Anualmente a Levi’s® comemora o aniversário do jeans que deu inicio a tudo, o jeans original 501®. 20 de maio de 1873 é a data de registro da patente da Levi’s® do bolso com rebites e todas as pessoas que já utilizaram um jeans original 501® contribuíram com sua história constante de mudança. Além de SZA, as convidadas foram Tracee Ellis Ross, Holland Taylor, Sarah Paulson e Amber Valletta.
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Essa temporada traz uma exclusividade: A Coleção 501 Day Levi’s x karla. 501® é o produto original que pode ser customizado. Os jeans 501® têm sido customizadas desde sempre, das minas da Califórnia até Woodstock e Coachella. Por isso é natural que as customizações da Karla Welch sejam baseadas no 501®.
A Levi’s® fez uma parceria com Karla, que é stylists, visionária criativa e fundadora do x karla, em homenagem ao Dia do 501®, para que desse seu toque criativo na icônica 501® e em vários outros clássicos da Levi’s®.
“É tudo muito focado na customização […] São designs originais, baseados nos parâmetros de uso da 501® ou outros padrões existentes da Levi’s®. Eu quis imaginar como seria o futuro do vintage“, disse Welch. No entanto, o objetivo final foi mostrar o incrível alcance de uma peça tão duradoura quanto o 501® da Levi’s®. “Um bom design sempre permanece. Acho que essa é, provavelmente, a peça mais icônica de roupa. E ela vai resistir ao teste do tempo“, finaliza.
Juntos, Levi’s e Karla criaram uma série de belos retratos com Amber Heard, Amber Valletta, Hailey Baldwin, Yara Shahidi, Michelle Monaghan, Busy Philipps, Sarah Paulson, Holland Taylor, Tracee Ellis Ross, America Ferrera, SZA, Courtney Eaton, Ke’Andra Samone, Little Big Town’s Karen Fairchild & Kimberly Schlapman, Karen O, Lisa Love, Soko, Erica Cloud, Angela Davis, Carolyn Murphy, Mackenzie Davis, Natalie Manuel Lee, Judy Greer, Laura Brown, Yael Cohen Braun, Clementine Welch, Sophie Reed e Karyn Hillman e Jen Sey da Levi’s®. O vídeo da série de retratos em movimento inclui a faixa “Yang Yang” de Yoko Ono, generosamente doada por ela em apoio ao Everytown.
O bolso vermelho patenteado Levi’s® x karla 501® estará disponível em lojas da Levi’s® com Tailor Shops para compra e customização.
Que alternativa pode ser o homem preto, nas relações hetero-afetivas, para uma mulher preta que esteja (por qualquer que seja o motivo) só, retirada do mundo; isolada e, quase sempre, desprovida de uma vida afetiva e física que se comprove plena, constante e minimamente saudável?
Pode o homem preto ser entendido e visto como o promotor supremo do encontro de uma mulher preta com o seu vazio existencial?
O homem preto africano e os seus descendentes pretos afrodiaspóricos também tiveram os seus valores existenciais e milenares corrompidos pelo flagelo da invasão européia na África. O periodo escravocrata trouxe danos profundos e de difícil ajustamento na percepção que um homem preto pode ter sobre si mesmo e, por extensão, sobre as mulheres de seu eixo comunitário. Os reflexos da opressão sistemática daqueles séculos podem ser sentidos até estes tempos contemporâneos.
Por mais de 400 anos, homens pretos testemunharam a intromissão insidiosa do componente europeu em seu território físico, em sua fé religiosa, em suas tradições culturais e políticas e até mesmo em sua linearidade familiar.
Diante da desvantagem tecnológica dos africanos em relação ao uso e domínio das armas de fogo e também contando com o aliciamento ostensivo de chefes regionais, o homem branco europeu rompeu e interrompeu linhagens familiares africanas milenares, ao sequestrar um pai, ou uma mãe, ou um filho ou uma filha de uma determinada estrutura genealógica de uma dada região do continente.
Ao chegar no assim chamado “Novo Mundo”, o homem preto africano teve a sua condição humana rebaixada ao posto de “mercadoria”. Deixou de ser um homem livre para se tornar, aos olhos do agente colonizador, uma mercadoria a ser vendida, trocada e descartada, de acordo com as conveniências eventuais do opressor.
O homem preto foi introduzido em um sistema de vida, já nas Américas, em que mergulhou em um padrão de convívio social que idolatra a um deus único, que fez dos povos africanos (e de sua mão de obra farta e gratuita) o fator de viabilidade de exploração da colônia, que cultiva o apego ao dinheiro e ao acúmulo de capital, que tem a heterossexualidade como norma sistêmica, que estabelece o protagonismo do homem eurocêntrico como modelo de poder e liderança, que difunde a imagem da mulher eurocêntrica como referencial estético e de beleza, que promove a relativização do universo feminino em todas as suas formas e que perpetra a total desconsideração pelos povos nativos da terra.
Diante deste contexto que lhe era irremediavelmente desfavorável, o homem preto teve solapada toda e qualquer noção de construto familiar, na medida em que o termo família, de acordo com as definições convencionais, seja o conjunto de pessoas que possuem grau de parentesco entre si e que (con)vivem na mesma casa, formando um lar.
O homem preto teve, ao longo do período escravocrata, violada a perspectiva de formação de famílias PRETAS estáveis como projeto de vida. Não poderia nunca mais se rearticular existencialmente como um homem/pai africano e a decisão de se tornar um homem/pai de família enquanto ser humano escravizado no “Novo Mundo” não era uma prerrogativa autônoma e soberana, dentro da realidade opressiva e excludente que ele vivia, na medida em que esse homem preto era visto meramente como uma “mercadoria”, e subordinada aos desmandos e humores do agente colonizador.
