contudo, tenho fé que pelo menos na geração dos meus filhos que são negros, fruto de um casamento inter-racial, eles possam ter a liberdade de serem como são e acima de tudo respeitados, não pela cor da pele e sim como seres humanos.”

Paulo Sergio P. dos Santos, negro adotado por uma família branca. “Minha experiência de adoção, traz um traço particular de ter sido feita no início dos anos 60 e na condição inter-racial com a família adotante, o que era raríssimo. A origem da situação não foi muito diferente do cenário atual, uma família negra de recursos limitados e, em situação de dificuldades de sustento dos filhos, a genitora surpreendida pela condição de viuvez fez a entrega dos filhos ao Estado na esperança que teriam melhores cuidados. Numa época em que não havia sequer base de sustentação jurídica para garantia dos direitos aos adotados e regido pelo antigo Código de Menores, o processo foi longo e somente aos dez anos de idade foi concluído com a certidão definitiva e sobrenome da família adotiva. Apesar de ter recebido total suporte afetivo, fundamental na construção dos vínculos e estabilidade emocional nas relações familiares e sociais, houve a ausência do elemento étnico de origem como base de sustentação do ser humano. Em momento algum, isto foi motivo de condenação aos meus pais, visto que eles não possuíam elementos e nem recursos culturais de entendimento desta necessidade. No entanto, o suprimento afetivo familiar foi suficiente para o desenvolvimento do meu projeto de vida e o reencontro com a realidade da identidade negra, veio a partir da universidade, na formação da minha família e na militância junto aos grupos de apoio à adoção. A temática da adoção inter-racial, tem sido muito frequente nos fóruns de discussão da Adoção e, por parte dos interlocutores, quase sempre abordada considerando a importância de as famílias estarem atentas com o valor étnico de origem dos seus filhos, na implementação de uma cultura antirracista e o empoderamento dos filhos aos enfrentamentos que surgirão.” Paulo também é pai adotivo, ex-presidente da ANGAAD-Associação Nacional de Grupos de Apoio à Adoção, atual diretor financeiro e conselheiro. Palestrante e incentivador de diversos grupos de apoio à adoção no Brasil, nos últimos 30 anos).

Antirracismo na adoção

No que podemos observar no relato desses hoje adultos adotados, enquanto que para a Luana, branca, adotada por negros, a cultura negra tem forte influência em seu gosto, para os negros adotados por famílias brancas, Carolina e Paulo, a compreensão da negritude não foi algo dado pela família, mas sim uma construção ao longo da vida, assim com diz Neusa Santos Souza em seu livro Tornar-se negro “Ser negro não é uma condição dada a priori. É um vir a ser. Ser negro é tornar-se negro.

É unânime que todos eles são imensamente gratos pela família que os acolheram e os ajudaram em seu desenvolvimento humano, econômico e social e no seu pertencimento enquanto seres humanos, crianças que eram. Nesse dia adoção o desejo é que mais crianças possam encontrar um lar. Para as famílias que adotam crianças negras é essencial iniciar, para ontem, uma luta antirracista conscientizando familiares e amigos para que essas crianças não sofram violências racistas no núcleo familiar e sejam ensinadas sobre a beleza e a potência de sua origem negra.

Fonte dos dados: https://www.cnj.jus.br/cnanovo/pages/publico/index.jsf

Carla Akotirene e Rita Carreira estrelam nova campanha da TRESemmé

0

A escritora baiana Carla Akotirene e a modelo plus size e empresária Rita Carreira estrelam a mais recente campanha da TRESemmé. Com o mote “Não foi sorte, eu estou pronta”, a campanha enfatiza o preparo e a dedicação por trás das conquistas das mulheres, que frequentemente são atribuídas à sorte.

Os cabelos longos e volumosos de Carla e o curto ‘loiro pivete’ de Rita mostram um pedacinho da diversidade que existe entre as mulheres negras, e que tanto gostamos e merecemos ver nas propagandas.

Carla Akotirene é militante do movimento de mulheres negras, e pesquisadora do feminismo negro e interseccionalidade no Brasil. Rita Carreira é modelo, e reconhecida entre as personalidades da Forbes Under 30, que destaca empreendedores, criadores e personalidades de destaque com menos de 30 anos de idade.

