A Cultne, maior acervo audiovisual sobre a cultura negra na América Latina, foi reconhecida na terça-feira (30) como manifestação da cultura brasileira pela Comissão de Educação e Cultura do Senado. O projeto de lei segue agora para sanção presidencial.
Criada no Rio de Janeiro, a organização sem fins lucrativos, fundada por Dom Filó, é dedicada à memória e à história da população negra. Além de reunir um vasto acervo audiovisual, a instituição também disponibiliza conteúdos em uma plataforma de streaming, ampliando o acesso do público à produção cultural negra.
O projeto (PL 2.345/2023), de autoria da deputada federal Benedita da Silva (PT-RJ), já havia sido aprovado na Câmara dos Deputados e recebeu parecer favorável do senador Humberto Costa (PT-PE) na Comissão do Senado. O texto prevê apoio a programas e recursos que garantam a preservação, manutenção e difusão do acervo, fortalecendo o fomento à cultura negra e o acesso a diferentes camadas sociais.
Para Humberto Costa, a Cultne cumpre um papel estratégico na valorização da herança cultural afro-brasileira. “Essa atuação contribui para o combate a todas as formas racismo, à invisibilidade cultural e à desigualdade social”, afirmou.
Segundo ele, a instituição também fortalece políticas públicas, programas de inclusão social e iniciativas que ampliam a circulação de obras de artistas negros. “A Cultne não apenas preserva e celebra a riqueza da cultura afro-brasileira, mas também atua como instrumento de empoderamento social e afirmação da cidadania”, destacou.
Há noites em que a cidade parece se curvar diante de um artista. No Theatro Municipal, o Rio de Janeiro se vestiu de memória e futuro para receber Jorge Aragão. Não era apenas um concerto, era uma travessia por cinco décadas de palavras que viraram canções, de versos que se tornaram bandeiras, de melodias que nos ensinaram a resistir.
Aragão entrou em cena como quem ocupa um território que sempre lhe pertenceu. Sua presença não é feita de gestos grandiloquentes, mas de uma sofisticação rara, de um pensar profundo que carrega no corpo a inteligência de quem sabe: cada samba é também uma leitura do Brasil. Ele não apenas escreve, ele decifra, revela, nomeia aquilo que muitos insistem em ocultar; nosso povo ama.
Naquela noite, não se aplaudiu somente um repertório. A plateia saudou a vida de um poeta que fez da caneta uma arma delicada, capaz de ferir a indiferença e ao mesmo tempo acariciar a alma. Canções como Malandro, Vou Festejar e Identidade soaram como documentos vivos de um tempo, lembrando que Jorge Aragão é guardião de uma herança e construtor de caminhos novos.
Convidados se revezaram no palco — Zeca Pagodinho, Liniker, Péricles, Xande de Pilares, Alcione, Raphael Logam — mas a grandeza da noite estava no fio invisível que unia todos, a história que nascia da voz do próprio Aragão. E quando suas filhas surgiram para abraçá-lo, ficou claro que a celebração era também íntima, familiar, uma partilha de afetos diante de um país inteiro.
A história do samba não pode ser contada sem ele. E, ao ocupar um palco marcado pela tradição erudita-hegemônica, Jorge Aragão mostrou que sua poesia não conhece fronteiras. O mestre trouxe a música erudita negra brasileira; o samba, com filosofia, elegância e consciência. É um Brasil que insiste em existir apesar de tudo.
Naquela noite, não vimos apenas um show. Assistimos a um marco histórico. E saímos dali com a certeza de que Jorge Aragão não canta apenas para nós, mas por nós.
Augusto Nascimento, filho de Milton Nascimento, revelou que o pai foi diagnosticado com demência por corpos de Lewy, um dos tipos mais comuns da doença, em entrevista à revista Piauí publicada nesta quinta-feira (2). Segundo Augusto, ele percebeu que Milton apresentava dificuldade para lembrar acontecimentos recentes, olhares fixos e repetição rápida de histórias, o que gerou apreensão na família.
