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PretaHub lança projeto com conteúdos online e gratuito para profissionais de comunicação

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Foto: Freepik

Com o objetivo de fomentar a empregabilidade, formação e networking, o Pretahub, hub de criatividade, inventividade e tendências pretas anunciou hoje, 30 de setembro, o lançamento do Bioma Comunicação Ancestral. A iniciativa visa ofertar conteúdos educativos a fim de uma transformação territorial que catalisa e conecta os profissionais de comunicação negros, indígenas, periféricos e LGBTQIAPN+ com o mercado de trabalho.

Com dimensões on e offline, o Bioma busca uma mudança de cultura dentro da Comunicação que fortaleça narrativas diversas. Dentro de sua plataforma online, ele apresenta múltiplos benefícios de acordo com a segmentação do público. Para os profissionais, serão ofertados conteúdos educativos de forma gratuita, incluindo o curso que apresenta a Comunicação Ancestral enquanto metodologia inovadora. Além da possibilidade de participar de uma comunidade vocacionada ao fortalecimento de profissionais diversos. Já para as empresas, empreendedores, e marcas e organizações sociais, o benefício será ter acesso a profissionais com esse perfil diverso e que atuem de modo a mobilizar a comunicação em busca da ampliação do impacto social. Somado a possibilidade de realização de cursos para times internos de comunicação, formações, entre outros.

“O Bioma estimula o impacto, respeitando a dinâmica local e o protagonismo daqueles que vivem as demandas sociais do dia a dia. É uma estratégia baseada em valores e conhecimentos e protagonismo territorial, que constrói coletivamente, dissemina pedagogicamente e capacita as pessoas impactadas por ela – de forma eficaz e efetiva. Ele se envolve com aqueles que vivenciam as demandas da transformação diariamente”, afirma Adriana Barbosa, CEO do PretaHub e idealizador da iniciativa.

Para  a construção do projeto, o hub realizou uma pesquisa que revelou as principais dificuldades e oportunidades da Comunicação feita a partir de organizações sociais. Com os dados em mãos, contou com um time de criativos e profissionais que por meio da Teoria da Mudança realizaram uma imersão a fim de elaborar premissas de uma outra forma de ver e fazer comunicação que gerasse impactos sociais mais amplos e constantes.

De acordo com o Relatório de Diagnóstico os principais desafios são: ter equipes de pequeno porte e trabalho sobrecarregado, não criar nem executar planos para projetos e marcas institucionais, conectar e ganhar relevância entre os públicos mais jovens, não utilizar métricas de rastreamento e automação devido ao fraco conhecimento de Search Engine Optimization (SEO), e não priorizar a comunicação como parte essencial da estratégia institucional.

Juliana Gonçalves, PMO do projeto Bioma Comunicação Ancestral, afirma que a plataforma espera influenciar todo o ecossistema dessa área que muitas vezes ignora saberes territoriais, inferioriza corpos racializados e que ignora a potência criativa que surge de corpos diversos. “O Bioma não reproduz a lógica desigual do mercado que ignora essa potência criativa e cria hierarquias de saberes, ele registra e sistematiza a memória e articula esse meio enquanto ferramenta estratégica de construção de legado. Esperamos contribuir com a inclusão de cada vez mais diversidade na área, pois temos plena ciência que a mudança de cultura ocorre também quando as decisões estratégicas passam a ser tomadas por outros corpos”, enfatiza a coordenadora do projeto.

O Bioma é um ecossistema vivo que contempla plataforma virtual com e-learning, banco de talentos, gestão de comunidade, consultorias e serviços. Além disso, contará com encontros estratégicos com times de comunicação e marcas/empresas empregadoras.

Os profissionais poderão se cadastrar a partir do dia 05 de outubro através do link que será disponibilizado nas redes sociais do Bioma e do PretaHub.

Em desabafo nas redes sociais, apresentadora Patrícia Ramos afirma que na próxima situação escancarada de racismo deve reagir fisicamente

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Foto: Reprodução/Instagram

Na noite do último domingo, 1, a apresentadora Patrícia Ramos, publicou em seu X (ex-Twitter) um desabafo, declarando que na próxima situação de racismo que sofrer ia reagir fisicamente: “eu vou comer na porrada”, declarou ela sem dizer exatamente o que havia acontecido.