Rita Carreira é modelo e destaque da Forbes Under 30. Foto: Divulgação.

PESQUISA — A TRESemmé, em parceria com o International Center for Research on Women (ICRW), realizou uma pesquisa com 5.550 mulheres de 18 a 35 anos do Brasil, EUA e Reino Unidos em 2019, que mostrou uma problemática comum unindo mulheres de diferentes idades, países, etnias e classes sociais: a deslegitimação de suas conquistas.

Apesar de 71% das entrevistadas sentirem que conseguem alcançar mais coisas quando tem Presença – ou seja, capacidade de se expressar com confiança – e de 8 em cada 10 acharem que isso é algo alcançável, apenas 30% afirmam conseguir colocar esta postura em prática.

A pesquisa demonstrou que o primeiro fator que mais afeta a confiança das mulheres é quando têm sua voz menosprezada ou se sentem desmerecidas de alguma maneira: 92% das entrevistadas duvidam de si e sentem sua confiança minar nessas situações.

Lil Nas X é o ícone gay (e pop) que a gente precisava

0
Foto: Kelia Anne

Não são muitas as referências de homens gays ou bissexuais negros fazendo sucesso no mundo do rap e do pop, só por isso a presença de Lil Nas X (que tem apenas 22 anos) já é mais do que necessária e ele sabe disso. Logicamente, o cantor não é o único. Artistas como Kevin Abstract e Todrick Hall já falam abertamente sobre sexualidade, em suas músicas, há anos. Temos nomes como Frank Ocean, que assumiu sua bissexualidade em 2012 e, no Brasil, os cantores Rico Dalasam e Hiran, entre outros.

O fato é que, apesar da pouca idade, Lil Nas se mostra muito consciente do tamanho da sua plataforma e audiência (que conquistou com o hit “Old Town Road”). Recentemente, com o single “call me by your name” ele – corajosamente – decidiu cantar sobre e expressar sua sexualidade, o que – logicamente – incomodou conservadores e homofóbicos. Apesar das ameaças de boicote, o single se tornou um grande êxito comercial elevando a carreira do cantor a outro patamar (quem achou que ele teria apenas um hit, se enganou).

Tem sido divertido e emocionante acompanhar a evolução de um artista ainda tão novo, mas que tem quebrado barreiras num universo ainda muito homofóbico do rap (e da música como um todo). Lil Nas tem levado com maestria sua arte para uma grande audiência jovem (muitos deles negros e LGBTs). Ele é, sem dúvidas, o ícone pop que eu queria ter tido na adolescência e demorou um pouco para aparecer, mas apesar do delay chegou… ainda bem. E que venham muitos outros!

Um ano depois dos protestos nada mudou para os ‘George Floyd’ brasileiros

0
Imagem: Nicolas Pfosi/ Reuters

Há exato um ano atrás,o ex-segurança George Floyd foi assassinado pelo policial Derek Chauvin. O funcionário de uma loja chamou a polícia alegando que Floyd usou uma nota falsa para pagamento e o que veio em seguida foi o pescoço do policial branco por mais de nove minutos contra o pescoço do homem negro de 46 anos que, apesar dos apelos por ar, só teve sua agonia interrompida pela morte.

O mundo estava em quarentena por uma doença que poucos entendiam, mas a força da filmagem daquele homem pedindo para respirar inspirou uma onda de protestos que começaram nos Estados Unidos e se espalharam pelo mundo. O movimento “Black Lives Matter” chegou ao Brasil com a exata tradução de “Vidas Negras Importam”, inspirando pessoas a irem para as ruas fazer frente à manifestação de apoiadores do governo, assim como artistas de várias áreas emprestaram suas redes sociais para influenciadores negros a fim de que falas antirracistas tivessem voz e rostos pretos.

