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Igor Melo, baleado por PM reformado no Rio de Janeiro, é contratado como correspondente da Rádio Craque Neto

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Foto: Reprodução

O jornalista Igor Melo, baleado pelo policial militar reformado, Carlos Alberto de Jesus, após ser acusado de assalto no Rio de Janeiro por Josilene da Silva Souza, esposa do PM, foi contratado como correspondente da Rádio Craque Neto, do ex-jogador e apresentador Neto. O anúncio foi feito pelo próprio Neto durante o programa Os Donos da Bola, da Band, na última sexta-feira (7).

Igor, que é criador de conteúdo do canal Informe Botafogo e trabalha como garçom e inspetor na faculdade onde estuda, se emocionou ao receber a notícia. “Eu sonhei muito com esse momento. Sabia que eu ia conhecer um lugar maneiro, realizar meu sonho fazendo o que eu sempre quis. Agora, minha hora chegou”, disse em entrevista ao jornal O Dia.

Em entrevista para o Fantástico no último domingo (09), o Igor Melo desabafou sobre a perseguição sofrida por ele e pelo motociclista Thiago marques, e lembrou o momento em que foi baleado pelo PM reformado na madrugada do dia 23 de fevereiro, na Zona Norte do Rio de Janeiro. “Qual crime eu cometi? Crime de trabalhar? O crime de ser preto? O crime de estar em cima de uma moto de madrugada? Eu não entendi o porquê. Não entendi”, questionou.

A contratação de Igor por Neto marca também um novo capítulo em sua trajetória profissional como comunicador. Há cerca de 10 anos, ele busca se estabelecer no jornalismo esportivo. Igor já havia trabalhado em outros veículos, mas sem conseguir se sustentar exclusivamente da profissão ele mantinha o emprego de garçom em um bar, o mesmo onde trabalhava na madrugada em que o crime aconteceu. Agora, como correspondente da Rádio Craque Neto, Igor cobrirá os campeonatos brasileiros e outros eventos esportivos no Rio de Janeiro a partir de março.

Neto, que se sensibilizou com a história de Igor, destacou a importância de oferecer uma oportunidade real ao comunicador. “Ele vai ser meu correspondente e do Sidnei (Fraiole, sócio da rádio). Porque às vezes as pessoas usam muito. As pessoas vão te levar lá no Luciano Huck, para não sei onde, vão querer mostrar sua intimidade, sua humildade. Aí é só lá, depois esquece”, afirmou o apresentador.

Igor, que está em recuperação em casa após ser baleado no dia 23 de fevereiro, segue em tratamento psiquiátrico para lidar com o trauma do episódio. Apesar dos desafios, ele se mantém otimista e determinado. “Sinto que nasci para ser jornalista. Eu vou conseguir. Eu sou muito alegre e muito feliz. Agora, meu maior medo é perder essa alegria”, confessou.

Para o Fantástico, o motociclista de aplicativo que pilotava a moto na noite em que Igor foi baleado, Thiago Marques lembrou que ficou preso por dois dias, acusado de roubo e destacou: “Eu sou pai de duas crianças, trabalhador. Trabalho desde os meus 13 anos”, desabafou Thiago, que perdeu o celular no dia do ocorrido e está sem trabalhar desde então.

Alimentos não colonizados, ancestralidade e racismo alimentar são temas de curso online da nutricionista Bruna Crioula

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Bruna Crioula: Fota Marília Dias

Pouco se fala sobre os alimentos não colonizados – aqueles utilizados pelos negros durante o período de escravidão, mas que não foram apropriados pela indústria. Esse é o tema do curso “Mato é Comida? Conheça as PANC Ancestrais”, da nutricionista e ativista alimentar Bruna Crioula, fundadora da Crioula Curadoria Alimentar.

“O sistema alimentar brasileiro foi construído a partir do racismo, onde os alimentos disponíveis e a segurança alimentar estavam diretamente ligados às classes sociais e à cor de quem se alimentava. Os efeitos da colonialidade nos sistemas alimentares vêm da colonização e muitos alimentos foram marginalizados nesse processo. Esse curso é um reencontro à ancestralidade africana”, destaca Bruna. Ela optou pela modalidade online para democratizar o acesso ao conhecimento, reduzindo os custos de produção do conteúdo e tornando-o mais acessível.