“Eu sei que é errado. Que o certo é ir até uma delegacia, etc. etc. etc.”, começou Patrícia em seu texto. “Mas a próxima situação de racismo *escancarado que eu sofrer, eu vou comer na porrada. Mas eu vou tampar firme. Tenho andando em oração, pedindo paz e harmonia a papai do céu pra isso não acontecer”, disse. 

Em outro tweet, ela afirmou que já ‘passou muito nervoso’ e que engoliu seco. [situações de racismo]. “Papo reto. Já passei mt nervoso. Fiquei com mt ódio. Mas engoli seco, sorri e acenei. Agora o bagulho vai ficar sério [sic]”, reforçou a artista. 

Recentemente, o nome de Patrícia foi envolvido em uma polêmica após um suposto affair do cantor Baco Exu do Blue atacar a apresentadora nas redes sociais depois que ela foi fotografada jantando com o músico baiano. Na ocasião, uma mulher chamada Madural publicou stories xingando Patrícia de “Sonsa, vagabund*”.

Outras mulheres negras saíram em defesa de Patrícia Ramos, mostrando o racismo por trás das declarações de Madu. “A expectativa da mulher branca é que a mulher negra seja menos valorizada”, observou a pesquisadora Carla Akotirene.  “As nossas ancestrais foram mutiladas por inveja, ressentimento e colonialidades das mulheres brancas”, relembrou ela.

Prefeitura do Rio e Projeto Negro Muro lançam Circuito da Igualdade Racial em homenagem a personalidades negras da cidade

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Foto: João Victor Ramirez

Com o objetivo de reconhecer locais e sua relação com personalidades negras, a Prefeitura do Rio de Janeiro e Projeto Negro Muro lançaram o Circuito da Igualdade Racial. O projeto vai identificar locais relacionados à cultura da população negra com Placas de Patrimônio Cultural. A primeira placa foi instalada no último sábado (30) em Santa Teresa, onde morou a autora, antropóloga, filósofa e política Lélia Gonzalez (1935 – 1994).

Foto: João Victor Ramirez

Além da Placa de Patrimônio Cultural, a Ladeira de Santa Teresa, número 106, onde morou uma das maiores intelectuais da América Latina, recebeu um grafite em sua homenagem. “Um grito preso na garganta, uma inquietação pelo apagamento histórico racista que o povo preto no Brasil passa até hoje”, expressou Pedro Rajão, criador do “Negro Muro”, que deixa impressos, grafites e pinturas pelo Rio em homenagem a personalidades negras. “O Negro Muro são ocupações permanentes para resgatar histórias ou tornar o dia a dia mais leve”, complementou Rajão.

Foto: João Victor Ramirez

As placas de identificação de bens e locais de relevância começaram a ser instaladas em 1992 pela prefeitura do Rio, em busca de enaltecer arquiteturas da cidade. Em 2010, a prefeitura decidiu ampliar a proposta para temas voltados para a cultura carioca. As próximas três placas já estão confirmadas e serão do Maestro Anacleto de Medeiros (1866-1907), em Paquetá, GRANES Quilombo, em Acari, e a casa de Lima Barreto (1881 – 1922), em Todos os Santos. 

“Renaissance: A Film by Beyoncé”: Beyoncé anuncia filme com bastidores da turnê e visuais do álbum

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Foto: WireImage for Parkwood/Getty Images

Os fãs da Beyoncé podem comemorar, os visuais estão chegando. No último show da turnê Renaissance World Tour, que aconteceu neste domingo (01), Beyoncé anunciou o filme “Renaissance: A Film by Beyoncé”, baseado no último álbum e na turnê. O filme será lançado oficialmente no dia 01 de dezembro em colaboração com a Parkwood Entertainment e a AMC.

“Cuidado com o que pede, porque eu talvez obedeça”, escreveu Beyoncé na legenda do trailer em seu Instagram divulgado na madrugada desta segunda-feira (02). Segundo as informações da Variety, o filme terá “um escopo ambicioso” e vai contar com bastidores da turnê e os tão aguardados visuais do álbum lançado em 2022. O filme também terá um formato documentário com relatos da gravação do álbum e produção da turnê.

