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Cresce o número de professores universitários negros

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Foto: Getty Images/Today.

Por Ivair Augusto Alves dos Santos

O Censo da Educação Superior é uma pesquisa realizada anualmente pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) com o objetivo de colher dados sobre o ensino superior no país. O último Censo de 2021 apresenta um cenário promissor, mas algumas dificuldades ainda se impõem.
A representação da população negra entre os professores universitários cresceu nos últimos anos: em 2010, os negros (grupo que engloba a população preta e parda) respondiam por 11,5% das vagas de docentes do ensino superior. Em 2017, os negros responderam por 16% do total. E no mais recente censo de 2021 os negros responderam por 24,1%, mostrando que a luta intensa dos últimos 10 anos começa a apresentar resultados positivos.
O avanço se deve, em parte, a uma combinação de fatores: a instituição, por lei, de cotas nos concursos públicos, em 2008, e o lançamento do Reuni, o programa de expansão das universidades federais.
O crescimento lento dessa representatividade indica que, se nada mudar, o Brasil levará décadas para que a proporção racial de servidores do ensino superior se equipare à da população brasileira, onde a maioria dos habitantes é negra.
Não basta ser doutor, ter pontuação por publicação de artigo, a competição é muito elevada. Há um recorte que pesa sobre as pessoas negras. Como exemplo, temos a falta de oportunidades e de conhecimento sobre como funciona o sistema de acúmulo de capital acadêmico que, ao longo da história, gera uma oportunidade melhor.

Professor universitário em aula. Foto: Atlanta Black Star/ Reprodução.

A desigualdade racial também persiste na distribuição de bolsas de formação e pesquisa e, quanto mais prestigiada a bolsa, menos acessível ela é aos negros. Ter uma orientação durante a graduação faz muita diferença para a carreira acadêmica.
Uma das 27 mulheres negras do Brasil com um título de doutorado em química, Anita Canavarro, dá um depoimento importante.
Anita acumula exemplos de como quase foi escanteada pelo ambiente acadêmico. Ela chegou a ser aprovada no vestibular da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) de primeira, mas na terceira chamada, e só descobriu depois do prazo. “A desinformação é muito grande. O edital tem normativas específicas em uma linguagem que a gente não compreende.” Para ela, o mundo universitário segue um “código simbólico de pertencimento” no qual os estudantes fora do perfil de apoio socioeconômico exigido no ensino superior não se encaixam.

Durante a graduação, para pagar o transporte até a faculdade, ela manteve diversos empregos, como vendedora em loja, shopping e polo de confecção, bibliotecária e técnica em química. Para entrar no mestrado, precisou tentar mais de uma vez o processo seletivo. Uma vez aprovada, conseguiu o apoio do orientador. “Fiz o mestrado sem computador. Meu orientador me deu a chave do laboratório, me deu todas as condições para que eu saísse dali em pé de igualdade”, diz a química.

Histórias como as da profa. Anita são exemplares para mostrar o quanto precisamos trabalhar para o apoio à assistência estudantil dos alunos cotistas. Não é suficiente você entrar na universidade, é preciso um apoio permanente para superar os obstáculos que estão sempre presentes para quem quer seguir a carreira acadêmica.

Recentemente, o governo Lula assinou um decreto que estabelece cota para pessoas negras em, no mínimo, 30% dos cargos comissionados e de confiança no governo federal. Medida muito importante, que por si só não será implementada, pois precisa ser monitorada diariamente. No governo Fernando Henrique Cardoso, ele assinou o decreto 4228 de 2002 com o mesmo propósito que nunca chegou a ser implementado, pois não foi previsto o monitoramento.

As cotas no serviço público sofrem diversos ataques e sabotagens, os adversários das ações afirmativas não descansam, mas a juventude negra e as familias negras estão promovendo o avanço da representação negra.

Criador de ‘Atlanta’, Donald Glover rebate críticas sobre a série: “um dia vão voltar e dizer que é boa”

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Foto: Fanny Latour-Lambert /GQ Magazine.

A série ‘Atlanta‘ chegou ao final em 2022 após 4 temporadas. Criada e estrelada por Donald Glover, 39, a obra foi aclamada pela crítica e se mostrou com números relevantes, provenientes de um público sólido e majoritariamente negro. As temporadas iniciais da série foram bem em audiência e conquistaram cada vez mais pessoas ao longo dos anos. A terceira temporada, no entanto, recebeu uma história diferente. A produção, lançada em 2021, foi vista com estranhamento, críticas e chegou a registrar queda de 61% em audiência.

