Com esse simpático jogo de palavras começa Caderno de rimas do João, livro infantil de Lázaro Ramos que acaba de sair pela Pallas Editora.
Inspirado no filho João, o ator, diretor, apresentador e autor Lázaro Ramos descobriu que, assim como as crianças, as palavras têm grande vontade de se divertir.
Ramos brinca com o significado das palavras, construindo um dicionário intuitivo de João. A obra mescla temas importantes para a infância, como família, valores, vida e morte, e temas cotidianos e contemporâneos.
Em Caderno de rimas do João, cada página de versos é acompanhada das ilustrações de Mauricio Negro
Um aplicativo na internet vai monitorar postagens nas redes sociais que reproduzam mensagens de ódio, racismo, intolerância e que promovam a violência. Criado pelo Laboratório de Estudos em Imagem e Cibercultura da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), o instrumento será lançado este mês e permitirá que usuários sejam identificados e denunciados.
De acordo com o professor responsável pelo projeto, Fábio Malini, os direitos humanos são vistos de maneira pejorativa na internet e discursos de ódio tem ganhado fôlego. “É preciso desmantelar esse processo”, defende. Por meio da disponibilização dos dados, ele acredita que é possível criar políticas públicas “que amparem e empoderem as vítimas”.
Encomendado pelo Ministério das Mulheres, Igualdade Racial e Direitos Humanos, o Monitor de Direitos Humanos, como foi batizado o aplicativo, buscará palavras-chaves em conversas que estimulem violência sexual contra mulheres, racismo e discriminação contra negros, índios, imigrantes, gays, lésbicas, travestis e transexuais. Os dados ficarão disponíveis online.
A blogueira e professora universitária Lola Aronovich relata ser vítima frequente de agressões e até ameaças de morte pela internet, por defender dos direitos das mulheres. Nos fóruns de discussão em que participa, várias mensagens de ódio são postadas.
Para a blogueira, o monitoramento dos ataques, a investigação e a punição dos autores são importantes para frear crimes, que chegam a extrapolar o mundo virtual. “Mensagens nas redes têm estimulado mortes e suicídios no mundo real”, disse. “Não podemos mais fingir que não acontece”, acrescentou.
Quem não expõe ideias na rede, não está livre de violência. Para a jovem Maria das Dores Martins dos Reis bastou ser negra e postar uma foto no Facebook ao lado do namorado, que é branco, para ser alvo de discriminação. A foto recebeu dezenas de comentários racistas e foi compartilhada em grupos criados especialmente para agredi-la.
“É como se fosse uma diversão para ele. Só que para quem sofre não é legal. Isso dói e machuca”, revelou, que, mesmo após ter denunciado o caso, não viu agressores condenados.
A atriz Taís Araújo foi alvo de mensagens racistas nas redes sociais. A Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro, por meio de nota, informou hoje (2), que a Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática (DRCI) vai instaurar inquérito para apurar o crime de racismo. A atriz será ouvida e os autores identificados serão intimados a depor. O racismo é crime no Brasil e, por lei, quem praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional pode ser condenado a reclusão de um a três anos e pagamento de multa.
Saiba onde denunciar crimes cibernéticos:
Site da Safernet: o site recolhe denúncias anôminas relacionadas a crimes de pornografia infantil, racismo, apologia e incitação a crimes contra a vida. Canal do Cidadão do MPF: o Ministério Público Federal recebe denúncias de diferentes tipos. A pessoa pode optar por manter os seus dados sigilosos ou não. A Procuradoria-Geral da República recomenda aos cidadãos apresentarem o maior número de provas para que o processo possa ter mais agilidade. Disque 100: o canal recebe denúncias de abuso ou violência sexual. O serviço é coordenado pelo Ministério das Mulheres, Igualdade Racial e Direitos Humanos. O Disque 100 funciona 24 horas por dia. As ligações são gratuitas e podem ser feitas de qualquer local do Brasil. A denúncia é anônima e as demandas são encaminhadas para as autoridades competentes.
