Para celebrar o Dia Nacional da Consciência Negra, neste 20 de novembro, o Mundo Negro selecionou 5 dicas de filmes brasileiros que contam a história de personalidades negras brasileiras que foram importantes para o Brasil, por meio da luta contra a escravidão, contra a ditadura militar ou pela relevante contribuição cultural para o país.
São histórias biográficas que remetem o público à reflexão sobre como o racismo e a escravidão ainda permeiam na sociedade, mas que inspiram a comunidade negra a sonhar.
Leia a lista completa abaixo:
1 – Doutor Gama
Dirigido pelo diretor Jeferson De, a cinebiografia de Luiz Gama (César Mello), um dos mais maiores abolicionistas do mundo, mostra como ele, um homem negro do século XIX, conseguiu advogar para libertar mais de 500 pessoas escravizadas. Disponível no Globoplay.
2 – Pixinguinha, Um Homem Carinhoso
Vida e obra de Alfredo da Rocha Vianna Junior, o Pixinguinha (Seu Jorge), contada desde suas primeiras apresentações na flauta até a composição de suas muitas obras-primas, como “Carinhoso”. Negro e neto de escravizados, ele foi um gênio à frente do seu tempo. Disponivel na Apple TV + e Telecine.
3 – Pureza
Pureza (Dira Paes) arruma um emprego em uma fazenda e acaba testemunhando o tratamento brutal de trabalhadores rurais escravizados. Agora, além de buscar pelo filho desaparecido, ela precisa escapar de lá e informar as autoridades sobre as atrocidades. Globoplay e Telecine.
4 – Mussum, um Filme do Cacildis
O documentário aborda a trajetória do músico e comediante Mussum, de vocalista do grupo Os Originais do Samba a integrante dos Trapalhões, e como ele mudou a forma de fazer humor na teledramaturgia brasileira. Disponível no Prime Video.
5 – Marighella
Comandando um grupo de jovens guerrilheiros, Carlos Marighella (Seu Jorge) tenta divulgar sua luta contra a ditadura para o povo brasileiro, mas a censura descredita a revolução. Seu principal opositor é Lúcio, policial que o rotula como inimigo público do país. Disponível no Globoplay e Prime Video.
O Ministério da Igualdade Racial anunciou o segundo Pacote Pela Igualdade Racial, com 13 ações que serão realizadas em parceria com com outros dez ministérios e órgãos federais, assinadas presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na manhã desta segunda-feira (20) – Dia Nacional da Consciência Negra, no Palácio do Planalto, em Brasília (DF).
“É com muito orgulho e senso de responsabilidade, que celebramos este primeiro novembro negro em que o Brasil tem um Ministério da Igualdade Racial, como uma ferramenta para garantir a continuidade histórica das políticas públicas, para que sejam cada vez melhores e cheguem em quem mais precisa”, celebrou a ministra Anielle Franco, durante a cerimônia.
No documento, constam programas nacionais, titulações de territórios quilombolas, bolsas de intercâmbio, acordos de cooperação, grupos de trabalho interministeriais, e outras iniciativas que garantem ou ampliam o direito à vida, à inclusão, à memória, à terra e à reparação.
Foto: Rithyele Dantas/MIR
Entre os destaques das ações, o Governo Federal destinará R$ 8 milhões a serem investidos em formação especializada para quem trabalha no atendimento psicossocial de mães e familiares vítimas de violência, elaboração de protocolo para o fluxo de atendimento e definição de diretrizes para supervisionar a rede socioassistencial do Estado.
“Uma das maiores tristezas que se conhece é uma mãe e um pai ter que enterrar uma filha ou um filho. Eu vi isso acontecer na minha casa. O Brasil vê todos os dias nos jornais. E eu afirmo aqui o nosso compromisso para que o Estado cuide dessas famílias já tão machucadas”, destacou a ministra.
Além disso, o Acordo de Cooperação Técnica (ACT) entre o MIR e o Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS) reafirma o compromisso com a construção de uma agenda de combate à fome, à insegurança alimentar e à pobreza, a partir da qualificação de serviços e equipamentos da assistência social, “agindo a partir do reconhecimento de qual é a cor das pessoas que mais passam fome no nosso país”, disse Anielle.