Em sua terceira edição, o curso é voltado para quem deseja desenvolver uma relação mais consciente e crítica com a alimentação. O conteúdo mergulha na história, nos saberes ancestrais e na potência dos alimentos da afrodiáspora, promovendo reflexões sobre sustentabilidade, diversidade cultural e autonomia alimentar.

A proposta apresenta um olhar crítico sobre a relação entre comida, território e ancestralidade, valorizando ingredientes e práticas transmitidas por gerações.

As aulas combinam reflexões teóricas, trocas de histórias e uma oficina culinária prática, organizadas para promover a conexão entre os participantes e o reconhecimento de suas vivências.

Todo o material de apoio – leituras, receitas e lista de ingredientes – será disponibilizado previamente, incentivando a autonomia dos participantes e permitindo que tragam suas próprias perspectivas para a roda de aprendizagem. A interação será conduzida em formato de diálogo horizontal, valorizando as contribuições individuais como parte essencial do processo comunitário e decolonial.


Programação

Módulo 1 – Comida é Memória e Resistência: Reflexão sobre alimentação, colonialidade e introdução às Plantas Alimentícias Não Colonizadas
Módulo 2 – Histórias Vivas: A conexão entre plantas e povos
Módulo 3 – Sustentabilidade e Autonomia: Práticas de valorização de plantas não colonizadas
Módulo 4 – Reflexão e Diálogos: Discussões práticas e aplicáveis ao cotidiano
Módulo ExtraOficina Culinária Online: Lembretes culinários e experiências práticas na cozinha


Serviço

Mato é Comida? Conheça as PANC Ancestrais
Datas: 13 e 14 de março (19h às 22h) | 15 de março (9h às 12h)
Por: Bruna Crioula (@brunacrioula) | crioula.net

Inscrições: (Clique aqui)

Valores:
1º lote: R$ 350
Apenas a aula culinária prática: R$ 250

Mais informações: (61) 9350-5005

Chimamanda Ngozi Adichie fala sobre a memória de sua mãe no novo livro: “Só no fim percebi que era sobre ela”

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Foto: Jared Soares/The Guardian

‘A Contagem dos Sonhos’, o novo romance de Chimamanda Ngozi Adichie, a premiada autora best-seller de ‘Americanah’ e ‘Sejamos Todos Feministas’, chega ao Brasil na próxima terça-feira, 11 de março, publicada pela Companhia das Letras, com tradução assinada por Julia Romeu. A obra marca o retorno da renomada escritora nigeriana após mais de uma década sem publicar um novo livro.

Em uma entrevista recente ao jornal O Globo, Chimamanda contou como foi descobrir que a sua nova ficção era sobre a perda da própria mãe. “A morte do meu pai (em 2020) foi muito difícil, mas pelo menos eu ainda tinha a minha mãe. Meses depois ela se foi (em 2021). A morte dela destruiu alguma coisa dentro de mim. Ainda não processei o choque. Até me arrependo de ter escrito que o livro era sobre ela, porque ter que falar sobre isso me emociona muito. Só no fim, relendo o livro, eu percebi que era sobre ela. Fiquei surpresa ao ver o quão presente ela estava ali”, disse a autora.

O novo romance conta a história sobre quatro mulheres e se passa entre os Estados Unidos e a Nigéria: Chiamaka, Zikora, Omelogor e Kadiatou —, cujas vidas se entrelaçam ao abordar temas como amor, arrependimentos e autoconhecimento. Chiamaka, uma escritora de livros de viagem que vive nos Estados Unidos, é uma das protagonistas e revisita suas escolhas de vida durante a solidão imposta pela pandemia. Ao lado dela, Zikora, advogada que enfrenta uma traição, Omelogor, uma especialista em finanças em crise existencial, e Kadiatou, que trabalha na casa de Chiamaka enquanto cria sua filha, formam o núcleo central da trama.

