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‘Quarto de Despejo’: obra de Carolina Maria de Jesus vai virar filme com direção de Jeferson De

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Foto: Acervo UH/Folhapress

Uma das maiores referências literárias do mundo vai virar filme! Nesta terça-feira (21), a Globo Filmes anunciou nas redes sociais que o livro ‘Quarto de Despejo’, da escritora Carolina Maria de Jesus, vai se transformar em um longa-metragem e terá Jeferson De como diretor. 

Um marco das literaturas negra, feminina e periférica brasileiras, a obra reúne textos em que Carolina revela a realidade opressora que vivia na década de 1950, quando morava na favela do Canindé, em São Paulo, e sofria para alimentar os filhos como catadora de papel.

Capa do livro Quarto de Despejo (Foto: Divulgação)

Lançado em 1960, o livro trata de temas como a fome, o racismo e o machismo. Desde então, vendeu cerca de 3 milhões de exemplares em 16 idiomas.

Jeferson De, uma grande referência para o cinema negro, ficou famoso por dirigir Doutor Gama, uma cinebiografia sobre o grande abolicionista brasileiro, além de dirigir outros filmes como: ‘M-8: Quando a Morte Socorre a Vida’ e a ‘Revolta dos Malês’. Logo, a comunidade negra pode aguardar muita excelência no seu novo projeto sobre Carolina Maria de Jesus.

Jeferson De (Foto: Renato Nascimento)

“O aquilombamento não será real se falarmos apenas das nossas dores”, diz empreendedora Juci Cardoso

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Foto: Laísa Gabriela/ Mundo Negro

O Festival Afrofuturismo, realizado pelo Vale do Dendê, chega ao seu segundo e último dia, nesta terça-feira (21), no Centro Histórico da capital baiana. “A força feminina e o protagonismo no empreendedorismo e na geração de renda dos territórios” foi tema no painel conduzido pela empreendedora e vereadora do município de Alagoinhas, Juci Cardoso e mediado pelo vice-presidente da Cufa Brasil e Presidente da Cufa Bahia, Márcio Lima, no Largo Tereza Batista. 

Ao longo dos anos, o empreendedorismo feminino tem crescido. De acordo com uma pesquisa do Global Entrepreneurship Monitor, realizada em 2022, as mulheres são 42% das pessoas empreendedoras no mundo, um aumento de 6% em relação ao ano de 2021. Já no Brasil, em 2022 as mulheres representavam 34% dos empreendedores, este número aumentou em 5%. 

Para avançar nessa estatística, é necessária a construção de alternativas onde mais mulheres tenham oportunidades. Ponto destacado por Josi Cardoso, durante sua participação no Festival, para que o público pensasse na importância do se aquilombar. “Precisamos que iniciativas importantes como essa cheguem em outros territórios, para além da capital. O aquilombamento não será real se falarmos apenas das nossas dores, precisamos pensar de forma coletiva”. 

Márcio Lima e Josi Cardoso (Foto: Laísa Gabriela/Mundo Negro)

Josi decidiu empreender após ter passado por algumas experiências ruins, quebrou em um ano, mas decidiu estudar para entender como funcionava a licitação no setor privado e entendeu que potencializar negócios, é pensar em todas as dores que atravessam os mais vulneráveis, inclusive, na negação de direitos. 

O racismo nos atravessa retirando a nossa autoestima, por isso, acho que é tão importante a minha presença como mulher preta, do interior, de território, e que está aqui. Nós precisamos interiorizar, não apenas as políticas públicas, mas, dialogar sobre o nosso perfil, do nosso Estado, que é um perfil majoritariamente de monoparentalidade. A maioria dos nossos lares, não apenas da capital, mas também do interior, são chefiados apenas por mulheres e mulheres empreendedoras”. 

A mulher se torna empreendedora no momento que precisa sair de casa para vender produtos, quitutes, artesanatos e, através disso, buscar condições melhores para cuidar de si e da própria família.

O Presidente da Cufa Bahia, Márcio Lima, trouxe uma observação, a partir de vivências pessoais, de como muitas vezes a mulher se sobrecarrega exercendo outras funções, para além da maternidade, empreendedorismo e como isso impacta em outras áreas de sua vida. 

Eu sou filho de mãe solo e sou resultado dessa luta de minha mãe e de minha avó, que foi muito árdua. Nós somos condicionados a nos calar e muitas vezes isso impacta na nossa autoestima, a gente precisa se libertar disso. A importância de programas como esse como a Ifood Acredita é imensa, para que o nosso povo invista, potencialize e mostre do que é capaz”. 