O homem preto escravizado testemunhava, entre o seu silêncio providencial e/ou sua omissão temerosa, as agruras das mulheres pretas. Ao seu lado, nas senzalas e espaços comuns, estavam as avós, as mães, as irmãs e as filhas pretas sofridas, oprimidas e desconsideradas em todas as suas demandas emocionais, físicas e estéticas; trabalhando de sol a sol, sem atenção, sem afeto e sem cuidados. Era esse o universo feminino mais próximo e imediato aos homens pretos que nos antecederam.
Em um nível de convivência mais distante, havia as mulheres eurocêntricas e as “sinhazinhas”, razoavelmente bem cuidadas e cercadas de todos os benefícios e privilégios que o status quo colonial proporcionava às famílias européias (e descendentes) aqui estabelecidas.
O homem preto escravizado olhava para si e via cicatrizes e maus tratos. Olhava para o homem branco e via o conforto, o controle e o poder. Olhava para a mulher preta e via o abandono e o destrato. E ao olhar a mulher branca, muito provavelmente, enxergava nela alguém com atributos diversos que, pode se deduzir, lhe estimulava os sentidos e os objetivos físicos e emocionais.
O homem preto pode ter sido induzido a pensar que, ao menos no campo afetivo, a sua existência faria algum sentido se ele mesmo “pensasse e raciocinasse” como um homem branco.
E este fetiche também pode ter sido retroalimentado pelo mito da virilidade sexual do homem preto. Esta combinação de impulsos subterrâneos de ambas as partes (homem escravizado / mulher branca reprimida) trouxe efeitos ainda mais nefastos para a percepção de si do homem preto.
E aqui pode ter sido dado início ao perverso aparecimento do mimetismo camaleônico que se abateu sobre o homem preto escravizado. Ao longo do período escravagista, se tornar “branco” (que era a “norma” social da época) pode ter passado a ser um objetivo de vida do homem preto escravizado: ser como o homem branco, ter o que o homem branco possuía, fazer o que o homem branco fazia e ter a “família” que o homem branco tinha.
E, talvez, esse ideário de vida (ascender socialmente e constituir família com a “sinhazinha”) fez com que o homem preto tivesse aprofundado o seu sentimento de indiferença e, por que não dizer?, desprezo pelas mulheres pretas de seu círculo de convívio.
O que, ao longo dos anos pode ter contribuído, e muito, para cenário de solidão e isolamento que se observa em um grande número de nossas irmãs pelo Brasil afora.
Essa hipótese pode ser melhor observada pelo padrão e frequência com que um homem preto bem sucedido e que ascende socialmente, ainda nos dias de hoje, constitui família fora do seu eixo comunitário. Provavelmente um reflexo contínuo daquele homem preto escravizado e multilado em todas as suas autopercepções e entendimento sobre si mesmo.
É preciso enfatizar que “homem branco”, no Brasil é um posicionamento e um feudo. Pra você “adquirir” uma cadeira neste feudo, é preciso que você se enquadre em certas premissas e atitudes de aceitabilidade. E se você for um homem preto pleiteando um “lugar” neste feudo, o matrimônio, a constituição familiar e O COMPARTILHAMENTO DE SEU PATRIMÔNIO FINANCEIRO com uma mulher eurocêntrica é a condição ´sine qua non´ para o estabelecimento das boas vindas dentro de um ambiente branco e elitista.
E que se dane a sinceridade do sentimento do binômio “homem preto / mulher branca”, diria um homem branco elitista. Algo como: “Só te aceito ‘no meu clube´ se você TIVER DINHEIRO e SE CASAR com uma mulher branca”.A solidão da mulher preta é um fato. E o homem preto precisa acordar para esta anomalia anacrônica dentro de nossas comunidades.
Talvez um resgate parcial de sua essência como homem preto africano, a qual era baseada no construto familiar voltado para a aliança com uma mulher preta como forma de reciprocidade afetiva e continuidade genealógica. Até a invasão do homem europeu à África, um ser humano africano era imune ao veneno branco psicológico de ter que se enxergar como uma pessoa “feia” e desprovida de atributos estéticos atraentes.
Somos bonitos e formosos! A mulher preta é infinitamente linda e merecedora de elogios e reverência!
Ouso dizer que a nossa longevidade e sobrevivência, enquanto povo dentro de um país, pode estar em um certo grau de risco fenotípico, se o flagelo da solidão da mulher preta persistir como fator endêmico entre a nossa gente.
Particularmente, entendo que os homens pretos que conseguem ter um entendimento razoável deste problema (o qual atinge implacavelmente as nossas irmãs) e que, através de suas ideias e atitudes, conseguem mitigar de alguma forma este gargalo sócio comportamental verificado em nossas comunidades, precisam criar formas de disseminação de conceitos e propostas que auxiliem na erradicação deste problema entre a nossa gente.
Que o homem preto ascenda socialmente. Nada mais legítimo. E que esta conquista, se for igualmente legítimo pensarmos na nossa existência como povo, não seja, tomara, ao preço do confinamento de mulheres pretas ao limbo da solidão e do ostracismo.
Há menos de um milênio, antes da Grande Travessia, tínhamos um olhar de afinidade, desejo, parceria e cumplicidade com as nossas mulheres pretas.
A visão eurocêntrica de mundo contaminou, na maioria das vezes de forma interesseira e por um bom tempo, a pureza desta relação.
Homens pretos, hora de “voltar pra casa”.
Uma batida que começa na Nigéria e vem se propagar no Brasil, este é o trabalho do Nigeriano Lumi em sua trajetória musical.
A definição de Lumi é a união de carisma, presença de palco e muito talento, um artista sem igual que chegou ao Brasil e vem conquistando cada vez mais seu espaço, criando seu nicho e deixando sua marca por onde passa no cenário musical brasileiro.