Preocupado, Augusto procurou o clínico geral Weverton Siqueira, que acompanha o cantor há dez anos. Em abril, Milton foi submetido a uma série de testes neurológicos. O médico, preocupado com os resultados, solicitou exames complementares.
O filho contou que decidiu fazer uma viagem de motorhome pelos Estados Unidos com Milton para aproveitar o momento. O médico comentou que, se fossem viajar, aquele era o momento certo. Milton falou para todos “como se tivesse sido a melhor coisa da vida dele”, disse Augusto na entrevista.
A demência por corpos de Lewy provoca a morte das células nervosas do cérebro, com sintomas semelhantes aos do Alzheimer e também alterações motoras parecidas com as do Parkinson. Milton já havia recebido anteriormente um diagnóstico relacionado à doença.
O cantor se aposentou dos palcos em 2022 após a turnê ‘A Última Sessão de Música’, que percorreu o Brasil com apresentações finais. Mesmo afastado dos palcos, Milton continuou ativo na música, gravando participações em álbuns, incluindo um disco com Esperanza Spalding.
Com direção e atuação de Antonio Pitanga, o filme ‘Malês’, estreia nesta quinta-feira (2) nos cinemas do Brasil. O longa transporta o público para a Salvador de 1835, palco daRevolta dos Malês, quando africanos muçulmanos organizaram o maior levante contra a escravidão no Brasil.
De acordo com a sinopse, a produção apresenta as difíceis condições de vida de homens e mulheres negros no século XIX. A revolta, que aconteceu no final do Ramadã, reuniu africanos escravizados e libertos em um levante histórico que, apesar da repressão violenta, permanece como símbolo da luta pela liberdade e pela dignidade da população negra.
A narrativa começa no Reino de Oyó, em 1830, quando Dassalu (Rocco Pitanga) e Abayome (Samira Carvalho) têm o casamento interrompido por uma invasão. Capturados e separados, os dois são levados ao Brasil pelo tráfico atlântico. Em Salvador, Dassalu é vendido para a cruel fazendeira Mamãe A (Patrícia Pillar) e encontra no líder Ahuna (Rodrigo de Odé) forças para resistir e tentar reencontrar sua noiva.
Antonio Pitanga interpreta Pacífico Licutan, liderança real do movimento que reforçava a união de diferentes tribos e religiões contra a escravidão. Outros personagens históricos também estão presentes, como Sabina (Camila Pitanga), Manoel Calafate (Bukassa Kabengele), Vitório Sule (Heraldo de Deus) e Luís Sanim (Thiago Justino). O elenco traz ainda Wilson Rabelo, Edvana Carvalho e Indira Nascimento em papéis que revelam diferentes visões da resistência e da vida negra naquele período.
“Mostrar a crueldade e a violência da maneira que esses negros foram tratados é necessário. Não era uma violência gratuita, era parte do contexto e da narrativa que “Malês” está contando. A gente teve que ter cuidado, eu e a roteirista Manuela Dias, para mostrarmos a real situação dos anos do século XIX. São cenas necessárias de serem mostradas, não como um veículo de venda, de aproveitamento, de promoção. O filme é exatamente uma proposta narrativa de você descortinar e dar luz à escuridão, e revelar a realidade vivida no século XIX”, afirmou Antonio Pitanga.
Filmado em Salvador, Cachoeira (BA) e Maricá (RJ), o longa tem produção de Flávio Ramos Tambellini, fotografia de Pedro Farkas e produção associada de Cacá Diegues e Lázaro Ramos. A realização é da Tambellini Filmes, em parceria com Obá Cacauê Produções, Gangazumba Produções, RioFilme e Globo Filmes.
O SESC Consolação recebe, em outubro, a edição especial de 10 anos de “Guardei no Armário – O Talk Show ao Vivo”, projeto criado por Samuel Gomes, escritor, palestrante e vencedor do Shark Tank Brasil – Versão Creators 2025. Pela primeira vez em versão presencial, o talk show ocupará o Centro de Pesquisa Teatral (CPT) às quintas-feiras, sempre às 19h, reunindo convidados de grande representatividade.