Em Alagoinhas, por exemplo, a arte das mulheres que fazem trançados de piaçava vai com frequência para o eixo Rio-SP e, apesar disso, a vida dessas mulheres não muda. Diante disso, Josi acredita que existe uma necessidade de discutir qual é o papel também dessa visibilidade que o movimento toma na capital para desenvolver e não pensando apenas na subsistência, mas pensando em criar, em potencializar negócios. 

“É algo que a gente precisa discutir. Inclusive outras nuances e possibilidades de negócios, como as compras públicas e corporativas que o empreendedorismo ainda não acessa, sobretudo no interior”, finalizou.

O Festival é realizado pelo Vale do Dendê como parte da programação do Salvador Capital Afro. Confira a nossa cobertura nos stories do Instagram @sitemundonegro.

Protagonista da série da Netflix “Quem matou Malcolm X?”, dará aula online e gratuita sobre o legado do ativista

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Foto: Getty Images /Bettmann

Você já conhece a trajetória de vida e o pensamento revolucionário de um dos maiores líderes negros da humanidade? Se não, chegou a hora de conhecer Malcolm X. O Instituto Conhecimento Liberta (ICL) está promovendo uma aula online e gratuita sobre o líder afro-americano com Abdur-Rahman Muhammad, considerado por muitos o maior especialista do mundo em Malcolm X.

O encontro será nesta quinta-feira, 23 de novembro, a partir das 20h e será necessário retirar o ingresso gratuito no site oficial do ICL. (Clique aqui!) O evento também contará com um debate envolvendo referências como Jones Manoel, GOG e Renata Alves. Abdur também irá participar ao vivo, direto dos Estados Unidos.

Abdur é o jornalista e protagonista da série documental da Netflix “Quem matou Malcolm X?“, que acompanha as investigações que levaram até a reabertura do caso de assassinato do ativista nos EUA.

O pensamento revolucionário de Malcolm X influencia e inspira a luta contra o racismo e a discriminação mesmo décadas após o seu assassinato. No Brasil, é cada vez mais necessário conhecer o seu legado e sua luta contra o racismo. O discurso e pensamento desse personagem histórico parece mais atual do que nunca.

Garanta sua vaga no evento: https://icl.com.br/pg/w35/

Datafolha: 72% dos homens pretos dizem que se sentem atraentes no Brasil; com mulheres pretas, o número cai para 58%

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Foto: Freepik.

Uma nova pesquisa do instituto Datafolha, que faz parte do projeto Afeto em Preto e Branco, analisou a forma como a população negra brasileira se relaciona com a autoestima. De acordo com a pesquisa, 72% dos homens pretos dizem que se sentem atraentes no Brasil, enquanto 25% não se consideram. Homens brancos (65%) e pardos (64%) aparecem na sequência de aprovação da própria imagem.

A pesquisa identificou ainda que 58% das mulheres pretas dizem que se sentem atraentes, contra 63% de mulheres brancas e 60% de pardas. De acordo com o Datafolha, foram entrevistadas presencialmente 2.005 pessoas, com 16 anos ou mais, em 111 municípios de todas as regiões do país.  A margem de erro  é de dois pontos percentuais para mais ou para menos.

A pesquisa ‘Afeto em Preto e Branco’ reforça a necessidade de uma reflexão mais ampla sobre as questões de identidade, autoimagem e inclusão, principalmente para mulheres pretas e pardas. A construção de padrões de beleza muitas vezes está enraizada em ideais eurocêntricos. Estereótipos e representações limitadas na mídia também desempenham um papel crucial na formação da autoimagem, influenciando a percepção de beleza e atração.

Anúncio de Snoop Dogg afirmando que ia ‘parar com a fumaça’ era ação de marketing

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Na última quinta, 16, Snoop Dogg surpreendeu o público ao fazer uma publicação anunciando que havia ‘parado com a fumaça’. O rapper causou uma comoção e recebeu inúmeros contraio em solidariedade, mas tudo não passou de uma estratégia de marketing para divulgar a parceria com uma marca de fogueiras elétricas.