O que devo fazer quando me deparar com um crime cibernético?
1) Guarde todas as provas e indícios possíveis
2) Tire fotos das denúncias, “print screen” e imprima o material
3) Registre as denúncias com o maior número de detalhes
4) Não compartilhe ou replique comentários ofensivos ou que incitem ao crime
5) Crie uma rede de proteção às crianças vítimas. Não permita que ela fique exposta aos comentários ofensivos nas redes sociais
Martin Luther King já profetizava sobre o poder da inserção dos negros em cargos ocupados majoritariamente por brancos e quão revolucionário é o seu trabalho, quando feito com excelência. Na época ele falava dos mordomos e empregadas domésticas que tinham a oportunidade de mostrar aos seus patrões brancos a competência, inteligência e profissionalismo dos afrodescendentes. Uma nova face dos negros, visto como sujos e intelectualmente incapazes pela sociedade racista americana dos anos 60.
Neste novo século, vejo que sua fala ainda é atual. Alcançamos novos postos, que vão além do serviço braçal e isso incomoda. Após os ataques racistas, a jornalista global e “musa” do tempo, Maria Julia Coutinho, deu uma resposta aos seus agressores, que eu achei lapidar. “Eu respondo ao racismo com meu trabalho e competência”. É a premissa de King.
Não minimizando a importância dos movimentos populares de luta contra a discriminação, mas o avanço em nível educacional e profissional do negro é tão importante quanto embates políticos. É aquele único professor universitário negro, ou gerente do banco, a comissária de bordo, a dentista.
Maju é famosa e amada e recebeu a merecida solidariedade do Brasil inteiro. Muitos passam pela mesma situação, sem esse suporte, mas não desistem. Eles de destacam por sua competência profissional, inteligência, dedicação e incomodam os racistas por isso. São os nossos guerreiros e guerreiras anônimas que diária e silenciosamente estão trazendo a diversidade para o mercado de trabalho, fazendo história e abrindo as portas para a nova geração de profissionais negros.
Em tempo: Racismo não é somente feio, nojento e vergonhoso. É CRIME!!
A jornalista Maju Coutinho e mais recentemente a atriz Taís Araújo, usaram sua fama para dar visibilidade a um crime que atinge dezenas de negros. O racismo no Facebook é uma realidade crescente e ele dispara em número de denúncias passando à frente de crimes como pornografia infantil, intolerância religiosa, incitação à crimes contra vida e xenofobia. Indicadores da Central Nacional de Denúncias de Crimes Cibernéticos (CND), divulgados pela Safernet Brasil, apontam um crescimento de 264,50% de 2011 para 2012 de crimes na maior rede social do mundo, 5.012 dessas denúncias, tratam-se de casos de racismo.
A certeza de impunidade é um dos fatores que levam o crime de ódio crescer a cada dia na rede social. “É frustrante quando a gente denuncia uma foto e o Facebook simplesmente não vê como racismo. Eu já denunciei umas 15 páginas e fotos e até hoje nenhuma foi removida”, lamenta a estudante de Administração Juliana Almeida. E a frustração dela parece ser a reclamação de muitas pessoas.
O racismo entra na categoria de crime de ódio dentro das violações dos “padrões da comunidades do Facebook” que afirma saber diferenciar o que é “um discurso sério e um discurso de humor” confirmando ainda não permite “ que indivíduos ou grupos ataquem outras pessoas com base em sua raça, etnia, nacionalidade, religião, gênero, orientação sexual, deficiência ou doença.”
Com posts intitulados “Os Índios são Racistas” e “Hitler, o Anti-Racista”, a página Orgulho Branco continua no ar com mais de 4 mil opções de curtir.
