Por Ivair Augusto Alves dos Santos

O Censo da Educação Superior é uma pesquisa realizada anualmente pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) com o objetivo de colher dados sobre o ensino superior no país. O último Censo de 2021 apresenta um cenário promissor, mas algumas dificuldades ainda se impõem.
A representação da população negra entre os professores universitários cresceu nos últimos anos: em 2010, os negros (grupo que engloba a população preta e parda) respondiam por 11,5% das vagas de docentes do ensino superior. Em 2017, os negros responderam por 16% do total. E no mais recente censo de 2021 os negros responderam por 24,1%, mostrando que a luta intensa dos últimos 10 anos começa a apresentar resultados positivos.
O avanço se deve, em parte, a uma combinação de fatores: a instituição, por lei, de cotas nos concursos públicos, em 2008, e o lançamento do Reuni, o programa de expansão das universidades federais.
O crescimento lento dessa representatividade indica que, se nada mudar, o Brasil levará décadas para que a proporção racial de servidores do ensino superior se equipare à da população brasileira, onde a maioria dos habitantes é negra.
Não basta ser doutor, ter pontuação por publicação de artigo, a competição é muito elevada. Há um recorte que pesa sobre as pessoas negras. Como exemplo, temos a falta de oportunidades e de conhecimento sobre como funciona o sistema de acúmulo de capital acadêmico que, ao longo da história, gera uma oportunidade melhor.

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Professor universitário em aula. Foto: Atlanta Black Star/ Reprodução.

A desigualdade racial também persiste na distribuição de bolsas de formação e pesquisa e, quanto mais prestigiada a bolsa, menos acessível ela é aos negros. Ter uma orientação durante a graduação faz muita diferença para a carreira acadêmica.
Uma das 27 mulheres negras do Brasil com um título de doutorado em química, Anita Canavarro, dá um depoimento importante.
Anita acumula exemplos de como quase foi escanteada pelo ambiente acadêmico. Ela chegou a ser aprovada no vestibular da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) de primeira, mas na terceira chamada, e só descobriu depois do prazo. “A desinformação é muito grande. O edital tem normativas específicas em uma linguagem que a gente não compreende.” Para ela, o mundo universitário segue um “código simbólico de pertencimento” no qual os estudantes fora do perfil de apoio socioeconômico exigido no ensino superior não se encaixam.

Durante a graduação, para pagar o transporte até a faculdade, ela manteve diversos empregos, como vendedora em loja, shopping e polo de confecção, bibliotecária e técnica em química. Para entrar no mestrado, precisou tentar mais de uma vez o processo seletivo. Uma vez aprovada, conseguiu o apoio do orientador. “Fiz o mestrado sem computador. Meu orientador me deu a chave do laboratório, me deu todas as condições para que eu saísse dali em pé de igualdade”, diz a química.

Histórias como as da profa. Anita são exemplares para mostrar o quanto precisamos trabalhar para o apoio à assistência estudantil dos alunos cotistas. Não é suficiente você entrar na universidade, é preciso um apoio permanente para superar os obstáculos que estão sempre presentes para quem quer seguir a carreira acadêmica.

Recentemente, o governo Lula assinou um decreto que estabelece cota para pessoas negras em, no mínimo, 30% dos cargos comissionados e de confiança no governo federal. Medida muito importante, que por si só não será implementada, pois precisa ser monitorada diariamente. No governo Fernando Henrique Cardoso, ele assinou o decreto 4228 de 2002 com o mesmo propósito que nunca chegou a ser implementado, pois não foi previsto o monitoramento.

As cotas no serviço público sofrem diversos ataques e sabotagens, os adversários das ações afirmativas não descansam, mas a juventude negra e as familias negras estão promovendo o avanço da representação negra.

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