Foto: Rithyele Dantas/MIR
Para combater o racismo e atenuar seus impactos na infância de crianças negras, quilombolas e indígenas, o MIR também assinou hoje “um memorando para avançar nas estratégias e políticas para uma primeira infância antirracista, com ações em especial no campo da saúde e educação”, junto à Unicef, e aos ministérios da Saúde, do Desenvolvimento Social, da Educação e dos Direitos Humanos e Cidadania.
Confira o destaque de outras ações abaixo:
Caminhos Amefricanos: o programa de intercâmbios Sul-Sul que visa promover o diálogo, a pesquisa, a produção científica, a educação antirracista, as trocas culturais e a cooperação entre Brasil e países da África, América Latina e Caribe, receberá um investimento de R$22.5 milhões. A cada edição, 50 bolsistas do Brasil e 10 bolsistas do país parceiro serão beneficiados por intercâmbios de 15 dias. Os primeiros países a receberem o Caminhos Amefricanos serão Moçambique, Colômbia e Cabo Verde. O Edital de Seleção para a primeira edição, que conectará São Luís/MA e Maputo, será lançado na terça-feira (21). Todas as pessoas beneficiadas terão direito a auxílio de R$24.700 para custear deslocamento, diárias, seguro saúde, solicitação de visto e emissão de passaporte;
Programa Federal de Ações Afirmativas: com um investimento de R$ 9 milhões, o programa busca formular, promover, articular e monitorar políticas que garantam mais direitos e equiparação de oportunidades para mulheres e pessoas negras, quilombolas, indígenas ou com deficiência, levando em consideração suas especificidades e sua diversidade;
Investimentos em Dados e Cultura: R$ 4,4 milhões serão destinados através de um edital para incentivar a produção cultural, economia de axé e agroecologia, pela promoção do desenvolvimento sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais de Matriz Africana e de Terreiros e Quilombolas, em parceria com a FioCruz;
Memória e Reparação: o Acordo de Cooperação Técnica entre MIR e BNDES para implementação de projetos culturais e ações em prol da preservação e valorização da herança africana, como também o fortalecimento das instituições culturais na região da Pequena África e do sítio arqueológico Cais do Valongo, no Rio de Janeiro (RJ);
Plano de Comunicação Antirracista na Administração Pública: O Grupo de Trabalho Interministerial (GTI) irá propor estratégias de fortalecimento de mídias negras, de promoção da diversidade racial em publicidades e patrocínios do Estado, de diálogo com a sociedade e veículos de comunicação, de formação para porta-vozes, servidores e prestadores de serviço.
A Pretahub, em parceria com a Salve Games, anunciou neste Dia da Consciência Negra, 20 de novembro, a produção de “Zumbi dos Palmares”, seu primeiro jogo eletrônico. Com uma proposta decolonial, o game busca abordar a luta dos antepassados em prol de uma sociedade mais justa e igualitária, permitindo que os jogadores mergulhem em uma batalha intensa com os invasores, a fim de defenderem o território do Quilombo dos Palmares. A previsão é que o jogo esteja disponível ao público a partir de fevereiro de 2024.
Alexandre De Maio, diretor da Salve Games, explica que o desafio foi criado através da Unreal Editor for Fortnite (UEFN), uma aplicação inovadora que possibilita a criação, desenvolvimento de mapas e publicação de jogos diretamente no Fortnite. “Mapeamos as dinâmicas, concentramos esforços e customizamos personagens NPC. Toda experiência seguiu as diretrizes do universo Fortnite, garantindo um acesso amplo e inclusivo para jogadores de todas as idades”.
O Fortnite é um jogo gratuito da Epic Games, e um dos mais famosos e influentes da indústria. O game está disponível para download grátis no PC, PS4, Xbox One, Nintendo Switch, e também no Android e iPhone (iOS).
Além de contar com uma equipe de historiadores e roteiristas negros, os responsáveis foram até o Parque Palmares em Maceió, para simular cenas e construir falas. “Nós, brasileiros, estamos acostumados com narrativas de batalhas estrangeiras, como jogos de faroeste, guerras mundiais ou vikings. Contudo, temos pouco sobre as batalhas que fazem parte da nossa história e, por isso, tentamos construir um jogo que fosse não apenas divertido, mas também educativo. Acreditamos que ao utilizar a linguagem digital dos games, conseguiremos despertar nos jogadores o interesse pelos nossos heróis e pela nossa história, contada sob uma perspectiva decolonial”, comenta Alexandre.
