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Sterling K. Brown, Da’Vine Joy Randolph e Winston Duke vão estrelar aclamada adaptação que remete ao caso de Emmett Till

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Fotos: Arnold Turner/Getty Images for NAACP; Getty Images for IMDb; e Divulgação

Três grandes nomes de Hollywood estão prestes a se unir em um projeto poderoso: Sterling K. Brown (This Is Us), Da’Vine Joy Randolph (Os Rejeitados) e Winston Duke (Pantera Negra) estão em negociações para estrelar a minissérie The Trees, adaptação do aclamado romance de 2022 de Percival Everett. A informação é do Deadline.

A produção está sendo desenvolvida pela UCP (Universal Studio Group) e o roteiro fica por conta de Marcus Gardley (A Cor Púrpura), que também atua como produtor executivo ao lado de Brown, Selwyn Seyfu Hinds, Abby Victor e o próprio Everett.

Descrita como um suspense ágil e provocativo, The Trees parte de uma série de assassinatos brutais na fictícia cidade de Money, no estado de Mississippi — onde o adolescente de 14 anos, Emmett Till, foi linchado em 1955. O mistério se intensifica quando, em cada cena do crime, é encontrado um segundo corpo: o de um homem que se assemelha com Till. Conforme os assassinatos se espalham por todo o país, dois detetives do Departamento de Investigação do Mississippi — papéis que devem ser vividos por Brown e Duke — tentam desvendar o fenômeno com a ajuda de um médico local que há anos documenta linchamentos nos EUA.

A série marca a segunda parceria entre Sterling K. Brown e o showrunner Selwyn Seyfu Hinds, após a recente estreia da minissérie Washington Black, lançada pelo Hulu nos EUA e disponível no Brasil pelo Disney+. Brown, que já tem uma carreira consolidada, acaba de receber duas novas indicações ao Emmy 2025 por ‘Paradise’, totalizando 12 indicações ao longo da carreira, além de já ter vencido três por ‘This is Us’ e ‘O Povo contra O.J. Simpson: American Crime Story’.

Randolph, vencedora do Oscar por ‘Os Rejeitados’, também já foi indicada ao Emmy por sua atuação em ‘Only Murders In the Building’. Enquanto Duke continua a expandir sua carreira após o sucesso como M’Baku no universo de Wakanda da Marvel, e feito outros grandes papéis como no filme ‘Nós’, de Jordan Peele.

‘Olhos de Wakanda’: nova série animada do Disney+ ganha trailer oficial

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Crédito: Marvel Animation

A Marvel Animation divulgou o trailer oficial de ‘Olhos de Wakanda’, série animada ambientada no universo do Pantera Negra, com estreia marcada para o dia 1º de agosto no Disney+. A produção executiva é de Ryan Coogler, o mesmo que dirigiu os dois filmes do herói de Wakanda.

A nova animação terá quatro episódios. A trama acompanha as jornadas de guerreiros wakandanos ao longo da história, numa missão global para recuperar artefatos de Vibranium que foram parar nas mãos de inimigos. Esses guerreiros fazem parte do Hatut Zeraze, um grupo de elite pouco explorado nos filmes anteriores.

A produção conta com a direção de Todd Harris e o elenco de vozes traz nomes como Winnie Harlow, Cress Williams, Patricia Belcher, Lynn Whitfield, Steve Toussaint, Anika Noni Rose e outros talentos.

Essa é a primeira produção fruto do acordo de longa duração entre a produtora de Coogler, Proximity Media, e a The Walt Disney Company. Outros projetos para o Universo Cinematográfico Marvel (MCU) já estão em desenvolvimento dentro desse contrato.

Veja o trailer abaixo:

Morango do amor vira hype, movimenta o afroempreendedorismo e chega até em ‘Vale Tudo’

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Foto: reprodução

Nos últimos meses, o morango do amor virou sensação entre os brasileiros, conquistando cada vez mais espaço nas redes sociais, restaurantes e nas plataformas de delivery. Segundo levantamento recente do portal Times Brasil, o número de restaurantes que oferecem essa iguaria no iFood saltou de cerca de 800 para mais de 10 mil em apenas um mês, um crescimento impressionante que revela como essa trend gastronômica tomou conta do mercado.