Fragilidades da lei mantém a impunidade
“Para que os investigadores consigam chegar aos responsáveis pelos crimes feitos nas redes sociais, é necessário que as evidências fiquem registradas nos servidores , informações como log, IP, dados de conexão do usuário, com data e hora do início e término da conexão que geralmente são apagadas depois de um período”, explica Daniel Teixeira, Advogado e Coordenador de Projetos, Centro de Estudos das Relações do Trabalho e Desigualdades – CEERT. Para sanar este problema, ele acredita que o aperfeiçoamento na legislação é fundamental. “O Marco Civil é um projeto de lei que pretende regularizar o uso da Internet no Brasil e no que diz respeito ao combate aos crimes cibernéticos o que acontece hoje, é que durante a investigação quando a policia solicita aos donos de sites e responsáveis por redes sociais, dados do IP dos seus usuários, eles alegam que as informações já foram deletadas por questões de espaço no servidor”, esclarece o advogado.
Em abril deste ano a Lei 12.735/12 (Lei Azeredo) incluiu um novo dispositivo na Lei de Combate ao Racismo (7.716/89) para obrigar que mensagens com conteúdo racista sejam retiradas do ar imediatamente, como já ocorre atualmente em outros meios de comunicação, como rádio, TV é veículo de comunicação impressos. “É preciso ter cuidado com esse imediatismo que pode comprometer a investigação em alguns casos, porque fica impossível chegar aos autores do crime se o conteúdo já não está mais no ar.”
No mês de agosto o CEERT protocolou uma representação no Ministério Público Federal pedindo apuração sobre as postagens perfil Percival Life Style 4, no Facebook. O perfil vem sendo utilizada como veículo de divulgação de conteúdo racista e preconceituoso.
De acordo com documento da entidade, trata-se da quarta versão do mesmo perfil que traz textos, imagens, vídeos e piadas de caráter racistas. De acordo com o boletim do CEERT “Após denúncias ao Facebook, o perfil tem sido retirado do ar, porém na sequência um novo é criado trazendo os mesmos comentários”.
Sofri racismo no Facebook e agora?
“Quando aconteceu comigo, eu entrei em choque, se não fosse à ajuda de amigos, não saberia o que fazer”, relata a estudante Cris Santana. Ela foi vítima de racismo, após ter feito um comentário em um site de humor e em resposta um dos comentaristas zombou da textura do seu cabelo crespo dizendo que “Bombril machuca”.
A princípio a vítima não precisa de um advogado para denunciar um crime de racismo ocorrido pela Internet. “A pessoa pode fazer uma carta e juntar com o print screen que será usado como materialidade, para provar a procedência do crime”, explica Daniel do CEERT. Caso a pessoa prefira um advogado e não tenha recursos a Defensoria Pública do Estado oferece um serviço de Combate ao Racismo.
Confira alguns sites onde você pode fazer sua denúncia sem sair de casa:
A empresária Silvana Saraiva investiu R$ 6 milhões na realização da Feafro, evento que começa amanhã, 29 de outubro e que trará a São Paulo representantes de vinte países africanos para conhecer empresas brasileiras. A dupla “Dois Africanos” será a principal atração musical da Feafro, no Expo Center Norte. Na reunião, segundo estimativas dos organizadores do evento, podem ser fechados negócios de até US$ 1,5 bilhão.
“Dois africanos” são a atração musical da FEAFRO
Organizada pela Apex, a terceira edição da feira poderá se beneficiar da desvalorização do real.“O câmbio tornou os preços mais competitivos no Brasil”, afirma Silvana. “Um dos projetos que os africanos pretendem negociar é a construção de 20 mil casas no Mali, com energia solar”, diz.
A empresária Silvana Saraiva
A FEAFRO tem como diretriz as relações entre o Brasil e os países do continente africano, pautadas no reconhecimento mútuo de potencialidades comerciais, tecnológicas e econômicas. Oferece oportunidade única às empresas e entidades que pretendam estreitar suas relações comerciais, culturais e institucionais.