Em entrevista para a revista GQ Magazine, Glover rebateu os comentários negativos direcionadas à 3ª temporada de ‘Atlanta’. “Como empresário, como artista, como alguém que adora fazer coisas para as pessoas… Estudei o suficiente para entender que as coisas são boas por causa do que vem antes e depois delas. Nós merecemos qualidade. Merecemos algo que não é fácil para todos digerir o tempo todo. Eu sabia que a terceira temporada não era fácil“, declarou o astro. Glover destacou ainda a forma como produtores negros possuem menos oportunidades em comparação com profissionais brancos. “Eu queria fazer como todos esses outros [autores]. Quentin Tarantino faz dois bons filmes e depois pode fazer um ruim. E as pessoas vão defendê-lo e dizer: ‘Eu sei do que ele é capaz‘”, destacou.

Foto: Fanny Latour-Lambert /GQ Magazine.

Apesar da recepção controversa do público, Glover também diz que não vê a 3ª temporada de ‘Atlanta’ como ‘ruim’. “Eu acho que comigo especificamente, as pessoas nunca me dão o benefício da dúvida. E eu precisava ver por mim. Isso não tem nada a ver com a arte, porque eu me certifiquei de que a arte fosse boa. Mas realmente foi uma exploração pessoal só para mim”, contou o astro. “Ninguém mais sabe disso, mas eu fiquei tipo, eu consegui? Eu cheguei ao nível de Kanye, Quentin Tarantino e Scorsese? Eu acho que as pessoas vão voltar e dizer, esta temporada é boa. Eu nunca me preocupei com isso“.

‘Atlanta’ segue a vida de Earnest “Earn” Marks (interpretado por Glover), um jovem rapper que retorna à sua cidade natal em Atlanta, Geórgia, para tentar se reconectar com sua ex-namorada e cuidar de sua filha recém-nascida. No entanto, ele acaba se envolvendo nos negócios de seu primo, Paper Boi (interpretado por Brian Tyree Henry), que está tentando se tornar um grande nome no mundo do rap.

No Brasil, ‘Atlanta’ está disponível no catálogo da Netflix.

A vida dos negros não se resume em sofrimento

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Foto: Mago_stodio/Freepik

Não importa o quão seja difícil, coloque o seu peito para fora, mantenha a cabeça erguida.

– Tupac Shakur

Na semana passada encontrei com um amigo de “milianos” no ônibus do bairro. Crescemos juntos na periferia da zona leste, e por conta da correria do dia a dia não trocávamos umas ideias com calma. Marcio era DJ quando mais jovem, hoje trabalha vendendo frutas nas ruas do centro da cidade. Nos anos 90, eu e dois dos seus irmãos – Marcão e Marcelo – tínhamos um grupo de samba que durou uns oito anos. Ambos morreram jovens, consequência do consumo excessivo de álcool e drogas. Não me recordo exatamente quais as idades da partida, mas com certeza não chegaram aos 30 anos. Sem dar muitos detalhes, Marcio disse que estava chateado, pois, a sua filha “entrou no caminho errado” e foi presa. Conversamos mais algumas coisas e na hora de cada um ir para o seu lado ele me disse “lembra do meu sobrinho, o filho da Ana?”, respondi “lembro!”, comentou “também está preso, faz uns dois anos”.

Após a nossa conversa fiquei bastante pensativo. Desde que acordei para a realidade do povo negro, a impressão é de que o sofrimento nunca terá ponto final. E não é para menos. Os testemunhos de amigos negros, as dificuldades na minha vida e da família, e o bombardeio de casos de racismo noticiados na imprensa e nas redes sociais, alimentam o pessimismo. Não à toa que os movimentos negros pontuam insistentemente que o racismo brasileiro é estrutural. Isso não significa surfar em um mero jogo de palavras, modismo ou uso irreflexivo do conceito, a despeito da banalização em curso. Afirmamos que esse racismo não é episódico, mas uma opressão arraigada nas relações sociais e em permanente reprodução e manutenção pelas instituições públicas e privadas, conformando a visão de mundo de brancos e negros. Com isso, o impacto direto na realidade concreta é proposital e inevitável diante da ordem estabelecida.

Durante a reflexão também rememorei o rolê no mês passado. Eu fui no samba da comunidade que acontece mensalmente no segundo sábado, pertinho da minha casa. O ambiente é de muita energia e descontração, a comunidade se diverte, troca ideia, dança, come e bebe, namora enquanto a roda de samba pega fogo ecoando clássicos de Candeia, Aniceto do Império, Jovelina, Clementina de Jesus e por aí vai. Fica lotado de pessoas. Sem confusão. Às vezes alguns se estranham, mas rapidinho o pessoal da organização desarticula a treta. Nesse dia encontrei com o Nego Beto, o homem estava emocionadíssimo e pagando cerveja para todo mundo. Camila, a sua filha mais velha, passou no vestibular da USP para cursar odontologia. Imagine a alegria dele “a brancaiada vai ter que engolir uma dentista preta” me disse.  Eu rachei o bico e embarquei na mesma energia. Só quem é dos nossos sabe o sofrimento que antecede as conquistas.