“A experiência feminina ainda não é entendida como universal. A história da literatura é ainda muito masculina, embora isso esteja mudando. Foi natural falar sobre expectativas maternas. De certa forma, as vidas das minhas personagens, e de muitas mulheres nigerianas, são moldadas pelo que nossas mães esperam de nós. Essa é uma experiência universal que devíamos ver mais na literatura”, contou a escritora, que traz reflexões sobre as escolhas que feitas por nós, sobre filhas e mães, no novo livro.

SERVIÇO:

A contagem dos sonhos, de Chimamanda Ngozi Adichie

Editora: Companhia das Letras

Tradução: Julia Romeu

Número de páginas: 240

Preço: R$ 89,90 | E-book: R$ 39,90

Lançamento: 11/03/2025

Tété-Michel Kpomassie: conheça a história do primeiro africano a chegar à Groenlândia

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Foto: Reprodução

Em 1958, um jovem togolês de 16 anos, Tété-Michel Kpomassie, teve um encontro que mudaria sua vida para sempre. Enquanto comia um coco no topo de uma palmeira, ele se deparou com uma cobra. Ao tentar escapar, caiu de uma altura de quase 10 metros. O acidente deixou marcas profundas: nos dias seguintes, pesadelos com serpentes o assombravam. Seu pai, um curandeiro e eletricista com oito esposas e 26 filhos, decidiu que a solução seria levá-lo a uma sacerdotisa do culto às pítons. Para Tété-Michel, no entanto, a ideia de dedicar sua vida à adoração de cobras parecia mais uma sentença de morte do que uma honra.

Foi em uma biblioteca missionária francesa, onde se refugiou para “recuperar as forças”, que ele encontrou um livro que o levaria a uma jornada extraordinária: Os esquimós da Groenlândia e do Alasca. Nas páginas da obra, descobriu um lugar onde não havia cobras nem lagartos — a Groenlândia. Naquele momento, decidiu que deixaria o Togo para viver no Ártico.

Aos 16 anos, sem recursos ou experiência, Tété-Michel começou uma viagem que duraria oito anos, passando por Gana, Costa do Marfim, Senegal e Europa, até finalmente chegar à Dinamarca, de onde partiu para a Groenlândia em 1967, de acordo com reportagem publicada pela BBC. Ele se tornaria o primeiro africano de que se tem registro a pisar na ilha gelada. Sua jornada foi transformada no livro Um africano na Groenlândia, publicado em 1981.

Ao desembarcar em Qaqortoq, no sul da Groenlândia, Tété-Michel foi recebido por uma multidão curiosa. Para os habitantes locais, ele era a primeira pessoa negra que viam. “Olhei pela janela do navio e vi toda a população reunida na costa”, lembra. As crianças, inicialmente assustadas, logo se encantaram com o “gigante africano”, como o apelidaram devido à sua altura de 1,80 m — imponente para os groenlandeses, que raramente ultrapassam 1,60 m.

Aos poucos, Tété-Michel foi conquistando a confiança dos moradores. Aprendeu a andar de trenó puxado por cães, caçar focas e enfrentar temperaturas de -40°C. “Mesmo a -30°C, eu estava sofrendo, mas feliz. Senti que havia conquistado minha liberdade”, relata.

Apesar das diferenças climáticas e geográficas, Tété-Michel encontrou semelhanças entre a cultura inuíte e a de seu país natal. “O que eu realmente amei na Groenlândia foi seu animismo, que me lembrou da África. Eles acreditam que cada coisa tem uma alma: focas, baleias, renas selvagens — todos os animais têm um espírito, assim como os humanos”, diz.

Após meses no sul da Groenlândia, ele seguiu para o norte, onde viveu em uma pequena vila com apenas 29 casas e 170 habitantes. Foi lá que dominou a arte de caçar no gelo e aprendeu a apreciar o inverno ártico. “No inverno, todo o Ártico se torna sua casa, seu reino”, descreve.

O retorno ao Togo e o legado
Após anos na Groenlândia, Tété-Michel sentiu que era hora de voltar para casa. Retornou ao Togo como um homem de 28 anos, carregando histórias que encantaram sua família e comunidade. “A Groenlândia me tornou um homem. Tornei-me uma espécie de homem sábio, alguém a quem todos prestavam atenção”, afirma.