Principais setores com potencial de negócios: construção e infraestruturas, energia, agronegócios, tecnologias, telecomunicações, serviços, indústria (alimentos, bebidas, móveis, eletrodomésticos, químicas, farmacêuticas e outros), investidores, empreendedores e franquias.
Serviço:
Local: Expo Center Norte
Endereço: Rua José Bernardo Pinto, 333 – Vila Guilherme
Data: de 20 a 31 de Outubro
Horário: das 13h às 20h
Link: www.feafro.com.br/
Começou ontem a maratona dos chef-mirins da versão brasileira do MasterChef Júnior. As crianças passarão pelas mais diversas provas, onde deverão mostrar suas habilidades para permanecer na disputa ao longo dos nove episódios.
“Para nossa alegria“, a comunidade negra está muito bem representada pelas cozinheiras fofíssimas Aisha e Daphne:
Daphne – 13 anos
Focada e muito segura na cozinha, ela adora o momento em que tem de finalizar o prato, pois ali enxerga o resultado do seu esforço. Começou a cozinhar aos seis anos e, atualmente, se aventura todos os dias na frente do fogão. É familiarizada com a culinária francesa, mediterrânea, brasileira e italiana. Tem habilidades com cortes de carne em geral. Seus hobbies são jogar capoeira, andar de skate, fazer ginástica rítmica e judô.
Aisha – 9 anos
Uma das crianças mais jovens do programa. Ela não tem medo de usar utensílios de adultos e a cozinha é uma verdadeira diversão para ela. Com ajuda da mãe, aprendeu a cozinhar aos cinco anos. Gosta de fazer sobremesas, mas também é ótima com carnes. Tira de letra o preparo de frutos do mar e de massas caseiras. Além de cozinhar, seus outros hobbies são jogar capoeira e andar de skate.
Confira o episódio completo do último programa:
https://www.youtube.com/watch?v=Y009j7OWhqY
Viagem para Disney
O primeiro colocado leva para casa o troféu MasterChef Júnior, uma viagem oferecida pela Decolar.com para a Disney com cinco acompanhantes, um curso de culinária, um vale compras do Carrefour de R$ 1 mil por mês durante um ano e um kit de eletrodomésticos Oster.
O segundo colocado também ganha um vale compras do Carrefour de mesmo valor por um ano.
O MasterChef Júnior vai ao ar todas as terças-feiras, às 22h30 na tela daBand com transmissão simultânea no aplicativo da emissora para smartphones.
A História do N.W.A.” (Straight Outta Compton) finalmente chega aos cinemas brasileiros amanhã, 29 de outubro.
Com direção de F. Gary Gray, de “Uma Saída de Mestre” e “Código de Conduta”, o drama conta a história de cinco jovens da cidade de Compton, na California, que decidem expressar suas frustrações através da música. As rimas sinceras e as batidas graves os levaram ao início de tudo, com o nascimento do grupo mais perigoso do mundo: Niggaz Wit Attitudes, ou N.W.A. Armados com suas letras, aparência e talento genuíno, Dr. Dre, Ice Cube, Eazy-E, DJ Yella e Mc Ren enfrentam as autoridades que querem mantê-los calados e iniciam uma revolução social no final dos anos 1980. No elenco principal, “Straight Outta Compton – A História do N.W.A.” traz O‟Shea Jackson Jr., Corey Hawkins e Jason Mitchell.
Na produção, dois dos membros originais do N.W.A. – Ice Cube e Dr. Dre – são acompanhados por Tomica Woods-Wright, Matt Alvarez, Gray e Scott Bernstein.
A primeira dama americana Michele Obama, corre o país promovendo a saúde a ressaltando a importância de se valorizar a educação.
Na semana passada ela fechou uma parceria com o jogador de basquete LeBron Jame durante um evento na Universidade Akon, onde ela não poupou elogios ao atleta. “Nós na Casa Branca, amamos você e não é só por sua atuação em quadra, mas pela pessoa que você é”.