Segundo a Pesquisa Game Brasil (PGB), levantamento anual sobre o consumo de jogos eletrônicos no país, negros e mulheres são maioria entre gamers brasileiros, (54,1%) quando somados aqueles que afirmam ser pretos (12,7%) ou pardos (41,4%). Nesse ano, o destaque foi o engajamento, 82,1% consideram que jogar eletrônicos é uma das suas principais formas de diversão. Em relação à faixa etária, os dados reforçam que não há idade certa para jogar e que a atividade já está presente em praticamente todas as faixas etárias. O maior público possui entre 25 e 29 anos, com 16,2%. Jovens de 20 a 24 anos representam 15,1%; adultos de 30 a 34 anos compõem mais 16,1% dos jogadores brasileiros e pessoas com 35 a 39 anos representam 15,5%.
Adriana Barbosa, diretora-executiva da PretaHub e fundadora do Festival Feira Preta, conta que a ideia é trazer histórias reais de um povo escravizado. “O jogo é parte da estratégia de como podemos contar a história de Palmares. Esperamos que as pessoas aprendam sobre um período histórico pouco relatado no Brasil. O game tangibiliza a forma como podemos vivenciar na prática a comunicação ancestral. Queremos, através dele, contribuir com a educação antirracista”, afirma a executiva.
O lançamento está dentro do projeto Bioma Comunicação Ancestral, uma realização da PretaHub apoiada pela Fundação Ford, que visa criar uma comunidade de comunidaores e gerar conectividade entre profissionais e possíveis empregadores, além de conteúdos educativos a fim de uma transformação territorial que catalisa e conecta os criativos negros, indígenas, periféricos e LGBTQIAPN+ com o mercado de trabalho.
Ainda no escopo de lançamento do trailer, no dia 30 de novembro será divulgada uma cartilha com dicas para educadores usarem o game dentro das escolas. Além de ações presenciais na primeira semana de dezembro em Manaus e Recife.
Neste dia 20 de novembro, celebrado o Dia da Consciência Negra, o momento sugere um dia mais constante para reflexão sobre o racismo na sociedade brasileira. Feriado em alguns estados e cidades brasileiras, a data tem por objetivo sensibilizar a população também sobre como o racismo prejudica os negros no trabalho, na educação e na vida em geral.
Com relação ao ambiente de trabalho, o cenário não é nada favorável. Levantamento realizado pela empresa Data Lawyer demonstrou que entre 2018 e 2022, foram contabilizados mais de oito mil processos trabalhistas versando sobre violências racistas. A plataforma não identifica se a temática racial é ou não o principal assunto do processo trabalhista, mas já evidencia que há aumento considerável ao longo dos anos de ações que citam em suas petições iniciais termos como racismo, injúria racial, discriminação racial ou preconceito racial.
A sócia e advogada do LBS Advogadas e Advogados, Sarah Coly ressalta que é importante salientar “que na Justiça do Trabalho, o pedido feito por quem foi alvo de racismo é a indenização por dano moral, mas o mesmo processo pode incluir demais pedidos condenatórios próprios desse ramo do direito como pagamento de horas extras”, explica.
Sarah Coly (Foto: Divulgação)
Racismo no trabalho é crime?
O racismo e a injúria são crimes e não precisam ocorrer de forma reiterada, basta somente um ato, fala ou conduta para que seja tipificado. Assim, diante de um crime ocorrido dentro do ambiente de trabalho, a vítima não deve se calar, pois somente com a denúncia podemos cobrar as autoridades competentes.
No ambiente de trabalho, as ações discriminatórias como o racismo podem ocorrer por meio do assédio moral. Neste caso, o indivíduo negro pode ser um alvo frequente de discriminação, em razão de compor um grupo marginalizado e discriminado socialmente, por exemplo.
No assédio moral, o trabalhador é exposto a situações abusivas, humilhantes e constrangedoras, criada à determinado indivíduo em seu ambiente de trabalho, de forma reiterada e contínua, no desempenho de suas funções, causando danos à dignidade, à integridade física, emocional e psíquica do indivíduo e colocando em risco o ambiente e as relações de trabalho e ao seu emprego.