O morango do amor, fruto caramelizado envolto em uma casquinha crocante de caramelo que atinge temperaturas altas durante o preparo, virou uma oportunidade de ouro para quem trabalha com confeitaria, gastronomia artesanal e produção de doces. Esse crescimento exponencial tem tudo para beneficiar principalmente afroempreendedores que atuam no setor gastronômico, segmento que tem se mostrado cada vez mais forte e inovador no Brasil.

A demanda crescente por produtos diferenciados, artesanais e com apelo visual forte, como o morango do amor, cria uma excelente chance para pequenos negócios e cozinheiros independentes ampliarem suas vendas, conquistando novos clientes e aumentando a renda. Plataformas como o iFood são aliadas importantes nesse processo, possibilitando que esses empreendedores levem suas criações a um público muito maior, com facilidade de acesso e agilidade na entrega.

O sucesso é tanto que o doce viral acaba de chegar também à teledramaturgia. Segundo o jornalista André Romano, do site Observatório da TV, em matéria publicada nesta segunda-feira (28), a sobremesa fará parte da trama do remake de Vale Tudo, escrito por Manuela Dias. Na história, Poliana (Matheus Nachtergaele), sócio de Raquel Acioli (Taís Araujo), sugerirá que o restaurante Paladar inclua o docinho no cardápio para “driblar uma crise”. A autora já havia brincado com os pedidos dos fãs nas redes sociais: “Vocês estão doidos para eu botar morango do amor na novela, né? rsrs”.

Entretanto, essa oportunidade exige cuidado e preparo técnico. O chef Paulo Rocha chama atenção para os riscos envolvidos no preparo do morango do amor, já que o caramelo usado para envolver a fruta pode atingir até 145 graus Celsius, o que representa perigo de queimaduras graves caso não seja manuseado corretamente.

Além disso, o caramelo, quando endurecido, fica duro como vidro, podendo causar desconfortos e até ferimentos nos consumidores, como cortes na boca ou até quebra de dentes, caso não seja feito com técnica e qualidade. “Tem que estar muito seguro de como fazer essa técnica pra que não acabe virando um problema, sabe, a pessoa acabar se machucando… teve relatos de pessoas que cortaram a boca, que quebraram o dente”, alerta o chef.

Portanto, para quem deseja aproveitar o boom do morango do amor, o conselho é claro: invista em capacitação, pratique bastante e garanta que o produto seja seguro e bem feito antes de colocá-lo à venda. Essa postura garante que o empreendedor cresça de forma sustentável e conquiste a confiança dos clientes.

Com o crescimento acelerado do mercado de delivery e a expansão da gastronomia afroempreendedora, o morango do amor se apresenta não apenas como uma tendência de sabor, mas como uma verdadeira oportunidade para quem busca inovar, crescer e fortalecer sua presença no cenário gastronômico brasileiro.

Morre Dona Jacira, mãe de Emicida e Fióti

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Foto: Divulgação

A escritora, artista plástica e liderança comunitária Jacira Roque de Oliveira, conhecida como Dona Jacira, morreu nesta segunda-feira (28), aos 60 anos, em São Paulo. Ela estava internada em um hospital da capital paulista. A causa da morte ainda não foi divulgada, mas Dona Jacira convivia com Lúpus e realizava hemodiálise há mais de 25 anos. A informação foi confirmada por amigos da família à revista Marie Claire.

Mãe do Emicida e do Evandro Fióti, além de Katia e Katiane, Dona Jacira construiu uma trajetória marcada pela resistência, afeto e sabedoria ancestral. Nascida e criada na zona norte de São Paulo, ela primeiro ficou conhecida pelo público dos filhos, mas logo conquistou seu espaço como referência em arte, literatura e cuidado coletivo.

Sobrevivente de uma trajetória marcada por dores, Dona Jacira reinventou sua história a partir da maturidade, mergulhando na arte, nas raízes negras e na valorização dos saberes populares. Ela bordou para a coleção Herança (2017), da Lab Fantasma — marca de moda criada pelos filhos —, lançou sua autobiografia Café (2018), criou uma linha de bonecas feitas com retalhos descartados e também comandou um podcast “Café com Dona Jacira” sobre reflexões da vida.