Os dois agora tocam um projeto para incentivar os jovens a continuarem os estudos e irem para faculdade. O projeto é chamado #reachhigher e pretende atender principalmente os jovens que não contam com esse incentivo em casa e tem que sozinhos lidar com a burocracias para tentar uma vaga em uma universidade. O jogador do financiará quatro anos de estudos aos alunos que de qualificarem.
A 40ª edição do SPFW, que está acontecendo em São Paulo, e que comemora os 20 anos do calendário oficial da moda brasileira termina amanhã nós selecionamos alguns looks dos negros e negras que levaram cor, estilo, beleza e atitude para o evento. As fotos são do fotógrafo Moah Buffalo.
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*fotos originalmente publicadas no site americano Afropunk.
Ninguém perguntou sobre os corpos negros ensanguentados no chão
Por Higor Faria
Durante as férias de janeiro, Paulo nasceu numa fazenda de soja no interior de Goiás. A bolsa estourou e sua mãe não teve tempo de correr para o hospital fazer a cesária como o médico havia planejado.Quem fez seu parto foi a sogra do caseiro, uma mandigueira das fortes. “A parteira que trouxe o pretinho herdeiro da soja ao mundo”, como diziam os racistas que cercavam aquele casal. E ainda emendavam num “onde já se viu?!”. Paulo cresceu, mas não muito. Foi pra capital cursar agronomia, pois aprendeu que seria o mais certo para tocar bem os negócios da família. Na faculdade, percebeu que não havia outros negros na sua turma, alguns poucos em outros semestres do seu curso e um pouquinho mais se juntasse todos de toda a universidade. O ambiente era hostil, mas dava para superar. Já havia se acostumado a ser o único negro do lugar.
No semestre que se iniciava, Paulo pegou uma matéria noturna, a primeira de sua vida acadêmica. Até pensou em não ir no primeiro dia de aula para não ter que aguentar aquela baboseira de apresentação. Cochilou e acordou atrasado, vestiu qualquer roupa, entrou no carro e foi. No caminho, percebeu que a camisa tinha espichado depois de lavada e os shorts estavam meio sujos — “Merda!”, pensou “se eu voltar pra casa não vou mais para a faculdade, o jeito é ir assim mesmo. Foda-se!”. Estacionou, desceu e se lembrou do celular que tinha ficado no porta-luvas. Voltou e, ao entrar no carro pela porta do passageiro para pegar o telefone, ouviu um disparo. Virou-se assustado, viu dois policiais mirando a arma para ele que, em seguida, gritaram “Mãos ao alto, marginal”. Paulo paralisou. Não conseguiu levantar os braços. O policial repetiu o que havia berrado e, antes que Paulo tentasse levantar as mãos, recebeu três tiros no peito. Ninguém perguntou o que Paulo fazia ali: corpo negro ensanguentado no chão.
Léo tinha 18 anos e era vendedor de bebidas na porta das baladas, as vezes passava alguns ilícitos também para complementar a renda. As vendas até iam bem, obrigado. Ele cantava durante o esquenta que os clientes faziam na porta da festa. Isso chamava atenção da galera, animava a “playboyzada” e até rendia uns beijinhos com as “minas”. Na verdade, ele queria ser artista reconhecido e famoso, compôs uma música para cantar com Carlinhos Brown — seu ídolo que, como Léo, usa dreads, é preto e sempre tá de sandálias. Todos gostavam do som de Léo. Porém, ele não tinha tempo para se dedicar somente à música. A mãe contraiu trombose nas duas pernas e sua pensão que não era alta ia toda na prestação do lote que compraram num bairro de Salvador. Léo precisava cuidar da mãe e de duas irmãs mais novas. E isso incluía alimentação, água, luz, transporte, educação e todas essas coisas se precisa para sobreviver.