Após essa onda, o que mudou? Qual a relação entre a morte de George Floyd e o racismo estrutural e institucional no Brasil? Para a pesquisadora de Relações Raciais e professora da Universidade de Brasília (UnB), Kelly Quirino, o mundo está em quarentena, prestando atenção às notícias, com pessoas angustiadas, ver a gravação foi um catalisador para as ações que seguiram. “A morte do George Floyd ano passado na realidade ganha contornos mundiais por causa da questão da pandemia naquele momento  e tem a questão da gravação. A gravação e a forma com que foi gerou uma comoção mundial”, diz.

A professora lembra que o movimento “blacklivesmatter” surge antes, por exemplo já há protestos espalhados pelos Estados Unidos com a morte do jovem Michael Brown, alvejado por um policial com apenas 18 anos de idade. Com mais pessoas conectadas às redes sociais e maior velocidade de conexão, as pessoas sofreram o choque ao mesmo tempo daqueles nove minutos.

Apesar da comoção com a morte de um homem negro em outro país, não tivemos nada parecido quando perdemos o garoto João Pedro ou a menina Agatha.As informações vindas dos Estados Unidos parecem ter maior efeito no imaginário brasileiro quando se trata de compelir pessoas a se indignarem. “Os Estados Unidos e o Brasil têm processos diferentes em relação ao racismo. Nos Estados Unidos a abolição começa com a guerra de secessão. Os Estados do norte ganham dos Estados do sul que são obrigados a acatar, mas instalam leis segregacionistas como a Lei Jim Crow que legalmente colocam os negros em espaços diferentes dos brancos. Elas vigoram até os anos 50 onde acontece o caso da Rosa Parks  parte que se recusa a levantar do ônibus”, explica. 

Michael B. Jordan Speaks at Black Lives Matter March in LA | POPSUGAR  Celebrity UK Photo 2
Artistas como Michael B Jordan participaram ativamente dos protestos de maio do ano passado (Imagem: Getty Images)

As leis segregacionistas dos EUA geram um forte marcador racial que acaba por influenciar em como os negros norte-americanos se entendem dentro daquela sociedade, o que explica a razão dos protestos mais numerosos serem mais comuns por lá. “O próprio fato  de ter universidades para negros no século 19 diz muito sobre o processo de formação histórica dos Estados Unidos. As pessoas terem saído á rua pelo direito a  acres de terra diz muito desse processo que é um processo de segregação racial, mas que também é colocado como componente a educação por meio das Universidades o direito ao comércio, a uma casa, à condições mínimas de sobrevivência”, diz a professora, que explica que o Brasil não explicitou o racismo  juridicamente explícito como nos Estados Unidos, mas que perpetuou a violência contra o negro por meios de códigos jurídicos como a Lei do Capoeira e a Lei de Terras.

No Brasil, um ano depois da comoção causada pelas ‘vidas negras importam’, tivemos a polícia matando 24 moradores do Jacarezinho, no Rio de Janeiro, e os artistas que levantaram a antiga hashtag pouco se mostraram indignados em suas redes sociais. “Historicamente a classe artística que sempre foi comprometida com o povo preto é o rap. Você tem Racionais, MV Bill, Facção Central, que é a música de preto feita por preto. Agora a classe artística mainstream é uma classe média branca que está em espaços que a população negra está em situação de subserviência”, aponta a pesquisadora.

George Floyd died May 25, 2020, after a Minneapolis police officer held his knee on Floyd's neck for several minutes.
George Floyd em momento com uma de suas filhas (Imagem: Acervo da família Floyd)

Para quem viu esperança nos espaços cedidos durante o fatídico maio de 2020, o que se seguiu foi o contínuo morticínio de pessoas negras, seja por formas violentas, seja por causa da negligência do Estado com a pandemia do coronavírus. No entanto, diante da normalização da morte de pretos brasileiros, não houve comoção. “A nossa formação enquanto país é uma formação extremamente violenta com pessoas negras, com indígena, com mulheres, e com crianças, só não somos violentos com homens brancos quando essa violência chega no homem branco, aí vem as passeatas da paz, querem reduzir a maioridade penal. O nosso projeto de país na questão racial é nosso calcanhar de Aquiles”, diz Kelly.