Em 2023, quando quando lançou a segunda temporada do podcast, o Mundo Negro participou da coletiva de imprensa em sua casa, junto a outros jornalistas negros. Onde ela reafirmou ser uma “contadora de estórias”.

“Como eu sou uma contadora de estórias, eu estou sempre tendo que voltar lá atrás para entender como eu nasci, o que foi que fizeram comigo, porque eu sou a única testemunha que a cada vez que alguém me dizia ‘você não vai escrever’, ‘você nasceu para ser isso’, isso e isso’, essa voz me dizia ‘não é isso’. E foi preciso que eu crescesse e que depois que eu tivesse os filhos, e que eu passasse por uma série de coisas e os meus filhos começam cada um deslanchando para suas vidas e eu já havia jogado a toalha. Então eu disse, ‘bom, eu preciso ser aquilo que as pessoas querem que eu seja’. Então eu fui estudar, fui fazer enfermagem. Mas tem uma outra questão, toda vez que eu tomo um caminho que não é meu, Exu me diz assim ‘não é por aí’. Então eu fiquei 3 anos na enfermagem, dois anos ali, três anos ali. E toda hora essa voz dizendo ‘você vai melhorar’. E eu queria estudar. Eu não tinha livros. Os livros na minha casa, eles começam a chegar na minha casa desde então”, contou.

Dona Jacira se tornou um símbolo de força, memória e ancestralidade.

Após acusações, Leo Lins nega ter feito piadas sobre a morte de Preta Gil

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Fotos: Reprodução

Após ser acusado de fazer piada com a morte de Preta Gil, Leo Lins se pronunciou pela primeira vez sobre o caso. Em vídeo publicado no domingo (27), no YouTube, ele afirmou que teve suas falas distorcidas e tiradas de contexto pela imprensa.

“Essa semana, nós tivemos a perda da Preta Gil. Uma figura conhecida da música, dos blocos de carnaval, programas de televisão e, no meu caso, dos tribunais. Nós tivemos alguns processos. Pessoalmente, nunca tive problema nenhum com ela. Profissionalmente, eu fiz algumas piadas, e creio que ela teve os seus motivos para não gostar de mim”, iniciou.

Segundo Lins, as últimas piadas sobre a cantora datam de dois anos atrás, quando Preta anunciou o diagnóstico de câncer de intestino. Ele afirmou que chegou a enviar uma mensagem à artista na época em sinal de apoio. “Minha figura pública é comediante. Eu faço piadas no local de fazer piadas. Sei que nem todas as brincadeiras são para todas as pessoas e, conforme eu disse no meu próprio julgamento, eu procuro tomar os cuidados para que elas não cheguem em quem pode se machucar com elas”, justificou.

O humorista também comentou que pensou em publicar uma homenagem à Preta, mas desistiu com receio de ser acusado de oportunismo. “Mas chegou num ponto em que falei: ‘Não posso ignorar’. Porque pegaram uma notícia de um mês atrás, feita de forma muito desleal e desonesta, sobre piadas escritas dois anos atrás, para agora publicar notas dizendo que eu estou fazendo piadas sobre a morte da Preta Gil, chegando a atribuir a mim uma fala com aspas, dizendo que eu falei ‘quem me processar vai pegar câncer e morrer’. Eu nunca disse isso. E nem fiz piadas sobre a morte da Preta Gil.”

Para finalizar o vídeo, Leo Lins enviou condolências à família da cantora, e decidiu encerra com uma nova piada. “Me despeço então com uma piada — para vocês que são meus fãs, e feita para vocês que não gostam de mim: fiquem tranquilos. A Preta Gil não vai mais me encontrar nem ouvir minhas piadas, porque ela está no céu e eu vou pro inferno.”

Em junho, Lins foi condenado a 8 anos e 3 meses de prisão, em regime inicial fechado, além do pagamento de multa. A Justiça o considerou culpado por praticar discriminação contra diversos grupos sociais, incluindo pessoas negras, com deficiência, nordestinos e outros.