Fecharam a balada que mais rendia vendas para Léo. A “playboyzada” lhe disse que outra ia abrir num bairro classe-média não muito longe dali. Parte dos seus clientes estariam lá, rapidamente ele conquistaria outros — não tinha tanto problema. Léo estava confiante. E a noite foi boa. Lugar novo atrai muita gente. Deu pra vender bastante, só as “minas” que não olhavam para ele. “Não posso reclamar”, pensou. Quando estava juntando seu isopor e as latas de cerveja para ir embora, ele avistou uma carteira no chão. Honesto, achou melhor entregar na portaria da balada. Guardou suas coisas na carreta e, poucos antes da entrada, foi barrado por dois brutamontes que estavam na porta da balada. Mal disse para que veio e os seguranças logo avisaram que ali não era lugar de preto. Léo, que não era de aguentar racismos, começou a bater boca. Dada a diferença entre ele e os dois gigantes, a discussão beirava a mais baixa covardia e piorou quando um dos seguranças sacou a arma e atirou em Léo. A polícia demorou a aparecer e inventaram qualquer motivo ligado à legítima defesa. Estava tarde e um dos seguranças conhecia o policial: mal fizeram uma investigação. Ninguém perguntou porque Léo estava ali: corpo negro ensanguentado no chão.
É sexta-feira e, religiosamente, Isaque se veste de branco e mal sabe porque. Na verdade sabe, mas prefere fingir que não para não ser vítima de intolerância, diz que é um costume de família — o que não deixa de ser verdade. Acostumou-se a se vestir assim e descobriu que fica bem de branco. Mesmo sendo difícil mantê-las limpas (lá onde mora não tem asfalto e venta muita poeira), fazia questão das roupas brancas porque “dá um contraste legal”na pele preta. Desceu o morro ouvindo as piadas de sempre, chegou na escola e continuou ouvindo as mesmas piadas. Até o professor se arriscou num trocadilho infame, usando Cuba, mais médicos e macumba. A sorte (dos outros) é que era dia de paz. Ahhh se fosse quarta-feira, dia de dendê… Isaque já tinha dado resposta a todos. Nunca teve muita paciência mesmo.
Ele tinha 13 anos e não sabia bem o que queria ser da vida. Normal não ter ideia de profissão nessa idade. Sabia que queria ser rico e ter poder na sociedade. E estudava muito, porque disseram para ele que, quando não tem perna pra futebol e nem sabe cantar, só assim que “preto cresce na vida”. Ele não entendia bem como outras pessoas negras que não tem esses dois talentos não aparecem nos lugares de dinheiro e poder. “Será que não conseguem?”, pensou, mas não se deixava abater e logo se motivava “Serei o primeiro então”. Voltando da escola com um grupo de amigos, um coleguinha branco começou a torrar a pouca paciência de Isaque . Sabia que não deveria revidar, mas os colegas o desafiaram e ele não aceitava perder. Nunca! Foi pra cima do seu adversário e lá começaram uma briga desengonçada. Coisa de criança. Apesar de ser menor, Isaque levava a melhor na disputa. Duas senhoras viram e disseram a um guarda que estava na esquina que um negão estava batendo num menino-de-bem (leia-se branco) — aumentativo típico do racismo fofoqueiro. O policial correu e viu que o menino branco parecia muito com seu filho. Corou de raiva, vermelho feito um camarão. Gritou e a molecada correu. Cada um para um lado. O policial perseguiu Isaque e, vendo que não ia alcançar o menino que se movimentava como um raio, atirou e acertou as suas costas. Isaque urrou como um trovão e um vento forte cortou a cidade. Ninguém perguntou porque Isaque brigava: corpo negro ensanguentado no chão.
Eduardo é jovem, branco e está vivo… A história dele dura mais que dois parágrafos e são usadas reticências. Mal sabe ele que tem mais oportunidades do que os jovens negros. Ninguém perguntou, mas Paulo, Léo e Isaque têm mais de chances de serem mortos do que Eduardo.
Higor Faria é preto, publicitário, estuda masculinidade negra e escreve no https://medium.com/@higorfaria