Com seus shows pelo país, LUMI mistura elementos internacionais da música, trazendo uma proposta totalmente diferenciada, mesclando diferentes estilos, trazendo o que há de melhor e mais atual no mundo musical.
Com sua agenda recheada de shows, Lumi já percorreu todos estados do país, conquistando muitos fãs. Seu carisma e inédita performance, ganhou um incrível reconhecimento nacional, após sua aparição na 5ª temporada do programa The Voice Brasil, onde claramente foi o artista mais querido pelo público brasileiro.
Em 2017 Lumi chega para marcar de forma ilustre sua caminhada com sua NOVA TOUR ILUMINATION que foi inspirada em sua participação no programa de televisão.
Com recorde de votação, Lumi foi claramente o mais querido do público brasileiro, fazendo com que ele chegasse até o término do programa, Iluminado, como foi chamado, fez nascer sua nova TOUR 2017 ILUMINATION, que chega com muitas surpresas e uma energia contagiante. It’s Your Boy Lumi!
Novo clipe
Hoje o artista lança seu novo clipe, da música My Baby, que apesar do título em Inglês é cantada em português e tem muito amor preto. Confira.
Acompanhe o trabalho do artista em suas redes sociais:
O rapper paulista, Rincon Sapiência, que ganhou destaque na cena nacional após o lançamento do seu primeiro álbum, “Galanga Livre“, irá apresentar o show completo na Casa Natura Musical, na Rua Artur de Azevedo, n° 2134, em Pinheiros (SP), dia 2 de junho, às 22h.
Rincon vai subir ao palco ao lado da banda formada por Robson Heloyn (guitarra), Kiko de Souza (teclados), Nicolas Carneiro (baixo), Dudu Afrobrasileiro (percussão), Maurílio Santiago “Pé Beat” (bateria) e James Bantu (backing volcals), além do DJ Mista Luba, combinação que promete oferecer ao público uma sonoridade única e envolvente.
No dia 2 de junho Rincon vai levar toda sua originalidade e influência da música africana, eletrônica e jamaicana. A notória negritude que distingue o trabalho de estreia do MC paulistano se faz perceptível nos ritmos, que vão desde a capoeira até o blues, passando pelo coco e pela Tropicália, até o afrobeat, permeadas pela sua veia rock and roll característica. Atestando seu talento como produtor, as músicas foram todas produzidas pelo próprio rapper, com exceção de “Amores às Escuras” (Gambia Beats).
Mesmo após quase um ano de lançamento do álbum, ele segue liberando videoclipes. E no dia 13 de maio deste ano, data que completou 130 anos de Abolição da Escravatura, o rapper trouxe uma proposta inovadora sobre o ocorrido e abordou isso no videoclipe da música “Crime Bárbaro“, a escolha foi feita propositalmente.
O clipe tem direção e roteiro de Nixon Freire e é protagonizado pelo próprio artista. “Crime Bárbaro” retrata a fuga do escravo Galanga, personagem fictício criado por Rincon, que se vê diante da sua liberdade após matar um senhor de engenho.
Para obter informações sobre a compra de ingressos, basta ligar para 4003-6860, das 11h às 17h, de segunda a sexta-feira ou acessar http://www.eventim.com.br.
Será que nossa personalidade seria diferente se não fossemos negros? Eu acho sim. As experiências geradas pelo racismo tendem a nos fazer pessoas mais inseguras, quando comparadas com brancas, e também, infelizmente, mais acostumadas com a rejeição e solidão, e isso acontece desde a primeira infância.
Não dá para competir qual o pior tipo de racismo, mas sem dúvida, não podemos discordar, que o ocorre com as crianças negras é muito mais lastimável e covarde, ainda mais quando elas estão em um espaço lúdico como o parquinho e é causado crianças brancas, que tecem comentários preconceituosos, gestos ofensivos, risadas e só interagem com quem é igual a elas.
“É muito triste ver a sua filha sendo rejeitada! Mesmo antes de dizer “Olá!” ela chega perto e todas correm, ela se aproxima, e todas as outras se agrupam, ela chama e ninguém responde. Isolam-na, excluem-na, a machucam”. Esse relato repleto de dor materna é da empresária e influenciadora digital, Ana Paula Xongani. Mãe da Ayo de 4 anos, uma menina linda, de pele escura e cabelos impecáveis. Xongani viu um pouco de si mesma ao constatar a rejeição que sua filha sofria de outras crianças brancas no parquinho do prédio onde ela mora.
Ayo, 4 anos. Depois do post da mamãe, milhares de crianças querem brincar com ela (Foto: Arquivo Pessoal)
“Nós mulheres negras vivemos esses mesmos traumas na infância. Foi ruim, mas com o passar do tempo a gente esqueceu, superou ou refletiu em outros momentos da vida. Mas, ser mãe te faz reviver alguns deles, e dessa vez de forma mais intensa e muito mais dolorosa”, desabafa Ana Paula.
Eu conversei com ela por telefone, mas ela diz que quer ser cautelosa com esse assunto “ Não quero ser objeto do racismo e sim ser sujeito das minhas construções”. Como seu post no Facebook teve mais de 7 mil compartilhamentos, e viralizou a hastag #EuTenhoPressa, ela foi procurada por portais de notícias e programas de TV, mas recusou todos os pedidos de entrevista.
Em lágrimas escrevo:Tem muita coisa linda na maternidade, mas tem muitas dores também. Ser mãe de uma menina preta me…
Não há muito mais o que dizer, depois do seu relato. Só lastimar. Os comentários do post da empresária, sugerem de tudo, até mesmo que ela mude de casa até diversos convites de pais querendo Ayo brincando com os seus filhos. Mas esse não é um caso isolado.