A temporada inicia em 09/10 com Érica Malunguinho, que compartilha sua infância e criação, trazendo a família como pano de fundo de sua trajetória política e afetiva. Na semana seguinte, 16/10, João Silvério Trevisan revisita momentos de autoaceitação e descobertas, refletindo sobre a importância da literatura e da militância na formação de sua identidade. 23/10, Giovanna Heliodoro conduz a conversa a partir de três fotografias marcantes, que inspiram reflexões sobre memória, corpo e vivência trans no Brasil contemporâneo. Por fim, 30/10, Rodrigo França encerra a temporada com uma proposta interativa, promovendo a participação ativa do público e a construção coletiva do diálogo.
Idealizado em 2015, o Guardei no Armário nasceu como canal no YouTube para compartilhar histórias de aceitação, identidade e diversidade. Ao longo de uma década, o projeto inspirou milhares de pessoas e consolidou-se como o maior acervo de relatos de “saídas do armário” do mundo, com mais de 130 entrevistas publicadas, 2 milhões de visualizações, 44 mil seguidores, livro homônimo lançado pela Companhia das Letras e palestra de mesmo nome. Agora, chega ao palco para proporcionar ao público uma experiência de escuta, afeto e troca ao vivo.
Ao longo dos anos, o projeto evoluiu de um espaço de entrevistas íntimas para um ecossistema de narrativas diversas, guiado pela urgência da representatividade e por uma comunicação afetiva e transformadora. Questões como saúde mental, fé, família, relações afetivas, luto, autoestima, trabalho e educação atravessam os episódios de forma interseccional, ampliando os debates para além da esfera individual.
“Para ser quem eu sou hoje foi preciso muita coragem. Coragem se faz com uma rede de apoio. Com meus pais me apoiando, eu enfrento o mundo inteiro”, afirma Samuel Gomes, filho de uma família religiosa e conservadora da periferia de São Paulo, que transformou narrativas de dor em histórias de amor, ascensão e fé. “Cada passo que damos na direção da inclusão e da representatividade é uma vitória para todos nós. Estou imensamente grato por fazer parte dessa mudança e por poder inspirar outras pessoas a continuarem acreditando em seus sonhos e em suas histórias.”
Convidadas e convidados desta edição:
Érica Malunguinho (09/10): Educadora, artista plástica e ativista. Mestra em Estética e História da Arte pela USP, fundadora do Aparelha Luzia, quilombo urbano de referência na valorização da cultura preta. Primeira mulher trans eleita deputada estadual em São Paulo.
João Silvério Trevisan (16/10): Escritor e ativista LGBTQIAPN+, fundador do jornal Lampião da Esquina e do Grupo SOMOS. Autor de obras como Devassos no Paraíso e O Rei do Cheiro. Recebeu em 2023 o título de Doutor Honoris Causa pela UFU.
Giovanna Heliodoro (23/10): Historiadora, speaker do TEDx, apresentadora dos programas Conversas Que Inspiram e Engatilhadas. Consultora de diversidade, escritora e fundadora do Trans Baile. Premiada com Geração Glamour – Influenciadora com Causa em 2022.
Rodrigo França (30/10): Diretor, roteirista, dramaturgo, ator e escritor, referência na representatividade negra. Dirigiu séries e filmes como Barba, Cabelo & Bigode (Netflix) e Humor Negro (Globoplay/Multishow). Autor de Confinamentos & Afins, artista plástico e produtor cultural, idealizador do movimento Segunda Black.
Serviço:
Guardei no Armário – Ao Vivo
Local: Sesc Consolação – Centro de Pesquisa Teatral (7º andar)
Datas: 09, 16, 23 e 30 de outubro (quintas-feiras)
Horário: 19h
Classificação: 16 anos
Gratuito, ingressos distribuídos 30 minutos antes na Central de Atendimento
Programação:
09/10 – Érica Malunguinho: Infância, criação e família.
16/10 – João Silvério Trevisan: Autoaceitação e descobertas.
23/10 – Giovanna Heliodoro: Três fotos marcantes e relatos.
30/10 – Rodrigo França: Participação ativa do público.
Sem título, Nova Iorque, 1963. Foto de Gordon Parks. Cortesia da Fundação Gordon Parks.