A discriminação pode ocorrer também por meio do racismo recreativo, em que o uso de piadas e frases mal colocadas pode constranger a vítima em razão da cor de sua pele. Por exemplo, se referir ao cabelo de uma colega de trabalho negra como “ruim” ou duro”
“Analisando a conduta assediadora por uma perspectiva pluralizada e interseccional, é possível compreender que as relações de poder que envolvem raça, classe, nacionalidade e gênero, por exemplo, não se manifestam entes individuais e excludentes, pelo contrário, operam e prevalecem em unidade, maneira unificada, capazes de afetar todos os aspectos do convívio social, inclusive na seara do trabalho”, explica a advogada Sarah Coly.
Sarah ainda reforça que “a discriminação racial pode ocorrer, inclusive, em processos seletivos quando a empresa deixa de selecionar ou sequer cogita funcionários negros para compor seu quadro funcional, baseados somente em pré-conceito”.
Sete ações para denunciar racismo o trabalho
Deixar claro que ficou incomodado e não está de acordo com a atitude/acontecimento;
Anotar o ocorrido, e relatar em detalhes o fato à sua liderança e formalizando o que aconteceu;
Verificar se a empresa possui um Código de Conduta e fazer uma reclamação ao canal de denúncia da empresa;
Comunicar à Diretoria de Recursos Humanos ou Gestão de Pessoas a qual você é vinculado;
A denúncia também pode ocorrer diretamente no Ministério Público do Trabalho da sua localidade, inclusive via denúncia online;
Contatar o Sindicato para orientação jurídica, como lidar frente a esses abusos, denunciar a empresa ou o agressor;
Recorrer a um advogado ou a um defensor público para viabilizar ações judiciais no âmbito cível, trabalhista ou criminal, a depender do ocorrido.
Na véspera do Dia da Consciência Negra, neste domingo, 19 de novembro, a frase “LUDMILLA MERECE RESPEITO” chegou a 4º lugar nas trends do X (antigo Twitter), após fã clube da cantora expor prints de diversos ataques racistas que ela tem recebido, por supostos fãs da cantora mexicana Kenia Os, nos últimos dois dias.
“Estamos no Dia da Consciência Negra e uma das maiores artistas brasileiras está sofrendo ataques racistas nas redes sociais. Não é a primeira vez e não vai ser a última. Infelizmente nas redes sociais, por mais que a gente denuncie, as contas não caem e isso demonstra como essas plataformas online corroboram para essa violência com a qual nós negros sofremos diariamente”, pontua o comunicador Jonas Di Andrade.
LUDMILLA MERECE RESPEITO! Estamos no Dia da Consciência Negra e uma das maiores artistas brasileiras está sofrendo ataques racistas nas redes sociais. Não é a primeira vez e não vai ser a última. Infelizmente nas redes sociais, por mais que a gente denuncie, as contas não caem e…
“Revoltada, mas não surpresa. Em pleno Dia da Consciência Negra a gente recebe a notícia que mais uma vez a querida Ludmilla tem recebido ataques racistas. Todo meu repúdio e minha solidariedade à ela. E que possamos aprender com tudo isso”, publicou a deputada federal Talíria Petrone (PSOL-RJ).
Revoltada, mas não surpresa. Em pleno Dia da Consciência Negra a gente recebe a notícia que mais uma vez a querida @Ludmilla tem recebido ataques racistas. Todo meu repúdio e minha solidariedade à ela. E que possamos aprender com tudo isso.
Nas redes sociais, fãs de Ludmilla relatam que tudo começou quando as cantoras deixaram de seguir no Instagram nos últimos dias e os fandoms começaram a se atacar, entretanto, os fãs da Kenia iniciaram um ataque criminoso com xingamentos racistas. Até a publicação desta reportagem, nenhuma das artistas se pronunciaram a respeito.