Em 1981, ele publicou Um africano na Groenlândia, livro que narra sua incrível jornada e se tornou um sucesso internacional. Hoje, Tété-Michel é convidado a palestrar em universidades e é referência para antropólogos e etnólogos. “Construí uma ponte entre a África e a Groenlândia”, diz.

“Entre o Aiyê e o Orun”: Obras de Carybé, Mestre Didi e outros artistas compõem mostra sobre cosmologia africana em SP

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Foto: Mario Cravo Neto

A partir do dia 11 de março, a CAIXA Cultural São Paulo abre suas portas para a exposição Entre o Aiyê e o Orun, que reúne obras de 14 artistas inspirados nas narrativas e mitos da criação do mundo das religiões afro-brasileiras. A mostra, que fica em cartaz até 4 de maio, apresenta uma diversidade de técnicas e linguagens, incluindo pinturas, esculturas, fotografias e instalações, todas com entrada gratuita.

Com curadoria de Thais Darzé, a exposição tem como eixo central a cosmologia africana, destacando a influência das matrizes culturais afro-brasileiras na produção artística. A abertura contará com uma visita guiada pela curadora no dia 11 de março, às 11h, sem necessidade de inscrição prévia.

A seleção de obras inclui nomes consagrados das artes plásticas, como Emanoel Araújo, Mestre Didi e Rubem Valentim, além de artistas contemporâneos. “O eixo conceitual da exposição são os mitos da criação do mundo na visão afro-brasileira, e as obras selecionadas transitam por essa poética”, explica Darzé.

A exposição também celebra a diversidade de suportes e técnicas, reforçando a riqueza da produção artística oriunda da Bahia, considerada o berço da cultura africana no Brasil.

Serviço:
Exposição Entre o Aiyê e o Orun
Local: CAIXA Cultural São Paulo – Praça da Sé, 111 – Centro Histórico de São Paulo, SP
Abertura: 11 de março (terça-feira), às 11h
Visitação: 11 de março a 4 de maio de 2025
Horário: Terça a domingo, das 8h às 19h
Classificação: Livre
Entrada Franca
Acesso para pessoas com deficiência
Patrocínio: CAIXA e Governo Federal

Coxinha de Vatapá é um dos muitos talentos da Chef baiana Mannu Bombom

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Foto: Divulgação

A criação de um cardápio criativo é um dos grandes diferenciais quando falamos de restaurantes. Contratar uma consultoria para agregar novas ideias é um serviço cada vez mais requisitado na gastronomia. Quem já teve a experiência de saborear a coxinha de vatapá da Casa Sankofa, em Salvador, provou uma das várias receitas afrocentradas da Chef Manuela Gomes, mais conhecida como Chef Mannu Bombom.

“Eu tinha um vatapá congelado, que sobrou de um almoço que fiz em casa. Sempre busco inovar e criar novas receitas dentro da culinária afro-baiana, aproveitando ingredientes já conhecidos para surpreender com novos formatos e apresentações. Foi assim que surgiu a ideia da coxinha de vatapá”, detalha Mannu, nascida em Camaçari e com mais de 20 anos de experiência em gastronomia. “Após descongelar o vatapá, aqueci e acrescentei mais farinha de trigo para deixá-lo mais espesso, até atingir uma textura ideal para modelar a massa. Todos os ingredientes utilizados são os mesmos do vatapá tradicional baiano, com a diferença de que a massa precisa ser mais consistente e preparada com farinha de trigo sem fermento. O recheio escolhido foi de camarão seco defumado, processado, que combinou perfeitamente com a massa”, complementa.

Esse prato, além de fazer sucesso na Casa Sankofa, levou Mannu a participar do concurso Panela de Bairro, um quadro do jornal da TV Bahia, afiliada da TV Globo. “Participamos do concurso e vencemos! Foi uma vitória coletiva, pois, sem o espaço do estabelecimento, eu não teria conseguido divulgar a receita para um público maior”, celebra.

Além da coxinha, a chef criou outros pratos para o tradicional restaurante baiano. “Apresentei três pratos: a coxinha de vatapá, o arroz de xinxim e a carne seca com farofa d’água – essa última inspirada em uma receita da minha mãe, que aperfeiçoei. Essas três receitas passaram a fazer parte do cardápio da Casa Sankofa, onde também realizei um treinamento com a equipe, elaborando ficha técnica e orientações para que elas pudessem replicar os pratos sem minha presença”.