Retratos marcantes de Malcolm X, Martin Luther King e Muhammad Ali, além de registros da vida cotidiana de pessoas negras em estados segregados dos EUA, estão na exposição ‘Gordon Parks: a América sou eu’, em cartaz a partir deste sábado (4), no IMS Paulista, com entrada gratuita. A mostra é a primeira retrospectiva do fotógrafo no Brasil e a maior já realizada na América Latina, reunindo cerca de 200 imagens produzidas entre as décadas de 1940 e 1970, além de filmes, periódicos, depoimentos e publicações.
Com curadoria de Janaina Damaceno, Iliriana Fontoura Rodrigues e Maria Luiza Meneses, a exposição ocupa dois andares do centro cultural e apresenta um panorama da trajetória multifacetada de Parks (1912-2006), que foi também músico, cineasta e poeta. Entre as séries consagradas em exibição estão ‘De volta a Fort Scott’ (1950) e ‘Histórias da segregação no sul’ (1956).
Considerado um dos nomes centrais da fotografia mundial, Parks documentou com sensibilidade e contundência a experiência da população negra nos Estados Unidos, denunciando o racismo e a desigualdade em uma obra que uniu arte e ativismo. Foi o primeiro fotógrafo negro contratado pela revista Life, em 1948, e construiu uma carreira marcada por prestígio internacional e engajamento político. Além da fotografia, também se destacou no cinema com obras como ‘Shaft’ (1971), clássico do movimento blaxploitation.
No sábado (4), às 11h, a equipe de curadoria participa de uma conversa com o público no cineteatro do IMS. A exposição é realizada em parceria com a Fundação Gordon Parks, responsável pela preservação de seu acervo.
Sem título, Harlem, 1963. Foto de Gordon Parks. Cortesia da Fundação Gordon Parks.
“A América sou eu”
O título da exposição — A América sou eu — foi tirado de um texto que Parks escreveu para a revista Life, em 1968, no qual aborda uma questão crucial para o movimento negro nos EUA: o fato da democracia americana ter se consolidado sob um regime de segregação racial, excluindo a população negra. O texto acompanhava uma série de fotografias nas quais Gordon registrava as condições precárias dos Fontenelle, família negra moradora do Harlem.
Com suas próprias palavras, mas também ressoando as da família Fontenelle, o fotógrafo afirma: “Entre nós dois há algo que vai além do sangue ou do preto e branco. Trata-se da nossa busca compartilhada por uma vida melhor, um mundo melhor. O solo sobre o qual protesto é o mesmo que você no passado protestou. As coisas pelas quais luto são as mesmas que você. As necessidades dos meus filhos são as mesmas que as dos seus. Eu, também, sou a América. A América sou eu. Ela me concedeu a única vida que tenho, então devo compartilhá-la em sua luta. Olhe para mim. Escute-me. Tente entender a minha luta contra o seu racismo. Ainda há uma chance para que consigamos viver em paz sob esses céus tão intempestivos.”
Sem título, Alabama, 1956. Foto de Gordon Parks. Cortesia da Fundação Gordon Parks.
Séries feitas no Harlem e no Sul segregado
A retrospectiva no IMS inclui as principais séries fotográficas realizadas por Parks, destacando como a produção sequencial de imagens é um aspecto importante em sua obra, com o objetivo de mostrar a complexidade dos sujeitos, documentando-os em sua integralidade, em contraponto a uma imagem única e estereotipada.
Uma das primeiras séries apresentadas, logo na entrada da exposição, é a dedicada a Ella Watson (1942). Quando produziu as imagens, Parks estagiava na Farm Security Administration (FSA), agência do governo americano, com o aporte de uma bolsa de estudos para artistas negros.
Ao chegar em Washington, D.C., Parks circulou pela cidade e, mesmo não estando em um território sulista, foi expulso e impedido de entrar em restaurantes, cinemas e de fazer compras em lojas. Para poder transmitir essa experiência, o fotógrafo decidiu fazer um ensaio com Ella Watson, funcionária do departamento de limpeza da FSA. Parks documentou diversas facetas da vida de Watson, como a convivência com os netos e sua importância na Igreja que frequentava.