Lembrar disso me trouxe certo conforto e deu um chega pra lá no pessimismo. Não que devamos negar a realidade dolorosa do racismo, mas é uma advertência para não esquecermos da existência de lutas individuais em paralelo às lutas coletivas. E conquistas acontecem aqui e acolá. Devemos celebrá-las mais e mais para inspirar outros negros que sentem a crueza do racismo e acham que a vida se encerra somente em dor e lágrimas. Tupac Shakur deu a ideia, ergamos a cabeça.

“A oportunidade só procura quem tá em movimento”; Hebert Mota, empresário de sucesso no entretenimento, compartilha inspirações de sua carreira

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Foto: David Mazzo/ Stylist: Salisa Barbosa

A trajetória do empresário do entretenimento Hebert Mota chama atenção pelos grandes encontros. Aos 45 anos, ele relembra o “corre” que teve que fazer para chegar até aqui e poder narrar sua história, que inclui encontros de negócios com nomes como o rapper bilionário Jay-Z.

Antes desse e de muitos encontros que ajudaram a conectar artistas brasileiros e internacionais a grandes negócios existem anos de trabalho e estratégias profissionais de uma caminhada que começou no bairro de Jardim Americanópolis, na zona Sul de São Paulo, onde o filho de um metroviário e de uma dona de casa, que começou a trabalhar com 13 anos já desenvolvia em casa, com os primos, suas habilidades de socialização.

Aos 16 ele estava viajando como rodie para carregar caixas e equipamentos de bandas pelo Brasil e começava aí o movimento que Hebert Mota dos Anjos faria para se tornar um dos reconhecidos empresários do entretenimento brasileiro. Ele foi agente do lutador Anderson Silva e atuou como conector de negócios para personalidades internacionais como o cantor Kirk Franklin, o jogador de basquete Kobe Bryant, os rappers Kanye West e Jay-Z. No Brasil, nomes como o rapper Mano Brown e o cantor Seu Jorge também integram a lista de celebridades com quem já manteve relacionamentos de negócios.

Para o Mundo Negro, Mota, que hoje é proprietário da B.Conexus, falou sobre aquilo que o inspirou nesse caminho de mais de 20 anos de trabalho que promoveram mudanças estruturais na sua vida pessoal e, principalmente, nos rumos da sua trajetória profissional.

Sempre se considerou uma pessoa determinada?

Sim, eu me considero uma pessoa determinada porque eu foco muito sempre nos resultados. Eu tenho muito para mim que resultado é muito mais do que relevância. Então a determinação acho que está muito nisso. Quando a pessoa está no mundo do esporte, por exemplo, a gente vê isso muito mais explicitamente, a determinação tá muito no lugar da entrega, da performance, do resultado e no mundo artístico, até mesmo na vida, relevância é uma coisa que às vezes a gente fica procurando demais, do tipo ser reconhecido, ser respeitado, ser agraciado ou ser “likeado”, né, digamos assim, no mundo do like hoje, então o fato de eu focar muito sobre resultado, pode ser em relações. Eu quero ser teu amigo, mas que nós tenhamos um resultado na nossa relação, seja ela qual for, pode ser resultado de você poder contar comigo, mas é de fato uma relação com o resultado onde você entrega e também participa da vida da pessoa dessa maneira, nos negócios muito mais importante esse pensamento e no todo acho que determinação é você saber onde você quer chegar e eu por focar no resultado eu tô sempre no plano de determinar as coisas e não só apenas viver e ver onde vai dar.

Quando percebeu que poderia mudar sua história, passando a assessorar grandes artistas? 

