
Você já se perguntou: quais são os impactos da invisibilidade de meninas e mulheres negras na tecnologia? As discussões sobre o fato de que o setor de tecnologia da informação ainda é uma das áreas de grande desigualdade racial e de gênero no Brasil já são antigas e acontecem com frequência. Em outras palavras, podemos dizer que a quantidade de pessoas brancas e homens trabalhando no desenvolvimento digital é muito maior do que a de colaboradores negros e mulheres.
Também vale a pena avaliar o gap da falta de acesso a computadores, internet e outras tecnologias, que faz com que a digitalização e seu domínio sejam algo muito distante para a maioria dos estudantes, principalmente nas periferias urbanas e rurais.
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Conforme dados da pesquisa TIC Domicílios (2019), quase 30% dos lares brasileiros não possuem acesso à internet, e apenas 39% têm computador. Nas classes sociais D e E, que já sofrem com outros tipos de exclusão, o percentual de domicílios sem acesso à internet é de nada menos do que 50%. No que diz respeito ao uso, 59% dos brasileiros dizem não usar a internet para estudar e trabalhar. Apenas 31% das pessoas que usam computador afirmam ter manipulado uma planilha de cálculo, por exemplo.
Quando focamos em mulheres negras neste setor, percebemos uma diferença ainda maior. A forma como mulheres negras são afetadas nesses contextos as impede de se reconhecerem nos produtos como consumidoras ou até mesmo como criadoras. Essa invisibilidade, que a princípio parece inofensiva, é mais uma forma de segregar pessoas negras.
Raça é a maneira como a classe é vivida. Da mesma forma, o gênero é a maneira como a classe é vivida. Precisamos refletir bastante para perceber que entre essas categorias existem relações mútuas e outras que se cruzam. Ninguém pode assumir a primazia de uma categoria sobre as outras (DAVIS, 1997, p. 8).
Angela Davis deixa explícito o entrelaçamento entre as identidades e como elas se cruzam e não se excluem. O algoritmo, sendo criado por pessoas brancas, exclui racialmente aqueles que não se enquadram nos perfis determinados por seus comandos.
Embora representem quase 30% da população, as mulheres pretas ainda são minoria nas empresas de tecnologia do Brasil e ocupam apenas 11% dos cargos no setor. Os dados estão compilados em pesquisa divulgada pela Iniciativa PretaLab, que aponta questões estruturais na base do problema.
O cenário não é novo e foi observado em estudos anteriores da PretaLab. No contexto da crise atual, no entanto, ele se perpetua e é reforçado. De acordo com dados do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese), a taxa de desemprego entre mulheres pretas em 2020, primeiro ano da pandemia, representou o dobro dos índices observados entre homens não negros.
A ONU destaca a importância da participação feminina nas áreas de Ciências, Tecnologia, Engenharia e Matemática (STEM) como fundamental para alcançar o quinto Objetivo de Desenvolvimento Sustentável, que é a igualdade de gênero. Embora as mulheres tenham atingido níveis educacionais superiores aos dos homens na média global, elas continuam a receber salários menores no mercado de trabalho. Além disso, a organização ressalta que a maioria das mulheres atua em profissões fora do campo das STEM, onde os salários costumam ser mais baixos.
A previsão é mencionada no relatório Futuro do Trabalho do Fórum Econômico Mundial (FEM) em 2025, juntamente com a pesquisa “Mapa do Trabalho Industrial 2025-2027”, realizada pelo Observatório Nacional da Indústria (ONI). Segundo o mapa elaborado pelo ONI, o setor de Tecnologia da Informação (TI) lidera no ranking de criação de empregos e no crescimento de vagas formais dentro do setor industrial. No Brasil, estima-se a criação de 972 mil oportunidades de trabalho nesta área até 2027. No caso do Distrito Federal, a projeção é de 36 mil vagas, ficando atrás apenas dos setores de logística e transporte, com 47,6 mil vagas, e de construção, com 39,9 mil.
É importante ressaltar que existem esforços contínuos de várias iniciativas para impulsionar a diversidade dentro do mercado. Nos últimos anos, têm surgido coletivos e grupos com o objetivo de atrair, capacitar e servir de rede de apoio e networking para que mais mulheres negras optem por uma formação e carreira em tecnologia.
Promover a inclusão de mulheres negras no setor de tecnologia é mais do que uma questão de justiça social; é uma necessidade para o avanço da indústria como um todo. Ao diversificar as vozes e experiências dentro da tecnologia, desbloqueamos um potencial criativo que reflete mais fielmente nosso mundo e suas necessidades. Assim, ao abraçar a diversidade, não apenas estamos criando oportunidades equitativas, mas também garantindo um futuro mais inovador e sustentável. Que possamos continuar unindo esforços para transformar este cenário e construir um setor tecnológico onde cada indivíduo, independentemente de raça ou gênero, tenha a chance de brilhar e contribuir significativamente.
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