Novas evidências revelam mais detalhes sobre infância de Luiz Gama e a história de Luiza Mahin

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Créditos: Wikicommons e Alberto Henschel

Documentos inéditos revelam novos detalhes sobre a infância de Luiz Gama, símbolo da luta contra a escravidão no Brasil, e a existência de sua mãe, Luiza Mahin. O intelectual negro nasceu livre em Salvador, em 21 de junho de 1831 — e não em 1830, como se acreditava. Ele foi vendido como escravizado pelo próprio pai aos 9 anos de idade, enviado ao Rio de Janeiro e, depois, a São Paulo, onde se alfabetizou, conquistou sua liberdade e se tornou um dos maiores defensores de pessoas negras escravizadas.

Pela primeira vez, registros históricos confirmam trechos da biografia do abolicionista. Segundo informações reveladas pela Folha de São Paulo, a comprovação vem de documentos guardados no Arquivo Público do Estado da Bahia: escrituras, testamento e um registro de batismo encontrados pelas pesquisadoras Lisa Earl Castillo, doutora em letras, e Wlamyra Albuquerque, historiadora e professora da UFBA (Universidade Federal da Bahia). As descobertas estão reunidas em artigo que será publicado na revista Afro-Ásia, do Centro de Estudos Afro-Orientais (CEAO) da UFBA.

Entre os achados está o testamento de Maria Rosa de Jesus, tia do pai de Luiz Gama, que confirma a origem do patrimônio familiar e aponta Luiza, descrita como nagô – grupo étnico da África Ocidental, como mãe de um menino chamado Luiz Gonzaga Pinto da Gama, “livre de toda a escravidão como se assim nascesse”.

O testamento também foi fundamental para que as pesquisadoras localizassem o registro de batismo de Luiz Gama, encontrado na freguesia de Santana, em Salvador. No documento, o pai, Antônio Agostinho Carlos Pinto da Gama, não aparece como genitor, mas como padrinho do menino — uma prática comum no período escravista.

No arquivo, o advogado também foi descrito como “pardo forro com três meses e meio de idade, filho de Luiza, escrava de Maria Rosa de Jesus”, contrariando a versão do abolicionista de que a sua mãe era uma africana livre, que havia sido presa por envolvimento em “planos de insurreições de escravos”, conforme ele relatou em carta ao também abolicionista Lúcio de Mendonça.

“Não existe nenhum indício de que ela tenha lutado na Revolta dos Malês ou na Sabinada. Tudo leva a crer que tenha sido vendida ou incluída em alguma transação feita pelo pai de Luiz Gama. E isso não diminui a importância histórica dela. Pelo contrário, isso a humaniza”, pontua Wlamyra Albuquerque”, disse Wlamyra Albuquerque à Folha de São Paulo.

Essa construção narrativa, segundo as pesquisadoras, pode ter sido uma forma de proteger a própria subjetividade diante do trauma. “Ele gera essa mulher, ele está criando essa narrativa. E a gente não quer dizer que a criação dessa narrativa é falsa. Tem a questão de serem lembranças de uma criança e tem a condição humana dele, que pode ter construído essa imagem para sobreviver emocionalmente”, completou Wlamyra.

Histórico do Genitor

As descobertas também ajudam a reconstituir a origem paterna de Luiz Gama. Seu pai, descrito por ele como fidalgo, que pertencia a “uma das principais famílias da Bahia de origem portuguesa”, e um “revolucionário em 1837”, pertencia a uma família com raízes em Santo Amaro, na Bahia.

Documentos mostram que, o pai de Ana Maria era desembargador, apesar de um certo prestígio e poder aquisitivo, Antônio Agostinho era um homem endividado, com histórico de jogos, conforme já havia relatado Luiz Gama, além de negociações de imóveis herdados. Em 1840, após perder quase todo o patrimônio, vendeu o próprio filho — um ato de traição tripla, segundo as autoras: como pai, como padrinho e como tutor legal da criança.

Para as pesquisadoras é urgente a importância de resgatar memórias apagadas pelo racismo. “A documentação apresentada constitui mais um passo na construção de um diálogo ponderado entre memória, mito e a pesquisa documental sobre as experiências do negro e suas lutas insurgentes no Brasil. E a pesquisa histórica tem papel central nessa dinâmica.”