“Quando estou me apresentando, não sou nada além de livre”, diz Beyoncé em um trecho do trailer. “Meu objetivo para esta turnê era criar um lugar onde todos fossem livres e ninguém fosse julgado.”

Neste final de semana, a Variety também divulgou com exclusividade que a Parkwood Entertainment, empresa da Beyoncé, estava fechando negócios com a AMC para levar o filme para as telonas. Segundo as informações, o acordo fechado com a empresa é semelhante ao da Taylor Swift, que também vai lançar o filme “The Eras” baseado na sua turnê. Taylor autofinanciou seu filme e receberá mais de 50% da bilheteria.

Por coincidência (ou não), o filme Renaissance será lançado oficialmente nos EUA no dia 1 de dezembro, Dia Mundial do Combate a AIDS. Seu tio Johnny, a quem ela dedicou seu álbum, morreu por complicações do HIV.

‘Não queria ser um acessório’, diz Kerry Washington sobre recusar papéis de melhor amiga de protagonistas brancas em filmes

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Foto: Chris Pizello

A atriz Kerry Washington está contando detalhes de sua trajetória pessoal e profissional novo livro intitulado “Thicker Than Water”. A estrela de “Scandal” falou sobre os motivos que a levaram a não interpretar mais “a melhor amiga da garota branca” em filmes depois de viver a personagem Renee, no filme “Against the Ropes”, de 2004. No longa, a personagem de Washington era melhor amiga da protagonista, vivida por Meg Ryan.

Meg Ryan e Kerry Washington em “Thicker Than Water” – Foto: Reprodução

A atriz de 46 anos fazia o papel da colega de trabalho e confidente da protagonista branca. Ela escreveu em seu livro: “Isso estava se tornando um novo nicho para mim, o melhor amigo da garota branca”. Antes do filme, ela já havia interpretado a melhor amiga de uma protagonista branca duas vezes, em “No Balanço do Amor”, de 2001, protagonizado por Sean Patrick Thomas e Julia Stiles, e no piloto não lançado de um drama cômico da Fox chamado “Wonderfalls”.

Kerry Washington queria que seu papel em “Against The Ropes” fosse a última vez que ela fizesse um papel dentro do estereótipo porque sentiu que tinha ‘atingido o ápice’ como “a melhor amiga da garota branca”.

Ela ainda afirma em seu livro: “‘Harry e Sally: feitos um para o outro’ ainda é, até hoje, um dos meus três filmes favoritos de todos os tempos, então, depois de interpretar a melhor amiga de Meg Ryan, interpretar o papel com qualquer outra pessoa teria sido uma mudança lateral. Não é que eu queria ser a estrela do filme; eu queria que meus personagens tivessem sua própria história. Eu não queria ser um acessório na jornada de uma mulher branca.”, destacou.

Turnê ‘Renaissance’, de Beyoncé, chega ao fim neste domingo… mas e o Brasil?

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Foto: Beyoncé / Parkwood Enterteinment.

Com 56 shows agendados pela Europa e América do Norte, chega ao fim neste domingo (1) a turnê ‘Renaissance’, de Beyoncé. Quebrando recordes, estima-se que o espetáculo tenha arrecadado mais de U$ 560 milhões, se tornando a maior turnê negra de todos os tempos. Celebrando a negritude, a cultura ballroom e a diversidade LGBTQIA+, Beyoncé conquistou milhões de fãs com seu espetáculo fashion, carregado de sucessos como ‘Break My Soul’, ‘Alien Superstar’, ‘Cuff It’ até as canções mais antigas como ‘Drunk In Love’ ou ‘Crazy In Love’.

Foto: Reprodução

Claro que não é fácil apresentar uma turnê com a proporção da ‘Renaissance’, mas muitos fãs ainda acreditam na possibilidade de uma nova leva de shows da cantora, que há anos não realiza espetáculos na América Latina ou na África. A última passagem pelo Brasil foi em 2013, durante a ‘Mrs. Carter Tour’. Ainda não está claro quais serão os próximos passos de Beyoncé. De acordo com o jornalista José Norberto Flesch, famoso por dar furos de shows internacionais, a cantora continua com datas marcadas para o Brasil em 2024, mas até o momento nenhuma confirmação foi feita.