Eu percebi que a minha história poderia mudar quando eu entendi a minha ambição. Sabe aquela ideia de você querer muito mais do que aquilo que está permeando ao seu redor? Então quando eu penso em querer ter carro ou querer ter um tênis legal ou querer, isso na infância, na história de vida que eu tenho com os meus pais, por exemplo, a gente teve que construir a própria casa que a gente morou e eu fui percebendo que as coisas precisam ser produzidas, elas não caem do céu, não existem sem um esforço. Então nesse lugar eu também entendi que para que eu pudesse ter alguma coisa daquelas que eu desejava, com a minha ambição, eu precisaria trabalhar para isso, construir soluções. E eu comecei a ver que isso dava certo, começando pela escola, começando lá atrás enquanto roadie e do tipo, determinava que eu queria trabalhar em tal lugar e de algum jeito eu tava lá trabalhando depois de tantos meses porque eu achava um jeito de fazer acontecer, conversando, conhecendo pessoas ou abrindo portas ou vendo quem conhecia quem e assim eu comecei a trabalhar na área de entretenimento. Um grande amigo meu me chamou para carregar caixa de som num evento e desse evento eu já percebi oportunidade de trabalhar com a banda, então eu chegava com a cara de pau e falava “eu quero trabalhar ali”. Então, assim como é para conquistar as coisas materiais, eu tive também na ambição de posicionamento profissional, só que eu fui entender que era uma estratégia natural minha anos depois, quando eu olhei para trás e comecei a enxergar resultados, tanto financeiros quanto de relação profissional e é quando me transformo ali, anos se passando, em uma pessoa que começa a agenciar os artistas, começa a dar conselhos pra artistas. Aí anos se passam, né, estou falando obviamente de 15, quase 20 anos depois de quando eu começo a carregar caixa, eu entendo que de alguma forma eu me aprimorei, não só em querer ganhar e conquistar as coisas, aonde a minha ambição me fez chegar, mas também em renovar, se preparar, se atualizar, consigo mesmo também buscando fortalecer meu conhecimento sobre coisas diversas, não apenas sobre coisas específicas. Eu tenho uma lembrança, por exemplo, eu era holding do Negritude Jr., grupo de pagode da década de 90, e eu me via ali lendo os mesmos livros que o Netinho de Paula lia, sabe. Falava de assuntos que o Wagninho e que os artistas falavam, então eu saía um pouco da casa da produção e ia para a casa dos artistas, por exemplo, enquanto influência e relação porque eu me inteirava de querer aprender coisas que eu eles já sabiam ou estavam aprendendo. Então acho que a curiosidade também me ajudou nisso. E somado tudo ao desejo de mudança eu me transformei do carregador de caixa para o empresário de articulação de negócios pra grandes celebridades hoje no mundo, mas na verdade no Brasil, mais do que no mundo.

No seu livro “Movimento, logo existo” você fala bastante sobre os movimentos que fez para fechar grandes negócios. Que movimentos você acha que são importantes que pessoas negras e de periferia façam para que possam desenvolver seus próprios negócios?

Acho que fechar grandes negócios é importante você se movimentar por conta de uma frase que eu coloco no meu livro, “a oportunidade só procura quem tá em movimento”. E quando se trata de pessoas que não tem tanta oportunidade na vida, tanto por características étnicas ou por características socioculturais, que envolve financeiro, você tá limitado de oportunidade, então você tem que se movimentar, não tem o que fazer, não tem que ficar parado esperando alguém olhar para você. Você tem que realmente mexer para cá para lá tem que ir, tem que bater nas portas, tem que ter movimento para que a oportunidade fale assim “você tá aqui”. Claro que eu entendo que uma vez também que você tem poucas oportunidades você tem dificuldade de enxergar essa condição ou essa confiança e é aonde eu proponho, porque além do se movimentar, é progredir, é crescer. Quando eu falo que o movimento é importante para você existir é se movimentar para frente, com progresso, com crescimento, pode ser de informação e conhecimento como pode ser de dinheiro e conquistas ou carreira ou estudo, mas você tem que ter esse lugar da movimentação. Na minha vida sempre foi assim. Quando eu me movimento para sentar com Jay-Z não é porque eu sou fã dele, além de ser fã dele, eu tenho que movimentar para levar algum business para ele e para levar um business para ele eu tenho que ter o que levar eu tenho que ter mexido o bolo, tenho que ter me movimentado para ter produto para isso e quando automaticamente eu sou essa pessoa que busca essa movimentação ela é uma movimentação porque a oportunidade nunca, nem hoje eu já bem sucedido, bem estabelecido, a oportunidade não chega para mim, eu tenho que mexer e criar. Uma vez eu ouvi de um grande amigo meu, João Adel, que para mim foi um dos padrinhos de negócios, ele falou assim “cara, dinheiro você não ganha você cria você cria o dinheiro”, então quando eu trago isso para as pessoas negras e periféricas, automaticamente eu estou dizendo que são pessoas com poucas oportunidades e que elas precisam criar as oportunidades, elas precisam criar as condições, e que é muito mais difícil e a única maneira realmente que eu consegui, e digo para qualquer pessoa, seja lá o que for, em qualquer área, inclusive para estudar sobre física quântica, você precisa ter um tratado com a sua estima, autoconfiança, autoestima. Autoconhecimento, ele é muito mais importante do que a ‘autopobreza’, ‘autodecepção’, ‘autodificuldade’, porque essas coisas elas não vão mudar, o mundo não vai ser bonzinho, por mais que as empresas estejam falando que agora é a hora do periférico, social dos ESGs da vida ou agora é hora do preto, do Business Black Money do Brasil esquece, esquece, esquece, esquece, esquece. Isso sim é importante, mas de fato o que a gente está dizendo é que se você não tiver a sua estima, sua autoconfiança preparada, não adianta você ter uma cadeira na maior empresa do mundo, lá você vai ser limitante e ser limitante você não traz mudança.