Ryan, personagem de L7nnon, se torna o mais querido da novela ‘Dona de Mim’

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Foto: Manoella Mello/Globo

Uma nova pesquisa interna da TV Globo sobre a novela ‘Dona de Mim’ revelou a força do personagem Ryan, interpretado por L7nnon. O levantamento, que ouviu diferentes perfis de telespectadores, identificou uma torcida significativa pela reconstrução de vida do personagem que deixou a prisão, tenta se reaproximar do filho e retomar o convívio com a família.

A popularidade do personagem aumentou à medida que a trama passou a mostrar sua transformação. Após um início marcado pela criminalidade, Ryan agora lida com os erros do passado e tenta se reerguer em liberdade. As cenas de vulnerabilidade e emoção vêm mobilizando o público nas redes sociais, principalmente jovens.

Nos bastidores, o desempenho de L7nnon — fenômeno musical e estreante na dramaturgia — vem sendo amplamente elogiado. A entrega do artista ao papel, marcada por humildade e dedicação, tem reforçado o carisma que já o acompanha fora das telas. A Globo aposta nesse talento multifacetado para manter o bom desempenho de audiência da novela.

Diante dos resultados positivos, a emissora prepara novos desdobramentos para a narrativa de Ryan, que deve enfrentar dilemas familiares, reencontros marcados por tensões e a constante sombra de seu passado.

Boca de sino: da elegância dos bailes soul à potência preta dos looks de agora

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Se tem uma peça que atravessa o tempo com estilo e significado, essa peça é a calça boca de sino. No corpo preto, ela nunca foi só roupa, sempre foi enunciado. Muito antes de virar tendência em passarela ou figurinha carimbada em produções de moda, ela já fazia parte da afirmação estética do nosso povo. E é por isso que ela volta com tanta força agora: porque nunca deixou de ser nossa.

Nos bailes soul dos anos 1970, principalmente nas periferias do Rio de Janeiro e São Paulo, a boca de sino era item obrigatório. Ela vinha combinada com sapatos bem lustrados, camisas de gola pontuda e black power no auge. Mais do que visual: era sobre ocupar o espaço com dignidade, imponência e desejo de se destacar. Era sobre estar bonito em um país que insiste em negar beleza e elegância à população preta. Cada dobra larga na barra daquela calça era uma resposta à violência do racismo cotidiano. Um protesto em silêncio que ecoava na pista de dança.

A boca de sino também foi companheira de outras cenas pretas brasileiras: no pagode dos anos 90, nos palcos do samba, nos clipes de rap. Ela saiu dos salões dos bailes charme e foi parar nas quebradas, nos grupos de dança, nas fotos de família e nos programas de TV. A peça virou símbolo de quem ousava se vestir bem, com personalidade e sem medo do julgamento.

Hoje, esse retorno da boca de sino não é apenas uma nostalgia fashion, é uma reafirmação. A nova geração preta se apropria dela com novas combinações, misturas de texturas, recortes e referências. É vintage, mas é street. É ancestral, mas é futurista. E tudo isso faz sentido porque o corpo preto carrega essa capacidade de transformar memória em movimento. O que era resistência ontem, hoje é também afirmação de liberdade e estilo.

Ao vestir uma calça boca de sino, a gente não está só seguindo uma moda. A gente está vestindo história, memória, dança, som e luta. Está vestindo nossos mais velhos e também apontando para o que ainda vem aí. Porque quando o assunto é moda preta, o tempo não apaga: só atualiza.

Peça baiana de “Gota d’Água” estreia no Rio com atriz negra como protagonista

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Sucesso de crítica na Bahia, o espetáculo Gota d’Água da Cia Baiana de Teatro Brasileiro desembarca no Rio de Janeiro para uma aguardada temporada na Arena do SESC Copacabana, de 24 de julho a 17 de agosto. A nova montagem traz uma leitura contemporânea da clássica tragédia de Chico Buarque e Paulo Pontes, com raízes fincadas no cotidiano soteropolitano e protagonismo negro no centro da cena.