Em uma das imagens mais marcantes da série, conhecida como American Gothic, Watson segura uma vassoura de um lado, e do outro um esfregão. A bandeira americana aparece no fundo, enfatizando a exclusão vivenciada pela comunidade negra nos EUA. Sobre a concepção da imagem, Parks relata: “Então, coloquei-a diante da bandeira americana com uma vassoura em uma mão e um esfregão na outra. E eu disse: ‘American Gothic’. Foi assim que me senti naquele momento. Não me importava com o que os outros sentiam. Era isso que eu sentia em relação aos Estados Unidos e à posição de Ella Watson dentro dos Estados Unidos”.
Foto de Gordon Parks no IMS (Crédito: Maria Clara Villas)
Em seguida, a retrospectiva apresenta as imagens que Parks produziu no bairro do Harlem, em Nova York, destino de milhares de pessoas que fugiam da segregação racial do Sul. Neste núcleo, são exibidas as séries Líder de uma gangue no Harlem (1948), que marca a estreia de Parks na revista Life, e Homem invisível (1952), uma parceria entre ele e o escritor Ralph Ellison, além do filme Shaft (1971), tido como uma das principais obras do blaxplotation, gênero cinematográfico que reivindica o protagonismo negro no cinema norte-americano.
Na série De volta aFort Scott (1950), também presente na mostra, o fotógrafo empreende um retorno a sua terra natal, no Kansas, sob o regime de segregação, onde conversa com ex-colegas de classe e registra o que aconteceu com eles que, em sua maioria, assim como o próprio Parks, migraram para o Norte em busca de melhores condições de vida, mas sem se livrar totalmente da violência e da precariedade imposta pela estrutura racista.
Outro destaque da exposição, Histórias da segregação no sul (1956), foi uma série encomendada pela Life, na qual Parks documentou o Sul segregado. Para poder produzir as imagens, o próprio fotógrafo passou por diversas situações de violência, sendo inclusive perseguido por nacionalistas brancos. Em imagens coloridas, Parks mostra o cotidiano das pessoas negras nesses estados, perpassado por diversos símbolos de violência e segregação, como as placas que sinalizavam lugares permitidos apenas para brancos. As fotografias denunciavam a realidade e os sistemas de dominação e, por outro lado, mostravam a complexidade e potência das pessoas, retratadas em toda sua plenitude e beleza.
No próximo andar, a retrospectiva exibe trechos de Com o terror na alma (The Learning Tree,1969), primeiro filme dirigido por um cineasta negro em Hollywood. De caráter autobiográfico, o longa-metragem é inspirado na infância de Parks no Kansas. As crianças, por sinal, assim como a religiosidade, são temas frequentes na produção do artista, como pontua a curadoria: “Com algumas de suas imagens, Gordon Parks devolve às crianças negras um lugar onde elas podem ser apenas crianças brincando com um besouro de estimação, saltando em poças d’água em bairros rurais ou nas periferias das cidades ou lendo com os seus pais.”
Rio de Janeiro, 1961. Foto de Gordon Parks. Cortesia da Fundação Gordon Parks
Parks e a relação com o Brasil
Outro aspecto importante ressaltado na retrospectiva é a presença de Parks no Brasil. Em 1961, o fotógrafo veio ao país a pedido da Life, para documentar a vida nas favelas cariocas. Ele acompanhou durante algumas semanas o cotidiano da família Da Silva, que migrou do Nordeste para o Rio de Janeiro e, em especial, de seu filho Flávio, que sofria de bronquite crônica. Devido à reportagem, a família recebeu doações dos leitores da revista e comprou uma casa no subúrbio, e Flávio foi levado para os Estados Unidos para tratar de sua doença. O caso teve grande repercussão na imprensa brasileira, e a revista O Cruzeiro enviou o fotógrafo Henri Ballot para fazer uma reportagem sobre a pobreza no Harlem.