Ao contrário do Brasil, há uma classe média negra influente e personalidades influentes, como a cantora Beyoncé e jogador de basquete Lebron James, que não deixam arrefecer a lembrança das violências pelas quais passam os negros. Ainda assim continuam morrendo pretos, mas a luta parece mais delineada pela transparência das posições dos indivíduos que a compõem. A polícia toma decisões contra os seus apenas após muita pressão das ruas e algumas reformas são previstas em departamentos marcados pela violência policial. A própria condenação do assassino de George Floyd é incomum no judiciário norte-americano.

Kelly Quirino rumo à Columbia University
Professora e pesquisadora de Relações Raciais Kelly Quirino (Imagem: Acervo pessoal)

“Uma reforma no judiciário brasileiro não seria suficiente. Teria que ser uma reforma no judiciário e na polícia”, aponta como solução a pesquisadora.  “A polícia no Brasil serve para manter os espaços brancos numa lógica do período colonial. Tinha a figura do capataz que protegia a casa grande e hoje a polícia serve para manter a estrutura da elite”, conclui.

Nunca saberemos como seria a extensão das manifestações aqui no Brasil se não estivéssemos no decorrer de uma pandemia sob um governo conservador, mas ao menos já é uma demanda dos movimentos negros que a base da sociedade seja transformada para que mais pretos não sejam assassinados e quando ocorrer que a injustiça não vença. Se a estrutura se mantém branca nada muda. “Nós pretos. Tentamos entrar no judiciário nos lugares para fazer mudanças, mas tem que ser estrutura total de cima para baixo. Sem ser com uma revolução completa fica muito complicado evitar que nossos George Floyd não morram”, conclui.

Após um ano do pico de indignação, o Brasil da elite voltou ao patamar de antes, mas os coletivos e a mídia negra continuam com esse trabalho de mostrar que as vidas negras importam para além de um único momento de catarse coletiva. Para a pesquisadora o jornalismo tem uma responsabilidade muito grande de fazer denúncia, conscientizar a população e fomentar o debate “Enquanto a gente não tiver matérias que mostram que os jovens morrem por ser negros, não conseguiremos avançar ainda, não estamos conseguindo e isso é muito ruim. ”A gente repete que ‘vidas negras importam’, mas nesse  atual momento político a polícia segue muito forte, fizendo incursões ilegais no Jacarezinho e matando. Temos muito que avançar. Enquanto isso, a gente continua fazendo essa resistência seja na academia, ou seja no jornalismo alternativo. Porque temos que acabar com a necropolítica. É a necropolitica que coloca corpos negros para serem assassinados como de George Floyd”, termina.

A justiça e o racismo: de George Floyd a João Pedro

0
Foto: Acervo Pessoal.

Por Zaira Castro – advogada e jurista

O contexto histórico e fático do sistema de justiça no Brasil ou nos Estados Unidos abarca uma estrutura de práticas discriminatórias e racistas. Um país permeado pela escravidão e o outro pela segregação racial. Apesar da legislação de ambos os países garantirem que todos são iguais perante lei, a discriminação racial ainda é latente, todavia, similarmente diferente.     

Em  25 de maio de 2020, o mundo presenciou a morte de George Floyd em  Minneapolis nos Estados Unidos, que foi brutalmente detido e imobilizado por um policial branco que pressionou o joelho sobre o pescoço dele por volta de 9 (nove) minutos, deixando-o sem respirar e desfalecido, assim se tornando mais uma vítima do racismo.

Em paralelo, no dia 18 de maio de 2020, a sociedade presenciou a morte de João Pedro baleado pela polícia do Rio de Janeiro no Brasil, quando ele estava dentro de sua casa com amigos, e foi atingido por um projétil de fuzil, em razão da operação policial. Mais um adolescente negro com apenas 14 anos, vítima do racismo enraizado na estrutura policial.

Depois de onze meses, a justiça dos Estados Unidos condenou o ex-policial Derek Chauvin declarando-o culpado por homicídio em segundo e terceiro grau e homicídio doloso em segundo grau pelo assassinato de George Floyd.  Após três semanas de julgamento o júri composto por mulheres e homens de diferentes raças decidiu unanimemente pela condenação de Chauvin.