Mannu, que tem formação no Instituto Gastronômico das Américas (IGA) e estudos contínuos no Centro Universitário Cruzeiro do Sul, destaca a importância de reconhecer os conhecimentos técnicos das mulheres negras na gastronomia.

Recentemente, a chef ministrou uma oficina de comida baiana no Instituto de Ações Sociais Vó Tutu, em São Paulo, além de ter criado um cardápio para a Cozinha Ocupação 9 de Julho. Em 2023, participou do evento MESA ao Vivo Bahia, promovido pela revista PRAZERES DA MESA.

Consultoria para restaurantes e outros serviços

Sobre os trabalhos de consultoria para restaurantes, Mannu detalha os aspectos da precificação desse serviço. “Quando fecho um pacote de consultoria que inclui receitas de minha autoria, já considero todo o processo necessário para garantir a qualidade e a padronização. Isso envolve testes para aprovação da receita pelos envolvidos, seguidos do treinamento da equipe. O valor do pacote inclui um número determinado de aulas presenciais, geralmente seis visitas, para conferir se a receita está sendo replicada corretamente, seguindo a ficha técnica com medidas exatas e modo de preparo. Caso o estabelecimento deseje um acompanhamento contínuo para manter o padrão de qualidade, há a possibilidade de pacotes periódicos.”

Na parceria com a Casa Sankofa, as três receitas criadas pela Chef Mannu citavam sua autoria no cardápio. “Nem sempre há esse reconhecimento formal, pois, ao final da consultoria, o método e as receitas passam a ser do restaurante. No caso da Casa Sankofa, houve um acordo para que minha autoria fosse mencionada, mas isso não é uma prática comum.”

Embora tenha ficado famosa pela coxinha, o expertise de Mannu Bombom se traduz em uma diversidade de trabalhos, incluindo cursos e workshops que realiza na Bahia e em outros estados. “Meu carro-chefe é o serviço de buffet, no qual executo almoços, coquetéis e cafés nordestinos. Minha culinária é afro-brasileira, mas com um olhar especial para a valorização da gastronomia afro-baiana, destacando as influências africanas na culinária da Bahia.”

Estudo revela que mulheres são mais generosas que homens em situações de doação

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Foto: Freepik

Um estudo publicado este mês na revista científica Plos One trouxe novos insights sobre as diferenças de generosidade entre homens e mulheres. A pesquisa, conduzida por Marina Pavan, da Universidade James I, na Espanha, utilizou o chamado “jogo do ditador” para medir a disposição de indivíduos em doar dinheiro a desconhecidos. Os resultados indicaram que as mulheres tendem a ser mais generosas do que os homens, doando cerca de 10% a mais do valor disponível, fator que pode ser explicado ao analisar as construções sociais que são impostas a cada gênero.

O estudo contou com a participação de 1.100 voluntários, que foram colocados em pares para simular a dinâmica do jogo. Um dos participantes, denominado “remetente”, recebia 10 euros (aproximadamente R$ 60) e tinha a opção de doar parte desse valor ao outro participante, o “destinatário”. Enquanto a teoria econômica tradicional sugere que o “ditador” não doaria nada, a prática mostrou o contrário: tanto homens quanto mulheres compartilharam parte do dinheiro, mas as mulheres se destacaram por sua maior generosidade.

Em média, os homens doaram 25% do valor recebido, enquanto as mulheres abriram mão de 35%. Além disso, a decisão mais comum entre os homens foi não compartilhar nada, enquanto as mulheres optaram, em sua maioria, por uma divisão igualitária. “Sabíamos que os estudos anteriores analisando diferenças de gênero em doações encontraram alguma ou nenhuma diferença em generosidade entre homens e mulheres, mas eles foram baseados em um número menor de observações, ou não tinham o grau de controle que tínhamos. Então, preenchemos a lacuna na literatura”, explicou Pavan em matéria publicada pelo jornal Folha de S. Paulo.