Na noite do dia 20 de novembro, ele publicou um vídeo em sua conta do Instagram em que revelava a parceria com a marca Solo Stove: “Eu tenho um anúncio; Estou desistindo de fumar. Eu sei o que você está pensando: ‘Snoop, fumaça é a sua coisa toda.’ Mas estou farto disso, farto da tosse e das minhas roupas com cheiro pegajoso. Vou ficar sem fumaça”, diz ele enquanto a câmera se abre para revelar seu mais recente produto co-assinado. “Fogão Solo consertou fogo. Eles tiram a fumaça. Esperto.”

A marca de churrasqueiras elétricas promete não emitir cheiro de fumaça e aproveitou a confusão no modo como a frase “I’ve decided to give up smoke”, que pode ser lida como “Eu decidi parar com a fumaça” ou “Eu decidi parar de fumar” é traduzida para confundir o público.

Na publicação de quinta-feira, Snoop publicou uma foto com a seguinte legenda: “Depois de muita consideração e conversa com minha família, decidi parar de fumar. Por favor, respeite minha privacidade neste momento”.

A informação surpreendeu, mas deixou os fãs intrigados, visto que além da música, o rapper e conhecido por defender o uso recreativo da maconha.

“A saúde mental deve ser vista pelas empresas como investimento fundamental”, diz Igor Rocha, da AfroSaúde

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Jaqueline Goes, Angel Vasconcelos, Deh Bastos e Igor Rocha | Foto: Divulgação/Vale do Dendê

Em mais um dia de trocas no “Festival Afrofuturismo”, no Centro Histórico da capital baiana, a “Vila Ifood Acredita” recebeu, na manhã desta terça-feira, 21 de novembro, um time de profissionais experts no painel “Os desafios da saúde da população negra e como a comunicação em escala pode ser alavanca chave de políticas de prevenção“.

O encontro, que integrou uma das sessões do Festival abertas ao público, contou com a presença da biomédica baiana Jaqueline Goes, uma das pesquisadoras responsáveis pelo sequenciamento do genoma do coronavírus na América Latina; Igor Rocha, um dos sócios-fundadores da plataforma AfroSaúde; e Deh Bastos, publicitária e criadora do perfil “Criando Crianças Pretas” (@criandocriancaspretas). O encontro foi mediado por Angel Vasconcelos, diretora de equidade do Ifood.

Para Jaqueline, doutora pela Universidade Federal da Bahia no Programa de Patologia Humana e Experimental, parceria entre a UFBA e a Fundação Oswaldo Cruz – Fiocruz Bahia (PgPAT/UFBA-Fiocruz), o ambiente científico reproduz a estrutura do colonizador que vem para explorar um território. “Crescemos nessa estrutura, todo mundo que faz mestrado e doutorado passa por isso. A gente não envolve as pessoas como atores das pesquisas. Até o parâmetro de pressão arterial é baseado num modelo americano. Cadê o estudo brasileiro de base populacional?”, questiona.

A biomédico e doutora Jaqueline Goes ao lado de Angel Vasconcelos, diretora de equidade do Ifood | Foto: Divulgação/Vale do Dendê

Ela destaca que a consciência de diversidade dentro do mundo científico e acadêmico só virá quando pessoas pretas, trans e indígenas também estiverem circulando por esses ambientes. “Quando você faz o letramento racial, pelo menos, busca não reproduzir o preconceito. Eu faço, constantemente, muitas críticas ao método científico como está posto. Muito do que se sabe hoje foi roubado da África. Infelizmente, muitos de nós precisam passar pelo sofrimento de ser o primeiro para pavimentar o caminho para outras pessoas”.

Já Igor Rocha, formado em jornalismo com experiência em comunicação corporativa, conta que a ideia da criação da plataforma AfroSaúde veio do seu companheiro e sócio, Arthur Lima, graduado em odontologia. “A inquietação nasceu de uma discriminação racial em consultório. Uma paciente procurava por um dentista negro porque tinha passado por um episódio de racismo”.

Assim, Arthur e Igor perceberam as lacunas no ambiente de saúde e fizeram um mapeamento de profissionais e pacientes. “Eu, que moro em Salvador, nunca tinha sido atendido por um médico negro. Isso abriu um universo para a gente que precisava ser preenchido”. Hoje, a maioria dos usuários da plataforma AfroSaúde busca por profissionais negros nas áreas de dermatologia e psicologia.

Igor Rocha, sócio-fundador da AfroSaúde | Foto: Divulgação/Vale do Dendê

“A saúde mental deve ser vista pelas empresas como investimento fundamental. Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) mostram que a cada dólar investido em saúde mental, voltam quatro dólares em produtividade”, completa Igor.