Uma mãe negra residente na Espanha viveu um momento de terror ao tentar fazer com que seu filho brincasse em uma praça e interagisse com as crianças do seu tamanho. Além de ouvir os berros de crianças brancas, aparentando menos de 10 anos de idade, pedindo para garotinho descer do escorregador, ao descer, com a ajuda da sua mãe, calada e triste, ele ainda foi perseguido e chamado de macaco por uma das meninas. A mãe desistiu e tirou o menino do local e o mundo todo assistiu, já que o vídeo também teve milhares de compartilhamentos nas redes sociais. Ver crianças sendo cruéis choca. A pureza é substituída pela perversidade do racismo. E não é brincadeira.
https://www.youtube.com/watch?v=nJeIAoWkLUA
Para mães negras ativistas, desenvolver a negritude nas crianças é questão de sobrevivência
“Infelizmente a maioria das crianças negras não tem uma mãe como a Ana Paula Xongani. Esse é um caso de racismo que reverbera de forma brutal no futuro dessa criança e toda a sua família. Infelizmente nem todas as famílias são ‘escurecidas’ o suficiente para dar esse acalanto e pronto-atendimento aos filhos”. A explicação é de Priscila Gama, mãe, empreendedora social de Vitória (ES) e responsável pelo projeto Quilombinho, um evento de férias afro-centrado.
Priscila Gama do Quilombinho (Foto: Divulgação)
Ela ressalta o poder de eventos afro-infantis para fortalecer e aumentar a autoestima dos pretinhos e das pretinhas. “Espaços de troca como o Quilombinho fortalecem essa questão de orgulho negro e escurece didaticamente questões ligadas ao racismo, porque a gente não trata dor racismo diretamente com crianças porque dói, mas explicamos de uma outra forma. Quando as crianças trocam experiências nesses espaços, elas se fortalecem, é inevitável”.
Aprender a se defender contra o racismo, também é um dos aspectos positivos da valorização do ser negro, desde pequeno. “As experiências que a gente tem aqui em Vitória é de grupo de crianças que se enxerga forte em suas individualidades e peculiaridades, sobretudo, em relação a sua pretitude. Nós vemos casos de crianças que sofrem racismo por parte de outras crianças e que se defendem sozinhas, falando que é racismo sim, ou por exemplo, apontado que um branco não quer brincar porque ela é criança negra e quem perde a criança branca. As crianças criam seu próprio argumento de orgulho preto, para se defender e por isso essa troca entre crianças negras é importante, como uma micro-comunidade potente, de várias explosões de orgulho nos nossos pequenos”, celebra Priscila.
Carla Cavallieri, mãe da Ágatha, Aisha e da Akillah e Historiadora formada pela UFRRJ relata que sua militância enquanto mãe preta, chegou a ser ironizada. “Quando criei o Nana Maternidade Negra e até hoje, muitas mães brancas questionam e ironizam sobre a demanda. Mas é exatamente por este motivo (casos como o da Ayo) que o Nana existe. Temos que ter plena consciência de que a criança é a réplica do adulto, cujo qual ela convive e que isto é simplesmente resultado de um país branco, racista e que pôs na cabeça que a democracia racial existe e que o ocorrido é brincadeira de criança. Não é. É atitude de adulto, que a criança vai reproduzir”.
Carla Cavallieri do Nana – Maternidade Negra
“É isto que os nossos filhos estão sujeitos todos os dias enquanto famílias brancas e racistas não assumirem os privilégios que os cercam e as instituições de ensino não abrirem este debate desde as séries iniciais . Não é somente 13 de maio ou 20 de novembro. É um necessário um currículo antirracista, que atenda a verdadeira história deste país, desde o início”, defende a fundadora do Nana que tem por objetivo principal visibilizar e dar voz as demandas da maternidade negra.
Falta de referências entre crianças brancas aumentam o preconceito
“É sempre assim mãe, mas eu não me importo, gosto de brincar sozinha”, Ayo de 4 anos respondeu à sua Ana Paula.
Crianças brancas gostam de estar perto de pessoas parecidas com elas ou parecidas com os seus brinquedos e personagens dos seus shows favoritos na TV e na Internet. Uma criança branca que brinca com uma boneca da Moana ou Tiana, personagens da Disney, dificilmente terá preconceito com uma criança negra, porque a referência positiva se criou pelo amor a um brinquedo de cor diferente.
Imagens das princesas negras do Projeto Identidade (@identidadeoficial)
Pais brancos e educadores têm o dever de incluir a diversidade na hora da diversão e educação dos pequenos e pequenas. Quem não incluir racismo na pauta da formação de um “cidadão de bem”, está falhando.
Princesas, no caso negras, que algumas mães brancas têm o privilégio de enxergar como fúteis, são essenciais para essa normatização da presença negra em espaços dignos. O mesmo vale para os heróis negros.
Veralinda Menezes, que tem um projeto literário da Violeta, uma princesa negra inspirada em sua filha Sheron Menezes, me deu durante uma entrevista, uma definição sobre a importância da fantasia e da representatividade no universo infantil, muito certeira.
“As crianças negras veem a colega branca igual a todos os personagens desse universo e fica sem referência. Ou seja, a amiguinha branca tem cara de princesa e ela não. E a amiguinha branca, com o tempo vai achar que aquela menina negra está no lugar errado, ou que ela é feia ou inferior, lhe atribuindo menos valia”.
Já passou da hora dessa mentalidade de branco lindo e negro feio acabar. Nossos, avós, pais e nós mesmos, já sofremos com isso. Não dá mais para esperar, temos pressa.
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O espetáculo Medea Mina Jeje, após temporada de sucesso no SESC Ipiranga e reestreia no último sábado (12), volta dia 19 e traz uma apresentação gratuita na Virada Cultural de São Paulo, no Teatro Pequeno Ato.
Com direção de Juliana Monteiro, dramaturgia de Rudinei Borges e atuação de Kenan Bernardes, a peça é constituída a partir da fricção entre a narrativa polissêmica da Medea negra da Mina Jeje e a leitura da clássica tragédia datada de 431 a.C.