No entanto, no caso de João Pedro, após um ano do ocorrido, as investigações sequer foram concluídas e vemos várias irregularidades. Além disso, os policiais que participaram da operação que sequenciou a morte do adolescente não foram afastados da atividade policial. Logo, a justiça no Brasil tem sido morosa sobre a investigação da morte do João Pedro, que está longe da conclusão.

Outro caso que vale ser relembrado, similar ao de George Floyd  e de João Pedro, ocorreu em fevereiro de 2019 na Barra da Tijuca no Rio de Janeiro, quando o jovem Pedro Henrique Gonzaga,  foi imobilizado por um segurança no supermercado, vindo a falecer asfixiado por estrangulamento, e até o momento os agressores não foram julgados.  Apesar das similaridades com o caso ocorrido nos Estados Unidos, a justiça no Brasil limita-se à estagnação atribuída ao racismo institucional.

Nos Estados Unidos, todos os policiais que participaram da morte de George Floyd foram demitidos.  Incumbe que destacar o vídeo gravado pela jovem Darnella Frazier que evidenciou a violenta detenção policial, foi fundamental nesse processo, culminando numa decisão histórica na luta do  combate ao  racismo, na qual as vidas negras querem respirar e viver sem ser discriminado por sua cor. 

A morte de João Pedro teve comoção nacional e foi denunciada à Organização das Nações Unidas, além de causar consternação da sociedade em relação às operações policiais no Rio de Janeiro. Infelizmente, a justiça, no caso do jovem e em episódios similares, ainda é falha e morosa no Brasil.

Contudo, o homicídio de George Floyd provocou protestos antirracistas nos Estados Unidos, o que desencadeou o debate sobre o racismo no mundo, e a condenação do ex-policial demonstrou a justiça prolatando um veredito histórico na luta contra a discriminação racial, relembrando a tamanha mobilização desde o assassinato de Martin Luther King, concluo com uma de suas frases “A injustiça num lugar qualquer é uma ameaça à justiça em todo o lugar.”

“Só demonstrar preocupação com a causa, não resolve”, diz publicitário Ricardo Silvestre sobre marcas brasileiras

0
O publicitário e fundador da Black Influence , Ricardo Silvestre - Foto: Bruno Gomes

Quem aqui se lembra das ocupações de perfis nas redes de celebridades brancas por pessoas negras, do “Black Out Tuesday” e Facebook, Instagram e Twitter mudando seus logos para cor preta? O assassinato de George Floyd que completa um ano nesse 25 de maio, fez da Internet um palco de protesto e revolução e as marcas não tiveram como fazer vista grossa a essa conversa.

A agência Black Influence do publicitário Ricardo Silvestre, nasceu um pouco antes desse do ano que mudaria a história da comunidade negra e como sua empresa trabalha com um casting de pessoas pretas e periféricas, ele pode sentir, literalmente na pele, os impactos midiáticos de um novo momento da discussão sobre a importância da vida das pessoas negras.

“Não sei se a publicidade se tornou mais consciente, mas posso afirmar que notamos uma maior preocupação por parte das marcas principalmente no que se refere à movimento negro e comunidade negra brasileira”, detalha o publicitário.   Para ele a morte de Floyd trouxe à tona um tema que é muito sensível “que é visto muitas vezes como um tabu por muitas pessoas e por muitas marcas”.  Silvestre acredita que os olhos do mundo para as questões sobre violência contra a comunidade negra fizeram com “que as marcas ampliassem seus esforços para demonstrar um maior engajamento pelo tema e mostrar que de fato é algo relevante para elas”.

Ricardo destaca a importância de ações que incluam, além da discussão de temas sociais sensíveis, a contratação e remuneração honesta de pessoas negras. “Só demonstrar preocupação com a causa não irá resolver o problema que notamos nas dinâmicas de contratação de influenciadores negros, por exemplo. Acho que esse ocorrido deve trazer toda a necessidade de se repensar a forma como influenciadores negros e não negros são contratados e remunerados de maneiras tão discrepante e diferente infelizmente”, reflete Silvestre.