A publicitária Deh Bastos, que recentemente virou personagem da “Turma da Mônica”, encorpa o debate sobre as especificidades do campo da saúde, reforçando que comunicação é uma ferramenta de poder, principalmente para escalar “business” de pessoas pretas. “A comunicação é uma ferramenta de poder. Se a gente não consegue dissociar classe e raça, é claro que a comunicação é elitista”.

Por isso, o pilar fundamental do seu trabalho é: comunicação leve para assuntos complexos. “A comunicação para saúde é acesso. Minha mãe conseguiu compreender o que era sobrecarga emocional numa campanha publicitária que participei. Então, quando estiver em um consultório, lidando com médicos ou profissionais de saúde, sempre façam as perguntas. Tenha coragem para ser essa ponte entre a saúde e a ponta, que é onde os nossos estão”.

Deh Bastos, publicitária e criadora do perfil “Criando Crianças Pretas” (@criandocriancaspretas) | Foto: Divulgação/Vale do Dendê

O Festival é realizado pelo Vale do Dendê como parte da programação do Salvador Capital Afro. Confira a nossa cobertura nos stories do Instagram @sitemundonegro.

“A melhor colaboração que fizemos juntos foi criar nossos filhos”, diz A$AP Rocky sobre relação com Rihanna

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Foto: Reprodução.

Papai do ano, A$AP Rocky está muito orgulhoso de sua relação com Rihanna e da família que estão construindo juntos. Os artistas, que se conhecem desde 2011, são pais de dois filhos, RZA, de 1 ano, e Riot Rose, de 3 meses. No campo profissional, os dois cantores trabalharam juntos no remix musical da faixa “Cockiness”, em 2012. Dois anos depois, Rih estrelou como a musa de Rocky no videoclipe de “Fashion Killa” e, mais tarde, reprisou seu papel como protagonista em seu visual de 2022 para a canção “DMB”.

Apesar das participações musicais, Rocky diz que a criação de filhos é a melhor colaboração que ele já fez com Rihanna. “Se eu e minha senhora colaborássemos… o que poderíamos fazer de grandioso?”, questionou ele. “Acho que fazemos um ótimo trabalho colaborando e criando filhos. Acho que criar nossos filhos é nossa melhor colaboração até agora. Nada é melhor do que isso. Tivemos um terceiro designer que veio e ajudou – um designer fantasma chamado Deus e moldou tudo e tivemos esses lindos anjos.”

Essa não é a primeira vez que Rocky celebra o ato de ser pai. Em janeiro, para o jornalista Zane Lowe, o rapper declarou que a paternidade o deixou mais criativo. “É tão inexplicável. É apenas uma daquelas coisas. Agora sou membro do nosso clube, como o clube dos pais. Você vê um pai, você me vê. Estou jogando, sou um pai completo agora”, disse ele. “Estar ao ar livre, trabalhar e ser criativo gera mais energia para você, obviamente, pensar e absorver as coisas como uma esponja, agora que sou pai, porque tenho uma perspectiva totalmente diferente. Mas, honestamente, ajuda você a voltar para casa, para sua família e para seu bebê”, continuou ele. “E eu nem consigo explicar, cara. Você volta para casa, para o céu, todos os dias. Estou muito agradecido. Deus é bom, cara.

Billy Porter diz que se afastou do mundo da música após Céline Dion gravar uma de suas músicas: “deram tudo pra ela”

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Foto: Getty Images ; Shavonne Wong.

O ator e multiartista Billy Porter revelou numa recente entrevista para a Vulture que nos ano 90 ele tentou seguir carreira como cantor, mas teve seu sonho interrompido após Céline Dion gravar uma de suas músicas originais. Composta por Porter, a canção de chama ‘Love Is On The Way’ e acabou indo parar, sem o consentimento do artista, no álbum ‘Lets Talk About Love’.

“Foi traumatizante. A indústria era muito homofóbica”, disse Porter sobre sua tentativa de seguir uma carreira como artista solo. “Era tudo uma questão de fumaça e espelhos de tentar fazer o mundo pensar que eu era hétero, que era masculino o suficiente para existir. Então minha gravadora deu minha música para Céline Dion. Deram tudo para ela”, desabafou Porter, que tinha planos de seguir carreira como cantor de R&B.