Foto: Juliana Bacchin
O espetáculo foi considerado excelente pela Folha de S. Paulo, que ainda afirmou tratar-se de um monólogo poderoso, “pautado por escolhas dolorosamente poéticas”. “Medea Mina Jeje é uma releitura do clássico Medeia, de Eurípedes, um poema cênico no qual Medea, uma mulher negra escravizada na Vila Rica de Nossa Senhora de Ouro Preto, nas Minas Gerais do século XVIII, narra o sacrifício de seu filho Age.
Na peça, para se vingar do abandono de Jasão, por quem havia renunciado à própria família e à terra natal, a protagonista mata os próprios filhos para se vingar.A escravizada Medea vê na morte do filho a única libertação possível do sofrimento causado pelo trabalho escravo nas minas de ouro que moveram a economia brasileira colonial durante séculos.
A peça fica em cartaz até dia 17 de junho, sábado às 21h e domingos às 19h. O Teatro fica na Rua Dr. Teodoro Baima, 78 – Vila Buarque, São Paulo. Ao lado do Teatro de Arena. A exibição gratuita será apenas neste sábado, para as próximas semanas os ingressos já estão disponíveis para venda e custam R$ 30,00 a inteira e R$ 15,00 a meia-entrada. Vendas online: https://www.sympla.com.br/medea-mina-jeje__281352.
Alice veio para mudar a minha vida. Para trazer um novo fôlego em um ano tão emblemático: 130 anos do pós-abolição. E agora? Neste meu primeiro dia das mães, me sinto ainda mais motivada para lutar por mais igualdade de oportunidades. Por ela… por mim… por nós. Porque se nós não fizermos, quem fará?
Na segunda-feira, dia 19 de março de 2018 às 17:10 na Perinatal Laranjeiras (Rio de Janeiro), Louis e eu fomos abençoados com a chegada da nossa tão esperada Alice. Para além das nossas possíveis expectativas,
Vimos materializados em 3,8 quilos e 52 cm o fruto de nosso amor, um presente de Deus.
Foram 14 horas da mais linda e dura maratona da minha vida. Um parto normal sem anestesia, da maneira como desejei, por entender que este era um processo natural.
Mas vamos dar uma olhada no filme, para além da fotografia deste momento. Pra mim, a preparação para uma gravidez planejada começou há mais ou menos dois anos. Lembro que na época, assisti um documentário chamado o Renascimento do Parto, que jogava luz sobre a industrialização do parto no Brasil, incentivava partos normais e a busca por práticas mais humanizadas.
Achei super coerente e comecei a me questionar sobre meu próprio parto, que tinha sido uma cesárea, e as várias histórias que já tinha ouvido e sobre as necessidades de fazer cesárea (cordão enrolado no pescoço, bêbê sentado entre outras). Até então, pelas experiências próximas praticamente não havia outra opção que não fosse esta. Muito comum também com outras colegas ter ouvido experiências do tipo: você é forte, nêga, você aguenta..
A lógica do racismo incidindo sobre a visão de pessoas, mesmo de profissionais de saúde, em relação às mulheres negras como as que eram mais fortes e que aguentam mais a dor. E isto sempre me deixou com muita raiva e também medo…
Nesta época, comecei a ouvir falar sobre a importância da figura da doula neste processo.
Ainda não tinha muita ideia de como funcionava. De quando deveria aciona-la. Ao mesmo tempo já tinha plena consciência do privilégio de ter acesso a informações como esta e a opção de ir tanto para o sistema público, se assim eu quisesse, como para o privado, diferente de muitas mulheres negras como eu.
Lembro que saí do cinema decidida a mudar de ginecologista, uma vez que a minha do momento já havia me dito que parto para ela era cesariana. Ainda bem que tinha sido sincera.
Comecei a partir daí minha busca por outras profissionais que pudessem ter uma prática mais alinhada com o parto humanizado. Achei a Dra Karina. Com ela comecei a dividir meus anseios e vontade ainda longínqua de me tornar mãe.
Dois anos se passaram. E na virada de 2016 para 2017, decidimos que poderia ser o momento. Não demorou muito. Alice (que também poderia ter sido Hugo) já se mostrou pra nós nos exames. Decidi levar uma gravidez mais ativa possível. Fiz exercícios, incluindo uma prova de cinco quilômetros de corrida.Também me apaixonei pela aula de circuito – uma classe multifuncional onde pude fazer diferentes exercícios, agora de forma mais moderada e cautelosa, em uma só aula: de pular corda a flexões. A professora Luiza me incentivava bastante. Louis me acompanhou todo tempo e Alice se tornou uma companheira desde o útero.
Troquei meus presentes de aniversário por pedido de fraldas. Ganhamos várias de diversos tamanhos. As páginas de desapego passaram a ser super aliadas. Boa parte do meu enxoval achada nestes sites. Também ganhamos muitas coisas de amigos e familiares. Fomos também em uma feira de gestantes para comprar algumas peças faltantes. Me incomodava muito não ter mães, pais e famílias negras nos catálogos. Lembro ter deixado de comprar em algumas lojas inclusive e de ter tido várias discussões sobre representatividade. Alguns vendedores viam com estranhamento a pauta e eu era tida muitas vezes como a grávida chata do mimimi.
Também teve a parte da doula. Ao conversar com algumas amigas, elas me aconselharam a ter uma. Entrevistei algumas e rolou uma química muito forte com a Flavinha. Com ela, descobri pouco a pouco o real papel desta profissional. Dividi com ela minhas dúvidas, fizemos um plano de parto e com isso foi acontecendo uma preparação mental e física para uma grande dor. Uma dor do bem, do amor, mas que não deixava de ser uma das maiores dores que passaria na vida e que não tinha regra. Cada parto era um parto.