A pesquisa também considerou outros fatores que podem influenciar a decisão de doar, como traços de personalidade e emoções positivas. Segundo os autores, características como amabilidade e abertura a mudanças aumentam a disposição para doar, especialmente entre as mulheres. No entanto, aspectos como valores sociais, educação e normas culturais, que também podem impactar a generosidade, não foram totalmente explorados no estudo. “Essas dimensões são complexas e merecem investigação futura”, complementou Pavan.

À Folha de S. Paulo, Simone Jorge, professora da PUC-SP e especialista em ciências sociais, destacou que a diferença de gênero observada no estudo pode estar relacionada a construções sociais. “Os homens são frequentemente incentivados a serem competitivos e focados em si mesmos, enquanto as mulheres são associadas ao cuidado e ao afeto. Isso pode explicar, em parte, por que elas tendem a ser mais generosas”, afirmou Jorge. Ela ressaltou, no entanto, que essa visão pode reforçar estereótipos e desigualdades de gênero.

Para o futuro, Pavan planeja expandir a pesquisa, analisando dados de doações reais em ONGs e instituições de caridade. O objetivo é verificar se a tendência observada em laboratório se repete em contextos do mundo real. “Queremos entender melhor as motivações por trás da generosidade e como fatores externos influenciam essas decisões”, concluiu a pesquisadora.

Visibilidade e igualdade na tecnologia: O caminho para a inclusão de mulheres negras no setor

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Kelly Baptista. (Foto: Divulgação)

Você já se perguntou: quais são os impactos da invisibilidade de meninas e mulheres negras na tecnologia? As discussões sobre o fato de que o setor de tecnologia da informação ainda é uma das áreas de grande desigualdade racial e de gênero no Brasil já são antigas e acontecem com frequência. Em outras palavras, podemos dizer que a quantidade de pessoas brancas e homens trabalhando no desenvolvimento digital é muito maior do que a de colaboradores negros e mulheres.

Também vale a pena avaliar o gap da falta de acesso a computadores, internet e outras tecnologias, que faz com que a digitalização e seu domínio sejam algo muito distante para a maioria dos estudantes, principalmente nas periferias urbanas e rurais.

Conforme dados da pesquisa TIC Domicílios (2019), quase 30% dos lares brasileiros não possuem acesso à internet, e apenas 39% têm computador. Nas classes sociais D e E, que já sofrem com outros tipos de exclusão, o percentual de domicílios sem acesso à internet é de nada menos do que 50%. No que diz respeito ao uso, 59% dos brasileiros dizem não usar a internet para estudar e trabalhar. Apenas 31% das pessoas que usam computador afirmam ter manipulado uma planilha de cálculo, por exemplo.

Quando focamos em mulheres negras neste setor, percebemos uma diferença ainda maior. A forma como mulheres negras são afetadas nesses contextos as impede de se reconhecerem nos produtos como consumidoras ou até mesmo como criadoras. Essa invisibilidade, que a princípio parece inofensiva, é mais uma forma de segregar pessoas negras.

Raça é a maneira como a classe é vivida. Da mesma forma, o gênero é a maneira como a classe é vivida. Precisamos refletir bastante para perceber que entre essas categorias existem relações mútuas e outras que se cruzam. Ninguém pode assumir a primazia de uma categoria sobre as outras (DAVIS, 1997, p. 8).

Angela Davis deixa explícito o entrelaçamento entre as identidades e como elas se cruzam e não se excluem. O algoritmo, sendo criado por pessoas brancas, exclui racialmente aqueles que não se enquadram nos perfis determinados por seus comandos.

Embora representem quase 30% da população, as mulheres pretas ainda são minoria nas empresas de tecnologia do Brasil e ocupam apenas 11% dos cargos no setor. Os dados estão compilados em pesquisa divulgada pela Iniciativa PretaLab, que aponta questões estruturais na base do problema.

O cenário não é novo e foi observado em estudos anteriores da PretaLab. No contexto da crise atual, no entanto, ele se perpetua e é reforçado. De acordo com dados do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese), a taxa de desemprego entre mulheres pretas em 2020, primeiro ano da pandemia, representou o dobro dos índices observados entre homens não negros.