“Aconteceu naquele momento e eu disse: ‘Acabou. Se isso é tudo que a indústria da música tem a me oferecer, estou farto. Ela pode ficar com isso, vocês podem ficar com isso, estou fora“, destacou ele, que hoje em dia, não culpabiliza Dion pelo ocorrido. “Eu a amo, sem sombra, ela é fabulosa, não se trata de Céline Dion. É sobre os sistemas de opressão que silenciam e rejeitam a nossa contribuição para o mundo.”

Recentemente, Billie Porter lançou seu novo álbum, chamado ‘Black Mona Lisa’, o primeiro projeto após décadas longe da música. “Muitas das músicas do meu álbum têm um tema muito semelhante – chegar ao ponto de reconhecer o seu próprio valor e celebrar a si mesmo”, ele compartilhou em um comunicado. “O mundo tentará dizer quem você é e tentará decidir se você é importante. Nenhuma força ou entidade externa pode decidir isso.”

Festival Afrofuturismo: painel explora ancestralidade e o futuro através da coletividade e saberes ancestrais

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Imagem: Reprodução

Como parte das atividades do Festival Afrofuturismo, o principal evento de Futurismo e Diversidade da América Latina sediado em Salvador nos dias 20 e 21 de novembro, o painel “Ancestralidade e Futuro” foi apresentado na tarde desta segunda-feira (20) na Casa Vale do Dendê, localizada no Pelourinho. Neste painel reuniram-se mentes inovadoras e reflexivas, entre elas Grazi Mendes, executiva tecnológica, professora e ativista, e Ubiraci Pataxó, membro da Aldeia de Coroa Vermelha em Santa Cruz Cabrália-BA, que ofereceram perspectivas instigantes sobre o futuro, destacando a importância da coletividade e dos saberes ancestrais. O painel foi mediado por Paulo Rogério, fundador da Vale do Dendê e idealizador do Festival.

Norteado por provocações de como pensar o futuro, expostas pelo mediador Paulo Rogério, o painel abriu espaço para que os apresentadores falassem de suas vivências e dialogassem entre si os seus saberes e semelhanças. “Falar sobre futuro é falar sobre esperança. Esperança é tecnologia, não só de sobrevivência, mas é também tecnologia de projeção de outras realidades”. É o que nos diz Grazi Mendes, sobre a importância de se pensar na construção do futuro através da coletividade. Para ela, é na coletividade que conseguimos os principais avanços. “As mudanças mais significativas, elas sempre vão acontecer no plural, o que não quer dizer que a gente sequestra as subjetividades e não celebra também as jornadas individuais, mas o nosso foco é sempre em abrir caminhos para mais pessoas, porque a gente vai chegar em lugares em que a gente não tem referência, a gente vai precisar ser as nossas próprias referências”, reforça. 

O respeito pelo saber ancestral e o poder do diálogo foram destaque nas falas do Ubiraci Pataxó. Para ele, que além de aprendiz de pajé é também cuidador de pessoas e terapeuta indígena, o diálogo, a conversa, o abraço e o encontro, são as maiores tecnologias futuristas, e a atividade oportunizou essas trocas. Rever o que foi feito e que deu certo, e o que foi feito de errado para poder melhorar, é a chave. “Se a gente tivesse plantado mais árvores, talvez a gente não tivesse dando problema. Se a gente não tivesse cortado algumas árvores, talvez a gente não tivesse dando problema. Se a gente tivesse conservado as que estavam ali, a gente teria menos problemas. Então, são vários fatores desse mesmo processo”, esclarece. 

Termos como “aquilombamento” e “aldeamento” foram constantemente utilizados nas falas durante o painel, e ouvidas atentamente pelos participantes. A ideia foi reforçar ainda mais a necessidade do coletivo, sem esquecer dos saberes deixados por quem chegou antes. 

Ao final da atividade os palestrantes fizeram suas considerações, destacaram a importância do espaço para esse tipo de debate e agradeceram a oportunidade do diálogo. “Aqui, para mim, é maravilhoso! Tempos atrás não se pensava em ter um painel como esse, com palestrantes indígenas, pretos, falando para o seu próprio povo”, diz Ubiraci.“Estamos aqui afirmando um futuro revolucionário que a gente acredita!”, conclui Grazi.