40 semanas se passaram entre o trabalho, orações, dores, exames incômodos sempre acompanhada pelo pai, desejos, um alarme falso, hormônios, dúvidas, exercícios, muito amor e apoio. A data prevista era o dia 14 de março. Algumas colegas que ficaram grávidas e tinham datas previstas próximas já tinham tido seus bebês. E as pessoas do meu entorno começaram a dizer: “será que não é hora de uma cesárea?” “O bebê já deveria ter nascido, não? Deve estar sofrendo aí dentro!” E também “estou ansiosa para ver qual vai ser a cor do bebê, tira logo ela daí”.“Será que pode ter olhos claros, tomara…”.Sei que muitas mensagens desde as que falavam sobre o parto às que tinham cunho racial não eram necessariamente propositais mas mexiam comigo e me deixavam ora com raiva, ora muito ansiosa em diversos aspectos e aquilo me fazia mal. Perdi a conta de quantas vezes tive que repetir para amigos e parentes que não tinha data marcada para o parto ou não estava esperando uma bêbê com olhos claros e que valorizar isso era parte do racismo nosso de cada dia.
Meu principal desafio foi certamente o lado psicológico. Nunca deveria ter anunciado a data prevista, pois elas confundiam com a data de uma cesárea marcada que elas mesmas imaginavam automaticamente.
Lembro que com 40 semanas e 3 dias, tive uma dica de ouro. Me isolei. Me concentrei. Desliguei o celular. Orava, meditava e me conectava com Alice. Fiz duas sessões de acupuntura que me ajudaram no processo expulsivo, comi as famosas tâmaras (conhecidas por ajudar as contrações). No sábado comecei as sentir os sinais de que o grande momento estava por vir. As contrações não eram muito ritmadas no início. Tinha tampão mucoso mas a bolsa ainda não havia estourado. No domingo, fui tomada por dores mais fortes. Já não era mais eu. Oscilava entre momentos de maior lucidez e outros de gritos e fortes dores que me pediam para fazer uma força para baixo. Eu já não encontrava mais posição para sentar ou deitar. Fui até a maternidade. Estava com dois centímetros de dilatação. Voltei.
Liguei pra doula, que chegou a meia noite, acompanhada da fotógrafa Marina. Uma escolha de último momento muito acertada. Sim, registrei um dos momentos mais importantes do filme da minha vida para a posteridade. a partir deste momento sabia que não teria mais volta. Falei com a Flavinha emocionada: “ela está chegando…”
Tive uma crise de choro, de medo, de ansiedade. Clamava a Deus… pedia força. Flavia me massageava na minha cama.No quarto com luz baixa, colocou alguns aromas, o de lavanda me marcou. Este acompanhamento foi fundamental. Me senti fortalecida. Às 4h da manhã retornamos na maternidade. A médica me tocou e disse que já estava com 5 centímetros de dilatação. Chamamos a obstetra. Karina chegou e fomos direto a sala de parto. Na minha cabeça o pensamento de que o momento estava se aproximando #soquenão.
Colocamos Sabotage – Respeito é pra quem tem, a trilha perfeita. Alice já nasceria com a mensagem política do rap. Luzes baixas. Louis e eu começamos a dançar. Sua presença foi fundamental neste momento. O ambiente propício e privilegiado do parto humanizado. Fomos para a banheira quente (meu sonho na época era ter um parto semelhante ao da Bela Gil, o do Nino, na piscina). Contrações iam e voltavam, mas não era ritmadas e o tempo passava. Pessoas olhavam o relógio. Aquilo me incomodava.
Medimos e as contrações não evoluiam muito. Em um dos toques que recebi, diagnosticamos um edema que poderia colocar em risco nossos planos. Fiquei com medo.Começava a figurar na minha cabeça que pela demora alguém ia acabar me dizendo que seria necessária uma cesárea. Sentei na bola. Flavinha me massageava. Me fazia exercitar, mexer bem o quadril, a não desistir. Ali, naquele momento, entendi que o papel da doula foi fundamental, não só pelo lado físico como psicológico. Já eram quase 14h.
A médica me sugeriu estourarmos a bolsa e ver se isso poderia ajudar a acelerar as contrações. Assim fizemos. A principio, eu estava avessa a ideia de qualquer outra intervenção artificial, mas concordei. Apenas frisei que não queria outras intervenções e queria que evitássemos toques. Ter o poder de escolha de não querer anestesia, por ter me sentido pronta para esta dor e ter uma equipe de apoio, não deve ser visto como um parâmetro para uma mulher negra no Brasil. Não quero tampouco reforçar o estereótipo de que mulheres negras são mais fortes. A raça não nos faz mais fortes, apenas uma crença reforçada por uma história escravocrata ainda racializada que insiste em associar pessoas negras à força e a resistência mesmo 130 anos após a abolição da escravatura. Apenas queremos e lutamos para ser iguais.
Me sentia bastante fragilizada e insegura em alguns momentos, em outros me sentia uma verdadeira leoa que tinha se preparado par sentir esta dor. Não nasci sabendo lidar com ela. Recebi muito suporte. A história da aldeia para cuidar de uma criança, como conta o provérbio africano, no meu ver começa antes do parto. Não foi puramente instintivo.
As 15h30 contrações finalmente pareciam tomar ritmo, mas eu ainda não sabia se iriam engrenar. Eu não achava postura para ficar. Não conseguia sentar, não podia deitar. Tinha que mover o quadril. sentia vontade de fazer força. Estava super confusa. Mas algo me fazia colocar as mãos para cima como se precisasse de algo para puxar e fazer força. Karina deu a ideia de pendurarmos um pano no teto. E lá fui eu. De cócoras comecei a puxar aquele pano do teto, bem como fazia nas aulas de circuito, no exercício de TRX – um exercicio de braços que usa o peso do corpo. Alternava com a posição de quatro apoios na cama. Sem que eu pudesse perceber um ritmo foi se criando. Ao som de uma música bem repetida com mantras colocada pela doula, comecei a entrar em um estado de plena concentração. Este processo levou um tempo que eu mal senti passar.