Com direção de Vinícius Lírio, a peça desloca a ação da favela carioca para um conjunto habitacional de Salvador e insere elementos da cultura popular do subúrbio, como lama, areia, redes de pesca e baldes, compondo um cenário simbólico e profundamente poético. A atriz Evana Jeyssan, mulher negra e premiada nacionalmente, vive Joana, personagem movida por dor, abandono e desejo de justiça. Em cena, ela contracena com Augusto Nascimento, também idealizador do projeto.

Joana é negra. Jasão, seu ex-companheiro, é branco. Essa diferença racial, destacada de forma explícita pela encenação, adiciona novas camadas de crítica à obra, escancarando questões de desigualdade, racismo estrutural e relações abusivas. Mais do que uma releitura, Gota d’Água se transforma em um manifesto sobre os corpos e as dores que seguem à margem, mas resistem com potência.

Com apenas dois atores em cena e músicas como “Basta um Dia” e a própria “Gota d’Água”, o espetáculo sustenta uma força emocional concentrada na atuação e na palavra, evocando uma tragédia popular que pulsa com temas urgentes: o papel da mulher negra na sociedade, a ausência do Estado, a estrutura racista das relações e o abandono como ferida histórica.

Reconhecimento nacional

A montagem estreou na Bahia e já passou por palcos como os Teatros Gregório de Mattos e Martim Gonçalves, além de festivais como o FIAC 14 e o Trama Festival de Teatro (MG). Aclamada pelo público e pela crítica, foi indicada a mais de 15 prêmios nacionais e rendeu a Evana Jeyssan os troféus de Melhor Atriz no 28º Prêmio Braskem de Teatro e no 21º Prêmio Cenym de Teatro Nacional. Também teve uma versão audiovisual exibida em festivais como FILTE 2021 e Teatro de Cabo a Rabo.

Pela primeira vez no Rio, a temporada representa um intercâmbio cultural entre as cenas baiana e carioca, com todas as sessões acessíveis em Libras.

GOTA D’ÁGUA – Cia Baiana de Teatro Brasileiro
De 24 de julho a 17 de agosto, no SESC Copacabana – Rua Domingos Ferreira, 160 – Copacabana, Rio de Janeiro
Quinta a sábado, às 20h | Domingo, às 18h
Entrada gratuita na estreia, com inscrição antecipada obrigatória:https://forms.gle/AH3kAfBWFmRCHryi7
Ingressos: R$ 30 (inteira), R$ 15 (meia), R$ 10 (associados SESC)
Todas as sessões contam com tradução em Libras

Ficha técnica
Direção: Vinícius Lírio
Codireção e elenco: Augusto Nascimento
Atriz protagonista: Evana Jeyssan
Direção musical: Luciano Salvador Bahia
Preparação vocal: Suzana Belo
Cenografia: Renata Mota
Figurino: Rino Carvalho
Luz: Larissa Lacerda e Victor Alves
Movimentos: Mônica Nascimento
Produção: Capricórnio Produções

Como nasceu o Julho das Pretas: da luta à mobilização nacional

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Foto: Divulgação/MNU

O Julho das Pretas tem movimentando as redes sociais. Mas você conhece a origem dessa história? Ou você estava achando que foram as redes sociais (quase deuses) que escolheram esse mês, aleatoriamente? Não. Não foi assim. O nascimento e batizado do mês de julho para marcar os movimentos de luta das mulheres negras no Brasil foi feito pelas protagonistas do movimento, por meio de articulação e organização social e política. E, falando nas protagonistas, estavam entre o elenco Lélia Gonzalez, Sueli Carneiro e tantas outras. Pois, como nos lembra Jurema Werneck: nossos passos vêm de longe! Se você, cara leitora / caro leitor, não conhece um ou dois desses nomes, não tem problema. Fica aqui, que você vai entender e conhecer essas estrelas (além do tempo). 

Para entender o Julho das Pretas, é preciso olhar para além das hashtags. Esse mês nasce da força histórica de articulação política das mulheres negras no Brasil, que transformaram suas vivências e teorias em organizações, comitês, núcleos, redes — enfim, num movimento social fundamental para nossa sociedade. Aqui, vamos revisitar alguns dos marcos dessa história, como o 1º Encontro Nacional de Mulheres Negras, em 1988, e a criação da Articulação de Organizações de Mulheres Negras Brasileiras (AMNB). Cada um desses momentos foi decisivo para que hoje pudéssemos nomear, celebrar e reivindicar essa história.