“Essa revolução, entre aspas, que a morte de Floyd causou não pode ser adormecida, ela precisa resistir.  Essas grandes marcas precisam entender também o seu papel fundamental nessa transformação da sociedade. Um ano da morte de Floyd o que mudou? Aqui no Brasil nós conseguimos algo positivo desde esse episódio?  São esses questionamentos que a gente sempre faz no dia a dia e geralmente a resposta é não. Nada mudou, infelizmente”, finalizada Ricardo.

Foto: Bruno Gomes

Coletivo “Mulheres Negras na Biblioteca” lança primeira plataforma para troca de livros de autoras pretas

0
Imagem: Marina Souza

O coletivo Mulheres Negras na Biblioteca lançará pelo site (www.mulheresnegrasnabiblioteca.com.br) a primeira biblioteca on-line, do Brasil, de troca de livros escritos por autoras negras. O lançamento da plataforma  será no dia 27 de maio, às 15h, via Zoom, em um evento em parceria com o SisEB (Sistema Estadual de Bibliotecas Públicas de São Paulo), com as participações de Ola Ronke (‘The Free Black Women’s Library)  que serviu de inspiração para o projeto brasileiro , Carine Souza (‘Mulheres Negras na Biblioteca’) e Semayat Oliveira (‘Nós, mulheres da periferia’). O bate-papo online sobre ações de incentivo à leitura de obras de autoras negras abordará experiências realizadas nos Estados Unidos e no Brasil.

“Em 2020 fomos contempladas do edital do Programa VAI, da Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo, com um proposta de biblioteca itinerante de trocas de livros de autoras negras, inspirada na ‘The Free Black Women’s Library’. mas tivemos que adaptar a proposta devido à pandemia. Então, pensamos em criar um site para a realização da troca, que será concluída via Correios”, explica a produtora cultural Carine Souza, uma das organizadoras do coletivo.

Carine Souza, uma das integrantes do coletivo Mulheres Negras na Biblioteca (Imagem: Acervo pessoal)

Para que haja a troca dos livros, Carine explica que, no site cada pessoa poderá selecionar dois títulos por mês. Para que fazer a troca, ela deve se cadastrar e informar dois livros de autoras negras que ela tem e quer dar em troca; a solicitação será avaliada e ela receberá uma notificação de confirmação e um prazo para o envio das obras; quando os livros dela chegarem um prazo de envio é gerado.

O  acervo contará, inicialmente, com aproximadamente 200 livros de escritoras negras nos gêneros ficção-científica, ensaios, poesia, biografias e romances nacionais e internacionais. Em conversa com a escritora Ola Ronke, Carine não vê diferenças significativas no processo de invisibilização de autoras negras e que o objetivo comum de ambos os projetos é combater o apagamento das mulheres pretas no âmbito literário.

O coletivo Mulheres Negras na Biblioteca é um projeto de incentivo à leitura de obras de escritoras negras, idealizado e organizado por profissionais de Biblioteconomia e Letras, que se dedicam, desde 2016, a promover atividades culturais a fim de contribuir para a formação e aumento do público leitor de autoras negras, com o objetivo de tornar notável a importância da inclusão dessas obras nos acervos das bibliotecas.

“Costumamos dizer que o nosso trabalho é de formiguinha. Mas como estamos na base da pirâmide social, qualquer movimentação que fazemos, por menor que pareça ser, abala toda a estrutura. Para citar exemplos: em 2018, fomos convidadas pela coordenação do Sistema Municipal de Bibliotecas para um evento que eles estavam promovendo; aceitamos o convite, mas em contrapartida pedimos que considerassem uma lista com aproximadamente 200 títulos de autoras negras que enviamos para incluir nas listas de novas aquisições das bibliotecas; eles aceitaram. Após isso recebemos relatos de bibliotecas que receberam uma quantidade significativa de livros de autoras negras”, aponta, Carine.

SERVIÇO

Lançamento do projeto Mulheres Negras na Biblioteca de Trocas (MNBT)

Quando: 27 de maio

Horário: 15h

Onde: http://siseb.sp.gov.br/…/webinar-autoras-negras-nas…/…

Apoio: Programa VAI, da Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo

Instagram: @mulheresnegrasnabiblio

error: Content is protected !!