“Olha, a cabecinha já está descendo…” Alice está aqui. Meu coração disparou. Sabotage voltou. Fiz a maior força da vida. Ela finalmente desceu sozinha e foi acolhida pelas mãos da obstetra e do papai às 17h10. Ao som de “Respeito é pra quem tem”, eu estava paralisada. Só conseguia falar: “você chegou!” O parto normal finalmente aconteceu.E divido com você um pouco do que foi este momento tão especial e singular na minha vida neste link.
O pediatra levou ela ao peito. Trocamos nosso primeiro olhar, nos demos calor. .
Placenta e costura a parte – sim tudo isso dói muito -, um amor absurdo tomou conta de mim.
Eu agora era mamãe de verdade… Quarto, visitas… eu realmente estava com medo de sair da maternidade, pois não sabia se seria hábil a lidar com aquela pequena menina que dependia de mim praticamente para tudo.
Quando saí, já tive que voltar o leite desceu forte e amamentar parecia uma dor mais forte que o parto. Quando Alice chorava de um lado, eu chorava do outro. Procurei ajuda e encontrei na pediatra, na doula, em consultoras de amamentação, no SUS.
Fui à Maternidade Escola da UFRJ e tive acesso à dicas preciosas como massagem nos seios, ordenha manual e acerto na abertura de boca da Alice para melhor encaixe no peito (a famosa péga) e um incentivo absurdo para não desistir. Também encontrei muitos profissionais no caminho que tentaram me vender a ideia de que a dor era normal e até a possibilidade de uma intervenção cirúrgica em Alice para estimular que ela abrisse mais a boquinha chegou a ser cogitada, mas não fomos adiante.
Aprendi que amamentar, diferente das imagens românticas que via, pode ser bastante doloroso, confuso pelos mais diferentes palpites e direções que são apontadas, e que precisar de ajuda é mais do que normal e frequente do que se diz.
Nada de “você é forte, nêga”! Eu chorava e me sentia só, culpada. Mesmo com todos os privilégios das escolhas que pude fazer e dos serviços que pude ter acesso. Virei amiga da bomba elétrica que me permitia ter horas de autonomia graças ao aleitamento compartilhado com o pai, que pôde dar os copinhos da madrugada com o leite que retirava. Amamentar ainda tem sido um exercício diário que de fato se tornou mais fácil depois de ajuda e preparo psicológico, algo que não foi natural. Foi um processo de aprendizado.
Todas estas vivências e suas delícias e dores me fizeram refletir e respeitar ainda mais as escolhas de todas as mulheres. Aprendi: respeite quem quer amamentar, mas também quem não quer, por que só quem sofre a dor sabe. O ideal é que seja uma escolha não uma imposição social, racial, histórica. Respeite quem quer fazer parto normal e também quem quer fazer cesárea, por que só quem é mãe, que sofre a dor sabe. O mesmo vale para as nossas lutas, as nossas causas. O racismo é uma dor que decidi transformar em uma luta de vida.
E minha gestação, parto e puerpério foram e tem sido sempre entremeados de discussões sobre a questão racial e quanto situações humanizadas ainda são menos frequentes para mulheres negras. Mais do que nunca, nesse 130 anos de abolição da escravatura, a minha escolha é lutar para que todas tenhamos escolhas e possibilidades de melhores oportunidades.
Aprendi e aprendo: respeite quem luta por uma causa, por que só quem sofre a dor sabe. Respeite quem luta contra o racismo, por que só quem sofre a dor sabe.
O Brasil está, desde o ano de 1500, em franco processo de amadurecimento civilizatório. E a dinâmica dos fatos históricos tem sido, ano a ano, testemunhada, vivida e (porquê não dizer?) construída pela imensa população de brasileiras e brasileiros descendentes dos muitos povos aqui chegados da África, por volta dos primeiros anos do século 16. Até o ano de 1888, através da côrte portuguesa (e também transversalmente pela Inglaterra, França e Holanda), o Brasil fez uso do contigente humano de outro continente de forma vil, abusiva e exploratória.
Foram mais de 350 anos de concentração de riquezas e estruturação de elites familiares que, através dos tempos, haveriam de acumular fortunas e privilégios os quais ainda são perceptíveis e socialmente desproporcionais em pleno século 21.
Não há exagero algum em propor que as bases do PIB (Produto Interno Bruto – o resumo anual das atividades econômicas do país) do Brasil, foram lançadas pelo trabalho escravizado de africanas e africanos e suas descendências, uma vez que foi o “financiamento” da mão de obra GRATUITA E SEM SALÁRIO dos povos sequestrados da África (e também temporariamente com a exploração da mão de obra dos povos nativos da terra) que permitiu ao Brasil estabelecer minimamente uma estrutura de extração e de produção agrícola, a qual veio a viabilizar o confinamento do poder oligárquico, de patrimônio e de receitas por parte das famílias quatrocentonas brasileiras de norte a sul e leste e de leste a oeste do país.
Com exceção do ciclo do Pau Brasil, cuja extração braçal foi exclusivamente protagonizada pelos povos nativos da terra, os ciclos posteriores; a saber, da cana-de-açúcar, do ouro, do algodão, do café, da borracha… todos estes segmentos da história econômica do Brasil foram mantidos com o suor e o esforço físico NÃO REMUNERADO dos seres humanos sequestrados do outro lado do oceano Atlântico.
Passados 130 anos e nós, os frutos daquele imenso baobá africano desembarcado no Brasil, e há menos de 10 gerações desde aquele dia 13 de Maio, ainda subsistimos e resistimos sob as vicissitudes de uma cidadania de segunda classe.