Mas vamos voltar um pouco no tempo, mais precisamente para as décadas de 1970. Em plena ditadura civil-militar, os movimentos negros e de mulheres, assim como outros movimentos sociais, estavam em pleno vapor. O ato de fundação do MNU (Movimento Negro Unificado) foi em 1978 — e as mulheres negras estavam lá. No movimento negro, lado a lado na luta. Mas, muitas vezes, ficavam atrás. Não porque queriam — mas porque o machismo fazia isso. Eram elas que organizavam, cuidavam, puxavam a base. Mas, nas decisões, quem falava eram os homens. No movimento feminista, encontravam outras barreiras. As mulheres negras estavam presentes, mas suas vivências não apareciam. A luta contra o machismo era urgente, sim — mas e o racismo? E a pobreza? E os corpos que nunca couberam no ideal branco de mulher? Ser mulher negra era viver numa interseção que ninguém queria ver. E foi desse apagamento duplo que nasceu a necessidade de construir outro caminho. Por nós. Com a nossa cara.

Um exemplo dessas tensões entre os movimentos aconteceu em março de 1979, no Encontro Nacional de Mulheres, no Rio de Janeiro. Na ocasião, a intelectual e ativista negra Lélia Gonzalez chamou a atenção para a importância da questão racial nas relações entre mulheres negras e brancas, lamentando que, na época, não houvesse o mesmo consenso sobre o racismo que existia em relação a outras pautas femininas. Lélia denunciou que o movimento feminista, ao negar o racismo, buscava esconder a dominação e a exploração que mulheres brancas exerciam sobre mulheres negras. Ela observou que, durante aquele encontro de 1979, as feministas brancas, mesmo alinhadas a ideias progressistas e de esquerda, não reconheceram a urgência de incluir a pauta racial. A unanimidade em torno da luta contra a exploração da mulher e do trabalhador desaparecia quando o tema era o racismo e a influência da raça na vida das mulheres negras.

Foi outra intelectual e ativista negra que tão bem sintetizou essas tensões. Foi Sueli Carneiro quem traduziu, com precisão política, essas tensões. Para ela, a luta antirracista precisava caminhar junto da luta feminista — não como complemento, mas como parte indissociável. E vice-versa. Era urgente enegrecer o feminismo e feminilizar o movimento negro. Sueli nos ensinou que enfrentar só uma parte da opressão era insuficiente.

Um marco fundamental para o movimento de mulheres negras foi a realização do I Encontro Nacional de Mulheres Negras, que aconteceu em dezembro de 1988, em Valença (Rio de Janeiro). Mas, para a concretização em nível nacional, foram meses de articulações municipais, estaduais e regionais. Em julho de 1988, Salvador sediou um dos marcos mais importantes da mobilização de mulheres negras no Brasil: o seminário “Mulher Negra Cem Anos Depois”, que reuniu cerca de 750 participantes. Organizado pela União de Mulheres do Nordeste de Amaralina, o evento abordou temas como mercado de trabalho, sexualidade, educação e trajetória histórica da mulher negra — desde a escravidão até o fim dos cem anos da abolição. Sueli Carneiro e Sonia Ribeiro contribuíram com análises fundamentais nesse processo. O seminário foi um dos principais impulsos para o I Encontro Nacional de Mulheres Negras, e suas participantes — vindas de entidades do movimento negro, feminista, sindicatos e associações — foram escolhidas em eventos preparatórios regionais.

Há quase 40 anos, o I Encontro Nacional de Mulheres Negras foi um passo fundamental para a luta pelos direitos diante das diversas formas de opressão. Passos coletivos — porque, para nós, o individual é coletivo e o coletivo é individual. Nas redes, nas ruas, nos sindicatos, no parlamento, nas novelas — juntas, de diferentes formas, construímos o movimento de mulheres negras com nossas vidas, militâncias e existências resistentes.

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