É possível que Beyoncé realize uma terceira leva de shows incluindo a América Latina, Oceania e Ásia, mas a cantora não deu nenhum indício de que isso irá acontecer. O próprio projeto ‘Renaissance’ possui outros atos, conforme anunciado pela artista em 2022. Mas vale lembrar que a ‘Formation Tour’, de 2016, também incluiu apenas shows na Europa e América do Norte.

Por enquanto, parece que o Brasil vai esperar um pouco mais para ver a Beyoncé…

Família negra participa de ‘Ilhados com a Sogra’, novo reality da Netflix

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Foto: Divulgação

Você se dá bem com sua sogra? E se vocês estivessem presos em uma ilha deserta? Essa é a proposta do ‘Ilhados com a Sogra’, novo reality da Netflix que estreia no dia 09 de outubro.

Em mais uma aposta de reality brasileiro, em “Ilhados com a Sogra” a Netflix reúne seis casais que disputam em diversas provas para conquistar R$ 500 mil, mas com um porém, uma pessoa da dupla vai enfrentar as provas com a sua sogra.

Entre os casais concorrentes, estão Thyago Cesar, influencer, e sua esposa Mayara Tenório, atriz. Thy vai precisar sobreviver aos conflitos com sua sogra, Severina Tenorio que é compositora. Segundo um trecho do trailer, o clima entre eles vai esquentar.

Além da família de Thy, temos também a família de Rogéria Castro, que vai ter que sobreviver aos embates com sua nora, Thais Castro, esposa de Rodrigo Castro. Além do programa, Rodrigo e Thais falam sobre sexualidade em @oscastroos.

Doces finos pintados à mão: Giovanna Oliveira é Chef Pâtissier, estudou na renomada Le Cordon Bleu e dedicou sua vida a fazer doces

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Foto: Reprodução

Quem é que não ama um doce, imagina feito por quem ama o que faz?

Giovanna Oliveira sempre teve o sonho de ser confeiteira e após longos anos de experiências decidiu tirar seu sonho do papel e criar seu próprio empreendimento, o @vidadocebygi.

Aos 19 anos, Giovanna decidiu ir atrás do seu objetivo e foi estudar gastronomia na Califórnia. Ela passou por uma das mais renomadas universidades do ramo da gastronomia, Le Cordon Bleu, e teve a oportunidade adquirir conhecimento em restaurantes clássicos e premiados.

Hoje ela está de volta ao Brasil como Chef Pâtissier, especializada em doces finos e artísticos para eventos, e vive em São Paulo. “Procuro trazer toda criatividade adquirida ao longo dos anos para as minhas criações.”

Sua especialidade são o bombom de pistache com amora e o bombom Jack Daniels Honey com folhas de ouro 24k.

A Ressignificação Da Identidade Negra Na Clínica Psicológica

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Foto: Freepik

Por Shenia Karlsson, Psicóloga clínica, Co-Fundadora do Papo Preta.

Nos últimos anos, as mudanças sociais vieram com tanta força que ser negro  deixou de ser um adjetivo e passou a ser uma condição, uma existência, uma autodeterminação. Nos Estados Unidos por exemplo, NEGRO é escrito com letras maiúsculas, ressaltando o respeito por aqueles que nos antecederam nas lutas contra o racismo. É comum ver pessoas negras baterem a mão no peito com orgulho, com sentimento de pertença e afirmando  tal identidade. SOU NEGRO/A/E.

Diante destes fenômenos, é possível observar algumas mudanças nos mais variados processos de construção de identidade(s), principalmente a construção das identidades negras, sim, no plural porque são múltiplas. Como o processo de construção de identidade é dinâmico e fluido, discutir identidade negra e como ela foi forjada historicamente requer considerar a reconstrução desta identidade tão importante para o povo negro em diáspora, especialmente no Brasil.

A identidade negra diz respeito a localizar-se socialmente como sujeito e tem um caráter político, como salienta Stuart Hall e Paul Gilroy em suas obras. No entanto, num mundo Ocidental onde somos induzidos a validar a identidade branca como ponto de partida, como explicita Neusa Santos Souza,  tornar-se negro é uma tarefa que ultrapassa a esfera do discurso. Então, como podemos nos certificar que os nossos processos de construção de identidade(s) negra esteja realmente livre das amarras do mito negro?