A ONU destaca a importância da participação feminina nas áreas de Ciências, Tecnologia, Engenharia e Matemática (STEM) como fundamental para alcançar o quinto Objetivo de Desenvolvimento Sustentável, que é a igualdade de gênero. Embora as mulheres tenham atingido níveis educacionais superiores aos dos homens na média global, elas continuam a receber salários menores no mercado de trabalho. Além disso, a organização ressalta que a maioria das mulheres atua em profissões fora do campo das STEM, onde os salários costumam ser mais baixos.

A previsão é mencionada no relatório Futuro do Trabalho do Fórum Econômico Mundial (FEM) em 2025, juntamente com a pesquisa “Mapa do Trabalho Industrial 2025-2027”, realizada pelo Observatório Nacional da Indústria (ONI). Segundo o mapa elaborado pelo ONI, o setor de Tecnologia da Informação (TI) lidera no ranking de criação de empregos e no crescimento de vagas formais dentro do setor industrial. No Brasil, estima-se a criação de 972 mil oportunidades de trabalho nesta área até 2027. No caso do Distrito Federal, a projeção é de 36 mil vagas, ficando atrás apenas dos setores de logística e transporte, com 47,6 mil vagas, e de construção, com 39,9 mil.

É importante ressaltar que existem esforços contínuos de várias iniciativas para impulsionar a diversidade dentro do mercado. Nos últimos anos, têm surgido coletivos e grupos com o objetivo de atrair, capacitar e servir de rede de apoio e networking para que mais mulheres negras optem por uma formação e carreira em tecnologia.

Promover a inclusão de mulheres negras no setor de tecnologia é mais do que uma questão de justiça social; é uma necessidade para o avanço da indústria como um todo. Ao diversificar as vozes e experiências dentro da tecnologia, desbloqueamos um potencial criativo que reflete mais fielmente nosso mundo e suas necessidades. Assim, ao abraçar a diversidade, não apenas estamos criando oportunidades equitativas, mas também garantindo um futuro mais inovador e sustentável. Que possamos continuar unindo esforços para transformar este cenário e construir um setor tecnológico onde cada indivíduo, independentemente de raça ou gênero, tenha a chance de brilhar e contribuir significativamente.

O algoritmo e a monetização para mulheres negras

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Foto: Freepik

Texto: Rachel Maia

O mundo tecnológico nos propiciou muitos avanços, mas há uma reflexão necessária sobre os moldes atuais que precisa ser observada de perto para que as práticas de discriminação não se perpetuem nas redes.

Equilibrar inovação com responsabilidade para garantir um impacto positivo em todas as áreas será fundamental para que todos sejam igualmente contemplados positivamente. Para que a evolução ocorra de forma ética e inclusiva, precisamos considerar fatores como inclusão e diversidade, garantindo que todas as mulheres se sintam representadas. Afinal, os algoritmos são desenvolvidos por pessoas e, inevitavelmente, carregam suas visões de mundo.

Relatórios da McKinsey & Company apontam que a Inteligência Artificial (IA) generativa, utilizada para criar imagens, textos, músicas, entre outros, poderá movimentar de US$ 2,6 trilhões a US$ 4,4 trilhões na economia mundial anualmente, o que proporcionará novas oportunidades, mas também novos desafios, como mostra a pesquisa. Diante desses dados, é importante ressaltar que mulheres negras movimentam a economia ativamente e não podem ficar de fora quando o assunto é negócios e lucratividade.

Inteligência artificial: é preciso redefinir conceitos

Um tema recorrente nos debates sobre tecnologia e sociedade é a reprodução de desigualdades nos algoritmos. Por isso, as questões de raça e gênero são pautas relevantes nas minhas palestras e geram interesse do público pela narrativa inclusiva e educativa, pois estão alinhadas ao cenário real da sociedade, que precisa nos perceber para além da nossa cor.

Embora tenhamos avanços significativos, ainda enfrentamos desafios, como a falta de representatividade das mulheres negras na economia digital. Um exemplo disso é o impacto desigual da IA no mercado publicitário. Mesmo as pesquisas apontando as mulheres negras como consumidoras ativas, as profissionais negras, principalmente as retintas, ainda enfrentam barreiras para competir de maneira equitativa.