Foto: David Mazzo/Stylist: Salisa Barbosa

O que te movimenta hoje?

É poder dialogar, falar e expressar que nunca foi e nunca vai ser fácil. O que me movimenta hoje é ser verdadeiro, ser transparente, ser pragmático e prático. O que me movimenta hoje talvez seja o fato de eu ser e chegar no lugar de bem sucedido dizer que sou livre, livre daquilo que tecnicamente falando o mundo propõe pra que eu fique algemado, mas ainda assim preso às verdades que me trouxeram até aqui. E parte delas é, obviamente, o lugar de conhecer sobre mim, sobre meu povo, lembrar sobre a minha origem, entender de onde eu saí para onde eu estou indo. O que me movimenta é ver o meu progresso. O que me movimenta é ver pessoas progredindo comigo de alguma forma. O que movimenta é a verdade e a justiça que eu trouxe para minha vida, consegui vencer com isso e posso manter por qualquer coisa que você vem a oferecer para mim, que a vida vem jogar no meu colo, se eu tiver mantendo a verdade e a paz de espírito que até aqui eu criei isso me faz me movimentar. E parte disso é falar para jovens de periferia, é falar para mulheres de periferia, é falar para crianças, adolescentes negros que no final do dia não tem anexo no caixão, você nasce sozinho, você morre sozinho e o que a gente tem além disso são as pessoas que nos trazem à vida, que nos amam e aquelas que vão se despedir de nós, embora elas fiquem aqui a gente vai para um outro campo, um outro lugar. Então o que me motiva é poder levar essa mensagem para poder traduzir isso como importância da vida para viver, essa talvez seja a minha missão, muito mais do que ser chamado de um homem rico, bem sucedido, mas de um negro que venceu por ser Hebert Mota, por ter nome, por ser chamado pelo meu nome isso. Isso me motiva.

Falta de memória e palpitações: Oprah Winfrey achou que fosse morrer durante a menopausa

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Foto: Reprodução/Opray Daily

Para as mulheres que têm o privilégio de envelhecer, não tem como escapar. A menopausa neste exato momento é a razão para muitas angústias, dúvidas e medo para milhões de mulheres ao redor do planeta. O sofrimento desta fase, que encerra o período do processo reprodutivo das mulheres, é em parte consequência da falta de informação que às vezes acontece dentro do próprio consultório médico. A apresentadora de TV mais popular do planeta, Oprah Winfrey, usou uma das suas plataformas, a Oprah Daily, para desmistificar de vez as verdades e mitos da menopausa. Sua principal motivação foi o fato de que ela mesma quase enlouqueceu durante este período.

“Com 48 anos eu comecei a sentir algumas palpitações e fui em cinco médicos diferentes. E uma das médicas, me colocou um angiograma e me deu uma medicação, mas em nenhum momento ela mencionou que o que eu estava sentindo, poderia ser relacionado à menopausa ou  perimenopausa”, explica Oprah durante o programa especial sobre o tema disponível no YouTube. 

Até um dos seus hobbies favoritos, a leitura, foi prejudicado pelas alterações hormonais. “Eu cheguei em um ponto que estava tipo, deixa para lá, tanto faz…. Além das palpitações eu não conseguia me concentrar para ler os meus livros, o que é uma das minhas maiores paixões. Eu não conseguia me focar em algo por muito tempo”, confessou a jornalista.

A reposição de estrogênio foi a virada de chave que a fez voltar a ser o que era.  “Eu usava um click de estrogênio, já na primeira dose, foi como se o céu tivesse ficado mais azul”, ela detalha rindo. 

“Com a redução do estrogênio (um dos hormônios que é mais impactado pelo climatério) alterações psicológicas podem acontecer nesse período, entre elas a depressão, ansiedade e alterações no sono. Essas alterações associadas podem favorecer o suicídio”, explica a médica que alerta para importância de buscar sempre um acompanhamento já que esse “é um período longo de alguns anos de transição hormonal”, explicou a médica  ginecologista Dr.ª Larissa Cassiano em uma entrevista ao Mundo Negro sobre o caso da atriz Gabrielle Union que teve pensamentos suicidas durante a menopausa. 

“Milhões de mulheres sofreram com os sintomas da menopausa em silêncio. Sempre foi um estigma cercado de vergonha. Muitas dessas mulheres se sentiram invisíveis”, ressalta Oprah.