Este artigo propõe discorrer sobre como a clínica psicológica voltada para negros pode auxiliar na reflexão de alguns caminhos possíveis na re-construção da identidade negra como condição do ser e garantia mínima de saúde mental. A autora Neusa Santos Souza e Fanon aponta em suas obras que na verdade não somos negros, pelo menos internamente, e sim devemos nos tornar negros a partir de uma disponibilidade interna que surge de uma necessidade existencial e um diálogo crítico com nosso contexto social. Dito isto, tornar-se negro é tornar-se sujeito negro numa sociedade em que negros já nascem assujeitados.

Especialmente nos últimos anos, a Psicologia movimentou-se no sentido de preencher uma enorme lacuna ética: a exclusão da discussão do sujeito negro na clínica psicológica e nas práticas de cuidado. No que diz respeito aos estudos de raça e racismo, foi necessário uma corrida contra o tempo para repensar as práticas e, minimamente garantir que o racismo e a discriminação racial fossem finalmente reconhecidos como fatores de adoecimento. 

As críticas tornaram-se severas – especialmente sobre profissionais de saúde que perpetuavam as mesmas violências no setting terapêutico – e a população negra passou a cobrar um atendimento de qualidade e focado em suas peculiaridades. Entretanto, ainda não estabelecemos um fazer psicológico modelo, o que possuímos são caminhos possíveis onde as premissas seriam o compromisso ético-político nos espaços de cuidado, estudos e pesquisas sobre essa temática em específico e a disseminação das informações a fim de implementar as mudanças necessárias nas lógicas do mercado do cuidado. Mas, como a Psicologia pode auxiliar no processo da construção da identidade negra na clínica psicológica? Como criar espaços para que surja o sujeito negro em sua plenitude? Grada Kilomba cita Bell Hooks em sua obra ‘Memórias da Plantação’ para discorrer sobre o conceito de sujeito e diz que “só eles têm o direito de definir a sua própria realidade, de estabelecer suas próprias identidades, de nomear a sua história”. O sujeito negro surge a partir do protagonismo de sua própria trajetória. 

Contudo, como é possível esse devir negro partindo do princípio que em sociedades racistas o negro é sequestrado pelo desejo do sujeito universal e se perde em seu real desejo e essência? Mais uma vez Grada destaca que diante da conscientização emerge um “duplo desejo: o de nos nos opormos a esse lugar de alteridade e o de nos reinventarmos”. Nesse sentido, penso a clínica psicológica  como um espaço de segurança em que o sujeito negro tenha legitimidade de surgir visto que o meu compromisso como terapeuta seria fornecer um lugar de plena segurança, sem interdições ou retaliações, onde emoções antes interditas possam circular e ser acolhidas com humanidade. É bem verdade que essa tarefa não é fácil, entretanto, a cada dia pessoas negras procuram profissionais de psicologia treinados para uma escuta ativa, profissionais com os quais possam não só se identificar mas sensíveis às suas vivências. 

Como eu tenho conduzido minha prática? Como psicóloga clínica percebo que o processo da (re)construção da identidade negra ultrapassa o quesito melanina e aprofunda questões existenciais em que num dado momento o sujeito possa vir questionar todo o seu histórico, alianças, pactos coletivos, afetos, parcerias e induz o sujeito negro a uma espécie de luto do sujeito branco. Durante esse processo, é comum perpassar por fases de alienação, negação, suspeição, raiva, rejeição ao mundo branco até alcançar um estado ideal de consciência negra após uma etapa que eu nomeio como descolonização afetos

Vale ressaltar que é inevitável o emergir de um sujeito negro político – uma identidade negra política – devido às transformações que ocorrem durante esse desvendar do ser. Como é um caminho doloroso e sem volta, geralmente é possível finalmente entrar em contato com o real desejo e viver de forma que faça mais sentido. Embora a clínica tende a tratar o individual, esse fazer clínico sempre pensa o devir negro no sentido coletivo pois a revolução é coletiva e se faz em todos os espaços. Deixo uma frase minha: “Se o corpo é político, a saúde mental também é”

Banzo: conceito originado pelos africanos escravizados ainda alerta sobre saúde mental dos negros atualmente

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Foto: Freepik

A violência racial é um dos motivos que causam tanto sofrimento psíquico em pessoas negras. Mas como racializar essa discussão ao se referir à saúde mental? 