Nossas mulheres ainda são os alvos majoritários de todas as formas de violências afetivas, emotivas, físicas e não tem o reconhecido valor e a devida reparação social. Nossa terceira idade ainda é ignorada em políticas públicas de saúde desprovidas do recorte étnico em suas formulações. A nossa comunidade Afro-LGBT é alvo da hiper-discriminação generalizada em praticamente todos os segmentos da sociedade. Os homens de fenótipo negro continuam sendo mortos, encarcerados e marginalizados pelo olhar excludente de quem detém o poder legal e o comando financeiro nas esferas estratégicas do país. E nossas crianças continuam sendo segregadas e estigmatizadas nos ambientes sociais e educacionais de nossa sociedade.
Mas os exemplos de Zumbi dos Palmares e de Dandara, entre outras e outros, são o nosso norte!
Com todo este cenário adverso, resistimos. Somos mais de 50% da população deste país.
Se o projeto de civilização de quem quer almeje conduzir o Brasil for fazer deste pedaço de chão um imenso QUILOMBO democrático, desenvolvido e justo, VAI TER QUE INCLUIR o seu contigente “afro” em suas estratégias de Nação.
Sem o seu POVO PRETO feliz, com saúde, dignidade humana, emprego, reconhecimento e reparação histórica e dinheiro no bolso, a conta do Brasil NÃO FECHA!
Abolição da Escravatura: NADA, ABSOLUTAMENTE NADA A CELEBRAR!
O dia 13 de Maio, para as filhas e os filhas da África, nunca chegou à meia-noite.
E o dia 14 de Maio, para nós, ainda não amanheceu.
Neste 130 anos de Abolição da Escravatura, o rapper Rincon Sapiência chega com uma proposta inovadora sobre o ocorrido e aborda isso no videoclipe da música “Crime Bárbaro“, lançado no dia 13 de maio, a escolha foi feita propositalmente.
O clipe tem direção e roteiro de Nixon Freire e é protagonizado pelo próprio artista. “Crime Bárbaro” retrata a fuga do escravo Galanga, personagem fictício criado por Rincon, que se vê diante da sua liberdade após matar um senhor de engenho.
Além disso, também há cenas de uma perseguição policial, onde o agente da lei encarna a figura do capitão-do-mato, encarregado da captura de escravos fugitivos. Rincon assume a figura de Galanga e empreende sua fuga, se desvencilhando de seu algoz durante a correria, em imagens que trazem dinamicidade às cenas e reforçam a temática do clipe.
A narrativa propõe uma metáfora sobre a violência e o genocídio que persistem contra os negros no país, evidenciando os resquícios da escravidão e a permanência do racismo institucional, mesmo 130 anos após a sua Abolição oficial, em 1888.
O videoclipe está disponível no canal do artista no YouTube, confira!
O espetáculo Medea Mina Jeje, após temporada de sucesso no SESC Ipiranga (SP), reestreia neste sábado (12), às 21h, no Teatro Pequeno Ato. Com direção de Juliana Monteiro, dramaturgia de Rudinei Borges e atuação de Kenan Bernardes, a peça é constituída a partir da fricção entre a narrativa polissêmica da Medea negra da Mina Jeje e a leitura da clássica tragédia datada de 431 a.C.
O espetáculo foi considerado excelente pela Folha de S. Paulo, que ainda afirmou tratar-se de um monólogo poderoso, “pautado por escolhas dolorosamente poéticas”. “Medea Mina Jeje é uma releitura do clássico Medeia, de Eurípedes, um poema cênico no qual Medea, uma mulher negra escravizada na Vila Rica de Nossa Senhora de Ouro Preto, nas Minas Gerais do século XVIII, narra o sacrifício de seu filho Age.
Na peça, para se vingar do abandono de Jasão, por quem havia renunciado à própria família e à terra natal, a protagonista mata os próprios filhos para se vingar.A escravizada Medea vê na morte do filho a única libertação possível do sofrimento causado pelo trabalho escravo nas minas de ouro que moveram a economia brasileira colonial durante séculos.
Fotos: Juliana Bacchin
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“Medea Mina Jeje é a voz de quem grita, em sussurro, sendo portadora duma confiança sui generis e percepção, mesmo intuitiva, da condição de opressão em que vive. Ela é portadora de uma busca pela liberdade, ainda que a saída para chegar a isso seja o sacrifício do filho”, afirma o dramaturgo Rudinei Borges.
Já Kenan Bernardes, idealizador e produtor geral da peça, afirmou que o espetáculo nasceu do desejo de conversar com a própria ancestralidade, de abrir os ouvidos para as vozes de indivíduos livres que foram trazidos para o Brasil como escravos e dar voz aos seus antepassados mortos. “Encontrei na tragédia de Eurípedes e na obra homônima de Pasolini, o fio subjacente disparador que deu origem a esta Medea, que agora levo à cena. Foram quase dois anos de pesquisa e processo que agora oferto ao público como quem deseja entregar um presente a alguém muito estimado”, explica.
Para a diretora Juliana Monteiro, a relação entre as obras reverberou em todos os envolvidos no projeto. “A aproximação com determinados aspectos da jornada de Medeia de Eurípedes permitiu aos artistas deste espetáculo traçar uma analogia com sua própria trajetória, o encontro com desejos de reelaborar os próprios caminhos no teatro”, relata.
A peça fica em cartaz até dia 17 de junho, sábado às 21h e domingos às 19h. O Teatro fica na Rua Dr. Teodoro Baima, 78 – Vila Buarque, São Paulo. Ao lado do Teatro de Arena. Os ingressos custam R$ 30,00 a inteira e R$ 15,00 a meia-entrada. Vendas online: https://www.sympla.com.br/medea-mina-jeje__281352.