Clique aqui para assistir ao programa que tem legendas em português . 

Como o mercado empresarial está olhando para justiça climática sobre a ótica racial?

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Foto: Arquivo pessoal

Por: Priscilla Arantes

Nos últimos anos, temos sido impactados por uma série de termos e narrativas para definir estratégias para conter as emergências climáticas – crise global causada pelas mudanças climáticas, que estão sendo aceleradas pela atividade humana -, discutidas há décadas por ambientalistas, estudiosos e parte da sociedade civil. Lembram dos compromissos firmados na Eco 92? A Agenda 2030 seria a nova Eco 92?

Com a escalada do ESG, sigla para “Environmental, Social and Governance”, que significa “Ambiental, Social e Governança”, em tradução livre, a pauta socioambiental tem ganhado visibilidade, mas ainda muito abaixo do necessário e fragmentada. E não precisa ser um ambientalista para compreender que as três frentes não trabalham sozinhas por um motivo bem simples: estamos cuidando (ou não!) de um só planeta.

Quando nos deparamos com uma geração de líderes (empresários) inclinados a promover impactos positivos no cerne de suas atividades profissionais, a luz da esperança se intensifica. E são debates, estratégias, formações, grupos de trabalho e outras dezenas de caminhos que levam o compromisso proposto na Agenda 2030.

Agora vamos colocar uma lupa no debate. A emergência climática atinge de forma bem ampla o planeta e todes que nele habitam. Mas se estamos falando de uma crise acelerada por atividades humanas, principalmente emissão desenfreada de gases, encontramos o motivo do S (Social) do ESG. Socialmente falando, as desigualdades no acesso e na distribuição dos efeitos das mudanças climáticas afetam principalmente as comunidades mais vulneráveis e marginalizadas do mundo. No Brasil, essa injustiça tem cor e endereço bem definidos.

Justiça Climática e Racismo Ambiental

Recentemente, o Brasil acompanhou a tragédia provocada pelas chuvas no Litoral Norte de São Paulo. De acordo com o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres. Naturais (Cemaden), foram mais de 680 milímetros de chuva acumulados no período de 24 horas, o maior registrado pelo órgão no país. E apesar da amplitude do impacto, as comunidades mais afetadas pela tragédia tinham similaridades. Essas comunidades muitas vezes enfrentam uma série de desafios ambientais, como a poluição do ar e da água, a falta de acesso a espaços verdes e recursos naturais, e o aumento dos riscos de desastres naturais. O racismo ambiental é uma forma específica de injustiça climática, que se concentra nas desigualdades ambientais vividas por comunidades de minorias étnicas e raciais.

Foi assim em 2022, quando a cidade de Petrópolis passou por chuvas intensas,
deslizamentos de terra, vitimando 241 pessoas e mais de 4 mil desabrigados, a maior
tragédia de sua história. Em 2021, quando o sul da Bahia ficou submerso deixando pelo
menos 18 mortos, 16 mil desabrigados. Em 2020, na região metropolitana de Belo
Horizonte, morreram 53 mortes em cinco dias, deixando 30 mil desabrigados. Em 2016, 21
pessoas morreram em Mairiporã, Francisco Morato e Itapevi, na região metropolitana de
São Paulo.

Empresas e poder público

Diante do posto, estamos de acordo que o compromisso para cumprir a agenda 2030
precisa ser coletivo? As estratégias, os debates, o letramento socioambiental precisam,
urgentemente, ser traduzido em ações práticas. As empresas têm papel fundamental nesse
processo (e grande responsabilidade!) e recursos para isso. Uma ferramenta valiosa é a B
Impact Assesment (BIA), desenvolvida pelo Sistema B. A BIA é uma avaliação padronizada
que mede o impacto social e ambiental das empresas em relação a cinco áreas principais:
governança, trabalhadores, comunidade, meio ambiente e clientes.

Ao usar a BIA, as empresas podem identificar áreas onde estão tendo um impacto negativo
sobre as comunidades de minorias étnicas e raciais, e tomar medidas para mitigar esses
impactos. Além de avaliar seu próprio impacto, as empresas também podem trabalhar em
parceria com as comunidades de minorias étnicas e raciais para desenvolver soluções
sustentáveis e colaborativas para os desafios ambientais que enfrentam.

A partir do resultado da avaliação de impacto, ações podem sair do papel e ir direto para a
prática. Promover e incidir em políticas públicas amplia o debate e atuação. Cobrar que o
poder público apoie empresas comprometidas com desenvolvimento socioambiental,
políticas que subsidiem as pequenas e médias para atuarem com compromisso desde o
início das suas atividades, priorizar e promover a educação política para que a sociedade
também saiba cobrar seus direitos.