O Festival Afrofuturismo segue até amanhã, com outros painéis e talks. Confira a programação completa na página do festival em: https://afrofuturismo.com.br/

Dismorfia financeira e a população negra: a sensação de não pertencimento perpassando as transações monetárias

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Foto: Reprodução

As emoções desempenham um papel crucial em nossas escolhas financeiras. Ao considerar o recorte de raça, destacam-se diferenças significativas na experiência da população negra com relação ao dinheiro. Fatores históricos e estruturais contribuem para um cenário específico, influenciando a forma como os indivíduos negros lidam com suas finanças.

A dismorfia financeira refere-se a uma condição na qual as pessoas têm uma visão distorcida de sua situação financeira. Assim como a dismorfia corporal, onde as pessoas veem imperfeições inexistentes em sua aparência física, a dismorfia financeira leva os indivíduos a perceberem a saúde financeira de maneira desproporcional, muitas vezes gerando ansiedade e comportamentos prejudiciais. A relação do povo negro com o dinheiro vai além de números e transações, ela é impactada pelo racismo vivido cotidianamente e todo o histórico de desigualdades.

A relação distorcida com o dinheiro tem raízes históricas, desde os tempos da escravidão até os dias atuais. Durante séculos, as comunidades negras enfrentaram a negação de oportunidades econômicas, resultando em um déficit de recursos acumulado ao longo do tempo.

A comparação social desproporcional é uma característica frequente da dismorfia financeira sentida pela pessoa negra. A tendência a se comparar e traçar objetivos financeiros para se igualar ou superar os demais é um sentimento comum e uma nova escravidão, onde o indivíduo se sente preso à ideia de que precisa manter uma imagem percebida de sucesso para prosperar ou ser respeitado. E sempre fica a sensação de que sempre falta algo. Vazio.

Outra situação que reflete a dismorfia financeira na população negra se revela também no comportamento inverso ao da ostentação. O indivíduo mesmo tendo uma renda estável, vive com medo constante de gastar dinheiro, ainda que somente com suas necessidades básicas. Ele evita investir em si mesmo ou em experiências enriquecedoras, temendo que cada centavo gasto seja um passo em direção à ruína financeira e retorno à pobreza em que viviam seus antepassados. E o descaso com essa situação causa impacto negativo na sociedade, inclusive, afetando a economia, uma vez que somos maioria em quantidade, um país que negligencia mais da metade da sua população tende a não prosperar.

Outro comportamento prejudicial gerado pela dismorfia financeira também está em evitar olhar o extrato bancário ou discutir finanças com a família, ou seja, desconsiderar a realidade financeira, o que pode levar a decisões inadequadas e falta de planejamento, ao comportamento de gastar por impulso e posterior endividamento.

O problema da dismorfia financeira afeta a maioria da população negra, e também a parcela que decide empreender. Muitos acham que ter o próprio negócio é a única alternativa diante da dificuldade de acesso ao mercado de trabalho, por exemplo. Mas achar que precisa empreender para sobreviver e não para viver um propósito, é outro reflexo dessa dismorfia.

O debate em torno do tema terá espaço no Afro Fashion Day, evento marcado para o dia 25 em Salvador, durante uma ativação do Will Bank. A instituição realizou a primeira pesquisa sobre Dismorfia Financeira no Brasil. O estudo oferece uma visão da relação emocional da população com o dinheiro, com especial atenção ao recorte racial. Um dos dados da pesquisa indica que 71% das pessoas acreditam que precisam se esforçar mais para conquistar o que os outros ganham facilmente.

Lidar com as finanças desperta sensações. A escassez se materializa na falta, não só de dinheiro, mas de pertencimento. Existem barreiras invisíveis que julgam quem é adequado a cada espaço. A partir dessa ótica, podemos pensar na educação financeira como uma estratégia que deveria começar pelo autoconhecimento e todo processo de compreensão das emoções que o indivíduo associa ao dinheiro.

A dinâmica entre emoções e finanças é um terreno complexo e muitas vezes negligenciado. A dismorfia financeira, esse fenômeno só recentemente estudado, destaca como nossas percepções distorcidas podem influenciar nossas decisões de maneiras sutis e, por vezes, nos prejudicando e acentuando desigualdades. Quando se nasce negro no Brasil, superar as dificuldades financeiras e prosperar também vai depender de um olhar mais profundo para dentro de si.

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*Priscilla Arantes é gerente de comunicação do Sistema B Brasil, e articuladora do Coletivo Pretas B, um projeto que apoia mulheres negras na rede do Sistema B Brasil por meio de mapeamento, mentoria, consultoria e capacitação, e fundadora do Instituto Afroella.

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