agora que está viralizando eles estão desesperados tentando calar todo tipo de post q mostra o racismo escancarado deles, a conta @popbeao É uma delas. NÃO SE CALEM, LUDMILLA MERECE RESPEITO https://t.co/l1cGmOu8EUpic.twitter.com/DkLBPLvYij
A primeira manifestação de rua do MNU, em 1978 (Foto: Jesus Carlos)
Consciência Negra é saber que o povo negro não resistiu passivamente à escravidão e usou de todos os meios ao seu alcance para se libertar. ― Nei Lopes
A maioria da população brasileira aprendeu que a democracia racial é uma realidade, inclusive, parcela do povo negro acredita que apenas o próprio esforço é o suficiente para uma sobrevivência digna. Isso nos demonstra que o racismo é complexo, e tem a capacidade de se apoderar da consciência de suas vítimas. Mas não acontece de uma hora pra outra, demanda de um arsenal de argumentos racistas repetidos em exaustão. Nos espaços escolares ouvíamos que o Brasil era um paraíso racial, pois, negros, brancos e indígenas conviviam sem problemas. O discurso oficial comparava a realidade brasileira com o regime de segregação racial sul-africano (Apartheid) e as leis racistas (Jim Crow), nos Estados Unidos; e como neste país não existia uma política de Estado equivalente, os negros deveriam levantar as mãos para o céu.
A assinatura da Lei Áurea, no dia 13 de maio de 1888, determinando a Abolição da Escravidão, também foi um instrumento dessa alienação; os professores ensinavam que a Princesa Isabel, sensibilizada com o sofrimento dos escravizados, acabou com a escravidão. No entanto, a mentira não foi o suficiente para calar o Movimento Negro, e impossibilitar a desconstrução dos discursos a serviço do racismo. Na realidade, o Brasil nunca foi uma democracia racial, e a abolição da escravidão não foi dada de bandeja, ocorreram lutas e mais lutas; ademais, como disse opan-africanista Abdias do Nascimento “a Lei Áurea não passava de uma mentira cívica. Sua comemoração todo ano fazia parte do coro de autoelogio que a elite escravocrata fazia em louvor a si mesma no intuito de convencer a si mesma e à população negra desse esbulho conhecido como ‘democracia racial'”. O Dia de Zumbi e Consciência Negra ― Lei nº 12.519/2011 ―, é um dos exemplos vitoriosos da luta dos movimentos negros contra essas narrativas dos brancos. Celebrado no dia 20 de novembro, homenageamos a resistência africana contra a escravidão e a memória de Zumbi dos Palmares, herói quilombola, assassinado nessa mesma data, em 1695.
O debate sobre o racismo está massificado, o sentimento de pertencimento e coletividade tem aumentado no nosso meio. Nem mais um passo atrás! Os negros começaram a compreender que só a luta pode trazer conquistas. E se dependesse da vontade dos brancos, não teríamos as cotas raciais, ações afirmativas, obrigatoriedade do ensino nas escolas da História e Cultura Afro-Brasileira, reconhecimento do racismo como crime, incentivo à diversidade e inclusão, nas organizações e empresas, reconhecimento oficial de personagens negros da história etc.
Um estudo realizado pelo Instituto de Referência Negra Peregum (IPEC) em parceria com o Projeto SETA, revelou que 64% dos jovens consideram o ambiente escolar como o local em que mais sofrem racismo. Outros dados coletados pelo IPEC mostraram que 44% dos entrevistados consideram raça, cor e etnia como o principal fator gerador de desigualdades.
“A violência em espaços escolares talvez seja a parte mais dramática das violências a que nossas crianças e jovens estão expostos. A escola deveria ser um ambiente seguro, de socialização. Porém, é um espaço que acaba propiciando episódios de violência física e simbólica”, comenta Ana Paula Brandão, analista e gestora do Projeto SETA. A pesquisa, realizada este ano no mês de abril, entrevistou 2 mil jovens negros com idade entre 16 e 24 anos.
Ainda referente aos números relacionados ao ensino no país, jovens negros de 14 a 29 anos são maioria nas estatísticas de evasão escolar no ensino básico. Eles somam 71,7% dos alunos que abandonam os estudos. O racismo nas escolas manifesta-se de diversas maneiras, desde atitudes sutis até ações mais explícitas.