Enquanto os movimentos socioambientais, as empresas com compromisso socioambiental
e os veículos de comunicação segmentada não incluírem a temática de racismo ambiental,
injustiça ambiental ou racismo climático no centro das discussões, qualquer intenção
permanecerá vaga e inconsistente. Salvar o planeta começa com mudanças no micro
ecossistema.

A epopeia de um ator negro

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Foto: Globo/Paulo Belote

Texto: Ivair Augusto Alves dos Santos

Quando vejo um ator negro na televisão, me emociono e penso no quanto ele trabalhou, buscou por uma oportunidade, sofreu decepções, perdeu a esperança e recuperou energias e se reinventou.

A telenovela “Amor Perfeito” tem dado um show ao mostrar faces negras que não estamos habituados a ver. Cada vez que uma atriz negra, um ator negro, ocupa o cenário penso em Milton Gonçalves e Ruth de Souza.

Ruth de Souza nasceu grande desde as primeiras aparições no Teatro Experimental do Negro na década de 1940. Abdias do Nascimento foi um visionário ao criar o Teatro Experimental do Negro. Foi discriminado, ignorado, mas resistiu com muita dignidade e beleza.

Agora vemos nas telenovelas das 18 horas e das 19 horas atrizes e atores com muito talento, que nos obrigaram a refazer nossos compromissos, para antes e depois das novelas. Esperamos por muito tempo que isso pudesse acontecer.

Um deles me impressiona pela dura caminhada, cheia de percalços, com muitas montanhas, desfiladeiros e planícies de esperas, que só a cultura é capaz de alimentar.

Mestre Ivamar tem uma trajetória de vida que começa na cidade de São Paulo, passa por Luanda, Angola, Londres, Inglaterra e renasce em Macapá, na figura de artista maduro e com experiência de palco.

Olímpia (Analu Prestes), Adélia (Malu Dimas), Neiva (Maria Gal), Popó (Mestre Ivamar), Tânia criança (Gabriela Motta).

Na figura de Popó, pai de Neiva (Maria Gal) e com duas netas Adélia (Malu Dimas) e Tânia (Gabriela Motta/Iza Moreira), concièrge do hotel, se gaba de conhecer intimamente todas as “personalidades” que por lá se hospedam, suas manias e peculiaridades. É um griôt romântico, viveu um lindo casamento com Olímpia (Analu Prestes) e nunca mais se envolveu com ninguém, até se aproximar da professora da cidade e reencontrar o amor.

O personagem é singelo, mas carregado de muitas histórias de vida. Mestre Ivamar é amado e as pessoas de Macapá- AP, Amazônia, se orgulham de ver um ator na TV Globo. A sua presença no enredo começa a ganhar forma e leva milhões de negros a sonhar em um dia fazer parte de um grande espetáculo.

E vem à memória de milhares de atores que em nome da arte lutam diariamente por uma oportunidade, por participar de um espetáculo. Quem vê aqueles rostos pretos na TV, não imagina quanto usaram o verbo esperançar.

Para existirem atores negros em diversas novelas da Globo, houve a necessidade de existirem figuras como Abdias do Nascimento, Grande Otelo, Milton Gonçalves, que ousaram quebrar paradigmas e tornar realidade o que era simplesmente um sonho. Salvem os atores negros brasileiros!

ESG: Especialista explica os primeiros passos para propagar a cultura antirracista nas organizações

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Marta Celestino - CEO da Ebony - Crédito divulgação

Cada vez mais, empresas estão investindo em práticas ESG como uma forma de reforçar o compromisso social e ambiental com seus colaboradores, clientes e a sociedade. Em todo o mundo, organizações estão analisando não apenas seu desempenho financeiro, mas também suas realizações dentro dos princípios da agenda ESG.

De acordo com a Bloomberg, os investimentos em ESG devem atingir US$53 trilhões até 2025. Além de reforçar a importância de atender às demandas sociais, esse modelo passa a ser uma condição para estratégias de negociações.

No Brasil, as demandas de diversidade e inclusão estão no topo das discussões e ganham cada vez mais força. Dados da consultoria McKinsey afirmam que a disseminação de inclusão no ambiente corporativo resulta em lucro 35% maior do que outras organizações que não têm compromisso com o tema.

Para a consultora em inovação e diversidade, Marta Celestino, é preciso haver uma consolidação ampla em todos os setores para combater todo e qualquer tipo de discriminação.

“Por mais que o tema esteja avançando nas micros e grandes corporações, ainda é possível perceber que os problemas estruturais da sociedade impactam diretamente no processo de mudança. As organizações que incentivam e contribuem para combater todo e qualquer tipo de discriminação em todas as suas vertentes, tem condições de atrair capital humano de alto valor, além de se posicionar a favor de uma reparação histórica em nosso sistema”, declara.