As mulheres ainda são julgadas e discriminadas por serem diferentes do padrão idealizado de maneira excludente, impossibilitando-as de competir organicamente no digital. Ao reforçar padrões discriminatórios, o algoritmo dificulta o alcance e, consequentemente, a monetização do conteúdo produzido por mulheres negras. Se, no passado, a publicidade em revistas e TV excluía determinados grupos, hoje, com o domínio das plataformas digitais, essa realidade persiste.

O futuro da IA e das mulheres negras no digital

A maneira como vivemos e trabalhamos já não é mais a mesma. Por isso, para garantir um impacto positivo, é essencial desenvolver mecanismos de segurança e uma legislação assertiva, promovendo a diversidade e protegendo os direitos de todos.

O debate sobre IA não pode se limitar ao campo tecnológico — deve incluir aspectos sociais, culturais e econômicos. Somente assim poderemos criar oportunidades e alcançar resultados conjuntos para um futuro mais justo, onde a inovação esteja alinhada com a diversidade que é característica marcante da sociedade brasileira.

A forma como a IA será usada — seja para automação de tarefas, personalização de serviços ou tomada de decisões — determinará seu impacto na sociedade. Portanto, cabe a nós definirmos como essa tecnologia será integrada ao nosso dia a dia, para que toda mulher tenha a possibilidade de ser, existir e pertencer, com suas características que são únicas.

5 produções que exploram as diferenças entre mulheres negras e brancas

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Histórias Cruzadas (Foto: Disney)

No Dia Internacional da Mulher, muito se fala sobre sororidade, mas a experiência feminina não é homogênea. Mulheres negras enfrentam desafios específicos que mulheres brancas muitas vezes não vivenciam, seja no mercado de trabalho, nas relações sociais ou na busca por direitos. O cinema e a TV têm explorado essas dinâmicas, mostrando tanto os conflitos quanto às tentativas de solidariedade entre elas.

Selecionamos filmes e séries que abordam essas interseccionalidades de forma significativa, revelando como raça e classe afetam a experiência das mulheres de maneiras diferentes.

1. Little Fires Everywhere (2020) – Série

Disponível em: Prime Video


Minissérie estrelada por Kerry Washington e Reese Witherspoon que escancara as tensões raciais e de classe entre uma mãe negra e uma mãe branca rica nos Estados Unidos. A história mostra como privilégios moldam suas experiências de maneira desigual, impactando suas relações e seus filhos.


2. Histórias Cruzadas (2011) – Filme

Disponível em: Disney+


Explora a relação entre empregadas domésticas negras e suas patroas brancas nos anos 1960, nos Estados Unidos. O filme mostra tanto os laços de afeto quanto as desigualdades e humilhações sofridas pelas mulheres negras dentro do ambiente doméstico.


3. Estrelas Além do Tempo (2016) – Filme

Disponível em: Disney+


Baseado na história real de cientistas negras na NASA, o filme evidencia a desigualdade de gênero e raça dentro de um ambiente altamente masculino e branco. Mostra como as mulheres negras enfrentavam barreiras adicionais, enquanto algumas mulheres brancas podiam ser aliadas ou perpetuar a discriminação.


4. Falas Femininas: Mancha (2023) – Episódio da TV Globo

Disponível em: Globoplay


Parte da minissérie antológica Histórias (Im)Possíveis, dentro do Projeto Falas da TV Globo, o episódio Falas Femininas: Mancha explora a relação entre uma patroa branca e sua empregada doméstica negra. A trama destaca as complexidades dessa interação no Brasil, trazendo nuances das desigualdades e do racismo estrutural no ambiente de trabalho.


A Cor Púrpura (1985/2023) – Filme

Disponível em: Max


A Cor Púrpura (1985/2023), baseado no romance de Alice Walker, narra a trajetória de Celie, uma mulher negra no sul dos Estados Unidos no início do século XX, que enfrenta abusos e injustiças ao longo da vida. Entre os personagens marcantes está Sofia, interpretada por Oprah Winfrey e Danielle Brooks, uma mulher forte e destemida que se recusa a se submeter à opressão masculina e racista da sociedade.

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