Em entrevista ao Mundo Negro, o psicanalista Lucas Mendes revela o conceito originário de Banzo, que ainda acomete a população negra na diáspora africana, mas é um tema pouco abordado, mesmo durante a campanha do Setembro Amarelo

“Banzo é um estado emocional de tristeza, desânimo, desesperança, que o preto escravizado usava para descrever esse sentimento. Por estar longe da sua terra natal, por estar longe da África, longe da sua família e da sua tribo. Além de ser explorado, violentado, cansado fisicamente e emocionalmente”, explica o psicanalista.

Mesmo com o fim da escravidão, as marcas desse sofrimento continuam profundas. “As pessoas pretas de hoje, especialmente as do Brasil, tem um banzo introjetado. A cultura se atualizou e continua explorando a gente da mesma forma […] o banzo pega quase que um atalho no entendimento da angústia e do sofrimento do preto”, diz Lucas, um estudioso de psicanálise e relações raciais no Brasil.

Lucas Mendes (Foto: Divulgação)

Leia a entrevista completa abaixo:

Qual o conceito de Banzo? E qual a ligação do banzo com os africanos escravizados?

Banzo é um estado emocional de tristeza, desânimo, desesperança, que o preto escravizado usava para descrever esse sentimento. Por estar longe da sua terra natal, por estar longe da África, longe da sua família e da sua tribo. Porque não é só a África [em si], era da sua matriz, da sua região, das suas pessoas, de tudo, além de ser explorado, violentado, cansado fisicamente e emocionalmente. Esse estado de cansaço, tristeza, desesperança, que é a atonia. Essa falta de movimento com a própria vida, chamava de banzo. 

Banzo, quando você vai ouvindo a definição, se parece muito com a definição do estado depressivo melancólico, e aí tem uma especificação que é importantíssima, pois é um estado emocional complexo que carrega muitas coisas: desesperança, culpa, falta de energia, falta de motivação, déficit de autocuidado, um olhar negativo para si e um olhar negativo para tudo que se refere a si no mundo. Eles se parecem muito. 

Depressão é uma condição orgânica que carrega esses quesitos por uma falta de energia cerebral que a consequência, é um estado depressivo, que pode vir por exemplo, de um luto, de um adoecimento por violências físicas, sexuais, e outras diversas. A duração e a falta de autonomia que a pessoa tem em relação ao estado depressivo que é o problema. Quando se torna permanente, independente dele ser orgânico ou não, é um problema. Banzo se encaixa muito bem em depressão ou em um estado depressivo. 

Banzo foi, na verdade, um termo originalmente criado pelos negros escravizados e que foi apropriado à linguagem coloquial brasileira e ficou ao longo do tempo. As leituras, por exemplo, de como o racismo criou o Brasil fala sobre isso, de que esse termo era usado, e os brancos que se apropriavam e os escravizadores foram ouvindo e reproduzindo ‘o negro está com Banzo’, e o termo ficou.

Lucas Mendes (Foto: Divulgação)

Ainda hoje, podemos dizer que os negros na diáspora tem uma ligação com esse mesmo sentimento?

100 % dá pra dizer que as pessoas pretas de hoje, especialmente as do Brasil, que é o que eu estudo, psicanálise e relações raciais no Brasil tem um banzo introjetado. A cultura se atualizou e continua explorando a gente da mesma forma, porque o capitalismo é essencialmente racista. Não sou eu que estou dizendo isso, o Silvio Almeida [no livro] ‘Racismo Estrutural’, e inúmeros outros autores que se debruçaram sobre isso, que o capitalismo só existe se ele tiver alguém para ser explorado, e neste caso, o Brasil, o preto, a preta. É um sistema de escravização, muito mais sofisticado, subjetivo e elaborado, mas continua sendo um sistema de escravização. 