Em vídeo publicado nas redes, os pais deram detalhes da perseguição que vem ocorrendo com o filho desde o primeiro dia de aula na escola. “Ele tinha que ser deixado numa ala destinada às peruas escolares, que busca ele, e a professora deixou ele em uma outra recepção, praticamente na saída da escola,onde meu filho poderia ter saído pela saída principal da escola e ido embora”, relata o pai, que só soube porque o filho mais velho, que estuda na mesma escola, viu o irmão sozinho e com medo e o levou até a ala certa e segura. Depois do ocorrido, os pais relatam que foram até a coordenação e eles disseram que não iria mais se repetir.
Falar sobre relacionamentos inter-raciais, nas redes sociais, é sempre um tema delicado. Este é um assunto que mobiliza vários sentimentos nas pessoas, principalmente nas pessoas negras. Entre estes sentimentos, está a indignação direcionada àquelas pessoas negras que se posicionam contra o racismo estando em um relacionamento inter-racial.
Logo devemos nos perguntar: pessoas negras que estão em relacionamentos inter-raciais perdem a legitimidade ao se posicionarem contra o racismo? Antes de responder esta pergunta é necessário analisar os prováveis motivos destas críticas. Entendo que muitas pessoas acreditam que uma pessoa negra, com alguma consciência crítica sobre raça, que opta por se relacionar com uma pessoa branca, seja incoerente ao se colocar contra o racismo. Isso porque ela, supostamente, teria escolhido viver ao lado do seu “opressor” ao invés de um “semelhante”.
Outro motivo pode estar ligado ao cansaço de ver o fenômeno “negro(a) rico e cônjuge branco” se repetir várias vezes. As pessoas criam expectativas sobre quem elas admiram, e uma dessas expectativas é de que a pessoa admirada escolha se relacionar afetivamente com alguém que se pareça com elas, por motivos óbvios e significativos.
Há também alguns grupos mais sectários que entendem que estas pessoas são “traidoras da raça”. Estes últimos, ligam-se a uma linha ideológica de essencialização da pessoa negra, ou seja, para ser um “negro de verdade” a pessoa deve pensar, vestir, rezar, relacionar-se da forma como eles entendem estar dentro de uma etiqueta de negritude.
O desacordo com qualquer um desses requisitos já faz com que a pessoa negra seja considerada “embranquecida”. Todos nós provavelmente, em algum momento, já nos identificamos com um destes sentimentos. Mas certa vez li uma frase, em um livro, que dizia que não devemos ver as pessoas onde elas deveriam estar, mas sim onde elas estão, e isso foi fundamental para que eu repensasse muitas coisas.
Dizer que uma pessoa negra não pode lutar contra o racismo, denunciar, posicionar-se contra, por estar em um relacionamento inter-racial não faz muito sentido. Uma pessoa que se relaciona com uma pessoa branca, não embranquece, não se ‘desracializa’. Logo, permanece sendo vítima do mesmo racismo que afeta os que não estão em relações inter-raciais.
Nós, como pessoas negras, podemos estar ligados afetivamente a pessoas brancas e isso não precisa ser necessariamente em uma relação afetivo-sexual. Podemos ter familiares brancos, amigos brancos e colegas brancos. A ‘inter-racialidade’ está para além dos casamentos e namoros, embora estes sejam mais explorados, e ela não pode ser motivo de retirada da “carteirinha de negro” de alguém.
Uma vez eu escrevi que dizer que não há racismo, porque negros e brancos se relacionam, seria o mesmo que dizer que não há machismo porque homens e mulheres se relacionam. Pois bem, entendo que dizer que uma pessoa negra não pode se posicionar contra racismo porque se relaciona com uma pessoa branca, é o mesmo que dizer que muitas mulheres não podem se levantar contra o machismo porque estão se relacionando com homens.
Podemos ter a ideia de que pessoas negras que estão em relacionamentos inter-raciais não sabem a problemática que isso pode envolver. Elas sabem, provavelmente se cobram por isso, sentem-se mal. Aliás, a sociedade lembra a eles todos os dias que estão em uma relação estigmatizada. Este tipo de relacionamento pode aguçar mais a consciência racial do sujeito que é negro, uma vez que eles podem estar mais expostos ao racismo de amigos e familiares brancos.
Esta é uma discussão que não se encerra aqui, mas talvez podemos pensar em formas mais propositivas de lidar com este tema. Bom, mas e você o que pensa sobre isso?
A ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, se reuniu na tarde da última sexta-feira, 17, com veículos de mídias negras para anunciar com exclusividade que fará o pronunciamento nacional do Dia da Consciência Negra que vai ao ar na TV aberta no domingo, 19. A ministra fará o pronunciamento no lugar do presidente da república.
O gesto de aproximação do Ministério da Igualdade Racial com as mídias negras, demonstra o interesse ministerial em ouvir as demandas relacionadas a uma comunicação mais inclusiva e menos estereotipada. Além disso, ao comentar a novidade, Anielle também destacou a importância desse momento e contou que, na segunda-feira, 20, data oficial de celebração da Consciência Negra e que lembra a morte de Zumbi dos Palmares, o presidente Lula irá assinar o decreto que institui um Grupo de Trabalho Interminiserial (GTI), que terá a responsabilidade de criar políticas de comunicação social antirracista em órgãos entidades públicas federais.
“Esta é uma entrega que reflete o compromisso desse Governo no combate ao racismo e vai trazer este debate para o centro da comunicação institucional. É um passo inicial muito importante para que as nossas comunicações tenham um papel ativo nesse combate”, afirmou Anielle.
Apos a assinatura do decreto, o GTI terá 90 dias para elaboração de um “Plano de Comunicação Antirracista da Administração Pública”. O grupo deverá ser composto por representantes do Ministério da Igualdade Racial e cinco representantes da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República que convidarão especialistas e representantes da sociedade civil para participar de reuniões ou emitir parecer.
Anielle Franco e Paulo Pimenta, ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, terão a responsabilidade de definir nomes que garantam a participação de mulheres e pessoas negras no desenvolvimento das atividades.
Além da elaboração do plano de comunicação, o GTI também deve propor estratégias que contribuam com o fortalecimento de mídias negras e promovam a diversidade racial nas publicidades patrocínios do Estado. Essas estratégias também ter como foco o diálogo com a sociedade e veículos de comunicação, o apoio técnico a novas diretrizes e políticas voltadas para o tema, promovendo também a formação de porta-vozes, servidores e prestadores de serviço.
Entre as ações iniciais voltadas para promover a comunicação antirracista no governo, no 29 de novembro, MIR e SECOM realizarão o webinário ‘Racismo na Internet: evidências para formulação de Políticas Digitais’, evento, que integrará os trabalhos do GTI de comunicação social antirracista, e que vai reunir Ministérios, órgãos públicos, universidades, pesquisadores, sociedade civil organizada, comunicadores sociais e setor privado para tratar medidas de proteção a vítimas de violação de direitos nos serviços digitais de comunicação.
O Festival Afrofuturismo está chegando à sua quinta edição e vai agitar o Centro Histórico de Salvador nos dias 20 e 21 de novembro de 2023. Organizado pelo Hub de Inovação Vale do Dendê, o evento, considerado o maior de futurismo da América Latina, contará com palestrantes nacionais e internacionais discutindo o tema “De Volta para o Futuro”.
O Ifood é uma das marcas patrocinadoras e trás para o festival um pouco da culinária que pode ser encontrada no aplicativo para os dois dias do evento.
A Vila iFood Acredita será composta por dois espaços dentro da Praça Tereza Batista (Pelourinho) durante o festival. O primeiro terá nove barracas de empreendedores/as cadastrados/as no iFood Acredita, que irão comercializar diversos produtos, desde acarajé a feijoada, e o segundo, será dedicado a painéis e talks.
A base de cadastro no iFood Acredita foi utilizada para a seleção dos empreendedores. “Verificamos empreendedores que tiveram uma boa curva ao longo do programa com objetivo de mantê-los engajados na crescente, além disso, optamos por tornar a base mais diversa possível”, informou Michel Oliveira, integrante do Time de Equidade do iFood
Nomes da gastronomia baiana, como Deliene Mota, do Restaurante Encantos da Maré, estarão presentes na atividade. Deliene também estará no painel “Como a tecnologia pode ajudar no empreendedorismo”, programado para o dia 21/11, segundo e último dia do evento.
Confira lista completa dos empreendedores presentes no Festival Afrofuturismo
SERVIÇO: Festival Afrofuturismo – Ano V I 20 e 21 de novembro no Pelourinho I ingressos R$ 60,00/R$ 120,00 (passaporte individual segundo lote) à venda no Sympla