Além da matéria, Parks realizou também seu primeiro filme, Flavio (1964). Narrado em primeira pessoa, com a voz de um menino, o curta faz parte da história do cinema da diáspora negra, sendo um dos primeiros filmes dirigidos por um homem negro em solo brasileiro. Na exposição, são apresentadas ainda imagens inéditas de Parks no Brasil: crianças jogando bola na lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio de Janeiro, e um culto evangélico.
Em cartaz até 1 de março de 2026, a mostra contará com uma ampla programação, além de um catálogo com imagens e textos da exposição. Ao visitar a retrospectiva, o público poderá mergulhar na obra e trajetória de Parks, marcada pelo compromisso político e pela cumplicidade com os fotografados, como pontua a curadoria: “A exposição é um reencontro com a história negra americana, mas também com um dos mais importantes fotógrafos do século XX, aquele que melhor documentou como a dignidade, o autocuidado e a beleza se tornaram formas de resistir a um sistema que desejava o aniquilamento de pessoas negras. Em sua obra, ele fala sobre subalternidade, sobre a estrutura racista americana, ao mesmo tempo que reforça narrativas de cumplicidade, de autoamor, de comunidade, de intimidade e confiança entre pessoas negras. Ele nos mostra nossas singularidades e a multiplicidade de nossas experiências como pessoas negras no mundo”.
SERVIÇO
Gordon Parks: a América sou eu
De 4 de outubro de 2025 a 1 de março de 2026
Entrada gratuita
7o e 8o andar
IMS Paulista
Avenida Paulista, 2424. São Paulo
Tel.: 11 2842-9120
Horário de funcionamento: Terça a domingo e feriados (exceto segundas), das 10h às 20h.
O cantor D4vd, que estava confirmado no line-up do Lollapalooza Brasil 2026, foi retirado do festival nesta quarta-feira (1º/10). A decisão ocorre enquanto autoridades nos Estados Unidos investigam a morte de Celeste Rivas, adolescente de 15 anos, cujo corpo foi encontrado no carro do artista em Los Angeles. O caso é tratado como homicídio, mas até o momento D4vd não foi formalmente acusado.
Segundo a polícia, o corpo da jovem estava em avançado estado de decomposição, dentro de um Tesla rebocado para um pátio de veículos. A investigação ainda está em andamento e detalhes sobre a dinâmica do crime não foram divulgados. A assessoria do cantor afirmou que ele está cooperando com as autoridades.
O Lollapalooza Brasil 2026 está marcado para 20 a 22 de março, em São Paulo. O festival não divulgou informações sobre possíveis substituições no line-up após a saída de D4vd.
A Natura marcou presença na Semana de Moda de Paris pelo segundo ano consecutivo e levou influenciadoras negras brasileiras para representar a potência da beleza nacional em um dos palcos mais prestigiados do mundo. A ação reforça o protagonismo da marca na cena internacional, com a linha Natura Una ganhando destaque nas discussões sobre moda, tendências e estética.
Entre os nomes que integram a experiência estão Camila Nunes, Amanda Mendes, Verônica Brito, Juliana Luziê e Mirella Qualha, ao lado de Jaqueline Silva, Anttónia, Alane, Camila Pudim, Tata Estaniecki, Sté Lemos e Marina de Alcântara. Juntas, as criadoras de conteúdo somam mais de 23 milhões de seguidores no Instagram e TikTok, ampliando a narrativa de diversidade e inovação da marca.
A programação em Paris inclui vivências exclusivas, como jantares em pontos turísticos, uma imersão olfativa na Symrise, uma das maiores casas de fragrâncias do mundo, e uma agenda especial no histórico Hotel Ritz Paris, onde já viveram nomes como Coco Chanel e Marcel Proust. Ali, a Natura promove uma masterclass de maquiagem inspirada nas passarelas, talks e uma completa Beauty Station de Natura Una, conectando sofisticação, ancestralidade e a força criativa brasileira.
“A moda é um movimento que abre caminhos para tendências e novos comportamentos. Estar em Paris, durante a semana de moda, é a oportunidade perfeita para reafirmarmos o DNA de Natura Una: unir alta performance, sofisticação, inovação e diversidade em um diálogo direto com a alta-costura. Queremos ocupar esses espaços globais e mostrar que a beleza feita no Brasil tem potência para inspirar o mundo”, afirma Débora Gentil, head de marketing de Natura Una.