Ele deturpa a identidade, tira a herança do eu, então o racismo faz isso. Existe uma segunda etapa que é o ideal preto, que também não é identidade por si só, porque também entra numa ideia de união do negro, que é horrível, que é como ‘somos todos de África, então somos todos iguais’. Não, porque lá não são todos iguais, porque são ‘N’ povos, culturas, diversidades coletivas e individuais. Esse borramento dessas individualidades, faz com que a pessoa perca a identidade. Uma vez que você perde o eu, você fica desesperançoso de si em relação ao mundo. Tem um sistema de exploração objetivo, trabalho e subjetivo do negro, que faz com que perca energia e que tenha sentimentos de culpa, pois a cultura responsabiliza o preto por tudo o que acontece, mesmo sem ter polícia à prova disso. 

Então essa combinação toda, completamente, sim, está introjetada na nossa cabeça e o banzo é um sentimento comum. O banzo tira a energia vital que poderia fazer com que o negro se insurgisse contra aquele sistema escravocrata. E uma das fontes de energia que o banzo priva é a raiva, porque ela fica voltada para dentro, é tudo contra mim: ‘eu sou o problema’, ‘eu não gosto de mim’, ‘eu me odeio’, ‘eu estou causando mal’, ‘eu estou fazendo errado’. Então essa raiva toda que poderia ser fonte de energia para solução individual ou coletiva, para sair daquele problema, ele fica privado, porque a raiva está voltada para dentro. 

Tem um lugar que é muito perverso, que eu vejo muito, que é o preto ou a preta que ascende e, ao ter sucesso, ele entra em banzo. Ele não estava antes, porque, na verdade, existem locais onde a identidade deste preto ou preta é preservado, mas, no sistema mais amplo, capitalista, esse lugar é periférico, ele é periferizado. Quando aquela pessoa sai daquilo, se instala o banzo, e aí, opa, que porra é essa? Pois é, é essa herança que ficou lá dentro, esse banzo ainda existe dentro da gente e, quando a gente eventualmente vai ocupar a totalidade, eu não estou nem falando só de sucesso financeiro, mas em formas de prosperar, o banzo que estava quieto, porque ele não estava entrando em confronto com a identidade parcial, ele se estabelece, porque, quando você pega tudo, ele está lá. Essa ideia psicanalítica do banzo. Frantz Fanon falou muito sobre isso.

Lucas Mendes (Foto: Divulgação)

O Banzo também é importante para se refletir durante as campanhas de Setembro Amarelo? Por quê?

Eu tenho um ranço enorme com Setembro Amarelo porque é deslocar uma discussão que é sobre algo vital, que é a vida, muito complexo e gigantesco, numa discussão muito  pequena. Eu particularmente, quase que rejeito uma discussão sobre Setembro Amarelo, porque eu acho quase impossível fazer ela simplificada, assim como eu penso sobre Novembro Negro. É importantíssimo ter e usar aquele espaço, desde que a gente saiba que aquilo é reduzido pra uma discussão racial que é infinitamente maior, só que gera uma falsa satisfação de que já deu um aviso. Se a gente for ter uma discussão sobre a vida, o desejo da morte ou a desistência da vida por sofrimento psíquico, e eu não acho que é viável fazer nenhuma discussão de sofrimento psíquico sem racialização, falou do preto, não tem como não falar do banzo. Eu gosto muito da palavra ‘banzo’ e uso inclusive terapêuticamente falando. O banzo racializa automaticamente. Pega quase que um atalho no entendimento da angústia e do sofrimento do preto. O racismo é sobre a morte. Ou ela é provocada externamente, ou ela é induzida. E aí pode ser por suicídio que é a versão mais drástica, mas em outras formas. 

O que é triste quando a gente está falando de saúde mental e, por exemplo, depressão, é que existe uma saída. Mas é que culturalmente se deturpa a coisa e às vezes ela é tida como se não houvesse a saída. Vários sofrimentos psíquicos de violências mais explícitas ou menos, tem saída, mas a cultura mostra como se não tivesse e aí a pessoa se vê num beco sem saída. 

Eu vejo que fica um festival de frases bonitas e coisas legais a serem ditas, mas pouco responsável porque a discussão é muito complexa e ela precisa de uma responsabilização tão complexa quanto. A gente tem que discutir o Setembro Amarelo, eu só sou encrencado com a forma como discutem ela. Violência de gênero, de raça, de orientação sexual, de identidade, não discutir isso é superficializar a discussão, porque boa parte do sofrimento psíquico é decorrente dessas violências.

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