Embora o Brasil continue sendo um dos países mais desiguais do mundo, algumas iniciativas podem ser criadas para combater e reparar problemas estruturais. Marta destaca alguns primeiros passos para colocar seu negócio dentro dos princípios ESG:

  • Engajamento da liderança

Lideranças, gestores e CEOs, devem estar engajados e alinhados à intenção da organização em adoção de práticas de inclusão racial para o crescimento, relevância e potencial criativo do negócio. É importante ter políticas de incentivo e treinamento para os gestores, porque eles que estarão mais adiante no dia a dia da equipe e darão o tom para a importância de avançarmos nessa pauta.

  • Educação antirracista

A educação é uma importante ferramenta para superar problemas crônicos da sociedade brasileira, como racismo estrutural, desigualdade de gênero e outras formas de opressão.

No âmbito empresarial, a luta antirracista pode ser incorporada por ações de criação de programas como a contratação de profissionais negros, treinamentos aos colaboradores com foco em letramento racial ou ações internas voltadas para engajamento na temática étnico-racial.

  • Criação de grupos de afinidades

Algumas companhias têm dificuldade em trazer o tema racismo nas rodas de conversas, seja por não saber abordar com propriedade o assunto ou por não ter uma abertura por parte da organização. A criação de grupos de afinidades, por exemplo, é importante por se tratar de um espaço de acolhimento e de apoio nas tomadas de decisões.

Em “Grey’s Anatomy” desde 2005, Chandra Wilson diz que deseja continuar na série até a última cena

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Foto: Divulgação.

“Grey’s Anatomy”, no Brasil como “A Anatomia de Grey”, é uma das séries mais longevas de todos os tempos. A produção começou em 2005 e de lá pra cá já se passaram 19 temporadas, com a 20ª já confirmada em desenvolvimento. A atriz Chandra Wilson, 53, é uma das poucas pessoas que fazem parte do elenco original da obra desde o começo. Em nova entrevista para a People, Chandra revelou que não está pronta para de despedir da série.

“Eu costumava dizer: ‘Estou lá até que parem de rodar, e não pode durar muito mais, certo?’ E então continuamos”, disse Wilson, que interpreta a Dra. Miranda Bailey desde o primeiro episódio. “Por enquanto, estou me desafiando a estar lá até o último episódio, o último dia, a última cena. Eu disse isso, então agora tenho que chegar lá”.

Chandra Wilson como Dra. Miranda Bailey em “Grey’s Anatomy’. Foto: Reprodução.

Wilson também brincou com o que está por vir para a personagem Bailey. “Ela está prestes a passar por algo que a testa como profissional, como cirurgiã, como esposa e mãe”, disse ela. “E é outro exemplo de malabarismo com todas as bolas, certo, que as mulheres especificamente têm que fazer na vida”.

“Grey’s Anatomy” é uma série de televisão médica que segue a vida pessoal e profissional dos médicos do hospital fictício Seattle Grace (mais tarde renomeado para Grey Sloan Memorial Hospital). Ao longo dos anos, a obra abordou temas como amor, amizade, perda, trauma e ética médica, e foi elogiada por sua representação de personagens femininas fortes.

Fundação Palmares revoga portaria que proibia homenagem a personalidades negras vivas

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Foto: Filipe Araújo/MinC

Na última quarta-feira (05), a Fundação Palmares publicou no Diário Oficial da União (DOU), a revogação a portaria 189 que proibia homenagens a personalidades negras vivas criada em 2020 durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro. A decisão foi assinada pelo recém-empossado presidente da entidade, João Jorge Rodrigues no dia 3 de abril. 

A resolução de 2020 proibiu que personalidades negras ainda vivas fossem homenageadas no site da instituição, o que motivou a retirada de inúmeros nomes da lista existente no período. Um grupo de trabalho deve ser criado com objetivo de expandir e fortalecer a lista que terá caráter nacional.

“Ao permitir somente homenagens póstumas, a norma revogada esvaziava a lista de personalidades negras. Além de incluir os nomes retirados devido à medida do governo anterior, teremos grupo de trabalho para fortalecer e ampliar a lista, que incluirá personalidades de diversos estados”, afirmou o presidente da Fundação Palmares em nota.

Outro ato do presidente da Fundação foi a revogação da portaria nº 57 de 2022 que devolveu efeito, com a publicação de uma nova portaria que facilita o processo de reconhecimento dos quilombos.  

Presidente do Olodum, João Jorge Rodrigues assumiu oficialmente a presidência da Fundação Palmares após a publicação da nomeação no Diário Oficial da União.

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