*Fonte: Euromonitor International Limited, Beleza e Cuidados Pessoais edição 2025
O “Talentos Negros: guia de fornecedores negros na comunicação corporativa da Bahia” ganhou uma nova versão e agora chega como plataforma digital. Após duas edições em formato de e-book, o projeto permite o cadastro e a consulta de profissionais que atuam em áreas como design, marketing, jornalismo, relações públicas, fotografia, audiovisual e produção cultural.
Criado em parceria pelas agências Comunicativa, AsMinas Mkt e Carla Piaggio Design, o site busca valorizar as habilidades e experiências de profissionais negros, permitindo que eles atualizem suas informações ao longo do ano. Empresas, agências e iniciativas também podem fazer buscas por área de atuação e localização, tornando mais ágil o acesso a fornecedores.
“A nossa proposta é funcionar como uma vitrine de diversos profissionais competentes, desde iniciantes até gestores de projetos. O guia serve de ponte para que as pessoas se apresentem, compartilhem contatos, redes sociais e estabeleçam conexões, gerando oportunidades de contratação”, explica Carla Piaggio, designer e empreendedora.
Para Dayane Oliveira, CEO da AsMinas Mkt, o guia representa um espaço de visibilidade e fortalecimento de trajetórias. “Mais do que um repositório de informações, é um ambiente que almeja estimular retornos concretos aos participantes. Queremos que cada talento se perceba como parte de uma rede viva, na qual seu trabalho é reconhecido e valorizado. Acreditamos que, ao potencializar essas vozes, reforçamos a atuação coletiva e construímos um ecossistema de referências que inspira e transforma”, afirma.
O sócio-diretor da Comunicativa, Moisés Brito, reforça que o projeto vai além de ações pontuais em datas comemorativas. “A migração para uma plataforma ativa o ano inteiro é mais um passo para essa iniciativa continuar ganhando corpo, se transformando em uma grande rede de relacionamentos comerciais e furando a bolha do racismo institucional”, destaca.
O novo Guia Talentos Negros já está disponível. Interessados em se cadastrar ou consultar fornecedores da comunicação corporativa podem acessar a plataforma em: https://talentosnegros.com.br
A Netflix estreou recentemente a nova edição de seu reality show de casamentos, desta vez voltado para solteiros acima dos 50 anos. Intitulada “Casamento às Cegas – Nunca é Tarde”, a temporada tem repercutido das redes sociais e chama atenção por trazer pessoas que não desistiram de encontrar um amor.
A jornalista, apresentadora e influenciadora Val Benvindo retorna à série como celebrante oficial, pela segunda vez consecutiva, conduzindo os momentos decisivos em que os participantes dizem “sim” ou “não” ao matrimônio.
“Eu sempre fui fã do programa. Fiquei muito feliz quando recebi o convite no ano passado e poder retomar a esse lugar foi sensacional. Essa edição foi de muito aprendizado. A galera estava ali, se dedicando, para de fato criar um vínculo, e foram atrás disso, mas entendendo que poderia não acontecer, eles se colocaram em primeiro lugar e não seguiram. Falar de amor é sempre muito importante; independente do sim ou do não, todos estão celebrando e vivendo essa experiência”, diz Val.
Foto: Alexandre Pissaro
O formato segue a dinâmica das edições anteriores: os participantes se conhecem em cabines sem contato visual, e o pedido de casamento acontece antes mesmo do primeiro encontro presencial. O grande diferencial desta temporada é a faixa etária dos participantes, trazendo à tona debates sobre relacionamentos maduros e desafiando estereótipos sobre idade e amor.
Para Val, a representatividade é o destaque desta edição. “Eu acho que foi muito importante essa temporada, principalmente, se a gente fala de representatividade. As pessoas mais velhas se reconhecem e se veem, entendendo que também podem ir atrás de um amor, independente da sua idade. Todos podem e têm direito a amar, a idade não deve ser um empecilho para a constituição de uma nova família”, conclui a apresentadora.